Elabora-se um modelo pós-keynesiano de utilização e crescimento da capacidade produtiva, no qual a oferta de moeda de crédito é endógena e o endividamento das firmas é explicitamente modelado. A taxa de juros é determinada pela aplicação de um mark-up sobre a taxa básica fixada pela autoridade monetária. O mark-up bancário varia intertemporalmente em conseqüência de mudanças no nível de atividade econômica, medido pela utilização da capacidade produtiva. Por seu turno, o grau de endividamento das firmas varia em função das taxas de lucro, de acumulação de capital físico e de juros. Em termos dinâmicos, mostra-se que é possível relacionar as condições de estabilidade do sistema formado pelas variáveis taxa de juros e grau de endividamento das firmas ao tipo de regime minskyano de financiamento hedge, especulativo ou Ponzi - prevalecente na economia.
endividamento; fragilidade financeira; atividade produtiva
It is developed a post-keynesian dynamic macromodel of utilization and growth of productive capacity, in which the supply of credit-money is endogenous and firms' debt position is explicitly modeled. The interest rate is set by banks as a markup over the base rate, which is exogenously determined by the monetary authority. Over time, the banking markup varies in response to changes in the level of economic activity, which is measured by the utilization of productive capacity. In turn, firms' debt position varies according to the rates of profit, capital accumulation and interest. Regarding dynamics, it is shown the possibility of relating the stability properties of a system having the interest rate and the debt position by firms as state variables to the type of minskyan regime hedge, speculative or Ponzi which prevails among firms.
indebtedness; financial fragility; productive activity
Regimes de endividamento, fragilidade financeira e dinâmica da atividade produtiva
Antonio J. A. MeirellesI; Gilberto Tadeu LimaII
IProfessor, UNICAMP - Faculdade de Engenharia de Alimentos
IIProfessor, FEA/USP - Departamento de Economia
RESUMO
Elabora-se um modelo pós-keynesiano de utilização e crescimento da capacidade produtiva, no qual a oferta de moeda de crédito é endógena e o endividamento das firmas é explicitamente modelado. A taxa de juros é determinada pela aplicação de um mark-up sobre a taxa básica fixada pela autoridade monetária. O mark-up bancário varia intertemporalmente em conseqüência de mudanças no nível de atividade econômica, medido pela utilização da capacidade produtiva. Por seu turno, o grau de endividamento das firmas varia em função das taxas de lucro, de acumulação de capital físico e de juros. Em termos dinâmicos, mostra-se que é possível relacionar as condições de estabilidade do sistema formado pelas variáveis taxa de juros e grau de endividamento das firmas ao tipo de regime minskyano de financiamento hedge, especulativo ou Ponzi - prevalecente na economia.
Palavras-chave: endividamento, fragilidade financeira, atividade produtiva.
ABSTRACT
It is developed a post-keynesian dynamic macromodel of utilization and growth of productive capacity, in which the supply of credit-money is endogenous and firms' debt position is explicitly modeled. The interest rate is set by banks as a markup over the base rate, which is exogenously determined by the monetary authority. Over time, the banking markup varies in response to changes in the level of economic activity, which is measured by the utilization of productive capacity. In turn, firms' debt position varies according to the rates of profit, capital accumulation and interest. Regarding dynamics, it is shown the possibility of relating the stability properties of a system having the interest rate and the debt position by firms as state variables to the type of minskyan regime hedge, speculative or Ponzi which prevails among firms.
Key words: indebtedness, financial fragility, productive activity.
JEL Classification
G00, E12, E22
Texto completo disponível apenas em PDF.
Full text available only in PDF format.
(Recebido em agosto de 2002. Aceito em abril de 2003).
Registramos nosso agradecimento a Luiz Fernando de Paula e a dois pareceristas anônimos por úteis observações - vale, é claro, a isenção de praxe. Agradecemos ainda o suporte do CNPq, sob a forma de bolsas de Produtividade em Pesquisa.
Referências bibliográficas
- ANGBAZO, L. Commercial bank net interest margins, default risk, interest-rate risk, and off-balance sheet banking. Journal of Banking and Finance, 21, 1997.
- ARONOVICH, S. Uma nota sobre os efeitos da inflação e do nível de atividade sobre o spread bancário. Revista Brasileira de Economia, v. 48, n. 1, 1994.
- BANCO CENTRAL DO BRASIL. Juros e spread bancário no Brasil. 1999. Mimeografado.
- BROCK, P.; ROJAS-SUAREZ, L. Understanding the behavior of bank spreads in Latin America. Journal of Development Economics, v. 63, 2000.
- DUTT, A. K. Accumulation, distribution and inflation in a Marxian/Post-Keynesian model with a rentier class. Review of Radical Political Economics, v. 21, n. 3, 1989.
- _______. Interest rate policy in LDCs: a Post Keynesian view. Journal of Post Keynesian Economics, v. 13, n. 2, 1990-91.
- _______. Rentiers in Post-Keynesian models. In: ARESTIS, P.; CHICK, V. (eds.), Recent developments in post Keynesian economics. Aldershot: Edward Elgar, 1992.
- _______. On the long-run stability of capitalist economies: implications of a model of growth and distribution. In: DUTT, A. K. (ed.), New directions in analytical political economy. Aldershot: Edward Elgar, 1994.
- FOLEY, D. K. Financial fragility in developing economies. New School University, 2001. Disponível em: http://cepa.newschool.edu/~foleyd
- KALECKI, M. Selected essays on the dynamics of the capitalist economy. Cambridge: Cambridge University Press, 1971.
- LIMA, G. T. Progresso tecnológico endógeno, crescimento econômico e distribuição de renda. In: LIMA, G. T.; SICSÚ, J.; PAULA, L. F. de (orgs.), Macroeconomia moderna: Keynes e a economia contemporânea. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1999.
- _______. Market concentration and technological innovation in a dynamic model of growth and distribution. Banca Nazionale del Lavoro Quarterly Review, v. LIII, n. 215, December 2000.
- LIMA, G.T.; MEIRELLES, A. J. Mark-up bancário, conflito distributivo e utilização da capacidade produtiva: uma macrodinâmica pós-keynesiana. Revista Brasileira de Economia, v. 57, n. 1, Jan./Mar. 2003.
- MEIRELLES, A. J. Moeda endógena e teoria monetária da produção. Revista de Economia Política, v. 15, n. 3, 1995.
- _______. Moeda e produção: uma análise da polêmica pós-keynesiana sobre a endogenia monetária. Campinas: Mercado de Letras, São Paulo: Fapesp, 1998.
- MINSKY, H. John Maynard Keynes New York: Columbia University Press, 1975.
- _______. Can "it" happen again? Essays on instability and finance. New York: M. E. Sharpe, 1982.
- ROBINSON, J. Essays in the theory of economic growth. London: Macmillan, 1962.
- ROUSSEAS, S. A markup theory of bank loan rates. Journal of Post Keynesian Economics, v. 8, n. 1, 1985.
- ROWTHORN, B. Demand, real wages and economic growth. Thames Papers in Political Economy, Autumn 1981.
- SAUNDERS, A.; SCHUMACHER, L. The determinants of bank interest rate margins: an international study. Journal of International Money and Finance, 19, 2000.
- STEINDL, J. Maturity and stagnation in American capitalism. New York: Monthly Review Press, 1952.
- TAYLOR, L.; O'CONNELL, S. A Minsky crisis. Quarterly Journal of Economics, 100, 1985.