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Caracterização das O-acetil-(4-O-metilglicurono)xilanas isoladas da madeira de Eucalyptus urograndis

Characterization of O-acetil-(4-O-methylglucurono)xylans from Eucalyptus urograndis

Resumo

The O-acetyl-4-O-methyl-(glucurono)xylans were isolated from E. urograndis by extraction with dimethyl sulfoxide, analysed for monosaccharide composition and structurally characterized by NMR spectroscopy. These xylans contained one 4-O-methyl-glucuronic acid substituent and 5.5 acetyl groups for approximately 10 xylose residues. About 10% of 4-O-methyl-glucuronic acid (MeGlcA) units were branched at O-2. The O-acetyl-4-O-methyl-(glucurono)-xylans were composed of the following (1 → 4)-linked β-D-xylopyranosyl structural elements: unsubstituted (51 mol%), 2-O-acetylated (12 mol%), 3-O-acetylated (20 mol%), 2,3-di-O-acetylated (6 mol%) and [MeGlcA α-(1 → 2)] [3-O-acetylated] (11 mol%). The weight-average molar mass and polydispersity of this xylan were 34.9 kDa and 1.16, respectively, as measured by size-exclusion chromatography.

Eucalyptus urograndis; xylans; NMR


Eucalyptus urograndis; xylans; NMR

ARTIGO

Caracterização das O-acetil-(4-O-metilglicurono)xilanas isoladas da madeira de Eucalyptus urograndis

Characterization of O-acetil-(4-O-methylglucurono)xylans from Eucalyptus urograndis

Andréia da Silva MagatonI, * * e-mail: amagaton@vicosa.ufv.br ; Dorila Piló-VelosoI; Jorge Luiz ColodetteII

IDepartamento de Química, Universidade Federal de Minas Gerais, Av. Antônio Carlos, 6627, 31270-901 Belo Horizonte – MG, Brasil

IIDepartamento de Engenharia Florestal, Universidade Federal de Viçosa, Campus Universitário, 36571-000 Viçosa - MG, Brasil

ABSTRACT

The O-acetyl-4-O-methyl-(glucurono)xylans were isolated from E. urograndis by extraction with dimethyl sulfoxide, analysed for monosaccharide composition and structurally characterized by NMR spectroscopy. These xylans contained one 4-O-methyl-glucuronic acid substituent and 5.5 acetyl groups for approximately 10 xylose residues. About 10% of 4-O-methyl-glucuronic acid (MeGlcA) units were branched at O-2. The O-acetyl-4-O-methyl-(glucurono)-xylans were composed of the following (1 → 4)-linked β-D-xylopyranosyl structural elements: unsubstituted (51 mol%), 2-O-acetylated (12 mol%), 3-O-acetylated (20 mol%), 2,3-di-O-acetylated (6 mol%) and [MeGlcA α-(1 → 2)] [3-O-acetylated] (11 mol%). The weight-average molar mass and polydispersity of this xylan were 34.9 kDa and 1.16, respectively, as measured by size-exclusion chromatography.

Keywords:Eucalyptus urograndis; xylans; NMR.

INTRODUÇÃO

Atualmente a madeira de eucalipto representa a principal fonte de fibras em países da América do Sul e da Península Ibérica e tem se tornado muito atrativa para a produção de celulose e papel em outras regiões do mundo.1 O Brasil ocupa lugar de destaque na fabricação mundial de celulose de fibra de eucalipto, respondendo por 31% da capacidade global para o produto, de aproximadamente 22 milhões de t por ano. Para 2010, estima-se que a capacidade anual chegue a 8,2 milhões de t de um total global próximo a 27 milhões.2 Apesar da relevância da indústria de celulose e papel na economia nacional, o conhecimento fundamental da principal matéria-prima, o eucalipto, ainda é bem escasso.

A qualidade da celulose ou papel está diretamente relacionada à composição química da madeira. Dentre seus constituintes, as hemiceluloses têm despertado grande interesse mundial nos últimos anos, devido, principalmente, à sua influência nas propriedades da polpa celulósica produzida a partir de fibras da madeira.3,4

As hemiceluloses são encontradas entre as fibras de celulose na parede celular e representam cerca de 30% da massa seca da madeira. Entre as hemiceluloses, especial atenção tem sido direcionada à estrutura das O-acetil-(4-O-metilglicurono)xilanas, que são as principais hemiceluloses do eucalipto. Embora a estrutura química de xilanas de algumas espécies de madeira tenha sido elucidada entre as décadas de 40 e 60,5-8 vários trabalhos recentes têm sido publicados, visando encontrar detalhes estruturais, utilizando metodologias analíticas mais avançadas, dentre estas a espectroscopia de RMN, a cromatografia de exclusão por tamanho e a cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas.9-14 Além disso, novas espécies têm sido submetidas a estudos, pois xilanas de diferentes espécies apresentam diferentes graus de polimerização e diferentes graus de substituição por grupos acetila e ácidos 4-O-metilglicurônicos.15

O crescente interesse pela química das xilanas deve-se ao comportamento destas hemiceluloses durante os processos de polpação alcalina e branqueamento. Por exemplo, durante a polpação kraft, as cadeias de xilanas podem ser despolimerizadas, resultando em polissacarídeos de menor massa molecular, ou ainda, ser dissolvidas no licor de cozimento, mantendo parcialmente a natureza polimérica. Quando o pH decresce, no final do cozimento, parte das xilanas dissolvidas pode precipitar ou ser adsorvida na superfície da polpa.16 Este processo de sorção das xilanas leva a um aumento do rendimento da polpação, afetando a qualidade da polpa e, portanto, tem impulsionado muitas pesquisas cujos objetivos visam esclarecer o mecanismo envolvido e encontrar as melhores condições de sorção na polpa.16-18 Além disso, a estrutura das xilanas é quimicamente modificada pela conversão, via β-eliminação, de parte dos seus grupos de ácidos 4-O-metilglicurônicos a ácidos hexenurônicos.19-21 Estes protegem as xilanas contra a reação de despolimerização terminal e, portanto, sua presença na polpa preserva o rendimento. No entanto, as ligações duplas conjugadas na estrutura dos ácidos hexenurônicos influenciam negativamente o processo de branqueamento da polpa.22-26

Embora as O-acetil-(4-O-metilglicurono)xilanas presentes na madeira influenciem muito no processo de produção de celulose, não há na literatura estudo referente à estrutura destas hemiceluloses das principais espécies de eucalipto utilizadas na indústria nacional de celulose e papel. Dessa forma, o presente trabalho relata o primeiro estudo de caracterização química de O-acetil-(4-O-metilglicurono)xilanas da madeira do Eucalyptus urograndis.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A estrutura das xilanas isoladas da madeira de Eucalyptus urograndis foi confirmada através de análises espectroscópicas no infravermelho e de ressonância magnética nuclear de 1H, 13C, 2D 1H-1H COSY e TOCSY e de correlação heteronuclear 1H-13C HSQC.

O espectro de absorção na região do infravermelho mostra claramente absorções típicas de hemiceluloses. A banda mais característica foi observada em 1043 cm-1, atribuída aos estiramentos da ligação C-O-C das unidades de xilose. Na região característica de deformação de C-H de hidrogênios anoméricos (950-700 cm-1), uma banda pouco intensa em 901 cm-1 indica a presença de β-anômeros, revelando a dominância de ligações β-xilosídicas entre as unidades de xilose nas hemiceluloses.27

A presença de grupos acetila é evidenciada pela absorção em 1738 cm-1, atribuída aos estiramentos da ligação C=O de ésteres. Próximo a esta banda observa-se uma absorção em 1641 cm-1, que se deve, principalmente, à absorção de água. A ausência da absorção ao redor 1720 cm-1, característica de carbonilas cetônicas, devidas à oxidação de grupos hidroxilícos hemicelulósicos, permite inferir que não ocorreu oxidação das hemiceluloses durante o procedimento de isolamento sob as condições empregadas.

Os sinais observados no espectro de RMN de 1H próximos a δH 2,20 (2,18; 2,13; 2,12 e 2,07) e os sinais observados no espectro de RMN de 13C na região próxima de δC 22,00 (22,16; 21,99; 21,77 e 21,59) atribuídos respectivamente aos hidrogênios e carbonos de CH3CO, bem como os sinais próximos a δC 170,00 (171,00; 170,93; 170,68 e 170,60) devidos a carbonilas de grupos acetilas, respectivamente, indicam que a xilana está acetilada.

O espectro de RMN de 1H das O-acetil-(4-O-metilglicu-rono)xilanas apresentou vários sinais presentes na região entre δH 4,4 e 5,5, mostrando a complexidade da estrutura. Como os núcleos de carbono apresentam sinais mais resolvidos, de freqüências características e de atribuição mais simples, para facilitar a interpretação utilizou-se a técnica de correlação heteronuclear HSQC, objetivando identificar as ressonâncias dos hidrogênios anoméricos e separá-las daquelas dos demais hidrogênios do anel piranosídico da xilose. As regiões de ressonância dos hidrogênios e carbonos anoméricos são, respectivamente, δH 4,4-5,5 e δC 90-105, enquanto a região de hidrogênios ligados a carbonos substituídos por grupos OAc corresponde a δH 4,4-5,5 e δC 70-80.

No mapa de contornos HSQC, na região característica de ressonância de carbonos anoméricos, foram encontradas sete correlações δ 1H/13C: 5,27/98,50; 4,73/100,30; 4,69/101,50; 4,63/101,00; 4,53/102,13; 4,45/102,25; 4,37/103,40, indicando a presença de sete diferentes unidades de açúcares. Para a atribuição dos sinais baseou-se em dados da literatura, tomando-se como referência os estudos realizados sobre a estrutura de xilanas acetiladas isoladas de fibre flax28 e da madeira de Populus tremula,29 assim como de glicuronoxilanas isoladas do E. globulus.9 O sinal do hidrogênio anomérico em δH 5,27 e o simpleto atribuído ao grupo metoxila em δH 3,45 são característicos do ácido 4-O-metilglicurônico, ligado à unidade de xilose através da ligação α-(1 → 2).30 Pelo mapa de contornos COSY foi possível atribuir o sinal em δH 3,56 ao H-2 do ácido 4-O-metilglicurônico e a técnica TOCSY permitiu atribuir mais dois sinais neste sistema de spin, em δH 3,78 e δH 3,20. Pelo mapa de contornos HSQC foi possível verificar as seguintes correlações δH 3,78/ δC 73,3 e δH 3,20 / δC 83,12 e concluir que o sinal em δH 3,78 é devido ao H-3 e o sinal em δ 3,20 é devido ao H-4, por estar ligado ao carbono de deslocamento químico 83,12 característico de carbono ligado à metoxila. O sinal do carbono do grupo metoxila foi encontrado em δC 60,80.

Em relação às unidades de xilose, os sinais dos hidrogênios anoméricos foram divididos em seis tipos, conforme apresentados na Tabela 1: i- Xilose interna não acetilada e não vizinha à xilose acetilada (Xil); ii- Xilose interna não acetilada e vizinha à xilose acetilada [Xil-(Xil-Ac)]; iii- Xilose acetilada no O-2 (Xil-2Ac); iv- Xilose acetilada no O-3 (Xil-3Ac); v- Xilose acetilada no O-2 e no O-3 (Xil-2,3Ac); vi- Xilose acetilada no O-3 e substituída no O-2 pelo ácido 4-O-metilglicurônico (Xil-3Ac-2AMeGlc). Partindo-se dos sinais dos hidrogênios anoméricos, os sinais de H-2 foram atribuídos pela análise do mapa de contornos COSY e com o auxílio do mapa de contornos TOCSY montaram-se os sistemas de spins (A, B, C, D, E e F) referentes aos seis diferentes tipos de xilose presentes na estrutura das O-acetil-(4-O-metilglicu-rono)xilanas, conforme mostra a Tabela 1.

A inspeção do espectro de HSQC na região δH 4,4-5,5/ δC 70-80 permitiu distinguir as unidades de xilose acetiladas no O-2 e/ou O-3. Nesta região, foram obtidas as seguintes correlações: δH 5,09/ δC 72,50; δH 5,02/ δC 75,00; δH 4,93/ δC 76,26; δH 4,75/ δC 74,47; δH 4,64/ δC 74, 55, que se referem, como pode ser visto na Tabela 1, aos sistemas A, B, D, A e C, respectivamente. De posse destes resultados, foi possível concluir que o sistema de spin A se refere às unidades de xilose acetiladas no O-2 e O-3, pois os hidrogênios H-2 (δH 4,75) e H-3 (δH 5,09) são os mais desblindados em relação aos H-2 e H-3 das outras unidades, por serem adjacentes aos grupos acetila. O sistema de spin, que possui o H-3 (δH 5,02) ligado a um carbono acetilado, pode se referir tanto à xilose acetilada no O-3, quanto à xilose acetilada no O-3 e substituída no O-2 pelo ácido 4-O-metilglicurônico. Tal dúvida foi solucionada a partir da correlação H-2 δH 3,69/ C-2 δC 77,20 deste sistema de spin observada no mapa de contornos HSQC, revelando que se trata da xilose acetilada no O-3 e substituída no O-2 pelo ácido 4-O-metilglicurônico. O carbono 2 da xilose neste elemento estrutural apresenta desblindagem caracteristicamente experimentada pelos átomos de carbono que estão envolvidos em ligações glicosídicas.30 Este elemento estrutural foi detectado pela primeira vez em xilanas de folhosas de Populus tremula no estudo realizado por Teleman et al..29 Neste estudo foi relatado que todas as unidades de ácido 4-O-metilglicurônico estão ligadas a unidades de xilose acetiladas no O-3. Em trabalho posterior, realizado por Teleman et al.31 em xilanas de folhosa de birch e beech, foi encontrado que 80% dos ácidos 4-O-metilglicurônicos estão ligados a xiloses acetiladas no O-3. Pela integração do sinal do hidrogênio H-3 (δH 5,02) do elemento estrutural Xil-3Ac-2AMeGlc e do sinal do hidrogênio H-1(δH 5,27) dos ácidos 4-O-metilglicurônicos encontrou-se a razão 1:1, indicando que todos os ácidos 4-O- metilglicurônicos estão ligados a xiloses acetiladas no O-3. O sistema C refere-se à xilose acetilada no O-2 e o sistema D à xilose acetilada no O-3, conforme demonstrado pelas correlações H-2 δH 4,64/ C-2 δC 74,55 e H-3 δH 4,93/ C-3 δC 77,40, respectivamente. O H-3 do sistema C foi atribuído a partir do mapa de contornos do COSY. A distinção entre as unidades de xilose acetiladas isoladas e xilose vizinha a xilose acetilada foi baseada na literatura.28 O sistema de spin E refere-se à xilose isolada e o sistema F, à xilose vizinha à xilose acetilada.

Adicionalmente, foi encontrado, na região de hidrogênios anoméricos do espectro de RMN de 1H, o sinal em δH 5,39, que está, geralmente, ausente em xilanas de folhosas. Este sinal foi atribuído ao H-1 do ácido 4-O-metilglicurônico substituído no O-2, sendo desblindado por aproximadamente 0,12 ppm, em relação ao H-1 do ácido 4-O-metilglicurônico terminal. Este elemento estrutural também foi encontrado em xilanas de E. globulus, e foi proposto que a posição O-2 do ácido 4-O-metilglicurônico constitui um ponto de ligação com outros polissacarídeos da parede celular, tal como as galactanas.9,10 Nas xilanas do E. globulus encontrou-se que aproximadamente 30% dos ácidos 4-O-metilglicu-rônicos estão substituídos no O-2. Pela integração dos sinais dos hidrogênios anoméricos referentes aos ácidos 4-O-metilglicurônicos terminais e aos substituídos no O-2 das xilanas de E. urograndis foi calculado que 10% destes ácidos estão substituídos.

A quantificação e distribuição dos grupos acetila na estrutura das xilanas foi realizada empregando-se espectroscopia de RMN de 1H, utilizando-se a metodologia descrita por Teleman et al..29 Pode-se concluir que a proporção entre as unidades de xilose e grupos acetila é de 10:5,3. O grau de acetilação destas xilanas ficou dentro do esperado, pois é sabido que as folhosas apresentam de 4 a 7 grupos acetila para cada 10 unidades de xilose.32 Nas unidades de xilose acetiladas, aproximadamente 33% dos grupos acetila das xilanas de E. urograndis estão ligados no O-2 e 67% no O-3, sendo 36% em Xil-3Ac, 11% em Xil-2,3Ac e 20% em Xil-3Ac-2AMeGlc. Quanto ao teor de ácidos 4-O-metilglicurônicos foi encontrada 1,1 unidade de ácido 4-O-metilglicurônico para 10 unidades de xilose para as O-acetil-(4-O-metilglicurono)xilanas. Esta relação ficou bem próxima à encontrada para as folhosas birch, beech e Populus tremula. Em xilanas de birch e beech a relação molar (ácido 4-O-metilglicurônico: xilose) foi de 0,7:10 31 e para Populus tremula a relação foi de 1:10.29 Os deslocamentos químicos de 1H e 13C para as O-acetil-(4-O-metilglicurono)xilanas isoladas da madeira do E. urograndis estão em excelente acordo com os valores relatados na literatura para as xilanas isoladas de Populus tremula29 e de birch e beech.31

A análise de carboidratos foi realizada empregando-se metanólise ácida, seguida por sililação e separação por cromatografia a gás. Este procedimento possibilita a determinação de ácidos urônicos e açúcares neutros, uma vez que os monossacarídeos liberados são estabilizados pela conversão em seus metilglicosídeos e os grupos carboxílicos dos ácidos urônicos esterificados com grupos metílicos. Dessa forma, evita-se a perda de açúcares neutros e a descarboxilação dos ácidos urônicos, comuns na hidrólise ácida convencional com H2SO4 72%.14 A composição de carboidratos das O-acetil-(4-O-metilglicurono)xilanas está apresentada na Tabela 2.

Os principais monossacarídeos encontrados, como já era esperado, foram xilose e ácidos 4-O-metilglicurônicos, sendo revelada a presença de aproximadamente 0,9 unidade de ácido para 10 unidades de xilose. Esta relação ficou bem próxima à encontrada pela análise do espectro de RMN de 1H (1,1 ácido 4-O-metilglicu-rônico:10 xiloses). Adicionalmente, foram encontradas galactose e glicose, que podem estar ligadas quimicamente à cadeia de xilana através do ácido 4-O-metilglicurônico, uma vez que 10% destes apresentaram-se substituídos no O-2, como calculado pela análise de RMN de 1H. Foram identificadas também pequenas quantidades de arabinose e manose. A análise cromatográfica de exclusão por tamanho das xilanas revelou uma distribuição de massa molecular uniforme, indicando que estas foram isoladas sem impurezas de outros carboidratos poliméricos. A massa molecular média e a polidispersividade para as O-acetil-(4-O-metilglicu-rono)xilanas foram 34,9 kDa e 1,16, respectivamente.

PARTE EXPERIMENTAL

Isolamento das O-acetil-(4-O-metilglicurono)xilanas

A amostra de madeira do Eucalyptus urograndis foi coletada em árvore com 7 anos de idade, proveniente da região de Mucuri, na Bahia. A madeira foi transformada em serragem e foi submetida à extração em soxhlet utilizando-se etanol:tolueno 1:2 para remoção dos extrativos, que podem interferir na análise. Para a deslignificação, foram pesados aproximadamente 10 g de serragem livre-de-extrativos em erlenmeyer de 1000 mL onde foram adicionados 500 mL de solução de ácido peracético 100 g L-1. Deixou-se a mistura sob agitação constante a 80 ºC por 40 min. Após a deslignificação, o meio reacional foi diluído duas vezes com água destilada e filtrado em funil de placa sinterizada. A holocelulose obtida após deslignificação foi submetida à extração com dimetilsulfóxido por 12 h, sob atmosfera de N2. Ao extrato foram adicionados etanol e ácido fórmico para acidificação do meio até pH 3,5. Após a precipitação, as xilanas foram isoladas por centrifugação, lavadas com metanol e secadas sob vácuo.

Espectroscopia no infravermelho e de RMN

Os espectros na região do infravermelho foram registrados em pastilhas de KBr em espectofotômetro ABB Bomem, modelo FTLA 1000, na região de 4000 a 600 cm-1. Para obtenção dos espectros de RMN, a amostra de xilana foi dissolvida em D2O e o 3-trimetilsililpropionato de sódio-d4 foi utilizado como padrão interno (δ 0.00). Os experimentos foram realizados a 70 ºC em espectrômetro Bruker Avance DRX400.

Análise de carboidratos

As O-acetil-(4-O-metilglicurono)-xilanas foram submetidas à metanólise e sililação conforme metodologia descrita na literatura.14 A amostra foi analisada por cromatografia a gás acoplada à espectrometria de massas, utilizando o aparelho da marca Shimadzu, modelo GC-MS PQ5050A, contendo coluna capilar de sílica fundida DB-5 (30 m; 0,25 µm de diâmetro interno; filme de 0,25 mm) e hélio como gás de arraste. A temperatura do injetor foi de 260 ºC. Para a coluna, a temperatura inicial foi de 100 ºC, aumentando de 100 a 290 ºC na taxa de 6 ºC/min, permanecendo nesta por 10 min. A temperatura do detector foi de 290 ºC e na interface CG-EM foi de 290 ºC. O detector de massas operou com ionização por impacto de elétrons (70 eV) e varredura de massas entre o intervalo de 30 a 600. A identificação dos carboidratos foi realizada através da comparação dos espectros de massa com aqueles existentes no banco de dados do aparelho (Wiley, 7ª ed.) e com a injeção de padrões.

Cromatografia de exclusão por tamanho

A massa molecular média e a polidispersividade das amostras de xilanas foram determinadas pela cromatografia de exclusão por tamanho. Estas amostras foram dissolvidas em solução de LiCl 8% em dimetilacetamida e injetadas em um cromatógrafo Shimadzu SCL-10A, equipado com quatro colunas e uma pré-coluna PL-gel Mixed B (Polymer Laboratories). As colunas, o injetor e o detector de índice de refração foram mantidos a 80 ºC durante a análise. O fluxo do eluente (0,5% LiCl em dimetilacetamida) foi 1,0 mL min-1. As colunas analíticas foram calibradas com os padrões Pullulan (Polymer Laboratories).

CONCLUSÃO

Os resultados obtidos levaram a concluir que as O-acetil-(4-O-metilglicurono)xilanas isoladas da madeira de Eucalyptus urograndis são muito semelhantes às encontradas em outras folhosas. As relações molares de unidades de xilose e grupos de ácidos 4-O-metilglicurônicos foram 10:1,1 e 10:0,9, fornecidas pela análise do espectro de RMN de 1H e pela análise de carboidratos por metanólise, respectivamente. Estas hemiceluloses apresentaram grau de acetilação de 0,55 AcO/xilose e mostraram, assim como as xilanas do E. globulus, a presença de ácidos 4-O-metilglicu-rônicos cujos O-2 encontram-se substituídos. A massa molecular média foi de 34,9 kDa e a polidispersividade 1,16.

MATERIAL SUPLEMENTAR

O material suplementar apresenta a estrutura geral das xilanas e os espectros no IV e de RMN de 1H e de 13C das xilanas de Eucalyptus urograndis obtidas neste trabalho. Este material está disponível em http://quimicanova.sbq.org.br, com acesso gratuito, em arquivo PDF.

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e à Sociedade de Investigações Florestais (SIF), pelo apoio financeiro.

Recebido em 20/4/07; aceito em 26/10/07; publicado na web em 8/7/08

Material Suplementar

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Set 2008
    • Data do Fascículo
      2008

    Histórico

    • Recebido
      20 Abr 2007
    • Aceito
      26 Out 2007
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