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O ensino da enfermagem gerontogeriátrica e a complexidade

Enseñanza de la enfermería gerontogeriátrica y la complejidad

Teaching of gerontogeriatric nursing and complexity

Resumos

Foram objetivos deste estudo: identificar as características do ensino da enfermagem geronto-geriátrica; refletir sobre este ensino, partindo das características identificadas, à luz da Complexidade. Pesquisa qualitativa, teve como fonte de dados nove livros-resumo de congressos brasileiros de enfermagem e sete periódicos da enfermagem nacional, do período de 1991 a 2000. O corpus foi composto por 16 artigos científicos e utilizou-se o QRSNUD* IST4 para análise. Os resultados mostraram a existência deste ensino, por meio de: matérias no currículo; atividades práticas; atividades durante estágio curricular; atividades extracurriculares; participação em eventos específicos ou da enfermagem, com apresentação de trabalhos; outras atividades. Refletir sobre o ensino da enfermagem geronto-geriátrica, por meio da Complexidade, é perceber o ensino enquanto instância que procure transmitir uma cultura que permita ao futuro trabalhador: compreender a condição humana; pensar de forma contextualizada, aberta, globalizada, ética.

Educação em enfermagem; Enfermagem geriátrica; Geriatria


Los objetivos de este estudio fueron: identificar las características de la enseñanza de la enfermería gerontogeriátrica; reflexionar sobre esta enseñanza, partiendo de las características identificadas, a la luz de la Complejidad. Se trata de una investigación cualitativa que tuvo como fuente de datos nueve libros de resúmenes de congresos brasileños de enfermería y siete periódicos de enfermería nacional, del período de 1991 al 2000. El corpus estuvo compuesto por 16 artículos científicos y se utilizó el QRS-NUD* IST4 para el análisis. Los resultados mostraron la existencia de esta enseñanza, por medio de: materias en el currículo; actividades prácticas; actividades durante la práctica curricular; actividades extracurriculares; participación en eventos específicos o de enfermería, con presentación de trabajos; otras actividades. Reflexionar sobre la enseñanza de la enfermería geronto-geriátrica, por medio de la Complejidad, es percibir la enseñanza en cuanto instancia que intenta transmitir una cultura que permita al futuro trabajador: comprender la condición humana; pensar de forma contextualizada, abierta, globalizada, ética.

Educación en enfermería; Enfermería geriátrica; Geriatría


The present study had the objectives of identifying the characteristics of gerontogeriatric nursing and of reflecting on this teaching, based on identified characteristics, in the light of Complexity. A qualitative research, its data sources were nine proceedings volumes of Brazilian Nursing congresses and seven Brazilian nursing publications of the 1991-2000 period. The main body of this article was comprised of 16 scientific articles; QRSNUD* IST4 was used for analysis. Results showed that this teaching does take place, and it is carried out through: mandatory disciplines in the curriculum; practical activities; activities during curricular training; extra-curricular activities; participation on specific or general Nursing events in which studies are presented; other activities. To use the principles of Complexity is tantamount to perceiving educative teaching as trying to convey a culture that will enable future workers to understand the human condition and to think in a contextualized, open, globalized, ethical way.

Education, nursing; Geriatric nursing; Geriatrics


RELATO DE PESQUISA

O ensino da enfermagem gerontogeriátrica e a complexidade

Teaching of gerontogeriatric nursing and complexity

Enseñanza de la enfermería gerontogeriátrica y la complejidad

Silvana Sidney Costa Santos

Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Departamento de Enfermagem da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Especialista em Gerontologia (SBGG). Líder do Grupo de Estudo e Pesquisa em Enfermagem Gerontogeriátrica (GEP-GERON/FURG/CNPq). silvanasidney@terra.com.br

Correspondência Correspondência: Silvana Sidney Costa Santos Rua Dr. Ernesto de Araújo, 62 - Ap. 401 - Centro CEP 96200-560 - Rio Grande - RS

RESUMO

Foram objetivos deste estudo: identificar as características do ensino da enfermagem geronto-geriátrica; refletir sobre este ensino, partindo das características identificadas, à luz da Complexidade. Pesquisa qualitativa, teve como fonte de dados nove livros-resumo de congressos brasileiros de enfermagem e sete periódicos da enfermagem nacional, do período de 1991 a 2000. O corpus foi composto por 16 artigos científicos e utilizou-se o QRSNUD* IST4 para análise. Os resultados mostraram a existência deste ensino, por meio de: matérias no currículo; atividades práticas; atividades durante estágio curricular; atividades extracurriculares; participação em eventos específicos ou da enfermagem, com apresentação de trabalhos; outras atividades. Refletir sobre o ensino da enfermagem geronto-geriátrica, por meio da Complexidade, é perceber o ensino enquanto instância que procure transmitir uma cultura que permita ao futuro trabalhador: compreender a condição humana; pensar de forma contextualizada, aberta, globalizada, ética.

Descritores: Educação em enfermagem. Enfermagem geriátrica (educação). Geriatria.

ABSTRACT

The present study had the objectives of identifying the characteristics of gerontogeriatric nursing and of reflecting on this teaching, based on identified characteristics, in the light of Complexity. A qualitative research, its data sources were nine proceedings volumes of Brazilian Nursing congresses and seven Brazilian nursing publications of the 1991-2000 period. The main body of this article was comprised of 16 scientific articles; QRSNUD* IST4 was used for analysis. Results showed that this teaching does take place, and it is carried out through: mandatory disciplines in the curriculum; practical activities; activities during curricular training; extra-curricular activities; participation on specific or general Nursing events in which studies are presented; other activities. To use the principles of Complexity is tantamount to perceiving educative teaching as trying to convey a culture that will enable future workers to understand the human condition and to think in a contextualized, open, globalized, ethical way.

Key words: Education, nursing. Geriatric nursing (education). Geriatrics.

RESUMEN

Los objetivos de este estudio fueron: identificar las características de la enseñanza de la enfermería gerontogeriátrica; reflexionar sobre esta enseñanza, partiendo de las características identificadas, a la luz de la Complejidad. Se trata de una investigación cualitativa que tuvo como fuente de datos nueve libros de resúmenes de congresos brasileños de enfermería y siete periódicos de enfermería nacional, del período de 1991 al 2000. El corpus estuvo compuesto por 16 artículos científicos y se utilizó el QRS-NUD* IST4 para el análisis. Los resultados mostraron la existencia de esta enseñanza, por medio de: materias en el currículo; actividades prácticas; actividades durante la práctica curricular; actividades extracurriculares; participación en eventos específicos o de enfermería, con presentación de trabajos; otras actividades. Reflexionar sobre la enseñanza de la enfermería geronto-geriátrica, por medio de la Complejidad, es percibir la enseñanza en cuanto instancia que intenta transmitir una cultura que permita al futuro trabajador: comprender la condición humana; pensar de forma contextualizada, abierta, globalizada, ética.

Descriptores: Educación en enfermería. Enfermería geriátrica (educación). Geriatría.

INTRODUÇÃO

A enfermagem gerontogeriátrica supõe o agrupamento do conhecimento e da prática de enfermagem, provenientes da enfermagem geral, da geriatria e da gerontologia(1). A enfermagem gerontogeriátrica é ainda a especificidade da enfermagem que cuida do idoso em todos os níveis de prevenção, desde a promoção da saúde até a reabilitação. Esta nomenclatura foi escolhida para este estudo, por entendê-la mais completa e adequada.

O profissional de enfermagem, utilizando uma abordagem contextualizada e individualizada, ao cuidar do idoso, considera a multidimensionalidade do processo de envelhecimento, do idoso e da sua velhice. Os termos humanização, qualidade de vida, individualização do cuidado e auto-cuidado, fazem parte do vocabulário dos profissionais da enfermagem gerontogeriátrica. O trabalho em enfermagem gerontogeriátrica orienta-se, para os cuidados específicos, o que obriga a uma maior utilização dos conhecimentos adquiridos, da criatividade e da capacidade de compreender as relações existentes entre o idoso, a sua família e a sua comunidade e sociedade.

Existe um futuro promissor para o enfermeiro que caminhar na área gerontogeriátrica, desde que ele considere algumas vias, como: permita ao idoso melhorar ou manter o bem-estar e viver de maneira autônoma no seu domicílio; participe da análise dos cuidados de saúde para o idoso e ajude a elaborar estratégias adaptáveis a esse ser humano; centre os cuidados não somente nas doenças, mas no idoso e em suas necessidades; desenvolva modelos de cuidados que atendam o idoso e a sua família; procure trabalhar em uma abordagem multidisciplinar e interdisciplinar, procurando partilhar as responsabilidades; promova os cuidados domiciliares, incluindo aí os familiares cuidadores; torne-se defensor dos direitos dos idosos; procure ampliar cada vez mais os seus conhecimentos, não só em gerontogeriatria, mas em diferentes domínios disciplinares.

Na Organização Pan-Americana da Saúde(2), existe uma recomendação de que se evite oferecer conteúdos sobre idoso, envelhecimento e velhice de forma parcial e inseridos em outras matérias para não correr o risco de diluí-los ou reduzi-los no desenvolvimento da mesma; recomenda ainda a existência de uma matéria específica em gerontogeriatria, na enfermagem, cujos conteúdos voltados à promoção da saúde sejam ministrados antes dos assuntos referentes aos idosos institucionalizados, a fim de possibilitar aos estudantes desenvolverem atitudes positivas quanto aos idosos, passando a percebê-los de maneira mais adequada.

A Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), junto com o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), Conselhos Regionais de Enfermagem (COREN) e com as escolas de enfermagem, após realizar várias oficinas e seminários estaduais, regionais e nacionais, e um longo período de processo de ação e reflexão voltado à formulação do currículo, apresentou e discutiu de forma participativa uma proposta curricular que contemplava a assistência de enfermagem à criança, ao adolescente, ao adulto, à mulher e ao idoso, em situações clínicas, cirúrgicas, gineco-obstétricas e psiquiátricas, tanto em assistência individual como coletiva, em serviços não hospitalares, hospitalares e comunidade.

Na proposta aprovada pelo MEC (Portaria n.º 721/94), que resultou do trabalho conjunto ABEn, COFEN, escolas de enfermagem, o termo idoso foi excluído, tirando das escolas de enfermagem o compromisso da inserção de conteúdos relativos ao cuidado ao ser humano com 60 anos e mais. Alguns enfermeiros, de forma equivocada, entenderam que o processo de envelhecimento, o idoso e a velhice estariam inseridos no estudo sobre o adulto, não diferenciando esta população e sua especificidade.

No final da década de 1990, com a mudança na equipe que integra a Comissão de Especialistas de Ensino de Enfermagem do MEC, surgiu uma outra proposta curricular para os cursos de graduação em enfermagem, que corroborou os princípios curriculares elaborados pela ABEn e originários dos Seminários Nacionais de Diretrizes para Educação em Enfermagem no Brasil (SENADEN), inclusive contemplando o ser humano idoso na área da assistência de enfermagem. Essa proposta está direcionada à elaboração de um Projeto Político Pedagógico (PPP) que contemple as dimensões necessárias à formação do enfermeiro, tornando-se, após modificações estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação – Câmara de Educação Superior, a Resolução CNE/CES n. º 3, de 7 de novembro de 2001, que dita as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. Torna-se desejável que o Brasil tenha um investimento efetivo em programas de suporte para idosos como aposentadorias e pensões adequadas; oferta de serviços alternativos como o centro-dia, o hospital-dia e outros; apoios em áreas como alimentação, transporte, assistência médica voltada aos problemas dos idosos; serviços de orientação e atividades culturais. E também para os profissionais que cuidarão desses idosos como salários justos; condições adequadas de trabalho; cursos e reciclagens nesta área específica; implantação e implementação de ações interdis-ciplinares e transdisciplinares; dentre outros. Porém, o mais importante é adequar os serviços de saúde e, principalmente, formar os profissionais, para bem cuidar do ser humano idoso, o que se apresenta um desafio, considerando-se a (in)visibilidade desta temática nos currículos dos cursos de graduação da enfermagem brasileira no período de 1991 a 2000.

OBJETIVOS

• Identificar as características do ensino da enfermagem gerontogeriátrica nas publicações da enfermagem brasileira, no período de 1991 a 2000.

• Refletir sobre o ensino da enfermagem gerontogeriátrica, nos cursos de graduação, partindo das características identificadas, à luz da Complexidade de Edgar Morin.

REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

Considerando a complexidade que envolve o objeto deste estudo, o ensino de enfermagem gerontogeriátrica nos cursos de graduação, não poderia escolher qualquer caminho metodológico para apreendê-lo, mas optar por um método que apresentasse maior possibilidade de retratar esta realidade. E entendendo o método como caminho da investigação acoplado a/e originário da teoria e não amarra do fazer científico, a Complexidade tornou-se um guia para achar o caminho preterido.

A Complexidade é uma forma de compreender o mundo, tendo capacidade de integrar no real as relações que sustentam a co-existência entre os seres no universo, possibilitando o reconhecimento da ordem e da desordem; do uno e do diverso, da estabilidade e da mudança, enfim: a complexidade comporta as ações, as interações e as determinações que constituem o mundo dos fenômenos e, principalmente, a noção de incerteza(3).

O método de investigação deste estudo surgiu do referencial teórico escolhido, pois, a teoria não é nada sem o método(3), ou seja, ambos são componentes indispensáveis da complexidade. A Complexidade não tem metodologia, mas pode ter o seu método, o que ele chama de lembrete(3). O método da Complexidade pede que pensemos nos conceitos sem dá-los por concluídos, para quebrarmos as esferas fechadas, para restabelecermos as articulações entre o que foi separado, para tentarmos compreender a multidimensionalidade, para pensarmos na singularidade com a localidade, com a temporalidade, para nunca esquecermos as totalidades integradoras(4).

A palavra método não significa metodologia, pois a metodologia é um guia a priori que programa a investigação, ao passo que o método que se liberta ao longo do caminhar do pesquisador, será um auxiliar da estratégia, comportando descobertas e inovações(5). A finalidade do método, na complexidade, é ajudar o pesquisador a pensar por si mesmo para responder ao desafio da complexidade do problema.

Morin escolhe a caminhada ao caminho e nesta trajetória o método consiste na descrição do caminho percorrido ao longo da caminhada empreendida e nela, torna-se interessante que o pesquisador faça um ir e vir incessante entre certezas e incertezas, entre o elementar e o global, entre o separável e o inseparável e para isso utiliza a lógica clássica e os princípios de identidade, de não contradição, de dedução, de indução; procurando enxergar os seus limites e algumas vezes procurando transgredi-los(5).

O paradigma da Complexidade proposto por Morin, termina por retratar um conhecimento sobre condições possíveis, tornando-se, então, um conhecimento relativamente imetódico ou construído a partir de uma pluralidade metodológica; necessitando de uma composição transdisciplinar e/ou individualizada, se individualizada sugere um movimento de maior personalização do trabalho científico e do investigador.

METODOLOGIA

Serviram de fonte de dados para este estudo: nove livros-resumo e seis livros-programa de Congressos Brasileiros de Enfermagem, sendo os primeiros analisados no todo, da capa a contra-capa, para que nenhum resumo ficasse fora do estudo, onde foram identificados 281 resumos, sendo 260 sobre enfermagem gerontogeriátrica e 21 resumos sobre o ensino de enfermagem gerontogeriátrica na graduação. E sete periódicos da enfermagem brasileira: Revista Texto e Contexto em Enfermagem, Revista da Escola de Enfermagem da USP, Revista Gaúcha de Enfermagem, Revista Enfermagem da UERJ, Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste (RENE), Revista Brasileira de Enfermagem (REBEn), Revista Latino-Americana de Enfermagem, onde analisei 186 números de revistas e identifiquei 87 artigos relacionados à enfermagem gerontogeriátrica, dos quais nove artigos relativos ao ensino da enfermagem gerontogeriátrica. O período pesquisado foi de 1991 a 2000.

Depois de identificados os 21 resumos apresentados nos Congressos Brasileiros de Enfermagem relacionados ao ensino da enfermagem gerontogeriátrica, foram enviadas até duas cartas registradas aos autores, solicitando artigo científico ou relatório de pesquisa destes resumos, tais correspondências foram elaboradas a partir da Resolução 196/96, que trata de pesquisa envolvendo seres humanos(6). Só sete autores enviaram os trabalhos completos, que junto com os nove artigos científicos encontrados nos periódicos investigaram formaram o corpus deste estudo com 16 artigos científicos.

A escolha em trabalhar com os artigos científicos originados de apresentações de Congressos Brasileiros de Enfermagem ou publicados acerca do ensino da enfermagem gerontogeriátrica ou temáticas correlatas, se deu por entender que as mudanças curriculares são lentas e que a produção científica é dinâmica e reflete, com mais abrangência, a realidade vivida por uma disciplina, no caso a enfermagem e tem um grande poder de influência na formação profissional, já que os enfermeiros, principalmente os docentes, utilizam estes trabalhos científicos como modelos e/ou subsídios ao seu cotidiano profissional.

Foram, então, analisados 16 artigos científicos na íntegra, que se tornaram o corpus deste estudo. Foi utilizado o software para análise de dados qualitativos QRS-NUD*IST4 (Qualitative Research and Solutions), sigla que significa: Non-numeric and Unstructured Data – Index, Searching and Theorizing, isto é, dados não numéricos e não estruturados, que se possa indexar, buscar e a partir deles, teorizar. Tal programa é projetado de modo a permitir o armazenamento, a exploração e o desenvolvimento de idéias e/ou teorias sobre os dados(8). Para tanto os 16 artigos científicos foram digitados e introduzidos no programa.

Foi considerada satisfatória a amostra de 16 artigos científicos, pois, os dados tornam-se suficientes quando começam a reincidir e quando o conjunto das informações possibilita a apreensão de semelhanças e diferenças contendo as expressões que se pretendia objetivar com a pesquisa, ou seja, a saturação dos dados direciona a análise(9).

Na análise dos dados foi utilizado o QRS-NUD*IST4, que auxiliou na escolha dos temas e sub-temas, tendo como base o referencial teórico e a experiência prévia, buscando-se a "descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos, indo além das aparências do que está sendo comunicado"(9). Assim sendo, foram estabelecidas conexões e relações entre os discursos dos autores sobre o ensino da enfermagem gerontogeriátrica, na graduação de enfermagem, e o referencial teórico adotado, além da prática profissional, formando uma rede de vivências, opiniões e expectativas sobre o objeto do estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As formas de condução do ensino da enfermagem gerontogeriátrica identificadas neste estudo, foram: matéria inserida no currículo, sendo obrigatória ou optativa ou ainda conteúdos inseridos em matérias diversas: do básico ao profissional ou só no profissional; por meio de atividades práticas nas matérias específicas ou nas matérias diversas, cujos conteúdos foram inseridos; no desenvolvimento de atividades durante estágio curricular: em Instituições de Longa Permanências (ILP), em clínicas especializadas, em domicílios, em atendimentos ambulatoriais, como: consulta de enfermagem, orientações em salas de espera e outras atividades; por meio de atividades extracurriculares: estágios, trabalhos de extensão, atividades voluntárias, participação em grupos de estudos e pesquisa; participação em eventos específicos; participação em eventos da enfermagem, com apresentação de trabalhos específicos e outras atividades; outras atividades importantes: elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC); outras atividades, considerando-se as necessidades de cada Instituição de Ensino Superior (IES); e, por fim, todas as atividades ou diversas atividades.

Quanto aos conteúdos identificados, nos artigos científicos pesquisados, que para efeito didático os temas separados foram: idoso, envelhecimento, velhice, gerontologia e geriatria, enfermagem gerontogeriátrica, cuidados aos idosos e atendimento domiciliário; tais conteúdos fazem parte de um todo que é o ensino da enfermagem gerontogeriátrica, mas cujas partes ainda estão dissociadas deste todo e algumas vezes, descoladas das realidades vividas, distantes das necessidades de contextualizar, globalizar e localizar, proposta por Morin. Mostrando, assim, o desejo de (re)pensar-se este ensino.

A Política Nacional do Idoso (PNI), através da compreensão de especialistas em saúde do idoso, outros técnicos e na tentativa de transformar o modelo assistencial que se baseia nos modos biomédico, resultado da influência do paradigma cartesiano sobre o pensamento médico e hospitalocêntrico, centrado na assistência através da internação hospitalar, direcionou alguns tópicos que considerou essenciais à capacitação em saúde do idoso(10): epidemiologia do envelhecimento e suas conseqüências; mudança de atitude; habilidades para comunicação eficaz; aprendizado no reforço, respeito e proteção a liberdade do idoso; envelhecimento normal e patológico; avaliação da incapacidade e dependência, como prevení-la e os princípios básicos à utilização de recursos para a reabilitação e permanência do idoso na comunidade; apresentação da doença no idoso e o reconhecimento da interação entre doença e envelhecimento; noções básicas de prevenção, diagnósticos e cuidados em problemas de saúde típicos e doenças mais prevalentes; julgamento equilibrado na aplicação de procedimentos de investigação; conhecimentos sobre o uso de fármacos em idosos; princípios de cuidados contínuos ao idoso portador de incapacidade irremediável.

Sendo a realidade apresentada ao nosso conhecimento revestida de múltiplas faces, percebe-se que o aluno não pode analisar um problema tendo em vista um único aspecto, há desejo de uma análise global, onde sejam contemplados todos os aspectos e para que isto aconteça e se tenha uma visão do todo, é preciso que sejam também analisadas as partes simultaneamente com o todo(11).

Cabe, a cada curso de enfermagem pensar uma maneira mais adequada a sua realidade, não esquecendo de contextualizar este ensino. O importante é que, pelo menos aqueles alunos que tenham interesse na área gerontogeriátrica tenham acesso aos conhecimentos específicos durante sua formação profissional. Por outro lado pode ficar interessante utilizar várias formas de ações educativas direcionadas ao idoso, envelhecimento e velhice e se isto for feito, termina por ser um treino do olhar em múltiplas, porém precisas direções, o que pode constitui-se em um real exercício de interdisciplinaridade(11) que se encaminha para a transdisciplinaridade.

No ensino, é preciso trilhar um caminho que rompa com as análises simplificadoras e, ao fazê-lo, procure compreender que o real é complexo e como tal necessita ser analisado para ter condições de ser bem apreendido(12). E para isto, considere-se que o encontro da teoria e prática é enriquecedor quando percebemos que por meio deste encontro, fertilizamos a teoria e enriquecemos a prática; considerando ainda que a complexidade não se revela à primeira vista, porque muitas vezes olhamos com os olhos do já visto, ou seja, da mesmice(12) e que o desejo de se religar os saberes para se chegar a conhecer o todo, pois só se conhece as partes, caso se conheça o todo e só se conhece o todo através do conhecimento das partes(4).

Após a análise dos 16 artigos científicos foi verificado que o ensino da gerontogeriatria na graduação em enfermagem no período de 1991 a 2000, vem acontecendo, apesar de sua ausência no currículo da maior parte dos cursos brasileiros, mostrando que o aumento da demanda de idosos nos serviços de saúde, onde se realizam as aulas práticas e estágios, tornou este ensino possível, e desta forma vem ocorrendo sem nenhum planejamento do professor ou até com o esforço do professor, que não tendo preparo buscou informações para repassá-las aos alunos.

De forma bastante diversificada este ensino aconteceu voltado a despertar à sensibilização dos futuros enfermeiros sobre a possibilidade de cuidar-se de uma parcela populacional que vem crescendo de forma acelerada no país. Também o ensino da enfermagem gerontogeriátrica contribuiu para a formação do futuro enfermeiro, quanto o despertou para a importância de aprender a saber cuidar do ser humano idoso, tanto quanto saber cuidar dos outros seres humanos: criança, adolescente, mulher, adulto, tornando-se desejável que este ensino faça parte do programa do curso, de forma mais explícita, mais sistemática não importando a forma como será ministrado.

Elementos importantes para o ensino da enfermagem gerontogeriátrica

Existem elementos muito importantes à realização do ensino da enfermagem gerontogeriátrica, apresentados a seguir, que são: desenvolvimento de habilidades cognitivas; realização da pesquisa; desenvolvimento de aulas práticas e estágios; realização da Inter-transdisciplinaridade.

Desenvolvimento de habilidades cognitivas, e para tal os professores necessitam dirigir a aprendizagem por meio de experiências significativas; procurando acompanhar o aluno em seu percurso, propiciando-lhe vivências locais, gerais e cósmicas; conduzindo-o para fora, ou seja, para fora do caminho traçado a priori, para além de um espaço vivencial e conduzindo o ensino de modo acentrado, ou seja, um ensino inserido em um currículo cuja lógica de conhecimento funcione em rede, onde tudo esteja relacionado a tudo e que não esteja centrado em matérias, em método, no professor nem no aluno, mas na vida e na condição humana do idoso(13).

Realização da pesquisa, pois a pesquisa termina por se colocar um importante instrumento de formação, pois iniciará o aluno no processo de conhecimento, partindo de suas pré-concepções sobre temas diversos, significando partir do real como fonte de investigação; depois a reealaboração dos conceitos do aluno, após consultar diferentes fontes, permiti-lhe, não só estabelecer o espírito de investigação, bem como de habilidades necessárias à coleta de dados, a interpretação destes dados, visando à elaboração dos resultados. Assim, a pesquisa oportunizará o futuro profissional a reconstrução de suas concepções sobre o objeto que lhe foi foco de discussão e unificará atitudes de responsabilidade, autonomia, ética, análise e individuação do seu processo formativo, o que motivará o futuro trabalhador a ampliar o seu olhar sobre as situações que se apresentarem na sua vida profissional.

Desenvolvimento de aulas práticas e estágios, sendo uma estratégia que direcione a formação competente porque diz respeito a oportunizar o aluno na busca de aperfeiçoamento em áreas de seu interesse, pois esta ação lhe garantirá uma estreita vinculação de sua futura profissão com a realidade social que o cerca e constitui, permitido-lhe uma interlocução positiva com a realidade e aproximando, cada vez mais: espaço de formação e realidade social, pois estabelecer relações entre o saber escolar e o saber da sociedade termina por influenciar positivamente a formulação de currículos e programas mais adequados, despertando os professores para uma maior intensificação neste intercâmbio e por conseguinte, a uma melhora do processo ensino e aprendizagem.

Realização da Inter-transdisciplinaridade = religação dos saberes. Considerando a interdisciplinaridade, princípio mediador entre as diferentes disciplinas e que não poderá ser elemento de redução a um denominador comum, mas elemento teórico-metodológico da diferença e da criatividade. É o princípio da máxima exploração das potencialidades de cada ciência, da compreensão dos seus limites e acima de tudo, é o princípio da diversidade e da criatividade(14).

A interdisciplinaridade que se apresenta neste momento reflexivo é uma ação de transposição do saber posto na exterioridade para as estruturas internas do indivíduo, constituindo o conhecimento(14). Tal interdisciplinaridade de que se fala não se encaixa em formas errôneas de existência, como a interdisciplinaridade generalizadora, a mais usual e que pretende chegar a um saber absoluto, ao conhecimento totalitário, somando-se elementos comuns presentes em saberes menores; ou a interdisciplinaridade instrumental, que parece ser a mais perigosa e se refere a abandonar o estudo da estrutura e do sentido imanente da ciência e se reduz apenas a ver como funciona(14).

Não se pode perceber a interdisciplinaridade possível somente quando houver trabalho em equipe ou alguma parceria, ou ainda consenso, harmonia, pois ela se constitui dialeticamente, apresentando-se una e diversa e impedindo o reducionismo infértil. Pois, a interdisciplinaridade pode ser conquistada de forma individualizada ou coletiva. E não se pode perder de vista que a interdisciplinaridade é um princípio dialético da produção do conhecimento e do pensamento e não um simples ajuntamento de profissionais de disciplinas diversas(15).

A interdisciplinaridade é percebida quando existe a possibilidade de transformação da realidade em que se atua, procurando-se colocar as partes em relação ao seu significado no todo(11). A interdisciplinaridade é muito mais um processo que pressupõe atitude interdisciplinar(11), do que a mera integração de conteúdos programáticos. A interdisciplinaridade pressupõe ausência de preconceito teórico e que termina sendo um modo de se compreender o mundo, é movimento, algo que se vive(11). Para o professor desenvolver cada vez mais uma visão interdisciplinar, deseja-se que ele assuma a atitude e tenha uma postura aberta diante de uma nova maneira de pensar e de agir na educação.

Morin sugere a promoção da transdisciplinaridade, como sendo um paradigma que permita ao mesmo tempo a distinção, a separação ou mesmo a oposição, isto é a disjunção desses domínios científicos, mas que possa fazê-los comunicar sem operar a redução. Torna-se preciso, então, criar, estabelecer a comunicação entre as ciências que poderá se desenvolver a partir dessas comunicações(16). Na complexidade a ação disciplinar é tão valorizada quanto às outras ações - multi, inter e transdisciplinar, já que o todo não é mais do que a soma das partes, mas é simultaneamente, mais e menos que a soma das partes(16).

Assim sendo, ambas: disciplina e transdisciplina são importantes no contexto educacional e profissional, em especial na gerontogeriatria. Importante colocar que quando se defende a transdisciplinaridade como ação da complexidade, não se tem o objetivo de destruir as disciplinas, mas mostrar que elas fazem parte de um todo; e ainda se não for possível realizar a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade, que se realize a multidisciplinaridade, considerando-se que o mais importante seja se religar os diversos saberes para maior aproximação de um determinado objeto de estudo e de trabalho, pretendendo-se com esta religação dos saberes a melhoria de qualidade de vida dos seres humanos envolvidos no processo.

O papel do professor no ensino da gerontogeriatria

Na perspectiva da Complexidade termina por ser responsabilidade do professor direcionar o futuro profissional a torna-se competente, isto é interativo, voltado para o coletivo, que combine e que se associe a todas as formas possíveis de junções e inter-relações e para isto, este professor necessita adquirir uma forma complexa de conceber a realidade e adquirir um olhar e um pensar complexo, o que pode ser viabilizado através de rupturas e incorporações de novos padrões, instaurando uma formação diferenciada, que direcione o futuro trabalhador a incorporação de habilidades, saberes e posturas inovadores e diversificados, para, mais tarde, lidar com as reais e potenciais situações que constituem a realidade complexa.

Para que o ensino educativo, seja competente e possível, torna-se necessária uma reorganização dos espaços de formação, de modos que estes espaços formem um cidadão trabalhador(17), cidadão sensível e que, principalmente, estes espaços se aproximem das políticas de formação nacional geral e específica da área; levando este futuro profissional a olhar uma mesma realidade de forma ampliada.

Torna-se importante é que os professores, principalmente os da enfermagem gerontogeriátrica, sejam preparados para aprender e ensinar sobre a parcela da população brasileira que mais cresce, proporcionalmente à população geral e que este aprender e este ensinar direcione-se a perceber a especificidade e multidimensionalidade do ser humano idoso, a complexidade do processo de envelhecer e de cuidar da velhice de cada idoso, de forma aberta, contextual, global, local, competente, sensível, procurando entender a importância da religação dos saberes. Importante ainda que direcione a uma sabedoria não só científica, mas também humana e preocupada com o relacionamento do ser humano com o meio ambiente(18).

Pensar no ensino da enfermagem gerontogeriátrica, ou de qualquer outra matéria, na Enfermagem, com vistas na Complexidade, segundo Edgar Morin é pensar no ensino educativo como instância que procure transmitir uma cultura que permita ao ser humano compreender sua condição humana e pensar de forma aberta e contextualizada, tendo como alvo principal deste ensino educativo o cuidado: humano, profissional e ecológico.

Para que os enfermeiros desenvolvam, de forma adequada, cuidados ao ser humano idoso, alguns caminhos necessitam ser considerados, tais quais: manutenção do bem-estar e vida autônoma, sempre que possível, no ambiente domiciliar e onde tais cuidados centrem-se no idoso, nas suas necessidades e de sua família e não em sua doença; desenvolvimento de um trabalho multi, inter e transdisciplinar, procurando partilhar responsabilidades, defendendo os direitos dos idosos e sua família; ampliação dos conhecimentos profissionais para além da área gerontológica, considerando que tudo estar relacionado a tudo.

Procurando pensar a relação da enfermagem geron-togeriátrica com a Complexidade, percebe-se o idoso como um ser com especificidade singular e multidimensionalidade que não pode ser desconsiderada, direcionando ao fato de que não podemos cuidar do idoso de forma reducionista, dentro do paradigma que acredita ser o conhecimento algo objetivo, certo e organizado, mas permeado de incerteza e desordem, as quais não só existem como de fato desempenham um papel produtor no universo, direcionando o verdadeiro pensamento complexo, aquele pensamento que olha de frente, utilizando-se de um novo olhar e enfrentando a desordem e a incerteza.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Inicialmente defendia-se que todos os alunos dos cursos de graduação em enfermagem tivessem uma matéria obrigatória voltada ao idoso, processo de envelhecimento e velhice. Depois se verificou que uma ou várias atividades desenvolvidas no ensino e voltadas à ação da enfermagem gerontogeriátrica são importantes e precisam ser estimuladas de diversas maneiras, já que múltiplas formas de ação terminam por direcionar para múltiplas formas de visão e revisão das partes e do todo simultaneamente, terminando este movimento por tornar-se um grande aliado da construção do conhecimento sobre idoso, processo de envelhecimento e velhice.

Ensinar uma temática ainda não inserida nos currículos dos cursos de Enfermagem, mas sugerida nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), não é tarefa fácil e não foi pretensão desta pesquisa moldar, mas de dar um passo inicial, apontando para alguns caminhos, que necessitam ser refletidos para serem inseridos ou não nos cursos de Enfermagem; se inseridos que sejam consideradas as questões regionais, marcos (referencial, filosófico, conceitual e estrutural) e objetivos que direcionam o PPP dos cursos e que este ensino contribua na autoformação do aluno, direcionando-o à aptidão para organizar o conhecimento, ajudando-o a assumir a condição humana e direcionando-o para aprendizagem do viver, para aprendizagem da incerteza e tendo por objetivo principal um ensino educativo voltado para a cidadania. Pois, o conhecimento só pode ser pertinente se situar seu objeto no seu contexto e, se possível, no sistema global do qual faz parte, se ele cria uma forma incessante que separa e reúna, analisa e sintetiza, abstrai e reinsere no concreto, mostrando que contextualizar é preciso.

Os conteúdos acerca do ensino da enfermagem geronto-geriátrica identificados, no período pesquisado, apresentaram certa diversidade e algumas vezes pequenos desencontros, mas estas particularidades são esperadas e aceitas em um conhecimento emergente, novo, como tudo que ainda envolve o ser humano idoso, o processo de envelhecer e a fase da velhice, no Brasil, não só no período estudado, como ainda atualmente. Percebeu-se a contribuição deste ensino para formação profissional, lembrando que alguns dos alunos que tiveram temas relacionados ao idoso, envelhecimento e velhice, hoje desempenham suas atividades profissionais nesta área do saber, ou se não as exercem, pelo menos percebem os seres humanos idosos com mais sensibilidade e solidariedade, quando deles cuidam em suas várias ações de saúde.

Utilizar os pressupostos de Edgar Morin, através da Complexidade, refletir sobre as características do ensino da enfermagem gerontogeriátrica, nos cursos de graduação, no período de 1991 a 2000, foi descobrir que na enfermagem, no ensino de qualquer matéria, pode-se vislumbrar a possibilidade do ensino sobre condição humana, solidariedade, interligação do saber, desenvolvimento sustentável quando se ministra a teoria e prática do cuidado, seja humano, profissional ou ecológico, e direcioná-lo à criança, ao adolescente, à mulher, ao jovem, ao adulto, ao idoso. Isto implica que este ensino educativo poderá ser realizado desde as áreas temáticas do ciclo básico (Bases Biológicas e Sociais da Enfermagem) até as áreas temáticas profissionais (Fundamentos de Enfermagem, Assistência de Enfermagem, Administração de Enfermagem, Ensino de Enfermagem), incluindo-se a assistência individual e a coletiva.

Obter os dados explorando como suas fontes os livros-resumo dos congressos brasileiros de enfermagem e os principais periódicos da enfermagem brasileira foi um caminhar em um passado recente, no ano de 1991 até o ano de 2000, e tão cheio de expectativas e de vontade de acertar dos enfermeiros, apontando para uma perspectiva que hoje começa a acontecer de forma consciente e integrada nas grandes mudanças que o mundo passa. A utilização do programa de análise para dados qualitativos QRS-NUD*IST 4 foi de valia positiva, porém só utilizei suas ferramentas mínimas, deixando de explorar outras possíveis formas de usá-lo, neste momento propositadamente.

É reconhecido atualmente o importante papel das universidades na luta por estudos e ações sobre o objeto de trabalho da gerontologia e, por conseqüência, da melhoria da qualidade de vida do ser humano idoso. Essa tentativa considera a especificidade e multidimensionalidade desse objeto, o qual prescinde da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade, que são meios de procurar descobrir e/ou estabelecer conexões e correspondências entre as disciplinas científicas, ou seja, entre os diferentes meios de descrição da realidade. Sendo isto possível através da determinação daquilo que as diferentes disciplinas científicas possuem em comum em níveis de integração superiores, ou mais profundas; da tentativa de unificar ou sintetizar conhecimentos científicos.

A interdisciplinaridade, passo inicial para transdisciplinaridade e a própria transdisciplinaridade como elementos da Complexidade, podem ser uma possível saída para dar-se conta do objeto de trabalho da Gerontologia, não só por sua inclusão nas ciências sociais, mas pela possibilidade de cuidar da população que mais cresce atualmente e proporcionalmente, em nosso país, que é o contingente de idosos. A interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade são conceitos importantes na prática com o ser humano idoso e, no ensino de gerontogeriatria no curso de graduação em Enfermagem.

Quanto à aplicação da Complexidade no fazer e no ensinar a gerontogeriatria, foi verificado que quando se reconhece a multidimensionalidade do fenômeno do envelhecimento e da velhice já se tende, provavelmente, a tomar a consciência de sua inexorável complexidade e a perceber que não se pode pensar no ensino de nenhuma temática, principalmente nos cursos de graduação da saúde, e mais especificamente no ensino da Gerontogeriatria, cujo objeto de trabalho é o ser humano idoso, o processo de envelhecer e a velhice, sem procurar inserir, neste ensino, os pressupostos da Complexidade.

Recebido: 16/02/2005

Aprovado: 15/08/2005

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  • Correspondência:
    Silvana Sidney Costa Santos
    Rua Dr. Ernesto de Araújo, 62 - Ap. 401 - Centro
    CEP 96200-560 - Rio Grande - RS
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Abr 2008
    • Data do Fascículo
      Jun 2006

    Histórico

    • Aceito
      15 Ago 2005
    • Recebido
      16 Fev 2005
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