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Variedades de cafeeiros

Variedades de cafeeiros

Carlos Teixeira Mendes

Professor Catedrático de Agricultura Especial da Escola Superior de Agricultura "Luiz die Queiroz", da Universidade de São Paulo

Na luta em que se empenham técnicos e fazendeiros, com o fim die restaurar o cafezal paulista, redimindo uma parte dos erros do passado, toda observação baseada em fatos e, especialmente, na experimentação, pode constituir contribuição ütU, mesmo modesta como a quie agora expomos. (1 (1 ) - Na parte die Oampo deste trabalho, fomos muito (auxiliado pelo agrônomo Eduardo Mezzaoappa, administrador da Fazenda Modelo. )

No estudo das variedades de cafeeiros que povoam o Estado de São Paulo, além de mil outros detalhes correlacionados com sua cultura e sua genética (produtividade, rusticddade etc.) podemos levar em consideração outros dois pontos de vista : o da "bebida" e o do "tipo". Em relação à primeira, não será preciso perder muito tempo para demonstrar que as variedades predominantes em nossas culturas não constituem a causa das bebidas finas ou das menos boas. Ao meio em que vivem é que se deve imputar, mais que a tudo, a razão do fato. As duas variedades que englobam de modo quase absoluto, nossas culturas, são a "Nacional" e a "Burbon", as, mesmas que, de Campinas para o Norte do Estado produzem afamados cafés e que, na Sorocabana te no vale do Paraiba só contribuem com produtos indiscutivelmente inferiores aos daquela zona.

Se fosse necessário, contudo, de experiências comparativas deduzir quaisquer conclusões, bastaria que citássemos alguns exemplos presentes em nossos trabalhos:

1º.) - Em um ano, tanto o "Nacional", como o "Burbon", o "AMARELO de Botucatú" e o "Sumatra", todos em perfeita igualdade de condições, só produziram bebidas excelentes; no ano seguinte, ao contrário, as mesmas quatro variedades, em outras experiências, só nos proporcionaram bebida "dura", em conseqüência do decorrer do tempo e de seu reflexo sobre a secagem do café;

2º.) - O afamado "Burbon", que em determinada experiência só produziu o "estritamente mole", em outra, tanto produziu essa bebida, como o "mole boa" e "dura", em estreita correlação com a quantidade de frutos verdes que continha, produto do momento, muitas vezes forçado, de colheita. Em outra experiência só nos proporcionou bebidas péssimas;

3º.) - Para não nos alongarmos demasiadamente deixamos de expor váiros casos, que um dia descreveremos, "sobre os efeitos do sombreamento e das adubações, nos quais encontrámos as mais variadas bebidas em qualquer das quatro variedades atrás mencionadas.

Concluimos dizendo que as variedades mais cultivadas no Estado de Sao Paulo nao podem ser responsabilizadas pelas qualidades da bebida do café, posto que em relação ao "Bourbon" haja um certa tendência entre os nossos fazendeiros,' pára atribuir-lhes melhores qualidades de paladar, fama talvez merecida, provavelmente produto de ter predominado nas culturas da zona de nossos melhores cafés.

Estes exemplos e esta tese não excluem a possibilidade de se Isolarem linhagens piores ou melhores dessas mesmas ou de outras variedades.

Deixando de lado a questão da "bebida", restringir-nos-emos, neste artigo, de preferência, ao papel que possam desempenhar essas variedades sobre o "tipo" ou tamanho da semente do café, da "fava", como se diz na giria comercial desse produto.

Ninguém porá em dúvida que é o "Maragogipe" o produtor das maiores e mais belas "favas"; menores produzem o "Amarelo de Botueatü" e o "Nacional" e bem menores ainda são as do "Burbon".

Outras experiências comparativas não conhecemos que possamos citar ie, por esse motivo, somos obrigado a nos cin-gir exclusivamente aos nossos próprios trabalhos, com o fim de verificarmos se há, de fato, ponderáveis diferenças entre os produtos das variedades mais disseminadas em nosso Estado.

Com esse fim, tomámos quatro talhões de câféeiros que possuíamos na Fazenda Modelo, um de cada* uma das variedades adiante menclondas, de um cafezal novo, de sete anos de idade no inicio desta experiência, em plena produção. Tratava-se de uma cultura instalada em terra roxa "lenca-roçada" de diabásio, velhíssima de culturas anteriores, mas de tal modo tratada, que o cafezal apresentava excelente aspecto, como se vegetasse em terra nova.

Para se tornarem apreensiveis tantos números como os quê nos foi necessário estudar, vamos resumi-los, o mais que nos for possível, exprimindo-os, primeiramente em relação a uma quantidade constante, mu quilos de café em coco. Como ê hábito, porém, de nossos fazendeiros tudo representar em alqueires (que nem sempre são de 50 litros), desde a colheita até o beneficiamento, para nesse momento, passar de uma medida de volume para uma tão diversa de peso - a arroba de 15 quilos - devemos dizer que não é possível, senão de modo muito grosseiro, estabelecer uma relação entre o volume do café em "coco" e seu peso. Essa verdade demonstramos com o Quadro I, no qual podemos constatar que mil litros de café em coco, pronto para ser recolhido à tulha, tanto podem pesar 370 quilos, como 420, se do "Burbon", ou de 380 a 429, se do "Nacional" e assim para os demais. Este fato está correlacionado com vários fatores, dentre os quais sobressai o estado de maturação com o qual se realizar a colheita. De um modo geral, porém, podemos dizer que cem litros de um bom "café em coco" devem pesar, aproximadamente, quarenta quilos, que beneficiados, podem nos dar vinte e dois quilos de café total e, em função de suas qualidades, até dezoito quilos de "cafés bons", vendáveis, ou seja, 85%.


Se é difícil estabelecer uma relação entre peso e volume do café em coco, pior seria se o tentássemos fazer entre o "cereja" e o "coco", quer encarando volumes ou pesos.

O peso e o volume do café em cereja nada representam; hão de ser, sempre, medidas variabilíssimas, em função do estado de maturação, consequentemente das quantidades de á-gua que encerram os frutos, ou seja, das porcentagens relativas de frutos verdes, secos ou maduros em dado momento da colheita.

Uma vez secos os frutos e guardados sob forma de "café em coco", podemos dizer que só tendem a aumentar de peso, tão raras e insignificantes são as excessões reveladas em nosso Quadro I. Esse aumento provavelmente não afetará as sementes; é decorrente da higroscopicidade da casca seca do fruto.

Feitas estas observações, prossigamos no relato de nossas experiências, as quais tem por fim estudar o tamanho das sementes produzidas por quatro variedades, em perfeita igualdade de condições.

Tomemos em primeiro lugar o nosso Quadro II, do qual todos os números foram calculados para uma mesma quantidade de "café em coco" (mil quilos), com o fim de se tornarem mais facilmente apreensíveis.


Não estamos, neste momento, estudando a variação de produção das diversas variedades, o que reservamos para o Quadro VI; estamos apenas mostrando como são variáveis, de ano para ano, as quantidades de café de cada "tipo", se a esse termo, muito difundido no comércio de café, só emprestar- mos a significação do tamanho da semente, o que é designado, nesse mesmo comércio, pela expressão "peneira".


O equivalente desse quadro, sob forma mais simples, é o de número III, no qual expomos, nao mais as quantidades reais mas sim as porcentagens com que entram os diversos tipos no conjunto de cada colheita. Dele se deduz, como é fácil de ver, a grande variabilidade na composição da produção de cada an.o

As quatro variedades mostram, para as duas primeiras peneiras (sempre consideradas como uma só) uma tendência acentuada de decrécimo, com o decorrer dos anos, ainda que, com variações bruscas interrompendo essa manifestação, coincidentemente para todas as variedades nos anos de 1935, 1937 e 1940 .(2 (2 ) - Paira análise mais rigorosa devemos só rproveitar, pfejra este trabalho, os dados até 1928, porque 6Ó até então tivemos conddçSes que permitissem <x*mpaxações em igueldede de condições, como veremos a-diante. )

Procurando as causas deste último fenômeno, só encontrámos como explicação, a coincidência de pequenas produções nesses anos (com uma única exceção para o "Amarelo de Botucatú", em 1937), conseqüência provável da probreza de chuvas nos anos precedentes, como se demonstra no Quadro VI.

O aumento das porcentagens dessas duas peneiras não determina, como poderia parecer necessário, diminuição correlativa nas que lhe ficam logo abaixo, como se deduz do Quadro IV, se considerarmos o conjunto todo dessas cinco peneiras e dos "mocas", o que vai colocar a questão sob doís aspectos diferentes:


1) - As proporções desse conjunto, que naquele quadro chamamos de "cafés bons", em relação ao "café em coco", melhoraram em seis casos e pioraram em outros seis;

2) - Essas proporções em relação ao total de café beneficiado, ao contrário, mostram melhoria em nove casos, contra um de piora e dos duvidosos.

Se, entretanto, somente considerarmos as três peneiras que lhes ficam logo abaixo, verificamos, como é forçoso, que ô aumento das de N.os 18 e 19, conduz a diminuição nas de N.os 15, 16 e 17.

O gráfico II , grupando de outro modo esses dois conjuntos, nos mostra sua correlação durante o período de 7 anos em que foram mais regulares nossas observações.


Couclusão - A melhoria de proporções das duas primeiras peneiras equivale à melhoria do conjunto que chamamos de "cafés bons", senão em relação ao "café em coco", o que fica em dúvida, pelo menos em relação ao total de café beneficiado. Essa melhoria parece estar correlacionada com as pequenas produções.

Corroborando essa asserção, verificamos que a referida melhoria coincide, em quase todos os casos, com diminuição do "café escolha", quer em relação ao "café em coco", quer, e mais pronuncidamente, em confronto com o "café beneficiado", como é natural.

Continuando a observar esses resultados pelo prisma da proporcionalidade, © chamando de "cafés bons" o conjunto das cinco primeiras peneiras e as três de "mocas", evidencia-se que não há diminuição de sua produção com o decorrer dos anos, posto que variações sensíveis sejam observadas.

Quanto à produtividade real nada podemos deduzir de nossas experiências, por vários motivos, dentre os quais o termos iniciado um cafezal em terra gastíssima, mantida a peso de artifícios, além de termos que abandoná-la em parte, em conseqüência de grande invasão de tiririca.

Calculando, porém, a produção por "mil pés de café", chegaríamos à conclusão de que o "Sumatra" foi, durante dez anos, o mais produtivo, vencendo os demais por larga margem. Como, porém, a experiência não visava esse fim, fica o asserto com o valor apenas de observação.

Se para o chamado conjunto de "cafés bons" não verificamos tendência manifesta e contínua de diminuição com o envelhecer das plantas, não se pode negar que ela se revela no aumento das porcentagens de "mocas", de modo significativo e paralelo em seus resultados finais; quanto ao café "escolha", contudo, não se observa igual tendência.

Quanto à produção, reconhecidamente oscilante em um cafezal, de ano para ano, ainda que as condições de nossas experiências não fossem perfeitas para seu estudo, parece que menos variáveis se mostraram o "Burbon" e o "Nacional" e mais inconstantes o "Amarelo" e, especialmente, o "Sumatra".

Cabe aqui, contudo, uma observação: os técnicos especialistas do Instituto Agronômico de Campinas não encontraram em suas pesquisas, elementos biométricos bastantes para fazer do "Sumatra" uma variedade distinta do "Nacional"; ao contrário, asseveram ser errôneo o conceito de variedade, e mais ainda, "nem como forma, se justifica a descrição do café "Sumatra", menos ainda como variedade (3 (3 ) - C. A. Krug , J. E, T. Mendes e Alcides da Carvalho - "Taxonomía de Ooffea aretoica L." 1(938 - 19 e 20) ).

Quadro 3


Finalizamos esta primeira parte, estudando o "rendimento" liquido e proporcional da soma de todos os cafés vendáveis, conjunto que vimos chamando de "'cafés bons".

Analisando o Quadro V, verificamos que o " Amarelo de Botucatü" suplantou os três rivais na média dos sete primeiros anos desta experiência, isto ê, enquanto as plantas, vivendo de seu 7.° ao 14.° anos de existência, revelavam pleno vigor. A mesma variedade é destronada de sua superioridade no conjunto dos três anos que se seguem, especialmente pelo ""Nacional", fato esse que pode ser interpretado de dois modos:


1.°) - Porque não fizemos observações continuas durante este segundo período e o acaso poderia ter contribuido com condições menos favoráveis para essa variedade nos anos de 1940, 42 e 44;

2.°) - Porque, e ê o mais provável, sendo èle reconhecidamente mais sensível, cultivado em teTra gasta, como foi, patenteou seu declínio mais rapidamente que os demais; vem ao encontro desta suposição o fato de o "Burbon'* o acompanhar nessa mesma manifestação, como "um fidalgo que exige tratamento de fidalgo"", no dizer de Dafert.

O "Amarelo" só foi realmente superado pelo "Nacional", sabidamente o mais rústico de todos.

Para o conjunto de dez anos não se constatam diferenças ponderáveis, o que provavelmente é a conseqüência de um período longo de vigor e pequeno de decadência, resultados esses que não invalidam a conclusão precedente.

Quanto à correlação que possa existir entre o "tipo" ou, melhor, tamanho das sementes e a "bebida", é preciso discutir a questão com um pouco mais de detalhes do que temos feito até aqui, na falta de elementos mais positivos.

A primeira vista, e de um modo geral, colhemos a impressão que não existe correlação alguma entre esse tamanho e a bebida, como provam os exemplos que vamos enunerar, deduzidos todos de nossas experiências, realizadas, aliás, visando outros objetivos: (4 (4 ) - Devemos lembrar que todos os trabalhos de classificação foram realizados pela Secção de Classificação do antigo Instituto do Café de São Paulo, hoje "Superitendência dos Serviços do Café", da Secretaria da Fazenda, aos funcionários da qual, especialmente ao Sr. José Largacha, agradecemos a solicitude com que sempre nos atenderam. )

1.°) - Em uma experiência, na qual procurávamos vislumbrar diferenças de "bebida" entre os produtos das quatro variedades que vinhamos estudando, tanto encontrámos a bebida "dura" para os "mocas" como para as peneiras 16 e 18, fato esse que se repete em outras experiências sobre fermentações;

2.°) - Em outra, sobre os efeitos de sombreamento, tanto produziram bebida "dura" as peneiras 16 e 18, em uns casos, como o "estritamente mole", em outros. Tanto revelou essa mesma bebida "estritamente mole", um de peneira 18, tipo 3, como um seu irmão, classfiçado como 4 + 10;

3.°) - Em outro trabalho, encontramos o qualificativo de "mole bôa" para um café tipo 2, peneira 17½ e igual denominação para o respectivo "moca", classificado como 6-20. Do mesmo modo, tanto produziu "simplesmente mole" um "chato tipo 2", como seu correspondente em tratamento, tipo 7. E mais notável ainda: nessa mesma experiência encontrámos dois lotes "estritamente mole", tanto para a peneira 18, tipo 2, como para suas respectivas "escolhas";

4.°) - Em uma experiência sobre adubações, encontrámos, para o mesmo tratamento, a bebida "mole" para o tipo 6 e a de "Rio" para o 6-25;

5.°) - O exemplo que mais nos deixa em dúvida provém de uma experiência na qual estudávamos diversos tipos de seca. Aí encontrámos, em 5 casos, a bebida diretamente correlacionada com o tipo, em outras 5, indiferente, e, coúsa curiosa, dois de resultados contraditórios: em uma delas, o "escolha", trazendo como nota de "abaixo" de qualquer classificação, como possuidora de melhor bebida que o seu respectivo tipo 3, e outra - um despolpado, no qual o tipo 7 obteve "estritamente mole", ao passo que o seu tipo 3 só obteve "mole".

Dispensável será dzer que só comparámos cafés tratados em perfeita igualdade de condições, muitas vezes somente separados por peneiras ou à mão, depois de beneficiados.

Poderíamos ainda prolongar estes exemplos, demonstrando que não existe uma correlação obrigatória entre o tamanho ou "tipo da semente" e sua correspondente "bebida". Este fenômeno patentea-se principalmente nos extremos: quando a bebida é realmente "estritamente mole", ela se releva na maioria dos casos, em todos os tipos ou, em posição oposta, quando é característicamente "dura" ou "Rio", afeta igualmente todos os tamanhos. E' que evidentemente, fatores outros sobre-levam o valor do tamanho das sementes, como sejam as qualidades intrínsecas dos frutos e das condições extrínsecas que presidem seu secamento, meio e modo.

Não se poderá, contudo, negar que a não ser nesses casos, e mesmo em muitos dentre eles, pode e deve haver alguma correlação entre essas duas manifestações biológicas, especialmente quando a classificação e seu complemento "catação" forem rigorosos; do contrário, a maior ou menor presença de "pretos" ou de sementes pequenas, mirradas, produto de frutos colhidos verdes, pode e deve afetar diversamente o paladar do lote em que se fizeram notar, mascarando qualquer possível correlação entre o tamanho e gosto.

Que essa correlação pode existir demonstra-o o Quadro VII, que aqui damos com detalhes porque é elucidativo.


Não tem esse quadro, nesta experiência, o fim de colocar em destaque a superioridade de uns tratamentos em relação a outros. Visamos tão somente, mostrar que a simples separação por peneiras, pode revelar em um mesmo lote, bebidas diversas, mostrando aquela correlação de que atrás falamos.

Cada lote, de um mesmo tratamento, foi separado em duas partes: uma retida acima da peneira 15, sem outra separação, e outra que lhe ficava abaixo, reunindo os cafés menores, quebrados, bichados, escoimados, porém, de outras impurezas. A esta fração demos o nome de "escolha", sem o ser muitas vezes, como no caso dos cafés despolpados. A correlação entre a "bebida" e essas duas frações é evidente em oito casos sobre os onze estudados.

Poderíamos repetir o exemplo com outros trabalhos nos quais se patenteia a citada correlação, a despeito de alguns; casos contraditórios.

Conclusão - Concluimos que se não existe uma correlação obrigatória entre tamanho das sementes e sua "bebida""., o mais natural é que íessa correlação deva existir na generalidade dos casos, maxima quando a classificação fôr perfeita, não permitindo assim a mistura de "tipos" que podem provir de estados diversos de maturação, da seca, ou da fermentação dos frutos. A diversidade de tamanhos pode também afetar a uniformidade da "torração".

Daí se concluir que os tipos finos devem ser escoímados dos defeitos que, afetando seu aspecto, mais os desvalorizam diminuindo suas qualidades gustativas.

Concluimos éste artigo voltando à questão das variações de produção do cafeeiro.

Todas as variedades, umas mais, outras míenos, revelam, durante o decorrer de sua vida, oscilações de produção, muitas vezes notáveis. Fenômeno inconteste, sobejamente constatado na prática, explica-se satisfatoriamente pelo fato de se saber que "o cafeeíro só frutifica em ramo do ano passado*% isto é, em ramos que despontaram com a primavera, se desenvolveram durante o início do verão do ano anterior e mais ainda do próprio sem que se vaí realizar a frutificação. Durante a primavera e o verão crescem em comprimento os galhos, no outono amadurecem e se preparam para o florescimento. Mais que nos climas temperados, o nosso, fugindo ao rigorttsmo astronômico, permite uma primavera antecipada, se não sobrevierem secas excessivas. Estas, então, vão desempenhar papel de destaque no modo de florescer do ca-feeiro e no de preparar a futura produção.

Ora, qualquer que seja o solo ou a idade da planta, desde que não revelem declínio acentuado de fertilidade o primeiro, ou de vigor a segunda, nesta vão se refletir os fenômenos que condicionam o crescimento de seus ramos e, consequentemente, a ano favorável deve, futuramente, corresponder maior produção, supostos iguais todos os demais fatores, dentre os quais desempenha papel de relevo o decorrer do inverno (Junho-Setembro) durante o qual vai se preparar e se processar o florescimento, fenômenos esses condicionados à fisiologia da planta, ainda mal conhecidos para o caso do ca-íeeiro. A física do solo, seu teor em matéria orgânica, têm que ter papel saliente. Baste-nos lembrar o retardamento da maturação nos casos de adubações orgânicas exageradas.

Das quatro variedades que vínhamos cultivando experimentalmente, três revelaram decadência prematura em conseqüência de causas já mencionadas; o "Sumatra", todavia, por nâo ter sido afetado do mesmo modo, sobreviveu em condições normais de cafezal em terra velha, o qual, bem tratado vai nos proporcionar alguns elementos para a apreciação daquele fenômeno biológico.

Seja êle o "Sumatra" e, melhor ainda, se fôr realmente o "Nacional", como preferem os técnicos do Instituto Agronômico de Campinas, os dados que mas intimamente interessam estas observações sao: a grande uniformidade do lote e o fato de ser ¿le constituido, desde sua origem, exclusivamente de "mudas de toco", três por cova, em terra roxa de diabasio, velhíssima de culturas anteriores.

Convém salientar que no decorrer de 20 anos de observações, sobre 244 "pés de café" deste lote (realmente 732 indivíduos), só constatamos duas "falhas" ou seja, menos de um por cento, ao passo que no restante do cafezal, constituido de "Burbon", "Amarelo'* e "Nacional"( este o mesmo que o "Sumatra", segundo as opiniões já referidas), de semea-dura direta e de mudas de jacazinho, as porcentagens de perda de plantas sempre foram muitíssimo mais elevadas, ílsse fato vem em abono daquele tipo de muda, como já descrevemos em outra publicação (5 (5 ) - "A replanta de um oaffezal" - Revista de Agricultura 1935, Viol. 10 - N.° 3-5 - 108. ). Mudas de mais ou menos dois anos e meio de viveiro, plantadas em 27-3T1927, já em 1931 produziram inicial frutificação, que em nosso gráfico representamos abitràriamente (por não ter sido beneficiada) por 60 quilos de café beneficiado, em conseqüência de nâo ser inferior, na aparência, à de 1933.

Resumimos no Quadro VIII e no gráfico correspondente os principais dados de producáo, desde 1931 a 1948.


Dessa exposição se conclui, o que aliás é sobejamente sabido, quão oscilante é a produção do cafeeiro no clima paulista, mesmo quando muito regularmente tratado.

(1) - Produção de café beneficiado total nos 244 pés que constituem ia experiência. A produção de 1930 não foi realmente de zero como se representa no gráfico; como primeira e insignificante produção, foi desprezada.................

(2) - Números proporcioníaiis em relação à primeira tomada como ponto de piacrtidia. ................

(3) - Números proporcionais, tomando-se como base o número 100 representando a média die produção nos 18 anos de observação (médõla de 285 kgs. ou 78 arrobais por mil pés).

(4) - Ano em que empregámos forte adubação fosfatada em todo o lote, adubação essa que sempre se maniflestou favorável até (a colheita de 1948, como se deduz de outras observações.

(5)- Não foi propriamente de zero a produção de 1943, mps tão mesquinha em conseqüência das repetidas geadas de 1342, que assim preferimos considered; nem ao menos realizamos sua colheita.

Figura


Recebido para publicação em 15-7-1948.

  • (1
    ) - Na parte die Oampo deste trabalho, fomos muito (auxiliado pelo agrônomo Eduardo Mezzaoappa, administrador da Fazenda Modelo.
  • (2
    ) - Paira análise mais rigorosa devemos só rproveitar, pfejra este trabalho, os dados até 1928, porque 6Ó até então tivemos conddçSes que permitissem <x*mpaxações em igueldede de condições, como veremos a-diante.
  • (3
    ) - C. A. Krug
    , J. E, T. Mendes e Alcides da Carvalho - "Taxonomía de Ooffea aretoica L." 1(938 - 19 e 20)
  • (4
    ) - Devemos lembrar que todos os trabalhos de classificação foram realizados pela Secção de Classificação do antigo Instituto do Café de São Paulo, hoje "Superitendência dos Serviços do Café", da Secretaria da Fazenda, aos funcionários da qual, especialmente ao Sr. José Largacha, agradecemos a solicitude com que sempre nos atenderam.
  • (5
    ) - "A replanta de
    um oaffezal" - Revista de Agricultura 1935, Viol. 10 - N.° 3-5 - 108.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Fev 2013
    • Data do Fascículo
      1948
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