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Os cuidados: imagens e realidades

RESUMOS DE TESES E DISSERTAÇÕES

Os cuidados: imagens e realidades

Marta Julia Marques Lopes

Enfermeira, Doutora em Sociologia, professora adjunta do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

LOPES, Marta Julia Marques. Os Cuidados: Imagens e Realidades. Paris: Universidade Denis Diderot - Paris VII 1993. Tese de Doutorado em Sociologia.

Pesquisa construída a partir de inquietações ligadas a minha própria prática profissional e a vontade de compreendê-la no seu conjunto e na sua dinâmica. Durante um longo tempo, a profissão viveu hipostasiada e anestesiada ao mesmo pelo seu caráter vocacional. Hoje, o vocacional não alimenta mais a apatia. No Brasil, como em muitos outros lugares do mundo, as enfermeiras e a enfermagem falam de crise através de inúmeras expressões. Penso que essa crise, ou crises, se prendem as transformações recentes da profissão as quais abalaram um certo equilíbrio anterior. As transformações ligadas ao desenvolvimento das técnicas médicas são centrais na tendência, ao mesmo tempo, à fragmentação (das técnicas e das categorias profissionais) e na necessidade de repensar o cuidado enquanto ação global autônoma e enquanto singularidade identitária da enfermagem. Afirmamos que essa perspectiva rompe com uma racionalidade anterior dominante na própria concepção do cuidado e do cuidar. Exprime a contradição das diferentes lógicas, do cuidado e do tratamento e a ruptura frente aos modelos caritativoreligioso (vocacional) e ao modelo biomédico (técnico-científico, positivista). Diante da complexidade e do caráter multidimensional da análise proposta adotei uma perspectiva metodológica plural. Privilegiei as interações verbais que constituem os cotidianos da prática intra e inter-equipes de enfermagem. A pesquisa do contexto (2 hospitais, no caso, e 4 equipes de enfermagem) foi do tipo etnográfico: conhecimento do meio, informações institucionais, estatísticas, pesquisa documental, monografias organizacionais. Uma abordagem sócio-histórica complementou a (re)construção da relação cuidado de saúde práticas femininas. O referencial conceptual para a reflexão sistemática apoiou-se numa abordagem organizacional (sistêmica) e em noções como identidade profissional e outras coerentes com as perspectivas analíticas da sociologia da ação, transv ersal izadas em termos de relações sociais de sexo e classe. Tentei mostrar que estamos diante de uma reinterpelação da profissão, que passa pela reelaboração identitária do seu saber, dos seus sistemas simbólicos, de seus valores de suas crenças e tradições. Por uma nova definição social, de certa forma, de qualificação para o trabalho que recusa a fragmentação. Uma redefinição que não se limita a negar um trabalho a forte maioria feminina, mas que, ao contrário, tenta encontrar seu espaço e seu valor. Não se trata de glorificar o feminino, nem de retroceder a sua expressão missionária - anjo branco-, mas sim de buscar a afirmação do poder palpável da competência das enfermeiras e da enfermagem para o exercício do cuidado, permitindo-a interferir no domínio da saúde e no conjunto de problemas humanos postos pela doença. Tudo isso, enquanto saber autônomo e singular, lançando as bases de uma produção concreta e portanto visível no mundo do trabalho. Ainda, reafirmando suas qualidades enquanto verdadeira qualificação, bem como, sua utilidade, alicerçada numa relação salarial forte que faça surgir uma retribuição economicamente justa ao reconhecimento social do seu valor.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Dez 2014
  • Data do Fascículo
    Set 1996
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