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História e Quinto Império em Antônio Vieira

History and the Fifth Empire in Antônio Vieira

Resumos

O presente artigo tem por objetivo discutir a significação da História e do Tempo no pensamento político do padre Antônio Vieira. Dono de uma singular habilidade, acima de tudo, o jesuíta empenha-se em atribuir superioridade à monarquia lusitana. Confluindo em aspectos teológicos, retóricos e políticos, há uma missão especial que somente o Estado Português, o único, e nenhum outro mais, pode realizar. Assim, na predição do imortalizado imperador da língua portuguesa, ganha relevo o 'projeto' Quinto Impero, no qual a Igreja se manifestará em perfeita conformidade com o desígnio e o potencial que a constituem.

História; Antônio Vieira; Estado; Quinto Império


The present paper intends to discuss the meaning of History and Time in Antônio Vieira Priest political thoughts. Owner of a singular ability, above all, the Jesuit devote himself to give superiority to the Portuguese Monarchy. Rejoining in theological, rhetoric and political aspects, there is a special mission that only the Portuguese State, the one and no other, can carry out. Therefore, in the prediction of the immortalized emperor of Portuguese language, wins distinction the Fifth Impire "project", in which the Church will manifest itself in perfect conformation with the design and potential that composes the Catholic Church.

History; Antônio Vieira; State; Fifth Empire


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  • 1
    GRAMSCI, Antônio. Concepção Dialética da História. Civilização Brasileira, p.115-116.
  • 2
    HANSEN, João Adolfo. "Vieira: Tempo, Alegoria e História", Brotéria. Lisboa, vol.145, 1997, p. 548.
  • 3
    Idem, p. 547.
  • 4
    PÉCORA, Alcir. Teatro do Sacramento: a unidade teológico-retórico-política dos sermões de Antônio Vieira, São Paulo, EDUSP, 1994, p.139.
  • 5
    Idem, pp.161-162.
  • 6
    Idem, p.171.
  • 7
    BORGES, Paulo Alexandre Esteves. A plenificação da História em Padre Antônio Vieira: estudo sobre a idéia de Quinto Império na Defesa Perante o Tribunal do Santo Ofício. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994, p. 251.
  • 8
    Esta crença tem origem nos escritos do abade italiano Joaquim di Fiori, que viveu entre osanos de 1145 e 1202. Ele elaborou um sistema escatológico que se fundiria com as "Sibilinas Cristãs". Para Di Fiori, as alegorias bíblicas serviriam como um método de compreender e prever o desenrolar da história, ultrapassando assim seus fins morais e religiosos. O milenarismo de sua obra reside no fato de Joaquim di Fiori ter formulado uma teoria acerca das três idades da humanidade: a primeira, antes da lei ou tempo do pai; a segunda, sob a lei ou tempo do filho e, por fim, a última redentora, sob a graça ou tempo do espírito. Desse modo, por exemplo, é que Jean DELEMEAU no seu A História do Medo no Ocidente: 1300-1800, uma cidade sitiada, São Paulo, Companhia das Letras, 1993, afirma o joaquimismo como possuidor de três elementos que possibilitaram sua utilização pelos milenaristas mais radicais: 1) o refortalecimento dos temas apocalípticos, 2) a idéia de que a Igreja dos clérigos seria substituída pela dos contemplativos e 3) a de que os menos favorecidos reinariam no mundo. Notase, ainda, que foram os franciscanos os responsáveis pela difusão do joaquimismo na Idade Média, sendo que muitos esperavam a ressurreição de São Francisco como o prelúdio de uma nova era. É a partir deste momento que se pode identificar os traços messiânicos junto aos ideais milenaristas.
  • 9
    O messianismo judaico parte de profecias que encaram a concepção de história formulada apartir dos judeus, os quais se consideravam como o povo 'eleito' e 'escolhido' por Deus. O mais antigo apocalipse conhecido seria o Sonho de Daniel, no qual, pela primeira vez, se imaginara um reino glorioso que não se limitaria à Palestina, mas que englobaria toda a Terra, ultrapassando a glória de todos os reinos anteriores. Para acompanhar a discussão sobre este assunto, ver: COHN, Norman. Na senda do milênio: Milenaristas, Revolucionários, Anarquistas e Místicos da Idade Média, Lisboa, Presença, 1970. A elaboração das teorias acerca do Quinto Império seria o início do messianismo judaico. Ao contrário do desejo da Igreja Romana, que queria o reino nos céus, a crença dos judeus apontava para um império terrestre. No século XV tem-se uma drástica mudança de atitude da população judaica em relação ao messianismo, pois, ao contrário do que ocorria com o judaísmo antigo e devido às perseguições sofridas na Península Ibérica, passa-se a acreditar na possibilidade de interferência do homem no processo divino, abreviando-se assim a vinda do redentor. Sobre as relações entre judaísmo e Vieira vale conferir o estudo de SARAIVA, Antônio José. "Antônio Vieira, Menasseh Ben Israel e o Quinto Império"; bem como, o seu O Discurso engenhoso . São Paulo, Perspectiva, 1980.
  • 10
    Para o chamado messianismo português, ver, especialmente, A evolução do Sebastianismo, Lisboa, Ed. Livraria Clássica, 1947, de João Lúcio de Azevedo.
  • 11
    O evento conta que em 25 de julho de 1139, um ano antes de D. Afonso Henriques de Borgonha começar a usar o título de Rei, cristãos portugueses conseguiram vencer a batalha contra o mais numeroso exército mouro. Este evento ganha contornos milagrosos a partir do século XV, como traço fundador da nacionalidade, buscando ilustrar as conquistas quase inexplicáveis empreendidas por um país tão pequeno e um povo tão reduzido. Por meio deste 'mito' se poderia indicar o destino de glória reservado a Portugal, confirmando a 'vontade de Deus' em fazer de Portugal um país livre e dedicado a levar a fé por todo o mundo. Vale lembrar que sobre o 'milagre de Ourique', o primeiro texto escrito foi de Duarte Galvão. Publicado em 1505 com o título de Crônica d´El-Rei D. Afonso Henriques.
  • 12
    Sobre o próprio Bandarra, algumas palavras. Gonçalo Eanes Bandarra nasceu em Trancoso,pequena cidade comercial da região das Beiras, no início do século XVI. Sua biografia é pouco conhecida, destacando-se sua profissão: sapateiro, o fato de ser humilde e sua prodigiosa memória. Leitor das Escrituras Sagradas, logo ganhou fama em sua cidade, sendo considerado como uma espécie de 'Rabi' local, interpretando a Bíblia e suas profecias para os cristãos novos da região. O apelo profético e messiânico marca suas trovas. Conforme Jacqueline HERMANN, a discussão acerca das Trovas seria a identificação do D. João, citado por ele, a quem o Padre Antônio Vieira interpretará como sendo D. João IV. Ainda, segundo esta autora, o que garantiu a sobrevivência das 'Trovas de Bandarra' foi justamente o mistério e a impossibilidade de se identificar com certeza qual seria o rei predestinado apontado pelo seu autor. No Reino do Desejado, A construção do sebastianismo em Portugal - séculos XVI e XVII.
  • 13
    No ano de 1572, D. Sebastião tinha 18 anos. Este também foi o ano em que Camõesdedicara Os lusíadasao monarca. Como se sabe, o épico logo se tornou o símbolo da alma portuguesa daquele período conturbado. Tristeza, ressentimento e inconformismo, este o quadro em Portugal nos fins do século XVI. A 'missão' conferida em Ourique precisava urgentemente ser retomada. Parece que foi exatamente isso que D. Sebastião tomou para si: o dever de retomar a expansão ultramarina, bem como a de resgatar as possessões em terras africanas. Como se sabe, dessas jornadas, ele não voltou.
  • 14
    MUHANA, Adma. Os autos do processo de Vieira na Inquisição. São Paulo, Fundação para o Desenvolvimento da UNESP: Fundação Cultural, 1995, p.63.
  • 15
    VIEIRA, Antônio. História do Futuro, Introdução e atualização de texto e notas por M. Leonor C. Buescu, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1982, p.83.
  • 16
    Idem, p.24.
  • 17
    PALACIN, Luís Gómez. Vieira: entre o reino imperfeito e o reino consumado. São Paulo, Loyola, 1998, p.79.
  • 18
    BORGES, Paulo Alexandre Esteves. A plenificação da História em Padre Antônio Vieira: estudo sobre a idéia de Quinto Império na Defesa Perante o Tribunal do Santo Ofício. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994, p. 59.
  • 19
    HANSEN, João Adolfo. "Vieira. Forma & Função", Revista da Biblioteca Mário de Andrade. São Paulo, v.55, 1997, p.186.
  • 20
    BORGES, Paulo Antônio Esteves. A Plenificação da História em Padre Antônio Vieira: estudo sobre a idéia de Quinto Império na Defesa Perante o Tribunal do Santo Ofício. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994, p.249.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2005

Histórico

  • Recebido
    Ago 2004
  • Aceito
    Jan 2005
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