SABERES E MODOS DE AGIR DE HOMENS RIBEIRINHOS SOBRE O USO DE PRESERVATIVO

estudo qualitativo ancorado na Teoria das Representações Sociais, realizado com 21 homens ribeirinhos da comunidade São Carlos do Jamari, em Porto Velho, Rondônia, Brasil. A coleta de dados ocorreu entre janeiro e julho de 2019, por meio de entrevista com questionário semiestruturado. Para o processamento dos dados utilizou-se os softwares Statistical Package for the Social Sciences, obtendo-se a caracterização dos participantes por meio da estatística descritiva e o IRAMUTEq®, para análise lexical dos discursos, pela classificação hierárquica descente, obtendo-se cinco classes temáticas, dentre as quais, aprofundou-se neste estudo a classe cinco.

Resultados

as representações sociais foram produzidas por participantes adultos, com ensino médio completo, renda familiar per capita de até um salário-mínimo, sexualmente ativos com uso irregular do preservativo. Identificou-se que os participantes elaboram uma dimensão cognitiva, que revela seus saberes sobre o preservativo como forma de prevenção, contudo, elementos como interferência no prazer, relacionamento estável e uma dimensão avaliativa negativa resultam no uso irregular do dispositivo e num comportamento de risco, em suas práticas sexuais.

Conclusão

as representações sociais se ancoram no conhecimento reificado, no discurso da funcionalidade preventiva do preservativo e em estereótipos de masculinidade. Com isso, os homens ribeirinhos possuem um conhecimento que não se manifesta em seus comportamentos. Portanto, esse grupo social carece de ações de promoção da saúde que possibilitem mudanças em seus comportamentos e práticas de cuidados.

DESCRITORES:
Grupos populacionais; Saúde do homem; Saúde sexual; Saúde reprodutiva; Psicologia social

Caracterização socioeconômica	Caracterização da vida relacional	Caracterização da vida reprodutiva
81% entre 25 a 49 anos 85,7% pardos 82,4% católicos praticantes 42,9% ensino médio completo 47,6% autônomos 52,4% renda pessoal > 2 salários-mínimos* 85,71% renda familiar per capita de até 1 salário-mínimo 100% televisão como fonte de informação 90,5% acessam o serviço de saúde da comunidade, com frequência anual 57,9%	100% heterossexual 71,4% possuem companheira 42,9% casados 53,3% relacionamento atual há mais de 15 anos	71,4% espermarca entre 13 a 15 anos 57,1% sexarca entre 13 a 15 anos 100% vida sexual ativa 52,4% coito 2 a 4 vezes/ semana 71,4% não referem IST 43,8% usam preservativo masculino como único método contraceptivo 69,2% gestação não planejada 61,9% uso irregular do preservativo masculino 42,9% acessam informação sobre SSSR em palestras

Classe 5 - Saberes, atitudes, comportamentos e práticas quanto ao uso do preservativo nas relações sexuais Variável associada a formação da classe: faixa etária 15 a 19 anos - adolescentes (p=<0,0001) Participantes com maior contribuição na formação do seu conteúdo discursivo: PH_15 (p=0.00125), PH_16 (p=0.00433) PH_05 (p=0.00860), PH_02 (p=0.02130) e PH_03 (p=0.04643).
Conteúdo/elemento representacional	Léxicos	p valor
Dimensão cognitiva	preservativo	< 0,0001
	usar	< 0,0001
	doença	< 0,0001
	evitar	< 0,0001
	palestra	< 0,0001
	método	< 0,0001
	informação	< 0,0001
	relação sexual	< 0,0001
	prevenção	< 0,0001
	prevenir	< 0,0001
	escola	< 0,0001
	uso	< 0,0001
	orientar	< 0,0001
	aids	< 0,0001
	seguro	< 0,0001
	gonorreia	< 0,0001
	equipe	< 0,0001
	doenças sexualmente transmissíveis*	< 0,0001
O preservativo é a prevenção, porque hoje em dia não podemos ter muitos filhos e o preservativo também serve para evitar doenças e filhos não planejados. O método mais seguro para não pegar doença é o preservativo (PH_8). Eu tinha 16 anos quando peguei gonorreia. Eu era novo, a gente já era bem entendido, já ouvia falar, o pessoal comentava perto da gente. Eu estava numa festa bebendo, o álcool contribuiu para eu não lembrar do preservativo (PH_7). Se eu só tenho relação sexual com minha esposa eu não vou precisar usar o preservativo e minha esposa não vai precisar usar pílula, é assim, do nosso jeito (PH_11). Tem palestras na escola sobre prevenção de vez em quando. Eu participo das palestras que aparece. Lá na escola tem uma professora que fala direto, tem vez que pega a tarde livre e a professora fala logo tudo, relação sexual, higiene (PH_15). De vez em quando, tem a equipe daqui do posto de saúde que faz palestra na escola sobre métodos de prevenção, quando não é a equipe, são os agentes de saúde (PH_14). Eu fui buscando eu mesmo as informações. Não pesquiso só o básico, eu pesquiso mais à frente para mim poder ter ideia. Acesso vários sites que têm essas informações sobre sexo, a menstruação da mulher, sobre o homem em relação a ejaculação (PH_2). Meu pai não teve essa conversa comigo, talvez por não ter conhecimento, nem minha mãe também. E a nossa informação era pouca em São Carlos, o progresso chegou há pouco tempo aqui, a internet (PH_6).
Dimensão avaliativa negativa	atrapalhar	< 0,0001
	interferir	< 0,0001
	preferir	< 0,00015
	prazer	< 0.00329
Atrapalha na relação sexual, ter que colocar o preservativo diminui o prazer, ter que usar o preservativo já cria outro clima (PH_9). Na verdade, eu acho que nenhum homem gosta de usar preservativo porque diminui o prazer, não sei explicar, é diferente, não é igual a relação sexual sem o preservativo (PH_5). Eu só usava o preservativo mesmo porque era preciso, mas nunca gostei porque interfere na hora da relação sexual. (PH_7). Eu compro o meu preservativo, prefiro comprar porque pegar no posto de saúde me dá vergonha e eu acho o preservativo comprado melhor, é mais seguro (PH_15). Eu compro o preservativo, prefiro comprar esses outros que dão eles são grossos. O do posto de saúde não dá muito prazer, pelo menos para mim. Os outros preservativos que eu compro são mais finos, a gente sente mais a mulher (PH_13).

Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós Graduação em Enfermagem Campus Universitário Trindade, 88040-970 Florianópolis - Santa Catarina - Brasil, Tel.: (55 48) 3721-4915 / (55 48) 3721-9043 - Florianópolis - SC - Brazil
E-mail: textoecontexto@contato.ufsc.br

Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS

[1] AUTOR CORRESPONDENTE
Elen Petean Parmejiani elenpetean@unir.br