NECESSIDADES DE SAÚDE MENTAL DE ADOLESCENTES E OS CUIDADOS DE ENFERMAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA

RESUMO

Objetivo:

sistematizar o conhecimento produzido acerca da atuação da enfermagem diante das necessidades de saúde mental dos adolescentes.

Método:

revisão integrativa da literatura, apresentando a problemática: quais as necessidades de saúde mental dos adolescentes e os cuidados de enfermagem realizados? Coleta de dados realizada nas bases de dados PubMed; CINAHL; SciELO; ScienceDirect; LILACS, no mês de abril de 2018. Incluíram-se 30 artigos disponíveis em português, inglês ou espanhol, com acesso na íntegra e gratuitos. Os achados foram agrupados em categorias temáticas com revisão/síntese do conhecimento.

Resultados:

a amostra foi composta por artigos predominantemente em inglês e publicados entre o período de 1999 e 2018. As principais necessidades de saúde mental dos adolescentes estão relacionadas à depressão, ansiedade, estresse, uso e dependência de drogas, distúrbios alimentares, dentre outras. Os cuidados de enfermagem são ações de educação em saúde, grupos, terapia cognitivo-comportamental, relacionamento interpessoal, além de atividades que envolvem o adolescente com sua a família, seus pares e o ambiente escolar. Evidenciou-se que o enfermeiro atua com diversas abordagens e intervém através do processo de enfermagem e práticas de atividades físicas, dentre outras ferramentas que lhe são acessíveis.

Conclusão:

esta revisão permite ao profissional a formulação de novas ações que se baseiem nas reais necessidades de saúde mental do adolescente, que, por não frequentar tanto os serviços de saúde, acaba sendo negligenciado. Elenca-se a necessidade de estudos com maior nível de evidência científica.

DESCRITORES:
Adolescente; Enfermagem; Cuidado de enfermagem; Saúde mental

ABSTRACT

Objective:

to systematize the knowledge produced about nursing performance in the face of adolescents' mental health needs.

Method:

integrative literature review, submitting the problem: what are the mental health needs of adolescents and the nursing care provided? Data collection was performed in the PubMed databases; CINAHL; SciELO; ScienceDirect; LILACS, in the month of April 2018. Were included 30 articles available in Portuguese, English or Spanish with full access and free of charge. The findings were grouped into thematic categories with review/synthesis of knowledge.

Results:

the sample consisted of articles predominantly in English and published between 1999 and 2018. The main mental health needs of adolescents are related to depression, anxiety, stress, drug use and dependence, eating disorders, among others. Nursing cares include health education, groups, cognitive behavioral therapy, interpersonal relationships, and activities that involve adolescents, their families, peers and the school environment. It was evidenced that nurses work with different approaches and intervene through the nursing process and physical activity practices, among other tools that are accessible to them.

Conclusion:

this review allows professionals to formulate new actions that are based on the adolescent's real mental health needs, which are neglected, because they do not attend so much the health services. The need for studies with higher level of scientific evidence is mentioned.

DESCRIPTORS:
Adolescent; Nursing; Nursing care; Mental health

RESUMEN

Objetivo:

sistematizar el conocimiento sobre la acción de la enfermería ante las necesidades de salud mental de los adolescentes.

Método:

revisión integradora de la literatura y presentación de la problemática: ¿Cuáles son las necesidades de salud mental de los adolescentes y qué cuidados de enfermería se practican? La recolección de datos se realizó en las bases de datos electrónicos: PubMed; CINAHL; SciELO; ScienceDirect; LILACS, durante el mes de abril de 2018. Se incluyeron 30 artículos disponibles en portugués, inglés o español de acceso libre y gratuito. Fueron excluidos los artículos cuyo estudio no tenía un público destinatario y los trabajos de investigación que no eran originales y se procedió a la selección de 30 artículos. Los resultados se agruparon en categorías temáticas con revisión/síntesis del conocimiento.

Resultados:

la muestra consta de artículos con preponderancia del idioma inglés, publicados entre el período de 1999 y 2018. Las principales necesidades de salud mental de los adolescentes se relacionan con la depresión, la ansiedad, el estrés el uso y la adicción a las drogas, los disturbios alimenticios entre otros factores. Los cuidados de enfermería constatados fueron: acciones de educación en materia de salud, terapia cognitiva conductual, fomento de grupos, relaciones interpersonales y de actividades que impliquen al adolescente con su familia, sus pares y su entorno escolar. Se evidenció que el enfermero actúa mediante diversos abordajes e interviene a través del proceso de enfermería y de práctica de actividades físicas, entre otras herramientas que le son accesibles.

Conclusión:

esta revisión permite que el profesional se plantee nuevas acciones basadas en las efectivas necesidades de salud mental del adolescente, quién, al no concurrir con asiduidad a los servicios de salud, termina ignorado por los mismos. Se advierte la necesidad de realizar estudios de mayor rigor científico.

DESCRIPTORES:
Adolescente; Enfermería; Cuidados de enfermería; Salud mental

INTRODUÇÃO

Sabe-se que o sofrimento psíquico vivido na adolescência tende a repercutir negativamente na fase adulta. Nesse sentido, são comuns sintomas de depressão, ansiedade, transtornos alimentares, sentimentos negativos de si mesmo e comportamentos agressivos nesse estágio da vida e podendo muitas vezes culminarem em tentativas de suicídio.1^-2

Desse modo, conhecer os fatores de risco que permeiam o sofrimento psíquico nesses sujeitos pode apontar para os cuidados em enfermagem. Como fatores de risco para problemas de saúde mental na população adolescente pode-se destacar a violência (inclusive o bullying), pobreza, humilhação, sentimento de desvalorização, ambiente familiar, morar em lares para adoção, condições sociodemográficas, entre outros.3^-5

Ademais, a demanda de atendimento dos adolescentes no âmbito dos serviços de saúde mental é principalmente devido ao comportamento alterado no meio social em que estão inseridos, por exemplo, com condutas como agitação, delitos, furtos, entre outros. Em sua maioria, esses adolescentes são encaminhados pela escola ao Conselho Tutelar e Unidade Básica de Saúde,6 que nem sempre conta com uma equipe preparada para atuar diante das reais necessidades de saúde daqueles.

Para a manutenção da saúde mental do adolescente é necessário conhecer seus determinantes de saúde, seus fatores de risco e de proteção, e considerar suas vulnerabilidades, reconhecendo e intervindo nos problemas de saúde que se iniciam nessa fase, principalmente em problemas como o abuso de drogas, sedentarismo, obesidade, sexualidade e os transtornos de saúde mental.7

Além disso, uma melhor compreensão das ações de enfermagem que estão sendo desenvolvidas facilitará a implementação de cuidados específicos para lidar com essa população; bem como, o reconhecimento de problemas de saúde evitáveis e negligenciados. Sendo importante prestar um cuidado integral ao adolescente para prevenir consequências que podem permanecer por toda a vida.7

A atuação do enfermeiro com vistas a prestar um cuidado ideal na atenção à saúde mental dos adolescentes deve atender às necessidades e aos problemas de saúde apresentados por esses, direcionando o cuidado para o que pode estar se refletindo de forma negativa em suas vidas. Por isso, é necessária uma equipe multiprofissional que atenda e compreenda que esses problemas de saúde são relevantes e podem influenciar no estado de saúde geral do indivíduo.

Este estudo é relevante, pois nos ambientes de cuidado de enfermagem precisa-se de orientação com base em evidências científicas acerca da saúde mental do adolescente, a fim de repensar novas tecnologias e multiplicar as intervenções que são eficazes, evitando desfechos negativos e cronificação de sinais e sintomas.

Diante do exposto, objetivou-se sistematizar o conhecimento produzido acerca da atuação da enfermagem diante das necessidades de saúde mental dos adolescentes.

MÉTODO

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura (RIL) que buscou determinar o conhecimento atual sobre a temática em estudo, de modo a identificar, analisar e sintetizar resultados. Trilhou-se as seguintes etapas: identificação do tema e da questão norteadora; estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos; extração dos dados dos estudos primários; avaliação dos estudos a serem incluídos na revisão; interpretação dos resultados; e apresentação da revisão/síntese do conhecimento.8

Na primeira etapa identificou-se o tema e a questão da pesquisa: a formulação da pergunta foi realizada a partir da estratégia PICO, que abrange quatro componentes: Population/Patient /Problem (população/paciente/problema: adolescentes em sofrimento psíquico); Intervention (intervenção: cuidados de enfermagem); Comparison (comparação: com cuidados de enfermagem em saúde mental que levam em consideração ou não as necessidades de saúde dos adolescentes); Outcome (resultado: cuidados que visam atender as necessidades de saúde mental dos adolescentes). Ficando assim definida: quais os principais cuidados de enfermagem relacionados às necessidades de saúde identificadas em adolescentes com sofrimento psíquico?9

Na segunda etapa houve o estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos, bem como o início da seleção da amostra do trabalho. A busca foi feita nas bases de dados Public Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (PubMed); Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL); Scientific Electronic Library Online (SciELO); ScienceDirect; e Latin American and Caribbean Health Sciences Literature (LILACS), e se deu no mês de abril de 2018, por meio do portal Capes e da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).

Os descritores controlados foram selecionados nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e do Medical Subjetc Headings (MeSH), utilizando-se: enfermagem (nursing), saúde mental (mental health) e adolescente (adolescent). Esses descritores foram associados pelo conectivo AND, e o entrecruzamento nursing AND mental health AND adolescent foi utilizado como chave de busca nos campos assunto, título e resumo.

Demarcou-se que os artigos incluídos seriam oriundos de estudos primários, disponíveis em português, inglês ou espanhol, disponíveis na íntegra e gratuitamente, e que respondiam à questão norteadora deste estudo. Após cada pesquisa nas bases de dados escolhidas, as produções científicas que se enquadravam nos critérios desta revisão eram listadas pelos títulos na ferramenta Microsoft Word 2007. Na primeira seleção, ao cruzar os descritores foram encontrados 16.664 artigos, dentre eles somente 4.031 estavam em sua versão completa e 3.776 estavam nas línguas inglesa, portuguesa e espanhola. Foram excluídos artigos que não tinham a população-alvo deste estudo (enfermeiros que atuam com adolescentes) e outros tipos de pesquisa que não eram originais como editorias, revisões, dentre outros, totalizando 2.976 artigos.

Após a leitura flutuante dos artigos e enquadrando-os na temática central do estudo, foram selecionados 838 artigos, cujos resumos respondiam à questão norteadora, sendo excluídos os títulos que se encontraram repetidos ou duplicados na mesma base ou em mais de uma base de dados.

Depois da segunda seleção, 74 artigos foram incluídos a partir da estratégia PICO e posteriormente lidos na íntegra. Nessa etapa foram excluídos os artigos que não descreviam nos seus resultados as necessidades de saúde do adolescente e as intervenções de enfermagem, compondo ao cabo um total de 30 artigos para análise. O processo de seleção dos artigos está descrito no fluxograma (Figura 1).

Figura 1 -
Fluxograma Prisma adaptado.10 Fortaleza, CE, Brasil, 2018

Na terceira fase houve a extração dos dados dos estudos primários. Como suporte científico para extração dos dados relevantes dos artigos que compõem o corpus da revisão (n=30), foi utilizado um instrumento anteriormente elaborado e submetido à validação de aparência e de conteúdo. Esse instrumento apresenta como variáveis: dados de identificação do artigo; tipo de revista científica; características metodológicas do estudo; e avaliação do rigor metodológico.11

Assim, as informações extraídas dos artigos foram: título do artigo, título do periódico, autores, idioma, base de dados que disponibilizou o artigo, ano de publicação, características metodológicas do estudo, objetivo ou questão de investigação, características da amostra, resultados, análise e nível de significância. Realizado o preenchimento do formulário de coleta de dados, os resultados foram apresentados em quadros e gráficos para facilitar a visualização.

Na quarta fase, referente à maneira como selecionar o material a ser analisado, procura-se explicações para os resultados diferentes ou conflitantes nos estudos, a partir de algumas questões. Para tanto, foi realizada uma análise dos dados obtidos nos resultados, de forma a apreciar o que foi divulgado nos artigos e descrever as informações evidenciadas nos estudos, confrontando-as. Foram utilizadas algumas questões na avaliação crítica dos estudos, como: qual a questão do estudo? A questão do estudo foi respondida? O estudo atingiu seus objetivos?

Na quinta fase houve a avaliação dos estudos incluídos na revisão e interpretação dos resultados. Os estudos selecionados foram analisados detalhadamente.6 Iniciou-se a leitura e interpretação dos mesmos a fim de analisar os resultados dos estudos selecionados e discutir suas principais contribuições. De cada estudo foram compilados o título, objetivos e resultados alcançados, e posteriormente os dados foram distribuídos em categorias de acordo com a convergência de ideias. Dessa maneira, após a busca da literatura, a seleção dos artigos e a organização dos dados em categorias, a discussão dos resultados pôde acontecer para que fosse possível proceder a revisão integrativa.

Após a definição das principais características das publicações, foram descritas as necessidades de saúde mental dos adolescentes e quais cuidados de enfermagem foram aplicados nos estudos, delineando a contribuição de cada um para esta pesquisa.

Na sexta e última fase houve apresentação da revisão/síntese do conhecimento. Os resultados e a discussão dos dados obtidos foram apresentados de modo descritivo e divididos em tópicos, com o intuito de possibilitar a avaliação da aplicabilidade da revisão elaborada, de forma a alcançar o objetivo desse método e, com isso, levar a uma reflexão e crítica sobre as necessidades de saúde mental dos adolescentes e os cuidados de enfermagem realizados.

RESULTADOS

O resultado da busca gerou uma amostra final de 30 artigos. O idioma predominaram foi o inglês, com 76,6% (n=23), e com data de publicação entre 1999 e 2018, prevalecendo artigos de 2011 a 2018, que corresponderam a 86,7% (n=26) do total. Quanto às bases de origem, foram indexados artigos do PubMed 60% (n=18), LILACS 20% (n=6), CINAHL 14% (n=4), SciELO 3% (n=1) e ScienceDirect 3% (n=1). Quanto ao delineamento metodológico, predominam os artigos qualitativos 74% (n=22), seguidos dos artigos quase-experimentais 14% (n=4), experimentais 6% (n=2) e os de ensaio clínico randomizado 6% (n=2).

A sistematização dos resultados encontra-se nos quadros 1 e 2.

Desses resultados, surgiram nove categorias temáticas: Diagnósticos de enfermagem em saúde mental (dois artigos); Encaminhamentos a outros serviços, profissionais e bem-estar física prestação de cuidados na saúde física (três artigos), Habilidades e competências dos adolescente (três artigos); Relações interpessoais (nove artigos); Grupo como estratégia de intervenção (seis artigos); Educação em saúde (cinco artigos); Terapia cognitivo-comportamental (um artigo); Redução de danos (um artigo) e, Entrevista motivacional (um artigo). Alguns artigos se repetiram em mais de uma categoria. As necessidades de saúde mental do adolescente são apresentadas no Quadro 1.

Quadro 1 -
Necessidades de saúde mental dos adolescentes nos artigos selecionados. Fortaleza, CE, Brasil, 2018

Categoria	Autores e ano	Necessidades de saúde mental do adolescente
Diagnósticos de enfermagem em saúde mental	Monteiro ARM, et al. 2015.12 Bertram JE, et al. 2013.5	Principais diagnósticos: autonegligência; comunicação verbal prejudicada; medo; nutrição desequilibrada: mais do que as necessidades; estilo de vida sedentário; e ansiedade.5,12
Habilidades e competências dos adolescentes	Garmy P, et al. 2014.13 Gampetro P, et al. 2012.14 Grealish A, et al. 2017.15	Ao perceber que alguns tipos de intervenções podem ser benéficos para a saúde dos jovens, os profissionais precisam reconhecer as habilidades e competências dos adolescentes para acrescentar e melhorar suas perspectivas de saúde. Entre os artigos, foi descrito que é preciso encontrar um equilíbrio entre seguir as regras dos manuais dos sistemas de saúde e reunir as reais necessidades desses jovens. O ambiente escolar é reconhecido como valioso, mas é preciso o apoio administrativo da escola para efetuar e replicar as ações. A educação, as metas vocacionais, a manutenção da saúde, a independência financeira e as relações pessoais e familiares dos adolescentes são preocupações que devem ser trabalhadas. Recursos também devem ser direcionados à capacidade de manutenção da saúde e às habilidades de enfretamento, além de técnicas de adaptação aos complexos desafios da vida que enfrentam.13-15
Relações interpessoais	van Harmelen A, et al. 2016.4 Johansson A, et al. 16 Valença CN, et al. 2013.17 Garmy P, et al. 2015.18 Beukers L, et al. 2015.19 Kendal S, et al. 2017.20 Hooven C, et al. 2011.21 Oruche UM, et al. 2017.22 Zugai JS, et al. 2018.23	O diálogo aparece de modo recorrente entre os estudos como intervenção efetiva, sendo imprescindível incluir pré-requisitos, tais como quais questões devem ser discutidas e onde esses diálogos devem ocorrer. Dentro dessas discussões os adolescentes acreditam que é importante incluir dimensões como: confiança, atenção, respeito, autenticidade, acessibilidade e continuidade do processo. Sendo assim, é imprescindível que o enfermeiro proponha estratégias de desenvolvimento da relação interpessoal como meio para criar uma aliança terapêutica.4,16-23

No Quadro 2 estão apresentados os principais cuidados de enfermagem ligados às necessidades dos adolescentes.

Quadro 2 -
Cuidados de enfermagem realizados nos artigos selecionados. Fortaleza, CE, Brasil, 2018

Categoria	Autores e ano	Cuidados de enfermagem em saúde mental aos adolescentes
Encaminhamentos a outros serviços, profissionais e à prestação de cuidados na saúde física	Kennedy CW, et al. 1999.24 Ho FKW, et al. 2017.25 Melnyk BM, et al. 2013.26	As barreiras encontradas no sistema de saúde, como gestão e financiamento, muitas vezes impedem melhorias na formação dos enfermeiros para atuar diante da saúde mental dos adolescentes, o que gera um cuidado voltado primeiramente para o físico e, quando há identificação da necessidade de atenção à saúde mental, o encaminhamento para outros profissionais e/ou serviços. Mesmo com as dificuldades e críticas em relação à atuação do enfermeiro com enfoque na saúde física, sabe-se da importância de perceber as melhorias na saúde dos jovens como um todo quando são implementadas ações que abordem a saúde física. As intervenções físicas melhoram o bem-estar mental dos jovens, autoeficácia, resiliência, aptidão física, força muscular dos membros inferiores, balanço dinâmico, níveis de atividade física e um menor Índice de Massa Corporal (IMC).24-26
Entrevista motivacional	Hamrin V, et al. 2017.27	Pode ser aplicada em diversos contextos e traz benefícios para a adesão à medicação psicotrópica ao utilizar a entrevista motivacional como intervenção breve na atuação do enfermeiro. Foi relatado alto grau de satisfação entre os participantes com a intervenção, constatando tratar-se de um método promissor de assistência.27
Redução de danos	Jenkins EK, et al. 2017.28	A estratégia foi abordada como método positivo de cuidado ao permitir que o adolescente gerencie seu próprio uso de substâncias, moldando o cuidado em relação aos seus contextos socioculturais e políticos, empregando uma variedade de estratégias de minimização de danos que se reflita em seus contextos.28
Terapia cognitiva comportamental	Garmy P, et al. 2015.29	Foi relatado o efeito de uma intervenção universal baseada na escola e na prevenção de sintomas depressivos em adolescente, com ênfase no sexo feminino, e foi constatado um resultado positivo na aplicação de tal intervenção.29
Grupo como estratégia de intervenção	Brandão Neto W, et al. 2014.30 Albuquerque MCS, et al. 2014.31 Oruche UM, et al. 2013.32 Kendal SE, et al. 2017.33 Garcia C, et al. 2010.34 Pinto-Foltz MD, et al. 2011.35	Funciona como espaço de esclarecimento e escuta, oportuniza alívio de tensões, ajudando no compartilhamento de inquietações, melhorando a convivência familiar, estimulando o cuidado de si, além de utilizar técnicas de manejo de convivência. A compreensão, apreensão e manejo do uso dessa tecnologia dependem de formação qualificada do enfermeiro, o que pode facilitar grupos operativos que trazem benefícios percebidos por todos, principalmente quando utilizam abordagem participativa, que gera confiança e resultados credíveis, refletindo-se nas perspectivas dos jovens.30-35
Educação em saúde	Beukers L, et al. 2015.19 Lopes GT, et al. 2014.36 Aguiar Jr VS, et al. 2015.37 Lopes GT, et al. 2012.38 Ayres CG, et al. 2010.39	As intervenções de saúde em jovens devem levar em consideração suas particularidades culturais, além das especificidades do período do ciclo de vida, pois a compreensão dos fatores relacionados às práticas de saúde em adolescentes e as possíveis intervenções promovidas não podem ignorar o contexto para a obtenção de relações positivamente significativas para práticas positivas de saúde, como apoio, otimismo, autoestima e aculturação.19,36-39

DISCUSSÃO

Ao identificar as necessidades de saúde mental dos indivíduos, é possível desenhar potenciais diagnósticos que subsidiem a elaboração da sistematização de enfermagem, observando-se os fatores de risco, sinais, sintomas, e possíveis causas que desencadeiam agravos. Para elaboração dos diagnósticos, é preciso considerar aspectos importantes das necessidades de saúde dos pacientes, sendo esses dados coletados a partir da anamnese e de exames físicos e mentais.40

Na categoria “Diagnósticos de enfermagem em saúde mental” os mais relatados na literatura foram autonegligência; comunicação verbal prejudicada; medo; nutrição desequilibrada: mais do que as necessidades; estilo de vida sedentário; e ansiedade, destacando-se alguns cuidados de enfermagem que podem contribuir para a implementação do processo de cuidado, como o autocuidado por parte do adolescente e o estabelecimento de comportamentos que precisam ser modificados para redução da ansiedade, peso, entre outros.12

Vale salientar que, para a aplicação do processo de cuidado, o enfermeiro precisa estabelecer uma relação com o indivíduo que deve ser percebida como a essência das ações de enfermagem, sendo as intervenções estabelecidas por meio de modelos estruturados e de caráter científico que incorporem as evidências clínicas na prática profissional, dando autonomia, empoderamento e aproximando o seu discurso ao do indivíduo.41

Destaca-se como espaço de execução desse processo a consulta de enfermagem em saúde mental, que proporciona sistematicamente o levantamento das necessidades de saúde, do histórico de saúde individual e familiar, além da possibilidade de execução do processo de enfermagem. Facilita a aproximação e a liberdade de diálogo, desenvolvendo o vínculo, potencializando a confiança estabelecida durante as interações e esboçando estratégias com a participação do próprio indivíduo. Esse relacionamento interpessoal criado durante a consulta de enfermagem é complexo e envolve características pessoais, sociais e culturais, além de consistir em observar, ouvir e perceber a comunicação verbal e não verbal de modo a compreender os acontecimentos que envolvem o cuidar.42

Na categoria “Habilidades e competências dos adolescentes” foi descrito na literatura que é preciso encontrar um equilíbrio entre seguir as regras e manuais dos sistemas de saúde e reunir as reais necessidades dos jovens atendidos, de acordo com seu contexto social, econômico e cultural. Sendo assim, é necessário trabalhar com ferramentas que ainda são insuficientes para auxiliar no desenvolvimento profissional e individual do jovem.13

O ambiente escolar é valorizado por ser próprio do adolescente, precisando ser valorizado também como um campo de intervenção em saúde. O aconselhamento individual é reconhecido como importante ferramenta de apoio para diálogos que promovam saúde mental e física. Capacitações que promovem o empoderamento mediam a relação entre fatores psicológicos como: enfretamento, controle, estilo de pensamento, autoeficácia psicossocial, saúde mental e bem-estar na recuperação de problemas gerais de vida.15

Na categoria “Relações interpessoais”, considerou-se o diálogo como espaço de necessidade do adolescente e, portanto, estratégico para o cuidado por parte do enfermeiro por ser uma importante forma de estabelecer comunicação e relacionamento terapêutico. Dentre os diálogos que ocorrem em um ambiente escolar, surgiram questões sobre o uso e a dependência de drogas, e durante as reflexões emergiram as perspectivas emancipatórias dos jovens na prevenção do uso de drogas como promoção da saúde, com uma abordagem ética que considere seu contexto e subjetividade. Na continuidade da perspectiva das relações dos enfermeiros com os jovens no âmbito escolar, surgem temas que são abordados na escola, como: estratégias intrapessoais, consciência interpessoal e restrições estruturais.16^-18

Assim, os cuidados envolvem trabalhar o pensamento dirigido, a melhoria da autoconfiança, o gerenciamento do estresse, atividades positivas, confiança nos grupos, consideração ao outro, entre outros. Monitorar e instruir; incentivar e motivar; apoiar e compreender; e educar para a vida com empatia são destacados como atividades importantes.4^-19

Além dessas técnicas, as intervenções on-line são inovadoras e promovem uma perspectiva de maior abrangência do público-alvo por meio de temas como: o adolescente assumindo o papel de mentor; o fórum de discussão on-line como um espaço seguro; amizade dentro do fórum on-line; ajuda flexível; e suporte de pares para a recuperação e prevenção de recaídas. Desse modo, o autocuidado em saúde mental surge como uma ferramenta consistente na atuação com os jovens, pois a decisão de participar de um fórum de discussão pode ser interpretada como um autocuidado proativo, além de gerar contribuições para jovens com transtornos alimentares.20

Na categoria “Encaminhamentos a outros serviços, profissionais e à prestação de cuidados na saúde física”, a articulação do enfermeiro com outros profissionais e com outros serviços da rede de saúde é positiva do ponto de vista da descentralização e ampliação da assistência. Contudo, quando o foco se restringe ao encaminhamento, pode se tornar uma preocupação, dependendo de como e por que o encaminhamento é realizado, pois pode gerar um desfecho positivo ou negativo para o problema. Um dos aspectos negativos do encaminhamento é o possível afastamento do usuário e a quebra dos vínculos, de modo que a integralidade seja enfraquecida e a assistência, fragmentada.43 No entanto, as ações de enfermagem também ocorrem em parceria com outros profissionais com o intuito de promover saúde.

O enfermeiro pode planejar ações, orientar e encaminhar o indivíduo para atividades que promovam bem-estar físico, agregando-as às ações de saúde mental. É possível perceber que a atividade física é uma estratégia que promove a saúde mental de adolescentes, tendo em vista que sua prática é um dos requisitos essenciais ao desenvolvimento, tornando-se por isso mesmo um fator protetivo. Além disso, as práticas regulares de exercícios físicos atuam como mecanismos compensatórios de estresse, angústia e ansiedade, podendo aliviar tensões e renovar energia, proporcionando prazer, relaxamento e bem-estar aos praticantes. Também é um facilitador de processos de socialização, comunicação, expressão e construção de conhecimento.44

A obesidade, por exemplo, associa-se com a ansiedade e a depressão, configurando-se como um fator de risco para o sofrimento psíquico. Por conseguinte, a ansiedade e a depressão estão ligadas inversamente aos indivíduos que praticam atividades físicas. Outros fatores também dizem respeito à prática de atividade física, como a diminuição de problemas relacionados à exclusão social e de comportamentos considerados inadequados.44

Na categoria “Entrevista motivacional”, verificou-se que esta pode ser aplicada em diversos contextos. No artigo pesquisado, houve benefícios na adesão ao tratamento com antidepressivos e estabilizantes de humor ao se utilizar a entrevista motivacional como intervenção breve com adolescentes. Foi relatado também alto grau de satisfação entre os participantes com a intervenção, constatando tratar-se de método promissor de assistência de enfermagem em saúde mental para a adesão a tratamentos.27

Na categoria “Redução de danos”, essa estratégia foi abordada como método positivo de cuidado ao permitir que o adolescente gerencie seu próprio uso de substâncias psicoativas, tendo relação com os contextos culturais, geográficos e sociais considerados “normais” para o uso de determinados tipos de substâncias psicoativas, como álcool e cannabis.28 Nota-se que há relevância em saber como o adolescente enxerga o consumo de álcool e de outras drogas, e o que considera comum dentro da sua família e do seu grupo de amigos para, então, traçar cuidados que sejam condizentes com a sua necessidade de saúde.

Na categoria “Terapia cognitiva comportamental”, apenas um estudo abordou claramente o emprego desse método para uma intervenção escolar ampla, haja vista que os sintomas depressivos são de múltiplos fatores, precisando, por isso, de cuidados voltados para diferentes aspectos da vida do adolescente e considerando que o trabalho de enfermagem nas escolas se dá frequentemente sob a forma tutelar ou influenciando comportamentos.29

Na categoria “Grupo como estratégia de intervenção”, essa modalidade pode ser vista como estratégia de cuidado, pois implica a participação ativa dos sujeitos, conscientizando-os do seu papel em relação ao sofrimento e como protagonistas das mudanças nos seus estilos de vida, em prevenção de recaídas e na reinserção social. A expressão terapêutica do grupo ocorre por meio das falas, questionamentos, depoimentos e de outras formas de expressão, em busca da subjetividade singularizada, dentro de seus contextos, sofrimentos, frustações, objetivos alcançados, perdas, sonhos, desejos e planos de vida.45

O grupo está relacionado a um processo educativo de natureza dialógica e se baseia no contexto de vida das pessoas, seus cotidianos, experiências, com vistas à libertação do indivíduo para que possa ser um sujeito social capaz de intervir em sua vida e no ambiente, conquistando, assim, sua autonomia.45

Na categoria “Educação em saúde”, destaca-se que o grupo também é uma das principais estratégias de educação em saúde, funcionando por isso como uma forma de cuidado em saúde mental. Oferece um cuidado integral, podendo incluir a família e auxiliando no desenvolvimento e cuidado do indivíduo. As estratégias educativas podem melhorar a compreensão do processo de saúde/doença mental, potencializar a autonomia e valorizar a cidadania, com participação ativa do jovem no cuidado.46

Dentre as principais ações de educação em saúde, duas atividades pedagógicas eficazes são executadas pelos enfermeiros: o teatro, devido à interação entre saber popular e científico para a aquisição de conceitos de saúde e devido ao fato de ser um recurso de lazer e um espaço de convivência; e a terapia comunitária, que é um espaço de construção de vínculos, inserção social, alívio e prevenção do sofrimento, possibilitando a resiliência. Essas atividades podem ser realizadas em espaços coletivos, permitindo trocas dialógicas e horizontais, sendo ambientes de empoderamento, bem-estar biopsicossocial e autonomia por meio de decisões de saúde.46

Dessa forma, ações de educação em saúde por meio de grupos ou de outras estratégias podem ocorrer mediante discussão e fornecimento de informações pertinentes em relação ao transtorno, tratamento e cuidados pessoais, possibilitando a expressão de sentimentos, aprofundamento de discussões referentes à saúde e a descoberta de meios para o enfrentamento de dificuldades e a convivência mais harmônica com sua condição de saúde.47

Aponta-se como limitações deste estudo a quantidade de bases de dados e o fato de não abranger dissertações e teses, o que limitou os resultados encontrados, além do rigor metodológico dos artigos incluídos, cuja maioria era de abordagem qualitativa-descritiva-exploratória. Assim, elenca-se a necessidade de estudos com maior nível de evidência científica.

CONCLUSÃO

O objetivo deste trabalho foi alcançado, pois conseguiu identificar as necessidades dos adolescentes e os cuidados de enfermagem descritos na literatura. Como principais necessidades de saúde mental dos adolescentes encontraram-se depressão, ansiedade, estresse, uso e dependência de drogas, distúrbios alimentares, higiene e conforto, sexualidade, habilidades e competências, violência e estigma sobre as questões de saúde mental. Como cuidados de enfermagem foram apontados a realização de atividades físicas, ações de educação em saúde, grupos terapêuticos, terapia cognitivo comportamental, redução de danos, entrevista motivacional, consultas individuais, relacionamento interpessoal, plano de cuidados sistematizado, além de atividades que envolvem o adolescente, a família, seus pares e o ambiente escolar.

O presente artigo contribuiu para a produção cientifica, visto que o levantamento da literatura pode possibilitar uma base para a formulação de novas ações que se fundamentem nas reais necessidades de saúde mental do adolescente, que, por não frequentar tanto os serviços de saúde, acaba sendo negligenciado.

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NOTAS

• ORIGEM DO ARTIGO

  Extraído da tese - Protocolo de consulta de enfermagem em saúde mental para o adolescente, apresentada ao Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde, da Universidade Estadual do Ceará, em 2018.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  13 Mar 2020
• Data do Fascículo
  2020

Histórico

• Recebido
  07 Dez 2018
• Aceito
  02 Set 2019