Acessibilidade / Reportar erro

A mercantilização anunciada da Pesquisa na Espanha dos anos 2000* * Este artigo foi possível devido à Bolsa Unión Europea-Next Generation/Ministerio de Universidades de España RD 289/2021 y UNI/551/2021), Universidad de Cádiz (UCA/R155REC/2021), concedida ao Professor Víctor Manuel Marí Sáez, e à bolsa de doutorado sanduíche concedida à professora Clara Martins do Nascimento, financiada pelo PRINT-CAPES- Programa Institucional de Internacionalização, Edital n. 41/2017. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/Capes como instituição de fomento. Também contou com o financiamento da Agencia Estatal de Investigación (AEI) de España: proyecto “Comunicación Solidaria Digital. Análisis de los imaginarios, los discursos y las prácticas comunicativas de las ONGD en el horizonte de la Agenda 2030” (PID2019-106632GB-IOO/AEI/10.13039/501100011033). Agradecemos também ao Programa UCA Internacional para a realização de teses em regime de cotutela.

The announced commodification of Research in Spain in the 2000s

Resumo:

Este artigo problematiza o processo de mercantilização universitária na Espanha, relacionando-o às tendências globais, mediante realização de pesquisa bibliográfica. Destaca o papel crucial desempenhado pela Agência Nacional de Avaliação da Qualidade e Acreditação (ANECA) e a imposição progressiva de fatores de impacto em periódicos científicos como expressão do fortalecimento do denominado capitalismo acadêmico e do trabalho digital nas universidades, no âmbito das reformas universitárias dos anos 2000.

Palavras-chave:
Mercantilização; Geopolítica; Capitalismo acadêmico; Pesquisa; Índice de impacto

Abstract:

This article problematizes the process of university commodification in Spain, relating it to global trends, through bibliographic research. It highlights the crucial role played by the National Agency for Quality Evaluation and Accreditation (ANECA) and the progressive imposition of impact factors in scientific journals as an expression of the strengthening of academic capitalism and digital work in universities, within the framework of the university reforms of the 2000s.

Keywords:
Commodification; Geopolitics; Academic capitalism; Research; Impact index

1. Introdução

Gabriel García MárquezGARCÍA MÁRQUEZ, G. Crónica de una muerte anunciada. Medellín: La Oveja Negra, 1981., escritor e jornalista colombiano, escreveu, em 1981, o romance Crônica de uma morte anunciada. Neste, reconstrói a maneira como Santiago Nasar é assassinado pelos irmãos Vicário, como vingança por ter tirado a virgindade da irmã deles. O romance assume a forma de gênero policial - desde o início sabemos o que acontece e o interesse se concentra em descobrir como os eventos aconteceram.

Algo semelhante ocorre com a pesquisa em Comunicação na Espanha, quando, no final do século XX e início do século XXI, levantaram-se vozes críticas que, em consonância com análises anteriores realizadas em outras partes do mundo (Aronowitz; Giroux, 2000ARONOWITZ, S.; GIROUX, H. The corporate university and the politics of education. The Educational Forum, v. 64, n. 4, p. 332-339, 2000.; Bousquet, 2008BOUSQUET, M. How the university works. How the University Works. Higher Education and the Low-Wage Nation. Nova York: University Press, 2008.), previram uma submissão da universidade e do conhecimento produzido à lógica da mercadoria sob o capitalismo acadêmico (Jessop, 2018JESSOP, B. On academic capitalism. Critical Policy Studies, v. 12, n. 1, p. 104-109, 2018.; Allmer, 2018ALLMER, T. Theorising and analysing academic labour. tripleC: Communication, Capitalism & Critique. Open Access Journal for a Global Sustainable Information Society, v. 16, n. 1, p. 49-77, 2018.).

Essas análises premonitórias eram avisos de fogo,1 1 Expressão referida a autores como Walter Benjamin (Mate; Mayorga, 2000). antecipavam consequências previsíveis: a mercantilização estava sendo anunciada. O que, naquele momento, não estava evidente eram quais seriam os mecanismos, os processos e os instrumentos específicos segundo os quais essa mercantilização na pesquisa espanhola, em geral, e na pesquisa em comunicação, em particular, seria implementada na prática.

A alusão ao gênero policial e ao romance de García Márquez é pertinente para investigar a maneira pela qual a universidade espanhola chegou à mercantilização anunciada. No caso espanhol, o processo ocorreu doravante a implementação de uma intensa cultura de avaliação (Martínez-Nicolás, 2020MARTÍNEZ-NICOLÁS, M. La investigación sobre comunicación en España (1985-2015). Contexto institucional, comunidad académica y producción científica. Revista Latina de Comunicación Social, n. 75, p. 383-414, 2020.; Wouters, 1999WOUTERS, P. The citation culture. Amesterdã: University of Amsterdam, 1999.), canalizada por um organismo público, a ANECA,2 2 Agência Nacional de Avaliação da Qualidade e Acreditação. que tomou como principal instrumento de avaliação a medição de artigos de impacto, publicados por investigadores espanhóis no índice JCR.3 3 Journal Citation Reports.

As consequências dessas medidas são inúmeras, entre elas, a hipertrofia da publicação de artigos em Comunicação. Neste ínterim, a qualidade anunciada é baixa ou de nenhum impacto para a comunidade científica internacional (Rodríguez-Gómez; Goyanes; Rosique, 2018RODRÍGUEZ-GÓMEZ, E.; GOYANES, M.; ROSIQUE, G. La investigación en comunicación en España. Temporalidad laboral, producción intensiva y competitividad. Communication & Society, v. 31, n. 4, p. 229-242, 2018.). Com isso, gerou-se um processo de implosão do campo comunicacional espanhol (Sáez; Ceballos-Castro, 2019SÁEZ, V. M; CEBALLOS-CASTRO, G. Opening the black box of citations: a qualitative analysis on the basis of the taxonomy of Erikson and Erlandson. Communication Theory, v. 29, issue 4, p. 463-481, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1093/ct/qty027. Acesso em: 12 fev. 2024.
https://doi.org/https://doi.org/10.1093/...
) devido à falta de consistência e rigor do modo como esse conhecimento é construído.

Propomos, neste texto, analisar o processo de implementação da cultura de avaliação, o como da mercantilização da universidade espanhola. Para isso, destacamos as características específicas do caso espanhol em comparação com a dinâmica promovida em outros contextos internacionais. Dessa forma, analisaremos algumas das ausências no processo de promoção da internacionalização e da produção científica de qualidade na Espanha: (1) a omissão de uma análise da produção científica, a partir das lógicas sistêmicas do centro-periferia (Wallerstein, 1974WALLERSTEIN, E. The modern world-system: capitalist agriculture and the origins of the European world-economy in the sixteenth century. New York: Academic Press, 1974.; 1991WALLERSTEIN, E. Geopolitics and geoculture: essays on the changing world-system. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.); (2) e a ausência de políticas de produção de conhecimento que se distanciem das imposições feitas pelos critérios mercantilistas e neoliberais.

Este trabalho, de natureza teórica, leva em conta os dados empíricos e as análises prévias realizadas por pesquisadores espanhóis em comunicação que, durante esse período, trabalharam em torno do objeto de estudo (Costa, 2017COSTA, C. In-depth study of the scientific productivity and visibility of Spanish communication researchers in scopus. Observatorio, v. 11, n. 3, 2017.; Martínez-Nicolás, 2020MARTÍNEZ-NICOLÁS, M. La investigación sobre comunicación en España (1985-2015). Contexto institucional, comunidad académica y producción científica. Revista Latina de Comunicación Social, n. 75, p. 383-414, 2020.; Seoane; Martínez-Nicolás; Vicente, 2020SEOANE, F.; MARTÍNEZ-NICOLÁS, M.; VICENTE, M. Fuga de talento en la investigación española sobre comunicación: percepción de los investigadores españoles en el extranjero. Profesional de la Información , v. 29, n. 4, 2020.; Piñeiro-Naval; Morais, 2019PIÑEIRO-NAVAL, V.; MORAIS, R. Study of the academic production on communication in Spain and Latin America. Comunicar, v. 27, n. 61, p. 113-123, 2019.; Rodríguez-Gómez; Goyanes; Rosique, 2018RODRÍGUEZ-GÓMEZ, E.; GOYANES, M.; ROSIQUE, G. La investigación en comunicación en España. Temporalidad laboral, producción intensiva y competitividad. Communication & Society, v. 31, n. 4, p. 229-242, 2018.; Soriano, 2008SORIANO, J. El efecto ANECA. In: CONGRESO INTERNACIONAL FUNDACIONAL DE LA AE-IC, 2008, Santiago de Compostela . Anais [...]. Santiago de Compostela, 2008. Disponível em: Disponível em: http://www.aeic.org/santiago2008/contents/pdf/comunicaciones/286.pdf . Acesso em: 20 dez. 2022.
http://www.aeic.org/santiago2008/content...
; Reig, 2015REIG, R. Pesquisa dependente, crítica estrutural do sistema JCR. Áreas. Jornal Internacional de Comunicação, n. 27, p. 1-33, 2015., entre outros). Reconstruímos, assim, o processo de mercantilização anunciada.

2. Uma determinada cultura de avaliação

No campo da construção e da avaliação do conhecimento, os termos nomotético e ideográfico, com fortes ressonâncias kantianas, são utilizados para se referir aos polos de uma tensão. A avaliação nomotética aponta para uma tendência à generalização, típica das ciências naturais que baseiam seus julgamentos em dados “objetivos”.4 4 Ou seja, que não levam em conta a história nem contextos e que, em suma, concebem seu modo científico como o único e digno de ser incorporado a outros campos do conhecimento. Pelo contrário, a avaliação ideográfica avalia as questões do contexto e os elementos particulares e específicos de um caso. Cada um desses dois polos leva a duas culturas radicalmente diferentes de avaliação.

Dentro da avaliação educacional, autores como Stake (1976STAKE, R. A theoretical statement of responsive evaluation. Studies in Educational Evaluation, n. 2, p. 19-22, 1976.) e Kemmis (1978KEMMIS, S. Nomothetic and idiographic approaches to the evaluation of learning. Journal of Curriculum Studies, v. 10, n. 1, p. 49-59, 1978.) refletem, criticamente, sobre os limites da aplicação do modelo nomotético à avaliação. Nessa linha, Herrán e Coro (2011GASCÓN, H.; CORO, A. G. M. Análisis crítico sobre algunos efectos de la cultura de la evaluación nomotética en la universidad. Organización de Estados Iberoamericanos (OEI), Revista Eletrônica, Open Jornal System. Revista Iberoamericana de Educación, 2011. Vol. 57, p. 217-231. Disponível em: Disponível em: https://doi.org/10.35362/rie570494 . Acesso em: 12 fev. 2024.
https://doi.org/10.35362/rie570494...
) consideram, para o caso espanhol, que a cultura da avaliação nomotética representa uma cultura de citação (Wouters, 1999WOUTERS, P. The citation culture. Amesterdã: University of Amsterdam, 1999.) ou uma cultura de impacto.

Martínez-Nicolás (2020MARTÍNEZ-NICOLÁS, M. La investigación sobre comunicación en España (1985-2015). Contexto institucional, comunidad académica y producción científica. Revista Latina de Comunicación Social, n. 75, p. 383-414, 2020.) estabelece uma série de etapas no desenvolvimento de uma cultura de avaliação na Espanha: implementação (1983-1989), reforço (2001) e generalização (2008). Além disso, segue uma evolução que visa não apenas intensificar os critérios e a aplicabilidade, mas, fundamentalmente, tornar o desempenho científico um fator determinante para o acesso, a consolidação e a promoção da carreira profissional dos investigadores.

Com este intuito, há a criação de organismos públicos, como a já referida ANECA, em 2002, e a implementação do programa ACADEMIA5 5 Para o qual todos os professores que pretendam trabalhar em universidades espanholas devem submeter-se e ser acreditados. e a CNEAI.6 6 Comissão Nacional de Avaliação de Atividades de Investigação. Uma organização ligada à ANECA, que avalia a produção científica de professores e investigadores espanhóis. Estes constituem um “Triângulo das Bermudas”, em que a investigação, a crítica e a qualidade correm o risco de naufragar em nome de um desejo frenético de publicar obras, que, na maioria dos casos, são de baixa ou nenhuma qualidade e impacto (Costa, 2017COSTA, C. In-depth study of the scientific productivity and visibility of Spanish communication researchers in scopus. Observatorio, v. 11, n. 3, 2017.).

O trabalho desses órgãos e os registros introduzidos por eles fazem a pesquisa e a produção científica espanholas adquirir uma série de características específicas. Soriano (2008SORIANO, J. El efecto ANECA. In: CONGRESO INTERNACIONAL FUNDACIONAL DE LA AE-IC, 2008, Santiago de Compostela . Anais [...]. Santiago de Compostela, 2008. Disponível em: Disponível em: http://www.aeic.org/santiago2008/contents/pdf/comunicaciones/286.pdf . Acesso em: 20 dez. 2022.
http://www.aeic.org/santiago2008/content...
) dá o nome de “efeito ANECA” para se referir às consequências desse processo - toma emprestado o nome da principal instituição espanhola que contribui para a instauração dessas dinâmicas perniciosas na pesquisa crítica. O “efeito ANECA” leva ao aprimoramento de um tipo de produção científica que satisfaz mais às exigências de reconhecimento dessas agências do que à impulsão de conhecimento útil para a sociedade.

Desde a criação desses órgãos, o número de faculdades de comunicação, o de teses de doutorado defendidas ou o de artigos publicados em revistas científicas internacionais aumentou na Espanha (Palma, 2019PALMA, M. Bolonia, 20 años después. El espacio europeo de educación superior en España: análisis de los debates parlamentarios. Madri: Ministerio de Educación y Formación Profesional, 2019.). Todavia, continuando com o leitmotiv do nosso artigo - destinado a prestar mais atenção ao como do que ao quê, à qualidade do que à quantidade -, há, também, uma longa lista de consequências negativas para a pesquisa em Comunicação espanhola. Rodríguez-Gómez, Goyanes e Rosique (2018RODRÍGUEZ-GÓMEZ, E.; GOYANES, M.; ROSIQUE, G. La investigación en comunicación en España. Temporalidad laboral, producción intensiva y competitividad. Communication & Society, v. 31, n. 4, p. 229-242, 2018.) conseguem radiografar a situação de forma precisa e, aqui, sintetizamos: um elevado número de autocitações (Fernández-Quijada; Masip; Bergillos, 2013FERNÁNDEZ-QUIJADA, D.; MASIP, P.; BERGILLOS, I. The price of internationality: duality in publication patterns of Spanish communication researchers. Revista Española de Documentación Científica, v. 36, n. 2, p. 1-19, 2013.), escassa transparência metodológica (Martínez-Nicolás; Saperas, 2011NICOLÁS, M.; SAPERAS, M. E. La piedra. Communication Research in Spain, 1998-2007. An analysis of articles published in Spanish communication journals. Revista Latina de Comunicación Social, n. 66, p. 101-129, 2011. Madri: HISIN - Historia de los Sistemas Informativos, Madrid/Espanha.), superabundância de obras imaturas (Piñuel; Lozano; García, 2011PIÑUEL, J. L.; LOZANO, C.; GARCÍA, A. Investigar la comunicación en España. Madri: AE-IC/Universidad Rey Juan Carlos I, 2011.), renúncia à análise crítica das empresas de mídias (Martínez-Nicolás, 2006MARTÍNEZ-NICOLÁS, M. Masa (en situación) crítica. La investigación sobre periodismo en España: comunidad científica e intereses de conocimiento. Análisi: Quaderns de Comunicació i Cultura, n. 33, p. 135-70, 2006.) e o valor e a utilidade da pesquisa para a sociedade (Quirós, 2016QUIRÓS, F. La universidad gerencial en Europa y los procedimientos de evaluación de la “calidad” de la docencia y de la investigación en España. Chasqui: Revista Latinoamericana de Comunicación, n. 133, p. 191-208, 2016.).7 7 Em alguns estudos bibliométricos, de natureza qualitativa, verifica-se que muitos dos trabalhos citados não incluíam evidências suficientes para demonstrar que haviam sido lidos e compreendidos como formulados pelo autor citado (Sáez; Ceballos-Castro, 2019).

Testemunhamos, para tanto, a subsunção da pesquisa crítica nas mãos da pesquisa administrativa.8 8 Adorno já sinalizou que sofreu pessoalmente em seu período de exílio nos Estados Unidos, expressando em seus debates e confrontos com Lazarsfeld (Mattelart; Mattelart, 1995, p. 53). De mãos dadas com um novo funcionalismo, a cultura da avaliação se impõe no atual sistema universitário espanhol, minando as possibilidades materiais para a promoção e a proliferação de pesquisas em comunicação e cultura críticas ao capitalismo.

2.1 Um instrumento de avaliação decisivo: a publicação em periódicos indexados no Journal Citation Reports

Dentre os instrumentos e os procedimentos previstos para a implementação da cultura da avaliação, um deles merece destaque: a utilização de artigos publicados em periódicos de impacto, especialmente aqueles que o fazem no Journal Citation Reports/JCR (Web of Science, Clarivate). Este elemento serve como critério de avaliação definitivo na medição da produção de investigadores espanhóis no “período ANECA” e, também, como critério decisivo na passagem dos investigadores de vínculos contratuais mais precários e temporários para vínculos mais estáveis.

No caso da Espanha, Martínez-Nicolás (2020MARTÍNEZ-NICOLÁS, M. La investigación sobre comunicación en España (1985-2015). Contexto institucional, comunidad académica y producción científica. Revista Latina de Comunicación Social, n. 75, p. 383-414, 2020., p. 398) chama esse período da ANECA de triunfo del paper. Assim, com base em pesquisas anteriores (Piñeiro; Morais, 2019PIÑEIRO-NAVAL, V.; MORAIS, R. Study of the academic production on communication in Spain and Latin America. Comunicar, v. 27, n. 61, p. 113-123, 2019.), observa uma importância progressiva desse critério - publicação de artigos científicos em periódicos de impacto - em áreas como Ciências Sociais e Comunicação, em que, historicamente, o formato de livro ou monografia predominou como principal mecanismo de disseminação do conhecimento e da pesquisa.9 9 Importante ponto de inflexão ocorre a partir de 2008, quando a publicação de artigos nesse tipo de revistas, no campo da Comunicação em Espanha, aumentou 40% em comparação com o ano anterior. A influência da ANECA nesse processo é evidente.

A tendência de priorizar e de valorizar a publicação nesse tipo de periódico é certamente global. No entanto, existem variações de país para país. A Espanha está entre os países mais comprometidos com a incorporação desse instrumento, a ponto de entrar em um grau de detalhe e exigência que sequer se aplica nos países anglo-saxões - em que a referência a esse tipo de visão vem de mais longe.10 10 Podemos citar como exemplo o fato de que na Espanha não só é valorizada a publicação de um artigo numa revista incluída no índice JCR, como também o quartil (Q1, Q2, Q3 e Q4) que ocupa um determinado periódico nesta classificação. A publicação nessas revistas é vista, por muitos pesquisadores, como uma batalha pessoal, como uma competição de cada pesquisador contra todos e contra o mundo.

Algumas chaves de análise desmascaram as armadilhas desta atualização do mito de Sísifo, agora em sua batalha para erguer a pesada pedra da produção acadêmica contra a encosta montanhosa íngreme das instituições credenciadoras. Assim, tendo em vista os dados sobre as publicações de pesquisadores espanhóis no campo da Comunicação em revistas de impacto, observa-se que as primeiras posições são ocupadas por pesquisadores ligados às primeiras Faculdades de Comunicação criadas na Espanha: a Universidade Complutense de Madrid, a Universidade de Navarra, a Universidade Autônoma de Barcelona e a Universidade do País Basco (Gómez; Bernardo, 2015GÓMEZ, C.; BERNARDO, S. R. Autores españoles altamente productivos en comunicación (2009-2013): perfil, impacto e internacionalización. Opción, v. 31, n. 4, p. 599-516, 2015a., p. 502).11 11 Os três primeiros são lançados em um momento inicial, a Universidade do País Basco começaria mais tarde do que os outros três anteriores. Em outras palavras, universidades inicialmente bem posicionadas no mercado acadêmico ou que desfrutam de uma vantagem comparativa sobre as universidades que chegam mais tarde.

Na mesma linha, De-Filippo (2013DE-FILIPPO, D. La producción científica española en comunicación en WOS. Las revistas indexadas en SCCI (2007-12). Comunicar, v. 21, n. 41, p. 25-34, 2013.) observa que as universidades espanholas com mais volume de produção nos periódicos de Comunicação incluídos no SCCI (Social Science Citation Index of Web of Science) são as quatro mencionadas anteriormente, às quais se somam a Universidade Pompeu e Fabra (Catalunha) e a Universidade Jaume I (Comunidade Autônoma de Valência). Percebe-se, portanto, uma correlação entre o nível de riqueza (Produto Interno Bruto) das regiões em que as universidades residem e o nível de produção acadêmica mais proeminente; ou, dito de outra forma, a influência que as lógicas de centro e periferia (Wallerstein, 1974WALLERSTEIN, E. The modern world-system: capitalist agriculture and the origins of the European world-economy in the sixteenth century. New York: Academic Press, 1974.; 1991WALLERSTEIN, E. Geopolitics and geoculture: essays on the changing world-system. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.) em nível nacional exercem sobre a produção acadêmica em termos gerais. O triângulo clássico em que se concentram a riqueza e a produção industrial na Espanha (composto de Madri, País Basco e Catalunha) também ocupa posições centrais no que diz respeito à produção científica.

Uma segunda chave de análise identifica os temas mais abordados na produção científica espanhola em Comunicação para apreender o efeito ANECA e como este influencia os temas de pesquisa através dos quais os pesquisadores espanhóis se consolidam no sistema universitário. Nesse sentido, Costa (2017COSTA, C. In-depth study of the scientific productivity and visibility of Spanish communication researchers in scopus. Observatorio, v. 11, n. 3, 2017., p. 11) faz um estudo com base em periódicos incluídos no Scopus (que destaca a linha temática relacionada ao ensino em comunicação) e verifica que os temas abordados podem ser considerados transversais e não, especificamente, vinculados a objetos de estudo no campo da Comunicação. Por sua vez, Rodríguez-Gómez, Goyanes e Rosique (2018RODRÍGUEZ-GÓMEZ, E.; GOYANES, M.; ROSIQUE, G. La investigación en comunicación en España. Temporalidad laboral, producción intensiva y competitividad. Communication & Society, v. 31, n. 4, p. 229-242, 2018.) apontam para um crescimento da pesquisa empírica, especialmente por meio de técnicas como a análise de conteúdo. Piñeiro-Naval e Morais (2019PIÑEIRO-NAVAL, V.; MORAIS, R. Study of the academic production on communication in Spain and Latin America. Comunicar, v. 27, n. 61, p. 113-123, 2019.) confirmam essa predominância e acrescentam que, embora as redes sociais e as TICs12 12 Tecnologias da Informação e da Comunicação. tenham ganhado destaque nos últimos tempos, os meios de comunicação tradicionais continuam sendo os mais proeminentes na pesquisa em Comunicação espanhola.

Portanto, uma primeira consequência dessas políticas institucionais é a perda de importância das pesquisas teóricas e das que orientam suas análises para questões estruturais ou sistêmicas, como as realizadas a partir da Economia Política da Comunicação (Sáez, 2021SÁEZ, V. M. Pensar la comunicación para el cambio social en español aquí y ahora. Arbor, v. 197, n. 801, 2021. Disponível em: Disponível em: https://doi.org/10.3989/arbor.2021.801005 . Acesso em: 12 fev. 2024.
https://doi.org/10.3989/arbor.2021.80100...
). Para alcançar a hiperprodutividade exigida pelo sistema, os pesquisadores recorrem aos temas e às metodologias de pesquisa mais rentáveis no contexto da McDonalização (Ritzer, 1992RITZER, G. The McDonaldization of society. Thousand Oaks: Pine Forge Press, 1992.) da produção científica (Hayes, 2017HAYES, D. Beyond McDonaldization: visions of higher education. Nova York: Routledge, 2017.): o estudo das mídias convencionais (imprensa, televisão), baseadas em metodologias quantitativas simples, como a análise de conteúdo. Além disso, esse desejo de alta produtividade acadêmica leva, em muitos casos, à proliferação de lógicas perniciosas para pesquisas de qualidade, como o chamado salami-slicing (Jackson et al., 2014JACKSON, D. et al. Editorial: multiple outputs from single studies: acceptable division of findings vs. ‘salami’ slicing. Journal of Clinical Nursing, v. 23, ed. 1-2, 2014.; Tolsgaard et al., 2019TOLSGAARD, M. et al. Salami-slicing and plagiarism: how should we respond? Advances in Health Science Education, n. 24, p. 3-14, 2019.).13 13 Consiste em fragmentar artificial e abundantemente a pesquisa (geralmente quantitativa). Esta lógica, em comparação com outras perspectivas metodológicas qualitativas, mais trabalhosas, proporciona uma relação custo-benefício mais favorável para o pesquisador.

Com isso, as produções científicas de cada pesquisador são infladas, uma estratégia legítima de luta pela sobrevivência, mas que, muitas vezes, é feita à custa da má qualidade do que é publicado, do baixo impacto internacional da pesquisa ao baixo índice-h dos pesquisadores espanhóis em comunicação (Costa, 2017COSTA, C. In-depth study of the scientific productivity and visibility of Spanish communication researchers in scopus. Observatorio, v. 11, n. 3, 2017.; Tuñez-López et al., 2014TÚÑEZ-LÓPEZ, J. M.; SOLANA, M. Y. M.; GONZÁLEZ, K. V. Analysis of the productivity, impact, and collective h-index of the communication re-search carried out in Spain based on the information shared by researchers in their individual Google Scholar profiles. Revista Latina de Comunicación Social, n. 69, p. 684-709, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.4185/RLCS-2014-1030en. Acesso em: 12 fev. 2024.
https://doi.org/https://doi.org/10.4185/...
) ou da desconexão da pesquisa espanhola das tendências predominantes em todo o mundo (Seone; Martínez-Nicolás; Vicente, 2020SEOANE, F.; MARTÍNEZ-NICOLÁS, M.; VICENTE, M. Fuga de talento en la investigación española sobre comunicación: percepción de los investigadores españoles en el extranjero. Profesional de la Información , v. 29, n. 4, 2020.).

Há uma profunda contradição: uma agência preocupada com a qualidade (ANECA) gera perda de qualidade, pouco ou nenhum impacto e significado no cenário internacional. Em suma, uma medida como o incentivo à publicação de artigos em periódicos - o que por si só não é negativo e bem contextualizado geraria dinâmicas positivas - torna-se, dentro da cultura da avaliação fomentada na pesquisa espanhola, uma lógica perversa.

Detrás desse processo, há uma fetichização da mercadoria14 14 O fetichismo da mercadoria é uma expressão utilizada por Marx (2013) para revelar o tipo de relação social que as mercadorias criam sob o capitalismo. em torno do artigo de impacto, pelo menos como é entendido por autores da teoria crítica, como Walter Benjamin. Esse é o autor do texto intitulado O capitalismo como religião (1921BENJAMIN, W. Kapitalismus als Religião, Gesammelte Schriften, Bd. VI. Frankfurt: Suhrkamp Verlag, 1921.), no qual demonstra que o capitalismo é, essencialmente, um fenômeno religioso (Zamora, 2009ZAMORA, J. A. Capitalismo como religión. In: Cabrera D (coord.). Walter Benjamin. La experiencia de una voz crítica, creativa y disidente. Revista Anthropos: Huellas del Conocimiento, n. 225, p. 58-70, 2009., p. 59).15 15 Um tipo de religião especial, orientada para uma prática ritual, com um culto contínuo, sem pausa ou trégua, uma vez que o ciclo de produção e de consumo não tem interrupção nem descanso. Outra característica é que se trata de um culto que produz culpa e dívida. Nesse sentido, Zamora (2009ZAMORA, J. A. Capitalismo como religión. In: Cabrera D (coord.). Walter Benjamin. La experiencia de una voz crítica, creativa y disidente. Revista Anthropos: Huellas del Conocimiento, n. 225, p. 58-70, 2009.) discorre que o conceito de culpa/dívida em alemão (Schuld) tem um duplo sentido, econômico e religioso, que se perde quando traduzido para outras línguas.

A tradução dessas categorias de análise para o assunto em questão - a produção de artigos de impacto - é esclarecedora. Os pesquisadores espanhóis, em sua ânsia hiperprodutivista como consequência da lógica de produção intensiva a que estão submetidos, veem como o capitalismo acadêmico produz novas subjetividades - caracterizadas pela dominação, extração ou exploração - que são acompanhadas pelo sentimento de culpa presente em muitos deles (Victoriano, 2017VICTORIANO, J. M. R. La praxis de la excelencia universitaria. Entre la paranoia de sus pro-motores y la culpa de sus víctimas: hacia la recuperación del deseo docente y la universidad pública. Teknokultura, v. 14, n. 1, p. 85-103, 2017.) por não produzirem o que deveriam produzir (de acordo com suas agências de avaliação ou seus chefes de unidades acadêmicas) e pela personalização e moralização das lógicas sistêmicas de dominação.

3. O processo de mercantilização anunciada

Nesta seção, analisaremos o processo de mercantilização anunciada da pesquisa na Espanha por intermédio de categorias e de perspectivas que foram, em alguma medida, ignoradas tanto pelas autoridades acadêmicas quanto pela maioria dos pesquisadores espanhóis nos seus diagnósticos e proposições. Fundamentalmente, o que tem sido ignorado é uma análise sistêmica da produção científica espanhola (e do campo da Comunicação, em particular) que contemple a dimensão geopolítica da pesquisa (Deméter, 2019DEMÉTER, M. The world-systemic dynamics of knowledge production: the distribution of transnational academic capital in the social sciences. Journal of World-Systems Research, v. 25, n. 1, p. 112-144, 2019.), por meio das chaves do sistema-mundo e, com ela, das relações centro-periferia estruturalmente determinadas (Wallerstein, 1974WALLERSTEIN, E. The modern world-system: capitalist agriculture and the origins of the European world-economy in the sixteenth century. New York: Academic Press, 1974.; 1991WALLERSTEIN, E. Geopolitics and geoculture: essays on the changing world-system. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.).

Após a leitura da literatura científica sobre o tema, constata-se uma super-representação dos esforços individuais realizados no campo da pesquisa, uma ênfase que convive com um fenômeno de sinal oposto: a sub-representação das lógicas sistêmicas que geram essa situação. Historicamente, a pesquisa espanhola e a realizada no campo da Comunicação ocupam uma posição marginal em todo o mundo, em termos estruturais. Portanto, seria ingênuo pensar que somente, ou de preferência, com o esforço individual dos pesquisadores essa tendência histórica e sistêmica poderia ser revertida.

Para alcançar os objetivos desejados, não basta promover uma cultura de avaliação que lance pesquisadores espanhóis, individualmente, para competir no campo científico global. Para sair do voluntarismo ingênuo, precisamos, por exemplo, de uma política em matéria científica que parta de fortes investimentos econômicos em P & D.16 16 Pesquisa e Desenvolvimento. Neste ponto, emergem alguns dos princípios sistêmicos da investigação espanhola. De acordo com dados do Eurostat, a Espanha já está atrás de alguns dos países europeus com menos esforço de investimento em P + D, como a Grécia, a Polônia ou Portugal.17 17 Disponível em: https://www.lavanguardia.com/economia/20210103/6131625/grecia-portugal-polonia-superan-espana-inversion-i-d-hunden-cola-europea.html. Acesso em: 13 set. 2023.

No caso espanhol, o investimento público em pesquisa é fundamental, uma vez que as universidades públicas são as que concentram a maioria das investigações do país - verificou-se que, nos últimos oito anos, a dotação dedicada ao ensino superior caiu 14,7% e as reduções no financiamento de programas e projetos de P & D registraram um decréscimo de 31% (Mineco, 2018MINECO - Ministerio de Economía, Industria y Competitividad. Plan estatal de investigación científica, técnica y de innovación. 2018. Disponível em: Disponível em: http://www.idi.mineco.gob.es/stfls/MICINN/Prensa/FICHEROS/2018/PlanEstatalIDI.pdf . Acesso em: 20 dez. 2022.
http://www.idi.mineco.gob.es/stfls/MICIN...
, p. 19, apudRodríguez-Gómez, Goyanes e Rosique, 2018RODRÍGUEZ-GÓMEZ, E.; GOYANES, M.; ROSIQUE, G. La investigación en comunicación en España. Temporalidad laboral, producción intensiva y competitividad. Communication & Society, v. 31, n. 4, p. 229-242, 2018., p. 233).18 18 Entrando em mais detalhes, Caffarel (2018, p. 294) aponta que a área de Ciências Sociais obtém cerca de 30% do orçamento dedicado ao financiamento de projetos de pesquisa na Espanha e, dentro dessa área, apenas 1% é dedicado à pesquisa em Comunicação.

Portanto, a análise dessa situação não pode ignorar a existência de uma geopolítica do conhecimento científico. Autores como Slater (2020SLATER, D. Rethinking the geopolitics of knowledge: a challenge to imperial visions. Tabula Rasa, n. 8, p. 335-358, 2020.), de posições decoloniais, lembram o modo como a localização geográfica afeta a produção de cultura e do conhecimento, em continuidade com as propostas de Mignolo (2000MIGNOLO, W. Local stories/global designs: coloniality, subaltern knowledges and border thinking. Princeton: Princeton University Press, 2000.) e Walsh (2020WALSH, C. E. Decolonial learnings, askings and musings. Postcolonial Studies, v. 23, n. 4, p. 604-611, 2020.). Sendo um aspecto crucial, é necessário complementá-lo com uma perspectiva sistêmica e econômica, a partir da Economia Política, para localizar o fenômeno numa dimensão mais global.

Deméter (2019DEMÉTER, M. The world-systemic dynamics of knowledge production: the distribution of transnational academic capital in the social sciences. Journal of World-Systems Research, v. 25, n. 1, p. 112-144, 2019.) e Canagarajah (2002CANAGARAJAH, S. A. Geopolitics of academic writing. Pittsburg: University of Pittsburgh Press, 2002.) propõem um eixo duplo para a análise da produção de conhecimento diante de uma perspectiva sistêmica. O eixo horizontal leva em conta características geográficas, o que permite falar de uma hegemonia ocidental - mais especificamente anglo-americana - e de periferias geográficas na produção de conhecimento. Por outro lado, o eixo vertical toma como critério decantatório a existência de comunidades marginalizadas no centro do sistema (grupos étnicos, por questões sociais ou de gênero), sujeitas aos interesses dos grupos dominantes existentes em suas próprias sociedades.

Neste contexto, uma possível saída para os desequilíbrios existentes é a migração de áreas periféricas do conhecimento científico para os centros do sistema, como é o caso de outros setores da economia. A diáspora científica e acadêmica (Seoane; Martínez-Nicolás; Vicente, 2020SEOANE, F.; MARTÍNEZ-NICOLÁS, M.; VICENTE, M. Fuga de talento en la investigación española sobre comunicación: percepción de los investigadores españoles en el extranjero. Profesional de la Información , v. 29, n. 4, 2020.), crescente à medida que o capitalismo acadêmico (Jessop, 2018JESSOP, B. On academic capitalism. Critical Policy Studies, v. 12, n. 1, p. 104-109, 2018.) avança, obriga uma multidão de pesquisadores a migrar da periferia para o centro para acumular capital no mais puro sentido bourdiano.19 19 Trata-se de uma medida pessoal e legítima, mas que não resolve a posição estrutural dos países nem das regiões periféricas na produção de conhecimento.

A pesquisadora argentina Daniela Perrota (2017PERROTA, D. Universidad y geopolítica del conocimiento. Journal of Social Science Research, n. 94, p. 50-58, 2017.) confirma as consequências que essas políticas de avaliação da produção científica têm em escala internacional. Afirma que os critérios de avaliação, elaborados no Norte e disseminados em escala global, “colocam em xeque não apenas as políticas de internacionalização da universidade, mas também todas as suas dimensões e missões, rompendo seu próprio sentido” (Perrota, 2017PERROTA, D. Universidad y geopolítica del conocimiento. Journal of Social Science Research, n. 94, p. 50-58, 2017., p. 50).

Mas não apenas as periferias acadêmicas da América Latina, África ou Ásia são afetadas. A transnacionalização da educação superior (Robertson; Dale, 2015ROBERTSON, S. L.; DALE, R. Towards a ‘critical cultural political economy’account of the globalising of education. Globalisation, Societies and Education, v. 13, n. 1, p. 149-170, 2015.) também afeta as semiperiferias acadêmicas (Boatca, 2006BOATCA, M. Semiperipheries in the world-system: reflecting Eastern European and Latin American experiences. Journal of World-Systems Research, v. 12, n. 2, p. 321-346, 2006.), incluindo países como a Espanha. Portanto, a introdução acrítica desses critérios globais nas políticas nacionais de ciência, conhecimento e ensino superior reduz, como no caso da Espanha, a capacidade de sair das posições estruturais de dependência em que historicamente se situa.

Por outro lado, a posição espanhola de semiperiferia, teoricamente, dar-lhe-ia a opção de captar uma parte do talento acadêmico que, das periferias do Sul Global, compõe a diáspora acadêmica que migra para os centros. Todavia, esse potencial não se materializa, pelo menos no caso de pesquisadores doutores em busca de uma posição estável, uma vez que as condições específicas de acesso a posições de pesquisa e ensino nas universidades públicas espanholas (a maioria e as mais importantes) exigem um processo de acreditação altamente burocratizado, atuando como uma barreira dissuasiva.

Afonso (2016AFONSO, A. Varieties of academic labor markets in Europe. Political Science & Politics, v. 49, n. 4, p. 816-821, 2016.) afirma que o mercado de trabalho acadêmico na Espanha, de forma semelhante ao que acontece na França e na Itália, é caracterizado por altas barreiras à entrada de estrangeiros, sendo altamente regulamentado. O obstáculo mais comum à internacionalização é a prevalência do recrutamento endogâmico.20 20 Baseado em contatos e não no desempenho da pesquisa ou do ensino, além de sistemas centralizados de “acreditação”, destinados a controlar a oferta de mão de obra por insiders - conclusão também compartilhada por estudos recentes sobre esse caráter endogâmico e refratário ao recrutamento de talentos do sistema universitário espanhol (Seoane; Martínez-Nicolás; Vicente, 2020). Dessa forma, a Espanha se encontra numa situação curiosa e pouco inteligente em que partilha elementos negativos - como consequência de ser parcialmente periférica - e deixa de usufruir de alguns dos benefícios potenciais de ser parcialmente central.

4. Conclusões e discussão

O poder local das universidades espanholas exerce forte influência na seleção de candidatos que acessam posições mais estáveis de pesquisadores e professores (apesar dos progressos no estabelecimento de critérios de seleção mais abertos e sujeitos a sistemas de responsabilização). Este debate serve como elemento de transição para abordar as conclusões desta pesquisa, visto que algo semelhante acontece com as publicações espanholas de referência no campo da Comunicação.

Distante do modelo americano em que a ICA21 21 International Communication Association, EUA. exerce uma função de dinamização e coordenação da atividade das publicações ligadas a ela, o modelo espanhol seguiu outros caminhos e, apesar do bom trabalho realizado pela Associação Espanhola de Pesquisa em Comunicação (AE-IC), o contexto das publicações científicas configuradas na Espanha, nos últimos anos, está longe de ser ideal.

A endogamia e a forte influência do poder local adquirem características especiais na Espanha e, por extensão, no mundo latino, traços que aparecem no romance de García Márquez, com o qual iniciamos a reflexão e ao qual voltamos agora. Esse fenômeno é especificamente chamado de caciquismo.22 22 Ou seja, “uma forma distorcida de governo local onde um líder político (no nosso caso, um líder acadêmico) tem total domínio de uma sociedade rural, expressa como clientelismo político”. Disponível em: https://es.wikipedia.org/wiki/Caciquismo. Acesso em: 13 set. 2023. O caciquismo e, com ele, a reflexão sobre os modos como o poder político e o econômico se estruturam são temas que permeiam toda a Crônica de uma morte anunciada. Além disso, caracteriza-se pelo abuso de poder sobre os mais fracos e pela ostentação da superioridade econômica, dois elementos constantes ao longo da obra de García Márquez.23 23 No entanto, a atmosfera caciquil da obra se materializa, de maneira especial, nos personagens de Santiago Nasar (proprietário da fazenda El Divino Rostro) e de Bayardo San Roman (engenheiro).

Para muitos pesquisadores espanhóis, a estratégia de sobrevivência para fazer uma carreira acadêmica neste contexto - hostil e competitivo - é colaborar com alguns dos caciques, em torno dos quais o poder acadêmico local está concentrado. É contraditório que as reformas universitárias não só não tenham posto fim à endogamia e às cotas de poder dos dirigentes locais, mas também, em certa medida, as tenham reativado.

Diante desse cenário e das tendências apontadas, as soluções passam, pelo menos do ponto de vista crítico, pelo desenho de políticas científicas e de ensino superior, elaboradas segundo critérios alternativos aos dominantes. Este é o caminho iniciado por alguns países latino-americanos. Como indica Perrota (2017PERROTA, D. Universidad y geopolítica del conocimiento. Journal of Social Science Research, n. 94, p. 50-58, 2017., p. 50), a partir de contextos periféricos e dependentes, as respostas regionais, baseadas em um regime de solidariedade, permitem configurar modelos alternativos de internacionalização da universidade que atualizam os debates sobre o papel da ciência e da universidade na promoção do desenvolvimento.

Semelhantemente, Vessuri, Guédon e Cetto (2014VESSURI, H.; GUÉDON, J.; CETTO, A. M. Excellence or quality? Impact of the current competition regime on science and scientific publishing in Latin America and its implications for development. Current Sociology, v. 62, n. 5, p. 647-665, 2014.) argumentam que existem outras formas de articular excelência e qualidade científica, alternativas àquelas disseminadas pelas organizações globais. Propõem o desenho de uma política de pesquisa que busque melhorar os níveis de ciência na América Latina - e, por extensão, em outras regiões periféricas do mundo -, ao mesmo tempo que contemplam a possibilidade de resolver problemas relevantes para a região. Sugerem a implementação de relações estratégicas com outras redes científicas globais, que também estejam interessadas em promover iniciativas alternativas às dominantes, especialmente no campo das publicações científicas, uma vez que este é um espaço estratégico no qual os debates sobre qualidade, excelência e internacionalização da investigação e da ciência materializam-se.

No caso espanhol, a pressão é semelhante à de outros países, em relação aos grandes oligopólios de publicação científica (Larivière, Haustein, Mongeon, 2015LARIVIÈRE, V.; HAUSTEIN, S.; MONGEON, P. The oligopoly of academic publishers in the digital era. PLoS ONE, v. 10, n. 6, 2015.), com os correspondentes indicadores e regras impostas a pesquisadores e aos governos do mundo. Bermejo (2015BERMEJO, J.C. La tentación del rey Midas. Para una economía política del conocimiento. Madri: Século XXI, 2015.) estimou que o acesso a esses periódicos e a bases de dados custou às universidades públicas espanholas cerca de um bilhão de euros por ano. Por outro lado, nacionalmente, a ANECA é responsável por reproduzir indicadores internacionais como critério para que os investigadores alcancem posições mais estáveis e progridam nas suas carreiras acadêmicas. Esse duplo cenário (internacional e nacional) de precariedade e competitividade é sintetizado por Víctoriano (2017VICTORIANO, J. M. R. La praxis de la excelencia universitaria. Entre la paranoia de sus pro-motores y la culpa de sus víctimas: hacia la recuperación del deseo docente y la universidad pública. Teknokultura, v. 14, n. 1, p. 85-103, 2017.). Para ele, as reformas universitárias desenham um cenário:

[...] cada vez mais precário no ambiente de trabalho, onde um setor cada vez mais amplo de professores se explora até serem queimados (burnout). Forçados a competir na lagoa de piranhas da ANECA ou no oceano de tubarões de rankings internacionais, o seu projeto profissional de ensino e investigação revelou-se como um projétil em que são obrigados a dirigir para si próprios (Victoriano, 2017VICTORIANO, J. M. R. La praxis de la excelencia universitaria. Entre la paranoia de sus pro-motores y la culpa de sus víctimas: hacia la recuperación del deseo docente y la universidad pública. Teknokultura, v. 14, n. 1, p. 85-103, 2017., p. 101).

Desse modo, é necessário sair dos dois círculos viciosos (Maceiras, 2018MACEIRAS, S. A. D. El círculo vicioso de las revistas científicas y la progresiva irrelevancia de la ciencia pública. Política y Sociedad, v. 55, n. 2, 2018.) em que se encontra a investigação espanhola: a privatização da ciência e a progressiva irrelevância do conhecimento público. O primeiro resulta na naturalização dos indicadores de impacto, o que faz o conhecimento público ter de ser validado por meio das mesmas regras do mercado. O segundo leva ao fato de que os incentivos (monetários e de prestígio) que a ciência pública pode oferecer “são progressiva e comparativamente inferiores aos oferecidos pela esfera privada”. Consequentemente, agudiza-se a natureza privada do conhecimento e dos agentes capazes de dar respostas aos grandes problemas a serem resolvidos através do conhecimento científico (Maceiras, 2018MACEIRAS, S. A. D. El círculo vicioso de las revistas científicas y la progresiva irrelevancia de la ciencia pública. Política y Sociedad, v. 55, n. 2, 2018.).

Como sair desses círculos viciosos? Os pesquisadores Perrota (2017PERROTA, D. Universidad y geopolítica del conocimiento. Journal of Social Science Research, n. 94, p. 50-58, 2017.) e Vessuri, Guédon e Cetto (2014VESSURI, H.; GUÉDON, J.; CETTO, A. M. Excellence or quality? Impact of the current competition regime on science and scientific publishing in Latin America and its implications for development. Current Sociology, v. 62, n. 5, p. 647-665, 2014.) apontam para o caminho necessário de desenhar políticas científicas nacionais e regionais que proponham alternativas viáveis e permitam recuperar, como indica Bustamante (2018BUSTAMANTE, E. La investigación en comunicación en España. Luces y sombras. AdComunica, n. 15, p. 285-288, 2018.), a soberania científica cedida às grandes multinacionais. Não é uma saída fácil e exige um longo caminho a percorrer. Um dos primeiros passos é o sugerido pelo provérbio chinês “A primeira coisa a fazer para sair do poço é deixar de cavar”. Caso contrário, em poucos anos, rescreveremos uma comparação metafórica que não vem do romance de García Márquez, Crônica de uma morte anunciada, mas de outro de seus best-sellers: Cem anos de solidão.

Referências

  • AFONSO, A. Varieties of academic labor markets in Europe. Political Science & Politics, v. 49, n. 4, p. 816-821, 2016.
  • ALLMER, T. Theorising and analysing academic labour. tripleC: Communication, Capitalism & Critique. Open Access Journal for a Global Sustainable Information Society, v. 16, n. 1, p. 49-77, 2018.
  • ARONOWITZ, S.; GIROUX, H. The corporate university and the politics of education. The Educational Forum, v. 64, n. 4, p. 332-339, 2000.
  • BENJAMIN, W. Kapitalismus als Religião, Gesammelte Schriften, Bd VI Frankfurt: Suhrkamp Verlag, 1921.
  • BERMEJO, J.C. La tentación del rey Midas Para una economía política del conocimiento Madri: Século XXI, 2015.
  • BOATCA, M. Semiperipheries in the world-system: reflecting Eastern European and Latin American experiences. Journal of World-Systems Research, v. 12, n. 2, p. 321-346, 2006.
  • BOUSQUET, M. How the university works. How the University Works Higher Education and the Low-Wage Nation. Nova York: University Press, 2008.
  • BUSTAMANTE, E. La investigación en comunicación en España. Luces y sombras. AdComunica, n. 15, p. 285-288, 2018.
  • CABOT, M. Adorno’s critique of mass culture. Constelaciones, n. 3, p. 130-147, 2011.
  • CAFFAREL, C. La metainvestigación en comunicación, una necesidad y una oportunidad. AdComunica Castellón: Asociación para el Desarrollo de la Comunicación adComunica y Universitat Jaume I, n. 15, p. 293-295, 2018.
  • CANAGARAJAH, S. A. Geopolitics of academic writing Pittsburg: University of Pittsburgh Press, 2002.
  • COSTA, C. In-depth study of the scientific productivity and visibility of Spanish communication researchers in scopus. Observatorio, v. 11, n. 3, 2017.
  • DE-FILIPPO, D. La producción científica española en comunicación en WOS. Las revistas indexadas en SCCI (2007-12). Comunicar, v. 21, n. 41, p. 25-34, 2013.
  • DEMÉTER, M. The world-systemic dynamics of knowledge production: the distribution of transnational academic capital in the social sciences. Journal of World-Systems Research, v. 25, n. 1, p. 112-144, 2019.
  • FERNÁNDEZ-QUIJADA, D.; MASIP, P.; BERGILLOS, I. The price of internationality: duality in publication patterns of Spanish communication researchers. Revista Española de Documentación Científica, v. 36, n. 2, p. 1-19, 2013.
  • GARCÍA MÁRQUEZ, G. Crónica de una muerte anunciada Medellín: La Oveja Negra, 1981.
  • GASCÓN, H.; CORO, A. G. M. Análisis crítico sobre algunos efectos de la cultura de la evaluación nomotética en la universidad. Organización de Estados Iberoamericanos (OEI), Revista Eletrônica, Open Jornal System. Revista Iberoamericana de Educación, 2011. Vol. 57, p. 217-231. Disponível em: Disponível em: https://doi.org/10.35362/rie570494 Acesso em: 12 fev. 2024.
    » https://doi.org/10.35362/rie570494
  • GÓMEZ, C.; BERNARDO, S. R. Autores españoles altamente productivos en comunicación (2009-2013): perfil, impacto e internacionalización. Opción, v. 31, n. 4, p. 599-516, 2015a.
  • GÓMEZ, C.; BERNARDO, S. R. Spain’s most productive researchers in communication (2009-2013): profile, impact and internationalization. Universidad del Zulia: Facultad Experimental de Ciencias. Venezuela. Opción: Revista de Ciencias Humanas y Sociales, n. Extra 4, p. 499-516, 2015b.
  • HAYES, D. Beyond McDonaldization: visions of higher education. Nova York: Routledge, 2017.
  • JACKSON, D. et al Editorial: multiple outputs from single studies: acceptable division of findings vs. ‘salami’ slicing. Journal of Clinical Nursing, v. 23, ed. 1-2, 2014.
  • JESSOP, B. On academic capitalism. Critical Policy Studies, v. 12, n. 1, p. 104-109, 2018.
  • KEMMIS, S. Nomothetic and idiographic approaches to the evaluation of learning. Journal of Curriculum Studies, v. 10, n. 1, p. 49-59, 1978.
  • LARIVIÈRE, V.; HAUSTEIN, S.; MONGEON, P. The oligopoly of academic publishers in the digital era. PLoS ONE, v. 10, n. 6, 2015.
  • MACEIRAS, S. A. D. El círculo vicioso de las revistas científicas y la progresiva irrelevancia de la ciencia pública. Política y Sociedad, v. 55, n. 2, 2018.
  • MARÇO, K. Crónica de una muerte anunciada: García Márquez y el género policiaco. Inti: Revista de Literatura Hispánica, v. 1, n. 16, p. 61-70, 1982.
  • MARTÍNEZ-NICOLÁS, M. Masa (en situación) crítica. La investigación sobre periodismo en España: comunidad científica e intereses de conocimiento. Análisi: Quaderns de Comunicació i Cultura, n. 33, p. 135-70, 2006.
  • MARTÍNEZ-NICOLÁS, M. La investigación sobre comunicación en España (1998-2007). Análisis de los artículos publicados en revista científicas. Revista Latina de Comunicación Social, n. 66, p. 101-129, 2011.
  • MARTÍNEZ-NICOLÁS, M. La investigación sobre comunicación en España (1985-2015). Contexto institucional, comunidad académica y producción científica. Revista Latina de Comunicación Social, n. 75, p. 383-414, 2020.
  • MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Livro I - O processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2013.
  • MATE, R.; MAYORGA, J. Los avisadores del fuego: Rosenzweig, Benjamin, Kafka. Isegoría, n. 23, p. 45-67, 2000.
  • MATTELART, A.; MATTELART, M. Histoire des théories de la communication Communication [A History of Communication Theories]. Paris: La Découverte, 1995.
  • MELLO, A. F. De; MARCO, A. R. D. Os reflexos de Bolonha e a América Latina: problemas e desafios. Educação & Sociedade, v. 32, n. 115, p. 413-435, 2011.
  • MIGNOLO, W. Local stories/global designs: coloniality, subaltern knowledges and border thinking. Princeton: Princeton University Press, 2000.
  • MINECO - Ministerio de Economía, Industria y Competitividad. Plan estatal de investigación científica, técnica y de innovación 2018. Disponível em: Disponível em: http://www.idi.mineco.gob.es/stfls/MICINN/Prensa/FICHEROS/2018/PlanEstatalIDI.pdf Acesso em: 20 dez. 2022.
    » http://www.idi.mineco.gob.es/stfls/MICINN/Prensa/FICHEROS/2018/PlanEstatalIDI.pdf
  • NICOLÁS, M.; SAPERAS, M. E. La piedra. Communication Research in Spain, 1998-2007. An analysis of articles published in Spanish communication journals. Revista Latina de Comunicación Social, n. 66, p. 101-129, 2011. Madri: HISIN - Historia de los Sistemas Informativos, Madrid/Espanha.
  • PALMA, M. Bolonia, 20 años después. El espacio europeo de educación superior en España: análisis de los debates parlamentarios. Madri: Ministerio de Educación y Formación Profesional, 2019.
  • PERROTA, D. Universidad y geopolítica del conocimiento. Journal of Social Science Research, n. 94, p. 50-58, 2017.
  • PIÑEIRO-NAVAL, V.; MORAIS, R. Study of the academic production on communication in Spain and Latin America. Comunicar, v. 27, n. 61, p. 113-123, 2019.
  • PIÑUEL, J. L.; LOZANO, C.; GARCÍA, A. Investigar la comunicación en España Madri: AE-IC/Universidad Rey Juan Carlos I, 2011.
  • QUIRÓS, F. La universidad gerencial en Europa y los procedimientos de evaluación de la “calidad” de la docencia y de la investigación en España. Chasqui: Revista Latinoamericana de Comunicación, n. 133, p. 191-208, 2016.
  • REIG, R. Pesquisa dependente, crítica estrutural do sistema JCR. Áreas. Jornal Internacional de Comunicação, n. 27, p. 1-33, 2015.
  • RITZER, G. The McDonaldization of society Thousand Oaks: Pine Forge Press, 1992.
  • ROBERTSON, S. L.; DALE, R. Towards a ‘critical cultural political economy’account of the globalising of education. Globalisation, Societies and Education, v. 13, n. 1, p. 149-170, 2015.
  • RODRÍGUEZ-GÓMEZ, E.; GOYANES, M.; ROSIQUE, G. La investigación en comunicación en España. Temporalidad laboral, producción intensiva y competitividad. Communication & Society, v. 31, n. 4, p. 229-242, 2018.
  • VICTORIANO, J. M. R. La praxis de la excelencia universitaria. Entre la paranoia de sus pro-motores y la culpa de sus víctimas: hacia la recuperación del deseo docente y la universidad pública. Teknokultura, v. 14, n. 1, p. 85-103, 2017.
  • SÁEZ, V. M. Pensar la comunicación para el cambio social en español aquí y ahora. Arbor, v. 197, n. 801, 2021. Disponível em: Disponível em: https://doi.org/10.3989/arbor.2021.801005 Acesso em: 12 fev. 2024.
    » https://doi.org/10.3989/arbor.2021.801005
  • SÁEZ, V. M; CEBALLOS-CASTRO, G. Opening the black box of citations: a qualitative analysis on the basis of the taxonomy of Erikson and Erlandson. Communication Theory, v. 29, issue 4, p. 463-481, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1093/ct/qty027. Acesso em: 12 fev. 2024.
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1093/ct/qty027
  • SEOANE, F.; MARTÍNEZ-NICOLÁS, M.; VICENTE, M. Fuga de talento en la investigación española sobre comunicación: percepción de los investigadores españoles en el extranjero. Profesional de la Información , v. 29, n. 4, 2020.
  • SLATER, D. Rethinking the geopolitics of knowledge: a challenge to imperial visions. Tabula Rasa, n. 8, p. 335-358, 2020.
  • SORIANO, J. El efecto ANECA. In: CONGRESO INTERNACIONAL FUNDACIONAL DE LA AE-IC, 2008, Santiago de Compostela . Anais [...]. Santiago de Compostela, 2008. Disponível em: Disponível em: http://www.aeic.org/santiago2008/contents/pdf/comunicaciones/286.pdf Acesso em: 20 dez. 2022.
    » http://www.aeic.org/santiago2008/contents/pdf/comunicaciones/286.pdf
  • STAKE, R. A theoretical statement of responsive evaluation. Studies in Educational Evaluation, n. 2, p. 19-22, 1976.
  • TOLSGAARD, M. et al Salami-slicing and plagiarism: how should we respond? Advances in Health Science Education, n. 24, p. 3-14, 2019.
  • TÚÑEZ-LÓPEZ, J. M.; SOLANA, M. Y. M.; GONZÁLEZ, K. V. Analysis of the productivity, impact, and collective h-index of the communication re-search carried out in Spain based on the information shared by researchers in their individual Google Scholar profiles. Revista Latina de Comunicación Social, n. 69, p. 684-709, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.4185/RLCS-2014-1030en. Acesso em: 12 fev. 2024.
    » https://doi.org/https://doi.org/10.4185/RLCS-2014-1030en
  • VESSURI, H.; GUÉDON, J.; CETTO, A. M. Excellence or quality? Impact of the current competition regime on science and scientific publishing in Latin America and its implications for development. Current Sociology, v. 62, n. 5, p. 647-665, 2014.
  • WALLERSTEIN, E. The modern world-system: capitalist agriculture and the origins of the European world-economy in the sixteenth century. New York: Academic Press, 1974.
  • WALLERSTEIN, E. Geopolitics and geoculture: essays on the changing world-system. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.
  • WALSH, C. E. Decolonial learnings, askings and musings. Postcolonial Studies, v. 23, n. 4, p. 604-611, 2020.
  • WOUTERS, P. The citation culture Amesterdã: University of Amsterdam, 1999.
  • ZAMORA, J. A. Capitalismo como religión. In: Cabrera D (coord.). Walter Benjamin. La experiencia de una voz crítica, creativa y disidente. Revista Anthropos: Huellas del Conocimiento, n. 225, p. 58-70, 2009.
  • 1
    Expressão referida a autores como Walter Benjamin (Mate; Mayorga, 2000MATE, R.; MAYORGA, J. Los avisadores del fuego: Rosenzweig, Benjamin, Kafka. Isegoría, n. 23, p. 45-67, 2000.).
  • 2
    Agência Nacional de Avaliação da Qualidade e Acreditação.
  • 3
    Journal Citation Reports.
  • 4
    Ou seja, que não levam em conta a história nem contextos e que, em suma, concebem seu modo científico como o único e digno de ser incorporado a outros campos do conhecimento.
  • 5
    Para o qual todos os professores que pretendam trabalhar em universidades espanholas devem submeter-se e ser acreditados.
  • 6
    Comissão Nacional de Avaliação de Atividades de Investigação. Uma organização ligada à ANECA, que avalia a produção científica de professores e investigadores espanhóis.
  • 7
    Em alguns estudos bibliométricos, de natureza qualitativa, verifica-se que muitos dos trabalhos citados não incluíam evidências suficientes para demonstrar que haviam sido lidos e compreendidos como formulados pelo autor citado (Sáez; Ceballos-Castro, 2019SÁEZ, V. M; CEBALLOS-CASTRO, G. Opening the black box of citations: a qualitative analysis on the basis of the taxonomy of Erikson and Erlandson. Communication Theory, v. 29, issue 4, p. 463-481, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1093/ct/qty027. Acesso em: 12 fev. 2024.
    https://doi.org/https://doi.org/10.1093/...
    ).
  • 8
    Adorno já sinalizou que sofreu pessoalmente em seu período de exílio nos Estados Unidos, expressando em seus debates e confrontos com Lazarsfeld (Mattelart; Mattelart, 1995MATTELART, A.; MATTELART, M. Histoire des théories de la communication. Communication [A History of Communication Theories]. Paris: La Découverte, 1995., p. 53).
  • 9
    Importante ponto de inflexão ocorre a partir de 2008, quando a publicação de artigos nesse tipo de revistas, no campo da Comunicação em Espanha, aumentou 40% em comparação com o ano anterior. A influência da ANECA nesse processo é evidente.
  • 10
    Podemos citar como exemplo o fato de que na Espanha não só é valorizada a publicação de um artigo numa revista incluída no índice JCR, como também o quartil (Q1, Q2, Q3 e Q4) que ocupa um determinado periódico nesta classificação.
  • 11
    Os três primeiros são lançados em um momento inicial, a Universidade do País Basco começaria mais tarde do que os outros três anteriores.
  • 12
    Tecnologias da Informação e da Comunicação.
  • 13
    Consiste em fragmentar artificial e abundantemente a pesquisa (geralmente quantitativa). Esta lógica, em comparação com outras perspectivas metodológicas qualitativas, mais trabalhosas, proporciona uma relação custo-benefício mais favorável para o pesquisador.
  • 14
    O fetichismo da mercadoria é uma expressão utilizada por Marx (2013MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Livro I - O processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2013.) para revelar o tipo de relação social que as mercadorias criam sob o capitalismo.
  • 15
    Um tipo de religião especial, orientada para uma prática ritual, com um culto contínuo, sem pausa ou trégua, uma vez que o ciclo de produção e de consumo não tem interrupção nem descanso.
  • 16
    Pesquisa e Desenvolvimento.
  • 17
    Disponível em: https://www.lavanguardia.com/economia/20210103/6131625/grecia-portugal-polonia-superan-espana-inversion-i-d-hunden-cola-europea.html. Acesso em: 13 set. 2023.
  • 18
    Entrando em mais detalhes, Caffarel (2018CAFFAREL, C. La metainvestigación en comunicación, una necesidad y una oportunidad. AdComunica. Castellón: Asociación para el Desarrollo de la Comunicación adComunica y Universitat Jaume I, n. 15, p. 293-295, 2018., p. 294) aponta que a área de Ciências Sociais obtém cerca de 30% do orçamento dedicado ao financiamento de projetos de pesquisa na Espanha e, dentro dessa área, apenas 1% é dedicado à pesquisa em Comunicação.
  • 19
    Trata-se de uma medida pessoal e legítima, mas que não resolve a posição estrutural dos países nem das regiões periféricas na produção de conhecimento.
  • 20
    Baseado em contatos e não no desempenho da pesquisa ou do ensino, além de sistemas centralizados de “acreditação”, destinados a controlar a oferta de mão de obra por insiders - conclusão também compartilhada por estudos recentes sobre esse caráter endogâmico e refratário ao recrutamento de talentos do sistema universitário espanhol (Seoane; Martínez-Nicolás; Vicente, 2020SEOANE, F.; MARTÍNEZ-NICOLÁS, M.; VICENTE, M. Fuga de talento en la investigación española sobre comunicación: percepción de los investigadores españoles en el extranjero. Profesional de la Información , v. 29, n. 4, 2020.).
  • 21
    International Communication Association, EUA.
  • 22
    Ou seja, “uma forma distorcida de governo local onde um líder político (no nosso caso, um líder acadêmico) tem total domínio de uma sociedade rural, expressa como clientelismo político”. Disponível em: https://es.wikipedia.org/wiki/Caciquismo. Acesso em: 13 set. 2023.
  • 23
    No entanto, a atmosfera caciquil da obra se materializa, de maneira especial, nos personagens de Santiago Nasar (proprietário da fazenda El Divino Rostro) e de Bayardo San Roman (engenheiro).
  • *
    Este artigo foi possível devido à Bolsa Unión Europea-Next Generation/Ministerio de Universidades de España RD 289/2021 y UNI/551/2021), Universidad de Cádiz (UCA/R155REC/2021), concedida ao Professor Víctor Manuel Marí Sáez, e à bolsa de doutorado sanduíche concedida à professora Clara Martins do Nascimento, financiada pelo PRINT-CAPES- Programa Institucional de Internacionalização, Edital n. 41/2017. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/Capes como instituição de fomento. Também contou com o financiamento da Agencia Estatal de Investigación (AEI) de España: proyecto “Comunicación Solidaria Digital. Análisis de los imaginarios, los discursos y las prácticas comunicativas de las ONGD en el horizonte de la Agenda 2030” (PID2019-106632GB-IOO/AEI/10.13039/501100011033). Agradecemos também ao Programa UCA Internacional para a realização de teses em regime de cotutela.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Mar 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    15 Set 2023
  • Aceito
    07 Nov 2023
Cortez Editora Ltda Rua Monte Alegre, 1074, 05014-001 - São Paulo - SP, Tel: (55 11) 3864-0111 , Fax: (55 11) 3864-4290 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: servicosocial@cortezeditora.com.br