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Efeito da temperatura e do fotoperíodo no desenvolvimento micelial de Botrytis squamosa, agente causal da queima das pontas da cebola

A queima das pontas da cebola causada pelo fungo Botrytis squamosa Walker destaca-se como a mais importante doença da cultura na fase de muda. Esta doença está amplamente disseminada em regiões de clima temperado, onde são frequentes os períodos de temperaturas amenas (≤ 22ºC), alta umidade (≥ 90%) e pouca luminosidade. Epidemias são favorecidas por temperaturas entre 20 a 25°C, umidade relativa acima de 75% e períodos de molhamento foliar acima de 6 horas contínuas (Wordell Filho et al. Manejo Fitossanitário na cultura da cebola, p.19-30, 2006). Os sintomas da queima das pontas se manifestam nas folhas como manchas esbranquiçadas, dispostas inicialmente de forma isolada e sem esporulação do fungo, no entanto o sintoma que resulta em maior dano é a queima foliar, ocorrendo do ápice para a base da folha, com intensa esporulação e aspecto translúcido na parte necrosada da folha. O conhecimento da biologia do patógeno é de grande importância para compreender o desenvolvimento da doença no campo, bem como para tomar medidas de manejo da doença. Diante disto, este trabalho teve como objetivo avaliar em in vitro a influência da temperatura e do fotoperíodo no crescimento micelial de B.squamosa. A pesquisa foi realizada no Laboratório de Microbiologia e Fitopatologia do Instituto Federal Catarinense/Campus Rio do Sul com isolado de B. squamosa, obtido de planta de cebola com sintoma da doença em lavoura e multiplicado em placas de Petri contendo meio de cultura de BDA(batata-dextrose-ágar) através da coleta de conídios sobre o tecido lesionado. Discos de micélio com 9 mm de diâmetro, foram removidos dessas placas e inoculados no centro de placas de Petri com 8 cm de diâmetro contendo meio de cultura BDA e incubados em câmera de germinação do tipo B.O.D. (Demanda Biológica de Oxigênio) a uma temperatura de 25° C e fotoperíodo de 12 horas durante sete dias para crescimento do micélio e obtenção do inóculo. Após isso, discos de micélio foram transferidos para placas de Petri contendo meio de cultura BDA e incubados nas temperaturas de 5, 10, 15, 20, 25, 30 e 35°C (±1°C) e fotoperíodo de 12 horas. Diariamente foi feita a medição do crescimento micelial em duas linhas diagonais opostas com um paquímetro. No quarto dia o micélio atingiu a proximidade das bordas das placas de Petri e finalizou-se as avaliações. A partir da obtenção da temperatura ótima de desenvolvimento, repetiu-se o ensaio seguindo a mesma metodologia de inoculação, incubando-se a temperatura de 18°C com fotoperíodos de 0, 6, 12, 18 e 24 horas de luz. Verificou-se que a temperatura influenciou o crescimento micelial, tendo apresentado melhor desenvolvimento entre as temperaturas de 15° e 20°C (Figura 1A). Utilizando a equação gerada pela curva (y =-0,028x2+1,029x–1,76, R2=0,998)(Figura 1A) obteve-se a temperatura ótima de 18°C para o crescimento micelial. Resultados semelhantes em patógeno da cebola foram obtidos por Xavier (Efeito da temperatura e do fotoperíodo no desenvolvimento micelial de Sclerotiumcepivorum, agente causal da podridão branca do alho e da cebola. 2015. 27p. Trabalho de curso. Instituto Federal Catarinense, campus Rio do Sul, Rio do Sul), onde verificou que o crescimento micelial ótimo in vitro de Sclerotium cepivorum foi de18°C. Leite et al. (Summa Phytopathologica, v.26, n.2, p.81-84, 2000) também destacam que a temperatura ótima para o desenvolvimento do micélio de Sclerotinia sclerotiorum situa-se também aos 18ºC. Patógenos, como B.squamosa possuem escleródios como estrutura de dormência ou repouso que são provenientes do crescimento micelial, caracterizando que a temperatura entre eles é semelhante. Temperaturas extremas não são favoráveis ao desenvolvimento micelial, pois a 35°C observou-se a inibição do crescimento micelial, enquanto que a 5°C apresentou o menor desenvolvimento (2,4 cm) (Figura 1A). Ellerbrock & Lorbeer (Phytopathology, v.67, n.2, p.219-225, 1977) também encontrou em 18ºC a melhor temperatura de esporulação B. squamosa, sendo desfavorável ao desenvolvimento micelial do patógeno. Em planta de cebola, Alderman & Lacy (Phytopathology, v.73, n.8. p.1020-1023, 1983) verificaram que a produção de lesões teve um ótimo de 20ºC e a basal de 15ºC. Por outro lado, quando a temperatura foi elevada de 20 para 25°C houve um decréscimo da severidade da doença, coincidindo com os resultados obtidos por Sutton et al. (Agriculture, ecosystems and environment,v.18, p.123-143, 1986). Esses resultados in vivo confirmam os obtidos com o presente trabalho in vitro. Em relação ao crescimento micelial em diferentes fotoperíodos, observa-se a formação de uma linha polinomial (Figura 1B) e através da equação y=-0,0005x2+0,143x+6,068 (R2=0,936) verificou-se que o fotoperíodo mais favoravel ao desenvolvimento foi de zero horas de luz, com um crescimento micelial final de 6,1 cm quando comparado a 12 horas de luz que obteve um crescimento final de 5,1 cm, porém pouco expressiva a diferença do fotoperíodo ao se comparar a temperatura. Ellerbrock&Lorbeer (Phytopathology, v.67, n.2, p.219-225, 1977) efetuou o crescimento de B. squamosa em meio de cultura no escuro durante três semanas para produção de micélio e escleródios. É provável que B. squamosa tenha seu desenvolvimento favorecido por menores períodos de luz, assim em dias nublados e com pouca luminosidade como o que ocorre durante o outono/inverno na região do Alto Vale do Itajaí durante o ciclo da cebola favorecem a o crescimento micelial e a ocorrência da doença. Conclui-se que o crescimento micelial de B. squamosa sofre influência da temperatura e do fotoperíodo, onde os maiores valores de crescimento são obtidos em temperaturas de 15 a 20°C, sendo a temperatura ótima de 18°C e o fotoperíodo de zero hora de luz. As informações obtidas em relação à temperatura e o fotoperíodo no crescimento micelial de B. squamosa permitem um maior conhecimento da biologia do agente causal da queima das pontas da cebola, auxiliando no entendimento da epidemiologia e suporte para manejo da doença no campo.

Figura 1
Curva de crescimento micelial (cm) in vitro de Botrytis squamosa em diferentes temperaturas (A) e fotoperíodos (B). IFC/Campus Rio do Sul, 2016.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Alderman, S.C.; Lacy, M.L. Influence of dew period and temperature on infection of onion leaves. Phytopathology, St. Paul, v.73, n.8. p.1020-1023, 1983.
  • 2
    Ellerbrock, L.A.; Lorbeer, J.W. Survival sclerotia and conidia of Botrytis squamosa Phytopathology, St. Paul, v.67, n.2, p.219-225, 1977.
  • 3
    Leite, R.M.V.B.; Oliveira, M.F.; Vieira, O.V.; Castiglioni, V.B.R. Incidência de podridão branca causada por Sclerotinia sclerotiorum em girassol semeado após a colheita da safra de verão, no estado do Paraná. Summa phytopathologica, v.26, n.2, p.81-84, 2000.
  • 4
    Sutton, J.C.; James, T.D.W.; Rowell, P.M. Botcast: A forecasting system to time the initial fungicide spray for managing botrytis leaf blight of onions. Agriculture, ecosystems and environment, v.18, n.2, p.123-143, 1986.
  • 5
    Wordell Filho, J. A.; Boff, P. Queima acizentada – Botrytis squamosa Walker. In: Wordell Filho, J.A.; Rowe, E.; Gonçalves, P.A.; Debarba, J.F.; Boff, P.; Thomazelli, L.F. Manejo Fitossanitário na cultura da cebola Florianópolis: EPAGRI, p.19-30, 2006.
  • 6
    Xavier, A. Efeito da temperatura e do fotoperíodo no desenvolvimento micelial de Sclerotium cepivorum, agente causal da podridão branca do alho e da cebola 2015. 27p. Trabalho de curso. Instituto Federal Catarinense, campus Rio do Sul, Rio do Sul.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2018

Histórico

  • Recebido
    16 Ago 2016
  • Aceito
    22 Set 2017
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