Resumo
A partir dos conceitos de hegemonia de Gramsci e de violência simbólica de Bourdieu, este artigo questiona a existência de uma americanização das Ciências Humanas e Sociais (CHS) francesas. Para responder a essa interrogação, propõe-se uma cartografia dos editores franceses e estrangeiros envolvidos na exportação/importação de obras de CHS, comparando os fluxos de tradução na França a partir das três línguas mais traduzidas nessa área – inglês, alemão e italiano. Tal comparação se apoia em uma análise quantitativa e qualitativa e permite examinar a evolução da relação de hegemonia intelectual entre tradições nacionais e também as relações de força entre campos editoriais nacionais e entre intermediários interculturais, por meio de vários índices: hegemonia do inglês, capital simbólico dos autores(as) e das tradições disciplinares nacionais e concentrações geográficas e editoriais, entre outros. Os dados levam a nuançar a ideia de uma “americanização” das CHS francesas, mas indicam igualmente que o aumento dos fluxos de tradução do inglês, em detrimento do alemão, revela mais uma hegemonia estadunidense do que uma dinâmica regional, provocada por diferentes lógicas: comercial, política, acadêmica e de acumulação de capital simbólico.1 1 Tradução realizada a partir do artigo L’américanisation des sciences humaines et sociales françaises ? Une cartographie des traductions de l’anglais, de l’allemand et de l’italien en français (2003-2013), mediante autorização. A autora agradece à Patricia C. R. Reuillard pela tradução.
Palavras-chaves
fluxos de tradução; Ciências Humanas e Sociais; cartografia editorial; violência simbólica; Pierre Bourdieu; Antonio Gramsci
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Fonte: Elaborado a partir de dados da base Electre.
Fonte: Elaborado a partir de dados da base Electre.
Fonte: Base de dados bibliográficos Electre recodificada (Interco-SSH). n = 2.560
Este gráfico representa a rede dos editores franceses que traduziram ao menos três títulos e os autores que têm ao menos três títulos traduzidos. Em azul, os editores; em vermelho, os autores (as obras de autores “coletivos” foram suprimidas). A dimensão do nó descreve o grau de centralidade conforme o número de autores traduzidos. Fonte: Elaborado por Mauricio Bustamante a partir de dados da pesquisa.
Este gráfico representa a relação entre os editores franceses que traduziram ao menos dois títulos (n=201) (quadrado) e os editores anglófonos que tiveram ao menos dois títulos traduzidos (n=139) (círculo), as linhas são o número de autores compartilhados. A dimensão do nó representa o número de títulos traduzidos no período estudado. Os editores anglófonos estão em azul. Fonte: Elaborado por Mauricio Bustamante a partir de dados da pesquisa.
Este gráfico representa a relação entre os editores franceses que traduziram ao menos dois títulos (n=75) (quadrado) e os editores alemães que tiveram ao menos dois títulos traduzidos (n=53) (círculo), as linhas são o número de autores compartilhados. A dimensão do nós representa o número de títulos traduzidos no período estudado. Os editores alemães estão em laranja. Fonte: Elaborado por Mauricio Bustamante a partir de dados da pesquisa.
Este gráfico representa a relação entre os editores franceses que traduziram ao menos dois títulos (n=89) (quadrado) e os editores italianos que tiveram ao menos dois títulos traduzidos (n=39) (círculo), as linhas são o número de autores compartilhados. A dimensão do nó representa o número de títulos traduzidos no período estudado. Os editores italianos estão em vermelho. Fonte: Elaborado por Mauricio Bustamante a partir de dados da pesquisa.
Este gráfico é uma análise de redes das relações entre todos os editores franceses (quadrados azuis) e os autores traduzidos (círculos vermelhos) presentes na base. Ele mostra a existência de uma rede estruturada em torno dos editores centrais que traduzem obras de autores também centrais e dos editores e autores periféricos, pelos quais os editores centrais não parecem se interessar. Para a legibilidade do gráfico, figuram apenas os nomes dos editores (quadrados azuis). A dimensão dos nós corresponde ao número de autores traduzidos. Por exemplo: Gallimard traduziu 106 títulos de 67 autores diferentes; assim, a dimensão corresponde aos 67 autores traduzidos. Fonte: Elaborado por Mauricio Bustamante a partir de dados da pesquisa.
Este gráfico representa a relação entre os editores franceses que traduziram ao menos dois títulos, as linhas são o número de autores compartilhados. A dimensão do círculo representa o número de títulos traduzidos no período estudado. A cor indica a língua majoritária de tradução: azul para os editores que traduzem majoritariamente do inglês, laranja para os do alemão e vermelho par aos do italiano. Em amarelo, estão os editores que compartilharam a tradução em várias línguas, nenhuma sendo majoritária. A forma do nó remete ao período majoritário dos autores traduzidos: a categoria “clássico” em quadrado, “século XX” em círculo, “contemporâneo” em triângulo; aqueles que traduzem autores dos diferentes períodos na mesma proporção, em diamante. Fonte: Elaborado por Mauricio Bustamante a partir de dados da pesquisa.
Este gráfico representa a relação entre os editores franceses que traduziram ao menos dois títulos (n-227) (quadrado) e os editores estrangeiros que tiveram dois títulos traduzidos (n=231) (círculo), as linhas são o número de autores compartilhados. A dimensão do nó representa o número de títulos traduzidos no período estudado. A cor indica a língua majoritária de origem: azul para o inglês, laranja para o alemão. Vermelho para o italiano e cinza para os editores franceses. Fonte: Elaborado por Mauricio Bustamante a partir de dados da pesquisa.