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RESUMOS DE LIVROS BOOKS REVIEWS

Oswaldo Paulo Forattini

Departamento de Epidemiologia - FSP/USP

Biosystematics of haematophagous insects by M.W. Service. Oxford, Clarendon Press, 1988

O tema não poderia ser mais oportuno. E isso diante da grave ameaça que pesa sobre a diversidade na biosfera, em virtude do grande número de espécies que são artificialmente extintas pela atividade antrópica. Exemplos dos mais significantes vêm a ser o representado pela intensa destruição das florestas úmidas tropicais, em várias partes do mundo. Com esse quadro, torna-se urgente o incremento de estudos biossistemáticos que possam propiciar a identificação de populações ainda desconhecidas. Essa extinção indiscriminada, na melhor das hipóteses, tende a privar a humanidade de recursos dificilmente renováveis como, por exemplo, substâncias medicamentosas e valiosos bancos de genes passíveis de utilização mediante o emprego de biotecnologia.

Diante disso, entende-se que livro tratando de biossistemática de insetos hematófagos desperte grande interesse. Na realidade, trata-se de série de trabalhos que foram apresentados em simpósio na Escola de Medicina Tropical de Liverpool que teve o indiscutível mérito de focalizar novas técnicas taxonômicas, tais como a baseada em análise de hidrocarbonetos cuticulares, em sondagens do DNA, em eletroforese e em citogenética. Contudo, teve também o mérito de reconhecer-lhes as limitações e de não considerá-las obrigatoriamente superiores à baseada na morfologia. Dessa forma, a reunião desses artigos em um volume traz a vantagem de propiciar a possível integração desses conhecimentos e técnicas para a consecução do mesmo objetivo.

Inicialmente, chama a atenção o capítulo de R.W.Crosskey, abordando a nova problemática taxonômica em insetos hematófagos. O autor tece comentários críticos sobre diversos aspectos do trabalho dessa especialidade, como por exemplo, a extensão das descrições e a sua autoria. É de se ponderar a necesidade de reduzir às formas mais simples e sintéticas os textos descritivos, bem como a impropriedade do excessivo número de nomes que costumam figurar nas descrições. Citanto exemplos da América do Sul, dentre os quais de flebotomíneos com cinco autores, há de se admitir que seria desejável que esse número fosse substancialmente reduzido, minimizando a carga que constitui citações desnecessárias.

Embora com vários capítulos dedicados a problemas regionais, é de se mencionar alguns de abordagem geográfica mais ampla com o de A. Phillips e col. sobre a análise de hidrocarbonetos cuticulares, o de K.C. Kim sobre paralelismo evolutivo em anopluros e o de C. Dahl sobre estudos taxonômicos em Culex pipiens. Para a região neotropical, pode-se mencionar os textos de A.J. Shelley e de J. Conn sobre Simulium, de R.D. Ward e col. sobre o complexo Lutzomyia longipalpis e o de C.J. Schofield sobre Triatominae.

Todos os assuntos tratados são atuais e refletem a experiência dos autores, constituindo-se em fontes de referência para estudos que necessitam ser feitos em nosso meio. O texto sobre citotaxonomia de vetores de malária, na Índia, de autoria de S.K. Subbarao e col., merece ser lido com atenção, diante das ainda escassas investigações sobre nossos anofelinos, e que somente agora tendem a ser objeto de atenção por parte de alguns pesquisadores. Bem assim, as seqüências do DNA no complexo Anopheles dirus, relatadas por S. Panayim e col.

A obra encerra-se com o aspecto panorâmico da temática, fornecido por M.W. Service, ao abordar novos instrumentos para velhos problemas taxonômicos. Trata-se de texto sobremodo abrangente e que fornece perspectivas bastante concretas para quem se dedica a esse campo de pesquisas.

Haveria que comentar o título da obra que menciona ''insetos hematófagos'', quando, há capítulos dedicados a ácaros e ixodídeos. Talvez seria melhor se fosse escolhida a expressão "artrópodes hematófagos". De qualquer maneira, trata-se de obra indispensável à consulta dos taxonomistas no amplo campo da entomologia médica.

Rubens de Camargo Ferreira Adorno

Departamento de Prática de Saúde Pública - FSP/USP

The struggle for the workers' health: a study of six industrialized countries, by R.H. Elling. New York, Baywood Publishing Company, Inc., 1986.

Partindo da tese de que a conquista de ambientes de trabalho mais salubres e mais seguros vincula-se ao grau de organização e força do movimento dos trabalhadores Elling descreve e compara a situação legal e institucional do sistema de saúde e segurança dos trabalhadores em 6 países: Estados Unidos, Finlândia, Grã Bretanha e Irlanda do Norte, Suécia e as então duas Alemanhas: Federal e Democrática.

Numa época em que o discurso neoliberal, procura levantar uma crítica aos movimentos sociais como meio de expressão de interesses na sociedade, este livro demonstra a partir de descrição de casos que a regulamentação e principalmente manutenção da saúde dos trabalhadores depende de sua ação organizativa.

Dedicando o livro aos "trabalhadores do mundo que devem se unir, tomar o controle de suas vidas e persistir na segurança e salubridade do trabalho", Elling, toma como princípio teórico o fato de que o trabalho como meio de sobrevivência e forma de ação humana determina a identidade de homens e mulheres.

A situação trabalho é comparada a uma conceituação da sociedade: espaço, poder , criatividade não são privilégios de todos; a maioria é massificada.

A partir deste marco teórico o livro vai descrever o grau de importância que a segurança e salubridade do trabalho têm em cada um dos países analisados, passando por uma descrição histórica, e de conquista e/ou formulação de leis e sistema de proteção à saúde do trabalhador durante as décadas de 60 e 70.

Destacamos que esse período analisado corresponde a uma conjuntura em que problemas como a violência as mortes traumáticas ganharam destaque em nível de políticas de Estado, tal como verificamos também em relação a políticas como o de combate à violência do trânsito. Tratava-se de período também de expansão econômica nos países ocidentais.

Como método de análise o autor utilizou do Estudo comparativo assimilado do modelo "cross-cultural study" da antropologia funcional.

O autor discute ainda a noção de "welfare state" a partir de idéias opostas: bismarkismo X marxismo no século XIX, adotando a concepção do segundo, conclui que a segurança e salubridade não advem do desenvolvimento ou densidade tecnológica de cada país industrializado, mas do grau de controle que os trabalhadores possam obter em relação ao processo de produção. Coerente com este princípio está a citação de autores como Gramsci e a idéia de hegemonia, e Navarro e a determinação social e política dos sistema de saúde.

Numa época em que o marketing neoliberal, como falamos anteriormente, e a corrida tecnológica buscam dominar a Razão pública, recomendamos a leitura desta obra, senão pela abordagem teórico-metodológica utilizada, pela informação sobre legislação e sistema de proteção ao trabalhador existente nesses países, muitas vezes colocados como "mito" ou modelo a ser sugerido, quer pelos programas de saúde, quer pela política econômica.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Set 2004
  • Data do Fascículo
    Jun 1991
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