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O objeto em causa na teoria lacaniana da sublimação

The object in question in Lacan’s theory of sublimation

L’objet en jeu dans la théorie lacanienne de la sublimation

El objeto en causa desde la teoría lacaniana de la sublimación

Resumos

O conceito de objeto e o lugar que ele ocupa na constituição subjetiva do ser falante são aspectos fundamentais na teoria lacaniana. A partir do axioma “a sublimação eleva o objeto à dignidade da Coisa”, formulado por Lacan em seu seminário sobre a ética da psicanálise (1959-60), este artigo visa precisar como o autor situa o objeto e sua relação com das Ding (a Coisa) no campo da sublimação. Para isso, considera-se que em todas as formas criadas pelo homem que procedem do registro desse destino pulsional o vazio é decisivo.

Palavras-chave
Sublimação; objeto; das Ding; pulsão


The concept of object and the place it occupies in the subjective constitution of the individual are some of the most fundamental aspects of Lacan’s theory. Based on the axiom “sublimation raises an object to the dignity of the thing,” formulated by Lacan in his seminar about ethics in psychoanalysis (1959-1960), this article details how the author frames the object and its relationship with das Ding within sublimation. In this regard, emptiness is considered to be decisive in all forms of human creation which come from this drive.

Keywords
Sublimation; object; das Ding; drive


Le concept d’objet et la place qu’il occupe dans la constitution subjective de l’individu font partie des aspects les plus fondamentaux chez Lacan. Partant de l’axiome « la sublimation élève l’objet à la dignité de la Chose », formulé par Lacan dans son séminaire sur l’éthique en psychanalyse (1959-1960), cet article précise comment l’auteur situe l’objet et son rapport avec das Ding dans le domaine de la sublimation. Pour cela, on considère que le vide est décisif dans toutes les formes créés par l’homme issues de ce destin pulsionnel.

Mots-clés
Sublimation; objet; das Ding; pulsion


El concepto de objeto y el lugar que ocupa en la constitución subjetiva del ser hablante son aspectos fundamentales en la teoría lacaniana. Partiendo del axioma “la sublimación eleva el objeto a la dignidad de la Cosa” formulado por Lacan en su seminario sobre la ética del Psicoanálisis (1959-1960), este artículo pretende esclarecer cómo el autor sitúa el objeto y su relación con das Ding (la Cosa) en el campo de la sublimación. Para ello, se considera que, en todas las formas creadas por el hombre que proceden del registro de este destino pulsional, el vacío es decisivo.

Palabras-clave
Sublimación; objeto; das Ding; pulsión


Introdução

Este artigo tem como objetivo abordar o conceito de objeto na teoria da sublimação de Jacques Lacan, a partir do axioma que, segundo o autor, define essa vicissitude: a sublimação é a elevação do objeto à dignidade da Coisa (Lacan, 1959-60/1988Lacan, J. (1988). O seminário. Livro 7. A ética da psicanálise. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1959-60)., p. 141).

Na concepção psicanalítica, a sexualidade humana é estruturada a partir de uma perda de objeto irreparável, pois o objeto, em sua função essencial, é aquilo que se furta a qualquer nível de captação, circunscrevendo-se como uma falta ôntica, impossível de ser suturada. Na sua dimensão contingencial, o objeto funciona na constituição subjetiva como um elemento que viabiliza o circuito da pulsão na busca de uma satisfação que será sempre parcial. Desse modo, no pensamento psicanalítico o objeto é introduzido não como aquele que satisfará plenamente uma pulsão, pois não há um objeto capaz de satisfazê-la totalmente, mas sim como falta deixada pela ausência de um objeto totalizante. Daí a ideia de que a pulsão não o atinge, mas o contorna. Como exemplo, Lacan (1954-55/1985a)Lacan, J. (1985a). O seminário. Livro 2. O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1954-55). ressalta em relação à dimensão oral da pulsão que “o objeto não é introduzido a título de alimento primitivo, é introduzido pelo fato de que nenhum alimento jamais satisfará a pulsão oral, senão contornando o objeto eternamente faltante” (p. 170). Em consonância com esse pensamento, em seu livro Fundamentos da psicanálise, vol. 2, o psicanalista Marco Antonio Coutinho Jorge (2000/2008)Jorge, M. A. C. (2008). Fundamentos da psicanálise, vol. 1: As bases conceituais. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 2000). destaca a premissa da qual Freud parte para a sua elaboração teórica sobre a sexualidade, premissa essa que foi resgatada por Lacan, de que a falta de objeto está no cerne da sexualidade humana. É em seu seminário sobre a relação de objeto (1956-57/1995Lacan, J. (1995). O seminário. Livro 4. A relação de objeto. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1956-57).) que Lacan introduz essa ideia. O autor sublinha, nesse seminário, que “jamais, em nossa experiência concreta da teoria analítica, podemos prescindir de uma noção da falta de objeto como central” (p. 35).

Quando Lacan (1959-60/1988)Lacan, J. (1988). O seminário. Livro 7. A ética da psicanálise. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1959-60)., em seu seminário sobre a ética, teoriza sobre a sublimação, reconhece nesse destino pulsional um funcionamento que evidencia essa falta de objeto. Tal como Freud, o psicanalista francês situa a sublimação como uma forma particular de satisfação pulsional, em que não há incidência do recalque sobre determinada moção pulsional, sendo essa desviada de seu alvo e objeto sexuais. Ainda conforme o pensamento freudiano, Lacan enfatiza que nesse processo estão em jogo tanto a plasticidade quanto a flexibilidade características da pulsão, características essas que no processo de recalque estão reduzidas ou até mesmo anuladas. O recalque leva a uma adesividade libidinal ao objeto, dando a ele, simbolicamente contingente, o estatuto de imaginariamente necessário. Dessa forma, o recalque difere do que acontece na sublimação, na qual se pode ver a dimensão concebida por Freud do objeto da pulsão, cuja característica primordial é a de ser um objekt totalmente indiferente, indeterminado: “É o que há de mais variável na pulsão, não estando originalmente a ela vinculado, sendo apenas a ela atribuído por sua capacidade de tornar possível a satisfação” (Freud, 1915/2013Freud, S. (2013). As pulsões e seus destinos. In Obras Incompletas de Sigmund Freud. Grupo Autêntica. (Trabalho original publicado em 1915)., p. 25). Portanto, para abordarmos o objeto pelo campo pulsional, é importante explorarmos melhor o que ocorre nesses dois destinos da pulsão, fundamentais e antinômicos: a sublimação e o recalque.

Recalque e sublimação

Em relação ao processo de desrecalcamento de uma Vorstelung-representanz, de um representante da representação pulsional, como o que ocorre num processo analítico, Jorge (2017, p. 121)Jorge, M. A. C. (2017). Fundamentos da psicanálise, vol. 3: A prática analítica. Jorge Zahar. sustenta que Freud indica três possibilidades de destino para essa pulsão: a satisfação direta, o juízo de condenação e a sublimação. Foi em 1909, por ocasião da comemoração do vigésimo ano de fundação da Clark University, Worcester, Massachusetts, que Freud e alguns de seus seguidores foram convidados pelo seu presidente, Stanley Hall, para uma honrosa participação. Durante essa comemoração Freud pronunciou, de improviso, cinco lições. No final da quinta lição destaca-se uma importante observação sobre a sublimação, quando ele descreve o que ocorre no tratamento analítico a respeito do processo de desrecalcamento. O psicanalista relatou o que, geralmente, acontece com os desejos inconscientes libertados pela psicanálise, e por quais meios eles podem se tornar inofensivos para o sujeito. Dessa forma, Freud apresentou as três possibilidades, já citadas, para a moção pulsional que foi desrecalcada: o juízo de condenação, ou seja, a capacidade que o sujeito adquire, pelo processo analítico, de poder deliberar1 1 Deliberar - noção introduzida por Marco Antonio Coutinho Jorge em seu livro Fundamentos da psicanálise, vol. 3. diante de uma moção pulsional antes ameaçadora; a sublimação, pela qual “a energia dos desejos infantis não se anula mas, ao contrário, permanece utilizável, substituindo-se o alvo de algumas tendências por outro mais elevado, quiçá não mais de ordem sexual” (Freud, 1910/1974dFreud, S. (1974d). Cinco lições de psicanálise. In Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XII). Imago. (Trabalho original publicado em 1910)., p. 50); e como o terceiro dos possíveis desenlaces, a satisfação direta, que Freud enfatiza sublinhando que parte dos desejos libidinais recalcados faz jus a ela e deve alcançá-la na vida.

Sendo assim, Freud deixa claro que se o destino tomado por uma moção pulsional é a sublimação, isso implica a não incidência do recalque. Dessa forma, para pensarmos a sublimação da moção pulsional desrecalcada, faz-se necessário abordar com mais precisão a distinção que se estabelece entre o recalque originário (Urverdrägung), e o recalque propriamente dito (Verdrängung).

Partindo dos conceitos freudianos de recalque e recalque originário, em consonância com o pensamento de Jorge sobre o conceito de sublimação, exploraremos a relação entre recalque e sublimação a partir de duas categorias: o proibido e o impossível. Essas duas categorias dizem respeito à interdição de uma satisfação total da pulsão sexual, referida ao momento mítico de uma primeira experiência de satisfação na constituição psíquica do sujeito. Essas duas dimensões de interdição se estabelecem em patamares distintos. Segundo Jorge, o recalque opera essa interdição no nível do proibido, enquanto a sublimação é um processo que se situa mais além da interdição e se refere ao impossível. Sendo assim, a sublimação é um destino pulsional referido ao que é da ordem do recalque originário, ou seja, da impossibilidade de haver um objeto que locuplete a falta-a-ser. Essas duas dimensões, do proibido e do impossível, portanto, são correlatas à diferença entre o recalque propriamente dito e o recalque originário.

O recalque originário diz respeito à incidência da castração na constituição subjetiva, ou seja, a uma perda de gozo. No pensamento lacaniano, ele se refere à inscrição do significante Nome-do-Pai, isto é, à inscrição psíquica da Lei da impossibilidade de um gozo absoluto, da impossibilidade de completude, da impossibilidade do incesto, da impossibilidade da relação sexual; diz respeito “àquilo que do inconsciente não será jamais interpretado” (Lacan, 1974/2002Lacan, J. (2002). A terceira. Cadernos Lacan (Vol. 2). APPOA 2. (Trabalho original publicado em 1974)., p. 17). Relembrar a definição princeps que Lacan fornece do Nome-do-Pai é instrutivo para se avaliar a relação íntima, indissociável entre Lei e castração: o Nome-do-Pai é o “significante que, no Outro como lugar do significante, é o significante do Outro como lugar da lei” (Lacan, 1966/1998Lacan, J. (1998). Escritos. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1966)., p. 590). Já o recalque propriamente dito, ele é o mecanismo intrapsíquico no qual as interdições incidem como proibições referentes às exigências do eu, do supereu e do mundo externo em conflito com as exigências libidinais do isso. Mas é importante sublinhar que o impossível está subjacente ao proibido, podendo-se mesmo chegar à conclusão de que o proibido apresenta uma função denegatória, ao que parece estrutural, em relação ao impossível.

Dessa forma, podemos supor que na sublimação - um dos destinos possíveis para a pulsão não recalcada ou desrecalcada - essa moção sublimada ainda sofre a ação de uma interdição que incide sobre sua satisfação plena. Pois, apesar dessa moção pulsional não estar mais sob a égide do regime do proibido, do recalque propriamente dito, ainda permanece sob o interdito do impossível, que diz respeito ao recalque originário, ou seja, diz respeito à impossibilidade de haver um objeto que possibilitaria uma satisfação absoluta. A interdição na dimensão do impossível é da ordem de uma falta ôntica, de uma falta-a-ser, uma falta que comparece na estrutura do sujeito e que é sua causa. Assim sendo, o que está em cena, na sublimação, não é mais o engodo do objeto imaginarizado, narcisicamente investido, mas o vazio produzido pela falta de objeto. Dito de outro modo, o processo de sublimação se produz pelo esvaziamento da imaginarização fálica do objeto, ressituando o sujeito em relação ao vazio, antes velado pelo objeto.

Lacan ressalta também, de acordo com o pensamento freudiano, a impossibilidade de sublimarmos tudo e que haverá sempre a exigência de uma satisfação direta concomitante ao processo de sublimar, como ele enfatiza em seu seminário 7: “Alguma coisa não pode ser sublimada, há uma exigência libidinal. A exigência de uma certa dose, de uma certa taxa de satisfação direta, sem o que resultam danos e perturbações graves” (Lacan, 1959-60/1988Lacan, J. (1988). O seminário. Livro 7. A ética da psicanálise. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1959-60)., p. 116). Assim como Freud, Lacan aponta que, no nível da sublimação, o objeto é inseparável de elaborações imaginárias. Nesse sentido, as sublimações exercem sua função social, pois “a sociedade encontra uma certa felicidade nas miragens que lhe fornecem moralistas, artistas, artesãos, fabricantes de vestido ou de chapéus, os criadores de formas imaginárias” (p. 126). Mas, se por um lado, há um viés da sublimação que apazigua, ao engodar o que diz respeito ao que está no núcleo de qualquer criação - o vazio -, por outro, Lacan nos adverte que não é nessa vertente de função imaginária, de engodo, que um objeto criado a partir da sublimação busca seu móvel, mas sim no viés do que essa vicissitude pulsional revela, o apontamento do que está para além do objeto, das Ding, a Coisa.

Entre o objeto e das Ding

A sublimação é um conceito imprescindível da teoria psicanalítica, nos adverte Jorge (2000/2008)Jorge, M. A. C. (2008). Fundamentos da psicanálise, vol. 1: As bases conceituais. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 2000)., enfatizando que “o próprio advento do funcionamento pulsional, na espécie humana, é correlato do advento de uma plasticidade sexual que é inerente à sublimação” (p. 152). É no funcionamento dessa vicissitude específica que ocorrerá um desvio de meta, a partir da inibição de uma satisfação direta, onde a satisfação será não sexual. Essa ideia leva Freud, em 1914, a partir de seu estudo sobre o narcisismo, a supor a noção de dessexualização pulsional no que diz respeito à sublimação. Ideia que o autor explora, ainda mais, no seu texto de 1923 “O eu e o isso”, quando levanta a hipótese de uma atividade sexual ser transformada numa atividade sublimada, a partir da retração da libido para o eu.

Já em Lacan, é no seminário sobre a ética da psicanálise, de 1959-60, que iremos encontrar a maior parte da teorização sobre a sublimação, onde o autor vai aproximar a vicissitude em questão da pulsão de morte. Essa aproximação é devida à suposição de Lacan (1959-60/1988)Lacan, J. (1988). O seminário. Livro 7. A ética da psicanálise. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1959-60)., de que das Ding é o lugar eleito onde se produz a sublimação, “onde se projeta algo para além, na origem da cadeia significante, lugar onde tudo que é lugar do ser é posto em causa” (p. 262) e a pulsão de morte constitui esse “para além” ao qual das Ding está referido. Lacan extrai o termo das Ding de um manuscrito de Freud que, posteriormente, foi incorporado às Obras Completas, o “Projeto para uma psicologia científica”, de 1895. Nesse ensaio, Freud introduz a noção de das Ding já indicando um para além do princípio de prazer, identificado como o que funda a compulsão à repetição - busca de reencontro do objeto outrora perdido -, referido à primeira experiência da busca de satisfação. Experiência essa que tem uma dimensão mítica, por estar referida ao encontro do objeto que proporcionaria a satisfação completa, o que é impossível, porque não há esse objeto. No “Projeto...”, Freud ressalta que das Ding é justamente o que há em comum entre a representação-lembrança e a representação-percepção, sem que, no entanto, seja redutível a uma ou a outra. É uma estrutura constante, porém não assimilável. É o resíduo que escapa ao juízo, estando, desse modo, fora daquilo que é regulado pelo princípio de prazer, o que faz Lacan afirmar em 1960 que “o campo de das Ding é o campo onde o princípio de prazer gravita” (Lacan, 1959-60/1988Lacan, J. (1988). O seminário. Livro 7. A ética da psicanálise. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1959-60)., p. 68).

Desse modo, a partir de reflexões sobre o pensamento heideggeriano, Lacan nos faz supor que, como nos indica François Regnault (2000/2007)Regnault, F. (2007). Ex nihilo. In G. Iannini (Org.), O tempo, o objeto e o avesso - ensaios de filosofia e psicanálise. Autêntica. (Trabalho original publicado em 2000)., “no campo freudiano aquilo que recebe o nome de vazio é a Coisa” (p. 73). Lacan se reporta a um artigo de Martin Heidegger intitulado Das Ding, A Coisa, que faz parte da coletânea de Ensaios e conferências, publicada em 1954. Essa coletânea reúne ensaios críticos e conferências proferidas por Heidegger nos primeiros anos da década de 1950. Nesse ensaio, para analisar a Coisa o autor utiliza o vaso como recipiente para chegar ao vazio:

O que é o vaso? O vaso é uma Coisa, um recipiente, algo que acolhe em si algo distinto dele, o vazio que sua essência porta. Mas, encontrar a essência da Coisa não é encontrar o que é a Coisa. Correr no encontro dessa essência é perder-se no mundo revelado por ela. (Heidegger, 1958/2002Heidegger, M. (2002). A coisa. In Ensaios e conferências (Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback, Trad.). Vozes. (Trabalho original publicado em 1958)., p. 195)

Lacan usa a metáfora do vaso partindo da distinção elementar entre seu emprego de utensílio e a sua função de significante. Como primeiro significante modelado pela mão do homem, o vaso é puro significante e em nada significado, por não haver nada que o particularize em sua função. O vaso é o vazio que ele cria e, como tal, cria o vazio a partir da perspectiva de preenchê-lo:

O vazio e o pleno são introduzidos pelo vaso num mundo que, por si mesmo, não conhece semelhante. É a partir desse significante modelado que é o vaso, que o vazio e o pleno entram como tais no mundo com o mesmo sentido [...] (Lacan, 1959-60/1988Lacan, J. (1988). O seminário. Livro 7. A ética da psicanálise. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1959-60)., p. 152)

O vaso só pode estar pleno na medida em que, em sua essência, ele é vazio. Partindo dessa metáfora, o vaso é o objeto que vem representar a existência do vazio no centro do real que se chama a Coisa, esse vazio que se apresenta como nihil, como nada. Cria-se o vaso em torno do nada, portanto, o criador cria a partir do furo. A modelagem do significante é, desse modo, a introdução no real de uma hiância, de um furo: “A introdução desse significante modelado que é o vaso já constitui a noção inteira da criação ex nihilo. E ocorre que a criação ex nihilo é coextensiva da exata situação da Coisa como tal” (p. 154).

Ao implicar das Ding na sublimação, Lacan radicaliza o conceito dessa vicissitude pulsional. Ele ressalta, como já indicamos acima, que a moção pulsional sublimada se dirige ao que está para além do objeto; com isso ele esclarece, portanto, que diferentemente do que acontece na economia de outros destinos pulsionais, o circuito da pulsão se dará, não em torno de um objeto libidinalmente investido, mas sim, em torno do vazio. Assim, como sublinha Jorge, Lacan destaca que a sublimação é a vicissitude pulsional que, de forma precisa, revela a natureza própria da pulsão, por indicar a Coisa para além do objeto e evidenciar o impossível de haver um objeto que satisfaça por completo a pulsão. No vetor desse pensamento, Lacan conclui que tudo que é criado pelo homem é do registro da sublimação, e quanto a esse destino pulsional mais uma vez ele reitera que não há evitação do vazio, pois em toda forma de sublimação o vazio é determinante.

Essa Coisa, da qual todas as formas criadas pelo homem são do registro da sublimação, será sempre representada por um vazio, precisamente pelo fato de ela não poder ser representada senão por outra coisa (Lacan, 1959-60/1988Lacan, J. (1988). O seminário. Livro 7. A ética da psicanálise. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1959-60)., p. 162).

Nesse mesmo seminário, Lacan chama atenção para uma nota nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, em que Freud salienta que para o homem moderno o relevo da libido está no objeto, enquanto para o homem da antiguidade está na tendência. É nessa diferença que ele ressalta a importância de situar a sublimação como certo ultrapassamento pulsional que está em jogo. Toda a teoria sobre o amor cortês, da qual Lacan lança mão em sua elaboração sobre a sublimação, revela essa dimensão de ultrapassamento, em que a ênfase está na tendência e não no objeto que é demonstrado na figura da Dama, pois todas têm as mesmas características: “Todos os poetas parecem dirigir-se à mesma pessoa” (Lacan, 1959--60/1988Lacan, J. (1988). O seminário. Livro 7. A ética da psicanálise. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1959-60)., p. 179), ou seja, a imagem da Dama é na verdade o que resta de um objeto esvaziado de todo traço imaginário que lhe determine qualquer atributo ou qualidade que a individualize. Ao contrário do que se possa pensar, no amor cortês, enquanto paradigma da sublimação, a Dama está despojada de qualquer traço idealizador; desse modo, ela não ocupa o lugar de Sachvorstellung, mas de das Ding. Essa diferença entre idealização e sublimação é de extrema importância, pois muitas vezes esses conceitos se confundem, dando margem a ideias equivocadas. Porém, em seu ensaio de 1914, “Introdução ao narcisismo”, Freud é preciso em estabelecer essa diferença: “Na medida, portanto, em que a sublimação descreve algo que sucede à pulsão, algo que diz respeito ao objeto, devemos separá-las conceitualmente” (Freud, 1914/2010, p. 41). Nesse mesmo texto, Freud adverte que a idealização aumenta as exigências do eu, o que favorece o recalque enquanto a sublimação representa a saída que atende a essa exigência, mas sem ocasionar recalcamento.

No livro Tratado do Amor Cortês, de André Capelão, o autor fala desse amor em consonância com o que Lacan nos apresenta. O amor cortês, segundo o autor medieval, é feito da tensão perpétua do desejo sempre exacerbado que é fonte de aperfeiçoamento. Ele cita o que cantam os trovadores: “A separação, a ausência da senhora, a recompensa que se faz esperar, essa é a atmosfera em que se desenvolve esse sofrimento delicioso. A separação torna mais intenso o desejo amoroso e o eleva. O objeto desse desejo parece inacessível” (Capelão, 2019Capelão, A. (2019). Tratado do Amor Cortês. Martins Fontes., p. XLI). Assim, Lacan (1959-60/1988Lacan, J. (1988). O seminário. Livro 7. A ética da psicanálise. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1959-60).)encontra expresso na literatura medieval cortesã o que seu axioma sobre a sublimação indica, destacando que esse destino pulsional incide na diferença entre objeto e das Ding:

É na relação de miragem que a noção de objeto é introduzida. Mas esse objeto não é a mesma coisa que aquele visado no horizonte da tendência. Entre o objeto, tal como é estruturado pela relação narcísica, e das Ding há uma diferença, e é justamente na vertente dessa diferença que se situa, para nós, o problema da sublimação. (p. 124)

Dos objetos de desejo ao objeto causa do desejo

Os objetos que se perfilam como objetos parciais na esfera pulsional são o seio e as fezes, destacados por Freud, a voz e o olhar acrescentados por Lacan; eles se aproximam do que posteriormente Lacan vai conceber como o objeto a, sua única invenção teórica, como ele próprio sublinha. Em “A Terceira”, Lacan (1974/1980) ressalta que o fato de ter escrito o objeto a o aparenta à lógica, ou seja, o torna operante no real, “a título do objeto do qual justamente não há ideia, o que, é preciso dizê-lo, era um buraco até agora em qualquer teoria que seja, o objeto do qual não há ideia” (p. 5).

O objeto a, no pensamento lacaniano, apesar de ter sido introduzido como um conceito em sua teoria somente em 1963, no seminário sobre a angústia, provém de reflexões sobre o objeto desde quando o autor formulou o Estádio do espelho. Foi por ocasião do XIV Congresso da IPA, em Marienbad, no ano de 1936, que Lacan proferiu sua tese sobre o estádio do espelho. O texto dessa conferência não tem registro, mas o conteúdo vai aparecer em artigos posteriores, como “O estádio do espelho como formador da função do eu”, nos Escritos, de 1949. Nessa época, a relação com o objeto é predominantemente imaginária, uma relação que se estabelece no eixo especular, como posteriormente o autor vai apresentar no seu esquema L, em 1955, no seminário O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise, em que Lacan (1954-55/1985a)Lacan, J. (1985a). O seminário. Livro 2. O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1954-55). destaca que o “eu é uma forma absolutamente fundamental para a constituição dos objetos” (p. 307).

No início de seu ensino, portanto, consonante com a ideia freudiana, Lacan (1954-55/1985a)Lacan, J. (1985a). O seminário. Livro 2. O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1954-55). pensa o objeto como perdido, é o objeto a ser redescoberto que se opõe à ideia de um sujeito autônomo que pressuporia um objeto acabado: “Toda apreensão humana da realidade está submetida a essa condição primordial - o sujeito está na busca do objeto de seu desejo, mas nada o conduz a ele” (p. 101).

Seguindo a concepção freudiana, Lacan inicialmente supõe o objeto numa dimensão de reciprocidade imaginária, em que a identificação estaria no fundo de toda a relação sujeito-objeto. Mas é no seminário A relação de objeto (1956-57), ao abordar a trilogia privação, frustração e castração, que Lacan avança em seu pensamento, ao estabelecer três dimensões distintas do objeto. Ele postula que na privação, na qual a falta é real, o objeto é simbólico; na frustração, quando a falta se manifesta como imaginária, o objeto é real; e na castração, quando a falta incide no simbólico, o objeto é imaginário. Essas três categorias são articuladas por Lacan como operações que ocorrem no processo de constituição subjetiva, onde o objeto está sempre, em relação ao sujeito, numa relação de falta. O que é essencial, nesse momento, é que Lacan demonstra que é a partir dessas experiências psíquicas pelas quais o sujeito estabelece uma relação de presença/ausência com o objeto, que ele se engendra na ordem simbólica. Porém, é somente com o advento da castração, como efeito de interdição, que as outras duas experiências de falta em relação ao objeto - privação e frustração (mesmo sendo experiências com uma anterioridade lógica em relação à castração) - se inscrevem subjetivamente, o efeito psíquico se dá a posteriori, é o Nachträglich freudiano. A noção de castração, como Lacan nos adverte, está em toda obra de Freud, ela é o signo do drama edípico. É somente em 1908, na análise do pequeno Hans, que o complexo de castração é descrito pela primeira vez, referido à teoria sexual infantil. O complexo é centrado na fantasia de castração que aparece através da função de interdição. Segundo o pensamento freudiano, a gênese do complexo de castração se deve à verificação pela criança da diferença anatômica dos sexos, o que, dessa forma, autentica uma ameaça de castração real ou fantasística.

Posteriormente, em 1961, no seminário sobre a transferência, em que Lacan comenta longamente, durante 11 sessões, o Banquete de Platão para falar sobre o amor num diálogo que gira em torno da questão do ágalma, o psicanalista apresenta uma nova versão do objeto, a versão agalmática. O objeto nessa dimensão proposta por Lacan é o objeto correlativo ao objeto do desejo, não o objeto do transitivismo ou da equivalência, mas alguma coisa que é visada pelo desejo como tal, “que acentua um objeto entre todos, por não ter comparação com os outros” (Lacan, 1960-61/1992aLacan, J. (1992a). O seminário. Livro 8. A transferência. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1960-61)., p. 149). É, portanto, nesse momento de seu ensino que Lacan já prenuncia o que irá conceituar dois anos mais tarde, o objeto a, pois aqui o ágalma representa o caráter sumamente enigmático do objeto do desejo e sua relação com o real da falta” (Jorge, 2000/2008Jorge, M. A. C. (2008). Fundamentos da psicanálise, vol. 1: As bases conceituais. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 2000)., p. 139).

Desde seus seminários mais iniciais, portanto, Lacan já traz a relevância da relação do sujeito com o objeto como fator constitutivo da estrutura psíquica, mas é somente no seminário sobre a angústia, de 1962-63, como já assinalamos, que Lacan introduz o objeto a como um conceito. Esse conceito criado por Lacan traz em sua essência a diferença entre objeto causa do desejo e objeto do desejo. O objeto a lacaniano, objeto causa de desejo, diz respeito à falta estrutural, é o que constitui o sujeito como causa de sua divisão.

Mas não podemos deixar de destacar que o conceito de objeto em Lacan sofreu influências tanto da noção kleiniana de objeto bom e objeto mau, que diz respeito a como o objeto comparece na fantasia da criança, “e que remete a uma clivagem do objeto em bom e mau (por exemplo, mãe boa, mãe má), conforme esse objeto seja sentido como frustrante ou gratificante” (Roudinesco & Plon, 1997/1998Roudinesco, E.; & Plon, M. (1998). Dicionário de psicanálise. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1997)., p. 550), como também e principalmente, da concepção winnicottiana de objeto transicional. Winnicott situou o objeto transicional como a primeira propriedade não eu na constituição subjetiva da criança. Esse objeto tem a função de proteger a criança da angústia de separação do corpo da mãe, possibilitando um processo de diferenciação psíquica entre o eu e o não eu. Portanto, as concepções de objeto desses dois autores contribuíram muito para a criação lacaniana do objeto a (Jorge, 2022Jorge, M. A. C. (2022). Fundamentos da psicanálise, vol. 4: O laboratório do analista. Jorge Zahar.).

Nos seminários posteriores, principalmente a partir do seminário 16, De um Outro ao outro, quando traz para o centro reflexivo de seu pensamento a teoria do gozo, é aludindo ao conceito de mais-valia em Marx que Lacan dimensiona o objeto a como mais-gozar, ou seja, é o que se perde de gozo, impossível de ser recuperado, é um resto resultante da impossibilidade de um gozo absoluto.

Assim também, em 1969, a partir dos elementos matêmicos S1, S2, $ e a, Lacan formula o que chamou de relação fundamental em seu seminário O avesso da psicanálise, demonstrando que é somente a partir da intervenção de S1 (o traço que diz respeito à singularidade subjetiva) no campo já constituído dos significantes (S2), que o sujeito surge como dividido, $, pois ele é efeito de algo que se define como falta, “e é a isto que designa a, letra que se lê como objeto a” (Lacan, 1969-70/1992bLacan, J. (1992b). O seminário. Livro 17. O avesso da psicanálise. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1969-70)., p. 13). Nessa operação, o sujeito se constitui como efeito da hiância que se estabelece entre significantes e que implica a queda do objeto a como resto.

Observações finais

Na teoria lacaniana, podemos constatar que há uma complexidade do conceito de objeto e o lugar que ele ocupa na constituição subjetiva do ser falante. Em 1960, período que mais nos interessa no que diz respeito à sublimação, é a dimensão de das Ding que entra em cena e que pode ser concebida como aquilo que funda a repetição. Em um de seus últimos ensaios, “A análise finita e a infinita”, de 1937, Freud se pergunta se há limites para a ligação (Bindung) das pulsões, fazendo nítida referência à impossibilidade de as “dominarmos”, principalmente se levarmos em conta a compulsão à repetição, que é inerente à pulsão. Freud é o primeiro a reconhecer o caráter inesgotável da força pulsional ao sublinhar a força constante da repetição de seu circuito em busca de satisfação.

A repetição não é a reprodução do mesmo, ela é repetição da diferença, a partir do momento em que o que está em jogo é o reencontro com o objeto, que implica sempre uma perda. No ano de 1964, em seu Seminário Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, Lacan inclui a repetição entre esses quatro conceitos, junto com o inconsciente, a transferência e a pulsão. Referindo-se à physis aristotélica, extrai dessa teoria dois termos para nomear as duas dimensões da repetição, tiquê e autômaton. A elaboração do conceito freudiano de repetição a partir de 1920, com a introdução do conceito de pulsão de morte, é para Lacan o que ele define como tiquê, encontro com o Real, ou seja, é a dimensão da repetição como um encontro com o Real que insiste em não se escrever, que está para além da dimensão da repetição em seu aspecto de insistência automática da rede de significantes, que se produz em signos sob o comando do princípio de prazer, o autômaton.

Dessa forma, podemos entender, com Lacan, que é pela repetição de um encontro faltoso, a repetição na sua dimensão de tiquê, que o vazio causado pela impossibilidade de apreensão do que é da ordem de das Ding se presentifica, ou seja, é no lugar da perda introduzida pela repetição que surge a ficção do objeto perdido.

A Coisa, das Ding, como reitera Lacan, se apresenta como unidade velada. Ela ocupa, no que tange à temática do princípio de prazer, um lugar na constituição psíquica. Ou seja, a ideia do princípio de prazer freudiano, constituído como tal, só foi possível diante da hipótese de haver um campo do irrepresentável, do impossível de ser apreendido, que tem seu lugar no psiquismo, e em 1960 esse campo é nomeado por Lacan de das Ding. Seu campo se apresenta como o Real, o que é impossível de ser simbolizado. Assim, a Coisa só pode ser representada pelo que Lacan chama de a Outra coisa, ou seja, pelo objeto reencontrado, que na verdade é o objeto que traz na sua essência a condição de objeto desde sempre perdido, o qual só pode ser dimensionado como perdido a partir de reachados, de reencontros, num só depois. Dessa forma, na sublimação o “objeto é instaurado numa certa relação com a Coisa que é feita simultaneamente para cingir, para presentificar e para ausentificar” (Lacan, 1959-60/1988Lacan, J. (1988). O seminário. Livro 7. A ética da psicanálise. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1959-60)., p. 176), é o objeto criado que será sempre não idêntico ao eu e guardará a dimensão da impossibilidade de completude.

Chama atenção que o estudo feito por Lacan sobre a sublimação em 1960, no qual o autor estabelece uma relação entre o objeto e das Ding, tenha sido abordado durante seus ensinamentos sobre a ética psicanalítica. Ética essa que é expressa pelo autor como a ética do não ceder sobre seu desejo, ou seja, a ética que aponta não para a universalidade inerente à moral aristotélica para atingir um Bem Supremo, mas sim a ética que diz respeito à singularidade subjetiva. Assim, a sublimação, por ser o destino pulsional que possibilita a assunção do vazio que está para além do objeto, implica, também, a emergência do sujeito desejante em seu ato de criação.

E o que podemos supor, através dessas reflexões, acompanhando a evolução do pensamento lacaniano, é que a abordagem feita da sublimação em 1960, como o destino pulsional que incide entre o objeto e das Ding, foi um fator que muito contribuiu para que três anos depois Lacan concebesse o objeto a, enfatizando que sua única tradução subjetiva é a angústia: “O objeto a, este ano, está no centro de nosso discurso. Se ele se inscreve no âmbito de um Seminário que intitulei ‘a angústia’, é por ser essencialmente por esse meio que se pode falar dele, o que também é dizer que a angústia é sua única tradução subjetiva” (Lacan, 1962-63/2004Lacan, J. (2004). O seminário. Livro 10. Angústia. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1962-63)., p. 113). Mas, diante do vazio, que é da ordem do Real, se a angústia entra em cena, por um lado, a sublimação e a possibilidade de criação entram em jogo, por outro, como saída, assim como Freud (1930/2020)Freud, S. (2020). O mal-estar na cultura. In Obras incompletas de Sigmund Freud - Cultura, sociedade e religião. Autêntica (Trabalho original publicado em 1930). atesta em seu ensaio “O mal-estar na cultura”:

Outra técnica de defesa contra o sofrimento serve-se dos deslocamentos da libido, os quais nosso aparelho anímico autoriza, e através dos quais sua função ganha tanto de flexibilidade. [...] A sublimação das pulsões presta aqui sua ajuda. Estaremos obtendo o máximo se soubermos elevar suficientemente o ganho de prazer que provém das fontes de trabalho psíquico e intelectual. Nesse caso, o destino pouco nos fará mal. As satisfações dessa espécie, tal como a alegria do artista com a criação, com a encarnação da figura de sua fantasia, a do pesquisador com a solução de problemas e com o reconhecimento da verdade, possuem uma qualidade particular, que certamente um dia poderemos caracterizar metapsicologicamente. (p. 325)

  • Financiamento/Funding: Este trabalho não recebeu apoio. / This work received no funding.
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    Deliberar - noção introduzida por Marco Antonio Coutinho Jorge em seu livro Fundamentos da psicanálise, vol. 3.

Referências

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Editora/Editor: Prof. Dra. Maria Livia Tourinho Moretto.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Mar 2023
  • Data do Fascículo
    Dez 2022

Histórico

  • Recebido
    23 Mar 2022
  • Aceito
    24 Nov 2022
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