A autora apresenta os resultados de pesquisa sobre abortamento provocado por 300 gestantes internadas na Unidade Ginecológica do Pronto-Socorro Obstétrico do Amparo Maternal, na Cidade de São Paulo, nos anos de 1970 e 1973.
O levantamento evidenciou os principais resultados:
— todas as gestantes pertenciam ao mesmo nível sócio-eco-nômico; destas, 95% (285) eram empregadas domésticas;
— 20% (60) eram analfabetas, 50% (150) tinham instrução primária incompleta e 23,3% (70) contavam com o primário completo;
— na primeira entrevista, 66,7% das gestantes (200) alegaram que a causa do abortamento havia sido ocasionada por "quedas", 23,3% (70) alegaram como causa o "susto";
— as 300 gestantes, em entrevistas subseqüentes, passaram a declarar que haviam provocado o abortamento. Entre os processos mais usados pelas gestantes prevaleceu a sonda de borracha, utilizada por 69,3% (208);
— entre os responsáveis pela indução do abortamento destacaram-se a "curiosa", 67,0% (201) e a própria mulher, 22,7% (68);
— entre os motivos que levaram a gestante a provocar o aborto destacaram-se: os psico-sociais, num total de 62,3% (187); os motivos econômicos foram apontados por 31,0% (93) da população;
— as principais conseqüências físicas do abortamento provocado na população em estudo foram: as infecções moderadas e graves em 55,0% (165) e o choque hemorrágico em 12,0% (36);
— entre as reações emocionais, em conseqüência do abortamento, destacaram-se: o "sentimento de arrependimento e de remorso", expressado por 41,7% (125), o "sentimento de auto-reprovação", 27,7% (83) e o "sentimento religioso de culpa", 26,3% (79).