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ORGANIZAÇÃO DE UM SERVIÇO DE ENFERMAGEM EM NÍVEL CENTRAL

I. Introdução

A implantação do Serviço de Enfermagem (HHEN) do Departamento de Técnica Hospitalar da Coordenadoria de Assistência Hospitalar da Secretaria da Saúde de Estado exigiu, "a priori", a determinação de metas a curto, médio e longo prazo, baseada:

  1. na estrutura existente, cuja organização interna apresentava pontos fortes e fracos;

  2. na análise dos recursos disponíveis, e das condições gerais encontradas nos Serviços de Enfermagem;

  3. na expectativa existente em relação à enfermgaem e à atuação deste Serviço, na Coordenadoria de Assistência Hospitalar (CAH).

A tentativa de conduzir o Serviço de Enfermagem, baseada nos objetivos propostos, foi uma parcela mínima de atuação, dentro da complexa estrutura pública; somente a partir de 1970, com as medidas para a reforma administrativa da Secretaria de Saúde, as autoridades tomaram consciência e começaram a proporcionar meios para a implantação de uma nova orientação.

Fines, em seu livro, refere-se ao início desta revolução de conceito, em 1906, e à efetivação destes conceitos, após o término da Segunda Guerra, por volta de 1947; exatamente vinte e quatro anos depois, iniciamos a nova orientação.

Inicialmente, traçamos nossa meta na necessidade de implantar o Serviço de Enfermagem e vender os resultados positivos que a enfermagem é capaz de produzir, para os demais elementos da equipe, que até aquele momento, estiveram trabalhando com um mínimo de pessoal profissional, em outras unidades, até mesmo sem nenhum pessoal profissional, pelo que vinham mantendo uma rotina imediatista, sem outros objetivos.

Por outro lado, a expectativa da comunidade de uma crescente melhora do padrão de serviços de saúde, graças à conscientização de povo, no direito à saúde e aos resursos técnicos que a medicina vem conquistando, fez com que meditássemos na responsabilidade da atuação da equipe do Serviço (HHEN) perante a comunidade, e nos muitos profissionais que desejam e sentem a necessidade de mudança da situação: sair da rotina imediata do atendimento improvisado para a fase de planejamento e da participação organizada, já que hoje isso se torna possível, graças aos caminhos que a pesquisa abriu dentro da enfermagem, da medicina, das ciências sociais e administrativas.

Não obstante a série de problemas ou obstáculos, a meditação das proposições e a convicção de que só uma filosofia de trabalho e uma ação contínua e decisiva poderão transpor as barreiras e os muitos obstáculos existentes, nos têm impulsionado a continuar no alcance dos objetivos a longo prazo.

Acreditamos ter havido uma crescente melhora, mais acentuada em algumas unidades, onde houve por parte do grupo receptor, melhor acolhida e aceitação.

Outro fator sentido foi a falta de preparo e de liderança das enfermeiras chefes, o que contribui para dificultar a implantação de uma nova sistemática de trabalho.

A nossa participação na Divisão de Fiscalização tornou-se válida como auditoria, tanto na área das nossas unidades, como de outras Coordenadorias e nas unidades particulares filantrópicas ou lucrativas.

O Departamento de Técnica Hospitalar tem procurado cada vez mais incentivar um sistema de orientação, nas áreas onde possui pessoal técnico, decorrente do trabalho de auditoria. A função de auditor se encerra no ponto extinto da ação da auditoria; contudo, a continuidade depende dos interessados sentirem necessidade de novas recomendações ou orientações nos problemas que proporcionalmente são levantados, sempre numa tentativa de melhorar os recursos existentes na prestação da assistência médica e de enfermagem.

Na recente pesquisa (dezembro de 1972) realizada pela Dra. Maria Ivete Ribeiro de Oliveira, na sua tese de doutouramento, enfocando a enfermeira como coordenadora da assistência ao paciente, alerta as enfermeiras na responsabilidade de seu papel, em proporcionar uma melhor assistência ao paciente, evidenciando quão grande é a responsabilidade dos Serviços que atuam na área da assistência de enfermagem.

A nossa tarefa não se tem limitado somente aos hospitais, mac também às Escolas e Cursos de formação de auxiliares de enfermagem, da Coordenadoria de Assistência Hospitalar e daquele (as) que mantêm convênios com a mesma. A nossa atuação tfm visado promover ou manter um padrão de ensino, através de orientação, assistência e fiscalização, uma vez que, por outro lado. temos promovido a abertura de mercado de trabalho nas nossas instituições ou incentivando a abertura naquelas outras. em que temes tido cportunidade de atuar.

Gostaríamos, a esta altura, de poder apresentar um "know-how" de enfermagem; porêm é desejar muito para um serviço que somente a partir de setembro de 1971, começou suas atividades, estando o mesmo inserido dentro da complexa estrutura do serviço público. Mas, dados quantitativos de pessoal qualificado e o resumo das atividades efetuadas, aliado ao esforço de penetração em áreas resistentes, poderão traduzir a atuação do Serviço no presente trabalho.

2. Organização

O Serviço de Enfermagem está situado no Departamento de Técnica Hospitalar da Coordenadoria de Assistência da Secretaria, da Saúde do Estado de São Paulo (Decreto n.º 52.182 de 16.07.69).

O Serviço foi implantado, em junho de 1971, com uma enfermeira; atualmente conta com sete.

Na época do Decreto, já existia a Escola de Auxiliares de Enfermagem de Assis, subordinada ao Departamento de Técnica Hospitalar (HH.), um dos cinco departamentos constituintes da Coordenadoria de Assistência Hospitalar.

Hoje existe mais uma escola de auxiliares de enfermagem: Escola de Auxiliares de Enfermagem, Hospital Regional Vale do Ribeira, e uma equipe técnica que, no momento, com a crescente demanda de serviço e irreversível filosofia de regionalização, já S3 terna insuficiente.

Suas atribuições e funções, serão apresentadas no decorrer deste trabalho.

Quadro de Pessoal

O Serviço de Enfermagem (HHEN) conta atualmente com uma diretora e seis enfermeiras.

De acordo com o quadro abaixo, houve uma projeção quantitativa de pessoal; todavia, não foi alcançado o número previsto, dadas as dificuldades de conseguir e manter pessoal qualificado com experiência de trabalho, na função de planejamento, organização, assessoria e supervisão, dentro da área da assistência de enfermagem e ensino. Outro problema que influi é o sistema de admissão (titulo precário, credenciamento) da Secretaria, que desestimula a admissão e a permanência de pessoal mais bem qualificado.

3. Objetivos

Este trabalho tem como objetivo central, a análise da atuação do Serviço de Enfermagem, desde sua implantação, até o momento atual, favorecendo a avaliação dos obj etivos inciais dos obstáculos encontrados e das realizações parciais ou totalmente atingidas, a meditação das proposições feitas e a abertura de novos campos de pesquisa, dentro da área de enfermagem.

4. Metodologia

Os métodos usados foram:

Uso de questionário, para a investigação inicial da situaçao das unidades.

Reuniões com os chefes de serviço, diretoras e enfermeiras chefes.

Reuniões com as encarregadas (não profissionais) atendentes, que respondem pelo cargo, em caráter temporário.

Reuniões multiprofissionais com as demais equipes técnicas do Departamento (HH), para tomada de posição e entrosamento dos programas de trabalho.

Observações direta nas diversas unidades.

Levantamento de recursos humanos e materiais disponíveis.

Análise de relatórios, entrevistas e contatos informais com pessoal de enfermagem: auxiliares, atendentes.

Reuniões diversas, de caráter administrativo interdepartamentais, com diretores e administradores das diversas unidades da CAR.

Posteriormente, foi feita análise da investigação, determinação das mudanças que se faziam necessárias, face a pesquisa da situação. Considerando os recursos disponíveis, foi traçado um plano de atuação para a equipe técnica, concentrando sua atuação na área em que se poderiam alcançar alguns resultados imediatos para servir de apoio e incentivo às demais unidades.

5. Áreas de Atuação

O Serviço de Enfermagem (HHEN) atua em duas grandes áreas:

área Hospitalar - assistência de enfermagem, a pacientes hospitalizados e de ambulatório;

- área de Ensino - escolas ou cursos de auxiliares de enfermagem.

- Na área hospitalar, a Coordenadoria apresenta um total de 22 Unidades Hospitalares, nas quais o serviço de enfermagem é constituído em:

- três (3) Serviços de Enfermagem (Diretoria);

- dezessete (17) Seções de Enfermagem (Enfermeiras Chefes) ;

- dois (2) Setores de Enfermagem (Encarregadas de Setor).

Essas Unidades estão localizadas nas onze (11) regiões administrativas do Estado. Além dessas Unidades, existem seis (6) Unidades Hospitalares em convênio com esta Coordenadoria, especificando por Departamento, Especialidade, Capacidade e Localização.

Na área de Ensino, a Coordenadoria apresenta duas (2) Escolas de Auxiliares de Enfermagem, além de oito (8) Escolas ou Cursos de Auxiliares, que mantêm convênio com a Secretaria da Saúde, através desta Coordenadoria.

6. Atividades

Na área hospitalar foi dada ênfase ao aspecto de organização dos Serviços de enfermagem, através da provisão de recursos humanos e materiais, da conscientização dos responsáveis no serviço que se implantava e na necessidade de uma nova orientação na atuação da enfermagem.

Chamamos a atenção para o número irrisório de pessoal de enfermagem nos Hospitais do CAH,. em março de 1971.

Tentou-se melhorar a situação, reivindicando a profissão de pessoal técnico, através de levantamento que diagnosticava a precariedade dos recursos humanos existentes.

O aumento de profissionais de enfermagem nas unidades da CAH. foi de 365, sendo 200 enfermeiros e 175 auxiliares. A seleção foi efetuada através de prova e indicação para as vagas existentes ou criadas.

A situação de pessoal está longe de atingir a meta almejada, mas se voltarmos nossa atenção para alguns anos atrás, verificaremos que o profissional enfermeiro era quase inexistente no quadro da Secretaria. O caminho é árduo para alcançar a meta, mas sentimos que estamos no rumo, o que pode ser comprovado pela atual política do Govêrno Estadual, traduzida no Documento de Dimensionamento de Pessoal, para todas as Coordenadorias, no qual este Serviço (HHEN) participou do Sub-Grupo de Enfermagem, sob a liderança da Dra. Circe de Melo Ribeiro, na elaboração do documento.

Aliada ao contingente de pessoal, a qualidade dos serviços depende de um processo evolutivo, de conscientização e atuação, definido no decorrer deste trabalho, a ser alcançado a médio e longo prazo.

Foi dado início a um processo de padronização de normas e rotinas de enfermagem, visando a simplificação e racionalização do trabalho. Destacamos: Padronização da Assistência de Enfermagem ao Recém-Nascido; Padronização de Uniformes e Roupa Hospitalar. Esses trabalhos estão concluídos, aguardando para entrar em vigor, a sua publicação.

Em fase de experimentação, realçamos o Plano de Cuidados de Enfermagem, visando a indução da enfermeira no planejamento da assistência ao paciente, dentro da atual filosofia de enfermagem, da utilização do método científico, motivando a valorização do seu trabalho na atuação como coordenadora na assistência ao paciente.

Na área do ensino, destacamos o Trabalho de Levantamento das Escolas e Cursos de Auxiliares de Enfermagem, existentes atualmente no Estado de São Paulo, pela amplitude da visão e do preparo desse profissional. Trabalho efetuado e apresentado pelo Serviço (HHEN), na I Jornada de Enfermagem do INPS, realizado recentemente em São Paulo.

A atuação deste Serviço, nas escolas ou cursos de auxiliares de enfermagem, está amparada nos convênios celebrados entre a Secretaria da Saúde e as escolas. Cabe à Coordenadoria de Assistência Hospitalar, a elaboração, o controle e supervisão das cláusulas do convênio. Dentro da CAH, estas atribuições são delegadas ao Serviço de Enfermagem. Este trabalho de auditoria e controle tem propiciado uma atuação direta ao Serviço, na exigência de melhorar o padrão, no que se refere à direção da Escola por enfermeiro, corpo docente, instalações. Ao mesmo tempo, efetua-se um trabalho de orientação e incentivo, junto aos profissionais existentes, na sua especialização e preparo, para a atuação na área do ensino.

A atuação relativa à implantação e efetivação do Serviço de Enfermagem (HHEN), bem como a função executiva, diretiva das atividades fins e meios, são apresentadas no quadro a seguir.


FUNÇÕES DA EQUIPE DE ENFERMAGEM (HHEN)

7. Conclusão

Avaliando os resultados obtidos, consideramos que os objetivos propostos foram parcialmente atingidos, apesar das muitas dificuldades: limitado número de pessoal, distância de determinadas unidades, carência de recursos materiais, transporte e inadequação das próprias instalações do Serviço. O saldo foi bastante positivo, o que impele a continuar no alcance da meta almejada: Oferecer um bom padrão de assistência de enfermagem, dentro das Instituições da CAH.

A estrutura apresenta o Serviço como órgão normativo, sem uma linha de subordinação técnica. No trabalho em campo, foi sentida a limitação do Serviço, na atuação direta em algumas unidades, o que traduz as barreiras encontradas, por parte dos responsáveis pela execução do trabalho.

Sentiu-se que, na fase atual, o Serviço precisa do amparo, na sua atuação, de uma subordinação técnica dos serviços de enfermagem das unidades da rede.

9. Recomendações

1 - Que seja efetivada a estrutura do quadro de enfermagem ela Secretaria, baseado no trabalho de Dimensionamento de Pessoal de Enfermagem da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo realizado pelo Sub-grupo de Enfermagem.

2 - Que sejam previstos recursos para o preparo do pessoal aos cargos de chefia, através de cursos de especialização e de pós-graduação.

3 - Que seja incluída na equipe de planejamento, o elemento enfermeiro.

4 - Que sejam integrados os recursos das quatro Coordenadorias, visando o entrosamento nos programas, e uma filosofia única de trabalho.

5 - Que a medida de convênios com as Escolas ou Cursos de Auxiliares de Enfermagem seja ampliada, atingindo maior número de escolas; porém, que seja estabelecido que os recursos materiais do mesmo sejam específicos para pagamento de professores.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 1973
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