Uso de tecnologia para o autocuidado na vigilância de infecção da ferida cirúrgica: revisão integrativa

Oliveira, Lia Pacheco de; Lucato, Ana Laura Serra; Fernandes, Daiane Rubinato; Vieira, Leticia Genova; Santos, Bruna Nogueira dos; Silveira, Renata Cristina de Campos Pereira

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Revista Brasileira de Enfermagem

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Sumário

REVISÃO • Rev. Bras. Enferm. 75 (3) • 2022 • https://doi.org/10.1590/0034-7167-2021-0208 copiar

Uso de tecnologia para o autocuidado na vigilância de infecção da ferida cirúrgica: revisão integrativa

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

RESUMO

Objetivos:

sintetizar o conhecimento sobre tecnologia para o autocuidado na vigilância de infecção da ferida cirúrgica.

Métodos:

revisão integrativa realizada nas bases de dados CINAHL, Embase, LILACS, PubMed, Scopus e Web of Science com os descritores “surgical wound infection” e “self care”, além da busca manual nas referências dos estudos incluídos. A seleção e avaliação da qualidade metodológica dos estudos e coleta de dados foram realizadas por dois revisores independentes; e os conflitos, resolvidos por um terceiro revisor.

Resultados:

nove estudos primários foram incluídos, publicados entre 2011 e 2019. Seis são de delineamento transversal, dois ensaios clínicos randomizados e um relato de caso. Destacam-se os aplicativos mobile, de mensagens de texto e de imagens, softwares para computadores, avaliações e capacidade de armazenamento de dados.

Conclusões:

as tecnologias identificadas para o autocuidado na vigilância de infecção da ferida operatória foram a criação e utilização de mHealth e o uso de aplicativos de saúde em dispositivos móveis. Tecnologias eficazes na vigilância da infecção da ferida operatória que permitem aproximação com a equipe de saúde incentivam um maior número de avaliações da ferida operatória, intensificam as ações de autocuidado e diminuem a ansiedade do paciente. A tecnologia também é uma forma monitorizada e registrada de atendimento ao paciente, um dos principais eixos da vigilância de infecção.

Descritores:
Autocuidado; Ferida Cirúrgica; Vigilância em Saúde Pública; Infecção da Ferida Cirúrgica; Tecnologia

Base de dados	Estratégia de busca	Total de estudos identificados
CINAHL	(“surgical wound infection” OR “surgical wound infections” OR “surgical site infection” OR “surgical site infections” OR “postoperative wound infection” OR “wound infection” OR “wound infection” OR “wound infections” OR “surgical wound” AND “incision care” OR “self care” OR “self care”)	150 estudos
EMBASE	(“surgical wound infection” OR “surgical wound infections” OR “surgical site infection” OR “surgical site infections” OR “postoperative wound infection” OR “wound infection” OR “wound infection” OR “wound infections” OR “surgical wound” AND “incision care” OR “self care” OR “self care”)	43 estudos
LILACS	(“surgical wound infection” OR “infección de la herida quirúrgica” OR “infecção da ferida cirúrgica” OR “surgical site infection” OR “infección del sitio quirúrgico” OR “infecção do sítio cirúrgico” OR “postoperative wound infection” OR “infección de la herida postoperatoria” OR “infecção pós-operatória da ferida” OR “wound infection” OR “infección de heridas” OR “infecção dos ferimentos” OR “surgical wound” OR “herida quirúrgica” OR “ferida cirúrgica” AND “incision care” OR cuidado de la incisión OR “cuidados de incisão” OR “self care” OR autocuidado)	13 estudos
PubMed	(“surgical wound infection”[MeSH Terms] OR “surgical wound infection” [All Fields] OR “surgical wound infections” OR “surgical site infection” OR “surgical site infections” OR “postoperative wound infection” OR “wound infection”[MeSH Terms] OR “wound infection” OR “wound infections” OR “surgical wound”) AND (“incision care” OR “self care”[MeSH Terms] OR “self care”[All Fields])	83 estudos
Scopus	(“surgical wound infection” OR “surgical wound infections” OR “surgical site infection” OR “surgical site infections” OR “postoperative wound infection” OR “wound infection” OR “wound infection” OR “wound infections” OR “surgical wound” AND “incision care” OR “self care” OR “self care”)	309 estudos
Web of Science	(“surgical wound infection” OR “surgical wound infections” OR “surgical site infection” OR “surgical site infections” OR “postoperative wound infection” OR “wound infection” OR “wound infection” OR “wound infections” OR “surgical wound” AND “incision care” OR “self care” OR “self care”)	26 estudos

Referência	Objetivo	Delineamento do estudo	Nº de pacientes	Intervenções tecnológicas utilizadas	Principais resultados	Risco de viés JBI^* * JBI - Joanna Briggs Institute.
Abelson et al., (2017)(¹⁸18 Abelson JS, Symer M, Peters A, Charlson M, Yeo H. Mobile heath apps and recovery after surgery: what are patients willing to do?. Am J Surg. 2017;214(4):616-22. https://doi.org/10.1016/j.amjsurg.2017.06.009 https://doi.org/10.1016/j.amjsurg.2017.0... ) Estados Unidos da América	Verificar a vontade do público de se envolver com tecnologia móvel de saúde no ambiente pós-operatório e identificar as variáveis específicas associadas a essa vontade.	Estudo transversal	Foram contatados 3.230 indivíduos, dos quais 1.184 eram elegíveis. Dos elegíveis, 800 completaram a pesquisa final.	mHealth: rastreadores, preencher pesquisas diárias, enviar fotos e compartilhar atualizações com familiares e amigos selecionados.	Dos pacientes, 80,6% relataram maior disposição para usar um rastreador no pulso; 74,3%, preencher uma pesquisa diária; 66,3%, enviar fotos; e 59,1%, compartilhar atualizações. A idade avançada não foi associada a uma menor vontade do uso de mHealth. A etnia hispânica foi associada à menor probabilidade de utilizar um rastreador no pulso. Ensino superior, confiança na internet e uso preexistente de smartphone foram todos independentemente associados à disposição de se envolver com vários componentes de mHealth.	Moderado
Avery et al., (2019)(¹⁹19 Avery KNL, Richards HS, Portal A, Reed T, Harding R, Carter R, et al. Developing a real-time electronic symptom monitoring system for patients after discharge following cancer-related surgery. BMC Cancer. 2019;19(1):463. https://doi.org/10.1186/s12885-019-5657-6 https://doi.org/10.1186/s12885-019-5657-... ) Inglaterra	Descrever o desenvolvimento de um sistema ePRO integrado ao registro eletrônico de saúde de um hospital para melhorar a detecção de complicações e efeitos adversos após a alta de cirurgia relacionada ao câncer (cirurgia abdominal de grande porte).	Estudo transversal	Entre os pacientes, 59 acessaram o sistema ePRO.	Sistema ePRO	A incorporação de dados do ePRO na prática clínica pode trazer benefícios mais amplos aos pacientes em relação ao cuidado com a ferida operatória de cirurgias relacionadas ao câncer e também ao sistema de saúde, por meio da padronização da prática do cuidado, agilizando e aprimorando as consultas clínicas e otimizando o cuidado centrado no paciente.	Moderado
Chang et al., (2019)(⁹9 Chang H-Y, Hou Y-P, Yeh F-H, Lee S-S. The impact of an mHealth app on knowledge, skills and anxiety about dressing changes: a randomized controlled trial. J Adv Nurs. 2020;76(4):1046-56. https://doi.org/10.1111/jan.14287 https://doi.org/10.1111/jan.14287... )Taiwan	Avaliar a eficácia de um aplicativo mHealth no conhecimento dos pacientes ou de seus cuidadores e familiares sobre o cuidado com feridas, habilidades na troca de curativos e ansiedade.	Ensaio clínico randomizado	Foram contatados 70 pacientes (ou familiares) em um hospital universitário de 1.500 leitos. Eles foram randomizados em um grupo experimental (n = 35) ou controle (n = 35).	mHealth desenvolvido na plataforma Android	Os participantes de ambos os grupos (intervenção e controle) apresentaram melhora significativa nos cuidados com feridas entre pré-teste T1 e pós-testes T2 e T3, mas principalmente entre T1 e T3. Também melhoraram significativamente seus níveis de habilidades no tratamento de feridas, sendo maior para o grupo experimental do que para o grupocontrole. Com relação à ansiedade com o cuidado da ferida, houve diminuição maior da ansiedade no grupo experimental do que no grupocontrole.	Baixo
Chen et al., (2020)(²⁰20 Chen Y-W, Hsu J-T, Hung C-C, Wu J-M, Lai F, Kuo S-Y. Surgical wounds assessment system for self-care. IEEE Trans Syst Man Cybern Syst. 2020;50(2):5076-91. https://doi.org/10.1109/TSMC.2018.2856405 https://doi.org/10.1109/TSMC.2018.285640... ) Taiwan	Propor um sistema de avaliação da ferida cirúrgica para o autocuidado.	Estudo transversal	46 pacientes	Ferramenta de captura de imagens em superpixels (alta resolução)	A implementação dessa ferramenta de imagens em recortes de superpixels permitiu que a avaliação da ferida cirúrgica fosse realizada de maneira tão fidedigna (90% de precisão) quanto a avaliação feita por profissionais médicos.	Alto
Holt, Flint, Bowers, (2011)(²⁵25 Holt JE, Flint EP, Bowers MT. Got the picture?: using mobile phone technology to reinforce discharge instructions. Am J Nurs. 2011;111(8):47-51. https://doi.org/10/1097/01.NAJ.0000403363.66929.41 https://doi.org/10/1097/01.NAJ.000040336... ) Estados Unidos da América	Demonstrar se a utilização da tecnologia audiovisual para apoiar um paciente por meio da educação para alta pode promover a adesão às instruções de autocuidado, aumentar autonomia do paciente e reduzir resultados de baixa qualidade.	Relato de caso	Um paciente	Câmera e gravação de voz do telefone celular do paciente	A intervenção empregada representa uma forma inovadora de usar a tecnologia já existente no telefone celular para fornecer educação para alta mais eficaz e centrada no paciente, tendo como consequência a adesão do paciente a todos os processos necessários para a troca de curativo, satisfação e autonomia do paciente no processo de autocuidado, paciente sem infecção ou outras morbidades e sem necessidade de reinternação.	Baixo
Sanger et al., (2014)(²¹21 Sanger PC, Hartzler A, Han SM, Armstrong CAL, Stewart MR, Lordon RJ, et al. Patient perspectives on post-discharge surgical site infections: towards a patient-centered mobile health solution. PLoS One. 2014;9(12):e114016. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0114016 https://doi.org/10.1371/journal.pone.011... ) Estados Unidos da América	Explorar a experiência do paciente com relação àabertura de um aplicativo mHealth de monitoramento de ferida como uma solução para ISC.	Estudo transversal	Foram identificados 17 pacientes elegíveis. Destes, 13 participaram e 4 estavam dispostos a participar, mas enfrentavam restrições de tempo ou tinham doença psiquiátrica.	mPOWEr	Surgiram três principais temas durante as entrevistas sobre autocuidado dos pacientes em complicações da ferida no pós-alta, que foram o conhecimento para o autocuidado e automonitoramento, eficácia para o autocuidado e monitoramento de feridas em casa, comunicação com provedores. Já considerando a aceitabilidade, benefícios percebidos e limitações potenciais de uma solução mHealth, os participantes perceberam que essa solução pode abordar os desafios pós-alta ao permitir um acompanhamento mais frequente, completo, levando a menos ansiedade e menos visitas desnecessárias ao serviço de saúde.	Baixo
Tofte et al., (2018)(²²22 Tofte JN, Anthony CA, Polgreen PM, Buckwalter JA, Caldwell LS, Fowler TP, et al. Postoperative care via smartphone following carpal tunnel release. J Telemed Telecare. 2020;26(4):223-31. https://doi.org/10.1177/1357633X18807606 https://doi.org/10.1177/1357633X18807606... ) Estados Unidos da América	Explorar a segurança, eficácia e conveniência para o paciente na utilização de um novo aplicativo de smartphone para cuidados pós-operatórios após a liberação do túnel do carpo.	Estudo transversal	16 pacientes	Aplicativo mobile	Todos os pacientes completaram com sucesso a remoção do curativo. No geral, 10 de 16 pacientes (63%) foram capazes de remover com sucesso suas suturas. Quinze pacientes (94%) capturaram fotos de feridas, embora uma foto tenha sido considerada muito borrada para análise. Para os 14 pacientes que tinham uma foto da ferida clinicamente adequada e documentação clínica dos sintomas disponíveis, os autores classificaram a ferida como “não complicada”, “macerada”, “aberta” ou “infectada’. Com exceção de um único paciente com leve maceração da ferida, nenhuma outra complicação significativa da ferida foi identificada na visita pessoal de 10 a 14 dias pós-operatória ou durante a revisão das fotografias da ferida.	Moderado
Yahanda et al., (2019)(²⁴24 Yahanda AT, Marino NE, Barron J, Concepcion A, St John T, Lu K, et al. Patient engagement and cost savings achieved by automated telemonitoring systems designed to prevent and identify surgical site infections after joint replacement. Telemed J E Health. 2019;25(2):143-51. https://doi.org/10.1089/tmj.2017.0325 https://doi.org/10.1089/tmj.2017.0325... ) Estados Unidos da América	Avaliar o uso e a satisfação dos pacientes nas intervenções de telemonitoramento por mensagens de texto e voz para prevenir e identificar ISC, após substituição de articulação.	Ensaio clínico piloto	Foram inscritos 1.392 pacientes no EpxDecol e 1.753 pacientes no EpxWound.	EpxDecol e EpxWound (mensagens de texto e voz)	A proporção dos pacientes que responderam diariamente no ExpDecol foi de 91% e dos que responderam no ExpWound foi de 77,7%. A porcentagem de resposta diminuiu 5% durante cada intervenção. Em análise final, 88,4% dos pacientes com EpxDecol e 67,8% dos pacientes com ExpWound responderam 80% de todas as mensagens. Para uma pesquisa de satisfação com as intervenções, utilizou-se uma coorte de 1.246 pacientes pós-intervenção: a resposta média de como os pacientes avaliaram o atendimento foi de 9/9, sendo que 8/9 foi para comunicação aprimorada e 5/9 para o número de mensagens recebidas.	Alto
Anthony et al., (2018)(²³23 Anthony CA, Lawler EA, Ward CM, Lin IC, Shah AS. Use of an automated mobile phone messaging robot in postoperative patient monitoring. Telemed J E Health. 2018;24(1):61-6. https://doi.org/10.1089/tmj.2017.0055 https://doi.org/10.1089/tmj.2017.0055... ) Estados Unidos da América	Descrever um método de comunicação com os pacientes no pós-operatório fora do ambiente tradicional de saúde, usando um software automatizado e plataforma de mensagens de telefone celular; e avaliar a primeira semana de pós-operatório.	Estudo transversal	47 pacientes	Software automatizado e plataforma de mensagens de telefone celular	A tendência da dor diminuiu diariamente na primeira semana de pós-operatório, com os níveis mais elevados de dor relatados nas primeiras 48 horas após a cirurgia. Os pacientes relataram um uso médio de 15,9 comprimidos de analgésico opioide prescrito. A utilização de um robô de software de mensagens de telefone celular permite a coleta de dados eficaz sobre a dor pósoperatória e uso de analgésicos.	Baixo

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[1] Autor Correspondente: Renata Cristina de Campos Pereira Silveira, E-mail: recris@eerp.usp.br