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Características da fonetografia em indivíduos com equilíbrio dentofacial pós-muda vocal

Resumos

OBJETIVO: caracterizar, por meio de fonetografia, o perfil da extensão vocal em indivíduos sem alterações pós-muda vocal e equilíbrio dentofacial. MÉTODO: participaram deste estudo 15 homens com idades entre 14 e 35 anos com pós-muda vocal. Eles responderam a um questionário específico, e também foram submetidos a uma avaliação antropométrica da face, a avaliação dento-oclusal, o exame fonetografia e também a uma análise da frequência fundamental habitual da voz. RESULTADOS: frequência fundamental mínima: 89Hz ± 3Hz ou 29st ±14st; Frequência fundamental máxima: 665Hz±179Hz ou 63st±5st; Extensão Vocal: 34st±6st; Intensidade mínima: 66 dB ± 3dB; Intensidade máxima: 114dB ± 5dB; Extensão Dinâmica Máxima: 42dB ± 4dB, Área do Fonetograma: 936,4 dB.st ± 258,8 dB.st ou 42,1 cm² ± 11,6 cm²; Frequência Fundamental Habitual para a vogal "a": 111,26 Hz ± 15,24 Hz. CONCLUSÃO: apesar de os estudos nacionais e internacionais apresentados neste trabalho não considerarem a condição dentofacial dos indivíduos, os resultados foram semelhantes.

Voz; Qualidade da Voz; Acústica da Fala; Face; Sistema Estomatognático


PURPOSE: to characterize, by means of phonetography, the profile of voice extension in individuals with post changes, dentofacial balanced voice. METHOD: fifteen male individuals participated in this study, in vocal postmutation, aged between 14 and 35 years old. They answered a specific self-response questionnaire, and they were also submitted to an anthropometric assessment of the face, dento-occlusal evaluation, phonetography examination and to an analysis of the usual fundamental frequency of the voice. RESULTS: minimum Fundamental Frequency: =89Hz±3Hz or =29st±14st, Maximum Fundamental Frequency: X=665Hz±179Hz or X=63st±5, Voice Extension: X=34st±6st, Minimum Intensity: X=66dB±3dB, Maximum Intensity: X=114dB±5dB, Maximum Dynamic Extension: X=42dB±4dB, Phonetogram Area: X=936,4dB.st±258,8dB.st or X=42,1cm²±11,6cm², Usual Fundamental Frequency of the "a" vowel: X=111,26Hz±15,24Hz. CONCLUSION: although national and international studies presented in this work do not consider the dentofacial condition of the subjects, the results were very similar.

Voice; Voice Quality; Speech Acoustics; Face; Stomatognathic System


Características da fonetografia em indivíduos com equilíbrio dentofacial pós-muda vocal

Cláudia Tiemi MituutiI; Cibele Carméllo SantosII; Lídia Cristina da Silva TelesIII; Giédre Berretin-FelixIV

IFonoaudióloga; Mestre em Fonoaudiologia pela Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo – FOB/USP, Bauru, SP, Brasil

IIFonoaudióloga; Mestre em Fonoaudiologia pela Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo – FOB/USP, Bauru, SP, Brasil

IIIFonoaudióloga; Professora Doutora do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru/USP – FOB/USP, Bauru, SP, Brasil; Doutora em Ciências da Reabilitação pelo Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais/USP

IVFonoaudióloga; Professora Doutora do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru/USP – FOB/USP, Bauru, SP, Brasil; Doutora em Fisiopatologia em Clínica Médica pela Universidade Estadual Paulista

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Giédre Beretin-Félix Departamento de Fonoaudiologia Al. Dr. Octávio Pinheiro Brizolla, 9-75 – Vila Universitária – Bauru, SP – Brasil CEP: 17012-901 E-mail: gfelix@usp.br

RESUMO

OBJETIVO: caracterizar, por meio de fonetografia, o perfil da extensão vocal em indivíduos sem alterações pós-muda vocal e equilíbrio dentofacial.

MÉTODO: participaram deste estudo 15 homens com idades entre 14 e 35 anos com pós-muda vocal. Eles responderam a um questionário específico, e também foram submetidos a uma avaliação antropométrica da face, a avaliação dento-oclusal, o exame fonetografia e também a uma análise da frequência fundamental habitual da voz.

RESULTADOS: frequência fundamental mínima: 89Hz ± 3Hz ou 29st ±14st; Frequência fundamental máxima: 665Hz±179Hz ou 63st±5st; Extensão Vocal: 34st±6st; Intensidade mínima: 66 dB ± 3dB; Intensidade máxima: 114dB ± 5dB; Extensão Dinâmica Máxima: 42dB ± 4dB, Área do Fonetograma: 936,4 dB.st ± 258,8 dB.st ou 42,1 cm2 ± 11,6 cm2; Frequência Fundamental Habitual para a vogal "a": 111,26 Hz ± 15,24 Hz.

CONCLUSÃO: apesar de os estudos nacionais e internacionais apresentados neste trabalho não considerarem a condição dentofacial dos indivíduos, os resultados foram semelhantes.

Descritores: Voz; Qualidade da Voz; Acústica da Fala; Face; Sistema Estomatognático

ABSTRACT

PURPOSE: to characterize, by means of phonetography, the profile of voice extension in individuals with post changes, dentofacial balanced voice.

METHOD: fifteen male individuals participated in this study, in vocal postmutation, aged between 14 and 35 years old. They answered a specific self-response questionnaire, and they were also submitted to an anthropometric assessment of the face, dento-occlusal evaluation, phonetography examination and to an analysis of the usual fundamental frequency of the voice.

RESULTS: minimum Fundamental Frequency: =89Hz±3Hz or =29st±14st, Maximum Fundamental Frequency: X=665Hz±179Hz or X=63st±5, Voice Extension: X=34st±6st, Minimum Intensity: X=66dB±3dB, Maximum Intensity: X=114dB±5dB, Maximum Dynamic Extension: X=42dB±4dB, Phonetogram Area: X=936,4dB.st±258,8dB.st or X=42,1cm2±11,6cm2, Usual Fundamental Frequency of the "a" vowel: X=111,26Hz±15,24Hz.

CONCLUSION: although national and international studies presented in this work do not consider the dentofacial condition of the subjects, the results were very similar.

Keywords: Voice; Voice Quality; Speech Acoustics; Face; Stomatognathic System

INTRODUÇÃO

A fonetografia é um exame que reflete os limites ou capacidades fisiológicas vocais individuais, sendo considerada um teste de máximo desempenho laríngeo. Ela foi descrita por Damsté1 e, em 1983, a União dos Foniatras Europeus propôs que esta fosse realizada como parte da avaliação da voz de indivíduos com vozes normais2. Esse exame pode ser realizado de forma manual ou computadorizada3, e fornece informações sobre o perfil de extensão vocal, por meio da definição de uma área compreendida entre as intensidades mínimas e máximas obtidas das frequências da extensão vocal4-6.

A literatura tem documentado o uso da fonetografia para distinguir alterações vocais de vozes normais5,7,8, documentar mudanças na voz decorrente de fadiga, e avaliar a modificação da qualidade vocal depois da terapia de voz4, ou do treino vocal para canto6,9. Especificamente em relação à padronização de valores de referência, existem estudos para a população Tailandesa10, Alemã11 e Finlandesa12. No Brasil, foi realizado um estudo que verificou que a fonetografia foi eficaz em mostrar as características da voz em idosas do gênero feminino13, enquanto outro determinou as características vocais durante o desenvolvimento vocal masculino14.

Estudos apontam, ainda, existir associação entre as dimensões do trato vocal e as características da qualidade da voz e dos formantes15,16; entre distúrbios vocais e distúrbios musculares orais17,18, sendo descrita, também, relação entre o grau de gravidade da disfunção temporomandibular com a qualidade vocal19.

Apesar da literatura demonstrar relação entre as características do sistema estomatognático e a função fonatória, não foram encontrados trabalhos que analisem os parâmetros vocais considerando o tipo facial e a condição dento-oclusal em equilíbrio. Sendo a fonetografia um importante instrumento para realizar a avaliação vocal, o objetivo do presente estudo é caracterizar o perfil da extensão vocal de indivíduos do gênero masculino com equilíbrio dentofacial pós-muda vocal, por meio da fonetografia.

MÉTODO

Participaram deste estudo 15 indivíduos do gênero masculino, pós-muda vocal, com idades entre 14 e 35 anos (média=18,86). Foram considerados critérios para inclusão: apresentar tipo facial médio com os terços médio e inferior em equilíbrio; comprimento adequado dos lábios superior e inferior; perfil facial Padrão I20, em que foi considerado equilíbrio em relação ao ângulo nasolabial, ângulo de convexidade facial, proporção entre a altura facial anterior média e a altura facial anterior inferior, bem como a proporção do terço inferior da face; relação do primeiro molar permanente em classe I21; trespasse vertical e horizontal com medidas entre 1 e 4 mm22; não apresentar alterações vocais; ter concluído a muda vocal14; não ter comprometimentos sindrômicos ou neurológicos relacionados à fala ou linguagem expressiva ou receptiva; ser falante nativo do português brasileiro; não ter sido submetido a cirurgias laríngeas; não ter treino vocal prévio; não ter queixas auditivas; não ser etilista; não ser e nunca ter sido fumante; apresentar bom estado de saúde geral e ausência de sintomas de alterações laríngeas ou respiratórias no dia do exame. Para isso, todos os indivíduos responderam um formulário específico de auto-resposta investigando os aspectos acima citados, como também foram submetidos à avaliação antropométrica da face, avaliação dento-oclusal, avaliação perceptivo-auditiva da voz, bem como avaliação da linguagem expressiva e receptiva.

Para o exame da fonetografia foi utilizado o Programa VRP (Voice Range Profile) da Multi Speech, da Kay Elemetrics, com um microfone de cabeça unidirecional, marca RM – MZ3R, posicionado a uma distância de 3cm da comissura labial do participante. As gravações foram realizadas em sala acusticamente tratada. Para a obtenção das medidas da fonetografia foi solicitada a emissão da vogal "a" prolongada em registro modal, por no mínimo 5 segundos, nas intensidades mais forte e mais fraca possível. O teste foi iniciado em C3 (dó3, 131 Hz) com continuidade em escala ascendente e posteriormente descendente.

As medidas analisadas foram:

• frequência fundamental mínima e frequência fundamental máxima da voz (FMÍN e FMÁX), expressas em semitons (st) e em Hertz (Hz), que correspondem às notas mais agudas e mais graves da escala musical produzidas nas intensidades forte e fraca;

• extensão vocal (EV), expressa em semitons e em Hertz, que é a extensão da frequência, compreendendo o número total de notas musicais reproduzidas e analisadas pela diferença existente entre frequência máxima e mínima;

• intensidade mínima e intensidade máxima (IMÍN e IMÁX), obtidas a partir do ponto mais baixo da curva inferior e do ponto mais alto da curva superior do fonetograma;

• extensão dinâmica máxima (EDM) expressa em decibels, considerada a maior diferença de intensidade existente entre as curvas superior e inferior do fonetograma em uma mesma frequência;

• área do fonetograma, área resultante da conexão entre todos os pontos da curva inferior e superior em relação à extensão vocal, expressa em dB.st e cm2. Foi obtida a partir dos dados do VRP, por meio de um programa que realiza a conversão de dB.st para cm2, utilizando o fator de conversão de 0.045 cm2, onde 10 dB correspondem a 15mm e 12 st correspondem à 36mm2.

As medidas de todas as frequências apresentadas na abscissa do fonetograma obtidas pelo VRP na fonetografia (Figura 1) foram convertidas de Hertz para semitom, a fim de permitir a realização do cálculo da área do fonetograma, por ser o semitom uma medida linear e apresentar intervalos regulares em escala musical de 12 semitons, o que não ocorre com o Hertz, que é uma medida exponencial. Além disso, os valores de extensão vocal na literatura vêm sendo utilizados em semitons5,8,13,23,24, possibilitando comparações posteriores.


Para a análise da frequência fundamental habitual as vozes dos indivíduos foram gravadas em computador por meio do programa Sound Forge 7.0. A amostra de fala gravada foi a vogal "a" sustentada em tom e intensidade habituais, analisada no programa Multi Dimensional Voice Program (MDVP) da Kay Elemetrics.

Os valores médios de frequência fundamental, frequências mínima e máxima, extensão vocal, intensidades mínima e máxima, extensão dinâmica máxima e da àrea do fonetograma foram obtidos pelos resultados que são fornecidos pelo próprio programa VRP, e a média da frequência fundamental habitual, pelo programa MDVP.

Este trabalho cumpriu todas as normas éticas preconizadas para pesquisas envolvendo seres humanos, tendo recebido aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da instituição onde foi realizado, processo número 88/2006. Os indivíduos foram informados quanto aos procedimentos e foi solicitada a assinatura do "Termo de Consentimento Livre e Esclarecido", por todos os participantes.

RESULTADOS

A partir do exame de fonetografia, foram encontradas as medidas de frequência fundamental mínima, frequência fundamental máxima, com variação entre FMÍN=89Hz±3Hz e FMÁX=665Hz±197Hz, correspondendo a 29st±14st e 63st±5st, e o número de semitons da extensão vocal (EV=34st±6st). Foram analisados, ainda, os valores da frequência fundamental habitual (F0) da vogal "a" sustentada dos 15 participantes que realizaram a fonetografia, onde o valor médio encontrado foi F0=111,26Hz±15,24Hz. Tais informações encontram-se apresentadas na Tabela 1.

Foram obtidos os valores da fonetografia relacionados à intensidade mínima, intensidade máxima, representados por IMÍN=66dB±3dB e IMÁX=114dB±5dB, respectivamente, e a EDM, correspondente a 42±4dB, bem como os valores da área do fonetograma (936.4dB.st±258.8dB.st ou 42.1cm2±12.6cm2), apresentados na Tabela 2.

DISCUSSÃO

A fonetografia é uma medida capaz de registrar todas as possibilidades laríngeas em relação à frequência e à intensidade sonora, uma vez que abrange os sons mais agudos e mais graves que a laringe humana é capaz de produzir e as maiores e menores intensidades geradas durante a emissão de uma vogal2,13,24,25. Apesar da importância do exame não foram encontrados estudos relacionados aos valores de referência do perfil de extensão vocal em falantes do português brasileiro sem distúrbios vocais na faixa etária adulto-jovem, com condições dentofaciais equilibradas. Desse modo, no presente estudo foi realizada a avaliação acústica da voz em indivíduos do gênero masculino falantes do português brasileiro, pós-muda vocal, sem alteração ou treino vocal, que apresentaram o tipo de face Padrão I e harmonia dento-oclusal.

Por meio da fonetografia computadorizada, as medidas da frequência foram analisadas nos extremos da extensão vocal. Com relação às médias da frequência mínima (FMÍN=89Hz±3Hz) e da frequência máxima (FMÁX=665Hz±179Hz) do fonetograma, os resultados obtidos no presente trabalho são semelhantes aos encontrados em estudos com homens sem distúrbios vocais, no grupo pós-muda vocal (FMÍN=88,89±13,73Hz e FMÁX=760,96±167,17Hz)14, de outro que estudaram vozes com treino para o canto e sem treino (FMÍN=86,1Hz±14,01Hz e FMÁX=785,4Hz±188,38Hz)9, e semelhante aos de indivíduos com laringite por refluxo e indivíduos normais (FMÍN=83±10,9Hz e FMÁX=696,6±106,2Hz)8. Apesar destes estudos não abordarem a população brasileira, com exceção de um trabalho14 e não levarem em consideração a tipologia facial e a harmonia dento-oclusal, os valores encontrados foram semelhantes.

A média da extensão vocal obtida no presente estudo (EV=34st±6st) está de acordo com a descrita para homens cantores não profissionais sem alteração vocal (EV=37st)11; de indivíduos com vozes treinadas e não treinadas (EV=34,1st)6; e de dois outros estudos já descritos (EV=37±4,70st)14, (EV=36,6±2,9st)8. Porém, o resultado do presente estudo foi maior do que a média obtida por outro trabalho (EV=19,7±2,54st)23 o que pode estar relacionada à metodologia aplicada, pois, neste trabalho, os pacientes realizaram as fonetografias computadorizadas automatizadas sem a presença do avaliador e com as instruções apresentadas em vídeo.

Com relação à frequência fundamental, ao comparar o valor médio encontrado (F0=111,26Hz±15,24) com outros estudos que também investigaram a medida da F0 em homens falantes do português brasileiro e sem alterações vocais, observou-se que o resultado foi semelhante a um estudo (F0=109,05)14. Por outro lado, outros trabalhos encontraram valores de frequência fundamental superiores aos obtidos no presente, em vozes normais (F0=120Hz)26; ao padronizar a frequência fundamental em um programa desenvolvido pela Escola de Engenharia de São Carlos (F0=127,61Hz)27; e ao analisar o funcionamento e o tipo de voz em diferentes posições do microfone (F0=130,19Hz)28. A diferença encontrada sugere que a condição dentofacial pode influenciar no posicionamento da laringe e, ainda, na a frequência fundamental. Em um estudo realizado pós cirurgia ortognática foi descrito que a mudança no perfil facial do paciente gerou modificações na frequência fundamental da voz e no posicionamento do osso hióide após a cirurgia29,

Considerando os valores médios obtidos quanto às intensidades mínima e máxima (IMÍN=66dB±3dB e IMÁX=114dB±5dB), os valores encontrados foram semelhantes aos de dois estudos (IMÍN=66±3,48dB e IMÁX=118±2,62dB)14 e (IMÍN=67,6±2,41dB e IMÁX=115,5±3,84dB)23, mas foram superiores a outros (IMÍN=46,6dB±5,74dB e IMÁX=100,3dB±5,57dB)9, (IMÍN=46,2±0,4dB e IMÁX=95,4±3,7dB)8 e (IMÍN=50,9dB e IMÁX=97,3dB)6, indicando que a presença de equilíbrio dentofacial pode facilitar não apenas a articulação dos fones, mas também o processo fonatório, possibilitando alcançar maiores intensidades mínimas e máximas, por meio de maior pressão aérea à fonação, bem como, maior controle laríngeo à passagem da corrente de ar30,31. Porém, tais hipóteses devem ser testadas em novos estudos, por meio da comparação entre grupos de indivíduos com condição dentofacial equilibrada àqueles com deformidades dentofaciais.

Quanto à EDM, o resultado deste estudo (EDM=42dB±4dB) também foi semelhante aos valores encontrados em estudos já descritos (EDM=46±3,68dB)14, (EDM=44,2±5,85dB)23, (EDM=49,2±3,5dB)8 e (EDM=46,5dB)6, porém menor do que ao encontrado em outro estudo (EDM=58dB)11, que realizou provas fonatórias distintas das tarefas empregadas no presente estudo.

Quanto à medida da área do fonetograma o valor médio encontrado (Área=936,4dB.st±258,8dB.st ou Área=42,1cm2±11,6 cm2) foi semelhante a estudos descritos (Área=51,9±8,85cm2)14 e (Área=955,5±100,1dB.st)8, porém superior a outros (Área=568,3±146,58dB.st)23, (Área=27,6cm2)6, e em indivíduos disfônicos e normais (Área=25,7cm2)7. Considerando-se que a área do fonetograma é compreendida como sendo a área resultante da conexão entre todos os pontos da curva inferior e superior do gráfico, o valor médio obtido no presente estudo foi maior do que os referidos, provavelmente devido aos resultados relacionados à frequência6 e intensidade23 também serem superiores, repercutindo na área do gráfico.

Apesar da literatura apresentada não considerar a condição dentofacial dos indivíduos, os resultados obtidos foram semelhantes à EV6,8,11,14 e EDM6,8,14,23, sugerindo que os aspectos anatômicos do sistema estomatognático não influenciam tais parâmetros acústicos vocais. Por outro lado, de acordo com os achados deste trabalho, a frequência fundamental, intensidade mínima e máxima, assim como a área do fonetograma podem ser influenciados pela posição dos articuladores, os quais apresentam intrínseca relação com a função fonatória da laringe.

Na literatura não foram encontrados trabalhos que considerassem a avaliação acústica vocal as condições anatômicas da face e a oclusão em homens. Apesar dos estudos apresentados não considerarem a condição dentofacial dos indivíduos, alguns resultados obtidos foram semelhantes.

No Brasil, não há estudos de padronização de valores de referência para homens, apesar da fonetografia ser utilizada como um dos instrumentos para avaliação vocal. Sugere-se que a fonetografia seja utilizada em outros estudos para dar continuidade à investigação das possíveis relações dos parâmetros vocais nas diversas tipologias faciais e relações dento-oclusais

CONCLUSÃO

Essa pesquisa possibilitou estudar o perfil da extensão vocal de indivíduos com equilíbrio dentofacial pós-muda vocal por meio da fonetografia. As médias das frequências habitual, mínima e máxima foram de Fo=111,26Hz (29st), FMÍN=89Hz (63st) e FMÁX 665Hz, respectivamente, média da extensão vocal de 34st e valores médios de intensidades mínima, máxima e extensão dinâmica máxima de IMÍN=66dB, IMÁX=114dB e EDM=42dB, além da média da área do fonetograma de 936,4dB.st (42,1cm2).

AGRADECIMENTOS

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pelo apoio financeiro com bolsa de iniciação científica.

Recebido em: 22/09/2011

Aceito em: 16/02/2012

Conflito de interesses: inexistente

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  • Endereço para correspondência:
    Giédre Beretin-Félix
    Departamento de Fonoaudiologia
    Al. Dr. Octávio Pinheiro Brizolla, 9-75 – Vila Universitária – Bauru, SP – Brasil
    CEP: 17012-901
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      06 Nov 2012
    • Data do Fascículo
      Out 2013

    Histórico

    • Recebido
      22 Set 2011
    • Aceito
      16 Fev 2012
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