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Influência do ambiente familiar, percepção parental e nível econômico no vocabulário receptivo de crianças

RESUMO

Objetivo:

verificar a influência do ambiente familiar, percepção parental e condições socioeconômicas no vocabulário receptivo de escolares do ensino fundamental.

Métodos:

trata-se de estudo observacional transversal analítico. Os escolares, selecionados por amostragem proporcional estratificada, realizaram o Teste de Vocabulário Receptivo. Os responsáveis responderam à anamnese e ao Inventário de Recursos do Ambiente Familiar. Inicialmente, realizou-se análise bivariada pelo teste Qui-quadrado, considerando p<0,20. Na análise multivariada de regressão logística binária, considerou-se o valor p<0,05 e a qualidade do modelo foi avaliada pelo método Hosmer-Lemeshow.

Resultados:

dos 263 escolares, 131 são do sexo masculino, 142 do terceiro ano, possuem idade média de 7,6 anos (±0,57) e 111 apresentam vocabulário receptivo rebaixado. Na análise bivariada, observou-se relação entre percepção parental acerca do aprendizado da leitura, da escrita, repetência escolar e o desfecho (p<0,05). Também foram para análise multivariada as variáveis recursos do ambiente e estabilidade da vida familiar (p<0,20).

Conclusão:

a percepção parental de dificuldade de leitura e de escrita e a falta de estabilidade familiar foram fatores associados ao pior vocabulário receptivo.

Descritores:
Vocabulário; Criança; Ambiente Domiciliar; Instituições Acadêmicas

ABSTRACT

Purpose:

to examine the influence of familial environment, parental perception, and socioeconomic conditions on the receptive vocabulary of elementary school children.

Methods:

an analytical cross-sectional observational study. The students were selected by stratified proportional sampling, using the Receptive Vocabulary Test. Those responsible for the children answered the anamnesis and the inventory of family environmental resources. Initially, a bivariate analysis was performed using the chi-square test, considering p<0.20. In the multivariate analysis of binary logistic regression, p<0.05 was considered, and the quality of the model was evaluated through the Hosmer-Lemeshow method.

Results:

out of the 263 students, 131 were males, 142 were in the third grade and were on average 7.6 years old (±0.57), and 111 had a low receptive vocabulary. In the bivariate analysis, there was a relationship between parental perception about learning to read and write, school failure, and the outcome (p<0.05). The variables environment, resources, and stability of family life were also used for multivariate analysis (p<0.20).

Conclusion:

Parental perception of difficulty in reading and writing and a lack of family stability were factors associated with poor receptive vocabulary.

Keywords:
Vocabulary; Child; Home Environment; Schools

INTRODUÇÃO

Nas interações interpessoais, as palavras são o suprassumo da comunicação, uma vez que a grandeza e a dimensão do vocabulário são decisórias para estabelecer a expressão e o entendimento entre as pessoas. O refinamento do vocabulário é basilar para o desenvolvimento da linguagem que se edifica gradativamente e se desenvolve em meio a diferentes formas de apresentação das palavras e suas significações11. Barbosa VM, Silva C. Correlation between receptive vocabulary skill, syntactic awareness, and word writing. Rev. CEFAC. 2020;22(3):e2420. https://dx.doi.org/10.1590/1982-0216/20202232420.
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), (22. Silva C, Alves PV. Vocabulary performance of students with and without difficulties learning to read and write. Rev. CEFAC. 2021;23(3):e12020. https://doi.org/10.1590/1982-0216/202123312020.
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.

A conquista de novas palavras aperfeiçoa esquemas e, na infância, capacita a criança a aprender outros vocábulos, sendo que o progresso do vocabulário pode ser percebido como um sistema em constante transformação que outorga o aprimoramento ao acesso às informações, além de ser um forte preditor no desenvolvimento da leitura22. Silva C, Alves PV. Vocabulary performance of students with and without difficulties learning to read and write. Rev. CEFAC. 2021;23(3):e12020. https://doi.org/10.1590/1982-0216/202123312020.
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3. Beard A. Speech, language and communication: a public health issue across the lifecourse. Paediatr Child Health. 2018;28(3):126-31. https://doi.org/10.1016/j.paed.2017.12.004.
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4. Koenig A, Arunachalam S, Saudino KJ. Lexical processing of nouns and verbs at 36 months of age predicts concurrent and later vocabulary and school readiness. J Cogn Dev. 2020;21(5):670-89. https://doi.org/10.1080/15248372.2020.1802277. PMID: 33727892.
https://doi.org/10.1080/15248372.2020.18...
-55. Silva C, Pereira FB. Performance in receptive vocabulary and reading comprehension tests in elementary education students. Psicol. Teor. Prat. 2019;21(2):277-93. http://dx.doi.org/10.5935/1980-6906/psicologia.v21n2p277-293.
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. O vocabulário condiz com as palavras que fazem parte do léxico de uma pessoa e pode ser segmentado como vocabulário expressivo e receptivo. Enquanto o vocabulário expressivo relaciona-se à habilidade para falar e comunicar oralmente, o receptivo envolve compreender o que se ouve33. Beard A. Speech, language and communication: a public health issue across the lifecourse. Paediatr Child Health. 2018;28(3):126-31. https://doi.org/10.1016/j.paed.2017.12.004.
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.

Entre crianças em idade escolar de 8 aos 10 anos, observa-se que o vocabulário é um preditor da leitura e pesquisas apontam relação entre o vocabulário e a compreensão leitora no decorrer do avanço das seriações11. Barbosa VM, Silva C. Correlation between receptive vocabulary skill, syntactic awareness, and word writing. Rev. CEFAC. 2020;22(3):e2420. https://dx.doi.org/10.1590/1982-0216/20202232420.
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,55. Silva C, Pereira FB. Performance in receptive vocabulary and reading comprehension tests in elementary education students. Psicol. Teor. Prat. 2019;21(2):277-93. http://dx.doi.org/10.5935/1980-6906/psicologia.v21n2p277-293.
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. Discussões acerca do vocabulário receptivo, de escolares no ensino fundamental, revelam que a sua avaliação é muito significativa para o prognóstico de desempenho em leitura e escrita, pois reflete diretamente no desenvolvimento do vocabulário expressivo66. Peng P, Fuchs D, Fuchs LS, Elleman AM, Kearns DM, Gilbert JK et al. A longitudinal analysis of the trajectories and predictors of word reading and reading comprehension development among at-risk readers. J Learn Disabil. 2019; 52(3):195-208. https://doi.org/10.1177/0022219418809080.
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,77. Santos RS, Francisco GCP, Lukasova K. Expressive and receptive vocabulary in preschool children and socioeconomic factors. Rev. CEFAC. 2021;23(6):e5921. https://doi.org/10.1590/1982-0216/20212365921.
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, além de sofrer grande influência da qualidade do ambiente 88. Virtuozo CPM, Marques MC, Monteiro C. The influence of sociocultural and biological variables on the performance of receptive language in preschool children. Distúrb. Comum. 2018;30(4):705-72. https://doi.org/10.23925/2176-2724.2018v30i4p705-712.
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.

Estudos apontam que o vocabulário receptivo é mais vasto que o expressivo, uma vez que o número de palavras compreendidas é duas vezes maior que o de palavras emitidas99. Araújo MVM, Marteleto MRF, Schoen-Ferreira TH. Avaliação do vocabulário receptivo de crianças pré-escolares. Estud. Psicol. 2010;27(2):169-76. https://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2010000200004.
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. Bem antes do início da fala, a criança é incentivada, motivada, levada a lançar mão de olhares, gestos, expressões faciais 99. Araújo MVM, Marteleto MRF, Schoen-Ferreira TH. Avaliação do vocabulário receptivo de crianças pré-escolares. Estud. Psicol. 2010;27(2):169-76. https://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2010000200004.
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e, paulatinamente, desenvolver a capacidade de discernir os sons da fala para estabelecer a comunicação com aqueles que estão à sua volta66. Peng P, Fuchs D, Fuchs LS, Elleman AM, Kearns DM, Gilbert JK et al. A longitudinal analysis of the trajectories and predictors of word reading and reading comprehension development among at-risk readers. J Learn Disabil. 2019; 52(3):195-208. https://doi.org/10.1177/0022219418809080.
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.

Para tanto, a aquisição do vocabulário não é somente o ato de falar. É muito além disso, pois a criança lançará mão de suas capacidades mnêmicas e cognitivas para compreender a palavra recebida, codificá-la e contextualizá-la no seu mundo99. Araújo MVM, Marteleto MRF, Schoen-Ferreira TH. Avaliação do vocabulário receptivo de crianças pré-escolares. Estud. Psicol. 2010;27(2):169-76. https://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2010000200004.
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. Prova disso é que o vocabulário receptivo é o alicerce para o desenvolvimento do vocabulário expressivo que se refletirá na habilidade de se fazer inferências por meio da compreensão das palavras faladas, escritas e de sinais33. Beard A. Speech, language and communication: a public health issue across the lifecourse. Paediatr Child Health. 2018;28(3):126-31. https://doi.org/10.1016/j.paed.2017.12.004.
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. O vocabulário receptivo torna-se elemento de grande relevância no processo da comunicação, pois, por meio dele, a criança desenvolve competências em torno da percepção do sistema sonoro da língua e, atrelado ao desempenho de conversação e outras condutas, evolui para uma melhor compreensão das palavras66. Peng P, Fuchs D, Fuchs LS, Elleman AM, Kearns DM, Gilbert JK et al. A longitudinal analysis of the trajectories and predictors of word reading and reading comprehension development among at-risk readers. J Learn Disabil. 2019; 52(3):195-208. https://doi.org/10.1177/0022219418809080.
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,88. Virtuozo CPM, Marques MC, Monteiro C. The influence of sociocultural and biological variables on the performance of receptive language in preschool children. Distúrb. Comum. 2018;30(4):705-72. https://doi.org/10.23925/2176-2724.2018v30i4p705-712.
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.

A amplitude do vocabulário de uma criança pode sofrer interferências expressas de fatores externos como a qualidade de estimulação da linguagem, o ambiente familiar e o nível socioeconômico, os quais potencializam condutores de novos aprendizados e experiências, fatores esses associados ao desenvolvimento de áreas cerebrais específicas88. Virtuozo CPM, Marques MC, Monteiro C. The influence of sociocultural and biological variables on the performance of receptive language in preschool children. Distúrb. Comum. 2018;30(4):705-72. https://doi.org/10.23925/2176-2724.2018v30i4p705-712.
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,1010. Mengmeng Su, Schotten MT, Zhao J, Song S, Zhou W, Gong G et al. Influences of the early family environment and long-term vocabulary development on the structure of white matter pathways: a longitudinal investigation. Dev Cogn Neurosci. 2020;42:100767. https://doi.org/10.1016/j.dcn.2020.100767. PMID: 32072939.
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,1111. Ober TM, Brooks PJ. Identifying direct and indirect influences on vocabulary development of children from low-income families from infancy to grade. Cognitive Development. 2022;62:101163. https://doi.org/10.1016/j.cogdev.2022.101163.
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. Coorte de 14 anos mostrou uma correlação entre o desenvolvimento de vocabulário a longo prazo das crianças, o nível socioeconômico e a idade de exposição à leitura ao desenvolvimento cerebral do hemisfério esquerdo1010. Mengmeng Su, Schotten MT, Zhao J, Song S, Zhou W, Gong G et al. Influences of the early family environment and long-term vocabulary development on the structure of white matter pathways: a longitudinal investigation. Dev Cogn Neurosci. 2020;42:100767. https://doi.org/10.1016/j.dcn.2020.100767. PMID: 32072939.
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.

O ambiente familiar envolve influências e atravessamentos decisivos no desenvolvimento da criança que perpassa o envolvimento com as práticas educativas1212. Maia FA, Soares AB. Differences in fathers and mothers parental practices and 6th grade middle school children's perceptions. Est. Inter. Psicol. 2019;10(1):59-82. https://doi.org/10.5433/2236-6407.2019v10n1p59.
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. Os comportamentos de pais e filhos (condutas parentais) tem sido o escopo de muitos estudos e pesquisas, ao entorno dessa temática, ressaltam as práticas parentais como importantes preditores para o desenvolvimento infantil e para a aquisição e desenvolvimento do vocabulário1313. Dias NM, Bueno JOS, Pontes JM, Mecca TP. Oral and written language in Infant Education: relation with environmental Variables. Psicol. Esc. Educ. 2019;23:e178467. https://dx.doi.org/10.1590/2175-35392019018467.
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,1414. Pereira L, Guedes SC, Morais RLS, Nobre JNP, Santos JN. Environmental resources, types of toys, and family practices that enhance child cognitive development. CoDAS. 2021;33(2):e20190128. https://doi.org/10.1590/2317-1782/20202019128. PMID: 33978101.
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. O inverso também é verdadeiro, sendo que a baixa qualidade do ambiente familiar com renda familiar diminuta, baixa escolaridade dos genitores e o número elevado de filhos são considerados como fatores preponderantes de risco de atraso no desenvolvimento da linguagem infantil e na aquisição e desenvolvimento do vocabulário1111. Ober TM, Brooks PJ. Identifying direct and indirect influences on vocabulary development of children from low-income families from infancy to grade. Cognitive Development. 2022;62:101163. https://doi.org/10.1016/j.cogdev.2022.101163.
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,1313. Dias NM, Bueno JOS, Pontes JM, Mecca TP. Oral and written language in Infant Education: relation with environmental Variables. Psicol. Esc. Educ. 2019;23:e178467. https://dx.doi.org/10.1590/2175-35392019018467.
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. Estudos atestam que o ambiente familiar tem por responsabilidade garantir à criança seu bem-estar e segurança, ao zelar pela promoção de sua adaptação ao meio, além de oferecer estimulação e um ambiente de apoio socioemocional88. Virtuozo CPM, Marques MC, Monteiro C. The influence of sociocultural and biological variables on the performance of receptive language in preschool children. Distúrb. Comum. 2018;30(4):705-72. https://doi.org/10.23925/2176-2724.2018v30i4p705-712.
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,1313. Dias NM, Bueno JOS, Pontes JM, Mecca TP. Oral and written language in Infant Education: relation with environmental Variables. Psicol. Esc. Educ. 2019;23:e178467. https://dx.doi.org/10.1590/2175-35392019018467.
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.

As condutas familiares representam outro fator que pode incidir no bom desenvolvimento vocabular da criança, na medida em que os genitores se mostrem interessados pelas atividades e conteúdos escolares de seus filhos1515. Câmara-Costa H, Pulgar S, Cusin F, Labrell F, Dellatolas G. Associations of language-based bedtime routines with early cognitive skills and academic achievement: a follow-up from kindergarten to middle school. Br J Dev Psychol. 2021;39(4):521-39. https://doi.org/10.1111/bjdp.12378. PMID: 33950549.
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,1616. Marturano EM. The home environment resources scale. Psicol. Reflexo. Crit. 2006;19(3):498-506. https://doi.org/10.1590/S0102-79722006000300019.
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. É de suma importância, que os pais contem histórias, leiam livros infantis, cantem canções de ninar e tenham momentos de interação com a criança. Um estudo acompanhou 664 crianças da pré-escola ao ensino médio e constatou que a presença de rotinas de dormir, baseadas em linguagem (57%), potencializa habilidades cognitivas e acadêmicas, com efeito benéfico no vocabulário da criança na primeira infância e associação positiva com o desempenho acadêmico na 9ª série1515. Câmara-Costa H, Pulgar S, Cusin F, Labrell F, Dellatolas G. Associations of language-based bedtime routines with early cognitive skills and academic achievement: a follow-up from kindergarten to middle school. Br J Dev Psychol. 2021;39(4):521-39. https://doi.org/10.1111/bjdp.12378. PMID: 33950549.
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Nessa perspectiva, há fortes evidências de que a ausência do suporte familiar no que tange a mecanismos simples como ler para a criança e ouvi-la; compartilhar momentos de descontração e conversas, além de acompanhar o desenvolvimento escolar em atividades diárias demandadas pela escola tem impacto negativo no desenvolvimento pessoal e acadêmico da criança, especificamente naquelas com dificuldades de leitura e escrita e repetência escolar1717. Costa K, Montiel JM, Bartholomeu D, Murgo CS, Campos NR. Percepção do suporte familiar e desempenho em leitura e escrita de crianças do ensino fundamental. Rev. Psicopedag. 2016;33(101):154-63..

Ressaltam-se ainda os fatores econômicos, sendo que o baixo nível socioeconômico reflete negativamente no desempenho do vocabulário na infância88. Virtuozo CPM, Marques MC, Monteiro C. The influence of sociocultural and biological variables on the performance of receptive language in preschool children. Distúrb. Comum. 2018;30(4):705-72. https://doi.org/10.23925/2176-2724.2018v30i4p705-712.
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,1313. Dias NM, Bueno JOS, Pontes JM, Mecca TP. Oral and written language in Infant Education: relation with environmental Variables. Psicol. Esc. Educ. 2019;23:e178467. https://dx.doi.org/10.1590/2175-35392019018467.
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,1818. Ferinu L, Ahufinger N, Pacheco-Vera F, Sanz-Torrent M, Andreu L. Antecedentes familiares, factores sociodemográficos y dificultades lingüísticas en el trastorno del desarrollo del linguaje. Rev. de Logop. Foniatr. y Audiol. 2021;41(1):29-39. https://doi.org/10.1016/j.rlfa.2020.01.003.
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. Embora existam estudos que verificaram a relação entre as variáveis ambiente familiar e o desempenho do vocabulário receptivo1111. Ober TM, Brooks PJ. Identifying direct and indirect influences on vocabulary development of children from low-income families from infancy to grade. Cognitive Development. 2022;62:101163. https://doi.org/10.1016/j.cogdev.2022.101163.
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,1818. Ferinu L, Ahufinger N, Pacheco-Vera F, Sanz-Torrent M, Andreu L. Antecedentes familiares, factores sociodemográficos y dificultades lingüísticas en el trastorno del desarrollo del linguaje. Rev. de Logop. Foniatr. y Audiol. 2021;41(1):29-39. https://doi.org/10.1016/j.rlfa.2020.01.003.
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, há ainda aquele que não assevera esta relação1313. Dias NM, Bueno JOS, Pontes JM, Mecca TP. Oral and written language in Infant Education: relation with environmental Variables. Psicol. Esc. Educ. 2019;23:e178467. https://dx.doi.org/10.1590/2175-35392019018467.
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. Ademais, verifica-se que a grande maioria dos estudos tem seu foco na influência dessas variáveis na aquisição de vocabulário na primeira infância, sendo a idade escolar um período essencial para a compreensão dos fatores de risco e ou proteção à aquisição e expansão do vocabulário receptivo, visto sua forte ligação com o sucesso acadêmico1111. Ober TM, Brooks PJ. Identifying direct and indirect influences on vocabulary development of children from low-income families from infancy to grade. Cognitive Development. 2022;62:101163. https://doi.org/10.1016/j.cogdev.2022.101163.
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,1919. Olaru G, Robitzsch A, Hildebrandt A, Schroeder U. Examining moderators of vocabulary acquisition from kindergarten through elementary school using local structural equation modeling. Learn. Individ. Differ. 2022;95:102136. https://doi.org/10.1016/j.lindif.2022.102136.
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e a melhor compreensão de leitura2020. Colombo RC, Cárnio MS. Reading comprehension and receptive vocabulary in Elementary School students with typical development. CoDAS. 2018;30(4):e201700145. https://doi.org/10.1590/2317-1782/20182017145. PMID: 30043898.
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Destarte, verifica-se a indispensabilidade de pesquisas que corroborem para a melhor compreensão do atravessamento dessas variáveis no vocabulário receptivo em crianças em idade escolar. Sendo assim, o objetivo do presente estudo é verificar a influência do ambiente familiar, percepção parental e condições socioeconômicas no vocabulário receptivo de escolares do ensino fundamental.

MÉTODOS

Delineamento

Estudo observacional analítico e transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) Institucional da Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil, sob o numero CAAE-48129215.1.0000.5149. O estudo foi realizado no período de outubro de 2015 a novembro de 2016 em escolares de ensino fundamental da rede pública municipal de Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte. Todos os participantes foram esclarecidos quanto aos aspectos voluntários da participação no programa, seus benefícios e repercussões.

Cenário, População e Amostra

O município sede da pesquisa possuía, no momento da coleta de dados, três macrorregionais, distritos A, B e C e 38 escolas municipais que ofereciam as séries iniciais do ensino fundamental2121. Santos LP. Desempenho escolar de crianças do ensino fundamental e fatores associados [dissertation]. Belo Horizonte (MG): Universidade Federal de Minas Gerais; 2017. http://hdl.handle.net/1843/43120.
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. Nesta cidade, 39% das matrículas de crianças do 2º e 3º ano do ensino fundamental em escolas municipais estavam localizadas no distrito A, 23% estavam no distrito B e 38% no distrito C. Conforme o trabalho de Santos2121. Santos LP. Desempenho escolar de crianças do ensino fundamental e fatores associados [dissertation]. Belo Horizonte (MG): Universidade Federal de Minas Gerais; 2017. http://hdl.handle.net/1843/43120.
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, dentre as 38 escolas da rede municipal de ensino, 24 ofereciam 2º e 3º ano do ensino fundamental; nove escolas só ofereciam ensino até o 1º ano; e cinco até o 2º ano. Dentre as 24 escolas, seis estavam localizadas no distrito B, 10 no distrito A, e 10 no C. Obedecendo a proporção de matrículas por região, foi realizado um sorteio com números aleatórios de seis escolas que ofereciam 2º e 3º anos, sendo duas da região B, duas da A e duas da região C. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município foi 0,684, em 2010, o que situa esse município na faixa de Desenvolvimento Humano Médio (IDH entre 0,600 e 0,699).

Amostra

Participaram do estudo, crianças matriculadas nas séries iniciais do ensino fundamental (2º e 3º anos) com assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE - pelos responsáveis e Termo de Assentimento Livre e Esclarecido - TALE - pela criança. Foram excluídas do estudo as crianças com alterações sensoriais não corrigidas (deficiências visual e auditiva) que pudessem interferir no desempenho escolar e aquelas que se recusaram a participar.

As crianças foram selecionadas por amostragem probabilística por conglomerados em dois níveis segundo região/distrito e instituição de ensino, conforme cálculo amostral a seguir: Tamanho populacional = 3357 crianças; prevalência estimada de vocabulário receptivo abaixo da média = 17,4%2020. Colombo RC, Cárnio MS. Reading comprehension and receptive vocabulary in Elementary School students with typical development. CoDAS. 2018;30(4):e201700145. https://doi.org/10.1590/2317-1782/20182017145. PMID: 30043898.
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. A precisão desejada (margem de erro aceitável) foi ±5%, nível de confiança = 99% e o poder do teste foi de 90%, totalizando amostra de 205 escolares, conforme o estudo de Colombo e Cárnio2020. Colombo RC, Cárnio MS. Reading comprehension and receptive vocabulary in Elementary School students with typical development. CoDAS. 2018;30(4):e201700145. https://doi.org/10.1590/2317-1782/20182017145. PMID: 30043898.
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. Acrescentou-se a este valor 25% de perdas, totalizando 256 participantes.

Instrumentos

Para a avaliação do “vocabulário receptivo”, o instrumento utilizado foi o Teste de Vocabulário por Figuras USP - Tvfusp-92o2222. Capovilla FC. Teste de vocabulário por figuras USP: (Tvfusp): Normatizado para avaliar a compreensão auditiva de palavras dos 7 aos 10 anos, São Paulo, Memnon, 2011.. O TVfusp avalia o vocabulário receptivo auditivo, isto é, a habilidade de compreender palavras ouvidas. Foi utilizada a versão abreviada do Tvfusp - TVfusp92o, que contém quatro itens de treino e 92 itens de teste, ordenados por dificuldade crescente, cada qual com quatro desenhos. A tarefa consiste em selecionar, dentre as figuras alternativas, aquela que melhor corresponde à palavra falada pelo examinador. O teste apresenta 92 itens entre 14 conjuntos de itens com porcentagens de dificuldade com amplitude que vai de 1% a 90%. O escore máximo é de 92 acertos. O Teste de Vocabulário por Figuras, versão abreviada de 92 itens (TVfusp-92o), encontra-se normatizado e validado para crianças de 7 a 10 anos de idade, bem como os resultados foram descritos em três categorias, conforme manual do instrumento: - rebaixado, médio e elevado2323. Capovilla FC, Tomazette MMML. Versão abreviada do Teste de Vocabulário por Figuras Usp (TVfusp-92o): elaboração a partir da análise de itens no TVfusp-139o. In: Capovilla FC, Tomazette MMML, organizadores. Teste de Vocabulário por Figuras USP (TVfusp): Normatizado para avaliar compreensão auditiva de palavras dos 7 aos 10 anos. 1 ed. São Paulo: Memnon. 2011. p.208-17..

Para avaliação dos recursos do ambiente familiar, foi utilizado o inventário de Recursos do Ambiente Familiar, o RAF - proposto por Marturano1616. Marturano EM. The home environment resources scale. Psicol. Reflexo. Crit. 2006;19(3):498-506. https://doi.org/10.1590/S0102-79722006000300019.
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, por se tratar de um instrumento que, segundo estudos, apresenta indícios de fidedignidade e validade satisfatórios. O RAF é integrado por 14 tópicos, reunidos em três domínios: o primeiro diz respeito aos recursos que promovem processos proximais que compreende práticas de experiências estimuladoras do desenvolvimento: passeios, materiais que estimulam à reflexão, disponibilidade de brinquedos e livros, jornais e revistas, uso do tempo livre e acesso a atividades programadas de aprendizagem. Avaliam atividades previsíveis que sinalizam algum grau de estabilidade na vida familiar e práticas parentais que promovem a ligação família-escola. Já o segundo domínio sinaliza algum grau de estabilidade na vida familiar: rotinas e reuniões regulares da família e cooperação da criança em atividades domésticas. O último domínio é o das práticas parentais que estimulam a correlação família-escola, abarcam indicadores do envolvimento direto dos genitores na vida escolar: reuniões e acompanhamento de notas1616. Marturano EM. The home environment resources scale. Psicol. Reflexo. Crit. 2006;19(3):498-506. https://doi.org/10.1590/S0102-79722006000300019.
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.

Para análise, foi considerado o somatório de pontos, ou seja, valores brutos. Para avaliar a variável “nível socioeconômico”, o presente estudo adotou o protocolo Critério de Classificação Econômica Brasil - CCEB2424. Associações Brasileiras de Empresas de Pesquisa (ABEP). Critério de classificação econômica Brasil. 2015. Available at: http://www.abep.org/criterio-brasil. Accessed on 2015 jan 26.
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para classificar economicamente a população do estudo, sem a pretensão de categorizar a população em estratos sociais, uma vez que a classificação é feita com base na posse de bens e não na renda familiar. As classes definidas pelo CCEB são A1, A2, B1, B2, C, D e E. Dessa forma, foram adotados os cortes do critério Brasil para a compreensão dessas classes: A1 42-46 pontos; A2 35-41 pontos; B1 29-34 pontos; B2 23-28 pontos; C1 18-22 pontos; C2 14-17 pontos; D 8-13 pontos; e E 0-7 pontos2424. Associações Brasileiras de Empresas de Pesquisa (ABEP). Critério de classificação econômica Brasil. 2015. Available at: http://www.abep.org/criterio-brasil. Accessed on 2015 jan 26.
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Procedimentos

Foi realizada uma reunião com os pais ou responsáveis que assinaram o TCLE e, nesta, responderam a uma breve anamnese para levantamento de informações sobre: o desenvolvimento neuropsicomotor e de linguagem oral da criança; as condições auditivas e/ ou visuais; a realização de terapia fonoaudiológica atual e/ou anterior; a percepção diante das dificuldades com a leitura e escrita, além do histórico de reprovação escolar. Os pais responderam à anamnese, ao questionário da CCEB e ao RAF em seus domicílios, uma vez que foram enviados por meio da escola para a casa e, aqueles que apresentaram alguma dificuldade receberam auxílio na própria escola. A aplicação do Teste de Vocabulário por figuras - TVfusp deu-se de forma coletiva, em data previamente agendada e em sala determinada pela coordenação escolar.

Análise de Dados

Os dados coletados foram transferidos inicialmente para o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 19.0, quando foi realizada análise exploratória do banco de dados e análises descritivas dos participantes e das variáveis do estudo. Como variável dependente, foi considerado o teste de “vocabulário receptivo”, cujos resultados foram descritos em três categorias, conforme manual do instrumento: rebaixado, médio e elevado. Para fins de análise, as categorias “médio e elevado” foram agrupadas, sendo as crianças alocadas somente em dois grupos, a saber: grupo com desempenho no vocabulário receptivo abaixo da média e grupo com desempenho no vocabulário receptivo médio ou superior. As variáveis independentes foram sexo, nível econômico, escolaridade materna, série e repetência escolar, percepção parental de dificuldade em leitura e em escrita e inventário dos recursos familiares - escala total e domínios separados do RAF.

Para a análise bivariada, o nível econômico foi dicotomizado em duas categorias: “A, B e C1” e “C2, D e E”; a variável escolaridade materna foi categorizada em: até ensino fundamental completo e ensino médio ou superior; os alunos pertenciam ao 2º e 3º anos e poderiam ou não ter histórico de repetência escolar. Quanto à percepção parental, os pais responderam sim ou não às perguntas: - Seu filho tem dificuldade para ler? Seu filho tem dificuldade para escrever?

Para análise da qualidade do ambiente familiar, considerou-se cada um dos três blocos do RAF. O primeiro acerca dos “Processos Proximais”, o segundo retrata a “Estabilidade na vida familiar” e o terceiro a “Correlação família e escola”. O Teste Shapiro-Wilk foi empregado para análise da distribuição normal das variáveis do ambiente familiar (blocos do RAF) e os dados estão apresentados em mediana, 1º e 3º quartis.

Na análise bivariada, as variáveis de caracterização da amostra foram comparadas entre os grupos com vocabulário receptivo abaixo da média e vocabulário receptivo médio ou superior pelo teste Mann-Whitney. A comparação da distribuição das variáveis categóricas entre os grupos foi realizada pelo teste Qui-quadrado e apresentadas por número absoluto e frequência relativa.

No modelo de regressão linear binária hierárquica, foram consideradas as variáveis que tiveram um p < 0,20 na análise bivariada e, permaneceram no modelo, apenas aquelas com p < 0,05. Interações entre as variáveis do modelo final foram examinadas. A qualidade do modelo foi avaliada pelo método Hosmer-Lemeshow e pela medida de ajuste - 2 log likelihood (-2LL). A análise de resíduos, no modelo final, foi realizada para detecção de outliers significantes.

RESULTADOS

No presente estudo, foram investigadas um total de 315 crianças, sendo que 19 (6,03%) foram excluídas por apresentarem alterações sensoriais não corrigidas - deficiências auditiva e visual - e 33 (10,47%) por não terem preenchido ou concluído os testes corretamente. A amostra final foi constituída de 263 participantes.

Dos 263 escolares, 132 (50,2%) são do sexo feminino e 131 (49,8%) do sexo masculino; 121 (46,0%) crianças estudam no segundo ano e 142 (54,0%) no terceiro ano do Ensino Fundamental. A idade média das crianças foi de 7,6 anos (±0,57).

Em relação ao nível econômico, verificou-se que houve uma concentração das famílias nas classes C, com 160 escolares, correspondendo à 60,8%, seguido pelas classes D e E com 58 escolares (22%), nas classes B com 40 escolares (15,2 %) e a Classe A com 5 escolares (2%).

Observou-se que 41% das mães possuíam escolaridade até oitava série (n=108), 44,9% concluíram o ensino médio (n=118), perfazendo 226 genitoras entrevistadas (85,9%); o restante se distribuiu entre 20 genitoras que possuíam ensino fundamental I até a quarta série com (7,6%), 15 com ensino superior (5,7%), uma declarada analfabeta e outra com pós-graduação.

Em relação ao teste de vocabulário receptivo TVFusp-92º, identificou-se 111 escolares com o vocabulário receptivo rebaixado (42,2%), 141 escolares classificados como vocabulário receptivo médio (53,6%) e apenas 11 escolares com o vocabulário receptivo elevado (4,2%). Na Tabela 1, estão descritas as características socioeconômicas e de percepção parental das dificuldades acadêmicas dos estudantes e sua relação com o vocabulário receptivo. Observou-se relação estatisticamente significante entre a percepção parental acerca do aprendizado da leitura e escrita e da repetência escolar e os resultados da criança no teste de vocabulário.

Tabela 1
Comportamento do vocabulário receptivo com variáveis socioeconômicas e de percepção parental

Na Tabela 2, podem ser visualizados os resultados do inventário dos recursos do ambiente familiar para crianças de acordo com o vocabulário receptivo.

Tabela 2
Resultados dos três domínios do inventário dos recursos do ambiente familiar das crianças de acordo com o vocabulário receptivo

Os resultados da regressão logística binária podem ser visualizados na Tabela 3. No modelo de regressão linear binária hierárquica, foram consideradas as variáveis que tiveram um p < 0,20 na análise bivariada, a saber: percepção parental de dificuldade de leitura, percepção parental de dificuldade de escrita, histórico de repetência escolar, nível econômico, recursos do ambiente e estabilidade familiar. No modelo final, permaneceram apenas aquelas com p < 0,05: percepção parental de dificuldade de leitura e de escrita e estabilidade familiar.

Tabela 3
Regressão logística binária hierárquica para variável dependente “vocabulário receptivo”

As variáveis independentes percepção parental de dificuldade de leitura e de escrita e estabilidade familiar foram consideradas preditoras significantes para distinção entre escolares com vocabulário receptivo abaixo e acima da média. Observa-se que aquelas crianças cujos pais percebem suas dificuldades de leitura e escrita apresentaram 2,19 e 2,30 vezes mais chance, respectivamente, de terem um pior escore no teste de vocabulário receptivo, assim como crianças cujas famílias são mais estáveis apresentaram 93% mais chance de terem melhores resultados no teste de vocabulário.

DISCUSSÃO

O presente estudo teve como escopo analisar a predição do vocabulário receptivo de escolares, tendo como preditores o ambiente familiar, percepção parental e condições econômicas de crianças matriculadas nas séries iniciais do ensino fundamental de uma região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. Por meio do delineamento descritivo transversal, estimou-se a predição de cada desfecho, partindo-se do pressuposto de que a percepção parental acerca da dificuldade de leitura e escrita, bem como a repetência apresentaram dados mais contundentes acerca de fatores que pudessem comprometer o desenvolvimento do vocabulário receptivo das crianças. As variáveis do RAF também foram estimadas, embora somente recursos do ambiente e estabilidade da vida familiar tenham sidos elegíveis.

Partindo-se do pressuposto de que a percepção parental revelou variáveis importantes mediante o vocabulário receptivo: dificuldade para ler e dificuldade com a escrita, ambas se mostraram como preditoras com maior significância estatística, corroborando para o impacto na aquisição vocabulário receptivo. A percepção parental pode predizer as alterações vocabulares das crianças, tendo em vista que são figuras presentes no cotidiano delas. É diante das observações regulares, ou seja, da percepção parental, que se pode sinalizar algum comprometimento no desenvolvimento do filho e, assim, acionar medidas para a compreensão e estimulação desse desenvolvimento1818. Ferinu L, Ahufinger N, Pacheco-Vera F, Sanz-Torrent M, Andreu L. Antecedentes familiares, factores sociodemográficos y dificultades lingüísticas en el trastorno del desarrollo del linguaje. Rev. de Logop. Foniatr. y Audiol. 2021;41(1):29-39. https://doi.org/10.1016/j.rlfa.2020.01.003.
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,2525. Caldas CSO, Takano OA, Mello PRB, Souza SC, Zavala AA. Language abilities performance of children born preterm and low birth weight and associated factors. Audiol., Commun. Res. 2014;19(2):158-66. https://dx.doi.org/10.1590/S2317-64312014000200010.
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.

No presente estudo, não se observou a influência da escolaridade materna e da criança e do nível econômico no vocabulário receptivo dos escolares (Tabela 1), o que pode ser justificado pela homogeneidade da amostra em relação às variáveis sociodemográficas.

Quanto ao sexo, a literatura revela influência do sexo na aquisição do vocabulário e estudos mostram que meninas possuem maior número de palavras aos dois anos de idade quando comparadas aos seus pares do sexo oposto. Um estudo demonstrou que a linguagem receptiva no sexo feminino é significantemente maior quando comparada à linguagem receptiva do sexo masculino88. Virtuozo CPM, Marques MC, Monteiro C. The influence of sociocultural and biological variables on the performance of receptive language in preschool children. Distúrb. Comum. 2018;30(4):705-72. https://doi.org/10.23925/2176-2724.2018v30i4p705-712.
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. Com o avançar da idade, o vocabulário receptivo é ampliado para ambos sexos66. Peng P, Fuchs D, Fuchs LS, Elleman AM, Kearns DM, Gilbert JK et al. A longitudinal analysis of the trajectories and predictors of word reading and reading comprehension development among at-risk readers. J Learn Disabil. 2019; 52(3):195-208. https://doi.org/10.1177/0022219418809080.
https://doi.org/10.1177/0022219418809080...
,2626. Cáceres-Assenço AM, Ferreira SCA, Befi-Lopes DM. Application of a Brazilian test of expressive vocabulary in European Portuguese children. CoDAS. 2018;30(2):e20170113. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20182017113. PMID: 29791612.
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,2727. Barbosa ALA, Lemos FF, Azoni CAS. Application of a vocabulary screening instrument for children between 3- and 7-years-old: a pilot study. CoDAS. 2021;33(2):e20190154. https://doi.org/10.1590/2317-1782/20202019154. PMID: 33978102.
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, o que corrobora os achados do presente estudo, no qual não houve diferença vocabular entre meninos e meninas. Ademais, crianças menores apresentam maiores dificuldades em relação ao vocabulário que vão sendo sanadas com a progressão da seriação e, concomitante, as influências externas oriundas das relações interpessoais: família, escolar e amigos55. Silva C, Pereira FB. Performance in receptive vocabulary and reading comprehension tests in elementary education students. Psicol. Teor. Prat. 2019;21(2):277-93. http://dx.doi.org/10.5935/1980-6906/psicologia.v21n2p277-293.
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,2828. Ferracini F, Capovilla AGS, Dias NM, Capovilla FC. Avaliação de vocabulário expressivo e receptivo na educação infantil. Rev. Psicopedag. 2006;23(71):124-33.. Ressalta-se ainda a importância das habilidades sociais no desempenho do vocabulário com possível codependência entre as relações interpessoais, desempenho de vocabulário e habilidade na leitura2929. Sparapani N, Connor CM, McLean L, Tafetá M, Toste J, Day S. Direct and reciprocal effects among social skills, vocabulary, and reading comprehension in first grade. Contemp Educ Psychol. 2018;53:159-67. https://doi.org/10.1016/j.cedpsych.2018.03.003. PMID: 30078933.
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.

Tendo em vista que o desenvolvimento das habilidades sociais se inicia dentro do contexto familiar, esse estudo, ao analisar a relação entre o ambiente familiar e o vocabulário receptivo (Tabela 2), observou que as variáveis recursos do ambiente (processos proximais) e estabilidade na vida familiar apresentaram na análise bivariada valores de p <0,20 e, por isso, seguiram para a análise multivariada. A literatura é vasta e consistente ao afirmar estreita relação entre os recursos do ambiente e o vocabulário receptivo, no entanto, essa relação não foi confirmada nesta pesquisa e o nível econômico não foi um preditor significante no que tange o desempenho superior em vocabulário receptivo, contrariando alguns estudos1212. Maia FA, Soares AB. Differences in fathers and mothers parental practices and 6th grade middle school children's perceptions. Est. Inter. Psicol. 2019;10(1):59-82. https://doi.org/10.5433/2236-6407.2019v10n1p59.
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,1313. Dias NM, Bueno JOS, Pontes JM, Mecca TP. Oral and written language in Infant Education: relation with environmental Variables. Psicol. Esc. Educ. 2019;23:e178467. https://dx.doi.org/10.1590/2175-35392019018467.
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,1616. Marturano EM. The home environment resources scale. Psicol. Reflexo. Crit. 2006;19(3):498-506. https://doi.org/10.1590/S0102-79722006000300019.
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,2020. Colombo RC, Cárnio MS. Reading comprehension and receptive vocabulary in Elementary School students with typical development. CoDAS. 2018;30(4):e201700145. https://doi.org/10.1590/2317-1782/20182017145. PMID: 30043898.
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. O fato de todas as crianças estudarem em escolas da rede pública e pertencerem majoritariamente (83%) às classes C, D e E pode ser uma justificativa para tais resultados, que dificultaram a adequada comparação do vocabulário entre diferentes classes econômicas.

Em relação à estabilidade familiar, observou-se, no presente estudo, que crianças, pertencentes a famílias mais estabilizadas, apresentaram 93% de chances de obterem melhores resultados no teste de vocabulário. O conceito de estabilidade na vida familiar1616. Marturano EM. The home environment resources scale. Psicol. Reflexo. Crit. 2006;19(3):498-506. https://doi.org/10.1590/S0102-79722006000300019.
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está relacionado diretamente aos recursos do ambiente (processos proximais) que não podem funcionar efetivamente em ambientes que são instáveis e imprevisíveis no espaço e no tempo. Para tanto, subentende-se que a instabilidade e imprevisibilidade tanto sob a ótica econômica, quanto como a família se organiza enquanto instituição que necessita de regras e normas para o funcionamento harmonioso entre os seus: desde a rotina do dia a dia até a qualidade das interações interpessoais. Assim, fica clara a compreensão da estabilidade na vida familiar e das rotinas parentais baseadas na linguagem como fator preditor do vocabulário receptivo1111. Ober TM, Brooks PJ. Identifying direct and indirect influences on vocabulary development of children from low-income families from infancy to grade. Cognitive Development. 2022;62:101163. https://doi.org/10.1016/j.cogdev.2022.101163.
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,1515. Câmara-Costa H, Pulgar S, Cusin F, Labrell F, Dellatolas G. Associations of language-based bedtime routines with early cognitive skills and academic achievement: a follow-up from kindergarten to middle school. Br J Dev Psychol. 2021;39(4):521-39. https://doi.org/10.1111/bjdp.12378. PMID: 33950549.
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Um dos maiores componentes dessa variável envolve a rotina da família, que engloba as atividades determinadas pelos pais aos filhos, que exige horários determinados para dormir, acordar, alimentar, higienizar, brincar e fazer as tarefas escolares, além de outras práticas diárias conjuntas como realizar o café da manhã, almoço, jantar, assistir à televisão e outras atividades que envolvem lazer externo e disponibilidade em ofertar livros, revistas e brinquedos1616. Marturano EM. The home environment resources scale. Psicol. Reflexo. Crit. 2006;19(3):498-506. https://doi.org/10.1590/S0102-79722006000300019.
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. Isso significa que a estabilidade da vida familiar regimenta outras manifestações familiares, uma vez que exige a existência de uma rotina, elemento essencial para que o indivíduo consiga planejar e cumprir suas atividades diárias. Outro fator importante ligado à rotina é que a repetição dos comportamentos e de atividades diárias estimula o aprendizado e, de certa forma, trabalha diretamente a autoconfiança, a segurança e o mais adequado direcionamento das crianças3030. Chechia VA, Andrade AS. The children's school performance in the perception of parents of students with school success and school failure. Estud. Psicol. 2005;10(3):431-40. https://dx.doi.org/10.1590/S1413-294X2005000300012.
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Da mesma forma e não tão menos importante é a interação familiar, que faz parte da estabilidade na vida familiar. Hábitos simples que envolvem o diálogo com as crianças sobre o dia a dia, tais como a escuta de histórias e assuntos que elas trazem de seu ambiente escolar e a troca de experiências corriqueiras, estimulam o modo de expressão e visão de mundo das crianças. Os atos de falar e de ouvir - manifestações expressivas - certificam e qualificam o desenvolvimento do vocabulário receptivo, pois ambos refletem à construção gradativa de competências da comunicação interpessoal que repercutirão na qualidade do vocabulário receptivo2929. Sparapani N, Connor CM, McLean L, Tafetá M, Toste J, Day S. Direct and reciprocal effects among social skills, vocabulary, and reading comprehension in first grade. Contemp Educ Psychol. 2018;53:159-67. https://doi.org/10.1016/j.cedpsych.2018.03.003. PMID: 30078933.
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,3131. Dias NM, Bueno JOS, Pontes JM, Mecca TP. Oral and written language in Infant Education: relation with environmental Variables. Psicol. Esc. Educ. 2019;23:e178467. https://dx.doi.org/10.1590/2175-35392019018467.
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,3232. Muhinyi A, Rowland CF. Contributions of abstract extratextual talk and interactive style to preschoolers' vocabulary development. J Child Lang. 2023;50(1):198-213. https://doi.org/10.1017/S0305000921000696. PMID: 36503548.
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Como limitação do estudo, deve-se ressaltar o desenho de corte transversal, que pode ter delimitado os modelos de predição a um plano hipotético, visto não descartar a possibilidade de efeitos recíprocos ou mesmo de retroalimentação entre as variáveis da criança e do contexto. Sugere-se que a homogeneidade da amostra tenha sido um fator preponderante na limitação do estudo.

Como contribuição teórica, o estudo se destaca pelo foco na percepção parental a partir das dificuldades de leitura e escrita, uma vez que se faz necessário compreender em quais condições o ambiente familiar pode ser um grande aliado no processo de aquisição e expansão de vocabulário receptivo. Pais que percebem as dificuldades de leitura e/ou escrita de seus filhos podem refletir positivamente no desempenho do vocabulário receptivo, tendo em vista que a atenção, mediante o processo de desenvolvimento da aprendizagem das crianças, pode se apresentar como possível fator motivacional1717. Costa K, Montiel JM, Bartholomeu D, Murgo CS, Campos NR. Percepção do suporte familiar e desempenho em leitura e escrita de crianças do ensino fundamental. Rev. Psicopedag. 2016;33(101):154-63.. Ademais, a percepção positiva ou negativa dos pais em relação ao desempenho escolar dos filhos tem papel preponderante na construção do processo de desenvolvimento escolar ao revelar indicadores importantes e determinantes para o sucesso escolar3030. Chechia VA, Andrade AS. The children's school performance in the perception of parents of students with school success and school failure. Estud. Psicol. 2005;10(3):431-40. https://dx.doi.org/10.1590/S1413-294X2005000300012.
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. Há de se destacar a relevância do interesse e empenho dos pais no desenvolvimento dos filhos ao perceberem as dificuldades dos métodos de ensino-aprendizagem que estão inseridos nos currículos escolares1212. Maia FA, Soares AB. Differences in fathers and mothers parental practices and 6th grade middle school children's perceptions. Est. Inter. Psicol. 2019;10(1):59-82. https://doi.org/10.5433/2236-6407.2019v10n1p59.
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,3030. Chechia VA, Andrade AS. The children's school performance in the perception of parents of students with school success and school failure. Estud. Psicol. 2005;10(3):431-40. https://dx.doi.org/10.1590/S1413-294X2005000300012.
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.

A aproximação da escola com a família a partir do acolhimento da percepção dos pais pode trazer inúmeras contribuições para os escolares, sendo que na medida em que os pais são orientados pela escola e tem suas dificuldades específicas sanadas, os mesmos se tornam capazes de auxiliar seus filhos3030. Chechia VA, Andrade AS. The children's school performance in the perception of parents of students with school success and school failure. Estud. Psicol. 2005;10(3):431-40. https://dx.doi.org/10.1590/S1413-294X2005000300012.
https://dx.doi.org/10.1590/S1413-294X200...
. Reitera-se que a interação familiar tem papel crucial no aprimoramento do vocabulário e desempenho acadêmico da criança por meio de atividades que vão de leituras rotineiras para a criança e/ou compartilhamento de leituras como ouvintes, além do acompanhamento das tarefas escolares1515. Câmara-Costa H, Pulgar S, Cusin F, Labrell F, Dellatolas G. Associations of language-based bedtime routines with early cognitive skills and academic achievement: a follow-up from kindergarten to middle school. Br J Dev Psychol. 2021;39(4):521-39. https://doi.org/10.1111/bjdp.12378. PMID: 33950549.
https://doi.org/10.1111/bjdp.12378...
,1717. Costa K, Montiel JM, Bartholomeu D, Murgo CS, Campos NR. Percepção do suporte familiar e desempenho em leitura e escrita de crianças do ensino fundamental. Rev. Psicopedag. 2016;33(101):154-63.,3232. Muhinyi A, Rowland CF. Contributions of abstract extratextual talk and interactive style to preschoolers' vocabulary development. J Child Lang. 2023;50(1):198-213. https://doi.org/10.1017/S0305000921000696. PMID: 36503548.
https://doi.org/10.1017/S030500092100069...
.

O destaque para o quesito rotina é um dos aspectos de grande relevância no estudo, pois implica no desenvolvimento da autonomia da criança, no desenvolvimento emocional e psicológico, além da estimulação do senso de aprendizagem e autocuidado, estruturação do pensamento, independência infantil, dentre outros. Ademais, um ambiente organizado e colaborativo propicia um estado mais harmonioso entre seus membros. Uma hipótese a ser atribuída ao impacto no desenvolvimento do vocabulário receptivo é que a falta de rotina não permite a criação de um ambiente favorável para o desenvolvimento dos escolares, uma vez que é imprescindível no processo de aprendizagem, já que os horários para a realização de tarefas e de atividades que são estimuladoras podem ser comprometedores.

Estes resultados renovam a importância de se conceber pesquisas mais contundentes em relação a esse quesito para que se jogue luz na estabilidade na vida familiar, vista como essencial, a fim de que os problemas no processo de aprendizagem sejam minimizados e enfrentados. Uma inferência significativa desse estudo na práxis do domínio educacional é a perspectiva fundamentada de suporte informativo claro e conciso às famílias para disponibilizar apoio às crianças em rotinas mais regulares e diversificação do lazer em casa.

CONCLUSÃO

A percepção parental de dificuldade de leitura e de escrita e a falta de estabilidade familiar foram fatores associados ao pior vocabulário receptivo de escolares do ensino fundamental de escolas da região metropolitana de Belo Horizonte.

O desempenho do vocabulário receptivo, nesta pesquisa, segundo o Teste TVFusp-92º, revelou um percentual significante (42,20%) de escolares com o vocabulário receptivo rebaixado. Para tanto, pode-se considerar que os aspectos ambientais (dinâmica familiar e estilo do ambiente) são aspectos determinantes para a qualidade das habilidades de linguagem.

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  • Estudo realizado na Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
  • Fonte de financiamento: Nada a declarar.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    13 Fev 2023
  • Aceito
    19 Abr 2023
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