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Os museus de história natural

Os museus de história natural

Renato Contin Marinoni

Departamento de Zoologia, UFPR - Curitiba - PR

Uma das realidade nacionais é a falta de museus de HISTÓRIA NATURAL que propiciem desenvolvimento cultural e científico. Aos poucos existentes faltam condições humanas e materiais. O trabalho que apresentam é resultado que diz mais do ideal e paixão pelas coisas da natureza que de um esforço unicamente profissional dos seus membros.

Como mudar esta situação?

Já houve muitas reuniões para discutir sobre os museus de história natural do Brasil. Em vários congressos o tema foi levantado. Ora abordando a situação das coleções, ora discutindo sobre o museu como instituição. Diz-se que estes debates de nada serviram, pois até hoje nada se fez. Não concordamos com esta visão pois acreditamos que uma nova mentalidade brasileira, que julgue necessária a existência de museus de história natural, só se estabelecerá com o contínuo discutir, com a insistência na divulgação dos altos propósitos científicos e culturais destas instituições. E, se um pouco já se conseguiu foi produto desta discussão gerada pelo esforço de uns poucos naturalistas e da compreensão de alguns membros da sociedade brasileira que têm um nível cultural mais elevado. Não há, aliás, quem seja declaradamente contra os museus. Podem argüir a sua prioridade em termos de aplicação de recursos. Não será esta uma forma de iniciarmos a luta - apresentando sugestões para que, na pobreza, consigamos viabilizá-los? E, seguindo a esta pergunta podemos colocar outras, como: por que não discutir sobre a nossa incapacidade de encontrar meios que levem à criação de museus e a uma competente manutenção? Por que não definir objetivos consensuais precisos e procurar meios para que sejam alcançados, dentro das condições econômicas e culturais atuais do Brasil? Como despertar o interesse do Governo e da Comunidade, a níveis nacional, estadual e municipal, para que se alcancem estes objetivos? Enfim, por que não continuar insistindo?

Com estes propósitos realizou-se a mesa-redonda sobre "Museus de História Natural" durante o XV Congresso Brasileiro de Zoologia, no dia 5 de fevereiro de 1988, em Curitiba. Procurou-se na realidade da existência de museus estrangeiros e brasileiros, encontrar resposta para pelo menos uma das várias questões colocadas.

Como contribuições ao desenvolvimento dos esforços que visam alcançar soluções para o problema foram apresentados os seguintes temas:

"Os museus universitários",por Ubirajara R. Martins;

"Os museus estaduais", por José Willibaldo Thomé; e

"Os museus nacionais", por José Cândido de M. Carvalho, que são transcritos mais adiante.

Apesar da proposição inicial ter sido a busca de uma melhor solução para a viabilização de novos museus e a manutenção dos já existentes, sob o aspecto político-administrativo, ou seja, onde haveria a melhor condição para sustentar um museu de história natural - no Município, no Estado, ou na União (através das Universidades), a tendência do plenário foi discutir a situação dos museus existentes independente de sua vinculação administrativa.

Das discussões emergiu como importante a divulgação das atividades de um museu a nível popular, de maneira a criar junto à população uma consciência da necessidade destas instituições, não só como fonte de cultura, mas também como repositório dos elementos da natureza como base para o conhecimento humano. Além desta divulgação seria fundamental que os raros museus existentes dessem mais ênfase às exposições abertas à população, divulgando-as quando já estivessem montadas e prontas à visitação ou as criando o mais urgentemente possível, se as não possuíssem.

Foi também objeto de citações a preocupação que deve ser a manutenção dos acervos (coleções zoológicas, botânicas e bibliográficas) já existentes e que não se permita a evasão deste acervo para o exterior (quando de propriedade particular), criando-se fundos com recursos financeiros para sua aquisição.

Estas e outras proposições podem ser resumidas nos seguintes itens principais:

1. que os poucos museus existentes dêem maior atenção às exposições públicas, dando-lhes grande divulgação;

2. seja constante a preocupação em manter o acervo (coleções) já existente;

3. não se permitir a evasão de coleções zoológicas, botânicas e bibliográficas para o exterior, criando fundos que propiciem recursos financeiros para suas aquisições;

4. divulgação dos museus de história natural a nível nacional para motivar a sua existência nos diferentes estados brasileiros;

5. que se continue promovendo reuniões a nível nacional sobre MUSEUS DE HISTÓRIA NATURAL;

6. envolver os biólogos (zoólogos, botânicos), geólogos, paleontólogos, antropólogos nas discussões para criação de MUSEUS DE HISTÓRIA NATURAL;

7. propugnar pela criação de um Museu Nacional, em Brasília.

Cremos que foi possível encontrar alguns elementos que manterão acesa a discussão sobre os museus de história natural. E nos parecem contribuições válidas para sairmos de uma situação científica e cultural calamitosa para o Brasil. Estas propostas serão levadas à Comunidade para que juntos possamos modificar o status quo brasileiro no que tange a museus.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Ago 2009
  • Data do Fascículo
    1988
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