Modificações no manejo e desfechos clínicos de pacientes críticos sem COVID-19 durante a pandemia

Huespe, Iván Alfredo; Marco, Agustina; Prado, Eduardo; Bisso, Indalecio Carboni; Coria, Pablo; Gemelli, Nicolas; Román, Eduardo San; Heras, Marcos José Las

doi:10.5935/0103-507X.20210006

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Revista Brasileira de Terapia Intensiva

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Sumário

ARTIGO ORIGINAL • Rev. bras. ter. intensiva 33 (1) • Jan-Mar 2021 • https://doi.org/10.5935/0103-507X.20210006 copiar

Modificações no manejo e desfechos clínicos de pacientes críticos sem COVID-19 durante a pandemia

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RESUMO

Objetivo:

Analisar se as modificações na atenção médica em razão da aplicação dos protocolos para COVID-19 afetaram os desfechos clínicos de pacientes sem a doença durante a pandemia.

Métodos:

Este foi um estudo observacional de coorte retrospectiva conduzido em uma unidade de terapia intensiva clínica e cirúrgica com 38 leitos, localizada em hospital privado de alta complexidade na cidade de Buenos Aires, Argentina, e envolveu os pacientes com insuficiência respiratória admitidos à unidade de terapia intensiva no período compreendido entre março e abril de 2020 em comparação com o mesmo período no ano de 2019. Compararam-se as intervenções e os desfechos dos pacientes sem COVID-19 tratados durante a pandemia em 2020 e os pacientes admitidos em 2019. As principais variáveis avaliadas foram os cuidados respiratórios na unidade de terapia intensiva, o número de exames de tomografia computadorizada do tórax e lavados broncoalveolares, complicações na unidade de terapia intensiva e condições quando da alta hospitalar.

Resultados:

Observou-se, em 2020, uma redução significante do uso de cânula nasal de alto fluxo: 14 (42%), em 2019, em comparação com 1 (3%), em 2020. Além disso, em 2020, observou-se aumento significante no número de pacientes sob ventilação mecânica admitidos à unidade de terapia intensiva a partir do pronto-socorro, de 23 (69%) em comparação com 11 (31%) em 2019. Contudo, o número de pacientes com ventilação mecânica 5 dias após a admissão foi semelhante em ambos os anos: 24 (69%), em 2019, e 26 (79%) em 2020.

Conclusão:

Os protocolos para unidades de terapia intensiva com base em recomendações internacionais para a pandemia de COVID-19 modificaram o manejo de pacientes sem COVID-19. Observamos redução do uso da cânula nasal de alto fluxo e aumento no número de intubações traqueais no pronto-socorro. Entretanto, não se identificaram alterações na percentagem de pacientes intubados na unidade de terapia intensiva, número de dias sob ventilação mecânica ou número de dias na unidade de terapia intensiva.

Descritores:
Cuidados críticos; COVID-19; SARS-CoV-2; Ventilação não invasiva; Insuficiência respiratória; Infecções por coronavírus; Pandemias

Variáveis	Todos	2019	2020	Valor de p
Variáveis	(n = 68)	(n = 35)	(n = 33)	Valor de p
Idade (anos)	70 (59 - 79)	68 (58 - 79)	70 (62 - 79)	0,8
Sexo masculino	36 (52)	23 (66)	13 (39)	0,05
Índice de massa corporal (kg/m²)	24,3 (21,7 - 29,5)	24,3 (22 - 28,69)	24,3 (21,3 - 29,9)	0,57
APACHE II	19 (12 - 23)	19 (11 - 25)	18 (15 - 22)	0,88
SOFA	5,5 (3,0 - 9,0)	6,5 (3,0 - 9,0)	5,5 (4,0 - 9,0)	0,68
Causas de insuficiência respiratória
Exacerbação de DPOC	9 (13)	5 (14)	4 (12)	0,99
Pneumonia comunitária	18 (26)	11 (31)	7 (21)	0,42
Pneumonia nosocomial	6 (8)	5 (14)	1 (3)	0,2
Choque séptico não pulmonar	12 (18)	4 (11)	8 (24)	0,35
Insuficiência cardíaca congestiva	10 (14)	4 (11)	6 (18)	0,5
Outras	13 (19)	6 (17)	7 (21)	0,76
Número de comorbidades
Sem comorbidades	31 (46)	18 (51)	13 (40)	0,34
Uma comorbidade	23 (34)	11 (32)	12 (36)	0,79
Duas ou mais	14 (21)	5 (17)	8 (24)	0,55
Comorbidade de base
DPOC	14 (21)	6 (17)	8 (24)	0,77
Hipertensão	33 (49)	16 (46)	17 (51)	0,81
Asma	2 (3)	1 (3)	1 (3)	0,99
Tabagismo	7 (10)	1 (3)	6 (18)	0,04^* * Diferenças significantes. As percentagens podem não totalizar cem em razão de arredondamentos. Resultados expressos como medianas e faixas interquartis ou n (%).
Diabetes	9 (13)	6 (17)	3 (9)	0,31
Imunossupressão	23 (34)	12 (34)	11 (33)	0,99
Nefropatia crônica	13 (19)	4 (11)	9 (27)	0,22
Insuficiência cardíaca congestiva	14 (21)	8 (22)	6 (18)	0,77
Obesidade	9 (13)	4 (11)	5 (15)	0,7
Doença arterial coronária	6 (9)	5 (14)	1 (3)	0,2
Comprometimento cognitivo	13 (19)	5 (14)	8 (24)	0,35
Acidente vascular cerebral	2 (3)	0	2 (6)	0,2
Institucionalização	1 (1)	0	1 (3)	0,47

Variáveis	2019	2020	Valor de p
Variáveis	(n = 35)	(n = 33)	Valor de p
Abordagem clínica para tratar insuficiência respiratória
Máscara reservatório nonrebreathing	5 (14)	7 (21)	0,76
Ventilação não invasiva	4 (11)	2 (6)	0,54
Cânula nasal de alto fluxo	15 (43)	1 (3)	< 0,001^* * Diferenças significantes. As percentagens podem não totalizar cem em razão de arredondamentos. Resultados apresentados como n (%) e medianas e faixas interquartis.
Ventilação mecânica invasiva	11 (31)	23 (69)	0,003^* * Diferenças significantes. As percentagens podem não totalizar cem em razão de arredondamentos. Resultados apresentados como n (%) e medianas e faixas interquartis.
Complicações na UTI
Delirium	17 (49)	21 (64)	0,22
PAVM	2 (6)	3 (9)	0,66
Úlceras por pressão	3 (9)	6 (18)	0,29
Desfechos
Pacientes sob VM após 5 dias na UTI	24 (69)	26 (79)	0,29
Dias de ventilação mecânica	5 (3 - 8)	4 (2 - 10)	0,9
Dias de permanência na UTI	7 (5 - 11)	11 (6 - 23)	0,26
Dias de hospitalização	14,5 (8 - 26)	15 (11 - 25)	0,31
Traqueostomia	2 (6)	4 (12)	0,41
Tomografia computadorizada do tórax	27 (77)	7 (21)	< 0,001^* * Diferenças significantes. As percentagens podem não totalizar cem em razão de arredondamentos. Resultados apresentados como n (%) e medianas e faixas interquartis.
Lavagem broncoalveolar	16 (46)	3 (9)	< 0,001^* * Diferenças significantes. As percentagens podem não totalizar cem em razão de arredondamentos. Resultados apresentados como n (%) e medianas e faixas interquartis.
Modificação da ATBT por resultados da lavagem broncoalveolar	5 (14)	1 (3)	0,2
Óbito na UTI	12 (34)	10 (30)	0,32
Óbito na enfermaria geral	1 (3)	2 (6)	0,60
Alta do hospital	20 (57)	19 (56)	1
Alta para hospital terciário	2 (6)	2 (6)	0,99

Questões	Respostas
Qual seu papel na unidade de terapia intensiva?
Médico intensivista sênior	7 (35)
Estagiário ou residente de terapia intensiva	7 (35)
Terapeuta respiratório	6 (30)
Você considera que o uso de ventilação não invasiva e cânula nasal de alto fluxo foi menor em março e abril de 2020 do que em março e abril de 2019?
Sim, tanto o uso de cânula nasal de alto fluxo quanto o de ventilação não invasiva foram menores	15 (75)
Sim, o uso de ventilação não invasiva foi menor	1 (5)
Sim, o uso de cânula nasal de alto fluxo foi menor	2 (10)
Não, eu não percebi qualquer modificação no uso de ventilação não invasiva ou de cânula nasal de alto fluxo	2 (10)
Se sua resposta anterior foi afirmativa, você considera que a redução do uso de ventilação não invasiva e/ou cânula nasal de alto fluxo levou a uma taxa mais alta de pacientes com necessidade de suporte com ventilação mecânica?
Não	2 (10)
Sim	16 (80)
Você considera que a realização de lavagem broncoalveolar em pacientes sem COVID-19 diminuiu em março e abril de 2020?
Não	4 (20)
Sim	16 (80)
Se a sua resposta à questão anterior foi "sim", você considera que a redução na realização de lavagens broncoalveolares teve algum impacto na evolução dos pacientes?
Não	10 (50)
Sim	6 (30
Você considera que foram realizados menos exames de tomografia computadorizada de tórax em pacientes sem COVID-19 durante março e abril de 2020?
Não	10 (50)
Sim	10 (50)
Se sua resposta à pergunta anterior foi afirmativa, você considera que a redução no número de tomografias computadorizadas do tórax teve algum impacto na evolução dos pacientes?
Não	5 (25)
Sim	5 (25)
Você considera que a incidência de delirium aumentou nos pacientes sem COVID-19 tratados na unidade de terapia intensiva durante esses mesmos meses?
Não	11 (55)
Sim	9 (45)
Você considera que a incidência de úlceras por pressão aumentou nos pacientes sem COVID-19 tratados na unidade de terapia intensiva durante esses mesmos meses?
Não	9 (45)
Sim	11 (55)

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[1] Autor correspondente: Iván Alfredo Huespe Unidade de Terapia Intensiva, Hospital Italiano de Buenos Aires Pres. Tte. Gral. Juan Domingo Perón 4.190, C1199 Buenos Aires, Argentina E-mail: ivan.huespe@hospitalitaliano.org.ar