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Silenciamentos e impasses na transmissão memorial: Haiti e Brasil vistos pelos olhos de duas escritoras afro-americanas: Emmelie Prophète e Djamila Ribeiro

Silence and impasses in memorial transmission: Haiti and Brazil seen through the eyes of two african-american writers: Emmelie Prophète and Djamila Ribeiro

RESUMO

O artigo apresenta, através da análise dos romances Les villages de dieu (2021), Un ailleurs à soi (2018) e Le bout du monde est une fenêtre (2018) da escritora haitiana Emmelie Prophète, reconhecida como a grande voz feminina da literatura haitiana contemporânea, e Cartas para minha avó (2021) da escritora e filósofa brasileira Djamila Ribeiro, as relações entre ausências, solidões e apagamentos e o desejo de representificação, através da literatura, de estoques memoriais que ficaram à margem. A obra da teórica francesa Anne Muxel, Individu et mémoire familiale (1996), subjaz a nossa leitura, que tenta iluminar a importância da memória genealógica no trabalho de reapropriação identitária. As obras das duas escritoras afro-americanas, buscam dar voz aos que foram subalternizados, reivindicando sua humanidade e rompendo as amarras de seus silenciamentos e de suas solidões.

PALAVRAS-CHAVE:
Trabalho de memória; Literatura haitiana; Literatura afro-brasileira; Transmissão memorial; Memória geracional

ABSTRACT

The article presents, through the analysis of the novels Les villages de dieu (2021), Un ailleurs à soi (2018) and Le bout du monde est une fenêtre (2018) by the Haitian writer Emmelie Prophète, recognized as the great female voice of Haitian contemporary literature, and Letters to my grandmother (2021) by the Brazilian writer and philosopher Djamila Ribeiro, the relations between absences, loneliness and erasures and the desire to represent, through literature, memorial stocks that remained on the sidelines. The work of the French theorist Anne Muxel, Individu et mémoire familiale (1996), underlies our reading that tries to illuminate the importance of genealogical memory in the work of re-appropriating identity. The works of the two African-American writers seek to give a voice to those who have been subalternized, claiming their humanity and breaking the bonds of their silences and loneliness

KEYWORDS:
Memory work; Haitian Literature; Afro-Brazilian literature; Memorial transmission; Generational memory

Introduzindo o tema

Durante vários anos nos dedicamos a estabelecer as bases de um comparatismo literário interamericano, abarcando a Literatura Brasileira e as literaturas de língua francesa do Caribe (Haiti, Martinica, Guadalupe). Fortes elementos embasam esse comparatismo interamericano como passado colonial, história de escravidão desde os primeiros anos da conquista da América pelos europeus, sublevações quilombolas, subdesenvolvimento econômico entre tantos outros fatores.

Desde o início, nosso trilhar foi iluminado pelo prodigioso poema Cahier d’un retour au pays natal (1939), de Aimé Césaire, originário da ilha de Martinica. Esse “retour au pays natal” significava para Césaire, ao mesmo tempo, uma volta às culturas africanas ancestrais, uma volta à sua Martinica natal, uma vez que ele se encontrava estudando Paris, e uma volta ao íntimo de si próprio para reavaliar questões enfrentadas pelo antilhanos na Europa, como o racismo. Trata-se, como assinalou Lilian Pestre de Almeida, tradutora da obra de Césaire, editada pela EDUSP, em 2012 em edição bilíngue, de um poema épico invertido: “enquanto Os Lusíadas cantam a aventura dos colonizadores, buscando impor às terras viciosas a marca da Cruz e do Ocidente, o poema de Césaire, aqui apresentado em edição bilíngue, é o canto dos colonizados e desenraizados sonhando em restabelecer o cordão umbilical com a Mãe África” (quarta de cobertura).

No Brasil, o poeta afro-brasileiro Edimilson de Almeida PereiraPEREIRA, Edimilson de Almeida. Caderno de retorno. Salvador: editor Ogums’ toques negros, 2017. , prêmio Oceanos de Literatura de 2021, estabeleceu diálogo intertextual com Césaire em obra intitulada Caderno de retorno (2017). No caso das duas escritoras que abordaremos no presente artigo, Djamila Ribeiro (1980-) e Emmelie Prophète (1971-), suas publicações denotam esses passos e interrogações em relação ao interior de si próprias, propondo modos de apropriação das culturas de matriz africana e de suas práticas nas Américas.

A abordagem das obras das referidas autoras, na perspectiva da memória geracional e do romance de filiação, busca apontar as relações entre ausência e invisibilidades e o desejo de representificar no texto romanesco, o que foi rasurado ao longo dos séculos. As relações entre ausências, solidões e apagamentos e o desejo de representar, através da literatura, os estoques memoriais que ficaram à margem, afloram na obra das duas autoras afro-americanas. A obra da teórica francesa Anne Muxel, Individu et mémoire familiale (1996), subjaz a nossa leitura que tenta iluminar a importância da memória genealógica no trabalho de reapropriação identitária

Emmelie Prophète

Emmelie Prophète, nascida no Haiti em 1971, destacada por Dany Laferrière, haitiano e membro da Academia Francesas, como a grande voz feminina do esquecido povo do Haiti, opta por não abandonar seu país, como o fizeram importantes nomes da literatura haitiana, para sentir na própria pele todos os flagelos ocorridos no Haiti: miséria, corrupção, seca endêmica, catástrofes climáticas como furacões e terremotos, arbítrio, doenças já erradicas em outros países, incluindo-se o fenômeno mais recente das gangues que dominam e aterrorizam os que já não têm nada, vivendo na miséria e sendo abatidos a bala ao sabor da vontade dos chefes das gangues que se alternam no domínio das favelas.

Seus livros são realmente impactantes, com cenas muito fortes nas descrições de seu país natal, relativas à situação atual de carência absoluta a começar pela falta de água, falta de esgoto e das mínimas condições sanitárias, violência das gangues que surgem no vácuo de governabilidade de um país minado pela corrupção, tráfico de drogas, entre outras mazelas e tudo descrito sem freios nem nuances: as cenas são pintadas com as cores da realidade por mais brutal que ela seja, não poupando as mulheres, nem as crianças que são aliás as mais sacrificadas, com constantes cenas de violência.

Les villages de dieu (2021) se passa em um dos bairros mais carentes de Port au Prince, La cité de la puissance divine, comparável a nossas favelas, mas com condições ainda mais precárias devido à seca que obriga os moradores a carregarem água de muito longe. A situação dos moradores é de total desesperança, de impotência para enfrentar o futuro: « Je n´avais que le présent et les histoires sans commencement » (PROPHÈTE, 2021PROPHÈTE, Emmelie. Les villages de dieu. Montréal: Mémoire d’Encrier , 2021., p. 6).1 1 Eu só tinha o presente e as histórias sem começo.

Essa é a afirmação da narradora Célia (Cécé), que encontra saída, como todas as outras jovens de sua geração, na prostituição após a morte de Grand Ma, sua avó. Na falta de comida: a única saída é prostituir-se. Com isso, consegue comprar um celular onde irá registrar o quotidiano de brutalidades, assassinatos e decapitações perpetradas pelas gangues sempre em luta fratricida. Ela está ciente de que as leis da República não têm validade na Cité de la Puissance Divine e que o celular se torna o seu vínculo com o “mundo desejado”, como ela informa em seu Facebook. Nasce assim Cecé la flamme, a porta-voz dos desvalidos da Cité: « Je n´avais pas de rapport avec le temps. Il ne passait pas vraiment le temps à Bethlém et à la Cité de la Puissance Divine. Probablement partout où les gens n´attendaient rien » (PROPHÈTE, 2021PROPHÈTE, Emmelie. Les villages de dieu. Montréal: Mémoire d’Encrier , 2021., p. 1236).2 2 Utilizei uma versão ebook da obra Les villages de dieu e as páginas são indicadas desse modo. 3 3 Eu não tinha relação com o tempo. O tempo não passava de fato em Bethlém e na Cidade da Potência divina. Provavelmente em toda a parte onde as pessoas não esperavam nada.

É muito delicada a presença da avó (Grand Ma) nos diálogos imaginários da personagem narradora. A imagem da avó segue presente, mesmo após sua morte, como uma espécie de guia, em meio a sua solidão, como uma tábua de salvação, fazendo-se presente todas as vezes em que ela tem alguma dúvida sobre como agir: fica a imaginar o que diria sua avó, como ela reagiria. É o que lhe restou depois da morte da mãe por overdose e da própria avó, de cujo enterro ela teve que se encarregar sozinha, vendendo inclusive os poucos pertences que possuíam para custear tais despesas. A lembrança das palavras de Grand Ma e o telefone celular, esse « objet lumineux, une vraie fenêtre sur les choses qui m´étaient jusqu´ici inaccessibles » (PROPHÈTE, 2021PROPHÈTE, Emmelie. Les villages de dieu. Montréal: Mémoire d’Encrier , 2021., p. 665) 4 4 Esse objeto luminoso, uma verdadeira janela sobre as coisas que me eram até aqui inacessíveis. , davam-lhe forças para subsistir, tendo herdado da avó a tarefa de sustentar seu tio alcóolatra.

Quem conhece a literatura haitiana, com autores como Jacques Roumain, Dany Laferrière, Jacques Stephen Alexis e tantos outros, sabe da enorme devoção que esses autores nutrem por seu país e o quanto deploram a situação atual do Haiti, em parte em função das grandes catástrofes naturais como furacões e terremotos, mas também pelo desmatamento ocorrido desde o período da Independência, que se deu em 1804, sendo o Haiti “a primeira nação independente do Caribe, a primeira república negra do mundo e o primeiro país do hemisfério ocidental a abolir a escravidão”5 5 https://www.todamateria.com.br . O preço foi alto, pois para se defenderem das invasões francesas tiveram que fazer grandes queimadas e também efetuar um acordo que previa o pagamento de uma indenização altíssima à França, o que provocou um rombo em suas finanças, determinando uma quase impossibilidade de reconstrução do país 6 6 O acordo prometia ao Haiti reconhecimento diplomático pela França em troca de uma redução de 50% das tarifas alfandegárias às importações francesas e uma indenização de 150 milhões de francos (cerca de US$ 21 milhões hoje), pagos em cinco parcelas. https://www.bbc.com.international-46721129 .

Todo esse desalento é narrado em seus mínimos detalhes e poder-se-ia dizer quase com crueldade por Emmelie Prophète, que deseja que o mundo atente para esse desastre, ou melhor, essa verdadeira catástrofe humanitária e que reaja frente ao genocídio do povo haitiano. Assim, escreve a autora, « Tout peut se dissoudre. L´amitié. L´amour. Nous sommes des enfants de l´oubli. » (PROPHÈTE, 2021PROPHÈTE, Emmelie. Les villages de dieu. Montréal: Mémoire d’Encrier , 2021., p. 2404)7 7 Nós somos os filhos do esquecimento. .

A autora sente a escritura como dever: dever e trabalho de memóriaBERND, Zilá; LUNKES, Luciano; LEITE, Mário Cezar Silva. Memória, ausência e invisibilidade. Textura - Revista de Educação e Letras, Canoas, v. 23, n. 56, p. 3-13, out./dez. 2021. Disponível em: http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/txra/article/view/6812/4206 . Acesso em: 10 out. 2021.
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que lhe permite revelar ao mundo os silenciamentos acerca dos haitianos “esses filhos do esquecimento”. Essa escrita deve tornar-se uma arma para o combate desses apagamentos sucessivos e do esquecimento total por parte de autoridades, assim como da comunidade internacional. Como assinalou a escritora francesa Annie Ernaux, a escritura deve transformar-se em uma arma diante das calamidades, devendo ser utilizada como uma faca: « L´écriture que j´utilise est partie integrante de la recherche. Je la sens comme le couteau, l´arme presque dont j´ai besoin » (ERNAUX, 2003ERNAUX, Annie. Écrire comme un couteau. Entretien avec Frédéric Yves Jeannet. Paris: Folio, 2003. , p. 36)8 8 A escritura que eu utilizo é parte integrante da pesquisa. Eu a sinto como a faca, quase a arma de que necessito . Salvar do esquecimento os seres e as coisas em uma sociedade dada, é a grande motivação da escritura de Annie Ernaux e eu ousaria afirmar que é também a de Emmelie Prophète. « Je sens que c´est là ma grande motivation d´écrire. C´est par là une façon de sauver aussi ma propre existence » (ERNAUX, 2003, p. 114)9 9 Eu sinto que aí está minha grande motivação de escrever. Trata-se de uma maneira de salvar também minha própria existência. .

Ambas as autoras escrevem em língua francesa na França e no Haiti. Ambas encaram a escritura como um modo de representificação de ausências seculares sobre o esquecimento a que foi relegado o povo haitiano, sendo que tais representificações se constituem também, como diz Ernaux, em estratégias para salvar a si mesmas, irmanando-se com o sofrimento das pessoas e fazendo de seu ofício de escritoras, um ato político e um dom, como prefere afirmar Annie Ernaux.

Se Aimée Césaire falava em 1939, em volta ao “país natal”, os romances de Emmelie Prophète falam todos eles de partidas: deixar o país em busca de novas terras de acolhida parece ser o desejo de todos os que pensam em um futuro melhor e não veem essa saída a não ser deixando país, o que é sempre muito complicado devido às dificuldades de obter papéis de emigração, para além do preço das passagens de avião.

Em Un ailleurs à soi (2018b), Emmelie Prophète se detém no fato de que o grande estímulo para estudar e conseguir uma posição melhor na sociedade é a possiblidade de deixar o país rumo, na maior parte das vezes, aos Estados Unidos, ao Canadá e também ao Brasil. Nesse romance, a personagem chega a roubar da família para poder juntar o valor necessário para a compra de sua passagem. Deixar tudo para atrás não assusta: ao contrário, o desejo de evasão serve de estímulo. Mesmo que a viagem seja « un grand saut dans le vide »10 10 Um grande salto no vazio. (PROPHÈTE, 2018bPROPHÈTE, Emmelie. Un ailleurs à soi. Montréal: Mémoire d’Encrier , 2018b., p. 92), vale correr o risco.

Em Le bout du monde est une fenêtre (2018a), Emmelie Prophète traz uma dolorosa história de amor entre dois jovens assinalados por acontecimentos que lhes deixaram marcas indeléveis. A jovem, que fica à janela, sempre aberta com cortinas transparentes, observa a oficina mecânica onde um jovem de olhos tristes a olha em silêncio. Ela traz a marca da demência da mãe que não sai de seu quarto e fala sozinha boa parte do dia, e ele, as marcas da pobreza, da perda da única pessoa que se ocupara dele. Para ele, a abertura da janela e a imagem da jovem simbolizavam a receptividade e a acolhida que ele praticamente não teve em sua vida. Sendo considerada “o símbolo da receptividade, da abertura para as influências vindas de fora, da entrada da luz”, a janela representa também “a sensibilidade às influências externas” 11 11 https://pt.wikipedia.org/wiki/Janela . Podendo significar também um “portal para o inconsciente”, a janela adquire grande importância nesse encontro dos jovens - Rose e Samuel - já que ele associa a imagem diáfana da jovem atrás da cortina com a figura do imaginário haitiano da Maîtresse de l´Eau, ou seja, a imagem que corresponderia a nossa Iemanjá, a deusa das águas.

Isso o leva a relembrar os mitos haitianos com ênfase para o da deusa das águas, a Maîtresse de l´Eau. Tendo que se afastar por alguns dias para o enterro da pessoa que ocupara o lugar de seu pai, Samuel retorna alguns dias depois e vê a janela fechada. Não tendo mais visto o amigo por alguns dias, Rose imagina que ele não voltaria e fecha a janela para nunca mais tornar a abri-la. A janela fechada não deixa mais passar o ar e a luz que motivavam sua existência. « Tout le monde a une fenêtre. Comment ferai-t-on pour vivre sans fenêtres? Ces ouvertures par où les rêves et les échappées sont possibles. La fenêtre était fermée » (PROPHÈTE, 2018aPROPHÈTE, Emmelie. Le bout du monde est une fenêtre. Montreal: Mémoire d’Encrier, 2018a., p. 1594)12 12 Todo mundo tem uma janela. Como faríamos para viver sem janelas? Essas aberturas por onde os sonhos e as escapadas são possíveis. A janela estava fechada. .

A figura de Rose, fechando para não tornar a abrir a janela, lembra a solidão dos personagens de Gabriel Garcia Marquez em Cem anos de solidão. Condena a si própria a viver na solidão, tendo por única companhia sua mãe com sua loucura. Trata-se de dois jovens marcados pela solidão e pelo silêncio e, evidentemente, pela desesperança. Como escreve a autora, um silêncio que lhes foi imposto pelas condições de penúria do país, um silêncio que eles aceitaram e ao qual se habituaram. « Le silence dans lequel il est emmuré depuis toujours »13 13 O silêncio no qual ele foi emparedado desde sempre. (PROPHÈTE, 2018bPROPHÈTE, Emmelie. Un ailleurs à soi. Montréal: Mémoire d’Encrier , 2018b., p. 84). Tendo chegado ao fim do mundo em busca de amor, esperança e palavras para romper o silêncio, a janela se fecha de forma definitiva, condenando os dois apaixonados a uma vida de solidão, desesperança e silêncio, assim como é a condição imposta a quem permanece no país que dá, segundo a autora, uma sensação de beco sem saída, de janelas fechadas para o futuro. O jovem Samuel pensa que tudo não passou de uma ilusão, ilusão que tinha redefinido sua vida, mas « qui l´avait aussi rappelé à la dure réalité du pays. Une exacerbation constante des différences, l´incapacité de trouver un essentiel » 14 14 Que o havia lembrado da dura realidade do país. Uma exacerbação constante das diferenças, a incapacidade de encontrar o essencial. (PROPHÈTE, 2013PROPHÈTE, Emmelie. Le testament des solitudes. Montréal: Mémoire d’Encrier, 2013., p. 1761).

A leitura desse romance em particular de Emmelie Prophète (Le bout du monde est une fenêtre, de 2018aPROPHÈTE, Emmelie. Le bout du monde est une fenêtre. Montreal: Mémoire d’Encrier, 2018a.) aponta para um impasse da transmissão memorial. Sabemos, a partir das leituras dos textos da teórica francesa, Anne Muxel, que « la transmission comme la mémoire, résulte toujours d´une réapropriation, donc d´une re-création, donc d´une re-invention, pouvant ainsi conduire à des déplacements comme les inversions de sens, d´espaces et de temporalités » (MUXEL, 2003MUXEL, Anne. Temps, mémoire et transmission. In:RODET, Chantal (org.). La transmission dans la famille: secrets, fictions et idéaux. Paris: L´Harmattan, 2003. p. 146-157. , p. 157)15 15 A transmissão como a memória, resulta sempre de uma reapropriação, logo de uma recriação, ou de uma reinvenção, podendo levar a deslocamentos como as inversões de sentido, de espaços e de temporalidades. (tradução nossa.) .

Seguindo as pesquisas de Muxel, verificamos que a impossibilidade do encontro de Rose e Samuel, resultará também na impossibilidade de transmissão memorial, logo, de abertura para à re-invenção de si mesmos, negando a si próprios a chance de se reapropriarem de suas vidas, o que poderia resultar em possibilidades novas como “inversões de sentido, de espaços e de temporalidades” (MUXEL, 2003MUXEL, Anne. Temps, mémoire et transmission. In:RODET, Chantal (org.). La transmission dans la famille: secrets, fictions et idéaux. Paris: L´Harmattan, 2003. p. 146-157. , p. 157).

Se para as personagens de Le bout du monde est une fenêtre, as janelas se fecharam, em seu romance de 2021, Les villages de dieu, por mais dura que seja a realidade descrita por Prophète, temos um procedimento de transmissão memorial ao longo de toda a obra, já que a narradora, em primeira pessoa, estabelece um diálogo com a avó Grand Ma, que acaba de falecer. Transformá-la em sua interlocutora revela um esforço da narradora de não perder o fio da interlocução com a avó, único elo com sua família desaparecida. Lembrar das palavras proferidas pela avó indica o desejo de reconhecer-se como herdeira do legado memorial da avó, o que denota um grau de positividade que não foi possível ler no romance de 2018. Lembra que, se ela própria não tinha noção da passagem do tempo, era a avó que a lembrava da data de seu próprio aniversário.

Se retomarmos os estudos de Anne Muxel, poderemos identificar que o desejo de transmissão fabrica enlaces já que a transmissão e a memóriaCATROGA, Fernando. Os passos do homem como restolho do mundo: memória e fim do fim da história. Coimbra: Almedina, 2009. se constituem em ferramentas que organizam a passagem de uma geração a outra. A autora chama a transmissão intergeracional de um tempo privilegiado que ela designa como “Temps de la passation” (Tempo de passagem): aceitar a herança memorial pressupõe processos de reapropriação e de negociação, para além de suprir a falta da pessoa desaparecida e minimizar a solidão em que se encontra a personagem depois da morte da avó, seu mais sólido elo familiar. Segundo Muxel,

La transmission signe une reconnaissance et la mémoire une fidélité. Mais reconnaissance et fidélité ne signifient pas reproduction. Ce n´est pas la répétition à l´identique qui est en jeu, ni nom plus l´inclusion nostalgique d´un espace-temps que l´on voudrait annuler et figer. La reconnaissance et la fidélité permettent d´organiser la rencontre avec l´inattendu, l´étranger, le nouveau (MUXEL, 2003MUXEL, Anne. Temps, mémoire et transmission. In:RODET, Chantal (org.). La transmission dans la famille: secrets, fictions et idéaux. Paris: L´Harmattan, 2003. p. 146-157. , p. 147)16 16 A transmissão assina um reconhecimento e a memória uma fidelidade. Mas, reconhecimento e fidelidade não significam reprodução. Não é a reprodução idêntica que está em jogo, nem a inclusão nostálgica de um espaço-tempo que gostaríamos de anular e congelar. O reconhecimento e a fidelidade permitem realizar o encontro com o inesperado, o estrangeiro, o novo. (tradução nossa.) .

Observa-se, assim, que no romance de 2018, a transmissão revela-se impossível na medida em que a desesperança é tanta que impede a aproximação dos amantes, negando-lhes a chance de se reinventarem de outra forma através de trocas memoriais. Já no livro de 2021, Les villages de dieu, apesar da realidade ser hostil e de que novos caminhos sejam pouco prováveis, a personagem não perde de vista a importância de considerar-se herdeira da avó, única representação do bem que Célia (Cécé, la flamme) conheceu. Retomando as reflexões de Anne Muxel, podemos concluir que o fato de a personagem manter “o reconhecimento e a fidelidade” em relação à memória da avó, mesmo após a sua morte, pode indicar uma eventual capacidade de “organizar seu encontro com o inesperado, o estrangeiro e o novo” (MUXEL, 2003MUXEL, Anne. Temps, mémoire et transmission. In:RODET, Chantal (org.). La transmission dans la famille: secrets, fictions et idéaux. Paris: L´Harmattan, 2003. p. 146-157. , p. 147).

Djamila Ribeiro

Cartas para minha avó (2021), é o mais recente livro de Djamila Ribeiro, filósofa e escritora nascida no Brasil, em 1980. Ela é hoje uma voz importante no combate ao racismo e nas ações de valorização da cultura negra, ainda subestimada em nosso país. Em seus escritos tanto ficcionais quanto teóricos, estabelece um diálogo intergeracional com sua avó, para entender passagens de sua vida na escola, com amigos de brincadeiras, e reavaliar os períodos em que foi vítima de discriminação, muitos dos quais, à época, eram “aceitos” sem grandes contestações nem pelas vítimas nem pelas pessoas do entorno que consideravam, gestos e falas, hoje de nítido conteúdo racista, como “brincadeira”. Toda a mágoa e a sua tomada de posição na sociedade atual vêm à tona nessas trocas de memórias intergeracionais, já que o racismo deixa rastros que emergem com a maturidade. Rever tais passagens deu então lugar a um registro de atitudes de exclusão, mas também da importância do afeto dos ancestrais. Já em seu Pequeno dicionário antirracista (2019RIBEIRO, Djamila. Pequeno dicionário antirracista. São Paulo: Companhia das Letras, 2019), Djamila Ribeiro descreve metodicamente atitudes racistas, com o objetivo de orientar os leitores sobre o que pode ser considerado racismo e até mesmo gesto de segregação, configurando, em alguns casos, crime de racismo.

Em Cartas para minha avó, a autora rememora o afeto que a ligava a sua avó, procurando mostrar que os laços afetivos, mantidos com a avó, foram de fundamental importância na superação das inúmeras ocasiões em que, na escola, no prédio em que morava e em outras circunstâncias foi desconsiderada e humilhada por ser negra. Essas cartas para a vó já falecida fortalecem os laços de passagem entre as gerações, pois a avó supria a necessidade de acolhimento da neta, a cada vez que a neta a visitava. Se, por um lado, a identificação com a mãe foi difícil, com muitos traços memoriais que a autora precisou rejeitar, a figura da avó, associada ao bem estar que sentia durante as férias em sua casa, vai gerar o lastro de “anterioridade” necessário à fabricação de sua própria “interioridade”, ou seja, de sua identidade, aceitando os traços de sua negritude que durante os tempos de escola teria preferido apagar, chegando a alisar os cabelos para evitar as zombarias a respeito de seu cabelo encarapinhado (RIBEIRO, 2021RIBEIRO, Djamila. Cartas para minha avó. São Paulo: Schwarcz, 2021. ).

Escrever as cartas para a vó, dirigindo-se à matriarca como se ela ainda estivesse viva, é um modo de manter a avó viva, preservando sua memória e todas as trocas que ocorreram entre elas. A necessidade de contar a avó as inúmeras vezes em que foi vítima de racismo e discriminação pelos colegas, contar a ela que não foi fácil ser uma menina preta em um bairro majoritariamente branco, tornou-se imperioso para deixar enraizar-se o que Anne Muxel chama de “árvore da filiação” (2006MUXEL, Anne. Individu et mémoire familiale. Paris: Hachette, 2006. ), que corresponde ao desejo de estabelecer um sentimento de pertença à família com a qual viveu uma história em comum, apesar das separações e das mortes. A escrita do livro Cartas para minha avó é uma tentativa de restaurar os fios da memória que a ligam ao passado. Rememorar os diálogos com a mãe, mas sobretudo com a avó, tem o efeito de revivescência, que supõe, segundo Muxel, « une sorte d´annulation du temps qui permet de se retrouver, par le surgsisement du souvenir, propulsé dans le passé. Il s´agit de revivre, de se revivre dans les décors, dans les relations, dans les évènements de sa vie passée » (MUXEL, 2006MUXEL, Anne. Individu et mémoire familiale. Paris: Hachette, 2006. , p. 201-202).17 17 Uma espécie de anulação do tempo que permite encontrar, pelo surgimento da lembrança, impulsionado no passado. Trata-se de reviver, de reviver-se nos cenários, nas relações, nos acontecimentos de sua vida passada.

O texto ficcional se revela importante vetor da transmissão, já que esta ocorre na junção de « ce qui persiste et de ce qui s´invente »18 18 Do que persiste e do que se inventa. (MUXEL, 2003MUXEL, Anne. Temps, mémoire et transmission. In:RODET, Chantal (org.). La transmission dans la famille: secrets, fictions et idéaux. Paris: L´Harmattan, 2003. p. 146-157. , p. 148), nos interstícios das culturas e das temporalidades. Preservar a identidade dos que já não estão entre nós (como as avós dos romances que citamos), está ligado tanto à preservação da memória dos que já não estão entre nós quanto de nossa própria identidade, o que é o caso das vozes narrativas que evocamos no âmbito do presente artigo, uma vez que é a partir da preservação dos rastros memoriais que construímos o identitário individual e coletivo. O romance memorial tenta preservar essa voz que vem de longe, das origens.

O laço vivo das gerações

Maurice Halbwachs (2017HALBWACHS, Maurice. Memória coletiva. Tradução de Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro, 2017. ), em sua obra Memória coletiva (versão em português de 1997), fala “em laço vivo das gerações”, expressão que, de acordo com Joël Candau (2012CANDAU, Joël. Memória e identidade. São Paulo: Contexto, 2012. , p. 137), remete à memória genealógica e familiar, especificando que a reapropriação identitária passa pela reaproximação do indivíduo com a memória genealógica, tendo a transmissão um papel vital nesse processo. Salvaguardar a memória dos ancestrais corresponde a preservar sua própria identidade (CANDAU, 2012CANDAU, Joël. Memória e identidade. São Paulo: Contexto, 2012. , p. 139).

Assim, tanto Emmelie Prophète quanto Djamila Ribeiro apostam na reapropriação da memória genealógica (no caso, os vestígios memoriais da convivência com suas avós, os quais souberam preservar) para apropriarem-se de suas identidades como mulheres negras na realidade atual de seus países respectivos: Haiti e Brasil. Como sabemos, a rememoração por si só não é suficiente: o trabalho de memória passa pela transmissão, uma vez que é a transmissão que garante a sobrevida de nossas memórias, a partir do legado geracional. Ressignificar, no presente, o legado da herança memorial do passado - a assim chamada memória genealógica ou familiar - é o que fazem as duas escritoras que repensam suas próprias identidades através da tessitura romanesca, salvaguardando o patrimônio memorial de suas antepassadas e repensando seu próprio estar no mundo como mulheres negras que se sentem responsáveis em deixar tais registros às mulheres de sua geração.

Legam desse modo às novas gerações o testamento das solidões e angústias que viveram por terem sido silenciadas e invisibilizadas em suas comunidades: na obra de Emmelie Prophète, as mulheres são invisibilizadas pelas próprias condições do país que, em sua precariedade material, oprime a todos, mas em especial as mulheres que ficam responsáveis pela manutenção dos filhos, sem contar com nenhum tipo de auxílio por parte da comunidade e/ou do governo; já no caso de Djamila Ribeiro, a mulher negra é a grande ausente nas boas escolas, nas universidades e nos empregos mais bem pagos. Vencer pela força da memória e da transmissão esse apagamento sistemático do negro é a tarefa na qual se empenham as duas escritoras que, assumindo seus respectivos lugares de fala, passam a representificar ausências.

Sobre a questão do “lugar de fala”RIBEIRO, Djamila. Lugar de fala. São Paulo: Jandaíra, 2020. , Djamila Ribeiro publicou, em 2017RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, 2017. , o livro O que é o lugar de fala?, no qual se interroga sobre quem tem

[...] direito à voz em uma sociedade que tem como norma a branquitude, a masculinidade e a heterossexualidade. O conceito se faz importante para desestabilizar as normas vigentes e trazer a importância de se pensar no rompimento de uma voz única com o objetivo de propiciar uma multiplicidade de vozes. (RIBEIRO, 2017RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, 2017. , n.p.).

De fato, através de suas obras de ficção ou teóricas, ambas as autoras questionam visões unívocas da realidade, deixando emergir uma outra visão de mundo que vai na contramão da versão preponderante, a qual foi se tornando não apenas a que fala mais alto, mas a que se pretendia única. Assumir o lugar de fala faz com que se desloquem determinadas personagens da zona de sombra, tornando-as visíveis e audíveis. Esse é o papel de escritoras como E. Prophète e D. Ribeiro que representificam no presente as ausências do passado, dando a conhecer ao mundo tudo o que o racismo, o preconceito e o etnocentrismo branco tornaram ausentes durante vários séculos.

É importante, para concluir essas breves reflexões, mencionar a importância da literatura afro de língua francesa do Caribe que produziu autoras como Maryse Condé, originária da Guadalupe, tendo realizado a viagem de busca de suas raízes africanas no Mali. Maryse Condé publicou um grande número de obras em uma língua mestiça entre o francês e o créole, comprovando pela escritura que as heranças (tanto francesas quanto antilhanas) precisam passar por um trabalho de reapropriação e de negociação.

Mencionamos essa autora para mostrar que Emmelie Prophète é oriunda de uma região com vasta tradição literária como a citada Maryse Condé e a também muito conhecida Simone Schwartz-Bart, igualmente nativa da ilha caribenha da Guadalupe, departamento francês de além-mar. Haiti, como mencionamos, é um país independente, mas pertence à região do Caribe, vítima do genocídio dos primeiros habitantes, os indígenas Caraíbas e Aruaques, que povoaram a região do Caribe na era pré-colombiana e que, posteriormente, foram substituídos pela mão de obra escrava africana. Todo esse imaginário povoado de sofrimento e brutalidade, mas também de rebeliões e lutas pela liberdade, povoa o imaginário dos escritores da região, dando origem a uma literatura tecida de memórias, mitologias africanas e transmissões memoriais.

Da mesma forma, Djamila Ribeiro começa a escrever quando uma literatura afro-brasileira no feminino já havia se constituído, tendo se iniciado com a criação, em 1980, dos Cadernos Negros que já produziu cerca de 46 exemplares, com suas publicações anuais. Nesse sentido, mencionamos os nomes de autoras já consagradas como Conceição Evaristo, Esmeralda Ribeiro, Miriam Alves e tantas outras. São autoras que se batem contra a naturalização do racismo, o abuso contra as mulheres, representificando o imaginário de origem afro-brasileiro e reafirmando um identitário afro-brasileiro. A partir desses elementos, a autoria negra feminina renova a literatura afro-brasileira - e porque não dizer, a literatura brasileira contemporânea - à qual vem somar-se a escritura de Djamila Ribeiro. Todas elas escrevem com “facas”, como escreveu Annie Ernaux, ou seja, com armas afiadas para sacudir os leitores e as leitoras, reatualizando a memória e assumindo um protagonismo que até então lhes havia sido negado. Buscam, como nos lembra Djamila, dar voz, através da literatura, aos que foram subalternizados e não puderam falar. Através da literatura reivindicam agora o reconhecimento de sua humanidade, rompendo as amarras de seus silenciamentos e de suas solidões.

REFERÊNCIAS

  • BERND, Zilá; LUNKES, Luciano; LEITE, Mário Cezar Silva. Memória, ausência e invisibilidade. Textura - Revista de Educação e Letras, Canoas, v. 23, n. 56, p. 3-13, out./dez. 2021. Disponível em: http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/txra/article/view/6812/4206 Acesso em: 10 out. 2021.
    » http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/txra/article/view/6812/4206
  • CANDAU, Joël. Memória e identidade São Paulo: Contexto, 2012.
  • CATROGA, Fernando. Os passos do homem como restolho do mundo: memória e fim do fim da história. Coimbra: Almedina, 2009.
  • ERNAUX, Annie. Écrire comme un couteau Entretien avec Frédéric Yves Jeannet. Paris: Folio, 2003.
  • HALBWACHS, Maurice. Memória coletiva Tradução de Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro, 2017.
  • MUXEL, Anne. Individu et mémoire familiale Paris: Hachette, 2006.
  • MUXEL, Anne. Temps, mémoire et transmission. In:RODET, Chantal (org.). La transmission dans la famille: secrets, fictions et idéaux. Paris: L´Harmattan, 2003. p. 146-157.
  • PEREIRA, Edimilson de Almeida. Caderno de retorno Salvador: editor Ogums’ toques negros, 2017.
  • PROPHÈTE, Emmelie. Le bout du monde est une fenêtre Montreal: Mémoire d’Encrier, 2018a.
  • PROPHÈTE, Emmelie. Le testament des solitudes Montréal: Mémoire d’Encrier, 2013.
  • PROPHÈTE, Emmelie. Les villages de dieu Montréal: Mémoire d’Encrier , 2021.
  • PROPHÈTE, Emmelie. Un ailleurs à soi Montréal: Mémoire d’Encrier , 2018b.
  • RIBEIRO, Djamila. Lugar de fala São Paulo: Jandaíra, 2020.
  • RIBEIRO, Djamila. Cartas para minha avó São Paulo: Schwarcz, 2021.
  • RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, 2017.
  • RIBEIRO, Djamila. Pequeno dicionário antirracista São Paulo: Companhia das Letras, 2019
  • 1
    Eu só tinha o presente e as histórias sem começo.
  • 2
    Utilizei uma versão ebook da obra Les villages de dieu e as páginas são indicadas desse modo.
  • 3
    Eu não tinha relação com o tempo. O tempo não passava de fato em Bethlém e na Cidade da Potência divina. Provavelmente em toda a parte onde as pessoas não esperavam nada.
  • 4
    Esse objeto luminoso, uma verdadeira janela sobre as coisas que me eram até aqui inacessíveis.
  • 5
    https://www.todamateria.com.br
  • 6
    O acordo prometia ao Haiti reconhecimento diplomático pela França em troca de uma redução de 50% das tarifas alfandegárias às importações francesas e uma indenização de 150 milhões de francos (cerca de US$ 21 milhões hoje), pagos em cinco parcelas. https://www.bbc.com.international-46721129
  • 7
    Nós somos os filhos do esquecimento.
  • 8
    A escritura que eu utilizo é parte integrante da pesquisa. Eu a sinto como a faca, quase a arma de que necessito
  • 9
    Eu sinto que aí está minha grande motivação de escrever. Trata-se de uma maneira de salvar também minha própria existência.
  • 10
    Um grande salto no vazio.
  • 11
    https://pt.wikipedia.org/wiki/Janela
  • 12
    Todo mundo tem uma janela. Como faríamos para viver sem janelas? Essas aberturas por onde os sonhos e as escapadas são possíveis. A janela estava fechada.
  • 13
    O silêncio no qual ele foi emparedado desde sempre.
  • 14
    Que o havia lembrado da dura realidade do país. Uma exacerbação constante das diferenças, a incapacidade de encontrar o essencial.
  • 15
    A transmissão como a memória, resulta sempre de uma reapropriação, logo de uma recriação, ou de uma reinvenção, podendo levar a deslocamentos como as inversões de sentido, de espaços e de temporalidades. (tradução nossa.)
  • 16
    A transmissão assina um reconhecimento e a memória uma fidelidade. Mas, reconhecimento e fidelidade não significam reprodução. Não é a reprodução idêntica que está em jogo, nem a inclusão nostálgica de um espaço-tempo que gostaríamos de anular e congelar. O reconhecimento e a fidelidade permitem realizar o encontro com o inesperado, o estrangeiro, o novo. (tradução nossa.)
  • 17
    Uma espécie de anulação do tempo que permite encontrar, pelo surgimento da lembrança, impulsionado no passado. Trata-se de reviver, de reviver-se nos cenários, nas relações, nos acontecimentos de sua vida passada.
  • 18
    Do que persiste e do que se inventa.

Editado por

Editor-chefe:

Rachel Esteves Lima

Editor executivo:

Regina Zilberman

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Jul 2022
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2022

Histórico

  • Recebido
    30 Dez 2021
  • Aceito
    14 Mar 2022
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