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Carta dos editores

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Prezados leitores,

O trabalho com gêneros textuais / discursivos orais e escritos que circulam em diferentes instâncias sociais, seja no âmbito da análise e descrição, seja no âmbito do ensino-aprendizagem de línguas / linguagens, vem despertando crescente interesse de inúmeros pesquisadores no Brasil e no exterior. A cada nova edição do Simpósio Internacional de Gêneros Textuais - SIGET, simpósio bienal promovido pelo GT de gêneros textuais / discursivos da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística - ANPOLL, temos nos deparado com centenas de pesquisas que versam sobre esse tema, alicerçadas em diferentes quadros teórico-metodológicos. Haja vista a relevância desses estudos para o avanço das discussões da área, o presente número da Revista Brasileira de Linguística Aplicada - RBLA é consagrado à difusão de alguns trabalhos apresentados no último encontro de pesquisadores em gêneros - V SIGET, ocorrido na Universidade de Caxias do Sul, Brasil, de 11 a 14 de agosto de 2009. Os textos aqui apresentados abordam especialmente o trabalho com gêneros no ensino de língua materna.

O ensaio Do discurso monológico da consciência aos gêneros do discurso, de Furlanetto, busca traçar um painel para contextualizar a importância epistemológica da concepção dialógica e da concepção estendida de gêneros de discurso em Bakhtin, que funcionam como uma unidade de conhecimento que só faz sentido como prática social. Oliveira discute em Gêneros textuais e letramento a relação entre esses dois campos de estudos, levando em consideração a complexidade que os envolve não apenas como objetos teóricos mas também como aplicação no domínio pedagógico, indicando os "projetos de letramento" como alternativa para o trabalho contextualizado com os gêneros textuais. Street, em 'Academic Literacies approaches to Genre'?, discute, à luz dos Novos Estudos de Letramento, a forma como os professores dão suporte aos seus alunos para escrever os gêneros requisitados na academia. O artigo de Marinho apresenta resultados de pesquisa sobre A escrita nas práticas de letramento acadêmico, desenvolvida em cursos de formação inicial de professores. A autora, seguindo Bakhtin, sugere que o trabalho com textos acadêmicos deve ser proveniente de práticas situadas no contexto de produção do discurso acadêmico. Baltar e Costa, em Gênero textual exposição oral na educação de jovens e adultos, apresentam os resultados da pesquisa-ação desenvolvida na modalidade EJA, no Ensino Médio, discutindo a validade do trabalho com a exposição oral para auxiliar estudantes a ampliar seu repertório de gêneros de textos orais e subsidiar os professores a elaborar um trabalho didático-pedagógico sistematizado, por intermédio da sequência didática (SD) nessa modalidade de ensino. Belmiro, em A multimodalidade na literatura infantil e a formação de professores leitores, apresenta parte dos resultados de pesquisa de doutorado sobre relações entre imagens e textos verbais em livros de literatura infantil a partir do conceito de estilo bakhtiniano. O trabalho Gêneros textuais e ensino de língua materna: entre o caminho e a pedra, de Guimarães, discute a importância do conceito de gêneros textuais na sala de aula para transformar a realidade do ensino do texto escrito. A autora exemplifica sua proposta com dados empíricos, trabalhando os gêneros textuais como forma de articular as práticas linguageiras. O texto de Dell'Isola, A avaliação em foco: o que provam as provas de Língua Portuguesa e de Redação do exame vestibular?, apresenta análise de provas de Língua Portuguesa de vestibulares dos últimos dez anos da Universidade Federal de Minas Gerais, concluindo que as provas desse concurso cumprem a meta a que se destinam.

O número fecha com uma entrevista póstuma com José Luiz Meurer, precedida de um instigante debate sobre a circulação de textos na academia, proposto por Bazerman, tendo Rajagopalan como interlocutor. Bazerman argumenta em Paying the Rent: Languaging Particularity and Novelty, que, uma vez que o processo de escrever depende de todo o escrito produzido anteriormente, ao se darem conta disso, os professores substituem sua ansiedade sobre o plágio dos alunos por uma preocupação sobre o que há de original ou de trabalho adicional que se espera que eles façam a partir de textos anteriores. Isso pode levar a uma pedagogia positiva que dá suporte ao aprendizado dos alunos a partir de textos prévios, possibilitando que eles desenvolvam suas próprias ideias. Rajagopolan responde, em A tenant's lot: on paying the rent or facing the prospect of eviction — a response to Bazerman, questionando mais a fundo a tênue linha entre o engajamento com o que veio antes e a originalidade. Ele considera que o paradoxo da originalidade permeia todo o trabalho acadêmico.

Boa leitura a todos,

Charles Bazerman e Marcos Baltar

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Fev 2013
  • Data do Fascículo
    2010
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