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Um intelectual da Ação Católica no campo educacional: Alceu Amoroso Lima em Um Discurso de Paraninfo (1935)

An intellectual of Catholic Action in the educational field: Alceu Amoroso Lima in A Patron’s Speech (1935)

Un intelectual de la Acción Católica en el campo educativo: Alceu Amoroso Lima en Un Discurso de Paraninfo (1935)

Resumo

Este artigo tem como objetivo interpretar elementos culturais e simbólicos expressos pelo intelectual católico Alceu Amoroso Lima (1893-1983) num discurso de paraninfo. Adota-se como fonte a transcrição de sua fala às formandas do Colégio Sacré-Coeur de Marie - RJ, publicada no ano de 1935 em Vida: revista universitária, sob o título “Um Discurso de Paraninfo”. No presente estudo, foram utilizados como categorias de análise conceitos elaborados pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu. Na cerimônia, Amoroso Lima buscou modular expectativas e pretendeu impactar as disposições incorporadas pelas alunas, ao defender o trabalho junto à Ação Católica Brasileira como um bom caminho para as moças.

Palavras-chave:
Alceu Amoroso Lima; Ação Católica Brasileira; intelectual católico; discurso de paraninfo

Abstract

This paper aims to interpret cultural and symbolic elements expressed by the Catholic intellectual Alceu Amoroso Lima (1893-1983) in a patron’s speech. We analyzed the transcription of the speech he addressed to the students finishing their course at the Colégio Sacré-Coeur de Marie - RJ, published in 1935, in Vida: revista universitária, with the title “A Patron’s Speech”. In the present study concepts developed by the French sociologist Pierre Bourdieu were used as categories of analysis. At the ceremony Amoroso Lima sought to modulate expectations and intended to impact the dispositions incorporated by the students, by defending the work with the Brazilian Catholic Action as a good path for the girls.

Keywords:
Alceu Amoroso Lima; Brazilian Catholic Action; Catholic intellectual; patron’s speech

Resumen

Este artículo pretende interpretar elementos culturales y simbólicos expresados por el intelectual católico Alceu Amoroso Lima (1893-1983) en un discurso como paraninfo. Se utiliza como fuente la transcripción de su discurso a las graduandas del Colegio Sacré-Coeur de Marie - RJ, publicada en 1935, en Vida: revista universitaria, bajo el título “Un Discurso de Paraninfo”. En el presente estudio se utilizaron como categorías de análisis conceptos desarrollados por el sociólogo francés Pierre Bourdieu. En la ceremonia Amoroso Lima buscó modular expectativas e pretendió impactar disposiciones incorporadas por las chicas estudiantes, al defender el trabajo junto a la Acción Católica Brasileña como un buen camino para las jóvenes.

Palabras clave:
Alceu Amoroso Lima; Acción Católica Brasileña; intelectual católico; discurso de paraninfo

Introdução

Este artigo tem como objetivo interpretar elementos culturais e simbólicos expressos por Alceu Amoroso Lima (1893-1983) num discurso de paraninfo. A fim de alavancar as possibilidades de produção de sentido, sua estrutura e seu conteúdo são tomados como pertencentes a uma região de fronteira, entre os campos educacional, religioso e político. Tratava-se de cerimônia de colação de grau promovida pelo Colégio Sacré-Coeur de Marie, no Rio de Janeiro, em dezembro de 1934, ano que antecedeu a implantação oficial da Ação Católica Brasileira (ACB). Em seu discurso, o intelectual católico dirigiu-se a moças que concluíam sua formação como normalistas, junto à instituição de ensino pertencente às freiras do Instituto das Religiosas do Sagrado Coração de Maria.

O discurso proferido da tribuna por Alceu Amoroso Lima ganhou as páginas da imprensa católica, em publicação aqui adotada como fonte, intitulada “Um Discurso de Paraninfo” (Lima, 1935). A transcrição foi veiculada pelo periódico Vida: revista universitária, no seu número 10, publicado em janeiro de 1935. Vale destacar que Pio XI (1857-1939, papa desde 1922) avaliava a imprensa como um dos âmbitos de intervenção mais importantes da Ação Católica: a voz do movimento. A imprensa periódica se notabiliza como fonte de relevância, para pesquisas documentais em História da Educação, ao oferecer acesso a concepções, a métodos, a filiações e a debates que expressaram, num dado período, aspectos da circulação de ideias no campo educacional. Os periódicos efetivam a conexão entre produtores (ou mediadores) e receptores de discursos que articulam teorias e práticas, produzindo significados que impactam agentes de um campo. Destacam-se exemplarmente, na década de 1930, as polêmicas entre os defensores da laicização do ensino e os defensores do ensino católico no Brasil.

O discurso de um paraninfo numa cerimônia de formatura possui sentido ritual. Pierre Bourdieu (1996Bourdieu, P. (1996). A economia das trocas linguísticas: o que falar quer dizer. Edusp.) afirma que tal ato cumpre sua significação ao ser levado a efeito por um agente reconhecido como orador legítimo perante seus receptores. Um enunciado performativo precisa ser pronunciado por alguém que tenha poder simbólico para tanto, caso contrário é malogrado, em razão da ausência de uma crença mobilizadora preexistente. Sem o reconhecimento necessário para proferir suas palavras, sob formas legítimas validadas pelo campo educacional num rito de instituição, um paraninfo não conseguiria operar a eficácia simbólica, ou a magia social, do ato de autoridade penhorado. O sentido da presença de Amoroso Lima no Colégio Sacré-Coeur de Marie pressupõe que o intelectual católico proporcionava às alunas formandas, bem como a suas famílias, em termos de apreciação e de reconhecimento, a consagração simbólica de sua diplomação perante o espaço social.

A discussão aqui empreendida é situada no âmbito da História Intelectual e estabelece foco nos modos de posicionamento e de intervenção dos intelectuais no debate público, articulando-os a seus vínculos - seja em termos de espaços de sociabilidade, de circulação de ideias, ou de compromissos com projetos institucionais. A partir dessa perspectiva, empregam-se como categorias de análise proposições e conceitos elaborados pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu, num diálogo entre Sociologia e História. Especialmente, ao investigar a conformação e a modificação de práticas e de visões de mundo, lastreadas nas representações elaboradas pelos agentes, enquanto variantes da sua posição na estrutura de um campo social, da composição de seus capitais, bem como de suas categorias de percepção e de apreciação. Tais características incorporadas sob a forma de um habitus, conforme Bourdieu (2003a, 2004), são disposições duráveis num agente, tendo impacto em sua maneira de pensar, de agir e de sentir. Esse sistema de classificação operaria como um princípio gerador e estruturador das práticas e das representações, um balizador para se compreender a autonomia relativa do agente perante o espaço social.

Alceu Amoroso Lima foi o primeiro presidente da Ação Católica Brasileira. Alinhada às prescrições estabelecidas em 1922 pelo papa Pio XI, a instituição foi oficializada em 9 de junho de 1935, como modelo de organização e intervenção sociais da Igreja no país. O arcebispo do Rio de Janeiro, dom Sebastião Leme (1882-1942), foi a liderança da hierarquia que direcionou sua implantação. Tratava-se de um modelo de atuação que se caracterizava pela participação efetiva do laicato no apostolado, proposição que ultrapassava o clericalismo tradicional, com vistas a ampliar o alcance católico no espaço social. A inserção de leigos em instituições de diferentes campos, nesse quadro, passou a ser questão premente para a Igreja, como meio para recuperar sua relevância na discussão pública, que se distinguia pela progressiva secularização.

A figura do intelectual católico leigo ganhava assim maior relevância e função estratégica ao expressar, defender e difundir - de modo articulado à instituição - a cosmovisão cristã em diferentes espaços e empregando variados meios de ação, numa dimensão prática que se colocava como alternativa à particularidade da atuação dos clérigos. Bourdieu (2007aBourdieu, P. (2007a). A distinção: crítica social do julgamento. Edusp.) indica que intelectuais representantes de diferentes setores sociais, numa lógica de concorrência, conformam um campo intelectual, de cujas disputas resultará um conjunto de ideias e valores tomados como legítimos no debate público. Os campos sociais são definidos por Bourdieu (2003b) como espaços restritos e dotados de regras particulares, nos quais os agentes neles envolvidos produzem, classificam e fazem circular bens variados. Nesses espaços, os intelectuais católicos distinguem-se por sua posição tributária da tradição religiosa, por eles especialmente laborada na cultura e na política, em busca de uma solução de compromisso.

Ao tratar da particularidade do intelectual católico leigo, Hervé Serry (2004Serry, H. (2004). Literatura e catolicismo na França (1880-1914): contribuição de uma sociohistória da crença. Tempo Social, 16(1), 129-152. https://doi.org/10.1590/S0103-20702004000100008
https://doi.org/10.1590/S0103-2070200400...
) destaca que a autonomia deste em relação à instituição é relativa e, com frequência, sua habilitação ao debate público passa por um capital cultural que lhe seja próprio, usualmente legitimado em alguma esfera do campo científico. Ao ponto de partida da estrutura de seus capitais, são incorporados os capitais da instituição católica, o que lhe confere reconhecimento no espaço social. Esse estado de meio caminho entre o leigo e o clérigo, particular ao intelectual católico militante, constitui uma insígnia de consagração, visto não ser concebível reivindicar para si o catolicismo afastado da Igreja.

Para alcançar o objetivo proposto neste artigo, inicialmente discute-se a Ação Católica Brasileira, com destaque para a direção dada à instituição por Alceu Amoroso Lima, notadamente ao se abordar como seus capitais social, intelectual e simbólico foram decisivos para legitimar sua atuação em colaboração com a hierarquia da Igreja. Em seguida, privilegiando-se a fonte de pesquisa, a saber, “Um Discurso de Paraninfo” (Lima, 1935), interpretam-se os elementos culturais e simbólicos expressos pelo intelectual católico às formandas do Colégio Sacré-Coeur de Marie.

Alceu Amoroso Lima e a Ação Católica Brasileira (ACB)

A reordenação da prática pastoral do século XX, ou mesmo do final do século XIX1 1 A Carta encíclica Rerum Novarum (1891), de Leão XIII, ao abordar a condição da classe operária, foi um marco para a perspectiva de um catolicismo social, interessado em tratar de aspectos econômicos e políticos diante do capitalismo industrial (Souza, 2006). , foi um projeto impactado pela experiência católica na Modernidade diante das tribulações derivadas especialmente do enfrentamento das ideias iluministas. A maior atuação da Igreja no espaço social, em variados setores, foi fruto sobretudo de uma preocupação de oposição ao laicismo (liberal ou comunista) - impulso para a formalização da Ação Católica2 2 O Motu proprio sobre a Ação Popular Católica (1903), de Pio X, exaltou o que se nominava pela tradição ação católica dos leigos, atribuindo à atividade louvor e mérito contemporâneo, em face das demandas que se levantavam para a Igreja junto à sociedade civil (Dale, 1985). . Entretanto, destaca-se como marco oficial da Ação Católica como projeto sistematizado a Carta encíclica Ubi Arcano Dei, de 23 de dezembro de 1922, primeira do pontificado de Pio XI, na qual o papa reelaborou o conceito ao pensá-lo em termos de divisões leigas dispostas a combater na cultura e nas instituições em favor da Igreja (Pio XI, 1922). Sob a liderança de Pio XI, ganhou corpo a ideia de uma neocristandade, ligada ao mundo moderno, comprometida e provida de caráter apostólico (Souza, 2006Souza, N. (2006). Ação Católica, militância leiga no Brasil: méritos e limites. Revista de Cultura Teológica, 14(55), 39-59. https://revistas.pucsp.br/index.php/culturateo/article/view/15033/11226
https://revistas.pucsp.br/index.php/cult...
).

A colaboração entre a comunidade leiga e a hierarquia eclesiástica ganhou proeminência com Pio XI, sob a bandeira da Ação Católica, como proposição universal para a composição de planos dotados de unidade de intervenção. A fim de atingir diferentes classes sociais, numa militância revitalizadora dos valores cristãos na vida temporal, lançou-se mão, inclusive, de um novo estilo de linguagem, capaz de alcançar o cotidiano das pessoas. Tratava-se de um modelo de ação concebido: “[...] como um sujeito coletivo em torno de um projeto comum, cujos objetivos e valores foram definidos a partir da Doutrina Social Católica e das diretrizes institucionais da Santa Sé” (Rosa, 2011Rosa, L. R. O. (2011). A Igreja Católica Apostólica Romana e o Estado Brasileiro: estratégias de inserção política da Santa Sé no Brasil entre 1920 e 1937 [Tese de Doutorado, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Repositório UNESP. https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/103109/rosa_lro_dr_fran.pdf?sequence=1&isAllowed=y
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, p. 210).

Em terras brasileiras, foi dom Sebastião Leme o mais importante promotor da implementação do modelo da Ação Católica, o que aconteceu de modo progressivo e culminou com a oficialização da instituição no país em 1935. Já em 1916, nomeado arcebispo metropolitano de Olinda, incentivou a criação e a cooperação entre associações ligadas à Igreja, tendo concebido a Confederação das Associações Católicas. Ao assumir a posição de bispo coadjutor do Rio de Janeiro, em 1921, iniciou a organização e a unificação das associações católicas da capital do país (Dale, 1985Dale, R. (1985). A Ação Católica Brasileira. Loyola.). Em 1933, fundou a Coligação Católica Brasileira - embrião da Ação Católica Brasileira -, composta pelo Centro D. Vital, pela Ação Universitária Católica, pela Confederação Nacional dos Operários Católicos, pelo Instituto Católico de Estudos Superiores e pela Confederação da Imprensa Católica (Rosa, 2011Rosa, L. R. O. (2011). A Igreja Católica Apostólica Romana e o Estado Brasileiro: estratégias de inserção política da Santa Sé no Brasil entre 1920 e 1937 [Tese de Doutorado, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Repositório UNESP. https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/103109/rosa_lro_dr_fran.pdf?sequence=1&isAllowed=y
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).

A Ação Católica, enquanto modelo de intervenção confiado aos leigos, era vista como uma modificação no seio de uma Igreja fortemente clerical, o que chegou mesmo a implicar em que a acolhida à nova instituição fosse reticente no caso brasileiro. As tradicionais associações, irmandades e ordens terceiras, muitas vezes, tiveram o entendimento de que estavam sendo relegadas a segundo plano, ou mesmo submetidas às determinações e aos princípios gerais de uma instituição que lhes era estranha. Em acordo com Beozzo (2007Beozzo, J. O. (2007). A Igreja entre a revolução de 1930, o Estado Novo e a redemocratização. In B. Fausto (Org.), História Geral da Civilização Brasileira. O Brasil Republicano - Economia e cultura (1930-1964) (Vol. 11, T. 3, 4a. ed., pp. 337-421). Bertrand Brasil., p. 399):

O relacionamento entre a Ação Católica e as Congregações Marianas, bem organizadas e disseminadas por todo país, as Conferências Vicentinas e outras associações não foi sempre tranquilo e pacífico. Além do mais, a Ação Católica veiculava o mais das vezes uma nova espiritualidade, um novo espírito litúrgico, uma militância que provocavam retraimento e críticas dos grupos mais tradicionais.

É importante levar em conta que os quadros da Ação Católica Brasileira, em grande parte, eram oriundos de setores da classe média, marcadamente, jovens egressos de colégios pertencentes à Igreja. Assim, embora a instituição tivesse dentre seus objetivos alcançar variados estratos sociais, houve de fato uma adesão inicial por parte de indivíduos provenientes de setores privilegiados da população. Conservadores e progressistas ganharam visibilidade em disputas no seio das atividades da Ação Católica, destacadamente em torno de questões ligadas ao afastamento, ou à aproximação, de ideias e valores da modernidade. Segundo Serbin (2008Serbin, K. P. (2008). Padres, celibato e conflito social: uma história da Igreja católica no Brasil. Companhia das Letras.), por um lado a Igreja buscou se adaptar à nova ordem social, por outro defendeu a ortodoxia e a autoridade da hierarquia, numa espécie de modernização conservadora característica da romanização.

Alceu Amoroso Lima foi o primeiro presidente nacional da Ação Católica Brasileira3, permanecendo no cargo de 1935Lima, A. A. (1935). Um Discurso de Paraninfo. Vida: revista universitária, 2(10), 14-15. a 1945. Tratava-se da liderança leiga mais expressiva no país, com presença marcante no campo intelectual. Era referência para a militância ligada à Igreja e também para os opositores laicistas, que o reconheciam como importante interlocutor, em alguns casos adversário, nas discussões relativas à vida política e cultural do país. Sua conversão ao catolicismo ocorreu em 1928, como um dos desdobramentos da relação com Jackson de Figueiredo (1891-1928) e de sua aproximação com o padre Leonel Franca (1893-1948)4 4 A proximidade e a afinidade de Alceu Amoroso Lima com Leonel Franca, para além das questões institucionais da articulação entre o laicato e a hierarquia, consolidou-se em razão do jesuíta ter tido formação esmerada - no Brasil e na Europa - ao longo de sua formação como padre (Skalinski Junior, 2015). De acordo com Cândido Mendes (2008), ele havia sido preparado para ser, no país, uma: “[...] resposta cristã ao agnosticismo das exigências da modernização científica e das novas críticas lançadas à troca do pensamento por um credo” (p. 38). . Em razão da morte prematura de Figueiredo, então presidente do Centro D. Vital, Amoroso Lima foi demandado por membros da própria entidade, com a anuência de dom Sebastião Leme, a assumir a presidência da instituição (Casali, 1995Casali, A. (1995). Elite intelectual e restauração da igreja. Vozes.).

Sediado no Rio de Janeiro, o Centro D. Vital havia sido fundado em 1922, com o objetivo de restaurar a capacidade católica de intervir sobre a política e a cultura nacionais. A revista A Ordem, criada em 1921, foi convertida em órgão de imprensa oficial da instituição, tornando-se meio privilegiado pela intelectualidade católica para fazer circular suas ideias. Sergio Miceli (2001Miceli, S. (2001). Intelectuais à brasileira. Companhia das Letras.) destaca que o Centro e a revista foram decisivos para o rearmamento institucional da Igreja, ao reunirem intelectuais a fim de difundir a doutrina católica por meio de tomadas de posição, notadamente acerca das questões temporais que se colocavam no debate público. Cláudio Moreira Rodrigues (2005Rodrigues, C. M. (2005). A Ordem: uma revista de intelectuais católicos (1934-1945). Autêntica.) afirma que, desde a passagem da direção da revista para Alceu Amoroso Lima, em 19285 5 Alceu Amoroso Lima ocupou a direção da revista A Ordem até 1964, e a presidência do Centro D. Vital até 1966. , concomitantemente à sua posse como presidente do Centro D. Vital, o periódico passou a ter linha editorial mais voltada à vida cultural, com vistas a atrair e a formar quadros para uma elite intelectual católica capaz de atuar e influir em diferentes campos sociais.

O movimento do Centro D. Vital e da revista A Ordem em direção às discussões do campo da cultura era conectado aos capitais social, cultural e simbólico de Alceu Amoroso Lima6 6 Após concluir a Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais, no Rio de janeiro, em 1913, Amoroso Lima não demonstrou interesse em tomar parte na carreira pública. Sua falta de gosto pela prática jurídica e o desapontamento com um cargo no Itamaraty levaram-no a optar por uma posição na direção da empresa da família. Em 1919, publicou seu primeiro artigo como crítico literário, na capital federal, no diário O Jornal, sob o pseudônimo Tristão de Athayde - a fim de distinguir sua carreira de crítico de sua função de gestor de negócios (Carpeaux, 1978). . Ao se avaliar essa questão, verifica-se que sua trajetória foi marcada por uma vasta produção cultural, bem como pela construção de uma ampla rede de contatos. A importância de seus escritos e as conexões sociais por ele estabelecidas, junto a variados setores de classe e a diferentes campos sociais, impulsionaram o alcance e o reconhecimento de sua atuação como intelectual, o que lhe proporcionou também um capital simbólico significativo. Cândido Mendes (2008Mendes, C. (2008). Dr. Alceu: da ‘persona’ à pessoa. Paulinas.) afirma que o prestígio de Amoroso Lima junto à elite intelectual do Rio de Janeiro já era reconhecido antes de 1928, o que contribuiu para que a notícia de que havia se convertido fosse celebrada entre a militância católica. Filho de um industrial bem estabelecido economicamente na capital do país, pertencente a uma família tradicional e abastada, circulou pelos meios intelectuais e políticos da Primeira República, o que, para além do acesso a preceptores, a professores e a instituições destacados, contribuiu para que cultivasse uma formação erudita.

A conversão de Alceu Amoroso Lima ao catolicismo ocorreu por meio de uma trajetória intelectual longa e complexa. Um caminho para a fé a partir da crítica da Modernidade. Tais traços impactaram, inclusive, a representação do Centro D. Vital, reposicionado como um símbolo de distinção a partir de sua presidência. O que contribuiu para que, no cenário de debates culturais da década de 1930, viesse a perder espaço a ideia de uma franca incompatibilidade entre intelectualidade e catolicismo. Amoroso Lima foi importante para reabilitar conceitos ligados ao campo religioso, em suas fronteiras com as esferas política e cultural no debate público. Tal movimento era carregado de um sentido de enfrentamento, especialmente das ideias laicistas, em favor da dimensão religiosa presente no espaço social, implicando um fortalecimento do catolicismo enquanto balizador cultural nas discussões acerca da formação de uma identidade nacional, capaz de contribuir para modernização do país.

A Ação Católica Brasileira ancorava sua sistemática de intervenção tanto nas instituições civis, em diferentes campos e setores sociais, quanto nas instituições políticas, pertencentes à ordem estatal. Marina Bandeira (2000Bandeira, M. (2000). A Igreja Católica na virada da questão social (1930-1964): anotações para uma história da Igreja no Brasil. Educam.) destaca que as ações da ACB no campo da cultura caracterizavam-se pelo propósito de fortalecer uma identidade nacional católica, o que foi pensado nos termos de uma neocristandade, capaz de fazer frente a uma vida cultural progressivamente laicizada. Os Estatutos da Ação Católica Brasileira, datados de 09 de junho de 1935, ao tratarem da natureza e dos fins da instituição, definiram-na como uma: “[...] participação organizada do laicato católico do Brasil no apostolado hierárquico, para a difusão e atuação dos princípios católicos na vida individual, familiar e social” (Episcopado Brasileiro, 1935/1985, p. 27). Para alavancar a respeitabilidade e dar maior visibilidade à ACB, dom Leme conseguiu viabilizar um símbolo importante: uma carta de apoio redigida por Pio XI, datada de 27 de outubro de 1935. Nela o papa exaltou a relevância do papel dos leigos na missão da Igreja, bem como destacou a necessidade de que recebessem boa formação, a fim de atuarem de maneira efetiva e edificante na Ação Católica. Nesse sentido, registrou:

Antes de tudo vos recomendamos a maior solicitude possível na formação dos que desejem combater nas fileiras da AC: a formação religiosa, moral e social é indispensável aos que quiserem exercitar com êxito apostolado no meio da sociedade moderna. E justamente devido a esta absoluta exigência de formação não se deve começar com vistosas aglomerações, mas lançando mão de grupos que bem adestrados na teoria e na prática, serão o fermento evangélico que fará levantar e transformar-se toda a massa (Pio XI, 1935/1985, p. 40).

Tal mobilização de poder simbólico no seio da nacionalidade buscava viabilizar meios de ação para operar junto à cultura e à política. A candidatura e eleição de Alceu Amoroso Lima à Academia Brasileira de Letras, em 1935Lima, A. A. (1935). Um Discurso de Paraninfo. Vida: revista universitária, 2(10), 14-15., sob o incentivo de dom Sebastião Leme, bem como a posição por ele assumida, também em 1935, no Conselho Nacional de Educação, onde permaneceu até 1969, são modelares no que diz respeito à maneira de operar da Igreja, ao valorizar e empregar em favor de suas causas os capitais social e cultural dos intelectuais leigos.

Embora ancorados em representações, em discursos, em textos, tais capitais eram utilizados a fim de influir concretamente no espaço social, inclusive no que concernia ao Estado e suas repartições. Em acordo com Scott Mainwaring (2004Mainwaring, S. (2004). A Igreja Católica e a política no Brasil (1916-1985). Brasiliense., p. 53): “O sucesso do modelo da neocristandade dependia de sua capacidade de combater a secularização, de usar o Estado para exercer influência sobre a sociedade e de manter um monopólio religioso”. Nesse sentido, a intervenção de Alceu Amoroso Lima chegou mesmo a viabilizar a nomeação de Gustavo Capanema como titular do Ministério da Educação e Saúde Pública, em 1934. A considerar isso, num movimento de dispersão e de concentração de poder, conforme característico dos campos segundo a Sociologia de Pierre Bourdieu, o campo educacional teve a presença de intelectuais católicos como agentes decisivos na conformação de políticas, na elaboração de propostas de ensino e na destinação de recursos.

As palavras e os símbolos em um discurso de paraninfo

Ao se avaliar o caminho de “Um Discurso de Paraninfo” da tribuna à imprensa, efetivado entre dezembro de 1934 e janeiro de 1935, verifica-se seu emprego estratégico, como móvel de luta operado pela intelectualidade católica no campo educacional. Em uma ponta, o discurso foi apresentado a formandas normalistas, bem como às famílias participantes do evento; noutra, sua transcrição alcançou o público majoritariamente masculino, típico dos meios universitários do Brasil da década de 1930.

O documento tomado como fonte da presente investigação, ao ser publicado no periódico católico Vida: revista universitária, notabiliza-se por sua posição complexa como bem cultural e simbólico, produzido pela ação de um intelectual na fronteira entre os campos educacional, religioso e político. O impresso Vida: revista universitária7 7 O periódico teve sua primeira edição em abril de 1934 e a última em dezembro de 1936, num total de 33 números. A revista era impressa sob a forma de folheto, tinha circulação mensal e propósito de alcance nacional. O fato de ser produzida no Rio de Janeiro - então Distrito Federal - acabava por retratar, sob uma imagem aparentemente local, questões cujo interesse atingia leitores também de outros centros. era um dos instrumentos de comunicação da Ação Universitária Católica (AUC), participante do movimento do laicato que culminou com a formalização da ACB. Fundada em 1929, a Ação Universitária Católica, parte integrante da seção juvenil do Centro D. Vital, contou com o apoio de Alceu Amoroso Lima no sentido de compor esforços para a formação de uma elite intelectual católica no país. O universo populacional universitário era restrito em número no Brasil e, em que isso pese, ligado ao campo intelectual e potencialmente conectado a setores dirigentes. O objetivo de preparar seus membros por meio de formação religiosa, tanto para a vida particular quanto para a vida pública, constava das proposições iniciais da AUC, como movimento sistemático, a fim de revitalizar a cristandade no país (Salem, 1982Salem, T. (1982). Do Centro D. Vital à Universidade Católica. In S. Schwartzmann (Org.), Universidades e instituições científicas no Rio de Janeiro (1ª ed., pp. 97-134). CNDCT.).

Não houve um preâmbulo dos editores da revista para a publicação de “Um Discurso de Paraninfo”8 8 Publicada no número 10 do ano II da revista, a transcrição ocupou duas páginas integrais, de um total de 16 do impresso. , ou mesmo algo que situasse, mais detalhadamente, a circunstância de produção do texto. Apenas no alto e à esquerda da folha estampou-se uma foto de Alceu Amoroso Lima - abaixo da linha do título - com a seguinte legenda: “Dr. Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde), que pronunciou este discurso como paraninfo das 5º anistas do ‘Colégio Sacré Coeur de Marie’” (Lima, 1935, p. 14). Esses elementos sugerem a representatividade social de Amoroso Lima, especialmente nos meios católicos, com seu nome e foto sendo entendidos como suficientemente autoexplicativos. O assinalado por Bourdieu (2002Bourdieu, P. (2002). A condições sociais da circulação internacional das ideias. Enfoques, 1(1), 7-15.) pode contribuir para o entendimento dessa circunstância, no sentido de que a posição de um leitor envolve a aplicação de suas categorias de percepção e de problemáticas familiares, que são ligadas ao campo do qual é participante. A circulação do discurso de Amoroso Lima num periódico era, assim, vinculada ao seu lugar de elaboração e ao seu contexto de reprodução, o que ambientava sua recepção por parte dos leitores.

O Colégio Sacré-Coeur de Marie, no qual Alceu Amoroso Lima proferiu seu discurso, era uma instituição católica, localizada no Rio de Janeiro, reconhecida pela formação de moças para o magistério. As freiras responsáveis pela condução da escola pertenciam ao Instituto das Religiosas do Sagrado Coração de Maria, cuja origem remete à França no ano de 1849, sob o carisma de atender os excluídos. A chegada das primeiras irmãs do Instituto no Brasil - eram três religiosas portuguesas - aconteceu em 1911, com o estabelecimento da primeira casa para as missionárias. A partir da ação delas e com a viabilização de um prédio, o Colégio Sacré-Coeur de Marie abriu suas portas em 1916 (Colégio Sagrado Coração de Maria, 2022). Em poucos anos, se tornou uma instituição exaltada pela qualidade no ensino e pela formação rígida, o que se alinhava a um habitus desejado por setores sociais dirigentes para a educação de suas herdeiras.

A atuação dos intelectuais é fundamental na difusão de modelos formativos, por meio da produção de bens culturais e simbólicos. Nesse sentido, pensa-se aqui tal conceito de modo instrumental, como chave produtora de sentido para “Um Discurso de Paraninfo”. Ao operarem na esfera da linguagem, os intelectuais podem produzir, esvaziar ou reforçar aspectos da representação da realidade, movendo um sistema de símbolos capaz de balizar a visão de mundo dos agentes e, por conseguinte, suas tomadas de posição no cotidiano. Trata-se, portanto, de abordar e de interpretar sob o prisma da hierarquização de valores apresentada pelo autor, a partir do exercício de seu poder simbólico, em uma operação junto às estruturas estruturantes dispersas numa teoria da prática (Bourdieu, 2003cBourdieu, P. (2003c). O poder simbólico. Bertrand Brasil., 2013).

A particularidade da intervenção dos intelectuais católicos requer uma interpretação que contemple os elementos que lhes dão unidade e coesão, e uma identidade como grupo. De saída é preciso considerar o fato de a cosmovisão cristã ser ancorada num conjunto de princípios e de valores ligados à longa duração histórica, assim, trata-se de uma mentalidade que tende a responder mais lentamente às modificações da vida econômica, política e cultural. A isso pode-se nomear tradição. A rígida racionalidade edificada em sua filosofia perene, ou a narrativa construída no seio de sua mística, complementam-se e conformam um complexo lastro religioso, cultural e simbólico, no qual o intelectual católico é implicado. O agente católico formula suas intervenções cotidianas, no âmbito do debate público, contingenciado por esse arcabouço, posição que o distingue na estrutura do campo intelectual.

Ao se examinar o sentido assumido pelos elementos presentes no discurso de Alceu Amoroso Lima, verificam-se diferentes movimentos realizados pelo intelectual, a fim de mobilizar sua audiência e, posteriormente, seus leitores. De início, à maneira típica dos paraninfos, investiu na retomada emotiva e poética do significado da formação, do coleguismo e das vivências escolares da mocidade, exaltando sobretudo o papel das professoras na trajetória das alunas. A partir desse mote, recomendou às formandas que não perdessem o vínculo com a instituição, o que seria um “[...] triste fenômeno que tantas vezes se dá em nosso meio - o esquecimento do colégio em que estudamos, dos colegas com que estudamos e dos mestres que nos fizeram estudar” (Lima, 1935, p. 14). Tal momento da articulação de seu discurso, embora aparentemente banal, é chave, pois a partir dele desdobrará, de maneira lógica e sustentada em princípios da moralidade cristã, como a caridade, por exemplo, a necessidade de engajamento das moças nas diferentes instituições do laicato católico. Como primeiro passo, sugeriu:

Formai, se ainda não existe, uma associação de ex-alunas, que mantenham sempre o contato de gerações passadas com as gerações futuras. Fundai uma revista, por simples que seja, onde vos possais reunir sempre em espírito com aquelas que, formadas no mesmo ambiente, possuem em regra o mesmo espírito (Lima, 1935Lima, A. A. (1935). Um Discurso de Paraninfo. Vida: revista universitária, 2(10), 14-15., p. 14).

Verifica-se, no discurso de Amoroso Lima, a presença de uma ideia subjacente, qual seja, a de que o espírito gregário cultivado pelas moças, ao longo de sua formação, poderia ser um elemento de sustentação para que concebessem e implementassem ações sociais - nomeadamente, por meio da fundação de uma associação de ex-alunas. Com isso, o intelectual católico recomendava uma tomada de decisão que elevaria a capacidade daquele grupo de intervir no mundo social, possivelmente, de modo mais particular, sobre o campo educacional, a considerar a formação específica das jovens como professoras. A proposta de composição de um grupo de trabalho pode ser interpretada a partir do conceito de capital social, conforme concebido por Bourdieu (2007bBourdieu, P. (2007b). O capital social - notas provisórias. In M. A. Nogueira, & A. Catani (Org.), Escritos de educação (9ª. ed., pp. 65-69). Vozes.), como um conjunto de recursos atuais ou potenciais, lastreados no pertencimento a uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas. Nesses termos, o volume do capital social de um agente é atrelado ao seu espaço de circulação e ao modo como é capaz de coligir relações, em favor de seus objetivos.

Chama a atenção o fato de que, em imediata sequência, aquilo que havia sido apresentado como uma sugestão no discurso - a criação de uma associação - passou a ser descrito por Amoroso Lima como um dever ou, até mesmo, como um verdadeiro símbolo de passagem para as responsabilidades a serem assumidas, num horizonte que já se levantava, para uma jovem católica em vias de adentrar na fase adulta. “Será este, porventura, o vosso primeiro dever, ao transpor já moças este limiar em que ingressastes crianças” (Lima, 1935, p. 14). No caso das alunas do Colégio Sacré-Coeur de Marie, orientadas pelas recomendações de seu paraninfo, tratava-se de criar um espaço de sociabilidade capaz de reforçar e de ampliar suas possibilidades de intervenção. Nesse sentido, uma revista foi o meio de ação especificamente recomendado por Amoroso Lima, a fim de que as moças tivessem efetividade e alcance social em seus propósitos. A imprensa, mais decisivamente a periódica, era amplamente fomentada pela Ação Católica, efetivamente entendida como um apostolado do laicato militante. Romeu Dale (1985Dale, R. (1985). A Ação Católica Brasileira. Loyola.) afirma ter existido um franco empenho por parte dos católicos na cooptação e na formação de agentes para atuar junto à imprensa, a fim de trabalhar em variadas circunstâncias e diante de diferentes demandas, em favor das diretrizes encetadas pela hierarquia da Igreja.

Após apresentar a figura do dever às formandas, Amoroso Lima fez considerações visando atingir suas expectativas e sua imaginação, por meio da descrição do que poderia ser a vida das jovens, experimentando e exercitando a liberdade, ao deixarem os portões do colégio para trás. Segue o parágrafo em que o intelectual católico faz sua metafórica descrição:

Será o interregno cor-de-rosa, os anos em que tudo se resolve por bem e em que as próprias dores são passageiras e superficiais. Abrem-se as portas do colégio como se foram as de uma gaiola que se abrisse. E respirais avidamente o vento acre da liberdade. Em vossa frente nenhum obstáculo, nenhuma preocupação, a não ser a dos próprios mistérios da vida a desvendar, a do bando de esperanças que soltais nos campos claros que se estendem a perder de vista, à frente de vossos olhos (Lima, 1935Lima, A. A. (1935). Um Discurso de Paraninfo. Vida: revista universitária, 2(10), 14-15., p. 14).

O autor retratou um modelo de vida quase encantado, talvez característico da fantasia de moças da elite na capital da República, às quais a princípio se colocariam questões brandas, sem o ardor das demandas ligadas à rotina do mundo do trabalho. Estilo cuja estrutura da família deveria, como praxe, ser capaz de lhes assegurar, oportunizando uma existência praticamente diletante. Isso se pode derivar das representações elaboradas pelo autor, assim, não se afirma aqui que de fato essa modalidade de vida se concretizava, mas sim que de alguma maneira ela se apresentava ao imaginário das moças, com a devida aprovação/aceitação social, conforme é possível supor pela fala autorizada de um paraninfo, cujo capital simbólico é garantidor de valores.

Na sequência da estrutura do seu discurso, identifica-se um segundo movimento, a saber, o de criar entre as jovens, para além da dimensão do dever anunciado, também uma tensão, talvez quase um temor expectante. Elementos de coesão social costumam ser fortalecidos quando, diante de um grupo já constituído, apresenta-se um desafio ou um inimigo em comum. Assim, ao mesmo tempo que se desculpava por trazer esse aspecto de realidade para aquele momento de júbilo e de devaneios, indicava ser uma obrigação de consciência alertar para o mundo real que espreitava para além dos muros escolares, sob a forma de graves apreensões que sobre elas pesariam a partir daquele momento. Nesse contexto afirmou: “Não entrais na mocidade num momento qualquer. A época em que vivemos representa uma das horas mais difíceis da história da humanidade” (Lima, 1935Lima, A. A. (1935). Um Discurso de Paraninfo. Vida: revista universitária, 2(10), 14-15., p. 14).

Em sua avaliação, tal se daria em razão de ser inadiável uma “revolução espiritual”, como movimento capaz de salvar a juventude de uma “revolução social barbarizadora”. Embora não nomine nesse momento as características do que qualifica de movimento social bárbaro, pode-se presumir, a considerar as lutas da hierarquia no período, que se tratava dos valores laicistas, de caráter liberal ou comunista, que animavam grupos opositores aos católicos na esfera cultural e política de modo geral, com repercussão bastante importante no campo educacional. Essa interpretação é consistente com o ambiente político da década de 1930, no qual a Igreja criticava o liberalismo e condenava o comunismo, ao seguir sustentando a ideia de uma neocristandade como caminho para a renovação de todo o quadro social. Transformação que deveria ultrapassar os âmbitos político e econômico, ao proporcionar uma mudança moral e cultural junto à mentalidade moderna, inspirada pelos valores cristãos. Atuar junto ao campo educacional seria capital nesse sentido, notadamente a partir da liderança de uma elite intelectual, comprometida com a formação das consciências individuais em bases católicas.

Ao atingir a metade de seu texto, Alceu Amoroso Lima tornou o conteúdo de sua fala mais impactante. Após a tensão que pretendeu criar junto às representações mentais das formandas, o autor, num desdobramento de sua estratégia discursiva, apontou para uma direção específica a ser seguida, mesmo que a tenha encoberto sob a forma de um alerta obsequioso.

Estamos vivendo um momento de tal intensidade de vida, de tal ameaça a tudo o que temos de mais sagrado, que a inação ou a displicência são verdadeiras traições à nossa consciência, à nossa terra e à nossa Igreja.

Não tendes o direito de ser inúteis. Não tendes o direito de viver apenas para “gozar a vida”. Não tendes o direito de encher a vossa existência com esses afazeres inventados apenas para “passar o tempo” (Lima, 1935Lima, A. A. (1935). Um Discurso de Paraninfo. Vida: revista universitária, 2(10), 14-15., p. 15).

Ao exprimir-se sob a forma de um “não direito” à inutilidade, o intelectual católico deixava uma mensagem bastante contundente. Entra-se aqui na esfera do que não é admitido, bem como, já no momento seguinte do texto, na prescrição do que seria uma moça católica útil, comprometida com valores edificantes. Conforme lemos nas palavras de Amoroso Lima, a causa seria patriótica e também religiosa. Temporal e transcendental. Verificou-se uma intimação para não cederem aos atrativos de uma vida superficial, alicerçada na fruição estética e em afazeres sem propósitos sociais relevantes. Bourdieu (1996Bourdieu, P. (1996). A economia das trocas linguísticas: o que falar quer dizer. Edusp.) salienta que os ritos de instituição podem ser capazes de, por meio de seu poder simbólico, notificar a alguém sua identidade, expondo perante todos o que essa pessoa deve ser, como uma forma de conceber e de designar herdeiros.

O paraninfo dava, assim, uma clara direção às ouvintes, por meio da apresentação e defesa de um modelo de vida, potencialmente convertido em favor de ações junto a instituições do laicato. Sua direção intelectual fomentava em alguma medida modificações nas disposições do habitus das moças católicas, a fim de fazer frente às demandas que se apresentavam naquela circunstância, na busca pela revitalização da cristandade no país. A intervenção cultural e simbólica de Amoroso Lima nesse âmbito teria, sob certos aspectos, mesmo que com limitações, um sentido de modulação e de criação de disposições de percepção, de classificação e de apreciação do mundo social.

Na avaliação dessa operação intelectual, vale considerar o registrado por Serry (2004Serry, H. (2004). Literatura e catolicismo na França (1880-1914): contribuição de uma sociohistória da crença. Tempo Social, 16(1), 129-152. https://doi.org/10.1590/S0103-20702004000100008
https://doi.org/10.1590/S0103-2070200400...
), ao afirmar que o laicato opera num espaço de representação entre Ciência e Religião, como uma espécie de agente de sutura, capaz de interferir na conformação da atuação da Igreja no debate público. O discurso de Amoroso Lima foi relevante nesse sentido na medida em que dava visibilidade social e valorizava simbolicamente as atividades a serem impulsionadas com a iminente criação da Ação Católica Brasileira. Quadros para atuar junto à ACB certamente seriam cooptados em um público com o perfil para o qual Amoroso Lima falava, bem como junto aos que o leriam, posteriormente, no periódico católico Vida: revista universitária. Desse modo, seu discurso de paraninfo, mais do que apenas dirigido àquelas formandas em específico, registrava a valorização por parte da Igreja do trabalho dos setores leigos femininos, cuja presença no campo educacional era maciça.

Chama a atenção o fato de Alceu Amoroso Lima ter feito menção à classe social das alunas, de modo a deixar entrever, sem nominar explicitamente, uma crítica ao modo de vida e aos valores liberais subjacentes à burguesia. Nessa fala ele se incluiu como membro desse setor social, ao empregar a expressão “erros de nossos antepassados”, algo que de alguma maneira pode ter favorecido a empatia com as ouvintes.

Sois filhas de uma classe social, sobre a qual pesam as maiores responsabilidades nos males de que sofre o mundo moderno. Tendes, portanto, uma dívida sagrada a resgatar com aqueles que sofreram mais rudemente os erros dos nossos antepassados, que não soubemos ainda corrigir.

Não é possível que uma nova geração que está vendo as ruínas acumuladas pelos desvios das gerações passadas venha trilhar o mesmo caminho, repetir os mesmos erros (Lima, 1935Lima, A. A. (1935). Um Discurso de Paraninfo. Vida: revista universitária, 2(10), 14-15., p. 15).

Assim, demarcou uma referência para as formandas, confrontadas com certos aspectos da História a partir da avaliação por ele feita. Com isso, pareceu sugerir a existência de um compromisso e de uma responsabilidade que estariam para além da individualidade das alunas, efetivamente, algo como uma dívida a ser resgatada. Esse argumento se apresentava como proposição ética a ser observada pelas ouvintes, tratava-se de uma nova intervenção do intelectual no sentido de proceder modulações nas disposições estruturantes do habitus das moças católicas, em face do novo perfil feminino demandado para a militância em favor da Igreja. “Desejo apenas vos dizer que o maior dos erros a evitar, pela geração feminina deste terceiro decênio do século, na classe social a que pertenceis, é a vida ociosa e vazia, a vida sem uma dedicação humana e uma finalidade social superior” (Lima, 1935Lima, A. A. (1935). Um Discurso de Paraninfo. Vida: revista universitária, 2(10), 14-15., p. 15).

O paraninfo, ainda, afirmou que não gostaria de ser entendido como um moralista impenitente, mas sim como alguém que apelava contra o neopaganismo que, segundo ele, espraiava-se por todas as partes e se infiltrava nos lares, sob a forma da sede por fontes suspeitas esteadas no imediatismo e nos prazeres. Como antídoto, recomendava a adesão a valores fortes, notadamente os ancorados na cosmovisão cristã. Nesse sentido, prescreveu: “Procurai o meio de servir a alguma bela causa. Procurai o meio de ser úteis aos que sofrem. Procurai o meio de colaborar na defesa da civilização cristã em perigo” (Lima, 1935Lima, A. A. (1935). Um Discurso de Paraninfo. Vida: revista universitária, 2(10), 14-15., p. 15). A descrição e a orientação realizadas por Amoroso Lima nesse trecho podem ser lidas a partir do discutido por Bourdieu (2003aBourdieu, P. (2003a). Esboço de uma teoria da prática. In R. Ortiz (Org.), A sociologia de Pierre Bourdieu (1ª ed., pp. 39-72). Olho d´água.), ao considerar que um habitus se encontra pulverizado em diferentes circunstâncias, meios, práticas e instituições. Essa marca no cotidiano dos agentes seria efetiva a ponto de, muitas vezes, torná-los, por meio de suas práticas, difusores involuntários de valores e modos de vida.

Amoroso Lima exaltou também em seu discurso a crescente importância das mulheres entre os quadros católicos, visto a expansão de seus papéis e a progressiva relevância de suas ações, nas emergentes lutas travadas pela Igreja. Em acordo com Beozzo (2007Beozzo, J. O. (2007). A Igreja entre a revolução de 1930, o Estado Novo e a redemocratização. In B. Fausto (Org.), História Geral da Civilização Brasileira. O Brasil Republicano - Economia e cultura (1930-1964) (Vol. 11, T. 3, 4a. ed., pp. 337-421). Bertrand Brasil.), as mulheres desempenharam funções significativas na ACB, tomando parte em atividades variadas e liderando grupos específicos - como a Juventude Feminina Católica (JFC), por exemplo. A ideia de formar mulheres jovens para a militância católica passava pelo fomento e pela valorização de sua presença na esfera escolar, fossem como estudantes ou como professoras.

Desse processo, era corolário o engajamento em atividades sociais e políticas, em defesa dos valores cristãos na vida pública. A Ação Católica Brasileira era a instituição que, ao mesmo tempo, fomentava as atividades e colocava limites à atuação feminina. Lideranças masculinas conservadoras, muitas vezes, viam com desconfiança a participação de mulheres na instituição. A supervisão das atividades femininas por parte de líderes masculinos define bem a dimensão das barreiras que podiam ser colocadas às mulheres9 9 Desse quadro, Ana Paula Vosne Martins (2016) depreende que, mesmo em situações de subordinação, há possibilidades de adequações e tensionamentos de limites, num movimento criativo em que mulheres podem se fortalecer no seio de suas comunidades religiosas. O fato de existirem biografias profissionais femininas de sucesso no campo educacional, no período aqui debatido, sugere que fronteiras foram ultrapassadas, embora o plano discursivo mantivesse registros conservadores. Nesse sentido, a autora destaca que, num movimento de ampliação das discussões acerca da ACB, pode ser verificado que houve casos em que a militância feminina conquistou espaços, o que lhes possibilitou acesso a experiências novas, nos termos de uso da palavra, bem como de práticas de organização e de mobilização coletivas. . Verifica-se uma renovação, ou mesmo um progressismo, no discurso de Alceu Amoroso Lima acerca do papel social a ser desempenhado pelas mulheres, a considerar o modo como condenou a vida não engajada nas causas da Igreja:

Se fordes infiéis, porém, se sairdes daqui para viver apenas uma vida de moças embonecadas e inúteis, que vão gastar em joias e passeios o pão que falta à noite à mesa dos operários, - então tereis traído mais uma vez Aquele que nós crucificamos cada dia, com os nossos erros e as nossas faltas (Lima, 1935Lima, A. A. (1935). Um Discurso de Paraninfo. Vida: revista universitária, 2(10), 14-15., p. 15).

Ao encaminhar o fim de sua fala, Amoroso Lima ainda empreendeu um movimento de reconhecimento do papel desempenhado pelas mulheres ao longo da história cristã, apresentando-as como verdadeiras protetoras de seus valores fundamentais. Pareceu com isso querer despertar confiança de espírito nas formandas, no sentido de que tinham em si a força e as habilidades para desempenhar a missão social que vinha apresentando. “Já foram as vossas mães e as vossas avós em sua maioria, que salvaram em nossa terra o que nela flutuou de cristianismo e que os homens iam, aos poucos, abandonando” (Lima, 1935, p. 15). Para ele, a essa geração de moças, caberia atuar de modo objetivo no mundo social, em favor da superação de uma vida desespiritualizada. Entretanto, avaliava que essa intervenção trazia riscos, podendo ser um desastre ou uma salvação. Um desastre se as levasse ao esquecimento do lar, uma salvação se as afastasse de futilidades.

Nesse momento, nominou a instituição que coordenaria os esforços daquelas que tomassem parte na convocação apresentada: “A Ação Católica. Ela ali se encontra esperando o vosso concurso” (Lima, 1935Lima, A. A. (1935). Um Discurso de Paraninfo. Vida: revista universitária, 2(10), 14-15., p. 15). Assim, ao apresentar uma série de argumentos, de demandas, de motivações e, especialmente, ao indicar claramente o caminho a ser seguido, Alceu Amoroso Lima atuou como um intelectual da Ação Católica Brasileira, exaltando-a enquanto organização que operacionalizaria a difusão da Doutrina Social da Igreja, conforme preconizado pelo papa Pio XI.

Ao concluir seu discurso, Amoroso Lima expressou confiança nas formandas. “Confio em todas vós. E desde já vos espero nessa mesma milícia social que não aspira o poder nem se serve da violência, mas trabalha paciente e silenciosamente para dar à nossa terra mais alegria e mais pureza” (Lima, 1935. p. 15). Salta aos olhos o emprego de um termo ligado ao belicismo: milícia. Entretanto, segundo a avaliação do intelectual católico, o combate seria paciente e orientado pelos valores cristãos. Assim, concluiu sua fala mobilizando na representação mental das moças elementos ligados à guerra, contudo, uma “guerra amorosa”. Chama a atenção sua estratégia discursiva ao colocar em marcha ideias fortes de enfrentamento para, logo em seguida, suavizá-las com elementos da ternura pretensamente atribuída ao feminino. Com essa manobra simbólica, parece-nos que possa ter catalisado uma energia combativa nas ouvintes, sem fomentar núcleos de ansiedade.

Certamente Alceu Amoroso Lima operou com precisão por meio de seu discurso, o que pode ser inferido pelo modo como organizou a sequência de suas ideias, sob a forma de movimentos sugestivos estruturados, potencialmente capazes de impactar as disposições e as sensibilidades das formandas. Nesse sentido: 1) enalteceu a alegria da conquista; 2) apresentou os desafios e as experiências que se levantariam no horizonte; 3) expôs de forma alarmista um problema importante a ser inevitavelmente enfrentado; 4) convocou as jovens para essa luta; 5) indicou a necessidade da superação de um modelo de vida; 6) fomentou um sentimento de culpa individual e social que as mobilizasse; 7) exaltou as capacidades e fortaleceu a autoestima das formandas, como preparo para os embates a serem travados; 8) designou nominalmente a instituição na qual poderiam realizar o que lhes era recomendado.

O texto de Amoroso Lima cumpriu essa sequência discursiva, certamente como resultado de sua habilidade de escrita e familiaridade literária, empregadas em favor da defesa do catolicismo e com vistas a viabilizar quadros e meios de ação em diferentes campos do espaço social. Tudo apontava para a Ação Católica Brasileira como grande instituição articuladora. As variadas demandas do mundo temporal que se apresentavam aos intelectuais católicos precisavam ser respondidas com coesão, bem como lastreadas no sistema de valores que identificava a Igreja. Fora desse repertório simbólico, tais agentes podiam perder os traços que os distinguiam, convertendo-se em potenciais dissidentes, caso atuassem sob uma outra ordem de esquemas de percepção, de classificação e de ação.

Considerações finais

Ao se interpretar aspectos do discurso de Alceu Amoroso Lima, destaca-se que não se sugere que ele, maquiavelicamente, em conjunto com outros intelectuais católicos, tramou ardis com a finalidade exclusiva de amplificar o poder à disposição da Igreja. Entende-se que, ao tomar parte numa cosmovisão, particularmente de longa duração como a cristã, o agente passa a atuar de maneira difusa na Cultura - de modo mais, ou menos, deliberado e planejado - a fim de fortalecer uma perspectiva, uma visão de ser humano, a partir dos valores basilares que orientam suas práticas em diferentes circunstâncias. Daí a pertinência de se pensar a atuação dos agentes de modo relacional, a considerar tanto seu posicionamento num campo social, quanto seu habitus incorporado.

A liderança intelectual de Amoroso Lima foi concretizada por meio de sua produção teórica e de sua ação prática, tendo oferecido, marcadamente nos anos 1930, importante oposição às ideias laicistas no campo cultural, fossem de cariz liberal ou comunista. Verifica-se, em seu discurso às formandas, a presença de elementos renovadores, no qual o contato com aspectos do mundo temporal era entremeado por menções ao mundo espiritual, numa estratégica característica da neocristandade. A elite intelectual católica, de posse das armas da Modernidade, buscou reposicionar os conceitos religiosos no debate público, retomando-os em um nível de diálogo sofisticado, com o objetivo de fazer frente aos opositores e de sustentar os valores cristãos nos mais variados âmbitos sociais.

A cooptação de novos quadros para a ACB era fundamental para o fortalecimento dos católicos em seus enfrentamentos. As formandas eram potenciais agentes do campo educacional, tendo em vista existir a possibilidade de que assumissem posições no âmbito do ensino escolar, a partir da diplomação que conquistavam. Caso por conta de interdições familiares, ou matrimoniais, muito presentes na década de 1930, especialmente entre as filhas da elite, não assumissem as lides do magistério, ainda assim se tratava de quadros sociais bem instruídos, que poderiam contribuir com a ACB em âmbitos tradicionalmente atribuídos às mulheres. Tais como em ações de catequese, de caridade e de assistência, via de regra efetivadas em cooperação com clérigos. A considerar isso, tratava-se de um público de franco interesse aos católicos, visto o volume de seus capitais social e cultural, atributos valorosos para que a Igreja pudesse construir e implementar alternativas efetivas, diante dos desafios temporais ligados à modernização do país.

Respaldada pela hierarquia da Igreja, a ação intelectual de Amoroso Lima oferecia coordenadas e representações, conformando disposições de pensamento e de sensibilidade entre seu público. As proposições verificadas em “Um Discurso de Paraninfo” (1935) conclamavam as moças ao trabalho no âmbito social, a partir de suas qualificações no campo educacional, em detrimento de uma vida doméstica desinteressada. Apenas a fala de um agente autorizado, respeitado e incensado pela Igreja teria capital simbólico para uma recomendação tão impactante, numa solenidade ligada às esferas de consagração escolar das filhas da elite do Rio de Janeiro. Em seu apostolado intelectual, Alceu Amoroso Lima buscou modular as expectativas e impactar as disposições incorporadas pelos quadros leigos femininos, para predispô-los ou incliná-los, por meio das palavras e dos símbolos, a um habitus aprestado para a Ação Católica Brasileira.

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    » https://doi.org/10.1590/S0103-20702004000100008
  • Skalinski Junior, O. (2015). Alceu Amoroso Lima e a renovação da pedagogia católica no Brasil (1928-1945): uma proposta de espírito católico e corpo secular. CRV.
  • Souza, N. (2006). Ação Católica, militância leiga no Brasil: méritos e limites. Revista de Cultura Teológica, 14(55), 39-59. https://revistas.pucsp.br/index.php/culturateo/article/view/15033/11226
    » https://revistas.pucsp.br/index.php/culturateo/article/view/15033/11226
  • Rodadas de avaliação:

    R1: 3 convites; 1 parecer recebido.
    R2: 2 convites; 2 pareceres recebidos.
  • Financiamento:

    A RBHE conta com apoio da Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE) e do Programa Editorial (Chamada Nº 12/2022) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
  • 1
    A Carta encíclica Rerum Novarum (1891), de Leão XIII, ao abordar a condição da classe operária, foi um marco para a perspectiva de um catolicismo social, interessado em tratar de aspectos econômicos e políticos diante do capitalismo industrial (Souza, 2006Souza, N. (2006). Ação Católica, militância leiga no Brasil: méritos e limites. Revista de Cultura Teológica, 14(55), 39-59. https://revistas.pucsp.br/index.php/culturateo/article/view/15033/11226
    https://revistas.pucsp.br/index.php/cult...
    ).
  • 2
    O Motu proprio sobre a Ação Popular Católica (1903), de Pio X, exaltou o que se nominava pela tradição ação católica dos leigos, atribuindo à atividade louvor e mérito contemporâneo, em face das demandas que se levantavam para a Igreja junto à sociedade civil (Dale, 1985Dale, R. (1985). A Ação Católica Brasileira. Loyola.).
  • 3
    No Brasil a primeira fase da Ação Católica pode ser situada entre 1932 e 1950, no que se classificou como Ação Católica Geral, dividida em ramificações etárias (jovens e adultos) e de gênero (masculina e feminina). A segunda fase é compreendida entre 1950 e 1968, no que se denominou Ação Católica Especializada, apoiada num modelo pastoral focado nos jovens, exemplarmente: a Juventude Agrária Católica (JAC), a Juventude Estudantil Católica (JEC), a Juventude Independente Católica (JIC), a Juventude Operária Católica (JOC) e a Juventude Universitária Católica (JUC) (Souza, 2006Souza, N. (2006). Ação Católica, militância leiga no Brasil: méritos e limites. Revista de Cultura Teológica, 14(55), 39-59. https://revistas.pucsp.br/index.php/culturateo/article/view/15033/11226
    https://revistas.pucsp.br/index.php/cult...
    ).
  • 4
    A proximidade e a afinidade de Alceu Amoroso Lima com Leonel Franca, para além das questões institucionais da articulação entre o laicato e a hierarquia, consolidou-se em razão do jesuíta ter tido formação esmerada - no Brasil e na Europa - ao longo de sua formação como padre (Skalinski Junior, 2015Skalinski Junior, O. (2015). Alceu Amoroso Lima e a renovação da pedagogia católica no Brasil (1928-1945): uma proposta de espírito católico e corpo secular. CRV.). De acordo com Cândido Mendes (2008Mendes, C. (2008). Dr. Alceu: da ‘persona’ à pessoa. Paulinas.), ele havia sido preparado para ser, no país, uma: “[...] resposta cristã ao agnosticismo das exigências da modernização científica e das novas críticas lançadas à troca do pensamento por um credo” (p. 38).
  • 5
    Alceu Amoroso Lima ocupou a direção da revista A Ordem até 1964, e a presidência do Centro D. Vital até 1966.
  • 6
    Após concluir a Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais, no Rio de janeiro, em 1913, Amoroso Lima não demonstrou interesse em tomar parte na carreira pública. Sua falta de gosto pela prática jurídica e o desapontamento com um cargo no Itamaraty levaram-no a optar por uma posição na direção da empresa da família. Em 1919, publicou seu primeiro artigo como crítico literário, na capital federal, no diário O Jornal, sob o pseudônimo Tristão de Athayde - a fim de distinguir sua carreira de crítico de sua função de gestor de negócios (Carpeaux, 1978Carpeaux, O. M. (1978). Alceu Amoroso Lima. Graal.).
  • 7
    O periódico teve sua primeira edição em abril de 1934 e a última em dezembro de 1936, num total de 33 números. A revista era impressa sob a forma de folheto, tinha circulação mensal e propósito de alcance nacional. O fato de ser produzida no Rio de Janeiro - então Distrito Federal - acabava por retratar, sob uma imagem aparentemente local, questões cujo interesse atingia leitores também de outros centros.
  • 8
    Publicada no número 10 do ano II da revista, a transcrição ocupou duas páginas integrais, de um total de 16 do impresso.
  • 9
    Desse quadro, Ana Paula Vosne Martins (2016Martins, A. P. V. (2016). Disciplina e piedade: o movimento feminino católico brasileiro no começo do século XX. Revista Brasileira de História das Religiões, 9(26), 185-207. https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/RbhrAnpuh/article/view/31717/17711
    https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/...
    ) depreende que, mesmo em situações de subordinação, há possibilidades de adequações e tensionamentos de limites, num movimento criativo em que mulheres podem se fortalecer no seio de suas comunidades religiosas. O fato de existirem biografias profissionais femininas de sucesso no campo educacional, no período aqui debatido, sugere que fronteiras foram ultrapassadas, embora o plano discursivo mantivesse registros conservadores. Nesse sentido, a autora destaca que, num movimento de ampliação das discussões acerca da ACB, pode ser verificado que houve casos em que a militância feminina conquistou espaços, o que lhes possibilitou acesso a experiências novas, nos termos de uso da palavra, bem como de práticas de organização e de mobilização coletivas.

Editado por

Editor-associado responsável:

Raquel Discini de Campos (UFU) E-mail: raqueldiscini@uol.com.br https://orcid.org/0000-0001-5031-3054

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    02 Fev 2023
  • Aceito
    04 Jul 2023
  • Publicado
    01 Out 2023
Sociedade Brasileira de História da Educação Universidade Estadual de Maringá - Av. Colombo, 5790 - Zona 07 - Bloco 40, CEP: 87020-900, Maringá, PR, Brasil, Telefone: (44) 3011-4103 - Maringá - PR - Brazil
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