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Intergeracionalidade e promoção da saúde: reflexões e desafios na atenção à pessoa idosa

Resumo

Objetivo

Discutir sobre a promoção da saúde da pessoa idosa por meio da intergeracionalidade, com ênfase na educação intergeracional nos Programas Intergeracionais, como uma proposta de educação para o protagonismo da pessoa idosa e o envelhecimento bem-sucedido.

Método

Ensaio teórico, de cunho reflexivo com abordagem qualitativa. Embasando-se na leitura de documentos que reforçam o aumento da longevidade e a preocupação com a promoção da saúde para a pessoa idosa no Brasil, a fim de refletir sobre a intergeracionalidade na promoção da saúde e a utilização da educação intergeracional para promover o envelhecimento bem-sucedido, por meio dos Programas Intergeracionais.

Resultados

Organizaram-se em três tópicos: Promoção da saúde da pessoa idosa: desafios para o seu protagonismo; Compreensão sobre envelhecimento para a aprendizagem intergeracional; Programa intergeracional: protagonismo para a promoção da saúde da pessoa idosa.

Conclusão

Experiências exitosas na saúde, especificamente nos espaços ocupados pela Atenção Primária à Saúde ainda se mostram restritas ou pouco visualizadas para a construção de uma educação transformadora para a promoção da saúde da pessoa idosa. O desafio é fomentar pesquisas científicas, para que os profissionais, a partir da educação permanente, possam potencializar os momentos de educação em saúde a partir da educação intergeracional, sendo assim, a construção e implementação de Programas Intergeracionais podem representar essa possibilidade.

Palavras-Chave:
Envelhecimento; Pessoa Idosa; Relação entre gerações; Promoção da Saúde

Abstract

Objective

To discuss the promotion of health for older adults through intergenerationality, with an emphasis on intergenerational education within Intergenerational Programs, as a proposal for education fostering the protagonism of older adults and successful aging.

Method

Theoretical essay, reflective in nature with a qualitative approach. Grounded in the examination of documents emphasizing the increase in longevity and the concern for health promotion among older adults in Brazil, the aim is to contemplate intergenerationality in health promotion and the utilization of intergenerational education to foster successful aging through Intergenerational Programs.

Results

Organized into three topics: Health promotion for older adults: challenges for their protagonism; Understanding aging for intergenerational learning; Intergenerational program: protagonism for the health promotion of older adults.

Conclusion

Successful experiences in health, specifically within the realms of Primary Health Care, still appear to be limited or insufficiently recognized for the development of transformative education in health promotion for older adults. The challenge lies in fostering scientific research so that professionals, through continuous education, can enhance health education moments through intergenerational education. Thus, the establishment and implementation of Intergenerational Programs may represent this promising possibility.

Keywords
Aging; Older Adults; Intergenerational Relationships; Health Promotion

INTRODUÇÃO

Envelhecer é um processo sequencial, natural, individual, irreversível, universal, acumulativo, contínuo e não patológico de mudanças orgânicas, com progressiva perda das capacidades funcional e cognitiva, decorrentes da senescência e senilidade humana. A compreensão desse conceito é fundamental para que a população idosa seja ativa e reflexiva do papel na sociedade, possuidora de direitos e deveres, participando da tomada de decisões sobre o processo de saúde/doença, ou seja, de fato ser protagonista e emponderada para a promoção da saúde11 Castro APR. Promoção da Saúde, empoderamento e envelhecimento: visões dos profissionais da Estratégia Saúde da Família. In: Dias MAS, Forte FDS, Machado MFAS (org.) Promoção da Saúde: um tecido bricolado. Sobral: Edições UVA; 2015. p. 71-87..

Pensar a pessoa idosa para além do biológico é emergente apesar da predominância, ainda enraizada, da prática clínica, não só de profissionais médicos, que pode segregar a pessoa idosa do planejamento de seu cuidado. Aprender a pensar a partir dos ciclos de vida, sem restringir aos processos de adoecimento22 Nonato AAMPL. Envelhecimento bem-sucedido: desafios às políticas públicas em Manaus [Internet]. Emancipação. 2018 [Acesso 16 de julho de 2023] 18(2):325-335. Disponível em: https://revistas.uepg.br/index.php/emancipacao/article/view/8946/20920921038, é um desafio para os profissionais de saúde, e uma necessidade no contexto da Atenção Primária à Saúde pois reconhecer o espaço de voz e pensamento de pessoas idosas e a potencialidade da oralidade destas, na construção de conhecimentos para promoção da saúde, é necessário.

O envelhecimento bem-sucedido envolve a prevenção de agravos e doenças, por meio da identificação dos fatores de risco; manutenção da capacidade funcional e cognitiva, com avaliação muldimensional da pessoa idosa; e no envolvimento e participação desses indivíduos nas atividades sociais e comunitárias, para a discussão, elaboração, implementação e efetivação de políticas e programas que envolvam a promoção da saúde22 Nonato AAMPL. Envelhecimento bem-sucedido: desafios às políticas públicas em Manaus [Internet]. Emancipação. 2018 [Acesso 16 de julho de 2023] 18(2):325-335. Disponível em: https://revistas.uepg.br/index.php/emancipacao/article/view/8946/20920921038.

Portanto, é na perspectiva da Estratégia Saúde da Família (ESF) que os profissionais podem oferecer esse cuidado, embasados nos atributos essenciais da APS, sendo o primeiro contato para as questões de saúde, promovendo ações integradas, longitudinais e coordenadas33 Starfield B, Shi L, Macinko J. Contribution of primary care to health systems and health [Internet]. Milbank Q. 2005 [Acesso 16 de julho de 2023] 83(3):457-502. Disponível em: https://doi.org/ 10.1111/j.1468-0009.2005.00409.x
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,44 Pinto LF, Giovanella L. The family health strategy: expanding access and reducing hospitalizations due to ambulatory care sensitive conditions (ACSC) [Internet]. Ciênc Saúde Coletiva. 2018 [Acesso 16 de julho de 2023] 23(6):1903-1914. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-81232018236.05592018
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. Esses atributos podem ascender para o fortalecimento das relações intergeracionais, ampliando as possibilidades de apoio e cuidados que se entrelaçam nas gerações, com suas experiências e trocas afetivas, permeados pelo diálogo, respeito e informação que contribuem para atender as necessidades das pessoas idosas. Para isso, a intergeracionalidade pode ser uma iniciativa para o desenvolvimento de estratégias, programas, ações de saúde integradoras, humanizadas, embasadas e que envolvam o cuidado integral para as populações mais vulneráveis, ainda que ser uma pessoa idosa não signifique ser adoecida, com o avanço da idade cronológica a vulnerabilidade se faz presente associada às demandas sociais, físicas e psicológicas55 Cruz RR, Beltrame V, Dallacosta FM. Aging and vulnerability: an analysis of 1,062 elderly persons [Internet]. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2019 [Acesso 16 de julho de 2023] 22(3):e180212. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1981-22562019022.180212
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. Faz-se necessário, portanto, suscitar reflexões sobre a intergeracionalidade na valorização da saúde e do envelhecimento bem-sucedido ao longo de toda a vida, considerando o poder da educação intergeracional, no desenvolvimento de competências e espaços de diálogo e comunicação, por meio do compartilhamento de conhecimentos, habilidades e atitudes que valorizam e transformam as diferentes gerações. Assim, os Programas Intergeracionais (PI) podem ser compreendidos como uma interação intencional planejada entre diferentes grupos de pessoas de idades diferentes que proporcionam compartilhamento de conhecimentos, habilidades e sentimentos66 Cantinho MSD. Envelhecimento, Intergeracionalidade e Bem-estar: um estudo exploratório com um programa integeracional [dissertação]. Portugal: Instituto Politécnico de Viana do Castelo; 2018 [Acesso 16 de julho de 2023]. Disponível em: http://repositorio.ipvc.pt/handle/20.500.11960/2052. Sendo Implementados, inicialmente, a partir da iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), com ênfase na Europa, resultaram-se em espaços de trocas de aprendizagem entre diferentes gerações, tratando-se de estratégias fundamentadas para potencializar as políticas públicas sociais e de saúde para ao desenvolvimento do envelhecimento bem-sucedido44 Pinto LF, Giovanella L. The family health strategy: expanding access and reducing hospitalizations due to ambulatory care sensitive conditions (ACSC) [Internet]. Ciênc Saúde Coletiva. 2018 [Acesso 16 de julho de 2023] 23(6):1903-1914. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-81232018236.05592018
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,66 Cantinho MSD. Envelhecimento, Intergeracionalidade e Bem-estar: um estudo exploratório com um programa integeracional [dissertação]. Portugal: Instituto Politécnico de Viana do Castelo; 2018 [Acesso 16 de julho de 2023]. Disponível em: http://repositorio.ipvc.pt/handle/20.500.11960/2052.

Frente ao exposto, esse ensaio teórico-reflexivo objetivo discutir sobre a promoção da saúde da pessoa idosa por meio da intergeracionalidade, com ênfase na educação intergeracional nos Programas Intergeracionais, como proposta de educação para o protagonismo da pessoa idosa e o envelhecimento bem-sucedido.

MÉTODO

Trata-se de ensaio teórico, de cunho reflexivo com abordagem qualitativa. Embasam-se nas leituras da Política Nacional do Idoso (PNI), Política Nacional de Saúde do Idoso (PNSI), Estatuto da Pessoa Idosa e Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), documentos que reforçam o aumento da longevidade, a necessidade da garantia dos direitos sociais e a promoção de condições para a participação ativa da pessoa idosa na sociedade. Políticas essas que foram fortalecidas com a retomada da democracia, a partir da constituição cidadã de 1988 e criação do Sistema único de Saúde (SUS), com o compromisso atual de fortalecer a APS para o alcance das suas diretrizes, buscando a atenção integral, universal e equânime da saúde da pessoa idosa.

Em seguida, realizou-se uma busca nas bases de dados nacionais e internacionais, como Medical Literature Analysisand Retrieval System Online (MEDLINE), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), na Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), e pelo Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES. A pesquisa nessas bases foi realizada sem limitação temporal, utilizando descritores relacionados ao tema (Envelhecimento, Pessoa Idosa, Relação entre Gerações, Promoção da Saúde), interligados pelo booleano AND, no período de setembro a dezembro de 2021, a fim de embasar a reflexão e discussão sobre a promoção da saúde e envelhecimento bem-sucedido a partir da intergeracionalidade no contexto da APS.

O texto foi organizado em três tópicos: Promoção da saúde da pessoa idosa e os desafios para o seu protagonismo; Compreensão sobre envelhecimento para a aprendizagem intergeracional: estratégia para educação transformadora; Programa intergeracional: protagonismo para a promoção da saúde da pessoa idosa.

Dispensa-se a avaliação por Comitê de ética em Pesquisa, pois, trata-se de um estudo de natureza reflexivo-teórica, de acordo com as normas estabelecidas pela Resolução 510/201677 Brasil. Resolução nº 510, de 07 de abril de 2016. Dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais [Internet]. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 24 maio 2016 [Acesso 16 de julho de 2023]. Disponível em: http://bit.ly/2fmnKeD.

DISPONIBILIDADE DE DADOS

Todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foram disponibilizados nas referências.

Promoção da saúde da pessoa idosa e os desafios para o seu protagonismo

A definição de promoção da saúde, no qual esse ensaio se ancora, dar-se a partir de Ottawa, sendo entendida como “o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle desse processo (...)”88 Ministério da Saúde (BR). Projeto Promoção da Saúde. Promoção da Saúde: Declaração de Alma-Ata, Carta de Ottawa, Declaração de Adelaide, Declaração de Sundsvall, Declaração de Santafé de Bogotá, Declaração de Jacarta. Brasília: Ministério da Saúde; 2001.,1919 Luna WF, Melo JAB, Vaz CHM. Entre chegadas e partidas: conversas intergeracionais no Projeto de Extensão Saúde do idoso [Internet]. Saúde em Redes. 2019 [Acesso 16 de julho de 2023] 5(3):177-191. Disponível em: http://revista.redeunida.org.br/ojs/index.php/rede-unida/article/view/2429,2020 Piovezan M, Bessa TA, Borges FSPS, Prestes SM, Chubaci RYS. “Troca de cartas entre gerações”: projeto gerontológico intergeracional realizado em uma ILPI de São Paulo [Internet]. Rev Kairós-Gerontologia. 2015 [Acesso 16 de julho de 2023] 18(3):137-153. Disponível em: https://doi.org/10.23925/2176-901X.2015v18i3p137-153
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. A partir dessa definição teórica, é importante compreender e refletir sobre o almejado protagonismo das pessoas e a necessidade de que sejam “empoderadas”, sendo necessário que as mesmas desenvolvam conjuntamente a habilidade e o poder de atuar em benefício da própria qualidade de vida, enquanto sujeitos ativos, individuais e/ou coletivos, para o desenvolvimento das ideias promotoras de saúde do mundo99 Araújo MFM, Almeida MI, Nóbrega-Therrien, SM. Educação em Saúde: Reflexões para a Promoção da Vigilância à Saúde. In: Rouquayrol MZ, Gurgel M, orgnizadores. 7.ed. Rio de Janeiro: MedBook; 2013. p. 633-651..

Algumas reflexões emergem a partir disso, pois, como o Brasil vem avançando para garantir ou mesmo proporcionar o protagonismo da população idosa e das futuras gerações? Será que as políticas que documentam o arcabouço jurídico operacional para instrumentalizar as estratégias de promoção da saúde, enfatizando a APS garantem esse protagonismo? Ou, ao contrário, ainda se sustentam em programas verticalizados, sem efetivação da linha de cuidado à saúde da pessoa idosa, protagonizando o atendimento às condições crônicas e dos problemas relacionados à senilidade?

A história política para a saúde da pessoa idosa se inicia com a (PNI) (1994) alcançada em meio ao cenário da retomada da democracia brasileira, com a constituição cidadã, a fecundação do SUS, com Programa Saúde da Família se fortalecendo e a APS, com todos os seus princípios, sendo protagonista nos territórios. Assim, em meio aos desafios, finalmente, o envelhecimento começa a ser pauta no Brasil. Desta forma, a construção da história teórica jurídica e metodológica que aponta as necessidades e possibilidades de promover o protagonismo da pessoa idosa, consolidada em 2006, com a Política Nacional da Pessoa Idosa (PNPI), reafirma o compromisso da gestão na ampliação e qualificação das ações de promoção da saúde1010 Brasil. Lei Nº 8. 842 de 4 de janeiro de 1994 [Internet]. Dispõe sobre a Política Nacional do idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências [Acesso 16 de julho de 2023]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8842.htm,1111 Brasil. Ministério da Saúde. Portaria Nº 2.528 de 19 de outubro de 2006. Aprova a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2006 [Acesso 16 de julho de 2023]. Disponível em: https://www.gov.br/mds/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/antigos/portaria-ms-no-2-528-de-19-de-outubro-de-2006.

Ao considerar diretrizes da PNPI (2006), o protagonismo da pessoa idosa pode ser construído ao longo dos ciclos de vida, a partir do entendimento de que devem perpassar não somente na idade cronológica de 60 anos e mais, como rege o Estatuto da Pessoa Idosa, destacando-se o item 3.1 que traz a importância de valorizar e respeitar “a velhice” e a necessidade de estimular a solidariedade para esse grupo etário1111 Brasil. Ministério da Saúde. Portaria Nº 2.528 de 19 de outubro de 2006. Aprova a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2006 [Acesso 16 de julho de 2023]. Disponível em: https://www.gov.br/mds/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/antigos/portaria-ms-no-2-528-de-19-de-outubro-de-2006.

A promoção da saúde, acompanhada da concepção de que o sujeito deve ser emponderado, motiva a pensar na participação ativa nas decisões sobre a própria saúde e território, contudo, a reflexão sobre essa concepção é acerca do como estamos permitindo que a pessoa idosa se empondere. O “sujeito emponderado” existe com a participação comunitária e no processo de planejamento e execução das ações de saúde.

Neste contexto, se faz necessário que a pessoa idosa seja esse “sujeito emponderado”, coparticipe na sociedade para a promoção da saúde, fortalecido pela coletividade, que envolve várias gerações. Para isso, é preciso que a voz e o pensamento das pessoas idosas, conscientes do seu lugar na sociedade, ecoem nas ações intersetoriais, no controle social e nos demais espaços de discussão sobre o processo saúde/doença e determinantes sociais relacionados ao envelhecimento populacional.

Evidencia-se, então, a necessidade de incluir a pessoa idosa no processo de discussão da implementação das políticas que favoreçam a promoção da saúde, pois o reconhecimento da potencialidade desse grupo na participação ativa na sociedade e capacidade de transformar a própria realidade constituem premissas para o alcance da construção de políticas efetivas para promover a saúde desses indivíduos1212 Castro APR, Vidal ECF, Saraiva ARB, Arnaldo SM, Borges AMM, Almeida MI. Promoting health among the elderly: actions in primary health care [Internet]. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2018 [Acesso 16 de julho de 2023] 21(2):158-167. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbgg/a/tgCYh3yNmnhVk7j6864xrTH/.

Reforçando a reflexão, a percepção da pessoa de 60 anos e mais, apenas como portadora de doenças crônicas e incapacidades pela senilidade pode sobressaltear as ações curativas e de recuperação da saúde e de promoção e prevenção. O imaginário da pessoa idosa, associado à dependência do cuidado multi e interprofissional, pode resultar em atitudes que ressaltem a medicalização e outras medidas estritamente voltadas ao processo do adoecimento. Protagonizar a voz e o pensamento da pessoa idosa para a promoção da saúde é preciso¹.

Os desafios para o protagonismo da pessoa idosa para consolidar estratégias exitosas de promoção da saúde, ainda estão na lacuna dos processos de cuidado a esses indivíduos pois, mesmo com experiências exitosas a partir da ESF, a visão centrada na doença parece persistir. O cuidado centrado nas consultas ambulatoriais por “livre demanda”, visitas domiciliares restritas ao tratamento das doenças crônicas e consultas para o acompanhamento da Hipertensão e Diabetes, reforçado pelo financiamento da APS brasileira, enraíza as práticas curativas1212 Castro APR, Vidal ECF, Saraiva ARB, Arnaldo SM, Borges AMM, Almeida MI. Promoting health among the elderly: actions in primary health care [Internet]. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2018 [Acesso 16 de julho de 2023] 21(2):158-167. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbgg/a/tgCYh3yNmnhVk7j6864xrTH/.

Necessárias são as ações, as estratégias, os programas que promovam a saúde para o envelhecimento bem-sucedido, mas, sobretudo, que sejam protagonizadas pelas vozes, pensamentos, ideias das pessoas idosas atendidas no território vivo da APS, sejam nos grupos de educação e saúde, nas rodas de conversa, nas salas de espera, nos diferentes espaços da comunidade.

O protagonismo da pessoa idosa será possível quando os profissionais permitirem a ocupação do pensamento e voz dessa população nos espaços para a promoção da saúde. Em sendo assim, urge a necessidade de compreender a pessoa idosa, trabalhando competências e habilidades, colocando-as em práticas e construindo espaços que permitam a sua atuação protagonista e proativa assumindo uma voz para potencializá-la pessoalmente e socialmente.

Compreensão sobre envelhecimento para aprendizagem intergeracional: estratégia para educação transformadora

O envelhecimento está pautado para além do conceito, visto que, nesse ensaio, os autores já expuseram qual o conceito que os embasam. Nessa perspectiva, torna-se necessário refletir sobre o discurso do envelhecimento ativo proposto pela Organização Mundial da Saúde e União Europeia, os quais propõem que a manutenção da atividade física, alimentação saudável, dentre outras atitudes individuais, resultam em maior longevidade e manutenção da saúde1313 Ferreira FI. A educação intergeracional face ao discurso político do envelhecimento ativo [Internet]. EccoS Rev Cient. 2021 [Acesso 16 de julho de 2023] 56:e12820. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/eccos/article/view/12820/8811.

Contudo, a mudança deve ser coletiva, e não a partir de uma responsabilidade individual. Assim, é oportuna a reflexão sobre a responsabilidade para o alcance do envelhecimento bem-sucedido, pois envolve a prevenção de agravos, diagnóstico precoce de condições crônicas que possam afetar a funcionalidade e cognição, além de se manter ativa na vida social e comunitária. A promoção da saúde para o envelhecimento bem-sucedido envolve as estruturas organizacionais da sociedade, da economia, dos serviços de saúde e dos respectivos níveis de assistência, não se resumindo ao indivíduo que não soube se manter saudável11 Castro APR. Promoção da Saúde, empoderamento e envelhecimento: visões dos profissionais da Estratégia Saúde da Família. In: Dias MAS, Forte FDS, Machado MFAS (org.) Promoção da Saúde: um tecido bricolado. Sobral: Edições UVA; 2015. p. 71-87.,1313 Ferreira FI. A educação intergeracional face ao discurso político do envelhecimento ativo [Internet]. EccoS Rev Cient. 2021 [Acesso 16 de julho de 2023] 56:e12820. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/eccos/article/view/12820/8811.

A partir dessas considerações, a reflexão sobre a aprendizagem intergeracional necessita de olhar crítico sobre o envelhecimento, longe de impor radicalização no pensamento que há tempos foi alimentado e fortaleceu os estigmas às pessoas idosas e a lacuna nos processos formativos, na área da saúde. Pensamento que coloca a promoção da saúde restrita à qualidade de vida, ao alcance individual e resultado de esforços sem interferência dos determinantes sociais.

É preciso pensar no protagonismo da pessoa idosa a partir das relações intergeracionais, por meio de estratégias que fortaleçam a solidariedade intergeracional, mas, com a voz e o pensamento das pessoas idosas, as quais precisam ser ouvidas e respeitadas para o empoderamento coletivo.

Na APS, especificamente na ESF, as relações intergeracionais podem ser trabalhadas com a educação intergeracional para a promoção da saúde. A exemplo de uma experiência de uma oficina com adolescentes sobre a prevenção da gravidez na perspectiva da educação intergeracional, que resultou em uma roda de conversa com pais, avós e adolescentes, em um município do interior cearense, como atividade do Programa Saúde na escola (PSE). Desmistificando tabus e estimulando a reflexão sobre a importância da intergeracionalidade para a compreensão da gravidez na fase da adolescência, na perspectiva do afeto, diálogo e confiança entre as gerações para a intergeracionalidade e prevenção da saúde1414 Castro APR de, Morais APP. Intergeracionalidade e prevenção da gravidez na adolescência: um relato de experiência no programa saúde na escola. in- Envelhecimento populacional: saúde, doenças, cuidados e serviços / organizadores, Manoel Freire de Oliveira Neto, et al. [...]. - Campina Grande: Realize Editora, 2022..

A relevância dessa experiência está no fato de que a temática intergeracionalidade não faz parte do conteúdo do PSE, contudo, as autoras supracitadas consideraram que esta pode ser trabalhada de forma transversal e interdisciplinar. Essa estratégia pode trazer benefícios para a compreensão de temáticas que necessitam de diálogos entre as gerações, entendendo assim a importância das pessoas idosas para as famílias e consolidando a solidariedade intergeracional.

A educação intergeracional aprimora as possibilidades de envelhecimento ativo dos indivíduos e populações, a partir da oferta da oportunidade de participação na sociedade, de aumento de conhecimentos, habilidades e competências nos quatro pilares estruturantes da educação ao longo da vida, pois ensina a viver juntos, a conhecer, a fazer e a ser1313 Ferreira FI. A educação intergeracional face ao discurso político do envelhecimento ativo [Internet]. EccoS Rev Cient. 2021 [Acesso 16 de julho de 2023] 56:e12820. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/eccos/article/view/12820/8811.

Essa deve ser entendida como medida que reforça as relações sociais e intergeracionais. Por meio de trocas de conhecimento, informações, pensamentos, ideias, sentimentos, experiências, habilidades, atitudes, dentre outros, a educação intergeracional contribui para transformação do indivíduo e, nessa cooperação e participação das diferentes gerações, pode ocorrer a transformação da sociedade1313 Ferreira FI. A educação intergeracional face ao discurso político do envelhecimento ativo [Internet]. EccoS Rev Cient. 2021 [Acesso 16 de julho de 2023] 56:e12820. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/eccos/article/view/12820/8811.

A intergeracionalidade é a criação e promoção de oportunidades que alicercem a construção das relações intergeracionais e promove a educação intergeracional, para além dos espaços institucionais de educação, fomentando, assim, a solidariedade, interdependência, reciprocidade, partilha de conhecimentos e a transformação entre indivíduos, contribuindo juntos para construção de um modelo de sociedade mais justo e solidário¹³.

Assim, as relações intergeracionais são indissociáveis às dimensões sociais, econômica, política, cultural, sendo a dimensão educativa a fundamental. A intergeracionalidade não está restrita a atividades pontuais, nem se resume ao contato entre gerações, pois educar e aprender no contexto intergeracional se fundamenta no arcabouço teórico e metodológico de uma educação transformadora, como na Pedagogia Crítica de Paulo Freire, deste modo, a aprendizagem significativa pode ser alcançada para além dos espaços institucionais, como escolas/universidades1515 Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43. ed. São Paulo: Paz e Terra; 2011..

É na Pedagogia Crítica proposta por Paulo Freire, que a educação intergeracional pode ancorar-se, contribuindo para a desescolarização da educação e a desinstitucionalização das pessoas idosas e também de crianças e jovens, promovendo a cidadania intergeracional e contribuindo por meio da experiência participativa e convivial, para um novo espaço público da educação. Assim, o ensinar exige respeito à autonomia nos ensinamentos freirianos, ancora a educação entre as gerações, unindo as diferentes pessoas que se somam e aprendem juntas, sendo influenciadas pela cultura, pela história, ou quaisquer influências do tempo cronológico, permitindo reconstruir conceitos, informações, pensamentos sobre a promoção da saúde individual e coletiva na perspectiva intergeracional1616 Nóvoa A. O espaço público da educação: Imagens, narrativas e dilemas. In: Nóvoa A, diretor. Espaços de Educação, Tempos de Formação. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian; 2002. p. 237-263..

Assim, constitui desafio proporcionar estratégias para educação intergeracional nos espaços de saúde, enfatizando a APS, além de construir diálogo intergeracional que proporcione estratégia para o empoderamento individual e coletivo de pessoas idosas, a partir da participação ativa nos processos de construção e reconstrução do saber.

Programa Intergeracionalprotagonismo para a promoção da saúde da pessoa idosa.

A partir das reflexões anteriormente apresentadas, quais as possibilidades de se construir espaços intergeracionais para produção de diálogos, pensamento, ideias, ou mesmo desconstrução de preconceitos e estigmas que favoreçam o protagonismo da pessoa idosa, especificamente na APS.

Inicia-se esse tópico com um questionamento, por se reconhecer a complexidade de construção de espaços dialógicos, principalmente, quando envolvem diferentes gerações e o contexto pandêmico ou pós-pandêmico. Contudo, é um desafio necessário e instigante, complexo, mas factível, para pensar e repensar a promoção da saúde para o envelhecimento bem-sucedido.

Ao se refletir sobre o envelhecimento bem-sucedido, ancora-se em três pontos, o primeiro sendo fundamental a educação em saúde para orientação do estilo de vida e identificação dos fatores de risco como obesidade, tabagismo, sedentarismo, ao longo dos anos vividos. A ausência de doenças não é primazia, assim, o segundo ponto é a manutenção da capacidade funcional e cognitiva, por meio da avaliação multidimensional, por exemplo. E, o terceiro ponto, é a participação ativa e efetiva das pessoas idosas na sociedade, com o fortalecimento das redes de apoio, para atender as suas necessidades para além da doença. Sendo esse último, condição primordial para se pensar na promoção da saúde da pessoa idosa22 Nonato AAMPL. Envelhecimento bem-sucedido: desafios às políticas públicas em Manaus [Internet]. Emancipação. 2018 [Acesso 16 de julho de 2023] 18(2):325-335. Disponível em: https://revistas.uepg.br/index.php/emancipacao/article/view/8946/20920921038.

Assim, para a elaboração de um Programa Intergeracional (PI), as relações intergeracionais são o alicerce para construção, que podem ser entendidas como interações entre pessoas de diferentes gerações, ou seja, de distintas fases da vida, de contextos históricos, sociais e culturais distintos, que possam trocar experiências e conteúdo, de modo a contribuir para o crescimento e o desenvolvimento mútuo dos envolvidos. As gerações que interagem são beneficiadas a partir do momento em que a percepção sobre a necessidade da interação, troca de singularidades no modo de ser, sentir, pensar e querer de cada um é sentida por meio dos encontros intergeracionais. Encontros concretizados pelas relações intergeracionais que se estabelecem, cujo principal objetivo é o compartilhamento de saberes, estreitamento das relações entre pessoa mais jovens e envelhecidas, além de incluir a pessoa idosa no processo ensino-aprendizagem, quando a educação intergeracional ocorre nos espaços formais de educação1717 Ferreira ISVBS. Educação Intergeracional como Estratégia de Promoção do Envelhecimento Ativo: análise da necessidade de uma comunidade local enquanto via fundamentadora de projetos relevantes e sustentáveis [tese]. Portugal: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra [Internet]; 2017 [Acesso 16 de julho de 2023]. Disponível em: https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/43108.

Dessa forma, os PI objetivam construir ligação entre essas gerações, de modo a interagir e resultar em uma “solidariedade intergeracional” que resulta na melhoria da qualidade de vida de jovens e idosos, fazendo com que os que participam dessa troca geracional, vivenciem aspectos positivos nesses novos contatos, e sintam-se mais seguros em relação a si e ao mundo, suportando melhor as adversidades, o estresse e as doenças1818 Aguiar VFF, Soares TB, Anjos AFS, Paz JVC, Amorim JA, Torres MCS, Sousa JB et al. A intergeracionalidade entre idosos e adolescentes na busca da desconstrução de estereótipos na velhice: relato de experiência [Internet]. REAS/EJCH. 2019 [Acesso 16 de julho de 2023] (23):e413. Disponível em: https://acervomais.com.br/index.php/saude/article/view/413/412.

Dentre os benefícios dos PI, citam-se as discussões sobre o ageismo e a superação dos estigmas em relação ao envelhecimento, favorecendo, assim, o resgate da autoestima da população idosa e o fortalecimento dos vínculos geracionais. Partilhar conhecimentos, em forma de narrativas e com afeto entre gerações pode fortalecer a socialização, contribuindo para minimizar a marginalização da pessoa idosa na sociedade, como também levar aos mais jovens, crianças e adolescentes a compreensão do processo de envelhecer com olhar diferenciado, rompendo preconceitos e estigmas que ainda persistem na nossa sociedade1717 Ferreira ISVBS. Educação Intergeracional como Estratégia de Promoção do Envelhecimento Ativo: análise da necessidade de uma comunidade local enquanto via fundamentadora de projetos relevantes e sustentáveis [tese]. Portugal: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra [Internet]; 2017 [Acesso 16 de julho de 2023]. Disponível em: https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/43108

18 Aguiar VFF, Soares TB, Anjos AFS, Paz JVC, Amorim JA, Torres MCS, Sousa JB et al. A intergeracionalidade entre idosos e adolescentes na busca da desconstrução de estereótipos na velhice: relato de experiência [Internet]. REAS/EJCH. 2019 [Acesso 16 de julho de 2023] (23):e413. Disponível em: https://acervomais.com.br/index.php/saude/article/view/413/412
-1919 Luna WF, Melo JAB, Vaz CHM. Entre chegadas e partidas: conversas intergeracionais no Projeto de Extensão Saúde do idoso [Internet]. Saúde em Redes. 2019 [Acesso 16 de julho de 2023] 5(3):177-191. Disponível em: http://revista.redeunida.org.br/ojs/index.php/rede-unida/article/view/2429.

A partir de revisão teórica, encontraram-se alguns estudos que refletem a importância de encontros e metodologias que trabalham a intergeracionalidade1717 Ferreira ISVBS. Educação Intergeracional como Estratégia de Promoção do Envelhecimento Ativo: análise da necessidade de uma comunidade local enquanto via fundamentadora de projetos relevantes e sustentáveis [tese]. Portugal: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra [Internet]; 2017 [Acesso 16 de julho de 2023]. Disponível em: https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/43108,2020 Piovezan M, Bessa TA, Borges FSPS, Prestes SM, Chubaci RYS. “Troca de cartas entre gerações”: projeto gerontológico intergeracional realizado em uma ILPI de São Paulo [Internet]. Rev Kairós-Gerontologia. 2015 [Acesso 16 de julho de 2023] 18(3):137-153. Disponível em: https://doi.org/10.23925/2176-901X.2015v18i3p137-153
https://doi.org/10.23925/2176-901X.2015v...
,2121 Nishida W, Kupek E, Zanelatto C, Bastos JL. Mobilidade educacional intergeracional, discriminação e hipertensão arterial em adultos do Sul do Brasil [Internet]. Cad Saúde Pública. 2020 [Acesso 16 de julho de 2023] 36(5):e00026419. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/tXpDjJt7Dz4dBrCzgPZPdBj/, contudo, o registro de PI como metodologia de encontro para as discussões e ações de promoção da saúde, de forma contínua, ainda, é escasso na área da saúde1515 Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43. ed. São Paulo: Paz e Terra; 2011.

16 Nóvoa A. O espaço público da educação: Imagens, narrativas e dilemas. In: Nóvoa A, diretor. Espaços de Educação, Tempos de Formação. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian; 2002. p. 237-263.

17 Ferreira ISVBS. Educação Intergeracional como Estratégia de Promoção do Envelhecimento Ativo: análise da necessidade de uma comunidade local enquanto via fundamentadora de projetos relevantes e sustentáveis [tese]. Portugal: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra [Internet]; 2017 [Acesso 16 de julho de 2023]. Disponível em: https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/43108

18 Aguiar VFF, Soares TB, Anjos AFS, Paz JVC, Amorim JA, Torres MCS, Sousa JB et al. A intergeracionalidade entre idosos e adolescentes na busca da desconstrução de estereótipos na velhice: relato de experiência [Internet]. REAS/EJCH. 2019 [Acesso 16 de julho de 2023] (23):e413. Disponível em: https://acervomais.com.br/index.php/saude/article/view/413/412

19 Luna WF, Melo JAB, Vaz CHM. Entre chegadas e partidas: conversas intergeracionais no Projeto de Extensão Saúde do idoso [Internet]. Saúde em Redes. 2019 [Acesso 16 de julho de 2023] 5(3):177-191. Disponível em: http://revista.redeunida.org.br/ojs/index.php/rede-unida/article/view/2429

20 Piovezan M, Bessa TA, Borges FSPS, Prestes SM, Chubaci RYS. “Troca de cartas entre gerações”: projeto gerontológico intergeracional realizado em uma ILPI de São Paulo [Internet]. Rev Kairós-Gerontologia. 2015 [Acesso 16 de julho de 2023] 18(3):137-153. Disponível em: https://doi.org/10.23925/2176-901X.2015v18i3p137-153
https://doi.org/10.23925/2176-901X.2015v...

21 Nishida W, Kupek E, Zanelatto C, Bastos JL. Mobilidade educacional intergeracional, discriminação e hipertensão arterial em adultos do Sul do Brasil [Internet]. Cad Saúde Pública. 2020 [Acesso 16 de julho de 2023] 36(5):e00026419. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/tXpDjJt7Dz4dBrCzgPZPdBj/
-2222 Comodo CN, Prette AD, Prette ZAPD. Intergeracionalidade das Habilidades Sociais entre Pais e Filhos Adolescentes [Internet]. Psic.: Teor. e Pesq. 2017 [Acesso 16 de julho de 2023] 33:e33311. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ptp/a/yDv6LMPGbfWQnTrQkzY74Sn/abstract/?lang=pt.

Enfatiza-se, pois, que, na construção do cuidado, os espaços de diálogo para promoção da saúde possibilitam caminho para a comunidade. O saber acadêmico soma forças e possibilita a desconstrução e reconstrução de saberes, quiçá mudanças de posturas estigmatizadas entre as gerações de forma positiva e transformadora2222 Comodo CN, Prette AD, Prette ZAPD. Intergeracionalidade das Habilidades Sociais entre Pais e Filhos Adolescentes [Internet]. Psic.: Teor. e Pesq. 2017 [Acesso 16 de julho de 2023] 33:e33311. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ptp/a/yDv6LMPGbfWQnTrQkzY74Sn/abstract/?lang=pt,2323 Krug RR, Ono LM, Figueiró TH, Xavier AJ, d'Orsi E. Programa intergeracional de estimulação cognitiva: Benefícios relatados por idosos e monitores participantes [Internet]. Psic.: Teor. e Pesq. 2019 [Acesso 16 de julho de 2023] 35:e3536. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ptp/a/bWjHcbtbZDFx9B6fWnKmrWJ/?lang=pt.

O desenvolvimento de um PI na APS, especificamente na ESF, é inovador para experienciar iniciativas que buscam, a partir da metodologia de encontros, a escuta qualificada, o acolhimento, a oralidade, a humanização e a aprendizagem significativa, não somente a prevenção da saúde, mas a educação para a saúde. Por meio de temas transversais, elencados pelo grupo do PI, os participantes são atores para construção e reconstrução de concepções sobre os ciclos de vida e a importância dos diversos saberes para melhoria da qualidade de vida.

CONCLUSÃO

A educação intergeracional, mesmo vislumbrada ainda de forma tímida, está presente nos espaços institucionalizados da educação formal, seja nas escolas e/ou universidades. Contudo, experiências exitosas na saúde, especificamente nos espaços ocupados pela APS, ainda se mostram restritas ou pouco visualizadas para a construção de uma educação transformadora para a promoção da saúde da pessoa idosa.

O desafio é fomentar pesquisas científicas, para que os profissionais, a partir da educação permanente, possam potencializar os momentos de educação em saúde a partir da educação intergeracional, sendo assim, a construção e implementação de Programas Intergeracionais podem representar possibilidade.

  • Não houve financiamento para a execução deste trabalho.
  • DISPONIBILIDADE DE DADOS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Mar 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    11 Abr 2023
  • Aceito
    08 Jan 2024
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