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Equilíbrio postural e fatores associados ao risco de quedas em idosos com diabetes mellitus tipo 2

Resumo

Objetivo

Identificar os fatores clínico-funcionais associados ao risco de quedas, avaliado pelo Mini-BESTest, em idosos com diabetes mellitus tipo 2 (DM2).

Método

Trata-se de um estudo transversal. Um total de 145 idosos com idade =60 anos foram avaliados por meio das variáveis sociodemográficas (sexo, faixa etária, estado civil, nível de educação e percepção geral da saúde, audição e visão) Mini-BESTest, Mini-Mental State Examination (MMSE), Escala de Depressão Geriátrica (GDS-15) e o teste Timed Up and Go (TUG) (dupla tarefa). Foi utilizado um modelo de regressão logística múltipla.

Resultados

O domínio de orientação sensorial apresentou a pontuação média mais elevada, seguido pelos domínios estabilidade na marcha, ajustes posturais antecipatórios e respostas posturais. Os fatores associados ao risco de quedas em idosos foram: percepção visual ruim/muito ruim OR 3.40 (1,50-7,72); presença de doenças respiratórias OR 8.00 (1,32-48,46); sensação de tontura OR 2.53 (1,10-5,80); e tempo do teste Timed Up and Go (TUG) (dupla tarefa) igual ou superior a 13,5 segundos OR 3.31 (1,03-10,64).

Conclusão

Os idosos deste estudo apresentaram um equilíbrio postural comprometido, principalmente no domínio das respostas posturais. O conhecimento dos fatores associados ao risco de quedas em idosos com DM2 permite uma orientação mais eficaz na avaliação, prevenção e intervenção, visando minimizar a ocorrência de quedas e preservar ou otimizar o equilíbrio postural. Diversos fatores influenciaram esse resultado, tais como sobrepeso, baixa atividade física e nível educacional, várias comorbidades, polifarmácia, diagnóstico de DM2 por mais de dez anos, percepção negativa da saúde geral e da visão, e sintomas depressivos.

Palavras-Chave:
Idoso; Quedas Acidentais; Equilíbrio Postural; Diabetes Mellitus; Avaliação em Saúde

Abstract

Objective

Identify clinical-functional factors associated to the risk of falls, assessed by Mini-BESTest in older adults with type 2 diabetes mellitus (T2DM).

Method

This cross-sectional study. A total of 145 older adults aged ≥60 years were evaluated through sociodemographic variables (sex, age group, married, education level, general health status hearing and vision), Mini-BESTest, Mini-Mental State Examination (MMSE), Geriatric Depression Scale (GDS-15) and dual-task Timed Up and Go Test (TUG) Multiple logistic regression model was used.

Results

The sensory orientation domain presented the highest average score, followed by the gait stability, anticipatory postural adjustments and postural responses domains. Factors associated to the risk of falls in older adults are: poor/very poor visual perception OR 3.40 (1.50-7.72); have respiratory diseases OR 8.00 (1.32-48.46); feeling dizzy OR 2.53 (1.10-5.80); and TUGT (dual task) time equal to or greater than 13.5 seconds OR 3.31 (1.03-10.64).

Conclusion

Older adults in this study presented impaired postural balance, mainly in the postural responses domain. The knowledge of the factors associated with the risk of falls in older adults with T2DM allows for better guidance in prevention, assessment and intervention, in order to minimize the occurrence of falls and maintain or optimize postural balance. Several factors influenced this outcome, such as overweight, low physical activity and education, several comorbidities, polypharmacy, T2DM diagnosis for more than ten years, negative perception of general health and vision, and depressive symptoms.

Keywords
Older Adults; Accidental Falls; Postural Balance; Diabetes Mellitus; Health Evaluation

INTRODUÇÃO

A incapacidade relacionada ao diabetes mellitus tipo 2 (DM2) impacta de maneira crítica os idosos e é reconhecida como um problema de saúde emergente associado ao aumento da expectativa de vida em todo o mundo. Além disso, o DM2 pode ocasionar diversas complicações e comprometer o Controle Postural (CP) devido à diminuição da propriocepção e força, bem como ao aumento da rigidez nas articulações dos tornozelos11 Yang Y, Hu X, Zhang Q, Zou R. Diabetes mellitus and risk of falls in older adults: a systematic review and meta-analysis. Age and Ageing. 2016;45:761-767. Disponível em: http://doi.org/10.1093/ageing/afw140
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.

Indivíduos com DM2 apresentam um risco de queda mais elevado do que indivíduos saudáveis na mesma faixa etária. A prevalência de quedas entre idosos com e sem diabetes foi de 25,0% e 18,2%, respectivamente22 Qin J, Zhao K, Chen Y, Guo S, You Y, Xie J, et al. The effects of exercise interventions on balance capacity in patients with type 2 diabetes mellitus: A systematic review and meta-analysis. Inquiry. 2021;58:1-16. Disponível em: http://doi.org/10.1177/00469580211018284
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. Idosos com DM2 podem apresentar comprometimentos no equilíbrio e quedas devido a sistemas sensoriais prejudicados (por exemplo, comprometimento da propriocepção nos membros inferiores devido à neuropatia).

A perda de equilíbrio devido ao comprometimento do CP, que pode envolver sistemas como visual, somatossensorial, auditivo e vestibular prejudicados, ou distúrbios motores e autonômicos mistos, é a principal causa de quedas em idosos22 Qin J, Zhao K, Chen Y, Guo S, You Y, Xie J, et al. The effects of exercise interventions on balance capacity in patients with type 2 diabetes mellitus: A systematic review and meta-analysis. Inquiry. 2021;58:1-16. Disponível em: http://doi.org/10.1177/00469580211018284
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.

Complicações relacionadas as comorbidades são frequentes em pessoas com DM2, incluindo hipertensão, doença cardiovascular, doença vascular, bem como o risco de desenvolver úlceras no pé e/ou a necessidade de amputação de membros inferiores33 LeRoith D, Biessels GJ, Braithwaite SS, Casanueva FF, Draznin B, Halter JB, et al. Treatment of Diabetes in Older Adults: An Endocrine Society* Clinical Practice Guideline. J Clin Endocrinol Metab. 2019;104(5):1520-1574. Disponível em: http://doi.org/10.1210/jc.2019-00198.
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.

A utilização de um ponto de corte para classificar idosos em risco de quedas pode ser uma ferramenta útil na identificação precoce e nas intervenções, direcionadas para prevenir quedas e aprimorar o equilíbrio. Além disso, ao fornecer informações detalhadas sobre os domínios do Mini-BESTest que apresentaram comprometimento, o estudo possibilita uma compreensão abrangente do comprometimento do equilíbrio nessa população.

Essas contribuições auxiliam no enriquecimento da literatura, além de fornecer insights valiosos para profissionais de saúde que lidam com idosos com DM2, ajudando a identificar e tratar de forma eficaz problemas de equilíbrio e risco de quedas nessa população específica.

Este estudo teve como objetivo identificar fatores clínico-funcionais associados ao risco de quedas, avaliado pelo Mini-BESTest, em idosos com DM2.

MÉTODO

Foi realizado um estudo transversal (amostra aleatória) com idosos de ambos os sexos, com idade =60 anos e diagnosticados com DM2 por um médico, que forneceu seus exames laboratoriais para avaliação.

Como critério de exclusão, não participaram idosos submetidos à reabilitação do equilíbrio nos últimos seis meses; idosos incapazes de compreender ou seguir comandos verbais simples ou repetir movimentos; idosos com comprometimento visual ou auditivo severo que dificultasse a realização de atividades da vida diária (mesmo com lentes corretivas ou aparelhos auditivos); idosos com amputações nos membros inferiores (independentemente do nível); idosos incapazes de caminhar independentemente ou que utilizassem dispositivos de assistência para caminhar.

A avaliação ambulatorial foi conduzida no hospital universitário da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ao longo de um ano, com início em agosto de 2015 e encerramento em agosto de 2016. Os pacientes avaliados foram encaminhados dos ambulatórios de gerontologia e endocrinologia do Hospital Universitário Onofre Lopes.

O BESTest é uma ferramenta clínica que avalia o equilíbrio, o risco de queda e os domínios que podem ser focalizados durante a reabilitação44 Horak FB, Wrisley DM, Frank J. The balance evaluation systems test (BESTest) to differentiate balance deficits. Phys Ther. 2009;89:484-498. Disponível em: http://doi.org/10.2522/ptj.2008001
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,55 O'Hoski S, Sibley KM, Brooks D, Beauchamp MK. Construct validity of the BESTest, Mini-BESTest and BriefBESTest in adults aged 50 years and older. Gait Posture. 2015;42(3):301-5. Disponível em: http://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2015.06.006
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. Esse teste é composto por seis sistemas: restrições biomecânicas, limites de estabilidade, respostas posturais, ajustes posturais antecipatórios, orientação sensorial e estabilidade na marcha55 O'Hoski S, Sibley KM, Brooks D, Beauchamp MK. Construct validity of the BESTest, Mini-BESTest and BriefBESTest in adults aged 50 years and older. Gait Posture. 2015;42(3):301-5. Disponível em: http://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2015.06.006
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O Mini-BESTest é composto por 14 testes e 16 itens (avaliação bilateral) e sua aplicação tem duração de 15 a 20 minutos. As pontuações variam de 0 a 28 pontos66 Yingyongyudha A, Saengsirisuwan V, Panichaporn W, Boonsinsukh R. The Mini-Balance Evaluation Systems Test (Mini-BESTest) demonstrates higher accuracy in identifying older adult participants with history of falls than do the BESTest, Berg Balance Scale, or Timed Up and Go test. J Geriatr Phys Ther. 2015;38:1-7. Disponível em: http://doi.org/10.1519/JPT.0000000000000050
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,77 Marques A, Silva A, Oliveira A, Cruz J, Machado A, Jácome C. Validity and relative ability of 4 balance tests to identify fall status of older adults with type 2 diabetes. J Geriatr Phys Ther. 2017;40(4):227-232. Disponível em: http://doi.org/10.1519/JPT.0000000000000109. PMID: 27824659
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. O ponto de corte sugerido do Mini-BESTest para identificar idosos com histórico de quedas foi estabelecido em 20,5 de 28 pontos, apresentando sensibilidade de 60% e especificidade de 71% para identificar alterações nas respostas posturais77 Marques A, Silva A, Oliveira A, Cruz J, Machado A, Jácome C. Validity and relative ability of 4 balance tests to identify fall status of older adults with type 2 diabetes. J Geriatr Phys Ther. 2017;40(4):227-232. Disponível em: http://doi.org/10.1519/JPT.0000000000000109. PMID: 27824659
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,88 Magnani PE, Genovez MB, Porto JM, Zanellato NFG, Alvarenga IC, Freire RC Jr, de Abreu DCC. Use of the BESTest and the Mini-BESTest for Fall Risk Prediction in Community-Dwelling Older Adults Between 60 and 102 Years of Age. J Geriatr Phys Ther. 2020;43(4):179-184. Disponível em: http://doi.org/10.1519/JPT.0000000000000236.
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.

As perguntas estão divididas em quatro domínios correspondentes aos sistemas que mantêm o controle postural (CP):

1. Transições e ajustes posturais antecipatórios;

2. Respostas posturais a distúrbios;

3. Orientação sensorial;

4. Estabilidade na marcha.

Cada item é pontuado em uma escala ordinal de 3 pontos (de 0 a 2); onde 0 representa um desempenho ruim, enquanto 2 indica o desempenho mais favorável44 Horak FB, Wrisley DM, Frank J. The balance evaluation systems test (BESTest) to differentiate balance deficits. Phys Ther. 2009;89:484-498. Disponível em: http://doi.org/10.2522/ptj.2008001
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. O teste Timed Up and Go (TUG) dupla tarefa, avalia a capacidade de realizar duas tarefas diferentes simultaneamente. Solicitou-se aos idosos que realizassem o TUG e, simultaneamente, evocassem o maior número de nomes de animais que conseguissem lembrar. Os idosos estavam sentados, com os pés no chão e as costas apoiadas na cadeira. Após o comando do avaliador, os idosos deveriam levantar-se, caminhar três metros, girar em torno do seu eixo e retornar à posição inicial88 Magnani PE, Genovez MB, Porto JM, Zanellato NFG, Alvarenga IC, Freire RC Jr, de Abreu DCC. Use of the BESTest and the Mini-BESTest for Fall Risk Prediction in Community-Dwelling Older Adults Between 60 and 102 Years of Age. J Geriatr Phys Ther. 2020;43(4):179-184. Disponível em: http://doi.org/10.1519/JPT.0000000000000236.
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. Um cronômetro registrou o tempo necessário para percorrer a distância, e os idosos foram encorajados a caminhar em sua velocidade habitual55 O'Hoski S, Sibley KM, Brooks D, Beauchamp MK. Construct validity of the BESTest, Mini-BESTest and BriefBESTest in adults aged 50 years and older. Gait Posture. 2015;42(3):301-5. Disponível em: http://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2015.06.006
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. Eles foram classificados em dois grupos com base no tempo do teste: alto risco de queda (=13,5 segundos)99 Franchignoni F, Horak F, Godi M, Nardone A, Giordano A. Using psychometric techniques to improve the Balance Evaluation Systems Test: the mini-BESTest. J Rehabil Med. 2010;42:323-331. Disponível em: http://doi.org/10.2340/16501977-0537
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,1010 Barry E, Galvin R, Keogh C, Horgan F, Fahey T. Is the Timed Up and Go Test a useful predictor of risk of falls in community-dwelling older adults: A systematic review and meta-analysis. BMC Geriatrics. 2014;14:2-14. Disponível em: http://doi.org/10.1186/1471-2318-14-14
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.

Utilizamos um questionário para identificar idade, sexo, estado civil, nível de educação, doenças relatadas, número de medicamentos, visão percebida e audição.

O histórico de quedas nos últimos 12 meses e o medo de cair foram avaliados por meio das seguintes perguntas: "Você caiu nos últimos 12 meses?"; "Você tem medo de cair?". Todos os idosos foram questionados sobre tonturas crônicas (ou seja, tontura por dois meses ou mais). A tontura foi definida como a sensação de desorientação ou comprometimento espacial sem uma sensação falsa ou distorcida de movimento, excluindo sensações de vertigem1111 Aratini MC, Ricci NA, Caovilla HH, Ganança FF. Benefits of vestibular rehabilitation on patient-reported outcomes in older adults with vestibular disorders: A randomized clinical trial. Braz J Phys Ther. 2020;24(6):550-559. Disponível em: http://doi.org/10.1016/j.bjpt.2019.12.003
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e foi avaliada por meio da pergunta: "Você sentiu tontura nos últimos dois meses?"

Os idosos também foram questionados sobre o tempo desde o diagnóstico do DM2, os valores da hemoglobina glicada (%) e glicose em jejum (mg/dL) nos últimos seis meses, bem como a medicação em curso para o diabetes (medicação oral, insulina ou ambos).

Em relação às variáveis funcionais, a altura (m) foi medida utilizando uma fita fixada na parede e a massa corporal (kg) foi medida por meio de uma balança de plataforma. O índice de massa corporal (IMC; kg/m22 Qin J, Zhao K, Chen Y, Guo S, You Y, Xie J, et al. The effects of exercise interventions on balance capacity in patients with type 2 diabetes mellitus: A systematic review and meta-analysis. Inquiry. 2021;58:1-16. Disponível em: http://doi.org/10.1177/00469580211018284
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), também conhecido como índice de Quételet 1212 Traoré D, Traoré AH, Sow DS, Konaté M, Koné A, N’Diaye HD, et al. Lipid profile among the diabetic and non-diabetic obese patients. Open Journal of Internal Medicine. 2018;8:89-97. Disponível em: http://doi.org/10.4236/ojim.2018.81010
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,1313 Malak MZ, Suleiman KH, Al-amer RM, Al-Zayyat AK, Salameh AO. Screening of Bone Mineral Density (BMD) among elderly population in Jordan. Mal J Med Health Sci. 2020;16(1):77-84. Acesso em: 19 de março, 2022. Disponível em: https://medic.upm.edu.my/upload/dokumen/2020011612013312_MJMHS_0166.pdf, foi calculado com base no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) do Ministério da Saúde do Brasil. Foram estabelecidos pontos de corte e classificados como baixo peso (=22), eutrófico (23 a 26) e sobrepeso (=27)1414 Gazzola JM, Caovilla HH, Doná F, Ganança MM, Ganança FF. A quantitative analysis of postural control in elderly patients with vestibular disorders using visual stimulation by virtual reality. Braz J Otorhinolaryngol. 2020;86(5):593-601. Disponível em: http://doi.org/10.1016/j.bjorl.2019.03.00
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,1515 Dias VN, Lemos AF, Filho BFL N, Lira MGA, Cavalcanti FAC, Gazzola JM. Palmar strength and sociodemographic, clinical-functional, and psycho-cognitive factors in elderly with measured with diabetes mellitus. Fisioter Mov. 2019;32:e003223. Disponível em: http://doi.org/10.1590/1980-5918.032.AO23
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. A atividade física regular foi definida como = três vezes por semana por >30 minutos nas últimas duas semanas1414 Gazzola JM, Caovilla HH, Doná F, Ganança MM, Ganança FF. A quantitative analysis of postural control in elderly patients with vestibular disorders using visual stimulation by virtual reality. Braz J Otorhinolaryngol. 2020;86(5):593-601. Disponível em: http://doi.org/10.1016/j.bjorl.2019.03.00
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.

A força muscular foi avaliada utilizando um dinamômetro Saehan e conduzida de acordo com as diretrizes da American Society of Hand Therapists16 . Durante o teste de força de preensão manual, o avaliador instruiu o idoso a manter a força máxima. Três medidas foram coletadas, com um intervalo de um minuto entre cada tentativa. Os resultados foram obtidos a partir da média das três medidas (kg), e os valores foram ajustados por sexo e IMC1616 Fried LP, Ferrucci L, Darer J, Williamson JD, Anderson G. Untangling the concepts of disability, frailty, and comorbidity: implications for improved targeting and care. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2004;59(3):255-263. Disponível em: http://doi.org/10.1093/gerona/59.3.m255
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Os dados psicocognitivos foram avaliados utilizando o Mini-Mental State Examination (MMSE) e a Escala de Depressão Geriátrica (GDS-15). O MMSE é amplamente utilizado para avaliar casos suspeitos de deficit cognitivos1717 Creavin ST, Wisniewski S, Noel-Storr AH, Trevelyan CM, Hampton T, Rayment D, et al. Mini-mental State Examination (MMSE) for the detection of dementia in clinically unevaluated people aged 65 over in community and primary care population. Cochrane Library. 2016;13(1):CD011145. Disponível em: http://doi.org/10.1002/14651858.CD011145.pub2
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,1818 Mitchell AJ, Shukla D, Ajumal HA, Stubbs B, Tahir TA. The Mini-Mental State Examination as a diagnostic and screening test for delirium: systematic review and meta-analysis. Gen Hosp Psychiatry. 2014;36(6):627-33. Disponível em: http://doi.org/10.1016/j.genhosppsych.2014.09.003.
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, e sua confiabilidade e validade são consideradas satisfatórias1919 Tombaugh T, McIntyre Cand NJ. The Mini-Mental State Examination: a comprehensive review. J Am Geriatric Society. 1992;40(9)922-935. Disponível em: http://doi.org/10.1111/j.1532-5415.1992.tb01992.x
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. Pontos de corte foram adotados de acordo com os anos de educação: analfabetos (20 pontos); um a quatro anos de estudos (25 pontos); cinco a oito anos de estudos (26 pontos); nove a onze anos de estudos (28 pontos); e mais de onze anos de estudos (29 pontos)2020 Scarabelot LF, Monteiro MM, Rubert MCS, Zetola VHF. Is the Mini-Mental State Examination the best cognitive screening test for less educated people? Arq Neuropsiquiatr. 2019;77(5). Disponível em: http://doi.org/10.1590/0004-282X20190043.

O GDS-15, ferramenta rápida e fácil de usar, identifica sintomas depressivos em idosos. Essa versão é composta por 15 perguntas, com pontuações indicando ausência de depressão (0 a 4 pontos), depressão leve a moderada (5 a 10 pontos) e depressão grave ou intensa (11 a 15)2121 Yesavage JA, Brink TL, Rose TL, et al. Development and validation of geriatric depression screening scale: a preliminary report. J Psychiatry Res. 1983;17(1):37-49. Disponível em: http://doi.org/10.1016/0022-3956(82)90033-4
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,2222 Yesavage JA, Sheikh JI. Geriatric Depression Scale (GDS): recent evidence and development of a shorter version. Clinical Gerontologist. 1986;5(1-2):165-173. Disponível em: http://doi.org/10.1300/J018v05n01_09
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.

Utilizamos o teste de Kolmogorov-Smirnov para verificar a normalidade dos dados. Variáveis quantitativas foram descritas utilizando medidas descritivas. As variáveis independentes analisadas incluíram aspectos sociodemográficos, clínicos, funcionais e psicocognitivos. A significância estatística foi estabelecida em 5% (p < 0,05) para todas as análises.

Neste estudo, a variável dependente foi o risco de queda do Mini-BESTest, que foi analisado utilizando o software SPSS versão 17.0 para Windows. Para a análise inferencial, verificamos as associações entre o risco de queda determinado pelos pontos de corte do Mini-BESTest de acordo com faixas etárias (25 pontos - 60 a 69 anos; 23 pontos - 70 a 79 anos; 22 pontos - 80 a 89 anos)88 Magnani PE, Genovez MB, Porto JM, Zanellato NFG, Alvarenga IC, Freire RC Jr, de Abreu DCC. Use of the BESTest and the Mini-BESTest for Fall Risk Prediction in Community-Dwelling Older Adults Between 60 and 102 Years of Age. J Geriatr Phys Ther. 2020;43(4):179-184. Disponível em: http://doi.org/10.1519/JPT.0000000000000236.
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. O risco de queda (Mini-BESTest) (variável dependente) e as variáveis independentes (sociodemográficas e clínicas funcionais) foram analisados por meio de uma análise de regressão logística multivariada utilizando o método forward.

As variáveis que apresentaram significância estatística (p < 0,20) na análise bivariada foram inseridas no modelo ajustado (sexo, faixa etária, nível educacional, número de doenças, atividade física e quedas no último ano), sendo significativas aquelas com p < 0,05. Um teste de multicolinearidade utilizando VIF foi realizado. O modelo final atendeu à suposição da ausência de multicolinearidade, e o teste de Hosmer e Lemeshow (p = 0,150) indicou que não há diferenças significativas entre os resultados previstos pelo modelo e a realidade observada.

Hipotetizamos que os fatores associados a um maior risco de quedas em idosos com DM2 incluem ser do sexo feminino, possuir um nível educacional mais baixo, ter um maior número de doenças, fazer uso de insulina, ter uma percepção negativa da visão, se queixar de tontura e apresentar uma maior duração da diabetes.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), sob o número de CAAE: 45183715.0.0000.5537.

DISPONIBILIDADE DE DADOS

Todo o conjunto de dados que apoia os resultados deste estudo está disponível mediante solicitação ao autor correspondente, Adriana Guedes Carlos.

RESULTADOS

Sobre o critério de exclusão, seis idosos foram excluídos devido a amputações de membros inferiores, cinco devido ao uso de dispositivos de auxílio à locomoção e um devido a um grave comprometimento visual. A maioria dos idosos era do sexo feminino (64,8%) e casada (66,9%). Em relação ao nível educacional, a maioria foi classificada com ensino fundamental incompleto/fundamental completo (34,5%) e fundamental/analfabeto (65,5%). Quanto à faixa etária, a distribuição foi de 60 a 69 anos (62,0%), 70 a 79 anos (29,0%) e 80 a 89 anos (9,0%).

Neste estudo, foi observado que 39,3% dos idosos apresentaram cinco ou mais doenças; 78,6% deles apresentaram doenças do sistema cardiovascular, 62,8% faziam uso de cinco ou mais medicamentos, e 44,8% relataram ter visão ruim ou muito ruim. Os idosos também apresentaram audição ruim ou muito ruim (27,6%); seis ou mais anos de diagnóstico de DM2 (71,0%); medicação oral para DM2 (64,8%); força de preensão manual fraca (no quintil mais baixo) (43,4%); nenhuma queda no último ano (62,1%); risco de queda (Mini-BESTest) (52,4%); atividade física regular (26,2%); índice de massa corporal desnutrido ou peso normal (63,4%); hemoglobina glicada (n=108) até 8% (normal) (39,3%); glicose em jejum (n=133) até 130mg/dL (normal) (50,3%); dor nos membros inferiores (57,1%); queixa de tontura (44,1%); boa cognição (42,1%); sintomas depressivos (GDS-15) 6 ou mais (47,2%); risco de queda (TUGT dupla tarefa) (n=136) e 13,5 segundos ou mais (alto) (77,2%). A caracterização da amostra é apresentada na Tabela 1.

Tabela 1
Características de idosos com diabetes mellitus tipo 2 acompanhados em um hospital universitário no nordeste do Brasil em 2016 (N = 145).

A pontuação média total do Mini-BESTest foi de 80,8% ± 4,6%, com um intervalo de confiança (IC) de 95% de 78,4 a 83,3. A média e os respectivos intervalos de confiança (IC) de 95% dos domínios do Mini-BESTest são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2
. Percentual de comprometimento nos domínios do Mini-BESTest entre idosos com diabetes mellitus tipo 2 em um hospital universitário no nordeste do Brasil em 2016 (N = 145).

A Tabela 3 apresenta a análise inferencial entre a variável "risco de quedas" do Mini-BESTest e variáveis sociodemográficas, clínicas e funcionais. Nas variáveis sociodemográficas, houve uma associação significativa entre o "risco de quedas" do Mini-BESTest e o sexo, indicando que os homens, em comparação com as mulheres, apresentaram um resultado pior no Mini-BESTest. O nível educacional, a faixa etária e o estado civil não estão associados ao risco de quedas.

Tabela 3
. Análise inferencial entre a variável “risco de quedas” do Mini-BESTest e variáveis sociodemográficas, clínico-funcionais e psicocognitivas de idosos com diabetes mellitus tipo 2 em um hospital universitário no nordeste do Brasil em 2016 (N = 145).

Nas variáveis funcionais-clínicas, foi observada uma associação significativa entre o "risco de quedas" do Mini-BESTest e a audição e visão, indicando que a percepção negativa tanto da audição quanto da visão, classificada como "ruim" ou "muito ruim", está correlacionada com um maior risco de comprometimento do equilíbrio. Em relação às variáveis psicocognitivas, foi identificada uma associação relevante entre o "risco de quedas" do Mini-BESTest e o GDS-15, sugerindo que a presença de "seis ou mais" sintomas depressivos está relacionada a um maior comprometimento do equilíbrio.

Nas variáveis funcionais-clínicas, houve uma associação considerável entre o "risco de quedas" do Mini-BESTest e a presença de doenças do sistema respiratório, atividade física regular, queixa de tontura e risco de queda (TUGT dupla tarefa), conforme apresentado na Tabela 3.

Não houve associação com outras variáveis clínico-funcionais e psicocognitivas relacionadas a outras classificações de doenças, número de medicamentos, medicação para DM2, tempo de diagnóstico de DM2, força de preensão manual, hemoglobina glicada, glicose em jejum, dor nos membros inferiores, IMC e MMSE.

Os valores de "odds ratio" (razão de possibilidades) estimados pelo modelo multivariado estão apresentados na Tabela 4. Os idosos com percepção visual ruim/ muito ruim têm três vezes mais chances de quedas quando comparados àqueles com visão excelente/ muito boa/ boa; o fato dos idosos terem doenças respiratórias aumenta em oito vezes a probabilidade de quedas; ter sensação de tontura aumenta em duas vezes a probabilidade de quedas; e quando o tempo do TUGT (dupla tarefa) for igual ou maior que 13,5 segundos, a probabilidade de quedas aumenta três vezes.

Tabela 4
Modelo de regressão logística binária para avaliação dos fatores associados ao risco de quedas em idosos com diabetes mellitus tipo 2 (N = 145).

DISCUSSÃO

O presente estudo verificou a associação entre o risco de quedas e variáveis sociodemográficas, clínicas, funcionais e psicocognitivas em idosos com DM2.

Os resultados obtidos indicaram uma maior probabilidade de quedas em mulheres idosas, apresentando uma faixa etária mais avançada, um maior número de doenças, presença de doenças respiratórias e sintomas depressivos, relatos de quedas no último ano e dificuldade na realização de exercícios que exigem dupla tarefa, quando comparadas ao grupo com baixa probabilidade de quedas e, consequentemente, valores mais baixos no Mini-BESTest.

O fato das mulheres apresentarem maior associação ao risco de quedas em comparação com os homens pode estar relacionado a variações hormonais, composição corporal e comportamentos de autocuidado, uma vez que as mulheres tendem a buscar mais assistência médica2323 Lopez-Benavente Y, Arnau-Sánchez J, Ros-Sánchez T, Lidón-Cerezuela MB, Serrano Noguera A, Medina-Abellán MD. Difficulties and motivations for physical exercise in women older than 65 years. A qualitative study. Rev Latino-Am Enfermagem. 2018;26. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1518-8345.2392.2989
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O DM2 geralmente está associado a uma maior probabilidade de quedas, conforme avaliado pelo Mini-BESTest. As médias do Mini-BESTest podem variar de acordo com a média de idade2424 Kafri M, Hutzler Y, Korsensky O, Laufer Y. Functional performance and balance in the oldest-old. J Geriatr Phys Ther. 2019;42(3):183-188. Disponível em: http://doi.org/10.1519/JPT.0000000000000133
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. Neste estudo, a média de idade e o desempenho foram distribuídos entre 60 e 69 anos (62,01%), 70 e 79 anos (29,0%) e 80 e 89 anos (9,0%). Em um estudo anterior, a média de idade e desempenho foi distribuída entre 60 e 69 anos (14%), 70 e 79 anos (33%) e 80 e 89 anos (34%)88 Magnani PE, Genovez MB, Porto JM, Zanellato NFG, Alvarenga IC, Freire RC Jr, de Abreu DCC. Use of the BESTest and the Mini-BESTest for Fall Risk Prediction in Community-Dwelling Older Adults Between 60 and 102 Years of Age. J Geriatr Phys Ther. 2020;43(4):179-184. Disponível em: http://doi.org/10.1519/JPT.0000000000000236.
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, indicando que idosos com uma faixa etária mais baixa apresentaram um Mini-BESTest mais elevado, resultando em uma menor probabilidade de quedas. Idosos entre a sétima e oitava décadas de vida mostraram uma diminuição no desempenho no Mini-BESTest 2323 Lopez-Benavente Y, Arnau-Sánchez J, Ros-Sánchez T, Lidón-Cerezuela MB, Serrano Noguera A, Medina-Abellán MD. Difficulties and motivations for physical exercise in women older than 65 years. A qualitative study. Rev Latino-Am Enfermagem. 2018;26. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1518-8345.2392.2989
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Para garantir um baixo risco de quedas, a eficiência do sistema de controle postural depende do desempenho adequado de três sistemas: visual, somatossensorial, auditivo e vestibular11 Yang Y, Hu X, Zhang Q, Zou R. Diabetes mellitus and risk of falls in older adults: a systematic review and meta-analysis. Age and Ageing. 2016;45:761-767. Disponível em: http://doi.org/10.1093/ageing/afw140
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A maioria dos idosos no presente estudo relatou ter visão e audição classificadas como ruins ou muito ruins. O deficit visual é comum na população de indivíduos com DM2, aumentando a probabilidade de quedas em até 4 vezes. A piora na visão acarreta uma série de problemas, como a autoadministração de medicamentos, além de dificuldades na adesão ao tratamento, o que pode levar à cegueira ou retinopatia diabética2525 Torres LRL, Baeck HE, Diógenes BS, Gurgel YM. Investigação dos fatores de risco pré-estabelecidos para perdas auditivas em idosos. REAS [Internet]. 2023;23(3):e12452. Disponível em: https://doi.org/10.25248/reas.e12452.2023
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. Esses problemas resultam em um agravamento do equilíbrio, indicando deficiência no sistema visual, responsável pelo CP11 Yang Y, Hu X, Zhang Q, Zou R. Diabetes mellitus and risk of falls in older adults: a systematic review and meta-analysis. Age and Ageing. 2016;45:761-767. Disponível em: http://doi.org/10.1093/ageing/afw140
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Observou-se que o aumento da idade em idosos está associado ao aumento da ocorrência de perda auditiva; somado ao DM2, esses indivíduos tendem a ter uma maior probabilidade de quedas. Estudos relatam que a perda auditiva está relacionada à perda cognitiva2525 Torres LRL, Baeck HE, Diógenes BS, Gurgel YM. Investigação dos fatores de risco pré-estabelecidos para perdas auditivas em idosos. REAS [Internet]. 2023;23(3):e12452. Disponível em: https://doi.org/10.25248/reas.e12452.2023
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. Problemas comuns esses, encontrados em indivíduos com diabetes descompensado2626 Filho BFL, Gama AGD, Dias VN, Silva EMT, Cavalcanti FAC, Gazzola JM. Síndrome da Fragilidade em idosos com diabetes mellitus tipo 2 e fatores associados. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2020;23(01). Disponível em: http://doi.org/10.1590/1981-22562020023.200196
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O estudo demonstra que o metabolismo da glicose influencia a fisiologia do ouvido interno, causando alterações vestibulares e auditivas. A tontura é um dos principais sintomas relatados por indivíduos que têm disfunção vestibular. Existe uma relação identificada entre aqueles que relataram tontura e o tempo necessário para diagnosticar o diabetes. Em casos prolongados da doença, geralmente há um aumento nos níveis de glicose no sangue e hemoglobina glicada2727 Fukunaga JH, Quitschal RM, Dib AS, Ganança MM, Caovilla HH. Postural balance in type 2 diabetics with vertigo, dizziness and/or unsteadiness. CoDAS. 2020;32(6):e20190070. Disponível em: http://doi.org/10.1590/2317-1782/20202019070
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. Portanto, idosos que relatam tontura e têm DM2, têm o dobro de probabilidade de queda.

O comprometimento cognitivo pode dificultar o desempenho no teste TUG durante uma tarefa cognitiva simultânea, alterando a marcha (por exemplo, redução da velocidade e aumento da duração do teste)2828 Morlino P, Balbi B, Guglielmetti S, Giardini M, Grasso M, Giordano C, et al. Gait abnormalities of COPD are not directly related to respiratory function. Gait Posture. 2017;58:352-357. Disponível em: http://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2017.08.020
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. Quedas foram relacionadas ao equilíbrio reduzido e dificuldade de locomoção, que são ainda mais comprometidos quando os idosos são solicitados a realizar o TUG com dupla tarefa2424 Kafri M, Hutzler Y, Korsensky O, Laufer Y. Functional performance and balance in the oldest-old. J Geriatr Phys Ther. 2019;42(3):183-188. Disponível em: http://doi.org/10.1519/JPT.0000000000000133
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Um estudo anterior sugeriu uma associação entre a redução da função cognitiva e sintomas depressivos em idosos com diabetes77 Marques A, Silva A, Oliveira A, Cruz J, Machado A, Jácome C. Validity and relative ability of 4 balance tests to identify fall status of older adults with type 2 diabetes. J Geriatr Phys Ther. 2017;40(4):227-232. Disponível em: http://doi.org/10.1519/JPT.0000000000000109. PMID: 27824659
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. De acordo com o GDS-15, a redução nos sintomas depressivos em idosos estava relacionada ao aumento no desempenho no Mini-BESTest. Além disso, os sintomas depressivos podem dificultar a compreensão e a realização de testes2424 Kafri M, Hutzler Y, Korsensky O, Laufer Y. Functional performance and balance in the oldest-old. J Geriatr Phys Ther. 2019;42(3):183-188. Disponível em: http://doi.org/10.1519/JPT.0000000000000133
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Em geral, aqueles diagnosticados com DM2 frequentemente apresentam outras condições associadas, tais como doenças respiratórias, hipertensão arterial sistêmica, obesidade e dislipidemia. As doenças respiratórias, juntamente com DM2, são classificadas como as principais doenças crônicas não transmissíveis2929 Pagotto V, Dias DM, Pezarini LO, Sousa JM, Oliveira MDS, Lima JOR. Polifarmácia e potenciais interações medicamentosas em adultos e idosos com diabetes mellitus: estudo transversal. Revista Recien. 2023;14(41). Disponível em: http://doi.org/10.24276/rrecien2023.13.41.540-550
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. Conforme revelado em nossa pesquisa, idosos com DM2 enfrentam um risco oito vezes maior de quedas. Estudos anteriores também apontam uma correlação positiva entre um aumento no risco de quedas e a presença de doenças respiratórias, como a doença pulmonar obstrutiva crônica. Essa associação é explicada pelo padrão da respiração que induz alterações no CP3030 Paliwal Y, Slattum PW, Ratliff SM. Chronic Health Conditions as a Risk Factor for Falls among the Community-Dwelling US Older Adults: A Zero-Inflated Regression Modeling Approach. BioMed Research International. 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1155/2017/5146378
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Pesquisas anteriores sugerem que as taxas de hospitalização aumentam entre mulheres idosas à medida que a faixa etária avança, assim como para indivíduos com níveis mais baixos de educação. Em relação aos fatores clínicos, observou-se um aumento nas hospitalizações na presença de múltiplas comorbidades. Também foi observado que um dos fatores que antecedem a hospitalização é a ocorrência frequente de episódios de quedas3131 Dias MPB, Barros RS, Medeiros GVL, Sampaio RX, Garcia PA. Baixa escolaridade, polifarmácia e declínio funcional são fatores associados à hospitalização de idosos: estudo transversal. Saúde Coletiva (Barueri). 2023;13(87). Disponível em: https://orcid.org/0000-0002-8452-5124.

Prevenir o risco de quedas representa um desafio para a saúde pública. A prática regular de atividade física, a correção de deficiências visuais, o manejo de distúrbios respiratórios, o tratamento das condições dos pés, a adaptação de fatores de risco ambientais no domicílio e a promoção da educação individual são elementos cruciais que demandam atenção. A realização de exercícios físicos, com duração mínima de 30 minutos, três vezes por semana, é um fator essencial na prevenção e tratamento de diversas comorbidades associadas ao processo de envelhecimento.

Nossa hipótese sugere que os fatores associados ao aumento da probabilidade de quedas em idosos com DM2 incluem: ser do sexo feminino; ter menor nível de educação, um maior número de doenças, fazer uso de insulina, ter uma percepção negativa da visão, relatar tontura, apresentar mobilidade prejudicada e ter uma doença de longa duração. As variáveis que não se mostraram significativas na hipótese foram: o uso de insulina e a duração da doença.

Limitações da pesquisa: muitos idosos não tinham conhecimento da doença. Eles não sabiam ou não se lembravam quando foram diagnosticados com DM2, quais medicamentos estavam tomando para o diabetes, nem quais cuidados básicos deveriam adotar.

CONCLUSÃO

Os idosos neste estudo apresentaram o equilíbrio comprometido, especialmente no domínio das respostas posturais. Diversos fatores podem influenciar respostas posturais insuficientes, como excesso de peso, baixa atividade física e educação, várias comorbidades, polifarmácia, diagnóstico de DM2 há mais de dez anos, percepção negativa da saúde geral e visão, além de sintomas depressivos. Portanto, os resultados deste estudo são de relevância clínica e científica. Esta pesquisa contribui para o campo da geriatria e gerontologia, abrindo caminho para a descoberta de novos estudos futuros fundamentados nos achados da pesquisa. Além disso, auxilia os profissionais de saúde no manejo apropriado de pacientes idosos com DM2, colaborando no diagnóstico preciso do estado geral e funcional desses pacientes e fornecendo orientações para o plano de tratamento adequado.

  • Financiamento da pesquisa: MCTI/CNPq. Nº do processo: 14/2014. Projeto do edital Universal.
  • DISPONIBILIDADE DE DADOS

    DISPONIBILIDADE DE DADOS
    Todo o conjunto de dados que apoia os resultados deste estudo está disponível mediante solicitação ao autor correspondente, Adriana Guedes Carlos.

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Editado por

Editado por: Marquiony Marques dos Santos

Disponibilidade de dados

DISPONIBILIDADE DE DADOS

Todo o conjunto de dados que apoia os resultados deste estudo está disponível mediante solicitação ao autor correspondente, Adriana Guedes Carlos.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    00 00 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    26 Jun 2023
  • Aceito
    21 Nov 2023
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