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Comentário sobre Radiação de baixa frequência e possível influência nociva a sistemas biológicos

Low frequency radiation and possible harmful influence on biological systems

Recentemente, lemos o artigo de F.G.F. Rodrigues e A. Brizola publicado em 11 de Janeiro de 2019, na Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 41, n° 3, e20180289. O artigo nos pareceu muito interessante porque os autores apresentam os resultados de um estudo teórico que mostra a influência de radiações de baixa frequência, principalmente as que são provenientes de dispositivos celulares ou smartphones, e os possíveis danos associados às doenças que esse tipo de radiação podem causar. Tal fato é preocupante porque os autores indicaram que esse tipo de radiação pode ocasionar variação na bioatividade, podendo ser considerada um agente externo potencialmente nocivo para às pessoas.

Especificamente, queremos destacar e comentar a página e20180289-6 do trabalho de Rodrigues [1][1] F.G.F. Rodrigues e A. Brizola, Rev. Bras. Ensino Física 41, 10 (2019). que cita o trabalho de Yakymenko [2][2] I. Yakymenko, O. Tsybulin, E. Sidorik, D. Henshel, O. Kyrylenko e S. Kyrylenko, Electromagn. Biol. Med. 35, 186 (2016)., em que os autores observaram experimentalmente que a exposição à radiação de 875 MHz, 200 μ W/cm2 por 5 ou 10 minutos, aumentou em quase três vezes a atividade de NADH oxidase.

Outro comentário que queremos fazer e destacar nesta mesma página do artigo de Rodrigues [3][3] M. Gheyi, M.S. Alencar, J.M.P. Moreira, S. Nain, M.J. Pachu e G. Glionna, in XVIII Simpósio Brasileiro de Telecomunicações (Sociedade Brasileira de Telecomunicações, Campinas, 2000)., diz respeito às cobaias que foram submetidas à exposição de radiação de microondas a 2,45 GHz e 1,6 mW/cm2. Foram observadas alterações comportamentais quando foi comparado o grupo exposto ao grupo não exposto. Neste experimento foi observado que a radiação eletromagnética afetou a aprendizagem das cobaias da espécie Rattus Norvegicus.

Ao analisar esses níveis de exposição de radiação de baixa frequência e convertê-los em W/m2 temos que 200 μ W/cm2 é igual a 2 W/m2, equivalente a 2 • 106 μ W/m2. Da mesma forma, ao converter 1,6 mW/cm2 obtemos 16 W/m2, equivalente a 16 • 106 μ W/m2. Acreditamos que esses valores são muito altos para as frequências em que são medidas nessas intensidades. Desse modo, não é de surpreender que alguns organismos vivos sofram uma grande perturbação. Por esta razão, os autores concluem que os resultados apresentados na seção 3.3 mostram que, além de efeitos térmicos, existe uma relação entre o potencial de ação das radiações de baixa frequência sobre sistemas biológicos e o aumento do estresse oxidativo no meio celular.

É importante entender que a intensidade é a potência transferida por unidade de área medida em W/m2, em que a área é transversal à direção da propagação da energia. Outros autores chamam a intensidade da onda eletromagnética como um fluxo de energia, coincidindo com o módulo vetorial de Poynting.

Queremos destacar que realizamos alguns estudos medindo a exposição pessoal a campos eletromagnéticos de radiofrequência (88 a 5850 MHz) em diferentes microambientes [4[4] J. Gonzalez-Rubio, E. Arribas, R. Ramirez-Vazquez e A. Najera, Sci. Total Environ. 599, 834 (2017). [5] R. Ramirez-Vazquez, J. Gonzalez-Rubio, E. Arribas e A. Najera, Environ. Res. 175, 266 (2019). [6] E. Arribas, R. Ramirez-Vazquez e I. Escobar, Environ. Res. 167, 639 (2018).7[7] R. Ramirez-Vazquez, J. Gonzalez-Rubio, E. Arribas e A. Najera, Environ. Res. 172, 109 (2019).], e se comparamos esses valores com aqueles mostrados neste trabalho, podemos verificar que são realmente altos.

Além disso, também parece interessante comparar esses valores com os valores da radiação solar que chega à Terra a partir do Sol, conhecida como constante solar ou irradiação solar total, que é a potência por unidade de área medida sobre a atmosfera terrestre e normalizada para a distância média entre o Sol e a Terra de uma UA (unidade astronomia). Sabe-se que o valor médio da constante solar ou irradiação solar total é 1367 W/m2 [8[8] H. Li, Y. Lian, X. Wang, W. Ma e L. Zhao, Energy 36, 1785 (2011).,9[9] J.C. Xu, D.F. Kong e F.Y. Li, Astrophys. Space Sci. 363, 98 (2018).].

Gostaríamos de enfatizar que este trabalho é muito interessante, mas se comparamos a intensidade da onda eletromagnética com os valores que regulamentam os limites de exposição a campos eletromagnéticos da International Commission on Non-Ionizing Radiation Protection (ICNIRP) [10[10] ICNIRP Guidelines, Health Physics 99, 818 (2010).,11[11] ICNIRP Guidelines, Health Physics 74, 494 (1998).], observamos e concluímos que os valores de Rodrigues são muito altos, por isso, é lógico que as células sejam danificadas por efeitos térmicos.

Referências

  • [1]
    F.G.F. Rodrigues e A. Brizola, Rev. Bras. Ensino Física 41, 10 (2019).
  • [2]
    I. Yakymenko, O. Tsybulin, E. Sidorik, D. Henshel, O. Kyrylenko e S. Kyrylenko, Electromagn. Biol. Med. 35, 186 (2016).
  • [3]
    M. Gheyi, M.S. Alencar, J.M.P. Moreira, S. Nain, M.J. Pachu e G. Glionna, in XVIII Simpósio Brasileiro de Telecomunicações (Sociedade Brasileira de Telecomunicações, Campinas, 2000).
  • [4]
    J. Gonzalez-Rubio, E. Arribas, R. Ramirez-Vazquez e A. Najera, Sci. Total Environ. 599, 834 (2017).
  • [5]
    R. Ramirez-Vazquez, J. Gonzalez-Rubio, E. Arribas e A. Najera, Environ. Res. 175, 266 (2019).
  • [6]
    E. Arribas, R. Ramirez-Vazquez e I. Escobar, Environ. Res. 167, 639 (2018).
  • [7]
    R. Ramirez-Vazquez, J. Gonzalez-Rubio, E. Arribas e A. Najera, Environ. Res. 172, 109 (2019).
  • [8]
    H. Li, Y. Lian, X. Wang, W. Ma e L. Zhao, Energy 36, 1785 (2011).
  • [9]
    J.C. Xu, D.F. Kong e F.Y. Li, Astrophys. Space Sci. 363, 98 (2018).
  • [10]
    ICNIRP Guidelines, Health Physics 99, 818 (2010).
  • [11]
    ICNIRP Guidelines, Health Physics 74, 494 (1998).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Out 2019
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    08 Jul 2019
  • Revisado
    18 Set 2019
  • Aceito
    20 Set 2019
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