Acessibilidade / Reportar erro

HOME-OFFICE E DESIGUALDADES DE GÊNERO ENTRE DOCENTES UNIVERSITÁRIOS NA PANDEMIA DE COVID-191 1 Estudo vinculado ao projeto “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior – uma perspectiva comparada entre universidades públicas no Brasil e Espanha”, relativo às atividades de pós-doutorado da primeira autora, com apoio do Programa Fiocruz de Fomento à Inovação, “Inova Fiocruz”. ,2 2 Este trabalho não foi publicado em nenhum periódico ou outro meio de divulgação.

HOME-OFFICE AND GENDER INEQUALITIES AMONG UNIVERSITY TEACHERS IN THE COVID-19 PANDEMIC

Resumos

RESUMO

No trabalho em home office decorrente da pandemia de COVID-19, demandas das esferas profissional e doméstica coincidem no espaço, podendo competir pelo tempo do(a) trabalhador(a). Nesta condição, as tarefas domésticas e de cuidado se ampliam por conta das novas demandas geradas, já que todos estão em casa também dando conta de suas atividades profissionais. Tendo como aporte teórico a divisão sexual do trabalho, este estudo analisa a vivência do trabalho em home office de docentes universitários durante a pandemia de COVID-19. O material empírico se baseia em entrevistas semiestruturadas no formato virtual com docentes (quatro homens e seis mulheres) de uma universidade federal no Rio de Janeiro, RJ, em união heterossexual, que têm pelo menos um(a) filho(a) de até 10 anos. Há unanimidade entre os docentes quanto ao maior peso do trabalho doméstico e de cuidado sobre as professoras, que frequentemente se ocupam sozinhas da casa. A presença das crianças aumenta o tempo de cuidado, incluindo o acompanhamento de atividades escolares. A quebra do modelo de delegação (à empregada doméstica ou babá) evidencia os conflitos não resolvidos dentro da família. As assimetrias observadas expressam o sistema de gênero socialmente produzido, que desfavorece as mulheres, tanto no âmbito da saúde, como da produção científica durante a pandemia, ampliando desigualdades e iniquidades que precedem a pandemia.

PALAVRAS-CHAVE:
gênero; pandemia; teletrabalho; docentes; trabalho doméstico


ABSTRACT

In home office work, a condition resulting from the COVID-19 pandemic, demands from the professional and domestic spheres coincide in space, and may compete in terms of the workers’ time. In this condition, people work when everyone is at home, and domestic and care tasks are expanded given new demands. Having the sexual division of labor as a theoretical framework, this study analyzes the experience of home office of academics during the COVID-19 pandemic. The empirical material is based on online semi-structured interviews with teachers (four men and six women) of a federal university in Rio de Janeiro, RJ, in a heterosexual union, who have at least one child up to 10 years old. There is unanimity among teachers regarding the greater burden of domestic and care work upon women, who often take care of the house alone. The presence of children increases care time, including support to school activities. The breakdown of the delegation model (to the maid or nanny) highlights the unresolved conflicts within the family. The observed asymmetries express the socially produced gender system, which causes disadvantages to women, both in the field of health and of scientific production during the pandemic, expanding inequalities and inequities that precede the pandemic.

KEYWORDS:
gender; pandemic; home office; university teachers; housework


INTRODUÇÃO

O distanciamento social decorrente da pandemia de COVID-19 impôs a realização do trabalho profissional em casa a vários grupos de trabalhadores, incluindo os docentes universitários. Estudos pré-pandemia apontam a reconfiguração dos tempos e espaços de trabalho a partir do uso de tecnologias de informação e comunicação neste grupo (Araújo, 2008ARAÚJO Emília Rodrigues. (2008), “Technology, Gender and Time: A Contribution to the Debate”. Gender, Work and Organization, 15, 5: 477-503. DOI: 10.1111/j.1468-0432.2008.00414.x.
https://doi.org/10.1111/j.1468-0432.2008...
; Cordeiro, 2013CORDEIRO, Marina de Carvalho (2013). Você tem tempo?”: Uma análise das vivências temporais dos cientistas sociais na sociedade contemporânea (Doctoral dissertation, Tese (Doutorado)-Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro. Disponível em: https://circuitoacademico.files.wordpress.com/2014/06/voce-tem-tempo-marina-de-carvalho-cordeiro-tese.pdf
https://circuitoacademico.files.wordpres...
). Se, por um lado, os dispositivos de comunicação flexibilizam a gestão do tempo e espaço de trabalho, há por outro lado, a percepção da casa como fonte de conflitos, associados principalmente, à divisão desigual do trabalho doméstico e à falta de limites entre o tempo-espaço de trabalho e não-trabalho (Araújo, 2008ARAÚJO Emília Rodrigues. (2008), “Technology, Gender and Time: A Contribution to the Debate”. Gender, Work and Organization, 15, 5: 477-503. DOI: 10.1111/j.1468-0432.2008.00414.x.
https://doi.org/10.1111/j.1468-0432.2008...
; Cordeiro, 2013CORDEIRO, Marina de Carvalho (2013). Você tem tempo?”: Uma análise das vivências temporais dos cientistas sociais na sociedade contemporânea (Doctoral dissertation, Tese (Doutorado)-Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro. Disponível em: https://circuitoacademico.files.wordpress.com/2014/06/voce-tem-tempo-marina-de-carvalho-cordeiro-tese.pdf
https://circuitoacademico.files.wordpres...
).

Ao realizar o trabalho profissional em casa, as demandas das esferas profissional e doméstica coincidem no espaço, o que pode levá-las a competir entre si em relação ao tempo do(a) trabalhador(a). A literatura sobre o tempo e as desigualdades de gênero aponta maior tempo dedicado ao trabalho doméstico entre as mulheres no Brasil (Ramos, 2009RAMOS, Daniela Peixoto. (2009), “Pesquisas de usos do tempo: um instrumento para aferir as desigualdades de gênero”. Estudos Feministas, 17, 3: 861-870. DOI: 10.1590/S0104-026X2009000300014
https://doi.org/10.1590/S0104-026X200900...
), padrão que vem se mantendo, como indica a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Bandeira e Preturlan, 2016BANDEIRA, Lourdes Maria & PRETURLAN, Renata Barreto (2016), “As pesquisas sobre uso do tempo e a promoção da igualdade de gênero no Brasil”, in: N. Fontoura & C. Araújo (orgs.), Uso do tempo e gênero, Rio de Janeiro: UERJ.; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica, 2020INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. (2020), Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio - PNAD: Outras formas de trabalho 2019 (2020). Available online at: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-06/ibge-mulher-tem-peso-importante-no-chamado-trabalho-invisivel. Consultado em: 04/7/2022.
https://agenciabrasil.ebc.com.br/economi...
). Dados recentes de 19 países confirmam a maior participação feminina nas atribuições domésticas e menor tempo de lazer (Rubiano-Matulevich e Viollaz, 2019RUBIANO MATULEVICH, Eliana Carolina & VIOLLAZ, Mariana (2019), “Gender Differences in Time Use: Allocating Time between the Market and the Household”. World Bank Policy Research Working Paper No. 8981, Available at SSRN:https://ssrn.com/abstract=3437824
https://ssrn.com/abstract=3437824...
). Estudos sociológicos evidenciam assimetrias de gênero no tempo livre, que é mais “contaminado” por tarefas domésticas entre as mulheres (Bittman e Wajcman, 2000BITTMAN, Michael & WAJCMAN, Judy (2000), “The Rush Hour: The Character of Leisure Time and Gender Equity”. Social Forces, 79, 1: 165-189. DOI: 10.1093/sf/79.1.165.
https://doi.org/10.1093/sf/79.1.165...
; Mattingly e Blanchi, 2003MATTINGLY, Marybeth & BLANCHI Suzanne M. (2003), “Gender Differences in the Quantity and Quality of Free Time: The U.S. Experience”. Social Forces, 81, 3: 999-1030. DOI: 10.1353/sof.2003.0036.
https://doi.org/10.1353/sof.2003.0036...
). É no contexto destes estudos que Chatzitheochari e Arber (2012)CHATZITHEOCHARI, Stella & ARBER, Sara. (2012), “Class, gender and time poverty: a time-use analysis of British workers’ free time resources”. The British Journal of Sociology, 63, 3: 451-471. DOI: 10.1111/j.1468-4446.2012.01419.x.
https://doi.org/10.1111/j.1468-4446.2012...
se referem à fragmentação do tempo livre como um indicador da má qualidade do tempo. Padrão semelhante é observado na análise do sono, mais fragmentado entre as mulheres (Burgard, 2011BURGARD, Sarah A. (2011), “The Needs of Others: Gender and Sleep Interruptions for Caregivers”. Social Forces, 89, 4: 1189-1216. DOI: 10.1093/sf/89.4.1189.
https://doi.org/10.1093/sf/89.4.1189...
; Hislop e Arber, 2003HISLOP, Jenny & ARBER, Sara. (2003), “Sleepers Wake! the Gendered Nature of Sleep Disruption among Mid-life Women”. Sociology, 37, 4: 695-711. DOI: 10.1177/00380385030374004
https://doi.org/10.1177/0038038503037400...
). Ademais, elas são mais frequentemente sujeitas ao chamado multitasking (Offer e Schneider, 2011OFFER, Shira & SCHNEIDER, Barbara (2011), “Revisiting the Gender Gap in Time-Use Patterns: Multitasking and Well-Being among Mothers and Fathers in Dual-Earner Families”. American Sociological Review, 76, 6: 809-833. DOI: 10.1177/0003122411425170.
https://doi.org/10.1177/0003122411425170...
), que corresponde à realização de atividades simultâneas (por exemplo, trabalho doméstico e de cuidado).

Tal complexidade na lida com o tempo se expressa nas análises qualitativas do dia a dia, como observado por Everingham (2002)EVERINGHAM, Christine. (2002), “Engendering Time. Gender equity and discourses of workplace flexibility”. Time & Society, 11, 2/3: 335-351. DOI:10.1177/0961463X02011002009.
https://doi.org/10.1177/0961463X02011002...
em relação à coordenação das atividades domésticas entre as mulheres, que se antecipam às demandas dos membros da família, organizando as ações com antecedência. A vinculação das mulheres à esfera doméstica gera uma intensa migração de ações e preocupações entre os espaços público e privado, já que elas frequentemente são mães e principais cuidadoras, enquanto exercem o trabalho profissional e vice-versa (Morehead, 2001MOREHEAD, Alison. (2001), “Synchronizing time for work and family: Preliminary insights from qualitative research with mothers”. Journal of Sociology, 37, 4: 355-369. DOI: 10.1177/144078301128756391.
https://doi.org/10.1177/1440783011287563...
).

Uma segunda leva de estudos se refere especificamente ao período da pandemia de COVID-19. Abarca estudos sobre o uso do tempo em diversos países, incluindo o Brasil, e identificam maior tempo dedicado às demandas domésticas e de cuidado entre as mulheres, em especial quando têm filhos (Giurge et al.; 2021GIURGE, Laura M., WHILLANS, Ashley V. & YEMISCIGIL, Ayse. (2021), “A multicountry perspective on gender differences in time use during COVID-19”. Proceedings of the National Academy of Science, 118, 12: e2018494118; DOI: 10.1073/pnas.2018494118
https://doi.org/10.1073/pnas.2018494118...
; Candido et al.; 2021CANDIDO, Marcia Rangel, MARQUES, Danusa, OLIVEIRA, Vanessa Elias de, & BIROLI, Flávia. (2021). “As Ciências Sociais na pandemia da Covid-19: rotinas de trabalho e desigualdades”. Sociologia & Antropologia, 11: 31-65. DOI: 10.1590/2238-38752021v11esp2.
https://doi.org/10.1590/2238-38752021v11...
). Esta leva inclui evidências da redução da produção científica de pesquisadoras no Brasil (Aquino et al.; 2021AQUINO, Estela Maria Leão de, DIELE-VIEGAS, Luisa Maria., PILECCO, Flávia Bulegon., REIS, Ana Paula, MENEZES, Greice Maria de Souza (2021), “Mulheres das ciências médicas e da saúde e publicações brasileiras sobre Covid-19”. Saúde Debate, 45, N Especial 1: 60-72. DOI: 10.1590/0103-11042021E105.
https://doi.org/10.1590/0103-11042021E10...
; Staniscuaski et al.; 2021STANISCUASKI, Fernanda, KMETZSCH, Livia, SOLETTI, Rossana C., REICHERT, Fernanda, ZANDONÀ, Eugenia, LUDWIG, Zelia M. C., LIMA, Eliade F., NEUMANN, Adriana, SCHWARTZ, Ida V. D., MELLO-CARPES, Pamela B., TAMAJUSUKU, Alessandra S. K., WERNECK, Fernanda P., RICACHENEVSKY, Felipe K., INFANGER, Camila, SEIXAS, Adriana, STAATS, Charley C. & OLIVEIRA, Leticia (2021), “Gender, Race and Parenthood Impact Academic Productivity During the COVID-19 Pandemic: From Survey to Action”. Frontiers in Psychology, 12: 663252. DOI: 10.3389/fpsyg.2021.663252.
https://doi.org/10.3389/fpsyg.2021.66325...
) e em outros países (Andersen et al.; 2020ANDERSEN, Jens Peter, NIELSEN, Mathias Wullun, SIMONE, Nicole L., LEWISS, Resa E. & JAGSI, Reshma (2020), “COVID-19 medical papers have fewer women first authors than expected”. eLife, 9: e58807. DOI: 10.7554/elife.58807.
https://doi.org/10.7554/elife.58807...
; Myers et al.; 2020MYERS, Kyle R.; THAM, Wei Yan, YIN, Yian, COHODES, Nina, THURSBY, Jerry G., THURSBY, Marie C., SCHIFFER, Peter, WALSH, Joseph T., LAKHANI, Karim R. & WANG, Dashum. (2020), “Unequal effects of the covid-19 pandemic on scientists”. Nature Human Behaviour, 4: 880-883. DOI: 10.1038/s41562-020-0921-y.
https://doi.org/10.1038/s41562-020-0921-...
) como fruto de um aumento nas desigualdades de gênero que, em si, antecedem a pandemia.

Embora os docentes eventualmente realizem parte das atividades profissionais em casa, a situação vivida na pandemia é marcadamente diferente, pois neste caso (i) não houve um planejamento para a transposição das atividades profissionais para a casa, já que o distanciamento social foi implementado de forma abrupta; (ii) as tarefas domésticas tendem a se ampliar em função da presença de crianças em casa, fruto do fechamento de escolas e creches e, de maneira geral, não se conta com o apoio de empregada doméstica/diarista; e (iii) o trabalho profissional também se modifica, com aumento substancial de atividades realizadas através do computador.

Se qualquer modalidade de trabalho realizado em casa implica uma atenuação dos limites entre a vida profissional e doméstica (Smaha, 2009SMAHA, Hágata Crystie. (2009), Trabalho e família no contexto de teletrabalho: o olhar de teletrabalhadores e seus co-residentes. Tese de Mestrado. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. ), pode-se antever que, na pandemia, o trânsito profissional-doméstico tende a ser experienciado de forma mais intensa pelas mulheres, dada sua vinculação à casa. Neste sentido, o mote central do presente estudo é a perspectiva de que analisar a vivência de docentes universitários que se mantém (e trabalham) em casa durante a pandemia constitui uma oportunidade ímpar de abordar empiricamente as desigualdades de gênero em uma circunstância que pode ser vista como extrema do ponto de vista do excesso de demandas.

O presente estudo busca contribuir para esta discussão, tendo como objeto a vivência de docentes universitários sobre o trabalho em home office durante a pandemia de COVID-19. O artigo está estruturado de forma a apresentar, na primeira parte, o conceito de divisão sexual do trabalho, que embasa teoricamente o estudo, seguido da metodologia, da descrição e análise do material empírico e, por fim, das considerações finais.

A DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO E O CARÁTER INDISSOCIÁVEL DOS TRABALHOS PROFISSIONAL E DOMÉSTICO

Em uma análise das relações entre a Sociologia e o Trabalho, Sorj (2000)SORJ, Bila. (2000), “Sociologia e Trabalho: mutações, encontros e desencontros”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 15, 43: 25-34. DOI: 10.1590/S0102-69092000000200002.
https://doi.org/10.1590/S0102-6909200000...
aponta a contribuição dos estudos de gênero, em especial, em relação à definição de trabalho e seu caráter histórico e cultural. Segundo a autora, além da ampliação da participação de mulheres no mercado de trabalho, o movimento feminista logrou articular um discurso que deu visibilidade à esfera doméstica como campo de disputa. Trata-se de desafiar a noção de que a esfera econômica seja tratada de forma independente das outras esferas da vida, e, portanto, questionar os princípios de separação e hierarquia entre as esferas da produção e reprodução, destinadas, respetivamente, ao homem e à mulher (Hirata e Kergoat, 2008HIRATA, Helena & KERGOAT, Danielle (2008), “Divisão sexual do trabalho profissional e doméstico: Brasil, França e Japão”, in A.O. Costa, B. Sorj, C. Bruschini, H. Hirata, (orgs.), Mercado de trabalho e gênero: comparações internacionais, Rio de Janeiro, FGV.). Sorj (2000)SORJ, Bila. (2000), “Sociologia e Trabalho: mutações, encontros e desencontros”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 15, 43: 25-34. DOI: 10.1590/S0102-69092000000200002.
https://doi.org/10.1590/S0102-6909200000...
aponta para o quanto as diferenças entre homens e mulheres na família influenciam suas chances nos postos de trabalho e ascensão na carreira, ao mesmo tempo em que o espaço doméstico não pode ser visto como um modelo à parte dos constrangimentos do mercado de trabalho, mas serve aos interesses dele. Neste sentido, Federici (2019)FEDERICI, Silvia. (2019), O ponto zero da revolução: trabalho doméstico, reprodução e luta feminista. Tradução Coletivo Sycorax. Editora Elefante. explica como a naturalização desse trabalho doméstico como tarefa feminina sustenta o sistema capitalista de forma gratuita, justificando esse ato em nome do amor.

Dois princípios dão embasamento à divisão sexual do trabalho: o da separação, diferenciação entre os trabalhos tidos como masculinos e femininos, e o hierárquico, que remete ao menor valor do trabalho feminino em função de sua associação a qualidades “natas” da mulher e, por isso, não qualificadas. Mais do que uma diferença, tais princípios evidenciam uma opressão, analisada a partir da década de 1970, em especial, pela sociologia francesa, na tomada de consciência de uma massa de trabalho realizado gratuitamente pelas mulheres para outros, em nome do dever materno (Hirata e Kergoat, 2007HIRATA, Helena & KERGOAT, Danielle. (2007), “Novas configurações da divisão sexual do trabalho”. Cadernos de Pesquisa, 37,132: 595-609. DOI:10.1590/S0100-15742007000300005.
https://doi.org/10.1590/S0100-1574200700...
).

As atividades voltadas para a manutenção da casa e a educação dos filhos têm como base relações afetivas familiares. Ainda que se possa computar o tempo dedicado à casa e aos filhos, este cálculo não logra considerar o conjunto de ações envolvidas nos cuidados, sendo, por isso, avesso à objetificação. É no contexto desta discussão que Hirata e Zarifian (2009)HIRATA, Helena & ZARIFIAN (2009), “Trabalho (o conceito de)”. in H. Hirata, F. Laborie, H. Doaré, D. Senotier (orgs.) Dicionário crítico do feminismo, São Paulo, Unesp. criticam a noção moderna de trabalho, que se baseia na “separação entre uma sequência de operações que podem ser objetificadas e a capacidade humana de realizá-las” (p. 253). Entre o trabalho e a força de trabalho, estaria o tempo, que é utilizado como referência de avaliação da produtividade. Para os autores, por não ser passível de objetificação - como se dá em relação ao trabalho assalariado - o trabalho doméstico não é vinculado à produtividade (Hirata e Zarifian, 2009HIRATA, Helena & ZARIFIAN (2009), “Trabalho (o conceito de)”. in H. Hirata, F. Laborie, H. Doaré, D. Senotier (orgs.) Dicionário crítico do feminismo, São Paulo, Unesp. ). Para Fougeyrollas-Schwebel (2009), oFOUGEYROLLAS-SCHWEBEL, Dominique. (2009), “Trabalho doméstico”. in H. Hirata, F. Laborie, H. Doaré, D. Senotier (orgs.) Dicionário crítico do feminismo, São Paulo, Unesp. trabalho doméstico compreende um conjunto de atividades voltadas para o cuidado de pessoas, que são realizadas essencialmente por mulheres de forma gratuita no contexto familiar. A autora destaca o valor destas atividades, observando que elas são remuneradas quando realizadas fora da família e, portanto, não se pode restringir a sociedade salarial à esfera da produção.

Outro aspecto relevante na literatura de gênero se refere à socialização diferencial em homens e mulheres, que direciona o caminho profissional para distintos lugares, o que é conceitualizado como desigualdade horizontal, concentrando a mão de obra feminina em alguns setores, habitualmente relacionados com o cuidado, e a masculina em outros, mais técnicos. Por sua vez, o termo desigualdade vertical se refere às diferentes possibilidades de ascensão profissional, de tal forma que há uma proporção maior de mulheres nos cargos iniciais, menos valorizados, e proporção muito baixa nos cargos mais altos (Charles, 2003CHARLES, Maria. (2003), “Deciphering sex segregation: Vertical and horizontal inequalities in ten national labor markets”. Acta sociologica, 46,4: 267-287. DOI: 10.1177/0001699303464001.
https://doi.org/10.1177/0001699303464001...
).

Ademais, a responsabilidade pelo trabalho doméstico afeta as outras esferas da vida, reduzindo a disponibilidade de tempo para o trabalho remunerado e gerando desvantagens às mulheres, como o trabalho em tempo parcial ou a descontinuidade do trabalho profissional face às demandas familiares (Oliveira et al.; 2020OLIVEIRA, Thaiane, HOLZBACH, Ariane, GROHMANN, Rafael & Tavares Camilla QUESADA. (2020), “E se os editores de revistas científicas parassem? A precarização do trabalho acadêmico para além da pandemia”. Revista Contracampo, 39, 2, 2-13. DOI: 10.22409/contracampo.v39i2
https://doi.org/10.22409/contracampo.v39...
). É neste sentido que, ao entrar de forma massiva no mercado de trabalho, as mulheres o fazem em uma dupla situação: como assalariadas e como portadoras de condições temporais específicas (Hirata e Zarifian, 2009HIRATA, Helena & ZARIFIAN (2009), “Trabalho (o conceito de)”. in H. Hirata, F. Laborie, H. Doaré, D. Senotier (orgs.) Dicionário crítico do feminismo, São Paulo, Unesp. ). A entrada na esfera do trabalho produtivo/assalariado não exime a mulher do trabalho reprodutivo, o que a força a arcar com o peso da difícil conciliação desses dois trabalhos. Por isso, muitas vezes a carreira profissional implica uma mobilização voltada para a substituição de seu próprio trabalho na esfera doméstica (Fougeyrollas-Schwebel, 2009FOUGEYROLLAS-SCHWEBEL, Dominique. (2009), “Trabalho doméstico”. in H. Hirata, F. Laborie, H. Doaré, D. Senotier (orgs.) Dicionário crítico do feminismo, São Paulo, Unesp.). Tal substituição, por uma rede feminina ou pela terceirização remunerada, remete ao chamado modelo de delegação, que tende a predominar em um segmento da população brasileira como forma de compatibilizar os trabalhos profissional e doméstico (Hirata, 2015HIRATA, Helena. (2015), Mudanças e permanências nas desigualdades de gênero: divisão sexual do trabalho numa perspectiva comparativa. São Paulo: Friedrich-Ebert-Stiftung Brasil.).

Em suma, a questão central trazida pelo conceito de divisão sexual do trabalho é o caráter indissolúvel entre os trabalhos profissional e doméstico, referidos como trabalhos produtivo e reprodutivo, respectivamente, ao longo deste texto.

METODOLOGIA

O material empírico do presente estudo tem por base entrevistas semiestruturadas com dez docentes (quatro homens e seis mulheres) de uma universidade federal no Rio de Janeiro, RJ.3 3 O estudo decorre de adaptações em estudo comparativo de professores de uma universidade pública no Rio de Janeiro e outra, em Salamanca, Espanha, em função da pandemia de COVID-19, considerando seus efeitos à dinâmica de trabalho profissional e doméstico. A escolha de entrevistas semiestruturadas decorreu de sua flexibilidade, facilitando o enraizamento na realidade social e a ligação com a teoria; a possibilidade de criação da história de vida; e a facilitação da captação dos processos individuais, informais e privados exercidos pelos participantes para a mudança social (Thompson, 1980THOMPSON, Paul. (1980), “Des récits de vie à l’analyse du changement social”. Cahiers Internationaux de Sociologie, 69: 249-268.). A entrevista semiestruturada permite estudar uma realidade social e coletiva através de narrativas individuais e vivências singulares e sua situação no lugar coletivo; produz relatos que misturam a descrição da vida cotidiana com reflexões mais gerais sobre a experiência de conciliação entre a vida laboral e pessoal (Schraiber, 1995SCHRAIBER, Lilian Blima. (1995), “Pesquisa qualitativa em saúde: reflexões metodológicas do relato oral e produção de narrativas em estudo sobre profissão médica”. Revista de Saúde Pública, 29, 1:63-74. DOI: 10.1590/S0034-89101995000100010.
https://doi.org/10.1590/S0034-8910199500...
); e demanda uma atualização constante do roteiro fundamentado na avaliação subjetiva das possibilidades do diálogo.

O convite aos professores se deu a partir de contato pessoal de uma das pesquisadoras, tendo como critério professores(as) da Universidade Federal do Rio de Janeiro que viviam com o(a) cônjuge, em união heterossexual e tinham pelo menos um(a) filho(a) de até 10 anos.

A Tabela 1 que se segue descreve as principais características do grupo estudado. Na descrição dos resultados, utilizamos nomes fictícios. Os dados relativos aos filhos se referem àqueles que moram com os(as) docentes.

Tabela 1
- Dados relativos aos participantes da pesquisa no momento da realização da entrevista.

As entrevistas, virtuais, foram realizadas nos meses de março e abril de 2020, via Skype, com duração de entre uma e duas horas a partir de um roteiro que explorava as mudanças experimentadas no âmbito profissional, doméstico e de saúde, indagando como se relacionavam com essas esferas antes e depois da pandemia de COVID-19. O roteiro (Anexo I) abordava o trabalho produtivo, as rotinas e atividades realizadas antes e, também, durante a pandemia e o distanciamento social, para tentar captar a vivência dessa experiência. Perguntamos sobre as mudanças decorrentes da experiência da pandemia, com o autocuidado, o cuidado da casa e das crianças. Ademais, buscamos captar como se vivenciou o momento pandêmico e as mudanças experimentadas no mundo privado e público, o que dialoga com as questões de gênero, de nosso interesse.

As entrevistas foram gravadas em áudio com o consentimento dos docentes, mediante o uso do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), no qual as pesquisadoras se comprometeram com a confidencialidade do material obtido. O projeto respeitou os preceitos éticos de pesquisas com seres humanos, tendo sido aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa das instituições às quais é vinculado.

A partir da transcrição integral e literal das entrevistas, foi realizada a análise temática de cada uma individualmente, mediante leitura repetidas e uma sequência de etapas através das quais se buscou identificar significados e padrões, o que permite organizar os temas detalhadamente (Braun & Clarke, 2006BRAUN, Virginia & CLARKE, Victoria (2006), “Using thematic analysis in psychology”. Qualitative research in psychology, 3, 2: 77-101. DOI: 10.1191/1478088706qp063oa.
https://doi.org/10.1191/1478088706qp063o...
). Posteriormente, foi realizada uma análise comparativa do conjunto das entrevistas para extrair os temas gerais que emergiram como mais relevantes. Entre as categorias analisadas, apresentamos no presente artigo os resultados relacionados à experiência do home office e os efeitos no âmbito das atividades domésticas.

A ANÁLISE DO MATERIAL EMPÍRICO

A intensificação do trabalho profissional e as adaptações no espaço doméstico

As atividades profissionais durante o período de distanciamento social são todas as que compõem o trabalho de docentes de universidades públicas, isto é, aquelas ligadas à docência, pesquisa, extensão e gestão. Entre estas atividades, os cursos de extensão nem sempre foram mantidos, a depender do programa. No momento de realização das entrevistas, na fase inicial da pandemia, a docência abrangia apenas cursos de pós-graduação, já que as aulas na graduação haviam sido interrompidas, exceto no caso de dois docentes do quadro de entrevistados que também trabalham em universidade privada, na qual ministram aulas para a graduação.

A essas atividades se somam muitas reuniões, em especial, com o objetivo de entender o momento de pandemia e as implicações para a prática universitária. As atividades relatadas se referem a tarefas administrativas, reuniões do grupo de estudos, orientações, participação em bancas, realização de pareceres, atividades de extensão, elaboração de projetos de pesquisa, redação de artigos, preenchimento de formulários da universidade e aulas de pós-graduação.

A faculdade está tendo muita reunião. Então às vezes eu vejo que estou em duas reuniões ao mesmo tempo no computador e no celular, eu boto em silencioso, falo em uma, volto na outra... tá uma loucura [Débora, 45 anos, filha de 3 anos] (Débora, 2020DÉBORA (nome fictício) Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 13 de março 2020. Telemática (Skype). ).

A sensação pessoal é de muito mais trabalho, mais cansaço e menor satisfação. A isso se junta a preocupação pelo aumento da instabilidade laboral em função de decisões a serem tomadas durante a pandemia, em particular em relação ao retorno às aulas, o que aumentaria a preocupação e, ao mesmo tempo, a ocupação com reuniões.

A gente fica em uma espécie de susto contínuo em relação a quê que a gente faz, que ações a gente deve tomar, sempre achando que alguém vai fazer uma pegadinha e tirar o tapete, não importa qual decisão você tome, se retoma as aulas, se não retoma, o quê que exatamente vai contribuir para as coisas se reforçarem no sentido positivo ou se enfraquecerem, se precarizarem. Então isso está muito pesado, é um a mais nessa coisa do trabalho, que é mais preocupação às vezes, mas também tem muita ocupação com muita reunião. Então é isso, a gente está acho que intensamente trabalhando [Flávia, 42 anos, filho de 7 e filha de 11 anos] (Flávia, 2020FLÁVIA (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 10 de março 2020. Telemática (Skype).).

Quanto à rotina durante o distanciamento social, há participantes que conseguiram implementar um dia-a-dia mais estável de trabalho e outros que não conseguiram se organizar dessa forma. As professoras que não têm uma rotina estável (Flávia, 2020FLÁVIA (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 10 de março 2020. Telemática (Skype).; Júlia, 2020JÚLIA (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 14 de abril 2020. Telemática (Skype).; Márcia, 2020MÁRCIA (nome ficticio). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 30 de março 2020. Telemática (Skype).) organizaram o tempo de trabalho produtivo em função da carga de trabalho desse dia, da carga de trabalho do companheiro e das reuniões que não tinham sido programadas e que interrompiam qualquer atividade que estivesse em curso.

A rotina fica mais desorganizada né, assim, primeiro porque surgem muitas reuniões urgentes, então muita reunião de improviso, mas também em casa né, é uma dinâmica que eu tenho que me adequar, eu tenho que adequar o meu tempo de trabalho aos demais (...) isso tem intensificado a expropriação do nosso tempo de vida em função do tempo de trabalho, tenho sentido muito isso, assim, que acaba que a nossa vida particular se mistura de tal forma com o trabalho que é praticamente impossível a gente fazer uma cisão (...) então assim, não tem como ter uma rotina, né, a gente vai adequando as atividades com as questões domésticas e com a presença das crianças e de todos os componentes da família em casa [Márcia, 33 anos, filha de 7 anos e enteado de 12 anos] (Márcia, 2020MÁRCIA (nome ficticio). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 30 de março 2020. Telemática (Skype).).

Só dois participantes (homens) referem uma menor carga de trabalho durante esse período de isolamento social, e isso parece ser devido a uma maior atuação em centros de ensino superior privados, que demandariam do professor apenas atividades ligadas ao magistério. Na universidade pública eles referem se ocupar com a pesquisa, o que fariam de uma forma mais tranquila nesses momentos de distanciamento. Eles não relatam a participação em reuniões com os colegas de trabalho como uma atividade na qual se envolvem nesses momentos, como é referido por outros participantes.

Importa ainda assinalar um ponto positivo nesse distanciamento em relação a ganhos para o trabalho produtivo, porque haveria também um tempo não gasto nos deslocamentos:

Eu nunca teria escrito em um semestre dois capítulos de livro e um artigo, nunca. Acho que facilita algumas coisas, facilitou porque a gente tem um monte de tempo não gasto. Os 40 minutos que eu levo pra ir e voltar à aula de pilates, não gasto. A hora que me leva andar para a universidade e voltar, faço compras uma vez a cada 15 dias... Então a gente se organiza de outra forma e ganha um monte de tempo. Ao mesmo tempo, eu tenho muito mais tempo lendo o Harry Potter, brincando de lego, enfim. E outras tarefas são totalmente impossibilitadas, tipo a extensão não existe [Júlia, 43 anos, um filho de 6 anos] (Júlia, 2020JÚLIA (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 14 de abril 2020. Telemática (Skype).).

Vemos como o home office intensifica o trabalho produtivo com a multiplicação de reuniões, sendo mais cansativo pela grande quantidade de exposição à tela, por eventuais problemas de conexão à internet e pela falta de desconexão do trabalho durante o dia. Produz-se um aumento da ansiedade pela intensidade, a extensão e os horários das reuniões, que não levam em consideração as necessidades domésticas. Essa angústia ficaria ainda incrementada pela necessidade de dar resposta às interrupções das exigências domésticas, como descrito no item que se segue.

Você tem que organizar a casa pra fazer a tua atividade. Então, e assim, mesmo assim quando você organiza tudo, mesmo assim às vezes no meio da reunião cai a internet, acontece alguma coisa que atrapalha, né, e isso é muito comum. Um outro tipo de atividade, né, não dá pra comparar com a atividade que eu desenvolvia e com os horários que eu me organizava antes da pandemia e depois. É bem difícil essa organização, não é nada fácil [Cláudio, 42 anos, um filho de 2 anos] (Cláudio, 2020CLÁUDIO (nome fictício) Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 11 de março 2020. Telemática (Skype).).

Antigamente às onze horas era um horário que era intermediário entre as aulas, agora não, é horário do almoço, você tem que preparar almoço, dar... eu não tenho participado muito, chutei o pau da barraca, sei que o meu diretor, que não tem filho, que é solteiro, já andou até falando mal de mim, mas não estou nem aí, e outras eu participo assim, eu ponho meu telefone, tiro a minha imagem, tiro o meu som, fico ouvindo e vou fazendo as coisas da casa. Mas é estressante isso, você imagina… [Kalena, 47 anos, dois filhos de 4 e 12 anos] (Kalena, 2020KALENA (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 3 de abril 2020. Telemática (Skype).).

Na criação de um espaço de trabalho em casa, os apartamentos foram transformados em ambientes de trabalho dos adultos e, às vezes, também escolas para as crianças. Só em um caso há um escritório compartilhado pelo casal. Nos outros, os quartos se transformaram em escritório, da mesma forma que a sala, os quartos infantis ou a varanda, pois em ocasiões os dois cônjuges precisariam trabalhar ou ter reunião ao mesmo tempo.

Nessa distribuição, alguns relatos apontam para a priorização do trabalho produtivo do homem em detrimento do da mulher, como no caso de Roberto. Na definição do espaço, são feitas, inclusive, negociações que envolvem a disponibilidade do professor para cuidar da filha em troca do escritório, como descreve Roberto (2020)ROBERTO (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 7 de abril 2020. Telemática (Skype)..

Um filho fica na sala, a sala acaba que é dominada por ele, dois filhos acabam ficando no quarto que seria dos meninos, e o quarto da menina acaba sendo ocupado pela mãe, nessa época de home office, pra me deixar o quarto um pouco mais à disposição [Roberto, 53 anos, filhos de 9, 11 e 15 anos] (Roberto, 2020ROBERTO (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 7 de abril 2020. Telemática (Skype).).

Na minha casa eu tenho um escritoriozinho. (...), agora ele só está comigo e ela criou um escritório temporário no nosso quarto. Fora dos meus horários de trabalho no outro emprego, eu estou meio que à disposição dela pra cuidar da filha nos afazeres de casa. É assim que funciona. Daí em troca ela me deixou o escritoriozinho pra poder escrever e ter um canto em paz [Perceu, 45 anos, filha de 3 anos] (Perceu, 2020PERCEU (nome ficticio). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 2 de abril 2020. Telemática (Skype).).

O trabalho doméstico

Entre os participantes, há unanimidade quanto à visão de que o trabalho em home office se apresenta bem diferente para mulheres e homens, pois o trabalho doméstico pesa mais sobre elas. Algumas delas passaram a se ocupar sozinhas da casa, já que deixaram de contar com a empregada doméstica ou a babá por conta da pandemia, geralmente outra mulher. Em tempos de “normalidade”, este era um pilar que sustentava a rotina familiar, e o companheiro não teria a mesma responsabilidade, participando esporadicamente quando solicitado. Outras docentes indicam que dividem equitativamente com o parceiro a realização braçal dos afazeres domésticos, mas são elas que fazem a gestão e organização desse trabalho. Ainda, a demanda das crianças seria maior para elas, o que também evidencia uma maior carga mental e ocupação na esfera reprodutiva.

Com a pandemia, além de geralmente haver menos pessoas envolvidas no trabalho doméstico dada a ausência de empregada doméstica ou diarista, a forma de comprar produtos alimentícios mudou, fazendo-se compras maiores e com menos frequência. Havia, ainda, a necessidade de higienizar os produtos que vêm da rua, lavar bem as mãos quando se volta à casa e fazer mais frequentemente a faxina.

Então ou você vai mantendo uma rotina, o tempo inteiro, de estar o tempo inteiro cuidando disso, ou se não vira um caos invivível. Mas a gente limpa muito mais a casa agora do que limpava no nosso cotidiano anterior [Júlia, 43 anos, um filho de 6 anos] (Júlia, 2020JÚLIA (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 14 de abril 2020. Telemática (Skype).).

A carga de trabalho doméstico, a vivência das dificuldades e o relaxamento das medidas de confinamento levaram quatro dos nove participantes que contavam com apoio para o trabalho reprodutivo a chamarem de volta a empregada doméstica para trabalhar alguns dias na semana ainda no início da pandemia, diminuindo ou mantendo a carga de trabalho anterior à pandemia.

Sempre foi assim [o marido que não faz coisas em casa e está pouco atento aos filhos], e agora tá pior. Porque antes a empregada doméstica ela cobria né [ia todos os dias]. Eu até estou pagando Uber pra ela vir duas vezes por semana. Ela faz a limpeza da casa (...) e também cuida das crianças pra naqueles dois dias eu dar muito foco ao trabalho. Eu arrumei uma moça que faz a comida e eu tenho a maior parte congelada [Kalena, 47 anos, dois filhos de 4 e 12 anos] (Kalena, 2020KALENA (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 3 de abril 2020. Telemática (Skype).).

Uma participante do nosso quadro de entrevistados divide esse trabalho doméstico com o companheiro, sem se valer da terceirização do trabalho de outras mulheres como apoio.

Eu diria que foi negociada, foi meio denunciada por mim. Eu fui denunciando e aí tinha uma disposição para assumir, ele foi entendendo por onde passava a divisão sexual do trabalho. Tipo ele limpa o banheiro, mas alguém tem que falar que o banheiro está sujo. isso também é divisão sexual do trabalho [Júlia, 43 anos, um filho de 6 anos] (Júlia, 2020JÚLIA (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 14 de abril 2020. Telemática (Skype).).

Outros docentes se afastaram mais dessa distribuição mais equitativa. Algumas participantes procuraram essa corresponsabilização do companheiro realizando quadros com a divisão de tarefas, conversando, com brigas, mas eles descumpriam. Outros participantes tinham um acordo de deixar pesar mais essa carga para um lado, para a outra parte poder se liberar do trabalho doméstico e focar mais no produtivo. Outra situação que aparece em um relato é a descrição de trabalho doméstico da companheira como se fosse um lazer ou uma característica da personalidade dela, o que “naturalmente” retira essa função da parte masculina do casal.

A minha esposa ela tem muito isso, ela... ela toda hora tá limpando a casa, né, tá... a minha casa junta muita poeira mesmo, então, isso quem faz é ela [Roberto, 53 anos, filhos de 9, 11 e 15 anos] (Roberto, 2020ROBERTO (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 7 de abril 2020. Telemática (Skype).).

Quando você conflitua, quando você encurrala, a pessoa toma mais uma atitude, faz mais alguma coisa e tal, mas aí relaxa de novo, e aí sempre esse desgaste de você ter que ficar cobrando né [Márcia, 33 anos, filha de 7 anos e enteado de 12 anos] (Márcia, 2020MÁRCIA (nome ficticio). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 30 de março 2020. Telemática (Skype).).

Todos consideram que o trabalho doméstico é trabalho, por ser indispensável, cansativo e exigir grande quantidade de energia tanto física, quanto mental, mas não é considerada uma atividade qualificada o suficiente para justificar eventuais falhas em relação ao trabalho produtivo.

Se eu tiver me sentindo pressionado, e tiver falando com meu chefe, é... eu não sei se eu vou caracterizar essas atividades como um trabalho, eu chegar pra ele e falar 'pô, estou com muito trabalho em casa'. Por quê? Porque eu parto de um certo foro de que todo mundo tem que fazer isso, né. Se a gente dividiu mal a tarefa com os filhos e sobra muito pra gente, é porque a gente conduziu errado. Eu considero trabalho porque é uma coisa em que a gente envolve energia, a gente quer ver o resultado daquilo ali, a gente sabe que sem aquilo ali, né, os outros objetivos vão estar comprometidos [Roberto, 53 anos, filhos de 9, 11 e 15 anos] (Roberto, 2020ROBERTO (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 7 de abril 2020. Telemática (Skype).).

Na fala do participante, entende-se que o fato de não incluir o trabalho reprodutivo como justificativa frente ao trabalho produtivo é um ato de invisibilização e desvalorização das demandas domésticas.

Nem todos se ocupam do trabalho reprodutivo ou na mesma medida, como vemos nas falas de nosso quadro de participantes. Usualmente, esse trabalho é feito em maior medida pelas mulheres da família - trabalho doado por amor à família, ou é delegado. A delegação, porém, ficou prejudicada durante a pandemia, o que complica o cenário doméstico para as famílias que compõem o estudo.

O cuidado das crianças

A presença das crianças em casa aumenta o tempo dedicado aos cuidados, isto é, a necessidade de as alimentar, dar banho, lavar os dentes, entreter, colocá-las para dormir. Aumentou, também, o envolvimento com a atividade escolar, com acompanhamento de aulas online e de deveres de casa. Restringiram-se o número de pessoas envolvidas no cuidado diário (babá, avôs, tias, tios, amigos...) e o contato com outras crianças. Assim, se por um lado, existiram os custos da convivência em família as 24 horas do dia, com o inevitável aumento de trabalho de cuidados e a consequente interrupção do trabalho produtivo, de outro lado, aumentou muito o contato com os filhos e filhas e o acompanhamento e a participação na vida das crianças por parte de pais e mães, o que é vivenciado positivamente, mas reconhecido como aspecto que prejudica a rotina.

Uma coisa foi positiva nisso tudo, sempre tem algo... as coisas que acontecem nunca são só coisa negativa, tem coisa positiva também né? É que a gente tá acompanhando o crescimento dele né o tempo todo, e eu tô achando legal isso né, é muito legal ele tá desenvolvendo mais a fala agora e você acompanhar esse processo o tempo todo é muito interessante [Cláudio, 42 anos, filho de 2 anos] (Cláudio, 2020CLÁUDIO (nome fictício) Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 11 de março 2020. Telemática (Skype).).

A rotina é mais ou menos (). Assim, porque as crianças estão em casa. () Então com as crianças em casa elas não estão na escola, a gente precisa dar atenção a elas né a todo momento, então é difícil nesse aspecto [Fernando, 45 anos, filhas de 2 e 4 anos] (Fernando, 2020FERNANDO (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 22 de abril 2020. Telemática (Skype).).

A simultaneidade do trabalho produtivo e de cuidados, o fato de a criança estar em casa enquanto os adultos trabalham, produz um sentimento de culpabilidade nas mães participantes, mais do que nos pais, por não conseguir dar a atenção que os (as) filhos(as) requerem, o que veio a aumentar nesse período.

[O mais novo]“não tá com rotina, tá assim absolutamente em youtube, e em televisão, jogos, se sente carente, pede para ter amiguinhos para jogar com ele, pede para a gente jogar com ele. Eu me sinto absolutamente culpada por não conseguir dar a devida atenção para ele [Kalena, 47 anos, filhos de 4 e 12 anos] (Kalena, 2020KALENA (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 3 de abril 2020. Telemática (Skype).).

Bom, o fato de ela não ir mais pra escola de manhã, né? Ela demanda bem mais a atenção da gente. Minha esposa ainda se mortifica um pouco, mas a gente não consegue dar toda a atenção que ela quer. Eu meio que fiz as pazes com isso, eu tô fazendo o meu possível [Perceu, 45 anos, filha de 3 anos] (Perceu, 2020PERCEU (nome ficticio). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 2 de abril 2020. Telemática (Skype).).

O efeito das aulas online na rotina familiar depende fundamentalmente da idade da criança. Quando elas são menores e ainda precisam de ajuda para ligar o computador, acompanhar a aula, fazer os “desafios”, são as mães que costumam assumir esta atribuição, precisando encaixar essa aula nos próprios “deveres”, além do trabalho de casa da criança.

Deu meio-dia e quarenta e cinco, minha filha vai pro quarto dela e ela fica lá, ela sai rapidamente no intervalo, faz um lanche, volta, e termina cinco horas. Então quando ela vai nesse fluxo melhorou muito pra gente, porque a gente teve um pouco mais maleabilidade. Mas, por exemplo, o grande problema é com o filho mais novo. Porque ele está em alfabetização ainda, na verdade, ele não sabe ler, então ele não sabe fazer as coisas sozinho, fora que ainda não tem autonomia total pra isso. E as atividades dele exigem nossa presença. Então tem uma certa luta aqui entre eu e meu marido que é: ‘quem vai fazer o dever hoje com ele?’, fica essa coisa... [Flávia, 42 anos, filho de 7 e filha de 11 anos] (Flávia, 2020FLÁVIA (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 10 de março 2020. Telemática (Skype).).

Seria difícil estabelecer uma rotina estável com as crianças. Além dessas aulas online, que ajudam a estruturar um pouco o dia a dia, as crianças brincam, veem televisão, se entretêm com jogos eletrônicos. Na tentativa de construção dessa rotina de dedicação ao trabalho produtivo e ao de cuidados, alguns participantes conseguem trabalhar enquanto o(a) filho(a) fica sozinho(a) brincando e vão dando atenção quando demandados(as). Outros, como apontamos acima, dividem o tempo com o(a) parceiro (a) para um dos dois ficar com a criança enquanto o outro trabalha. Ainda assim, as crianças estão assistindo muito mais televisão e usando mais joguinhos eletrônicos, pois são meios usados para fazê-las prescindir da atenção direta do pai/da mãe permitindo a eles atender às demandas do trabalho produtivo.

A televisão virou a babá dela. Antes a gente conseguia controlar a televisão pra uma hora/ uma hora e meia por dia no máximo. Mas hoje está descontrolado [Perceu, 45 anos, filha de 3 anos] (Perceu, 2020PERCEU (nome ficticio). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 2 de abril 2020. Telemática (Skype).).

Interdependência entre as esferas profissional e doméstica - maior carga mental para as mulheres?

O trabalho reprodutivo, considerando as tarefas domésticas e de cuidados, descansa nos ombros da mulher na relação do casal. Globalmente, elas dedicam 3,2 vezes mais horas do que os homens ao trabalho doméstico não remunerado (Katsabian, 2020KATSABIAN, Tammy (2020), “The Telework Virus: How the COVID-19 Pandemic Has Affected Telework and Exposed Its Implications for Privacy and Equality”. Available at SSRN 3684702. ), predominância também observada nos dados do uso do tempo relativos ao Brasil (Bandeira e Preturlan, 2016BANDEIRA, Lourdes Maria & PRETURLAN, Renata Barreto (2016), “As pesquisas sobre uso do tempo e a promoção da igualdade de gênero no Brasil”, in: N. Fontoura & C. Araújo (orgs.), Uso do tempo e gênero, Rio de Janeiro: UERJ.). Em função das expectativas sobre a atuação de mulheres e homens na esfera privada e profissional que precedem a pandemia, as mulheres parecem ter sido mais afetadas pela pandemia (Katsabian, 2020KATSABIAN, Tammy (2020), “The Telework Virus: How the COVID-19 Pandemic Has Affected Telework and Exposed Its Implications for Privacy and Equality”. Available at SSRN 3684702. ).

A pandemia e o distanciamento social colocam em relevo o peso do trabalho reprodutivo (Guedes e Cordeiro, 2020GUEDES, Moema de Castro & CORDEIRO, Marina de Carvalho. (2020), “Confinamento, desigualdade e trabalho: o cuidado como atributo feminino”. Disponível em: http://ppgcs.ufrrj.br/wp-content/uploads/2020/07/Confinamento-desigualdade-e-trabalho-o-cuidado-como-atributo-feminino_Moema-e-Marina.pdf. Acesso em 23/10/2020
http://ppgcs.ufrrj.br/wp-content/uploads...
) em domicílios cujos moradores, neste caso, integram a classe média do Rio de Janeiro e detêm um trabalho produtivo que pode ser realizado em casa. O aumento exponencial de reuniões dificultou a almejada conciliação entre o trabalho produtivo e reprodutivo, pois muitas vezes os horários das atividades de trabalho não contemplam os horários que seguem as rotinas de cuidados, como relata Kalena (2020)KALENA (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 3 de abril 2020. Telemática (Skype). sobre a participação em reunião enquanto prepara o almoço. Seja pelo aumento do número de horas gastas com o trabalho doméstico, seja porque este é desempenhado no mesmo ambiente que o trabalho produtivo, a situação vivida no home office evidencia a interdependência entre essas duas esferas da vida.

O trabalho produtivo realizado em casa não facilita a conciliação no momento de pandemia, apesar de aumentar a flexibilidade laboral. Entre as professoras, essa flexibilidade produz a sensação de estar sempre com a cabeça ocupada com o trabalho, mesmo quando estão realizando atividades não relacionadas à esfera produtiva. Como na pesquisa conduzida por Cordeiro (2013)CORDEIRO, Marina de Carvalho (2013). Você tem tempo?”: Uma análise das vivências temporais dos cientistas sociais na sociedade contemporânea (Doctoral dissertation, Tese (Doutorado)-Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro. Disponível em: https://circuitoacademico.files.wordpress.com/2014/06/voce-tem-tempo-marina-de-carvalho-cordeiro-tese.pdf
https://circuitoacademico.files.wordpres...
, também em relação a docentes universitários, observamos que as mulheres despendem mais tempo com o trabalho doméstico e de cuidados, o que afeta o trabalho produtivo, manifestando-se como uma tensão entre os dois tempos, fazendo tarefas das duas esferas simultaneamente. Ações simultâneas ou mesmo a rápida transição de uma atividade a outra são associadas a sofrimento psicológico e emoções negativas (Offer e Schneider, 2011OFFER, Shira & SCHNEIDER, Barbara (2011), “Revisiting the Gender Gap in Time-Use Patterns: Multitasking and Well-Being among Mothers and Fathers in Dual-Earner Families”. American Sociological Review, 76, 6: 809-833. DOI: 10.1177/0003122411425170.
https://doi.org/10.1177/0003122411425170...
). Assim, a experiência de trabalhar em home office durante o distanciamento social foi muito estressante, cansativa e geradora de ansiedade, em especial entre as mulheres.

As ações relacionadas ao cuidado de outros estão entre as que mais demandam tempo (Mattingly e Blanchi, 2003MATTINGLY, Marybeth & BLANCHI Suzanne M. (2003), “Gender Differences in the Quantity and Quality of Free Time: The U.S. Experience”. Social Forces, 81, 3: 999-1030. DOI: 10.1353/sof.2003.0036.
https://doi.org/10.1353/sof.2003.0036...
; McGinnity e Russell, 2008MCGINNITY Frances & RUSSELL, Helen. (2008), Gender Inequalities in Time Use The Distribution of Caring, Housework and Employment Among Women and Men in Ireland. Dublin, Irlanda, The Equality Authority and The Economic and Social Research Institute.; Ramos, 2009RAMOS, Daniela Peixoto. (2009), “Pesquisas de usos do tempo: um instrumento para aferir as desigualdades de gênero”. Estudos Feministas, 17, 3: 861-870. DOI: 10.1590/S0104-026X2009000300014
https://doi.org/10.1590/S0104-026X200900...
) e, geralmente, têm um caráter inadiável, por se referirem a necessidades de outros (Stradzins et al.; 2011). A este respeito, cabe destacar a dimensão política do tempo, já que tanto os estudos quantitativos, como as abordagens qualitativas evidenciam o menor poder das mulheres para fazer face a demandas temporais, dada a sua vinculação à esfera doméstica. Assim, mais do que uma medida de horas e minutos, ou de seus aspectos qualitativos, o tempo é objeto de controle e negociação face a interesses conflitantes (Tammelin, 2009TAMMELIN, Mia. (2009), Working Time and Family Time. Experiences of the Work and Family Interface among Dual-Earning Couples in Finland. Dissertação acadêmica, Faculty of Social Sciences of the University of Jyväskylä. University Library of Jyväskylä. Jyväskylä. ), podendo ser visto como eixo que sustenta desigualdades políticas, econômicas e sociais (Bryson, 2016BRYSON, Valerie. (2016), “Time, Power and Inequalities”. in A. Hom, C. McIntosh, A. McKay, L Stockdale (orgs.) Time, Temporality and Global Politics, Bristol, Reino Unido, E-International Relations.).

Federici (2019)FEDERICI, Silvia. (2019), O ponto zero da revolução: trabalho doméstico, reprodução e luta feminista. Tradução Coletivo Sycorax. Editora Elefante. ressalta o quanto a reprodução dos seres humanos se traduz no trabalho mais intenso que existe, porque é ligado diretamente à vida. Envolve afetos, não sendo possível a substituição pela tecnologia, como ocorre com algumas parcelas do trabalho doméstico, e nos envolve muito mais como seres humanos, gerando preocupações e carga mental. Esta situação remete à análise empreendida por Haicault (1984)HAICAULT, Monique. (1984), “La gestion ordinaire de la vie en deux.Sociologie du Travail, Association pour le développement de la sociologie du travail”, 26, Travail des femmes et famille, 3: 268-277. sobre a tensão constante das mulheres para ajustar temporalidades e espaços da esfera privada e pública, que se influenciam mutuamente.

Durante a pandemia, o espaço doméstico se transformou para adaptá-lo ao trabalho profissional. Não se trata somente de ter uma escrivaninha, mas deveria ser um espaço privado, com os instrumentos de trabalho adequados e boa conexão à internet. Além disso, é comum precisar criar vários espaços de trabalho, em função da coexistência dos adultos que trabalham produtivamente e das crianças com aulas online. Assim, são ocupados os quartos, as salas, a varanda. Em dois relatos, é priorizado o espaço de trabalho masculino. Perceu (2020)PERCEU (nome ficticio). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 2 de abril 2020. Telemática (Skype). e Roberto (2020)ROBERTO (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 7 de abril 2020. Telemática (Skype). ficaram com o espaço de trabalho principal (seja escritório ou o quarto principal com escrivaninha); a esposa é quem vai procurar e criar outro espaço, normalmente no quarto dos filhos ou na sala. Evidenciamos, assim, a priorização e o resguardo do trabalho profissional do marido articulados à desvalorização do trabalho social produtivo da mulher, uma vez que o espaço que esta ocupa favorece a interrupção do trabalho profissional em função das crianças ou das necessidades da casa, retratando de forma inequívoca o caráter relacional das desigualdades geradas pela divisão sexual do trabalho (Hirata e Kergoat, 2007HIRATA, Helena & KERGOAT, Danielle. (2007), “Novas configurações da divisão sexual do trabalho”. Cadernos de Pesquisa, 37,132: 595-609. DOI:10.1590/S0100-15742007000300005.
https://doi.org/10.1590/S0100-1574200700...
).

Compartilhar o espaço com a família e com o trabalho profissional coloca mães e pais em uma posição de “estar ausente em presença” (Oliveira, 2020OLIVEIRA, Anita Loureiro de. (2020), “A espacialidade aberta e relacional do lar: a arte de conciliar maternidade, trabalho doméstico e remoto na pandemia da covid-19”. Revista Tamoios, 16, 1: 154-166. DOI: 10.12957/tamoios.2020.50448.
https://doi.org/10.12957/tamoios.2020.50...
; p 161), o que exigiria um esforço emocional adicional. Por isso é importante ter um espaço próprio para trabalhar, que permita também a disponibilidade de tempo e concentração para desenvolver satisfatoriamente o trabalho intelectual. Em uma reflexão sobre a reorganização do trabalho no meio acadêmico durante o isolamento social, Castro e Chaguri (2020)CASTRO, Barbara & CHAGURI, Mariana Miggiolaro. (2020), “Gênero, tempos de trabalho e pandemia: por uma política científica feminista”. Linha Mestra, 41a: 23-31. DOI: 10.34112/1980-9026a2020n41ap23-31
https://doi.org/10.34112/1980-9026a2020n...
argumentam sobre a necessidade de um espaço individual, que permitiria às mulheres ter um tempo só para si, condição imprescindível para a concentração e o trabalho criativo. Produzir esse tempo para o trabalho poderia ajudar a gerar uma rotina, porém, como vemos nos relatos, é difícil contar com tempo mais ou menos prolongado, sem interrupções. Ainda quando se busca dividir o tempo, as rotinas são muito variáveis e interrompidas, o que remete à interpretação de Leroy et al. (2021)LEROY, Sophie, SCHMIDT, Aaron M. & MADJAR, Nora. (2021), “Working From Home During COVID-19: A Study of the Interruption Landscape”. Journal of Applied Psychology, 106, 10: 1448-1465. DOI: 10.1037/apl0000972.
https://doi.org/10.1037/apl0000972...
sobre as interrupções em função de demandas de outras pessoas em casa, que constituem importante fonte das iniquidades de gênero em trabalhadores em home office.

A divisão desigual do espaço entre os professores e professoras tende a afetar a concentração e o foco, repercutindo na produção intelectual de docentes universitários. Estudos empíricos brasileiros confirmam diferenças de gênero na produção científica durante a pandemia. Assim, a produção cientifica das mulheres diminuiu em relação ao período anterior, de “normalidade”, e em comparação com os homens, principalmente, como primeira autora de um trabalho científico (Candido e Campos, 2020CANDIDO, M. R. & CAMPOS, L. A. (2020) Pandemia reduz submissões de artigos acadêmicos assinados por mulheres, Blog DADOS. [published 14 May 20] Disponível em: http://dados.iesp.uerj.br/pandemia-reduz-submissoes-de-mulheres/ Consultado em: 18 julho 2022.
http://dados.iesp.uerj.br/pandemia-reduz...
). Staniscuaski et al. (2021)STANISCUASKI, Fernanda, KMETZSCH, Livia, SOLETTI, Rossana C., REICHERT, Fernanda, ZANDONÀ, Eugenia, LUDWIG, Zelia M. C., LIMA, Eliade F., NEUMANN, Adriana, SCHWARTZ, Ida V. D., MELLO-CARPES, Pamela B., TAMAJUSUKU, Alessandra S. K., WERNECK, Fernanda P., RICACHENEVSKY, Felipe K., INFANGER, Camila, SEIXAS, Adriana, STAATS, Charley C. & OLIVEIRA, Leticia (2021), “Gender, Race and Parenthood Impact Academic Productivity During the COVID-19 Pandemic: From Survey to Action”. Frontiers in Psychology, 12: 663252. DOI: 10.3389/fpsyg.2021.663252.
https://doi.org/10.3389/fpsyg.2021.66325...
analisaram a produção científica de mais de 3000 pesquisadores(as) considerando a submissão de artigos como planejado e o cumprimento de prazos. Os homens sem filhos constituem o grupo menos afetado, sendo as mulheres negras as mais afetadas. A parentalidade tem influência na resposta dos docentes, em especial, entre as mulheres. Em estudo com cientistas sociais, Candido et al. (2021)CANDIDO, Marcia Rangel, MARQUES, Danusa, OLIVEIRA, Vanessa Elias de, & BIROLI, Flávia. (2021). “As Ciências Sociais na pandemia da Covid-19: rotinas de trabalho e desigualdades”. Sociologia & Antropologia, 11: 31-65. DOI: 10.1590/2238-38752021v11esp2.
https://doi.org/10.1590/2238-38752021v11...
também apontam neste sentido, sendo as mulheres, principalmente negras, as mais afetadas na realização profissional e os homens brancos, os menos afetados. A área da Antropologia se mostrou a mais prejudicada. Já o cômputo da produção científica brasileira sobre a COVID-19 na área das Ciências Médicas e de Saúde aponta para a ampliação das desigualdades de gênero que precedem a pandemia (Aquino et al.; 2021AQUINO, Estela Maria Leão de, DIELE-VIEGAS, Luisa Maria., PILECCO, Flávia Bulegon., REIS, Ana Paula, MENEZES, Greice Maria de Souza (2021), “Mulheres das ciências médicas e da saúde e publicações brasileiras sobre Covid-19”. Saúde Debate, 45, N Especial 1: 60-72. DOI: 10.1590/0103-11042021E105.
https://doi.org/10.1590/0103-11042021E10...
).

Assim, nossos dados apontam para resultados similares aos da literatura no que concerne aos arranjos tradicionais, na medida em que é a mulher a integrante do ente familiar que assume a responsabilidade primária ou exclusiva pelo trabalho doméstico, quando não há empregada doméstica. Os homens que compartilham essa responsabilidade não fazem mais do que 50% do trabalho. Só em um caso é o homem a trabalhar mais em casa do que a esposa e, ainda assim, porque teria menos demanda de trabalho profissional durante a pandemia. Mas, nesse caso, a carga mental desse trabalho é da esposa, que organiza e aponta (e ele acata) o que deve ser feito, o que não deixa de ser uma posição de ajuda à esposa. Resultados semelhantes foram observados por Cordeiro (2013)CORDEIRO, Marina de Carvalho (2013). Você tem tempo?”: Uma análise das vivências temporais dos cientistas sociais na sociedade contemporânea (Doctoral dissertation, Tese (Doutorado)-Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro. Disponível em: https://circuitoacademico.files.wordpress.com/2014/06/voce-tem-tempo-marina-de-carvalho-cordeiro-tese.pdf
https://circuitoacademico.files.wordpres...
em docentes de Ciências Sociais, em que a ajuda foi vista como o termo que melhor descrevia a atuação dos companheiros. Segundo Carlos (2020), aCARLOS, Paula P. (2020). “Desigualdades de gênero e covid-19”. In: D.V.H. Ribeiro e D. Achutti, (orgs.), A crise sanitária vista pelo direito: observações desde o PPG/Unilasalle sobre a COVID-19. Canoas, RS: Ed. Unilasalle. ajuda se materializa em um auxílio periférico e não obrigatório.

A maior carga mental das mulheres, o sentimento de estar sobrecarregada e não conseguir dar a atenção desejada às crianças gera um sentimento de culpa, por se sentir em falta com os filhos e com a ideia interiorizada da “boa maternidade”, construída social e historicamente, e atravessada na prática social por diferenças de classe, raça e políticas de Estado (Castro e Chaguri, 2020CASTRO, Barbara & CHAGURI, Mariana Miggiolaro. (2020), “Gênero, tempos de trabalho e pandemia: por uma política científica feminista”. Linha Mestra, 41a: 23-31. DOI: 10.34112/1980-9026a2020n41ap23-31
https://doi.org/10.34112/1980-9026a2020n...
). Essa culpa é das mães, como podemos ver nos relatos. Na fala de Perceu (2020)PERCEU (nome ficticio). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 2 de abril 2020. Telemática (Skype)., ele ficar mais tranquilo do que a esposa com o fato de não conseguir dar a atenção que a filha reclama. Em sua negociação pelo espaço doméstico para o trabalho profissional, o próprio Perceu oferece cuidar da filha em troca de um lugar reservado para seu trabalho, revelando sua visão de que as ações relacionadas aos filhos são atribuição da mulher e, portanto, devem ser recompensadas. Kalena (2020)KALENA (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 3 de abril 2020. Telemática (Skype). diz se sentir “absolutamente culpada” por não poder atender à demanda do filho. Finalmente, Márcia (2020)MÁRCIA (nome ficticio). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 30 de março 2020. Telemática (Skype). expõe uma situação comum nas famílias heteroparentais que é a do pai estar presente nas brincadeiras, mas não nos cuidados rotineiros da filha, como dar banho, escovar os dentes, dar lanche, colocar para dormir ou acompanhar o dever de casa. Tal situação dificulta a ela desfrutar de um tempo lúdico com a filha. Esse sentimento de estar em falta gera um mal-estar psicológico que afeta a figura feminina no distanciamento social. Assim, outro diferencial a ser assinalado é que a permanência da família em casa durante a pandemia pode significar para o homem uma oportunidade de acompanhar os filhos mais de perto sem o “peso” do cuidado, que é atribuído às mães.

O desmantelamento do modelo de delegação durante a pandemia coloca em evidência a denominada crise dos cuidados, que faz referência à tensão experimentada, principalmente pelas mulheres, pela dupla dedicação ao trabalho profissional e doméstico, mostrando a insustentabilidade desse modelo (Del Rio, 2004DEL RÍO, Sira. (2004), “La crisis de los cuidados: precariedad a flor de piel”. Rebelión Economía, 1: 1-10.). Este seria, segundo Leite (2020)LEITE, Kelen Christina (2020), “A(in) esperada pandemia e suas implicações para o mundo do trabalho”. Psicologia & Sociedade, 32: 1-18. DOI: 10.1590/1807-0310/2020v32240215.
https://doi.org/10.1590/1807-0310/2020v3...
, um aspecto que vai além de uma política econômica ou uma ideologia, pois a precariedade do trabalho trazida pelo neoliberalismo se transforma na precariedade das relações sociais e de todas as esferas da vida. Para Saffioti (2003), aSAFFIOTI, Heleieth. (2003), Violência estrutural e de gênero: Mulher gosta de apanhar? Brasília, Secretaria Especial de Políticas para a Mulheres. Programa de Prevenção, Assistência e Combate à Violência Contra a Mulher - Plano Nacional: diálogos sobre violência doméstica e de gênero: construindo políticas públicas. sociedade capitalista se assenta em três projetos de dominação-exploração: da burguesia (de se aproveitar da classe trabalhadora), dos homens (de subordinar as mulheres) e dos brancos (de manter sua hegemonia face aos negros). São colocadas à disposição desses projetos diferentes tecnologias sociais para reforçar o status quo, mas se faz necessária, também, a violência para garantir benefícios a um grupo pequeno face ao sofrimento de muitos (Saffioti, 2003SAFFIOTI, Heleieth. (2003), Violência estrutural e de gênero: Mulher gosta de apanhar? Brasília, Secretaria Especial de Políticas para a Mulheres. Programa de Prevenção, Assistência e Combate à Violência Contra a Mulher - Plano Nacional: diálogos sobre violência doméstica e de gênero: construindo políticas públicas. ). Ao considerar, especificamente, as empregadas domésticas, Brites (2007)BRITES, Jurema. (2007), “Afeto e desigualdade: gênero, geração e classe entre empregadas domésticas e seus empregadores”. Cadernos Pagu, 29: 91-109. se refere aos lares brasileiros de classe média e alta, nos quais o cuidado da casa e das crianças se dão segundo um sistema estratificado de gênero, classe e cor. O retorno das empregadas domésticas ao trabalho no caso de quatro docentes do grupo estudado, ainda no início da pandemia (ver características do grupo estudado, Metodologia), evidencia a dependência das famílias em relação a este tipo de apoio. A este respeito, pode-se dizer que a pandemia dá visibilidade a uma demanda crucial de parte da sociedade brasileira que depende de um contingente de mulheres pretas e pobres, cuja existência por si só expressa de forma evidente diversas modalidades de opressão - patriarcado, racismo, capitalismo, colonialismo -, como propõe Vergès (2020)VERGÈS, Françoise. (2020), Um feminismo decolonial. Trad Jamille Pinheiro Dias e Raquel Camargo, São Paulo, Ubu Editora..

Em suma, as análises empreendidas indicam que o distanciamento social afeta negativamente o trabalho profissional e doméstico para docentes universitários. Esta situação exigiu uma mudança das formas de vida, que entre as mulheres, tem sido acompanhada da sensação pessoal de não conseguir realizar satisfatoriamente nem o trabalho profissional, nem o trabalho doméstico, tampouco os cuidados das crianças. A pandemia foi vivida com muita ansiedade e sentimento de precisar dar conta das urgências, seja em casa ou no trabalho profissional. Foi acompanhada pelo sentimento de culpa, pela sensação de fazer as crianças se virarem grande parte do tempo de forma a não demandar a atenção do adulto, em momentos da vida em que a relação com o outro é fundamental. Fazem-se arranjos em casa para dar conta das demandas domésticas e, simultaneamente, do trabalho profissional a partir de uma situação desigual em termos de autonomia na gestão do tempo.

A falta de equidade na esfera doméstica foi respaldada pela cultura brasileira, que exclui o homem da problemática da conciliação, também em tempos de confinamento. Como observam Medrado et al. (2021), oMEDRADO, Benedito, LYRA, Jorge, NASCIMENTO, Marcos, BEIRAS, Adriano, CORRÊA, Áurea Christina de Paula, ALVARENGA, Eric Campos & LIMA, Maria Lucia Chaves. (2021), “Homens e masculinidades e o novo coronavírus: compartilhando questões de gênero na primeira fase da pandemia”. Ciência & Saúde Coletiva, 26, 1: 179-183. DOI: 10.1590/1413-81232020261.35122020.
https://doi.org/10.1590/1413-81232020261...
processo de socialização impõe aos homens um desprezo por ações ligadas ao cuidado, que coaduna a sobrecarga doméstica entre as mulheres, mais uma vez evidenciando o caráter relacional da distribuição das atribuições segundo o gênero. A este respeito, destacamos o relato de Roberto (2020)ROBERTO (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 7 de abril 2020. Telemática (Skype). que, mesmo considerando o trabalho doméstico um trabalho, não o coloca no mesmo patamar que o trabalho produtivo, pois parte “de um certo foro de que todo mundo tem que fazer isso”.

É interessante esta fala vir de um homem, pois se todos deveriam estar envolvidos com esse trabalho, nem todos o realizam com a mesma intensidade. Por isso, é essencial colocar em pauta o trabalho reprodutivo como um trabalho sobre o qual é preciso se debruçar, uma carga a ser dividida de forma equânime. Esperamos que um dia seja visto não só como uma carga, mas um trabalho que outorga valor e prazer.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de favorecer certa flexibilidade temporal, a realização do trabalho profissional em casa na pandemia trouxe adversidades à gestão do tempo, com conflitos mais acentuados entre as mulheres. Como expressão das relações de gênero no ambiente doméstico em uma situação de extrema ampliação de demandas, pode-se assim sumarizar as principais contribuições do artigo, que se referem a (i) identificar a potencialização das desigualdades já observadas em investigações sobre docentes em diferentes contextos (Suitor et al.; 2001SUITOR, J. Jill, MECOM, Dorothy & FELD, Iliana S. (2001), “Gender, household labor, and scholarly productivity among university professors”. Gender Issues, 19: 50-67. DOI: 10.1007/s12147-001-1007-4.
https://doi.org/10.1007/s12147-001-1007-...
; Araújo, 2008ARAÚJO Emília Rodrigues. (2008), “Technology, Gender and Time: A Contribution to the Debate”. Gender, Work and Organization, 15, 5: 477-503. DOI: 10.1111/j.1468-0432.2008.00414.x.
https://doi.org/10.1111/j.1468-0432.2008...
; Cordeiro, 2013CORDEIRO, Marina de Carvalho (2013). Você tem tempo?”: Uma análise das vivências temporais dos cientistas sociais na sociedade contemporânea (Doctoral dissertation, Tese (Doutorado)-Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro. Disponível em: https://circuitoacademico.files.wordpress.com/2014/06/voce-tem-tempo-marina-de-carvalho-cordeiro-tese.pdf
https://circuitoacademico.files.wordpres...
) e (ii) trazer um aprofundamento ao conhecimento sobre o trabalho de docentes universitários durante a pandemia, tanto derivado de reflexões teóricas (Castro e Chaguri, 2020CASTRO, Barbara & CHAGURI, Mariana Miggiolaro. (2020), “Gênero, tempos de trabalho e pandemia: por uma política científica feminista”. Linha Mestra, 41a: 23-31. DOI: 10.34112/1980-9026a2020n41ap23-31
https://doi.org/10.34112/1980-9026a2020n...
), como de abordagem empírica através de survey (Candido et al.; 2021CANDIDO, Marcia Rangel, MARQUES, Danusa, OLIVEIRA, Vanessa Elias de, & BIROLI, Flávia. (2021). “As Ciências Sociais na pandemia da Covid-19: rotinas de trabalho e desigualdades”. Sociologia & Antropologia, 11: 31-65. DOI: 10.1590/2238-38752021v11esp2.
https://doi.org/10.1590/2238-38752021v11...
).

Como mecanismos implicados nestes resultados, é essencial considerar que as diferenças de gênero não refletem atributos individuais como competência ou disciplina, tal como apontam Castro e Chaguri (2020)CASTRO, Barbara & CHAGURI, Mariana Miggiolaro. (2020), “Gênero, tempos de trabalho e pandemia: por uma política científica feminista”. Linha Mestra, 41a: 23-31. DOI: 10.34112/1980-9026a2020n41ap23-31
https://doi.org/10.34112/1980-9026a2020n...
ao defender uma política científica feminista. Assim, as assimetrias entre homens e mulheres observadas no estudo expressam o sistema de gênero que gera expectativas do que significa ser homem e ser mulher a partir do processo de socialização, processo este a ser (re)construído nas negociações cotidianas e por meio de políticas públicas voltadas para a igualdade de gênero.

Pretendendo uma reflexão final sobre a contribuição e as limitações da abordagem metodológica adotada, observamos que o método se mostrou frutífero para aprofundar, mediante a interpretação de material qualitativo oriundo de entrevistas semiestruturadas, as reflexões sobre a dinâmica das desigualdades em um grupo com alta escolaridade. Neste sentido, os resultados indicam que a maior instrução não traz uma participação mais igualitária entre homens e mulheres, como problematizado por Cordeiro (2013), eCORDEIRO, Marina de Carvalho (2013). Você tem tempo?”: Uma análise das vivências temporais dos cientistas sociais na sociedade contemporânea (Doctoral dissertation, Tese (Doutorado)-Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro. Disponível em: https://circuitoacademico.files.wordpress.com/2014/06/voce-tem-tempo-marina-de-carvalho-cordeiro-tese.pdf
https://circuitoacademico.files.wordpres...
já observado entre executivas de grandes empresas (Cyrino, 2011CYRINO, Rafaela. (2011), “A gestão do trabalho doméstico entre as mulheres executivas. Um exemplo de combinação de dados de uma pesquisa de Usos do Tempo com metodologia qualitativa”. Política & Trabalho, Revista de Ciências Sociais, 35: 145-162.). Por outro lado, em que pese a contribuição do estudo às discussões sobre as iniquidades de gênero, os resultados não devem ser extrapolados para outros grupos ou categorias profissionais. Cabe, ainda, considerar que homens e mulheres foram analisados como grupos homogêneos, o que constitui uma séria limitação do estudo no sentido de não ter contemplado aspectos que influenciam as diferenças de gênero no trabalho doméstico como, por exemplo, a raça (Sayer e Fine, 2011SAYER, Liana C. & FINE, Leigh. (2011), “Racial-Ethnic Differences in U.S. Married Women’s and Men’s Housework”. Social Indicators Research, 101: 259-265. DOI: 10.1007/s11205-010-9645-0
https://doi.org/10.1007/s11205-010-9645-...
). Tampouco foram analisados aspectos da interseccionalidade de gênero e raça relevantes no meio acadêmico (Sousa et al.; 2021SOUSA, Ana Lucia Nunes de, CABRAL, Luciana Ferrari Espíndola, MOREIRA, Janine Monteiro, WEIHMÜLLER, Valentina Carranza, RODRIGUES, Marina Meloni da Silva, ARAÚJO, Gabriela Gomes & MACEDO, Beatriz Cristina Castro. (2021), “Professoras negras na pós-graduação em saúde: entre o racismo estrutural e a feminização do cuidado”. Saúde Debate, 45. (No Especial 1): 13-26. DOI: 10.1590/0103-11042021E101.
https://doi.org/10.1590/0103-11042021E10...
), cuja abordagem decolonial (Vergès, 2020VERGÈS, Françoise. (2020), Um feminismo decolonial. Trad Jamille Pinheiro Dias e Raquel Camargo, São Paulo, Ubu Editora.) traria maior abrangência à discussão empreendida no presente artigo.

O cuidado é uma dimensão da vida que não pode ser regida pelas dinâmicas sociais capitalistas que privilegiam o trabalho remunerado. Pode-se dizer que o cuidado se vincula à sustentabilidade da vida e, portanto, não pode se restringir ao tempo que sobra após a realização do trabalho profissional. Os arranjos que atribuem à mulher o cuidado das pessoas dependentes, como o tradicional arranjo de vinculação à mulher ou o modelo de delegação a outra figura feminina criam as normas sociais e as hierarquias. Neste sentido, é preciso remodelar criativamente esse espaço doméstico. Inspiradas em Oliveira (2003)OLIVEIRA, Rosiska Darcy. (2003), Reengenharia do Tempo. Rio de Janeiro, Rocco., poderíamos dizer que o trabalho doméstico, que sustenta e viabiliza a sobrevivência dos filhos e seu preparo para o trabalho, é essencial à manutenção da sociedade e, portanto, não pode ser visto como um problema das mulheres, mas como uma questão da sociedade como um todo.

Anexo I. Roteiro aprovado pelo comitê de ética da pesquisa

Sobre o seu trabalho produtivo

1. Você está em isolamento social? Desde quando?

Vou te fazer algumas perguntas, mas você pensa no seu trabalho na Universidade no período anterior ao isolamento

2. Que tarefas você realiza?

3. Como é que você faz para se organizar para fazer essas várias coisas?

4. Que horas entrava e saía do trabalho antes do isolamento social? Você tinha uma rotina?

5. Geralmente você costumava trabalhar em casa? Em que horários?

6. Quanto tempo dedicava para o trabalho remunerado, considerando todos os locais em que trabalhava?

7. Existe alguma dificuldade - algo que você considere um desafio - na sua prática profissional? Qual(is)?

8. Se sim, como você lida com estas dificuldades?

9. Considera que o seu trabalho é reconhecido? (em relação a quem? Quem reconhece? Os outros professores, os órgãos de fomento? Os alunos? Outros cientistas?)

10. No geral, você diria que se sente feliz com o seu trabalho?

11. É fácil inserir as suas expectativas profissionais no esquema de trabalho em que você está inserido?

12. Se você pudesse implantar qualquer mudança no seu trabalho, o que mudaria?

13. Quais as suas perspectivas daqui para frente?

14. Em relação a sua própria trajetória profissional, você faria alguma coisa diferente? Mudaria algo?

15. Em relação ao trabalho como professor/pesquisador na universidade, você acha que faz diferença ser homem ou mulher?

Vamos agora perguntar sobre esse momento de isolamento. Durante o isolamento social, você acha que faz diferença ser homem ou mulher?

16. Neste momento, você tem realizado atividades profissionais?

17. Se sim, Qua(is) atividade(s)?

18. Como é a experiência de realizar esta(s) tarefa(s) à distância?

19. Onde você trabalha? Como é o espaço de trabalho em casa? (tem um espaço próprio, um escritório?)

20. Como está sendo a sua rotina de trabalho durante este período de distanciamento social? (Em que horários você trabalha em casa? Você tem uma rotina? Tempo dedicado...)

Autocuidado:

21. Pode me explicar o que é para você cuidar de você mesma(o)?

22. Pode me explicar o que é para você estar saudável?

23. O que mudou durante o isolamento em relação ao lazer, ao cuidado, à rotina do dia?

• Considera que seus hábitos de cuidado à própria saúde mudaram com o isolamento social? (consumo de substâncias - álcool, cigarro...-, alimentação, exercício físico) OU Você mudou seus hábitos de uso de substâncias durante a pandemia de COVID-19?

• Você tem atividades de lazer nesses momentos? (atividades de lazer? Encontra pessoas de forma online? quantas, quais, vezes por semana?)

24. Você tem problemas de sono, como insônia?

25. O que você faz pessoalmente para se sentir bem?

26. Quando você tem um problema, o que faz, normalmente, para amenizá-lo?

27. Você frequenta supervisão e/ou psicoterapia?

VIDA FAMILIAR

Cuidado das crianças

28. O que que mudou em relação ao cuidado das crianças?

29. Pessoas envolvidas no cuidado

• Atividade escolar

• Rotina com as crianças

Cuidado da casa

30. O que que mudou em relação ao cuidado da casa?

31. Quem realizava os afazeres domésticos antes da pandemia do COVID-19

32. A que se dedica o seu parceiro(a)? Hoje em dia, trabalha desde casa ou sai para trabalhar?

33. Quem realiza os afazeres domésticos nesses momentos de confinamento social?

34. Quem sai para fazer as compras da casa?

35. Seu parceiro (sua parceira) e você discutem a divisão das tarefas?

36. Considera que esses afazeres são distribuídos equitativamente?

37. Você gosta de realizar afazeres domésticos?

38. Considera os afazeres domésticos como trabalho?

QUESTÕES DE CONCILIAÇÃO

39. Considera que o fato de ter filhos produz uma desaceleração na sua carreira?

40. Considera que o que você experimenta - conciliar a dedicação laboral com a dedicação aos cuidados - é generalizável a outros colegas?

41. Como gostaria que o espaço doméstico e do trabalho remunerado se relacionassem? (Explorar tensão entre trabalho fora de casa e em casa: o que você prefere, por quê?...)

QUESTÕES GERAIS DA VIDA E DO TRABALHO

42. Relação entre o trabalho e a saúde?

43. Relação entre o tempo e o trabalho?

44. Relação entre trabalho e vida?

AGORA, PARA CONCLUIR, VOU FAZER UMAS PERGUNTAS SIMPLES PARA CARATERIZAÇÃO QUANTO AO TRABALHO NA UNIVERSIDADE:

As suas atividades profissionais incluem...?

45. Buscar recursos para a pesquisa ou participação em eventos junto a organismos de financiamento?

[ ] NÃO [ ] SIM

46. Orientar alunos de pós-graduação?

[ ] NÃO [ ] SIM. Quantos alunos(as) orienta atualmente? ______

47. Dar aulas na pós-graduação?

[ ] NÃO [ ] SIM

48. Dar aulas na graduação?

[ ] NÃO [ ] SIM

49. Há alguma tarefa que você considera que não deveriam ser atribuídas a docentes?

[ ] NÃO [ ] SIM. Qual(is)? _________________________

CARATERIZAÇÃO SOCIOLÓGICA:

50. Idade

51. Número e idade dos filhos

52. Mora com parceiro/a

53. Tempo de trabalho na universidade de forma efetiva

54. Quer acrescentar alguma coisa?

55. Posso entrar em contato novamente se tiver alguma dúvida?

AGRADECIMENTOS

Este texto é apoiado pelo programa Inova Fiocruz, no âmbito do projeto de pós-doutorado Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior - uma perspectiva comparada entre universidades públicas no Brasil e Espanha, realizado na Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) (Número de inscrição: 62104632761). Lucia Rotenberg é bolsista de produtividade do CNPq na área de Saúde Coletiva.

  • 1
    Estudo vinculado ao projeto “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior – uma perspectiva comparada entre universidades públicas no Brasil e Espanha”, relativo às atividades de pós-doutorado da primeira autora, com apoio do Programa Fiocruz de Fomento à Inovação, “Inova Fiocruz”.
  • 2
    Este trabalho não foi publicado em nenhum periódico ou outro meio de divulgação.
  • 3
    O estudo decorre de adaptações em estudo comparativo de professores de uma universidade pública no Rio de Janeiro e outra, em Salamanca, Espanha, em função da pandemia de COVID-19, considerando seus efeitos à dinâmica de trabalho profissional e doméstico.

BIBLIOGRAFIA

  • ANDERSEN, Jens Peter, NIELSEN, Mathias Wullun, SIMONE, Nicole L., LEWISS, Resa E. & JAGSI, Reshma (2020), “COVID-19 medical papers have fewer women first authors than expected”. eLife, 9: e58807. DOI: 10.7554/elife.58807.
    » https://doi.org/10.7554/elife.58807
  • AQUINO, Estela Maria Leão de, DIELE-VIEGAS, Luisa Maria., PILECCO, Flávia Bulegon., REIS, Ana Paula, MENEZES, Greice Maria de Souza (2021), “Mulheres das ciências médicas e da saúde e publicações brasileiras sobre Covid-19”. Saúde Debate, 45, N Especial 1: 60-72. DOI: 10.1590/0103-11042021E105.
    » https://doi.org/10.1590/0103-11042021E105
  • ARAÚJO Emília Rodrigues. (2008), “Technology, Gender and Time: A Contribution to the Debate”. Gender, Work and Organization, 15, 5: 477-503. DOI: 10.1111/j.1468-0432.2008.00414.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1468-0432.2008.00414.x
  • BANDEIRA, Lourdes Maria & PRETURLAN, Renata Barreto (2016), “As pesquisas sobre uso do tempo e a promoção da igualdade de gênero no Brasil”, in: N. Fontoura & C. Araújo (orgs.), Uso do tempo e gênero, Rio de Janeiro: UERJ.
  • BITTMAN, Michael & WAJCMAN, Judy (2000), “The Rush Hour: The Character of Leisure Time and Gender Equity”. Social Forces, 79, 1: 165-189. DOI: 10.1093/sf/79.1.165.
    » https://doi.org/10.1093/sf/79.1.165
  • BRAUN, Virginia & CLARKE, Victoria (2006), “Using thematic analysis in psychology”. Qualitative research in psychology, 3, 2: 77-101. DOI: 10.1191/1478088706qp063oa.
    » https://doi.org/10.1191/1478088706qp063oa
  • BRITES, Jurema. (2007), “Afeto e desigualdade: gênero, geração e classe entre empregadas domésticas e seus empregadores”. Cadernos Pagu, 29: 91-109.
  • BRYSON, Valerie. (2016), “Time, Power and Inequalities”. in A. Hom, C. McIntosh, A. McKay, L Stockdale (orgs.) Time, Temporality and Global Politics, Bristol, Reino Unido, E-International Relations.
  • BURGARD, Sarah A. (2011), “The Needs of Others: Gender and Sleep Interruptions for Caregivers”. Social Forces, 89, 4: 1189-1216. DOI: 10.1093/sf/89.4.1189.
    » https://doi.org/10.1093/sf/89.4.1189
  • CANDIDO, M. R. & CAMPOS, L. A. (2020) Pandemia reduz submissões de artigos acadêmicos assinados por mulheres, Blog DADOS. [published 14 May 20] Disponível em: http://dados.iesp.uerj.br/pandemia-reduz-submissoes-de-mulheres/ Consultado em: 18 julho 2022.
    » http://dados.iesp.uerj.br/pandemia-reduz-submissoes-de-mulheres/
  • CANDIDO, Marcia Rangel, MARQUES, Danusa, OLIVEIRA, Vanessa Elias de, & BIROLI, Flávia. (2021). “As Ciências Sociais na pandemia da Covid-19: rotinas de trabalho e desigualdades”. Sociologia & Antropologia, 11: 31-65. DOI: 10.1590/2238-38752021v11esp2.
    » https://doi.org/10.1590/2238-38752021v11esp2
  • CARLOS, Paula P. (2020). “Desigualdades de gênero e covid-19”. In: D.V.H. Ribeiro e D. Achutti, (orgs.), A crise sanitária vista pelo direito: observações desde o PPG/Unilasalle sobre a COVID-19 Canoas, RS: Ed. Unilasalle.
  • CASTRO, Barbara & CHAGURI, Mariana Miggiolaro. (2020), “Gênero, tempos de trabalho e pandemia: por uma política científica feminista”. Linha Mestra, 41a: 23-31. DOI: 10.34112/1980-9026a2020n41ap23-31
    » https://doi.org/10.34112/1980-9026a2020n41ap23-31
  • CHARLES, Maria. (2003), “Deciphering sex segregation: Vertical and horizontal inequalities in ten national labor markets”. Acta sociologica, 46,4: 267-287. DOI: 10.1177/0001699303464001.
    » https://doi.org/10.1177/0001699303464001
  • CHATZITHEOCHARI, Stella & ARBER, Sara. (2012), “Class, gender and time poverty: a time-use analysis of British workers’ free time resources”. The British Journal of Sociology, 63, 3: 451-471. DOI: 10.1111/j.1468-4446.2012.01419.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1468-4446.2012.01419.x
  • CORDEIRO, Marina de Carvalho (2013). Você tem tempo?”: Uma análise das vivências temporais dos cientistas sociais na sociedade contemporânea (Doctoral dissertation, Tese (Doutorado)-Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro. Disponível em: https://circuitoacademico.files.wordpress.com/2014/06/voce-tem-tempo-marina-de-carvalho-cordeiro-tese.pdf
    » https://circuitoacademico.files.wordpress.com/2014/06/voce-tem-tempo-marina-de-carvalho-cordeiro-tese.pdf
  • CYRINO, Rafaela. (2011), “A gestão do trabalho doméstico entre as mulheres executivas. Um exemplo de combinação de dados de uma pesquisa de Usos do Tempo com metodologia qualitativa”. Política & Trabalho, Revista de Ciências Sociais, 35: 145-162.
  • DEL RÍO, Sira. (2004), “La crisis de los cuidados: precariedad a flor de piel”. Rebelión Economía, 1: 1-10.
  • EVERINGHAM, Christine. (2002), “Engendering Time. Gender equity and discourses of workplace flexibility”. Time & Society, 11, 2/3: 335-351. DOI:10.1177/0961463X02011002009.
    » https://doi.org/10.1177/0961463X02011002009
  • FEDERICI, Silvia. (2019), O ponto zero da revolução: trabalho doméstico, reprodução e luta feminista. Tradução Coletivo Sycorax. Editora Elefante.
  • FOUGEYROLLAS-SCHWEBEL, Dominique. (2009), “Trabalho doméstico”. in H. Hirata, F. Laborie, H. Doaré, D. Senotier (orgs.) Dicionário crítico do feminismo, São Paulo, Unesp.
  • GIURGE, Laura M., WHILLANS, Ashley V. & YEMISCIGIL, Ayse. (2021), “A multicountry perspective on gender differences in time use during COVID-19”. Proceedings of the National Academy of Science, 118, 12: e2018494118; DOI: 10.1073/pnas.2018494118
    » https://doi.org/10.1073/pnas.2018494118
  • GUEDES, Moema de Castro & CORDEIRO, Marina de Carvalho. (2020), “Confinamento, desigualdade e trabalho: o cuidado como atributo feminino”. Disponível em: http://ppgcs.ufrrj.br/wp-content/uploads/2020/07/Confinamento-desigualdade-e-trabalho-o-cuidado-como-atributo-feminino_Moema-e-Marina.pdf Acesso em 23/10/2020
    » http://ppgcs.ufrrj.br/wp-content/uploads/2020/07/Confinamento-desigualdade-e-trabalho-o-cuidado-como-atributo-feminino_Moema-e-Marina.pdf
  • HAICAULT, Monique. (1984), “La gestion ordinaire de la vie en deux.Sociologie du Travail, Association pour le développement de la sociologie du travail”, 26, Travail des femmes et famille, 3: 268-277.
  • HIRATA, Helena. (2015), Mudanças e permanências nas desigualdades de gênero: divisão sexual do trabalho numa perspectiva comparativa. São Paulo: Friedrich-Ebert-Stiftung Brasil.
  • HIRATA, Helena & KERGOAT, Danielle (2008), “Divisão sexual do trabalho profissional e doméstico: Brasil, França e Japão”, in A.O. Costa, B. Sorj, C. Bruschini, H. Hirata, (orgs.), Mercado de trabalho e gênero: comparações internacionais, Rio de Janeiro, FGV.
  • HIRATA, Helena & KERGOAT, Danielle. (2007), “Novas configurações da divisão sexual do trabalho”. Cadernos de Pesquisa, 37,132: 595-609. DOI:10.1590/S0100-15742007000300005.
    » https://doi.org/10.1590/S0100-15742007000300005
  • HIRATA, Helena & ZARIFIAN (2009), “Trabalho (o conceito de)”. in H. Hirata, F. Laborie, H. Doaré, D. Senotier (orgs.) Dicionário crítico do feminismo, São Paulo, Unesp.
  • HISLOP, Jenny & ARBER, Sara. (2003), “Sleepers Wake! the Gendered Nature of Sleep Disruption among Mid-life Women”. Sociology, 37, 4: 695-711. DOI: 10.1177/00380385030374004
    » https://doi.org/10.1177/00380385030374004
  • INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. (2020), Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio - PNAD: Outras formas de trabalho 2019 (2020). Available online at: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-06/ibge-mulher-tem-peso-importante-no-chamado-trabalho-invisivel Consultado em: 04/7/2022.
    » https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-06/ibge-mulher-tem-peso-importante-no-chamado-trabalho-invisivel
  • KATSABIAN, Tammy (2020), “The Telework Virus: How the COVID-19 Pandemic Has Affected Telework and Exposed Its Implications for Privacy and Equality”. Available at SSRN 3684702.
  • LEITE, Kelen Christina (2020), “A(in) esperada pandemia e suas implicações para o mundo do trabalho”. Psicologia & Sociedade, 32: 1-18. DOI: 10.1590/1807-0310/2020v32240215.
    » https://doi.org/10.1590/1807-0310/2020v32240215
  • LEROY, Sophie, SCHMIDT, Aaron M. & MADJAR, Nora. (2021), “Working From Home During COVID-19: A Study of the Interruption Landscape”. Journal of Applied Psychology, 106, 10: 1448-1465. DOI: 10.1037/apl0000972.
    » https://doi.org/10.1037/apl0000972
  • MATTINGLY, Marybeth & BLANCHI Suzanne M. (2003), “Gender Differences in the Quantity and Quality of Free Time: The U.S. Experience”. Social Forces, 81, 3: 999-1030. DOI: 10.1353/sof.2003.0036.
    » https://doi.org/10.1353/sof.2003.0036
  • MCGINNITY Frances & RUSSELL, Helen. (2008), Gender Inequalities in Time Use The Distribution of Caring, Housework and Employment Among Women and Men in Ireland Dublin, Irlanda, The Equality Authority and The Economic and Social Research Institute.
  • MEDRADO, Benedito, LYRA, Jorge, NASCIMENTO, Marcos, BEIRAS, Adriano, CORRÊA, Áurea Christina de Paula, ALVARENGA, Eric Campos & LIMA, Maria Lucia Chaves. (2021), “Homens e masculinidades e o novo coronavírus: compartilhando questões de gênero na primeira fase da pandemia”. Ciência & Saúde Coletiva, 26, 1: 179-183. DOI: 10.1590/1413-81232020261.35122020.
    » https://doi.org/10.1590/1413-81232020261.35122020
  • MOREHEAD, Alison. (2001), “Synchronizing time for work and family: Preliminary insights from qualitative research with mothers”. Journal of Sociology, 37, 4: 355-369. DOI: 10.1177/144078301128756391.
    » https://doi.org/10.1177/144078301128756391
  • MYERS, Kyle R.; THAM, Wei Yan, YIN, Yian, COHODES, Nina, THURSBY, Jerry G., THURSBY, Marie C., SCHIFFER, Peter, WALSH, Joseph T., LAKHANI, Karim R. & WANG, Dashum. (2020), “Unequal effects of the covid-19 pandemic on scientists”. Nature Human Behaviour, 4: 880-883. DOI: 10.1038/s41562-020-0921-y.
    » https://doi.org/10.1038/s41562-020-0921-y
  • OFFER, Shira & SCHNEIDER, Barbara (2011), “Revisiting the Gender Gap in Time-Use Patterns: Multitasking and Well-Being among Mothers and Fathers in Dual-Earner Families”. American Sociological Review, 76, 6: 809-833. DOI: 10.1177/0003122411425170.
    » https://doi.org/10.1177/0003122411425170
  • OLIVEIRA, Rosiska Darcy. (2003), Reengenharia do Tempo. Rio de Janeiro, Rocco.
  • OLIVEIRA, Anita Loureiro de. (2020), “A espacialidade aberta e relacional do lar: a arte de conciliar maternidade, trabalho doméstico e remoto na pandemia da covid-19”. Revista Tamoios, 16, 1: 154-166. DOI: 10.12957/tamoios.2020.50448.
    » https://doi.org/10.12957/tamoios.2020.50448
  • OLIVEIRA, Thaiane, HOLZBACH, Ariane, GROHMANN, Rafael & Tavares Camilla QUESADA. (2020), “E se os editores de revistas científicas parassem? A precarização do trabalho acadêmico para além da pandemia”. Revista Contracampo, 39, 2, 2-13. DOI: 10.22409/contracampo.v39i2
    » https://doi.org/10.22409/contracampo.v39i2
  • RAMOS, Daniela Peixoto. (2009), “Pesquisas de usos do tempo: um instrumento para aferir as desigualdades de gênero”. Estudos Feministas, 17, 3: 861-870. DOI: 10.1590/S0104-026X2009000300014
    » https://doi.org/10.1590/S0104-026X2009000300014
  • RUBIANO MATULEVICH, Eliana Carolina & VIOLLAZ, Mariana (2019), “Gender Differences in Time Use: Allocating Time between the Market and the Household”. World Bank Policy Research Working Paper No. 8981, Available at SSRN:https://ssrn.com/abstract=3437824
    » https://ssrn.com/abstract=3437824
  • SAFFIOTI, Heleieth. (2003), Violência estrutural e de gênero: Mulher gosta de apanhar? Brasília, Secretaria Especial de Políticas para a Mulheres. Programa de Prevenção, Assistência e Combate à Violência Contra a Mulher - Plano Nacional: diálogos sobre violência doméstica e de gênero: construindo políticas públicas.
  • SAYER, Liana C. & FINE, Leigh. (2011), “Racial-Ethnic Differences in U.S. Married Women’s and Men’s Housework”. Social Indicators Research, 101: 259-265. DOI: 10.1007/s11205-010-9645-0
    » https://doi.org/10.1007/s11205-010-9645-0
  • SCHRAIBER, Lilian Blima. (1995), “Pesquisa qualitativa em saúde: reflexões metodológicas do relato oral e produção de narrativas em estudo sobre profissão médica”. Revista de Saúde Pública, 29, 1:63-74. DOI: 10.1590/S0034-89101995000100010.
    » https://doi.org/10.1590/S0034-89101995000100010
  • SMAHA, Hágata Crystie. (2009), Trabalho e família no contexto de teletrabalho: o olhar de teletrabalhadores e seus co-residentes. Tese de Mestrado. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro.
  • SOUSA, Ana Lucia Nunes de, CABRAL, Luciana Ferrari Espíndola, MOREIRA, Janine Monteiro, WEIHMÜLLER, Valentina Carranza, RODRIGUES, Marina Meloni da Silva, ARAÚJO, Gabriela Gomes & MACEDO, Beatriz Cristina Castro. (2021), “Professoras negras na pós-graduação em saúde: entre o racismo estrutural e a feminização do cuidado”. Saúde Debate, 45. (No Especial 1): 13-26. DOI: 10.1590/0103-11042021E101.
    » https://doi.org/10.1590/0103-11042021E101
  • SORJ, Bila. (2000), “Sociologia e Trabalho: mutações, encontros e desencontros”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 15, 43: 25-34. DOI: 10.1590/S0102-69092000000200002.
    » https://doi.org/10.1590/S0102-69092000000200002
  • STANISCUASKI, Fernanda, KMETZSCH, Livia, SOLETTI, Rossana C., REICHERT, Fernanda, ZANDONÀ, Eugenia, LUDWIG, Zelia M. C., LIMA, Eliade F., NEUMANN, Adriana, SCHWARTZ, Ida V. D., MELLO-CARPES, Pamela B., TAMAJUSUKU, Alessandra S. K., WERNECK, Fernanda P., RICACHENEVSKY, Felipe K., INFANGER, Camila, SEIXAS, Adriana, STAATS, Charley C. & OLIVEIRA, Leticia (2021), “Gender, Race and Parenthood Impact Academic Productivity During the COVID-19 Pandemic: From Survey to Action”. Frontiers in Psychology, 12: 663252. DOI: 10.3389/fpsyg.2021.663252.
    » https://doi.org/10.3389/fpsyg.2021.663252
  • SUITOR, J. Jill, MECOM, Dorothy & FELD, Iliana S. (2001), “Gender, household labor, and scholarly productivity among university professors”. Gender Issues, 19: 50-67. DOI: 10.1007/s12147-001-1007-4.
    » https://doi.org/10.1007/s12147-001-1007-4
  • TAMMELIN, Mia. (2009), Working Time and Family Time. Experiences of the Work and Family Interface among Dual-Earning Couples in Finland Dissertação acadêmica, Faculty of Social Sciences of the University of Jyväskylä. University Library of Jyväskylä. Jyväskylä.
  • THOMPSON, Paul. (1980), “Des récits de vie à l’analyse du changement social”. Cahiers Internationaux de Sociologie, 69: 249-268.
  • VERGÈS, Françoise. (2020), Um feminismo decolonial. Trad Jamille Pinheiro Dias e Raquel Camargo, São Paulo, Ubu Editora.

ENTREVISTAS

  • CLÁUDIO (nome fictício) Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 11 de março 2020. Telemática (Skype).
  • DÉBORA (nome fictício) Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 13 de março 2020. Telemática (Skype).
  • FERNANDO (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 22 de abril 2020. Telemática (Skype).
  • FLÁVIA (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 10 de março 2020. Telemática (Skype).
  • JÚLIA (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 14 de abril 2020. Telemática (Skype).
  • KALENA (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 3 de abril 2020. Telemática (Skype).
  • MÁRCIA (nome ficticio). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 30 de março 2020. Telemática (Skype).
  • PERCEU (nome ficticio). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 2 de abril 2020. Telemática (Skype).
  • ROBERTO (nome fictício). Entrevista para coleta de dados para o estudo: “Saúde, autocuidado e gênero em docentes do ensino superior”. Como fazer durante o confinamento domiciliar. Teresa Aracena Vicente. 7 de abril 2020. Telemática (Skype).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Out 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    29 Dez 2021
  • Aceito
    05 Jun 2023
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais - ANPOCS Av. Prof. Luciano Gualberto, 315 - sala 116, 05508-900 São Paulo SP Brazil, Tel.: +55 11 3091-4664, Fax: +55 11 3091-5043 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: anpocs@anpocs.org.br