Resumo:
Este artigo investiga os cruzamentos e interações dos registros lacanianos do Real, do Simbólico e do Imaginário na Teoria do Discurso de Laclau. Como resultado da análise e sistematização de seus principais textos, constatou-se que a teoria laclauniana aborda a articulação ôntica entre esses registros em três momentos de sua obra. Em um primeiro momento, a partir da reativação simbólica da estrutura deslocada que permite a emergência histórica e contingente do sujeito mítico que sutura a falta. Em um segundo momento, no debate com Butler, pelos modos de representação simbólica do Real como limite interno ao Simbólico que se manifesta historicamente e supõe suturar conteúdos ônticos, a partir dos significantes do vazio tendencial. Nesta fase, verificamos que Laclau incorpora duas dimensões do Real na sua relação com o simbólico e o imaginário: como ‘negatividade’ e como ‘positividade’. Isso põe em movimento o processo contingente de historicidade-simbolização do Real na dinâmica política. Por fim, em La razón populista, Laclau aborda a presença interna do Real no simbólico com o marginal, atores que historicamente emergem das entranhas do sistema para mostrar sua unidade falida, e relaciona esse excesso heterogêneo que simboliza o Real com os conceitos Marxistas do ‘lumpenproletariado’ e do ‘caput mortuum’ de Lacan. Dessa forma, conclui-se que Laclau faz uma abordagem interativa dos registros lacanianos, o que permite analisar a influência histórica do Real e seus modos de representação simbólica e imaginária na dinâmica política, e contribui para o estudo da construção e desestruturação histórica de hegemonias e formações ideológicas.
Palavras-chave:
hegemonia; sujeito; os marginais; real-simbólico-imaginário; teoria política