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A arte da anestesia regional periférica

EDITORIAL

A arte da anestesia regional periférica

Nos últimos seis anos (de 2000 até setembro de 2005), foram publicados em nossa revista, 26 artigos relacionados a bloqueios periféricos (Tabela I), dentre os quais, apenas seis tiveram incluídos dentre os objetivos primários, o incremento da analgesia pós-operatória (Tabela II).

Revista Brasileira de Anestesiologia, 2005; 55: 6: 595-596

A Arte da Anestesia Regional Periférica

Antonio Leite Oliva Filho

Revista Brasileira de Anestesiologia, 2005; 55: 6: 595-596

A Arte da Anestesia Regional Periférica

Antonio Leite Oliva Filho

Na absoluta maioria destes trabalhos sobre bloqueios periféricos, prevaleceram comparações de técnicas, avaliação de desempenho de novos anestésicos locais e demonstração de alternativas regionais de anestesia para procedimentos específicos. Apenas seis (23,08%) das publicações incluíram, dentre os objetivos primários da pesquisa, analgesia pós-operatória e conforto ao paciente. A despeito de nos dedicarmos bastante, em nosso cotidiano, à anestesia regional, em cirurgias periféricas (perineais ou de membros) indicamos bloqueios plexulares ou centrais e as alternativas de analgesia pós-operatória restringem-se a técnicas contínuas centrais. Tais alternativas garantem, sim, analgesia de longo curso, mas ainda são discutíveis sob a esfera do conforto: prurido, aumento de náusea e vômito e o desagradável prolongamento da paresia/parestesia extensa são as desvantagens que comprometem a plena satisfação dos pacientes.

Neste número da Revista Brasileira de Anestesiologia, Imbelloni e col. apresentaram experiência de analgesia pós-operatória, após cirurgia orificial, sob regime ambulatorial, realizada com anestesia subaracnóidea de curta duração (lidocaína a 2% - 50 mg), complementada com bloqueio bilateral de nervo pudendo utilizando bupivacaína 0,25% com 50% de excesso de enantiômero levógiro (R25-S75). O bloqueio dos pudendos foi orientado por neuroestimulador. O método permitiu deambulação precoce e alta hospitalar após 6 h de pós-operatório com acompanhamento à distância, através de contatos telefônicos. A analgesia pós-operatória alcançou 23,77 ± 4,49 h de duração e houve alto índice de satisfação dos pacientes 1.

Nos últimos anos, temos acompanhado, nas publicações e nos encontros científicos internacionais, um incremento de indicação de técnicas regionais periféricas, simples ou contínuas 2-6, tendo como argumento principal o prolongamento da analgesia residual em pós-operatório imediato, com concentração da área de analgesia/anestesia sobre a região operada, o que aumenta conforto e melhora recuperação do paciente 7. Os bloqueios periféricos, até as simples infiltrações, têm sido incluídos nos planejamentos multimodais de analgesia p.o. para cirurgia ambulatorial 6.Indubitavelmente, para alcançar tais objetivos são necessários: uso do neuroestimulador para apuro técnico; domínio das várias alternativas de bloqueios periféricos de condução; e a intenção de alcançar conforto e analgesia, plena e prolongada, no pós-operatório. Tudo isto, parece, foi atingido nesta proposta de Imbelloni e col.

A tendência à automação plena da Anestesia Geral (AG) evidencia-se diante dos equipamentos programáveis que, em breve, poderão se tornar autoprogramáveis, a partir da retro-alimentação dos monitores de profundidade de analgesia/anestesia (BIS) e de condução neuromuscular. A possibilidade de incremento de automação na AG tende a minimizar o requerimento de habilidades específicas e a transformar o que constituía desafio e arte, num futuro breve, em rotinas de programação de equipamentos.

Certamente, arte, habilidade, conhecimento da anatomia e, principalmente, qualidade de atenção ao paciente, continuarão a nos destacar profissionalmente. O domínio das Técnicas Regionais Periféricas de Anestesia e Analgesia para prover pós-operatório sem dor, com limitação da área anestesiada ao necessário ajudará a fazer a diferença!

Dr. Antonio Leite Oliva Filho, TSA

Membro do Conselho Editorial

REFERÊNCIAS

01. Imbelloni LE, Beato L, Beato C et al - Analgesia pós-operatória com bloqueio bilateral do nervo pudendo com bupivacaína S75:R25 a 0,25%. Estudo piloto em hemorroidectomia sob regime ambulatorial. Rev Bras Anestesiol, 2005;55:614-621.

02. Liu, SS - Why Should We Use Regional Analgesia for Postoperative Pain Relief? Texts and Abstracts of the 13th World Congress of Anesthesiologists. Paris. 2004: L06.

03. Steele, SM - Peripheral nerve blocks for ambulatory surgery. Texts and Abstracts of the 13th World Congress of Anesthesiologists. Paris. 2004: CO3a.

04. Borgeat A - Advantages of continuous perineural catheter. Actas del 34º Congreso Argentino de Anestesiología. Buenos Aires, 2005:30-1.

05. Borgeat A - Peripheral nerve blocks for the lower extremity. Actas del 34º Congreso Argentino de Anestesiología. Buenos Aires, 2005;340-342.

06. White PF - Role of Non-Opioid Analgesics in the management of acute perioperative pain. Actas del 34º Congreso Argentino de Anestesiología. Buenos Aires, 2005;375-385.

07. Capdevila X, Barthelet Y, Biboulet P et al - Effects of perioperative analgesic technique on the surgical outcome and duration of rehabilitation after major knee surgery. Anesthesiology 1999;91: 8-15.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Mar 2006
  • Data do Fascículo
    Dez 2005
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