Acessibilidade / Reportar erro

Histórico e importância da classificação de Bosniak para cistos renais complexos

Tem-se observado constante interesse da comunidade radiológica brasileira no estudo do sistema urogenital(1Resende DAQP, Souza LRMF, Monteiro IO, et al. Scrotal collections: pictorial essay correlating sonographic with magnetic resonance imaging findings. Radiol Bras. 2014;47:43–8.7Bittencourt LK, Hausmann D, Sabaneeff N, et al. Multiparametric magnetic resonance imaging of the prostate: current concepts. Radiol Bras. 2014;47:292–300.). No contexto desta subespecialidade, as lesões císticas renais constituem achado extremamente frequente (50% na população maior que 50 anos)(8Hwang JH, Lee CK, Yu HS, et al. Clinical outcomes of Bosniak category IIF complex renal cysts in Korean patients. Korean J Urol. 2012;53:386–90.) e por vezes de grande desafio na prática diária da radiologia. O tema de grande relevância está sempre inserido em debates entre os profissionais de imagem e cirurgiões, já que a diferenciação entre um cisto benigno complexo e um carcinoma renal cístico é de vital importância na escolha da conduta(3Miranda CMNR, Maranhão CPM, Santos CJJ, et al. Bosniak classification of renal cystic lesions according to multidetector computed tomography findings. Radiol Bras. 2014;47:115–21.,9Bosniak MA. The current radiological approach to renal cysts. Radiology. 1986; 158:1–10.1111 Hartman DS, Choyke PL, Hartman MS. From the RSNA refresher courses: a practical approach to the cystic renal mass. From the RSNA refresher courses: a practical approach to the cystic renal mass. 2004;24 Suppl 1:S101– 15.).

Em razão da importância e complexidade de apresentação dos cistos renais, Morton A. Bosniak publica, em 1986, um artigo propondo uma categorização destas lesões, visando uma uniformidade na descrição e abordagem baseadas na tomografia computadorizada com contraste venoso(9Bosniak MA. The current radiological approach to renal cysts. Radiology. 1986; 158:1–10.). A descrição proposta originalmente por Bosniak há 28 anos é largamente utilizada até os dias de hoje, com algumas poucas modificações, ratificando a importância do total domínio da classificação por radiologistas e urologistas em suas práticas diárias(3Miranda CMNR, Maranhão CPM, Santos CJJ, et al. Bosniak classification of renal cystic lesions according to multidetector computed tomography findings. Radiol Bras. 2014;47:115–21.,1212 Bosniak MA. The Bosniak renal cyst classification: 25 years later. Radiology. 2012; 262:781–5.,1313 Graumann O, Osther SS, Osther PJS. Characterization of complex renal cysts: a critical evaluation of the Bosniak classification. Scand J Urol Nephrol. 2011;45:84– 90.).

Primeiramente os cistos foram classificados de I a IV, sendo I o cisto simples, II o cisto minimamente complexo e com baixa probabilidade de malignidade, III o cisto complexo e com moderada probabilidade de malignidade e IV o cisto com componente francamente sólido e alta probabilidade de malignidade(9Bosniak MA. The current radiological approach to renal cysts. Radiology. 1986; 158:1–10.). As categorias I e IV sempre tiveram grande concordância em sua descrição e abordagem, entretanto, havia discordância e dificuldade nos primeiros anos da classificação entre as categorias II e III. Quando

o cisto não era suficientemente complexo para ser caracterizado como III, mas apresentava características um pouco mais complexas para ser caracterizado como II, surgiam questionamentos, pois a abordagem proposta para a categoria III era cirúrgica e para a categoria II era finalizar a investigação(1212 Bosniak MA. The Bosniak renal cyst classification: 25 years later. Radiology. 2012; 262:781–5.,1414 Bosniak MA. Diagnosis and management of patients with complicated cystic lesions of the kidney. AJR Am J Roentgenol. 1997;169:819–21.). Foi, então, criada a categoria IIF, sugerindo um acompanhamento seriado por imagem dos cistos que se enquadravam nesta situação(3Miranda CMNR, Maranhão CPM, Santos CJJ, et al. Bosniak classification of renal cystic lesions according to multidetector computed tomography findings. Radiol Bras. 2014;47:115–21.,1212 Bosniak MA. The Bosniak renal cyst classification: 25 years later. Radiology. 2012; 262:781–5.1515 Smith AD, Remer EM, Cox KL, et al. Bosniak category IIF and III cystic renal lesions: outcomes and associations. Radiology. 2012;262:152–60.).

Ao longo destes quase 30 anos da classificação de Bosniak, diversos trabalhos foram publicados, mostrando números que corroboram sua eficácia e reprodutibilidade na prática diária do radiologista(1111 Hartman DS, Choyke PL, Hartman MS. From the RSNA refresher courses: a practical approach to the cystic renal mass. From the RSNA refresher courses: a practical approach to the cystic renal mass. 2004;24 Suppl 1:S101– 15.,1212 Bosniak MA. The Bosniak renal cyst classification: 25 years later. Radiology. 2012; 262:781–5.,1616 Israel GM, Bosniak MA. Pitfalls in renal mass evaluation and how to avoid them. Radiographics. 2008;28:1325–38.). Por isso, o artigo de revisão de Muglia e Westphalen publicado neste número da Radiologia Brasileira(1717 Muglia VF, Westphalen AC. Classificação de Bosniak para cistos renais complexos: histórico e análise crítica. Radiol Bras. 2014;47:368–73.) mostrase de suma importância, já que neste trabalho os autores traçam, mediante uma revisão histórica das principais publicações acerca do tema, um panorama da classificação nos dias atuais, focando em seus elementos mais complexos e controversos, como a diferenciação entre as categorias II, IIF e III(1515 Smith AD, Remer EM, Cox KL, et al. Bosniak category IIF and III cystic renal lesions: outcomes and associations. Radiology. 2012;262:152–60.), o impacto da utilização da categoria IIF na prática clínica e o seguimento dos cistos IIF(8Hwang JH, Lee CK, Yu HS, et al. Clinical outcomes of Bosniak category IIF complex renal cysts in Korean patients. Korean J Urol. 2012;53:386–90.,1010 El-Mokadem I, Budak M, Pillai S, et al. Progression, interobserver agreement, and malignancy rate in complex renal cysts (≥ Bosniak category IIF). Urol Oncol. 2014;32:24.e21–7.,1313 Graumann O, Osther SS, Osther PJS. Characterization of complex renal cysts: a critical evaluation of the Bosniak classification. Scand J Urol Nephrol. 2011;45:84– 90.). O artigo também aborda a utilização de outros métodos (ultrassonografia e ressonância magnética) e a comparação com a tomografia computadorizada no diagnóstico e manejo clínico destes cistos(1818 Israel GM, Hindman N, Bosniak MA. Evaluation of cystic renal masses: comparison of CT and MR imaging by using the Bosniak classification system. Radiology. 2004;231:365–71.), além de apontar perspectivas futuras e promissoras, como o uso de meio de contraste ultrassonográfico intravenoso(1919 Quaia E, Bertolotto M, Cioffi V, et al. Comparison of contrast-enhanced sonography with unenhanced sonography and contrast-enhanced CT in the diagnosis of malignancy in complex cystic renal masses. AJR Am J Roentgenol. 2008;191:1239–49.) e da técnica de difusão em ressonância magnética.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Resende DAQP, Souza LRMF, Monteiro IO, et al. Scrotal collections: pictorial essay correlating sonographic with magnetic resonance imaging findings. Radiol Bras. 2014;47:43–8.
  • 2
    Pereira-Silva RR, Esperancini-Tebar D. Lithium nephropathy: a case report. Radiol Bras. 2014;47:57–9.
  • 3
    Miranda CMNR, Maranhão CPM, Santos CJJ, et al. Bosniak classification of renal cystic lesions according to multidetector computed tomography findings. Radiol Bras. 2014;47:115–21.
  • 4
    Maranhão CPM, Miranda CMNR, Santos CJJ, et al. Congenital upper urinary tract abnormalities: new images of the same diseases. Radiol Bras. 2013;46:43–50.
  • 5
    Gonçalves E, Maia BT, Versiani CM, et al. Unilateral emphysematous pyelitis: case report. Radiol Bras. 2013;46:56–8.
  • 6
    Franca CAS, Vieira SL, Carvalho ACP, et al. Relationship between two year PSA nadir and biochemical recurrence in prostate cancer patients treated with iodine- 125 brachytherapy. Radiol Bras. 2014;47:89–93.
  • 7
    Bittencourt LK, Hausmann D, Sabaneeff N, et al. Multiparametric magnetic resonance imaging of the prostate: current concepts. Radiol Bras. 2014;47:292–300.
  • 8
    Hwang JH, Lee CK, Yu HS, et al. Clinical outcomes of Bosniak category IIF complex renal cysts in Korean patients. Korean J Urol. 2012;53:386–90.
  • 9
    Bosniak MA. The current radiological approach to renal cysts. Radiology. 1986; 158:1–10.
  • 10
    El-Mokadem I, Budak M, Pillai S, et al. Progression, interobserver agreement, and malignancy rate in complex renal cysts (≥ Bosniak category IIF). Urol Oncol. 2014;32:24.e21–7.
  • 11
    Hartman DS, Choyke PL, Hartman MS. From the RSNA refresher courses: a practical approach to the cystic renal mass. From the RSNA refresher courses: a practical approach to the cystic renal mass. 2004;24 Suppl 1:S101– 15.
  • 12
    Bosniak MA. The Bosniak renal cyst classification: 25 years later. Radiology. 2012; 262:781–5.
  • 13
    Graumann O, Osther SS, Osther PJS. Characterization of complex renal cysts: a critical evaluation of the Bosniak classification. Scand J Urol Nephrol. 2011;45:84– 90.
  • 14
    Bosniak MA. Diagnosis and management of patients with complicated cystic lesions of the kidney. AJR Am J Roentgenol. 1997;169:819–21.
  • 15
    Smith AD, Remer EM, Cox KL, et al. Bosniak category IIF and III cystic renal lesions: outcomes and associations. Radiology. 2012;262:152–60.
  • 16
    Israel GM, Bosniak MA. Pitfalls in renal mass evaluation and how to avoid them. Radiographics. 2008;28:1325–38.
  • 17
    Muglia VF, Westphalen AC. Classificação de Bosniak para cistos renais complexos: histórico e análise crítica. Radiol Bras. 2014;47:368–73.
  • 18
    Israel GM, Hindman N, Bosniak MA. Evaluation of cystic renal masses: comparison of CT and MR imaging by using the Bosniak classification system. Radiology. 2004;231:365–71.
  • 19
    Quaia E, Bertolotto M, Cioffi V, et al. Comparison of contrast-enhanced sonography with unenhanced sonography and contrast-enhanced CT in the diagnosis of malignancy in complex cystic renal masses. AJR Am J Roentgenol. 2008;191:1239–49.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2014
Publicação do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem Av. Paulista, 37 - 7º andar - conjunto 71, 01311-902 - São Paulo - SP, Tel.: +55 11 3372-4541, Fax: 3285-1690, Fax: +55 11 3285-1690 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: radiologiabrasileira@cbr.org.br