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Qual é o risco fetal/neonatal em gestações com oligoidramnia no terceiro trimestre?

À BEIRA DO LEITO

OBSTETRÍCIA

Qual é o risco fetal/neonatal em gestações com oligoidramnia no terceiro trimestre?

Seizo Miyadahira; Roseli Mieko Yamamoto Nomura; Marcelo Zugaib

Tradicionalmente, a oligoidramnia é considerada importante sinal de risco potencial aos indicadores de saúde perinatal, tanto nas taxas de morbidade quanto nas de mortalidade. Além das anomalias urológicas fetais (como a agenesia renal e obstruções do trato urinário) e a rotura prematura das membranas ovulares, a oligoidramnia tem como fator etiológico a insuficiência placentária. Após a 20ª semana de gestação, a produção de líquido amniótico se deve predominantemente à diurese fetal que sofre grande influência do processo de centralização da hemodinâmica fetal, ocorrência muito precoce nas gestações de termo, quando há hipoxemia fetal. Desde o advento da ultra-sonografia e, subseqüentemente, consolidação do Índice de Líquido Amniótico (ILA) como melhor método propedêutico para a avaliação desse parâmetro biofísico, utiliza-se essa anormalidade volumétrica do líquido amniótico como marcador crônico do sofrimento fetal. Embora não haja questionamentos persuasivos sobre os critérios de classificação do volume de líquido amniótico pelo método semiquantitativo (ILA), a interrupção da gestação baseada na oligoidramnia como achado isolado tem sofrido acirradas críticas. Vários pesquisadores2,3 têm considerado a oligoidramnia ominosa apenas nos casos patológicos que cursam com restrição do crescimento fetal ou quando há alterações cardiotocográficas significativas (desacelerações graves). Driggers et al., 2004, estudam 131 gestações com oligoidramnia (ILA = 5 cm) e comparam com 131 gestações com ILA > 5 CM, portanto, normais. A idade materna foi semelhante em ambos os grupos (25,7 ± 6,9 X 27,3 ± 7,4 anos) assim como a idade gestacional no nascimento (37,6 ±3,0 X 37,7 ± 3,0 semanas). Todos os partos ocorreram no intervalo de até sete dias. O ILA no grupo de estudo foi de 3,0 ± 1,5 cm e no controle de 10,7 ± 4,0 cm. Na avaliação dos resultados neonatais, não houve diferença significativa nos seguintes parâmetros: peso no nascimento (2897 ±810 g X 2762 ± 788 g), pH de artéria umbilical no nascimento < 7,20 e <7,10, Excesso de Bases, Índices de Apgar, tempo de permanência no berçário, taxas de angústia respiratória, morbidade neurológica e enterocolite necrotizante. Não foram observados óbitos fetais e neonatais. Entre as situações patológicas gestacionais, a restrição do crescimento fetal foi muito mais freqüente no grupo de estudo (12,2% X 1,5% - p=0,0009). Outros estudos demonstram a mesma tendência, entretanto, enfatizam a importância dos sinais de compressão funicular revelada pelas desacelerações variáveis (DIPs umbilicais) na cardiotocografia anteparto (incidência maior de acidemia no nascimento).

Desta forma, fica claro que na ocorrência de oligoidramnia (ILA<5,0 cm), nas gestações de terceiro trimestre, quando não acompanhada de outras alterações, notadamente as cardiotocográficas, não há premência na resolução obstétrica. Portanto, próximo ao termo com maturidade fetal assegurada, especialmente, quando há expectativa favorável e desejo materno no parto por via vaginal, pode-se permitir de forma conveniente a conduta expectante, com a prudência de se efetuar avaliações do bem-estar fetal em intervalos que não devem ultrapassar uma semana. Da mesma forma, na prematuridade extrema, uma situação de maior gravidade, se assente tolerar o avanço da gestação para propiciar o nascimento em idades gestacionais de melhor porvir.

Referências

1. Driggers, RW; Holcroft, JH; Blakemore, KJ; Graham, EM. An amniotic fluid index =5 cm within 7 days of delivery in the third trimester is not associated with decreasing umbilical arterial pH and Base Excess. Journal of Perinatology 2004; 24:72-76.

2. Magann, EF; Doherty, DA; Field, K; Chauhan, SP; Muffey, PE; Morrison, JC. Biophysical profile with amniotic fluid volume assessment. Obstet Gynecol 2004: 104:5-10.

3. Morris, JM; Thompson, K; Smithey, J; Gaffney, G; Cooke, I; Chamberlain, P. et al. The usefulness of ultrasound assessment of amniotic fluid in predicting adverse outcome in prolonged pregnancy: a prospective blinded observacional study. BJOG 2003; 110:989-94.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Abr 2006
  • Data do Fascículo
    Fev 2006
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