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Neisseria meningitidis com sensibilidade intermediária à penicilina: um problema emergente

Correspondências

NEISSERIA MENINGITIDIS COM SENSIBILIDADE INTERMEDIÁRIA À PENICILINA. UM PROBLEMA EMERGENTE

A resistência bacteriana aos antimicrobianos é um problema de grande magnitude na atualidade, com relevância para diferentes patógenos1. Em relação aos agentes causadores de meningite bacteriana aguda (MBA), é fato estabelecido a resistência de Haemophilus influenzae à ampicilina e ao cloranfenicol2 e de Streptococcus pneumoniae à penicilina (sensibilidade intermediária) e, em alguns casos, aos demais b-lactâmicos (cepas altamentes resistentes)3. Em relação à Neisseria meningitidis, a literatura vem trazendo informações cada vez mais freqüentes sobre a resistência deste microrganismo à penicilina.

Em 1987, na Espanha, foi descrito o primeiro caso de isolamento de N. meningitidis com sensibilidade intermediária à penicilina, definida por concentração inibitória mínima de 0.1 a 1.0 micrograma/ml4. Casos similares têm sido também descritos nos Estados Unidos da América (em 1988), na África, e, mais recentemente, em Taiwan5. O mecanismo de resistência à penicilina relaciona-se à diminuição da afinidade do fármaco à proteína ligadora de penicilina (PBP-2), sendo extremamente infreqüente a produção de b - lactamases por este patógeno6. Desde então, questionamentos acerca da importância epidemiológica destas cepas vêm ganhando maiores proporções na literatura internacional, em virtude da possível necessidade de mudança de estratégia terapêutica. A penicilina cristalina, droga de eleição para o tratamento da doença por N. meningitidis, não apresentaria mais eficácia e segurança, sendo premente a utilização de uma cefalosporina de terceira geração.

Estudos têm sido realizados na Espanha (Madri e Barcelona) e Estados Unidos, com a verificação de valores relativamente baixos de prevalência para infecção por tais cepas4. Em 100 isolados americanos obtidos no ano de 1991, somente três apresentavam sensibilidade intermediária à penicilina7. Em Madrid, verificou-se no ano de 1997, valores de 10,4% de resistência4. Já em Barcelona, os níveis variaram, entre os anos de 1986 e 1997, de 9,1% a 71,4%, ou seja, resistência crescente e com valores assustadores no último ano da avaliação8. Há de se comentar que, dependendo da disseminação documentada destas bactérias, surgirá a necessidade de avaliação do perfil de sensibilidade de todas as amostras de N. meningitidis isoladas, visto que a emergência de cepas resistentes passa a ser um fato preocupante e, de certa forma alarmante, pela gravidade do quadro a ser tratado e pela urgência de instituição de terapêutica adequada2.

Com base nos achados abordados acima, é prudente a implementação de sistemas de vigilância de N. meningitidis em nosso país, objetivando a identificação do problema em nível nacional e indicação de mudança do esquema habitual de tratamento de penicilina para ceftriaxone, como o já realizado na terapêutica da meningite por S. pneumoniae.

Referências

1. Siqueira-Batista R. Antimicrobianos. In: Siqueira-Batista R, Gomes AP, Santos SS, Almeida LC, Figueiredo CES, Bedoya Pacheco SJ. Manual de infectologia. Rio de Janeiro: Revinter; 2002. p.5-39.

2. Siqueira-Batista R, Gomes AP, Acioly MA, Santos SS, Almeida LC. Meningite bacteriana aguda. Como diagnosticar e tratar. Ars Cvrandi 2001; 8(10):20-30.

3. Gomes AP, Facio MR, Siqueira-Batista R, Igreja RP, Silva Santos S. Estreptococcias. In: Siqueira-Batista R, Gomes AP, Igreja RP, Huggins DW. Medicina tropical. abordagem atual das doenças infecciosas e parasitárias. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2001. p. 327-9

4. Sociedade Iberoamericana de Información Científica (SIIC). Aumenta el serogrupo C de Neisseria meningitidis y la resistencia moderada a la penicilina. Disponível em: URL: http://www.siicsalud.com/des/des004/97919021.htm.

5. Ben RJ, Wang CC, Chu ML. Meningitis due to penicillin-resistant Neisseria meningitidis in 20-year-old man. J Formos Med Assoc 2002; 100(10): 686-8.

6. Orus P, Viñas M. Mechanisms other than penicillin-binding protein-2 alteration may contribute to moderate penicillin resistance in Neisseria meningitidis. Int J Antimicrob Agents 2001; 18(2):113-9.

7. Jackson LA, Tenover FC, Baker C, Plikaytis BD, Reeves MW, Stock AS, Weaver RE, et al. Prevalence of Neisseria meningitidis relatively resistant to penicillin in the United States, 1991. Meningococcal Disease Study Group. J Infect Dis 1994; 169(2): 438-41.

8. Sociedade Iberoamericana de Información Científica (SIIC). Evolucion de la resistencia a la penicilina en N. meningitidis en España. Disponível em URL: http://www.siicsalud.com/des/des020/00019012.htm.

Andréia Patrícia Gomes*, Rodrigo

Siqueira-Batista

Fundação Educacional Serra dos

Órgãos – Faculdade de Medicina de

Teresópolis – Superintendência de Saúde

Coletiva - Secretaria do

Estado do Rio de Janeiro

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Set 2002
  • Data do Fascículo
    Jun 2002
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