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Desenvolvimento e deterioração organizacional

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Flávio J. Dantas de Oliveira

Foguel, Sérgio & Souza, Carlos César. Desenvolvimento e deterioração organizacional. São Paulo, Atlas, 1980. 237 p.

A incipiente literatura sobre desenvolvimento organizacional (DO), sua filosofia, aplicações e resultados no ambiente organizacional brasileiro, acaba de receber urna contribuição muito válida, com a publicação da presente obra. Os autores possuem um background que seguramente os autoriza a escrever um texto sobre DO, onde teoria e prática se integram, menos numa linha prescritiva e, muito mais, no sentido de gerar reflexões e alternativas criativas por parte do leitor. Ambos são pós-graduados em administração, com vivência de consultoria organizacional em variadas organizações brasileiras (públicas e privadas), exercendo atualmente funções executivas numa grande empresa nacional.

O relacionamento entre os indivíduos e a organização permeia todos os capítulos do livro, constituindo-se no tema central, enfocado de maneira prática, através da apresentação de vários exemplos e experiências dos autores, sob a égide de modelos conceptuais orientadores de uma praxis. Adotaram, porém, uma perspectiva ampla da abordagem, não se detendo, exclusivamente, na análise dos aspectos puramente comportamentais relevantes à questão, como tem sido comum na escassa literatura nacional sobre DO. Os autores admitem, como dificuldade primordial a ser solucionada, a baixa qualidade da vida Idos indivíduos) na organização e a baixa eficácia/eficiência das organizações, entendendo que "a mais grave das disfunções reside em concepções inadequadas sobre o trabalho, o ser humano e as organizações". A partir dessa problematização, e da colocação de que na organização estão permanentemente atuando forças contraditórias de deterioração (entropia) e desenvolvimento-definidoras da dinâmica organizacional - enumeram os autores modelos conceptuais propiciadores de possíveis linhas - de ação para a prática gerencial. Entre tais modelos conceptuais - que devem ser entendidos como "modelos que permitem mapear determinada realidade" - são apresentados e analisados o modelo das organizações como sistemas sócio-técnicos abertos, o modelo do processo de desenvolvimento organizacional e o modelo do processo de intervenção em organizações

A seqüência lógica de abordagem do tema está muito bem estruturada, como o uso freqüente de "ganchos de memória", com o que resgatam informações e conclusões já veiculadas em passagens anteriores da obra, integrando-as aos novos raciocínios. O libro está dividido em três partes. Na parte 1 subdividida em três capítulos, é discutida a deterioração organizacional, mais evidente nos momentos de crise, com a apresentação dos seus sintomas e sinais "patognomônicos" e a proposição de uma tipología tentativa de disfunções organizacionais. No capitulo 3, os autores fazem uma análise critica, a partir da realidade brasileira, dos programas governamentais de reforma administrativa, de treinamento gerencial e de desenvolvimento organizacional, que têm-se constituído nas respostas usuais das organizações nacionais contra a tendência à deterioração.

A parte 2 é dedicada à abordagem da organização como sistema sócio-técnico aberto, com ênfase especial na variável comportamental. Compõe-se também de três capítulos, sendo apresentado o modelo da organização como sistema sócio-técnico no capitulo 4 e as considerações sobre aspectos comportamentais nos capítulos 5 e 6. No capítulo 5, a discussão ê conduzida precipuamente através da exploração de . características polares, como o que aflora versus o que não aflora, comportamento consciente versus o inconsciente e normalidade versus; patologia comportamental. Na conclusão dessa parte, os autores propõem para reflexão e comparação, os modelos comportamentais I e II (derivados do trabalho de Chris Argyris e Donald Schon), relacionando-os com a eficácia e a aprendizagem organizacionais.

A parte 3, igualmente subdividida em três capítulos, apresenta os modelos do processo de desenvolvimento das organizações (capitulo 7) e do processo de intervenção organizacional (capítulo 8), finalizando com a exploração da dinâmica consultor-cliente, quando a presença daquele se faz indicada para ajudar as organizações. Os autores enfatizam que a autenticidade de escolha (ao nível do subsistema social) e a eficiência/eficácia de produção (ao nível do subsistema técnico), duas dimensões centrais do processo de desenvolvimento, devem ser encaradas como pré-requisitos para a obtenção de um equilíbrio harmônico entre as diversas variáveis organizacionais, No posfácío, a titulo de conclusões e repasse de toda a temática tratada na obra, são enumera das algumas implicações para a prática, onde se inserem as principais proposições dos autores e realizados comentários que integram todos os tópicos estudados no decorrer do livro.

Dentro do conjunto de publicações produzidas por autores brasileiros sobre DO, este nos parece ser o texto mais didático e apropriado até o momento oferecido para aplicação em cursos de administração, tanto a nível de graduação (para alunos com um bom embasamento anterior em teoria geral de administração) como de pós-graduação (especialmente cursos de especialização). Por outro lado, recomenda-se, na integra, a leitura e análise do livro por consultores organizacionais, executivos e assessores de organizações públicas e privadas (notadamente aqueles responsáveis pelo planejamento e/ou implementação de mudanças organizacionais).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Mar 1981
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