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O sonhar anti-narcísico e a política yanomami

LIMULJA, Hanna. . 2022. O desejo dos outros: Uma etnografia dos sonhos yanomami. São Paulo: Ubu Editora. 192 pp

1.

O desejo dos outros é certamente uma das etnografias mais impressionantes

publicadas no Brasil nos últimos tempos. Lançado em 2022 pela editora Ubu, o livro é fruto de um engajamento profundo da antropóloga Hanna Limulja junto aos Yanomami, povo com quem atua desde 2008. A obra é baseada em sua tese de doutorado em Antropologia Social, defendida na Universidade Federal de Santa Catarina, em 2019, e traz contribuições fundamentais para debates clássicos da etnologia ameríndia enquanto intervém, de maneira precisa, em importantes reflexões sobre a crise política e ecológica com a qual nos defrontamos.

O estilo da escrita evidencia a preocupação da autora em tornar a obra o mais acessível possível:1 1 Preocupação que, diga-se de passagem, parece ter rendido bons frutos. Segundo dados fornecidos pela editora, o livro que foi publicado em abril deste ano e que já foi lançado em diversas capitais, ainda em agosto, teve sua primeira tiragem, de mais de 4.000 exemplares, esgotada. trata-se de um livro pequeno, de texto extremamente fluído e que consegue abordar discussões antropológicas complexas em uma linguagem simples e sintética. Limulja consegue, assim, escapar do uso de conceitos herméticos e de discussões bibliográficas extensas que comumente tornam as etnografias um gênero destinado apenas aos iniciados. Mas qual seria, afinal, a importância de tornar acessível para um público mais amplo um texto que fala sobre a forma que os Yanomami sonham e os usos que fazem dos seus sonhos? A resposta, como nos indica a autora logo no início da apresentação do livro, é que os sonhos estão estritamente relacionados com a forma como os seus interlocutores fazem política e que, mais do que nunca, seria “preciso aprender a fazer política como e com os Yanomami” (Limulja, 2022: 19). É a isso que dedicarei esta resenha.

Muito provavelmente, a relação entre a experiência onírica e a política não se dá de maneira óbvia em uma primeira aproximação. Afinal, de que forma os sonhos, que nos parecem tão fugazes e insignificantes, poderiam auxiliar os Yanomami em seus enormes desafios políticos de enfrentamento ao desmatamento incessante de sua floresta, à invasão garimpeira que avança sobre seu território e ao colapso climático que se anuncia de forma cada vez mais dramática?

No entanto, a obra não trata de uma divagação da autora ou de qualquer guru new age que pregue o renascimento do sonho como a nova panaceia apta a resolver todos os nossos problemas. A afirmação vem dos próprios Yanomami, que insistem em nos dizer que a boa política se faz com sonhos e que os não indígenas precisam também aprender a sonhar. E, se existe uma lição importante da antropologia, muito bem aprendida por Hanna Limulja, é a de levar a sério o que nos dizem os povos que, contra todas as previsões ocidentais, resistem há tanto tempo à guerra travada contra seus territórios e comunidades.

2.

O tema dos sonhos entre os Yanomami já havia aparecido recentemente como um dos eixos centrais de A queda do céu (Kopenawa e Albert, 2015KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. 2015. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras .), livro que registra de forma extensa as falas que o xamã e líder político Davi Kopenawa compartilhou com o etnógrafo Bruce Albert, seu amigo e companheiro de luta de longa data. Hanna começa seu trabalho justamente encarando a obra de mais de 700 páginas, buscando apresentá-la e resumi-la a partir de um enfoque onírico. Assim, a autora evidencia como a trajetória de Kopenawa, de sua formação xamânica até a consolidação de seu lugar como liderança de seu povo nos embates com os não indígenas, está estritamente relacionada com os sonhos que teve e com as reflexões tecidas a partir deles.

Contudo, a autora nos ajuda a ver, já no segundo capítulo, que tal valorização da experiência onírica revela, no fundo, uma outra epistemologia. Pois, se na tradição filosófica moderna o sonho está intimamente relacionado à ilusão, posto em um lugar de antagonismo com a razão, como defendeu Descartes em suas Meditações metafísicas, algo bastante distinto se passa com os Yanomami. Ali o sonho ganha o estatuto de uma experiência real, vivida por uma parte da pessoa chamada utupë (traduzida pela autora como imagem). No sono, essa parte se desprende do corpo e circula pela terra, encontrando-se com as imagens de outros seres: humanos ou animais, vivos ou mortos, visíveis ou invisíveis.

Assim, Limulja ajuda demonstrar que a experiência onírica opera para os Yanomami como uma verdadeira tecnologia de comunicação com alteridades. Algo que não se dá sem riscos, certamente, pois os outros com quem se estabelecem relações em sonhos podem causar mal aos sonhadores. É o que ocorre, por exemplo, no caso dos sonhos com os mortos, analisados pela autora, em que os falecidos, saudosos de seus parentes vivos, vêm os visitar. Isso faz com que os últimos também sintam saudade, se entristeçam e adoeçam.

Se tal abertura à alteridade não deixa de ser perigosa, trata-se, contudo, de um risco que deve ser encarado.2 2 Tema que é desenvolvido de forma bastante ampla por Viveiros de Castro (2011). Isso porque tais encontros também possibilitam a obtenção de poderes e conhecimentos que auxiliam a vida dos Yanomami na terra, permitindo que se vejam coisas que não aparecem para as pessoas quando despertas. Nesse sentido, não se trata de opor sonho e vigília, como mostra a autora, mas de compreendê-los como experiências verdadeiras vividas por diferentes partes que compõem a pessoa e que, logo, possibilitam diferentes formas de acessar o mundo e se relacionar com outros seres. São conhecimentos que se complementam e ajudam a orientar a vida nesta terra (: 69) e é por isso que tantas vezes Kopenawa tenta explicar que o sonho é como uma escola para os Yanomami.

Dessa forma, os grandes sábios entre os Yanomami, como xamãs, são aqueles que cultivam o sonhar. São as pessoas que conseguem, por meio de duros trabalhos, intensificar sua experiência onírica: expandir os contatos estabelecidos com alteridades e depois voltar pra contar o que vivenciaram.

Não à toa, uma parte importante do trabalho da autora se dedica a mostrar como os próprios mitos, entre os Yanomami, são vividos e transformados pelos xamãs, que tem suas imagens carregadas durante seus sonhos pelos espíritos xapiri. Assim, até mesmo as histórias que narram as origens do mundo tal como é hoje podem também ser recontadas e o tempo reconstruído.3 3 O que faz com que a autora proponha uma inovadora discussão sobre as transformações dos mitos, tal como pensada por Lévi-Strauss em suas Mitológicas, e que é comentada por Sztutman no prefácio do livro. Delineia-se, portanto, outra concepção de conhecimento. Nela, o saber não é matéria dada, mas aberta à experiência que pode sempre vir a transformar aquilo que era tido por certo. Além disso, o sábio não é quem possui em si um gênio distinto, mas a coragem e um ímpeto especial para se abrir, para se deixar afetar por aquilo que vem de fora.

3.

Gostaria de dar destaque, agora, a alguns dos pontos apresentados pela autora. Em primeiro lugar, vale frisar que os sonhos parecem operar numa lógica temporal bastante distinta daquela que é vivida na vigília. Pois, se o xamã pode reviver por meio de sua experiência onírica os mitos que se desenrolaram em um tempo muito distante, são também frequentes entre os Yanomami os sonhos que dizem respeito a eventos que ainda vão ocorrer. Aqui, contudo, não se trata de um futuro pensado a partir da chave coercitiva do destino, mas de um quase-acontecimento, tal como argumenta Shiratori (2013SHIRATORI, Karen G. 2013. O acontecimento onírico ameríndio: o tempo desarticulado e as veredas dos possíveis. Rio de Janeiro, Dissertação de mestrado, Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.) em uma bela revisão bibliográfica sobre o tema da experiência onírica entre distintos povos ameríndios. Trata-se de um futuro possível que é anunciado ao sonhador que deverá tomar, já na vigília, as ações necessárias para que um sonho desejado se realize ou para que se possa escapar de uma ameaça que é nele apresentada.

Nos relatos de Limulja, são frequentes os sonhos que parecem prever ameaças futuras. Tal como no exemplo do sonho com os mortos mencionado acima, a autora nota que, nesses casos, o sonhador costuma ocupar um lugar bastante particular: o de presa (: 114). A visão do sonho coloca, então, o sonhador como objeto de um outro sujeito, seja ele um inimigo humano, o espírito de um morto ou de uma cobra. Assim, o sonho afasta-se do domínio da psique individual para aproximar-se, perigosamente, de um cosmos em que se vive suscetível aos agenciamentos provocados por outros seres. Se no nascimento da psicanálise Freud via o sonho como a realização (disfarçada) de um desejo (inconsciente) do sujeito, Limulja nos mostra que para os Yanomami os sonhos dizem respeito mais aos desejos dos outros que nos tocam. Anti-narcísico, o sonhar evidencia um mundo em que a agência de diversos seres é posta em primeiro plano e em que a excepcionalidade humana está longe de ser a regra.

Por sua vez, se os encontros oníricos podem trazer conhecimentos sobre futuros possíveis, novamente deve-se destacar que isso não diz respeito apenas ao sonhador. Em um curioso exemplo relatado pela autora, um de seus interlocutores conta que, certa vez, teve um sonho ruim que entendeu como um presságio de que poderia encontrar uma cobra pelo caminho. Mobilizado pelo sonho, ele conclui que deveria ficar em casa e não ir para a floresta naquele dia. Contudo, em função da insistência da esposa, que desejava colher bacaba para comer, ele aceita ir para a mata, apesar de contrariado, após realizar um ritual protetivo. No meio do caminho, contudo, sua esposa e sua filha, que não haviam realizado o mesmo ritual, acabam sendo picadas por uma jararaca.

Assim, se alguns sonhos dizem mais respeito ao sujeito que sonha, outros se aplicam também a coletivos, de diversos tamanhos e graus de distância em relação ao sonhador. Tanto é que, como nota a autora, é frequente que os relatos dos sonhos componham as falas hereamu, espécie de aconselhamentos realizadas no centro da casa coletiva das comunidades (: 73) e até mesmo os diálogos cerimoniais wayamu, que se dão nas festas intercomunitárias reahu feitas pelos Yanomami (: 76). Sonhos compartilhados que permitem com que toda uma coletividade possa escapar de maus futuros anunciados em sonho.

4.

Em seus sonhos, Kopenawa vê os terríveis futuros que se anunciam não apenas para os Yanomami, mas para toda a humanidade. Tempos em que, tendo a floresta sido destruída, já não há mais xamãs para segurar o céu que desaba sobre todos ou em que terríveis epidemias xawara se espalham desenfreadamente em função da incessante atividade garimpeira. Esses são alguns dos sonhos que Davi relata em A queda do céu, buscando sensibilizar seus leitores e provocar alguma reviravolta que permita desviar desse futuro terrível.4 4 Sztutman (2019: 98) afirma que o próprio livro de Kopenawa e Albert pode ser pensado de alguma forma em analogia às falas de aconselhamento hereamu, assim como com os diálogos wayamu, que também são usados pelos Yanomami para buscar encerrar um conflito, chegar em um bom termo em uma negociação. Como um “diálogo cerimonial agonístico que visa não uma paz perpétua, mas uma paz possível, encobrindo guerras passadas e futuras.”.

Além de contar seus sonhos, o xamã insiste que os brancos, deveriam aprender a sonhar. Diz que seus professores deveriam ensiná-los a sonhar em suas escolas; a sonhar de verdade, tal como fazem os xamãs. Em outras palavras, que aprendam a se encontrar, também, com outros, vendo e ouvindo aquilo que não veem na vigília, e assim, quem sabe, dar-se conta do precipício para o qual caminham levando tantos povos e seres junto com eles.

Certamente, Kopenawa não é otimista em relação aos brancos. Mesmo depois de anos convivendo com estes, seus relatos frequentemente manifestam espanto frente à indiferença, à inabilidade de escuta e ao grau de violência de que são capazes os não indígenas. A vida corrida das grandes e barulhentas cidades, suas luzes incessantes e a preocupação constante dos não indígenas em adquirir dinheiro, sem o qual não conseguem viver nesse mundo, certamente não propiciam boas condições para o cultivo dos sonhos, tão frequentemente ignorados, tido como irrelevantes ou simplesmente esquecidos. Pois, a habilidade de sonhar bem entre os Yanomami, como reflete Limulja, está intimamente relacionada à generosidade: a disposição e a coragem de se abrir para a troca com outros (: 102), algo que parece estar demasiadamente em falta na vida solipsista que tantos não indígenas levam nas grandes cidades.5 5 Veja-se um dos tantos trechos esclarecedores de Kopenawa a respeito do tema: “Para mim, não é nada agradável viver na cidade. Meu pensamento lá fica irrequieto e meu peito apertado. Não durmo bem, só como coisas estranhas e vivo com medo de ser atropelado por um carro! Nunca consigo pensar com calma. É um lugar que realmente provoca muita aflição. Os brancos pedem dinheiro para tudo o tempo todo, até para beber água e urinar! Aonde quer que se vá, há uma multidão de gente que se apressa para todos os lados sem que se saiba por quê. Anda-se depressa no meio de desconhecidos, sem parar e sem falar, de um lugar para outro. A vida dos brancos que se agitam assim o dia todo como formigas xiri na parece triste. Eles estão sempre impacientes e temerosos de não chegar a tempo a seus empregos ou de serem despedidos. Quase não dormem e correm sonolentos durante o dia todo. Só falam de trabalho e do dinheiro que lhes falta. Vivem sem alegria e envelhecem depressa, sempre atarefados, com o pensamento vazio e sempre desejando adquirir novas mercadorias. Então, quando seus cabelos ficam brancos, eles se vão e o trabalho, que não morre nunca, sobrevive sempre a todos. Depois, seus filhos e netos continuam fazendo a mesma coisa” (Kopenawa e Albert, 2015: 436).

Apesar disso, Kopenawa insiste. Como lembra Limulja já nas derradeiras páginas de seu livro, o próprio xamã também relata o quanto ele mesmo aprendeu com as palavras de Chico Mendes, um branco que sabia sonhar e se deixar afetar pelos xapiri (: 176), tornando-se um defensor da floresta e de seus povos. Quem sabe, então, questiona ele, outros brancos não poderão se abrir às palavras que vêm do xamã? Quem sabe eles também não poderão passar a sonhar, a escutar e a transmitir o que dizem os espíritos da floresta?

Por isso, como afirma a autora na apresentação do livro, o vínculo entre os sonhos e a política feita pelos Yanomami evidencia-se pelo fato de que o sonho é, por princípio, relação com Outros. E que, para “fazer política, o outro é preciso e é preciso ter cuidado, no sentido de cuidar, de pensar no outro” (: 19). Difícil e importante, essa é uma das principais lições aprendida dos seus interlocutores yanomami por Limulja, e que ela nos repassa em seu lindo livro: rápido e certeiro como uma flecha.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • DESCARTES, René. 1973 [1641]. “Meditações”. In: Os Pensadores, vol. XV. São Paulo: Abril Cultural, pp. 81-152.
  • FREUD, Sigmund. 2019 [1900]. “A Interpretação dos sonhos”. In: Obras Completas - vol. 4. São Paulo: Companhia das Letras, pp. 15-675
  • KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. 2015. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras .
  • SHIRATORI, Karen G. 2013. O acontecimento onírico ameríndio: o tempo desarticulado e as veredas dos possíveis. Rio de Janeiro, Dissertação de mestrado, Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
  • SZTUTMAN, Renato. 2019. Um acontecimento cosmopolítico: O manifesto de Kopenawa e a proposta de Stengers. Mundo Amazónico, vol. 10, n. 1: 83-105. DOI 10.15446/ma.v10n1.74098
    » https://doi.org/10.15446/ma.v10n1.74098
  • VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2011. O medo dos outros. Revista de Antropologia, vol. 54, n. 2: 885-917. DOI 10.11606/2179-0892.ra.2011.39650
    » https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2011.39650
  • 1
    Preocupação que, diga-se de passagem, parece ter rendido bons frutos. Segundo dados fornecidos pela editora, o livro que foi publicado em abril deste ano e que já foi lançado em diversas capitais, ainda em agosto, teve sua primeira tiragem, de mais de 4.000 exemplares, esgotada.
  • 2
    Tema que é desenvolvido de forma bastante ampla por Viveiros de Castro (2011)VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2011. O medo dos outros. Revista de Antropologia, vol. 54, n. 2: 885-917. DOI 10.11606/2179-0892.ra.2011.39650
    https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.20...
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  • 3
    O que faz com que a autora proponha uma inovadora discussão sobre as transformações dos mitos, tal como pensada por Lévi-Strauss em suas Mitológicas, e que é comentada por Sztutman no prefácio do livro.
  • 4
    Sztutman (2019SZTUTMAN, Renato. 2019. Um acontecimento cosmopolítico: O manifesto de Kopenawa e a proposta de Stengers. Mundo Amazónico, vol. 10, n. 1: 83-105. DOI 10.15446/ma.v10n1.74098
    https://doi.org/10.15446/ma.v10n1.74098...
    : 98) afirma que o próprio livro de Kopenawa e Albert pode ser pensado de alguma forma em analogia às falas de aconselhamento hereamu, assim como com os diálogos wayamu, que também são usados pelos Yanomami para buscar encerrar um conflito, chegar em um bom termo em uma negociação. Como um “diálogo cerimonial agonístico que visa não uma paz perpétua, mas uma paz possível, encobrindo guerras passadas e futuras.”.
  • 5
    Veja-se um dos tantos trechos esclarecedores de Kopenawa a respeito do tema: “Para mim, não é nada agradável viver na cidade. Meu pensamento lá fica irrequieto e meu peito apertado. Não durmo bem, só como coisas estranhas e vivo com medo de ser atropelado por um carro! Nunca consigo pensar com calma. É um lugar que realmente provoca muita aflição. Os brancos pedem dinheiro para tudo o tempo todo, até para beber água e urinar! Aonde quer que se vá, há uma multidão de gente que se apressa para todos os lados sem que se saiba por quê. Anda-se depressa no meio de desconhecidos, sem parar e sem falar, de um lugar para outro. A vida dos brancos que se agitam assim o dia todo como formigas xiri na parece triste. Eles estão sempre impacientes e temerosos de não chegar a tempo a seus empregos ou de serem despedidos. Quase não dormem e correm sonolentos durante o dia todo. Só falam de trabalho e do dinheiro que lhes falta. Vivem sem alegria e envelhecem depressa, sempre atarefados, com o pensamento vazio e sempre desejando adquirir novas mercadorias. Então, quando seus cabelos ficam brancos, eles se vão e o trabalho, que não morre nunca, sobrevive sempre a todos. Depois, seus filhos e netos continuam fazendo a mesma coisa” (Kopenawa e Albert, 2015KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. 2015. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras .: 436).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Jan 2023
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    21 Out 2022
  • Aceito
    31 Out 2022
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