PROFESSORES/AS PER(FORMANDO) GÊNERO: CORPOREIDADES, HORMÔNIOS E A EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS/QUÍMICA

Faustino, Gustavo Augusto Assis; Bernardes, Clarissa Alves Carneiro; Vargas, Regina Nobre; Silva, Juvan Pereira da; Ruela, Brunno André; Costa, Fernando Rocha da; Camargo, Marysson Jonas Rodrigues; Benite, Anna Maria Canavarro

doi:10.21577/0100-4042.20240006

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Sumário

Educação • Quím. Nova 47 (5) • 2024 • https://doi.org/10.21577/0100-4042.20240006 copiar

PROFESSORES/AS PER(FORMANDO) GÊNERO: CORPOREIDADES, HORMÔNIOS E A EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS/QUÍMICA

TEACHERS PER(FORMING) GENDER: CORPOREITIES, HORMONES AND THE SCIENCE/CHEMISTRY EDUCATION.

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

The discussions on human rights, gender and race are global and urgent. Using elements of participatory research, this study aimed to analyze, understand and characterize the formative process of postgraduate student’s knowledge and reflections mobilized on the gender and sexuality in the teaching of Science/Chemistry. The results show that the students started from a counter-hegemonic intentionality regarding the way in which the issue of hormones is traditionally treated in Science/Chemistry teaching. Furthermore, they recognized scientific knowledge as active in the production and reproduction of systems of oppression teacher on diversity education transgressive way of teaching the subject, beyond the binary conception of gender. The results revealed the possibility of rationalizing sexual and gender dissidences as a form of innovation, as well as the importance of formative processes to rethink dominant epistemologies for the advancement of educational and practices in and for education, to break with the cisheteromonormative perspective that erases the production and existence of people who flee from this logic in Science/Chemistry.

Assunto	Abordagem conceitual de química	Abordagem conceitual de gênero e sexualidade	Formação
Hormônios nos livros didáticos	Funções orgânicas	Papéis sociais, diferenças biológicas e o antagonismo de gênero	A1 - Licenciatura em Química
Hormônios nos livros didáticos	Funções orgânicas		A17 - Licenciatura em Química

Turno	Identificação	Discurso
183	A17	Nós pensamos em fazer foi falar um pouco sobre os hormônios sexuais e pensar em uma abordagem que contemplasse melhor essa ideia de hormônio que não é sexual. O conhecimento científico é utilizado para assegurar muitos lugares de privilégios e justificar muitas formas de subalternização, de opressão e de violência. Assim como foi com o câncer gay e a epidemia do HIV, a própria ideia de hormônios sexuais era uma dessas questões para justificar, foi o próprio conhecimento científico que justificou essas posições, essas naturalizações.
184	A17	Todos os construtos sobre hormônio sexual foram construídos sobre o cerne do mito da universalidade, neutralidade e objetividade científica, mas que no fundo nós sabemos que ele tem uma cor tem um gênero e tem uma sexualidade. As hipóteses, a escolha dos experimentos, a translação dos resultados para teoria tinha sempre um viés que era o do homem branco, europeu e heterossexual. A própria ideia de hormônio sexual só podia ser inteligível dentro dessas questões. Através dessas pesquisas nós tentamos propor uma nova forma de trabalhar com esses conceitos.
185	A17	A ideia de hormônio sexual começou com testes de transplante em frangos. A ideia era que as glândulas se comunicavam por terminações nervosas e isso prejudicou muito a ideia da definição de hormônio. Nessa mesma época já havia um debate na sociedade sobre o direito das mulheres e dos homossexuais brancos, que foi chamado de “crise da masculinidade”. As experimentações biológicas e de todas essas questões refletiam e contribuíam para as definições de masculinidade e feminilidade da época.
186	A17	Os construtos científicos serviam para conformar essas ideias de masculinidade e feminilidade. Otto Weininger dizia que a sexualidade era determinada pelo sangue, todas as pessoas tinham no sangue caracteres masculinos e femininos e que essa quantidade, e essa proporção variavam em quantidade, por isso se explicava uma vasta gama de feminilidade e masculinidade. Todas as conquistas, talentos e criação social era com base no plasma masculino. Portanto, ele tentava explicar todas essas diferenças com base no plasma sanguíneo, no qual teve forte influência na ideia de hormônio.
187	A17	Outra pessoa que contribuiu para a ideia de hormônio masculino e feminino foi Francis Marshal deu a ideia de que o espermatozoide era ativo, assim como o homem era ativo na sociedade, e a mulher passiva e assim o óvulo era passivo também, como verdades biológicas essenciais.
195	A17	A partir da Primeira Guerra então estabeleceu-se realmente uma disputa entre os cientistas e ativistas sociais sobre a investigação dos hormônios. Eles passaram essas ideias racistas, misóginas para o conceito de hormônio sexual.
196	A17	A pesquisa de hormônios se desenvolveu sob a égide da ciência moderna, essa égide racista e misógina e LGBTIfóbica. Na década de 20, 30 e 40 a ideia de hormônio sexual masculino e feminino fica impregnada de vez nas relações de gênero, o hormônio sexual ganha esse sentido social de definição de homem e mulher.
200	A17	Na década de 30, a ideia de que os hormônios testiculares produziriam certo vigor e certa juventude para a indústria farmacêutica era valiosíssima para que elas pudessem comercializar esses hormônios. Assim ficou definido que o hormônio feminino ficou definido com base no seu papel ovulatório e o hormônio masculino ficou definido com base em seus caracteres secundários. Através dessa discussão, nós propomos trabalhar a ideia de hormônios fora dessa perspectiva sexual, trabalhar a ideia de testosterona e estrógeno fora dessa ideia.

Turno	Identificação	Discurso
206	A1	A partir dessa proposta de um diálogo de abordar o conceito químico de hormônios a partir de uma concepção em que essa questão de gênero não esteja intrínseca ao processo.
207	A1	O gênero entra como ator principal até para essas moléculas. Então nós temos a questão da progesterona e da testosterona e o tratamento delas enquanto moléculas sexuais, molécula sexual feminina e molécula sexual masculina.
210	A1	Os hormônios são moléculas que agem como sinalizadores químicos, que parte de um lugar e vão para outro a partir da corrente sanguínea. Essa escolha de avaliar e nomear as moléculas estudadas elas vieram carregadas e naturalizadas das ideias culturais sobre gênero, pelo qual se reforça a ideia falaciosa de uma neutralidade científica. Uma coisa que nós nos questionamos, durante a disciplina e construindo essa proposição, é a quem essas ciências servem? Em quais momentos é interessante usar de uma dita neutralidade científica e até onde isso é velado, essa parcialidade da ciência ela é velada, quem são e a quem serve esses interesses.
211	A1	Sempre que se busca nos principais livros por questão de hormônios, em especial, a testosterona e a progesterona encontram como hormônios sexuais.
212	A1	Quando a gente examina a interseccionalidade entre os mundos, é possível ver de qual maneira que realmente as moléculas se convertem em parte do sistema de gênero ou como gênero se converte enquanto parte da química.
213	A1	Dentro dos livros do ensino médio eles estão dentro de uma categoria chamada de hormônios sexuais, que faz parte da categoria de hormônios, que são esteroides e que são lipídios. Ao invés de trabalhar dentro de um cenário macro abordando a questão dos lipídios ou dos esteroides, os livros sempre abordam com esse contexto no olhar do micro, como hormônios sexuais. É um ponto que precisa se pensar bastante, é como essa ideia, essa atribuição reprodutiva as gônadas e aos hormônios elas são sempre atribuídas à ideia de reprodução humana e como essa sexualidade é heteronormatizada dentro da nossa proposta de ensino.
214	A1	Os livros não abordam as questões que fogem a essa cisheteronormatividade. Os hormônios sexuais sempre diretamente ligados à reprodução, intrinsecamente relacionando o sexo a esfera da reprodução também, e sempre de relações sexuais e hormônios sexuais na esfera da heteronormatividade.

Turno	Identificação	Discurso
215	A1	Nós trazemos alguns recortes de alguns livros de ensino médio. Esses aqui são os livros do ensino médio no livro MRF (livro utilizado no Seminário). No livro sempre aborda essa ideia dos hormônios sexuais, sempre nessa divisão de masculino e feminino. Esquece-se de enfatizar, por exemplo, que o homem também tem a influência do estrógeno e a mulher também tem a influência da testosterona no organismo. É como se esses hormônios fossem restritos ao gênero e então eles não se batem, eles não interagissem em ambos os corpos.
216	A1	Nessa perspectiva a gente pensou em como tentar abordar a ideia da progesterona e da testosterona sem que necessariamente se fale como hormônio sexual. Esse que está em rosinha, que é um recorte da Química e Biologia no livro JCFL (livro utilizado no Seminário). No livro traz a questão da testosterona sem falar que é um hormônio sexual, só fala da importância dela no organismo na produção de Vitamina D. Segue, sem abordar, sem necessariamente falar que é um hormônio sexual masculino. Então a nossa proposta é pensar em uma intervenção que esteja mais nesse caminho do que no recorte do lado, que é também do livro JCFL (livro utilizado no Seminário), que fala do estradiol. É um exercício de análise de moléculas, de estrutura molecular, mas que ele faz questão de enfatizar que é um hormônio feminino, então sempre traz esse recorte do gênero para dentro do exercício. Nossa proposta, então, é fugir disso, porque dentro das nossas escolas, a gente tem que lembrar que nós não vamos ter só alunos e alunas cis. Nós também teremos alunas e alunos trans e é importante pensar que eles não são representados dentro dessa perspectiva. O debate da transsexualidade e da travestilidade fica completamente ausente nessas discussões sobre os hormônios sexuais, por exemplo.
219	A17	A ideia de antagonismo sexual era tão presente nessas pesquisas que teve cientistas que chegaram a propor que, assim como uma esfera social os hormônios sexuais também reproduziam essa disputa e que o hormônio, por exemplo, a testosterona no corpo do homem inibiria o estrógeno dentro do corpo. Então desse antagonismo de luta, de opostos e contrários tentaram descrever testosterona e estrógeno desse jeito também, de substâncias químicas opostas que em determinado momento até se inibiriam.

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