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Entre paradas e movimentos: uma revisão teórica a respeito do silêncio em psicanálise

Between stops and movements: a theoretical review of silence in psychoanalysis

Entre arrêts et mouvements : une revue littéraire du silence en psychanalyse

Entre paradas y movimientos: una revisión teórica sobre el silencio en el psicoanálisis

Resumo

Em um contexto clínico, existem diversos tipos de silêncio, próprios de cada análise e presentes de diferentes formas no processo analítico. Este artigo visa realizar uma revisão teórica a respeito do silêncio na literatura psicanalítica. Pretende, também, transitar por reflexões existentes na psicanálise acerca de um silêncio específico: silêncio com potência de movimento e função criadora no processo de análise. A partir da revisão realizada, percebe-se que o silêncio na clínica psicanalítica pode ser pensado a partir do silêncio do paciente, do analista ou em seu aspecto intersubjetivo, ou seja, relacional. A revisão da palavra “silêncio” na obra freudiana abre espaço para pensar a presença intrínseca, porém, coadjuvante, do silêncio na psicanálise desde suas origens. A pesquisa também possibilita ampliar o entendimento do silêncio para além de seu aspecto resistencial. Ilumina os aspectos produtivos e potentes desse conceito em psicanálise e no trabalho analítico.

Palavras-chave:
psicanálise; silêncio; clínica psicanalítica

Abstract

Silence presents many forms within a clinical context, specific to each case and presenting in different ways during the analytical process. This theoretical review of the psychoanalytic literature on silence seeks to push forward psychoanalysis reflections about silence imbued with the power of movement and a creative function. Silence in clinical psychoanalysis can be considered from the perspective of the patient, the analyst, or the relationship, i.e., its intersubjective aspect. A review of the word “silence” within Freud’s work allows us to reflect on the intrinsic but supporting presence of silence in psychoanalysis since its origins , expanding the understanding of silence beyond resistance. It clarifies the productive and potent aspects of this concept in psychoanalysis and the analytical process.

Keywords:
psychoanalysis; silence; clinical psychoanalysis

Résumé

Le silence se présente sous de nombreuses formes dans un contexte clinique, spécifique à chaque cas et se manifestant de différentes manières au cours du processus analytique. Cette revue théorique de la littérature psychanalytique sur le silence cherche à parcourir les réflexions existantes en psychanalyse sur le silence doté de puissance de mouvement et de fonction créatrice. Le silence dans la clinique psychanalytique peut être conçu du point de vue du patient, de l’analyste ou de son aspect inter-subjectif, c’est-à-dire relationnel. Un examen du mot silence chez Freud nous permet de réfléchir à la présence intrinsèque, bien que secondaire, du silence au sein de la psychanalyse depuis ses origines, en élargissant la compréhension du silence au-delà de la résistance. Elle met également en évidence les aspects productifs et puissants du concept de silence en psychanalyse et dans le travail analytique.

Mots-clés :
psychanalyse; silence; clinique psychanalytique

Resumen

En un contexto clínico, existen varios tipos de silencio, específicos para cada análisis y presentes de diferentes maneras en el proceso analítico. Este artículo se propone realizar una revisión teórica sobre el silencio en la literatura psicoanalítica. También tiene como objetivo avanzar a través de las reflexiones existentes en el psicoanálisis sobre un silencio específico: el silencio con el poder del movimiento y la función creativa en el trabajo de análisis. De la revisión realizada, queda claro que el silencio en la clínica psicoanalítica puede pensarse desde el silencio del paciente, el analista o en su aspecto intersubjetivo, es decir, relacional. La revisión de la palabra silencio dentro del trabajo freudiano llevado a cabo en la investigación abre el espacio para pensar sobre la presencia intrínseca, pero de apoyo, del silencio dentro del psicoanálisis desde sus orígenes. La investigación también permite ampliar la comprensión del silencio más allá de su aspecto resistivo. Ilumina los aspectos productivos y potentes de este concepto en el psicoanálisis y el trabajo analítico.

Palabras clave:
psicoanálisis; silencio; clínica psicoanalítica

Introdução

(“No Jardin des Plantes, Paris”) De tanto olhar as grades seu olhar esmoreceu e nada mais aferra. Como se houvesse só grades na terra: grades, apenas grades para olhar. A onda andante e flexível do seu vulto em círculos concêntricos decresce, dança de força em torno a um ponto oculto no qual um grande impulso se arrefece. De vez em quando o fecho da pupila se abre em silêncio. Uma imagem, então, na tensa paz dos músculos se instila para morrer no coração. A pantera (Rilke, 1907/2013Rilke, R. M. (2013). A pantera. In A. Campos (Org. & Trad.)., Coisas e anjos de Rilke (pp. 120-121). São Paulo, SP: Perspectiva. (Trabalho original publicado em 1907), p. 120)

Utilizando a regra fundamental da associação livre, Freud estimulava seus pacientes a verbalizar seus pensamentos e lembranças, sem nenhuma censura, na tentativa de não deixar escapar nada. Freud percebeu na fala a conexão da linguagem com o inconsciente, sendo a comunicação verbal fundamental para a aproximação com os conteúdos recalcados. Ao falar, dizemos mais do que pensamos dizer, pois revelamos, pelo material manifesto, o conteúdo latente inconsciente. Essa fórmula constituiu a “regra de ouro” da psicanálise. A partir de tais pressupostos, que embasam a psicanálise como método clínico de tratamento, a fala tem potência como parte da técnica analítica, e é com base em sua importância que os estudos psicanalíticos foram se desenvolvendo.

Por que, então, pensar o silêncio em psicanálise? Os pressupostos supracitados se mantêm fundamentais no trabalho analítico e vêm recebendo, ao longo dos anos de estudos psicanalíticos, amplo olhar. A interpretação como uma das técnicas do analista e sua importância para o desenvolvimento de um trabalho de análise estão claramente consolidadas. Porém, a técnica de orientação analítica estimula cada vez mais o terapeuta a captar as diversas formas de expressão do psiquismo, tanto verbais quanto não verbais. O silêncio está constantemente presente no trabalho analítico. Ele caminha ao lado da fala. Transita entre as palavras. Gera espaços. O estudo do silêncio, considerado uma via de comunicação e presença geradora de interferência na experiência analítica, adquire valor na compressão tanto de aspectos do silêncio do analista e sua função quanto de aspectos intrapsíquicos do paciente e intersubjetivos na sessão. Pensar o silêncio dessa maneira contribui para que, de acordo com Padrão (2009Padrão, B. C. (2009). Considerações sobre o silencio na clínica psicanalítica: dos primórdios aos dias atuais. Cadernos de Psicanálise, 31(22), 91-103. Recuperado de http://cprj.com.br/imagenscadernos/08.Consideracoes_sobre_o_silencio_na_clinica_psicanalitica.pdf
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), possamos trabalhar analiticamente a partir do seu aparecimento, diminuindo resistências referentes a momentos clínicos silenciosos. Acolher os silêncios dos pacientes significa fornecer uma escuta analítica que vai além do ouvir as palavras, que se relaciona com o não dito e, também, com a comunicação entre o inconsciente do analista e o do analisando.

O poema de Rilke (1907/2013Rilke, R. M. (2013). A pantera. In A. Campos (Org. & Trad.)., Coisas e anjos de Rilke (pp. 120-121). São Paulo, SP: Perspectiva. (Trabalho original publicado em 1907)), que inaugura as reflexões deste artigo por meio de uma expressão estética, remete a essa proposição de potência do silêncio. É no silêncio que acontece a abertura das pupilas da pantera, é por meio do silêncio que ela pode olhar além das grades que aprisionam. É no silêncio que a pantera de Rilke encontra uma imagem para além das grades. A potência de um silêncio que leva à emergência do sujeito do inconsciente, simbolicamente representado pelo coração no poema. Na medida em que consideramos que o silêncio comunica e gera espaço de criação e movimento, ele o faz também na experiência clínica psicanalítica (Padrão, 2009Padrão, B. C. (2009). Considerações sobre o silencio na clínica psicanalítica: dos primórdios aos dias atuais. Cadernos de Psicanálise, 31(22), 91-103. Recuperado de http://cprj.com.br/imagenscadernos/08.Consideracoes_sobre_o_silencio_na_clinica_psicanalitica.pdf
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).

Ao trabalhar com a ideia de silêncio, é importante ressaltar que ele é um “conceito” de grande amplitude e pode ser entendido a partir de diversas perspectivas. É plural ao invés de singular. Em um contexto clínico, trata-se de vários silêncios, próprios de cada análise, com a sua própria dinâmica, evocando diferentes aspectos do processo analítico (Padrão, 2009Padrão, B. C. (2009). Considerações sobre o silencio na clínica psicanalítica: dos primórdios aos dias atuais. Cadernos de Psicanálise, 31(22), 91-103. Recuperado de http://cprj.com.br/imagenscadernos/08.Consideracoes_sobre_o_silencio_na_clinica_psicanalitica.pdf
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; Zolty, 2010Zolty, L. (2010). O psicanalista à escuta do silêncio. In J. D. Nasio (Org.), O silêncio na psicanálise (pp. 191-196). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar .). Assim, este artigo visa apresentar uma síntese teórica a partir do que foi encontrado na literatura psicanalítica a respeito do estudo do silêncio e dos possíveis entendimentos deste na história da psicanálise. A pesquisa apresenta autores de diversas linhagens teóricas psicanalíticas, buscando expor um panorama geral do conceito. Busca, também, transitar por materiais e reflexões existentes na psicanálise acerca de um silêncio específico, um silêncio com potência de movimento e função criadora no trabalho de análise. Para isso, realizamos uma busca pelo termo “silêncio” nos textos de Freud e consultamos diversas obras psicanalíticas e artigos científicos direcionados ao estudo dessa temática.

O silêncio como resistência: a parada que paralisa

A ideia de um olhar preso, sem brilho e improdutivo expressa no início do poema de Rilke abre espaço para pensarmos o silêncio em sua característica de estagnação/aprisionamento na clínica psicanalítica. Esse olhar cerceado remete à ideia de um sujeito que para, que resiste em seu processo de olhar. Olhar aqui posto como possibilidade de reflexão e pensamento. O silêncio em psicanálise pode surgir em uma sessão analítica manifestando tais características. É por meio de seu aspecto de resistência que começa a ser pensado nos estudos em psicanálise.

Freud deparou-se com a recusa dos pacientes a se lembrar de algo ou, então, nada vinha a suas mentes, e estes silenciavam. O autor evidenciava a fala como fundamental para o trabalho analítico, tanto na interpretação do analista quanto nas associações do paciente. Quando o silêncio aparecia, esse processo trancava e deveria ser eliminado. Tornava-se “grades para o olhar”.

No texto “Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos: uma conferência” (Freud, 1893/1996Freud, S. (1996). Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos: uma conferência. In J. Strachey (Org.), Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 3, pp. 14-33, J. Salomão, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1893)), uma referência ao silêncio aparece quando o autor está refletindo a respeito da ação motora que ocorre no sujeito quando este experimenta uma impressão psíquica. Refere que a soma de excitação do sistema nervoso aumenta (por vias sensoriais) e surge uma tendência a tornar a diminuir essa soma de excitação (por vias motoras), a fim de preservar a “saúde”. Passa a teorizar, então, a respeito da importância da palavra como “freio” da ação e de que o uso desta se torna importante na quebra das ações de descarga desse excesso de excitação psíquica provocado pelo evento. O valor das palavras como substitutas da ação surge no trabalho de Freud desde seus primórdios, e o silêncio aparece citado também nesse momento. Silêncio e fala caminham juntos. Um está ligado ao outro, compondo uma dança fundamental no tratamento psicanalítico e para os sujeitos. Mesmo que o silêncio na obra freudiana não tenha desenvolvimento teórico específico, ele está presente como participante do processo. Na análise das obras de Freud que realizamos durante a pesquisa de revisão em busca desse conceito, fica perceptível essa questão, e o fragmento a seguir exemplifica tal ideia. Freud utiliza um exemplo que consideramos interessante mencionar, pois nele pensamos estar expresso o sentido que o silêncio ganha na maioria dos trabalhos em que este aparece na obra freudiana. O autor escreve:

Suponhamos que um homem seja insultado, esmurrado, ou qualquer coisa desse gênero. Esse trauma psíquico está ligado a um aumento da soma de excitação de seu sistema nervoso. Surge então instintivamente uma inclinação a diminuir de imediato a excitação aumentada. Ele revida a ofensa, e então sente-se melhor; talvez tenha reagido adequadamente - isto é, talvez se haja livrado de tanto quanto foi introduzido nele. Ora, essa reação pode assumir várias formas. Para os aumentos muito ligeiros da excitação, as alterações corporais talvez sejam suficientes: chorar, insultar, esbravejar etc. Quanto mais intenso o trauma, maior a reação suficiente. A reação mais adequada, entretanto, é sempre uma tomada de atitude. Mas como observou espirituosamente um escritor inglês, o primeiro homem a desfechar contra seu inimigo um insulto, em vez de uma lança, foi o fundador da civilização. Portanto, as palavras são substitutas das ações e, em alguns casos (por exemplo, na confissão) as únicas substitutas. (Freud, 1893/1996Freud, S. (1996). Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos: uma conferência. In J. Strachey (Org.), Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 3, pp. 14-33, J. Salomão, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1893), p. 21)

Quando Freud (1893/1996Freud, S. (1996). Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos: uma conferência. In J. Strachey (Org.), Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 3, pp. 14-33, J. Salomão, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1893)) refere que “o primeiro homem a desfechar contra seu inimigo um insulto, em vez de uma lança, foi o fundador da civilização” (p. 21), fica claro o quanto, desde suas origens, a psicanálise fundamenta a fala como potência em seus entendimentos teóricos e, posteriormente, técnicos. No entanto, chama atenção que o silêncio, mesmo não sendo teoricamente trabalhado, aparece citado. Freud segue seu raciocínio sobre a questão:

Um insulto revidado, mesmo que apenas com palavras, é recordado de maneira muito diversa de outro que tenha sido forçosamente aceito; e o uso lingüístico descreve caracteristicamente o insulto sofrido em silêncio como uma “mortificação” (“Kraenkung”, literalmente, “adoecimento”). Assim, quando por qualquer motivo não pode haver reação a um trauma psíquico, ele retém seu afeto original, e quando a pessoa não consegue livrar-se do acréscimo de estímulo através de sua “ab-reação”, deparamos com a possibilidade de que o evento em questão permaneça como um trauma psíquico. A propósito, um mecanismo psíquico sadio tem outros métodos de lidar com o afeto de um trauma psíquico mesmo que lhe sejam negadas a reação motora e a reação por palavras - a saber, elaborando-o associativamente e produzindo idéias contrastantes. (Freud, 1893/1996Freud, S. (1996). Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos: uma conferência. In J. Strachey (Org.), Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 3, pp. 14-33, J. Salomão, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1893), p. 21)

Nesse fragmento, percebe-se que o silêncio aparece associado ao bloqueio da fala e, portanto, está a serviço do recalcamento e da repressão e vinculado ao adoecimento, ao sintoma e ao trauma. A relação entre silêncio e processos de paralisação, tanto no sujeito quanto no processo de análise, é que se encontra na visão freudiana do silêncio, tanto nas raras vezes em que ele aparece nos textos de Freud quanto nas teorizações e olhares clínicos de alguns de seus sucessores.

Nesse sentido, podemos dizer que, nas concepções clássicas psicanalíticas, o silêncio adquire caráter de obstáculo à rememoração daquilo que estava por trás do sintoma apresentado pelo paciente. Para Freud, haveria dificuldades a serem superadas no trabalho com psicanálise: as resistências do paciente no decurso do tratamento analítico; a superação do processo de recalcamento que impediria as lembranças de chegarem até a consciência; e, por fim, o manejo da transferência pelo analista. Em todas elas, o silêncio se fazia presente e precisava ser superado. Freud (1912/1996Freud, S. (1996). A dinâmica da transferência. In J. Strachey (Org.), Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 12, pp. 107-120, J. Salomão, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho original publicado em 1912)), em seu artigo “A dinâmica da transferência”, define a transferência como resistência, mas, ao mesmo tempo, como a principal ferramenta de trabalho da psicanálise. Afirmou que, “se as associações de um paciente faltam, a interrupção pode invariavelmente ser removida pela garantia de que ele está sendo dominado, momentaneamente, por uma associação relacionada com o próprio médico ou com algo a este vinculado” (Freud, 1912/1996Freud, S. (1996). A dinâmica da transferência. In J. Strachey (Org.), Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 12, pp. 107-120, J. Salomão, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho original publicado em 1912), p. 113). Freud parecia estar dizendo que, quando a resistência não é removida, ela pode ser transformada em um silêncio em que “as portas estão abertas” e a informação (conflito) está chegando, mas o paciente, por diversas razões, ainda não é capaz de falar sobre isso.

Foram alguns herdeiros teóricos de Freud, tais como Abraham, Ferenczi, Fliess e Jones, que iniciaram o desenvolvimento de algumas ideias a respeito do silêncio na psicanálise, não só no que se refere à metapsicologia, como também nos estudos de casos e no trabalho do silêncio do paciente durante uma sessão de análise. Tais autores, assim como Freud, percebem o silêncio na sessão analítica como resistência. No entanto, começaram a se questionar sobre o que esse silêncio poderia expressar, e acreditavam que o silêncio do paciente pode revelar aspectos de sua posição libidinal. Como poderemos acompanhar a seguir, houve interessantes contribuições associando o silêncio às fases do desenvolvimento psíquico do sujeito. O silêncio, para esses autores, é pensado a partir de sua relação com o discurso e como representante de uma quebra deste em sessão de análise.

Abraham (1949 citado por Silva & Schestatsky, 2016Silva, J. N., & Schestatsky, S. S. (2016). Reflexões sobre o silêncio em psicoterapia de orientação analítica. Revista Brasileira de Psicoterapia, 18(1), 93-106. Recuperado de http://rbp.celg.org.br/detalhe_artigo.asp?id=193
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) apontava que a função do discurso não é apenas comunicativa, mas também serve para descarregar sentimentos instintivos. Nesse sentido, o silêncio representaria uma defesa inconsciente contra a descarga de tais sentimentos conflituosos. Abraham (1919, citado por Nasio, 2010Nasio, J. D. (2010). O silêncio na psicanálise. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar .) acreditava que o silêncio poderia ser, também, uma defesa contra o erotismo oral.

Para Fliess (1949, citado por Nasio, 2010Nasio, J. D. (2010). O silêncio na psicanálise. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar .) a palavra seria a abertura erógena, ao passo que o silêncio estaria vinculado à ideia de um fechamento dos orifícios. O autor correlaciona três tipos fundamentais de verbalizações regressivas a três tipos de silêncio: (1) oral; (2) anal; e (3) uretral. O silêncio erótico-oral é o mais regressivo. Relaciona-se com a perda da palavra porque nesse momento o paciente se tornou um infans que ainda não entrou na linguagem. O sujeito posiciona-se em uma atividade narcísica, e o surgimento desse silêncio sinaliza o surgimento de uma transferência arcaica na situação analítica. O silêncio erótico-anal, segundo tipo de silêncio descrito pelo autor, emana uma inibição e está relacionado à constipação verbal. Durante esse silêncio, o paciente apresenta um estado de tensão e conflito. No silêncio erótico-uretral, o paciente não parece paralisado em nenhum momento, ele se deixa ir absorto em seus pensamentos. Lembra um indivíduo sob a influência da hipnose. Quando questionado sobre esse silêncio, o paciente costuma referir que estava pensando.

Já Fenichel (1945, citado por Silva & Schestatsky, 2016Silva, J. N., & Schestatsky, S. S. (2016). Reflexões sobre o silêncio em psicoterapia de orientação analítica. Revista Brasileira de Psicoterapia, 18(1), 93-106. Recuperado de http://rbp.celg.org.br/detalhe_artigo.asp?id=193
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) acrescenta às reflexões teóricas da época sobre o tema a possibilidade da existência de um silêncio fálico. Nesse caso, as palavras podem ser experimentadas como uma extensão do corpo, ou da psique, com a capacidade de “penetrar” os ouvidos e mentes do ouvinte. O silêncio, segundo Silva e Schestatsky (2016Silva, J. N., & Schestatsky, S. S. (2016). Reflexões sobre o silêncio em psicoterapia de orientação analítica. Revista Brasileira de Psicoterapia, 18(1), 93-106. Recuperado de http://rbp.celg.org.br/detalhe_artigo.asp?id=193
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), em sua relação com questões fálicas, é inconscientemente associado a uma impotência e pode se tornar defesa contra ansiedades que pertencem a esse estágio de desenvolvimento. Manter o silêncio, em sua relação com o complexo de Édipo, pode ser uma forma de proteger os pais, o terapeuta e a si próprio da exposição aos perigos da sexualidade e da agressão e retaliação.

Ferenczi (1916-1917/1992Ferenczi, S. (1992). O silêncio é de ouro. In A. Cabral (Org.), Obras completas: Sándor Ferenczi (Vol. 2, pp. 277-278). São Paulo, SP: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1916-1917)), em seu texto “O silêncio é de ouro”, a partir de sua experiência com um paciente obsessivo que economizava a fala, da mesma forma que economizava seu dinheiro e suas fezes, faz uma relação entre fala, fezes e ouro. “O silêncio é de ouro porque o não falar representa em si uma economia” (Ferenczi, 1916-1917/1992Ferenczi, S. (1992). O silêncio é de ouro. In A. Cabral (Org.), Obras completas: Sándor Ferenczi (Vol. 2, pp. 277-278). São Paulo, SP: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1916-1917), p. 277). O silêncio também é pensado pelo autor como uma forma de retenção. O paciente em questão referiu a Ferenczi que normalmente era muito constipado, mas que, naquele dia, em que estava falante em sessão, o que não era habitual, havia evacuado de forma abundante. O autor lembra-se, também, de um paciente histérico que afirmava que, quando estava de bom humor, tinha uma fala clara e forte e sua evacuação era abundante e satisfatória. No entanto, quando estava deprimido ou quando tinha de lidar com pessoas mais velhas ou superiores, a afonia e os espasmos esfincterianos apareciam. Jones (s.d., citado por Nasio, 2010Nasio, J. D. (2010). O silêncio na psicanálise. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar .) também percebe a aparição do silêncio em sua relação com questões da fase anal do desenvolvimento. Pensa o silêncio como a vontade de guardar de forma ciumenta o tesouro que as palavras, como representantes de excrementos, exprimem no inconsciente. Calar significaria, então, reter, com prazer, a descarga de uma palavra que deveria ser dita.

No texto “A técnica psicanalítica”, Ferenczi (1919/1992Ferenczi, S. (1992). A técnica psicanalítica. In A. Cabral (Org.), Obras completas: Sándor Ferenczi (Vol. 2, pp. 357-368). São Paulo, SP: Martins Fontes . (Trabalho original publicado em 1919)) pensa o silêncio a partir de sua relação com a utilização da regra fundamental psicanalítica pelo paciente. Pontua que, em pacientes obsessivos, o desejo de permanecer calado ou de não falar algumas ideias absurdas é comum de ocorrer. O paciente resiste dessa forma. Nada ocorre no momento em que o sujeito se coloca diante da regra fundamental. Se o paciente permanece calado por bastante tempo, isso significa, em geral, que ele cala alguma coisa. Um silêncio prolongado explica-se, nesse contexto, pelo fato de que a demanda do dizer tudo ainda não foi tomada ao pé da letra.

O que esses autores têm em comum é o entendimento do silêncio como parada do movimento psíquico de transformações do sujeito e da análise. Tal característica do silêncio mostra-se frequente no trabalho clínico, e as reflexões supradesenvolvidas parecem auxiliar sobremaneira o psicanalista em sua relação com o silêncio. Perceber o silêncio como estando a serviço de forças inconscientes que expressam resistências, que param e paralisam as possibilidades de trabalho analítico, evidencia-se ao longo da psicanálise, principalmente em seus anos iniciais, como enfoque principal.

O silêncio como potência: parada e movimento

Experiências produtoras de transformação, potentes e geradoras de movimento em sessão analítica e no psiquismo dos pacientes também são possíveis de se produzir por meio do silêncio durante a análise. A possibilidade de abertura do fecho da pupila (abertura para o inconsciente) em silêncio citada no poema de Rilke expressa esteticamente essa ideia. É possível realizar uma torção em relação aos pensamentos referentes ao silêncio. O psicanalista também vivencia com seus pacientes um tipo de silêncio diferente, que vai além de um andar em círculos e da sensação de prisão, das grades da terra, que remetem à repetição, ao óbvio, ao circulante não elaborado, sem saídas presente nas teorizações clássicas sobre o silêncio. Um silêncio que amplia e movimenta os processos psíquicos, que propicia um espaço de criação e potência produtiva.

Buscando um aprofundamento teórico a respeito dessa perspectiva do silêncio, realizou-se uma busca ampliada pela palavra “silêncio” na obra de Freud tentando encontrar aspectos que vão além dos resistenciais. A partir dessa pesquisa, percebe-se que a palavra “silêncio” aparece citada pela primeira vez na obra de Freud (1891/1996Freud, S. (1996). Hipnose. In J. Strachey (Org.), Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 1, pp. 123-133, J. Salomão, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1891)) no texto “Hipnose”, em que o autor traz seu posicionamento a respeito da hipnose e do uso desta como técnica para o tratamento da histeria. O termo “silêncio” aparece em uma descrição de como se daria o processo de hipnose:

Se não podemos contar com a possibilidade de o paciente hipnotizar-se por imitação, logo que lhe damos o sinal, podemos escolher entre diferentes métodos de induzir-lhe a hipnose, tendo todos eles em comum o fato de que, por determinadas sensações físicas, lembrem o adormecer. A melhor maneira de proceder é a que se segue. Colocamos o paciente numa cadeira confortável, pedimos que se mantenha cuidadosamente atento e que não fale mais, pois falar lhe impediria o adormecer. Remove-se-lhe qualquer roupa apertada e pede-se a quaisquer outras pessoas presentes que se mantenham numa parte da sala onde não possam ser vistas pelo paciente. Escurece-se a sala, mantém-se o silêncio. Após esses preparativos, sentamo-nos em frente ao paciente e pedimos-lhe que fixe os olhos em dois dedos da mão direita do médico e, ao mesmo tempo, observe atentamente as sensações que passará a sentir. Depois de curto espaço de tempo, um minuto, talvez, começamos a persuadir o paciente a sentir as sensações do adormecer. Primeiramente, a fisionomia do paciente assume um aspecto rígido, sua respiração se aprofunda, seus olhos se umedecem e piscam freqüentemente, ocorrem um ou mais movimentos de deglutição e, por fim, os globos oculares se voltam para dentro e para cima, as pálpebras caem e a hipnose está presente. É grande o número de pessoas nas quais o fenômeno se passa dessa maneira; se observarmos que temos diante de nós uma pessoa nessas condições, será bom mantermos silêncio e só ocasionalmente dar ajuda mediante uma sugestão. Procedendo de modo diferente, só estaríamos perturbando o paciente que se está hipnotizando, e se a sucessão de sugestões não corresponder à seqüência real de suas sensações, provocaremos uma contradição. (Freud, 1891/1996Freud, S. (1996). Hipnose. In J. Strachey (Org.), Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 1, pp. 123-133, J. Salomão, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1891))

Nesse fragmento, mostram-se interessantes a menção de Freud à retirada da fala para que o processo de hipnose ocorra e, também, a ressalva de que o silêncio se mantenha quando o paciente estiver hipnotizado. O autor pontua que a quebra desse silêncio apenas perturba o paciente. Consideramos curioso o quanto, desde a origem dos pensamentos freudianos, ainda que associada a processos hipnóticos, já estava presente a pontuação de que a retirada da fala é relevante para que o acesso a processos inconscientes possa ocorrer. Nesse contexto, mesmo que indiretamente, já aparece o silêncio do analista como importante.

A paciente Emmy Von N (Freud, 1893/1996Freud, S. (1996). Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos: uma conferência. In J. Strachey (Org.), Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 3, pp. 14-33, J. Salomão, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1893)) solicita que Freud se cale para que ela possa falar. Tal experiência com a paciente inaugura a psicanálise por meio do processo de cura pela fala e, se prestarmos bem atenção, também por meio do silêncio. Tal proposição da paciente marca a abertura de um espaço de transferência, solicitando que Freud silencie e a escute. Desvia de Freud sua demanda de saber e lhe designa uma função particular na dinâmica do tratamento. Ela diz a Freud que ele não deve perguntar a ela de onde vem isso ou aquilo, que ele deve deixá-la dizer o que ela tem a dizer. Freud acolhe a solicitação da paciente e abre espaço para o que ela tem a dizer, mesmo sendo um nada a dizer, sendo um nada que não deixa de se dizer. Essa suspensão imposta ao analista leva a ouvir um necessário silêncio ao tratamento, o silêncio do analista (Zolty, 2010Zolty, L. (2010). O psicanalista à escuta do silêncio. In J. D. Nasio (Org.), O silêncio na psicanálise (pp. 191-196). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar .).

No texto “Determinismo, crença no acaso e superstição: alguns pontos de vista”, Freud (1901/1996Freud, S. (1996). Determinismo, crença no acaso e superstição: alguns pontos de vista. In J. Strachey (Org.), Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 6, pp. 237-272, J. Salomão, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho original publicado em 1901)), ao trabalhar com o conceito de ato falho como expressão de fenômenos psíquicos inconscientes, explica como surgiu em sua mente Dora como opção de nome fictício para sua paciente ao escrever seu caso.

Perguntei-me como teria sido determinado. Quem mais se chamava Dora? Eu gostaria de rechaçar com incredulidade o que me ocorreu a seguir - que esse era o nome da babá de minha irmã [da casa]. Contudo, tenho tanta autodisciplina, ou tanta prática em analisar, que me aferrei à idéia ocorrida e deixei que o fio seguisse dali. Logo me ocorreu um pequeno incidente da noite anterior, que forneceu o determinismo buscado. Eu vira na mesa da sala de jantar de minha irmã uma carta endereçada à “Srta. Rosa W.”. Surpreso perguntei quem ali tinha esse nome, e fui informado de que a jovem que eu conhecia por Dora na realidade se chamava Rosa, mas tivera de abandonar seu nome ao aceitar o emprego na casa, pois também minha irmã poderia considerar que “Rosa” se referisse a ela. “Pobre gente”, comentei com pena, “nem mesmo o próprio nome eles podem conservar!”. Depois disso, lembro-me agora, permaneci em silêncio por um momento e comecei a pensar em toda sorte de coisas sérias que se perderam na obscuridade, mas que agora eu poderia facilmente tornar conscientes. Quando, no dia seguinte, procurei um nome para alguém que não poderia conservar o seu, “Dora” foi o único a me ocorrer. A exclusividade [do nome] baseou-se aqui numa sólida associação de conteúdo, pois também na história de minha paciente, bem como no curso do tratamento, foi uma pessoa empregada numa casa alheia, uma governanta, quem exerceu uma influência decisiva. (Freud, 1901/1996Freud, S. (1996). Determinismo, crença no acaso e superstição: alguns pontos de vista. In J. Strachey (Org.), Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 6, pp. 237-272, J. Salomão, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho original publicado em 1901), pp. 238-239)

Nesse fragmento, chama atenção a aparição do silêncio na obra do autor em um contexto diferente do resistencial. Freud permanece em silêncio e começa a pensar. E é nesse silêncio que o que antes se encontrava obscuro em sua mente passa a poder se tornar consciente. Salientamos esse fragmento pois possibilita ampliar a ideia de silêncio para além daquela vinculada a algo que deve ser excluído. Nesse sentido, a presença do silêncio parece fornecer a Freud um espaço de pensamento bastante produtor, no qual ele pode refletir. Tal silêncio foi importante para produzir algo e não cerceador do processo, como comumente percebido e conceituado pelo autor. Em silêncio, o pensamento surge e se amplia para a emergência de aspectos inconscientes e que fazem a criatividade, o significado, as conexões e as associações surgirem de forma mais fluida.

Uma mudança a respeito das concepções sobre o silêncio também se torna possível a partir da segunda tópica freudiana e, principalmente, após “Além do princípio do prazer” (Freud, 1920/2006Freud, S. (2006). Além do princípio do prazer. In J. Strachey (Org.), Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 18, pp. 17-75, J. Salomão, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1920)). Freud pontua que os muitos anos de trabalho intensivo com a psicanálise o fizeram refletir sobre o trabalho psicanalítico baseado apenas na interpretação. Percebeu que a busca por tornar consciente o inconsciente e estabelecer coesão entre os elementos encontrados no inconsciente era insuficiente. Ressalta a importância do trabalho da transferência como fundamental para o processo analítico e para que as resistências do paciente pudessem ser dissolvidas e analisadas.

A partir dessas mudanças teóricas, o silêncio ganha espaço para ser trabalhado teoricamente por meio da metapsicologia freudiana de outras formas, e não necessariamente apenas como sinônimo de resistência. A interpretação e a fala não são mais as únicas potências do trabalho analítico, mostrando-se necessário ampliar o olhar dos processos presentes em sessão analítica para o movimento do tratamento. Nesse sentido, pensamos que o silêncio ganha espaço como possibilidade terapêutica potente. O que se desenvolve em uma análise está também para além da fala.

Em “O Estranho”, Freud (1919/2006Freud, S. (2006b). O estranho. In J. Strachey (Org.), Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 17. pp. 237-270, J. Salomão, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1919), p. 156) se questiona: “De onde provém a inquietante estranheza que emana do silêncio, da solidão, da obscuridade?”. O inquietante gerado a partir da estranheza presente no silêncio, evidenciada aqui por Freud, abre espaço para pensar o silêncio em seu aspecto de relação com o que é da ordem do familiar, ou seja, daquilo que retorna do recalcado (do inconsciente) e que é familiar, porém, oculto. Nesse sentido, pode-se pensar que o silêncio faz emanar algo do inconsciente. Aqui, podemos pensar o silêncio ainda em uma perspectiva freudiana que tem o recalcamento como base metapsicológica. Partindo dessa perspectiva de inconsciente, o silêncio pode ser entendido, também, como uma fonte de abertura a aspectos inconscientes recalcados, da ordem do estranho, como supradesenvolvido.

Encontrar o silêncio ao lado de ideias como as de solidão e de obscuridade propostas por Freud em “O estranho”, pode levar a considerá-lo como sendo da ordem do contraproducente ou não criativo. No entanto, gostaríamos de iluminar o paradoxo aqui presente. Existe algo de produtor e de potência criativa nas ideias de solidão, obscuridade e, por consequência, de silêncio. Poulichet (2010Poulichet, S. L. (2010). A ruptura do silêncio. In J. D. Nasio (Org.), O silêncio na psicanálise (pp. 121-137). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar .), em sintonia com os aspectos de inquietante estranhamento que emanam do silêncio trabalhados em Freud, pontua que o silêncio em análise pode ser caracterizado também por seu aspecto de surpresa. Porém, a autora amplia a visão freudiana e destaca a possibilidade do surgimento de uma nova inscrição do corpo na palavra a partir do silêncio, ou seja, “Esse ato revela pelo avesso o silêncio como lugar onde se forma uma palavra inédita” (Poulichet, 2010Poulichet, S. L. (2010). A ruptura do silêncio. In J. D. Nasio (Org.), O silêncio na psicanálise (pp. 121-137). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar ., p. 125). Esse silêncio pode ser pensado para além do retorno do recalcado freudiano. Aqui, a surpresa não está necessariamente ligada a um encontro com o estranho familiar. A surpresa que emana do silêncio pode ser pensada também como resultado do encontro com o inédito.

O silêncio, pensado em sua possibilidade da emergência do inconsciente por meio de sua negatividade, comunica-se com reflexões de autores como Bion e Lacan. “Refiro-me a capacidade negativa, isto é, quando um homem é capaz de existir com incertezas, mistérios, dúvidas, sem qualquer tentativa impaciente de alcançar fato e razão” (John Keats, 1817, citado por Cook, 1997Cook, R. J. (1997). 101 famous poems. New York, NY: McGraw Hill., p. 22). O negativo presente no silêncio abre um espaço no sujeito em análise e, também, no processo de análise. Passa-se a poder pensar o silêncio em sua relação com o vazio e, por consequência, com a possibilidade de movimento psíquico nas sessões de análise.

Bion não trabalha especificamente com a ideia de silêncio, mas o inclui na sua famosa fórmula, em que o analista deve renunciar à memória, ao desejo e à compreensão. Essa abolição de representações mentais aponta para o silêncio interior, ou seja, para a figura do vazio. Pellegrino (1991Pellegrino, M. C. (1991). O silêncio do analista. In J. Birman & M. M. Damião (Orgs.), Psicanálise, ofício impossível? (pp. 129-156). Rio de Janeiro, RJ: Campus.), a partir de um olhar bioniano, acredita que o silêncio se configura como a figura do vazio e é uma condição indispensável para que a intuição possa emergir, permitindo uma atribuição de significação aos elementos primitivos que surgem no campo mental não saturados pelos elementos capturados pelo sensório. Nesse sentido, o silêncio aparece como condição indispensável e constitutiva para a experiência do conhecimento bioniano e, portanto, fundamental no trabalho analítico.

Já Lacan propõe teorizações que colocam o silêncio como possibilidade de produzir mudança a partir de uma ideia deste como “espaço que se abre”. De acordo com Safatle (2006Safatle, V. (2006). A paixão do negativo: Lacan e a dialética. São Paulo, SP: Editora da Unesp.), “no interior da clínica Lacaniana, nem todos os movimentos de negação são necessariamente movimentos de destruição. . . . Há uma negação que é modo ontológico da presença do Real” (p. 26). Lacan (1964/2008Lacan, J. (2008). O Seminário, Livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (M. D. Magno, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar . (Trabalho original publicado em 1964)) pontua que a hiância tem uma função pré-ontológica vinculada ao estatuto do ser e à função do inconsciente. O inconsciente nos mostra a hiância, e é nela que algo pode acontecer. O silêncio tem grande relação com a hiância, com o vazio e, nesse sentido, com o estado de negativo supra-abordado. Ele é, muitas vezes, esse nada. Nada que, na potência de seu paradoxo, desacomoda e produz.

Em “Observação sobre o relatório de Daniel Lagache: psicanálise e estrutura da personalidade”, Lacan (1960/1998Lacan, J. (1998). Observação sobre o relatório de Daniel Lagache: psicanálise e estrutura da personalidade. In Escritos 2 (pp. 653-691). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar . (Trabalho original publicado em 1960)) pontua: “Uma ética se anuncia, convertida ao silêncio, não pelo caminho do pavor, mas do desejo: e a questão é saber como a via de conversa da experiência analítica conduz a ela” (p. 691). Santiago (1996, citado por Hernandez, 2004Hernandez, J. (2004). O duplo estatuto do silêncio. Psicologia USP, 15(1/2), 129-147. doi: 10.1590/S0103-65642004000100016
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) refere que a via do silêncio do pavor não é a via da psicanálise e comenta que essa frase oferece a indicação de que a passagem da via de conversa (tagarelice) para o silêncio é algo produzido na análise.

No seminário “A Lógica do Fantasma”, Lacan (1966-1967/2008Lacan, J. (2008). O Seminário, Livro 14: a lógica do fantasma. Recife, PE: Centro de Estudos Freudianos do Recife. (Trabalho original publicado em 1966-1967)) estabelece uma distinção entre o tacere (silêncio como expressão do calar-se) e o silere (silêncio fundante, estruturante, sugestivo da ausência estrutural da palavra, do buraco da significação). O silêncio do calar-se, ou seja, resistencial, é completamente diferente do silêncio da palavra que falta. O primeiro vela, o segundo desvela; um para, o outro recoloca em movimento. O autor salienta as possibilidades do silêncio e abre espaço para pensar o silêncio em seu aspecto fundamental na dinâmica analítica. Traz à tona a dança dos silêncios possíveis em sessão de análise e permite ao psicanalista se aproximar do silêncio como manifestação potente. As funções desempenhadas pelo silêncio mostram que não há destituição subjetiva que leve ao ato analítico senão diante do silêncio. O ato analítico emerge do silêncio (Hernandez, 2004Hernandez, J. (2004). O duplo estatuto do silêncio. Psicologia USP, 15(1/2), 129-147. doi: 10.1590/S0103-65642004000100016
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).

No texto “Função e campo da fala e da linguagem”, ao trabalhar a respeito da fala vazia e da fala plena, Lacan (1953/1998Lacan, J. (1998). Função e campo da fala e da linguagem. In Escritos (pp. 238-324). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1953), p. 249) refere que:

Não há fala sem resposta, mesmo que depare apenas com o silêncio, desde que ela tenha um ouvinte, e que é esse o cerne de sua função na análise. Mas se o psicanalista ignorar que é isso que se dá na função da fala, só fará experimentar mais fortemente seu apelo, e, se é o vazio que nela se faz ouvir inicialmente, é em si mesmo que ele o experimentará, e é para-além da fala que irá buscar uma realidade que preencha esse vazio. Assim, ele passa a analisar o comportamento do sujeito para ali encontrar o que ele não diz. Mas, para obter a confissão, é preciso que fale disso. Então, ele recupera a palavra, mas tornada suspeita por só haver respondido à derrota de seu silêncio, ante o eco percebido de seu próprio nada.

Lacan, nesse mesmo texto, ao pensar na frustração do paciente em análise, pergunta-se: “de onde vem essa frustração? Será do silêncio do analista?” (Lacan, 1953/1998Lacan, J. (1998). Função e campo da fala e da linguagem. In Escritos (pp. 238-324). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1953), p. 251). A partir desse questionamento, afirma que uma resposta dada pelo analista a uma fala vazia do paciente mostra-se, em seus efeitos, bem mais frustrante que o silêncio. Acrescenta que a frustração poderia ser, antes de tudo, inerente ao próprio discurso do sujeito.

Lacan reflete a respeito do silêncio do psicanalista e seus efeitos em uma sessão de análise e no paciente. A paciente Emmy Von N de Freud, no início da psicanálise, trouxe à tona a importância dessa posição do analista ao solicitar que Freud silenciasse e a escutasse. No entanto, é a partir do texto “No início é o silêncio”, de Reik (1926/2010Reik, T. (2010). No início é o silencio. J. D. Nasio (Org.), O silêncio na psicanálise . (pp.17-25). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar . (Trabalho original publicado em 1926)), que os estudos a respeito do silêncio do analista são introduzidos de forma mais focal. O autor trabalha a ideia de que o silêncio do analista produz efeitos no paciente e vai mudando de significação ao longo da sessão. “O poder ativo do silêncio torna transparentes os pequenos nadas da conversação e possui uma força que arrasta o paciente e o faz progredir, empurra-o para profundezas maiores do que havia visualizado” (Reik, 1926/2010Reik, T. (2010). No início é o silencio. J. D. Nasio (Org.), O silêncio na psicanálise . (pp.17-25). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar . (Trabalho original publicado em 1926), p. 22).

Green é um autor que trabalha teoricamente esse aspecto, principalmente em seu artigo “O silêncio do psicanalista” (Green, 1979/2004Green, A. (2004). O silêncio do psicanalista. Psyché, 8(14), 13-38. (Trabalho original publicado em 1979). Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psyche/v8n14/v8n14a02.pdf
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). Para Green, o silêncio do analista é uma tela de fundo na qual se desenrola o pensamento associativo que mimetiza o regime da energia livre. O silêncio do analista é, para ele, a emergência e a renovação da representação. Green percebe o trabalho analítico como a análise das representações do paciente para substituí-las por outro sistema representativo, por meio do qual emerge o sujeito. Sendo assim, o silêncio do analista é o meio privilegiado pelo qual ele recusa a representação do manifesto. Assim, ele pode se deixar absorver por seu próprio silêncio, para fazer emergir a representação psíquica da pulsão.

Rilke (1907/2013Rilke, R. M. (2013). A pantera. In A. Campos (Org. & Trad.)., Coisas e anjos de Rilke (pp. 120-121). São Paulo, SP: Perspectiva. (Trabalho original publicado em 1907)), em seu poema citado ao longo do artigo, coloca a pantera andando em círculos, e seu olhar apenas percebendo grades. O olhar aprisionado remete à forma como o sujeito se encontra muitas vezes: aprisionado em seu discurso vazio de significação. Girando em torno de algo oculto, impedido de emergir, de movimentar-se. Por meio do silêncio, a pantera de Rilke abre o fecho da pupila e uma imagem pode surgir, para então morrer no coração. O silêncio, percebido a partir de sua possibilidade de criação e potência, abre o fecho da pupila. O sujeito do inconsciente pode, então, surgir, num momento de invocação do pulsional. O silêncio abre espaço para o movimento.

Até aqui, o silêncio foi abordado com base em suas manifestações no paciente e, também, no analista. No entanto, existe um silêncio que é compartilhado em sessão analítica, ou seja, analista e paciente ficam em silêncio juntos. Um silêncio intersubjetivo, relacional. Nessa direção, Winnicott (1971/2016Winnicott, D. W. (2016). Tudo começa em casa. São Paulo, SP: Martins Fontes . (Trabalho original publicado em 1971)) percebe o silêncio em sessão como um espaço de encontro entre analista e paciente com potência para reparar aspectos regressivos do sujeito. O silêncio é também um repouso para o sujeito, ou seja, um espaço de alívio da tensão entre realidade externa e interna. Aparece em um lugar semelhante ao do brincar para a criança e ao da arte para o adulto.

A capacidade de um indivíduo de estar só, para Winnicott (1958/1983Winnicott, D. W. (1983). O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre, RS: Artmed. (Trabalho original publicado em 1958)), clinicamente pode se representar por uma fase de silêncio ou uma sessão silenciosa. Trata-se de um estar só psiquicamente, o que podemos referir a um não ser invadido por um ambiente demandante, estimulante, que faz exigências. Tais experiências podem ser revividas na transferência em sessão de análise, e o silêncio pode ser pensado como o espaço em que elas podem ocorrer. Winnicott, de acordo com Padrão (2009Padrão, B. C. (2009). Considerações sobre o silencio na clínica psicanalítica: dos primórdios aos dias atuais. Cadernos de Psicanálise, 31(22), 91-103. Recuperado de http://cprj.com.br/imagenscadernos/08.Consideracoes_sobre_o_silencio_na_clinica_psicanalitica.pdf
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), destaca que ficar em silêncio por alguns instantes na presença do analista pode ter sido para o sujeito sua primeira experiência de ficar realmente só.

Considerações finais

Ao tomar o silêncio como objeto de pesquisa e procurar compreender como este é entendido ao longo da história da psicanálise, foi possível perceber que ele apresenta diversas possibilidades de construção metapsicológica e de manifestação na experiência clínica psicanalítica. Apesar de Freud não ter dado atenção especial ao silêncio em seus estudos, muitos autores, ao longo do tempo, passaram a se interessar pelo fenômeno do silêncio, buscando teorizar a respeito. À medida que as teorias psicanalíticas se aprofundavam cada vez mais na compreensão do sujeito humano, o silêncio passou a ganhar mais espaço como protagonista na cena clínica. Tentar analisar uma “história” e um “ethos do silêncio” é, portanto, também revisar o corpo teórico-clínico psicanalítico como hermenêutica do sujeito (Padrão, 2009Padrão, B. C. (2009). Considerações sobre o silencio na clínica psicanalítica: dos primórdios aos dias atuais. Cadernos de Psicanálise, 31(22), 91-103. Recuperado de http://cprj.com.br/imagenscadernos/08.Consideracoes_sobre_o_silencio_na_clinica_psicanalitica.pdf
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). Na busca pelo conceito de silêncio na obra de Freud, este artigo pode, também, ampliar as possibilidades de entendimento do silêncio em sua obra, encontrando referências da palavra “silêncio” inseridas em reflexões importantes sobre a técnica analítica desde seus primórdios. Com isso, conclui-se, a partir de Freud e das teorias dos diversos autores citados ao longo do texto, que o silêncio faz parte do trabalho analítico e o constitui, assim como a palavra. Marca tanto paradas como movimentos, reflexão e ausência dela, resistência e criação.

Ao longo da revisão, percebe-se que o silêncio pode adotar facetas tanto intrapsíquicas quanto intersubjetivas. Por um lado, o silêncio do paciente em análise pode expressar aspectos de seu desenvolvimento libidinal, posicionar-se como resistência à emergência do inconsciente e dos conteúdos recalcados e de aceitação da regra fundamental psicanalítica. Por outro, o silêncio denota movimento psíquico potente tanto no sujeito quanto na sessão analítica. Nesse sentido, estudos mais atuais indicam o silêncio do paciente compreendido em seu aspecto produtivo e criativo, associado a teorizações sobre o vazio, o negativo e o silere. Também vimos que o silêncio do analista pode ser associado à imagem estética de uma tela em branco. Já em outros casos, o silêncio é percebido em sua produção intersubjetiva, por meio da relação transferencial. Dessa forma, o silêncio compartilhado entre analista e paciente e seus efeitos também se tornam relevantes para reflexão.

A partir de tais pontos, pode-se dizer que a dimensão plural do silêncio vivenciado em análise coloca o sujeito e o psicanalista em um lugar de possibilidades cujo entendimento dependerá do contexto transferencial no qual o silêncio se produz, bem como do referencial teórico adotado pelo psicanalista para pensar sua clínica. Nesse sentido, este estudo procurou expor algumas das concepções de que a psicanálise dispõe para pensar essa dimensão complexa e singular que se constitui como a experiência/conceito de silêncio. Pelo exposto, consideramos que o conceito merece ampliação e aprofundamento no âmbito da metapsicologia psicanalítica e valorização entre os estudos psicanalíticos na contemporaneidade, pois vivemos em uma sociedade com a tendência de evitar o silêncio e de senti-lo como angustiante e insuportável. Seria o silêncio, muitas vezes, um símbolo de uma espera e, por consequência, um desafio para nossa cultura do barulho, do efêmero e imediato?

Pensamos que, a partir disso, indica-se relevância do estudo em questão para a cultura contemporânea, bem como para a formação de analistas. Isso porque refletir a respeito do silêncio e do iluminar como fundamental no trabalho analítico tem potência na formação de analistas que se constituem nessa cultura e na caminhada da psicanálise no trabalho com o inconsciente. Trabalho este que pode ser afastado ou perdido no excesso de falas, interpretações e intervenções voltadas a aspectos conscientes. Existe uma tendência cultural que puxa para tal engodo, e estudos que retomem possibilidades de acesso ao inconsciente têm sua importância. Acreditamos, também, que estudos que busquem refletir a respeito do silêncio e de sua função no processo analítico abrem espaços de interrogações para o psicanalista em seu trabalho clínico. O silêncio está presente de forma inerente nesse processo, faz parte dele, mas, muitas vezes, exatamente por isso, não é pensado, apenas está ali como figura participante do processo. Pensá-lo como interferindo em diversos aspectos do trabalho analítico, muitas vezes como protagonista, ilumina esse fenômeno, torna-o participante e existente na mente do analista. Dessa forma, este estudo pode auxiliar a psicanálise e os psicanalistas em seu labor clínico com seus pacientes.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Mar 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    09 Jul 2022
  • Aceito
    14 Mar 2023
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