Acessibilidade / Reportar erro

A importância do corpo junto à função de reconhecimento

The importance of the body in the recognition function

La importancia del cuerpo en la función de reconocimiento

L’importance du corps et la fonction de reconnaissance

Resumo

O reconhecimento se apresenta como via pela qual o psiquismo poderá se desenvolver e complexificar a partir de seu encontro com o outro e as afetações que este irá suscitar. Da mesma forma, o reconhecimento se apresenta enquanto movimento de afirmação de si por um elemento do meio externo com o qual o indivíduo se relaciona. Nesse contexto, vemo-nos diante de modalidades de interação da personalidade por meio de vias não-verbais, o que confere grande relevância ao corpo em nosso estudo, apresentando-se enquanto palco que torna possível a expressão e reconhecimento de determinados conteúdos psíquicos que de outra forma não poderiam ser postos em cena nas relações.

Palavras-chave:
reconhecimento; corpo; encontro; comunicação não-verbal; interação

Abstract

Recognition is presented as a way the psyche can develop and complexify from its encounter with the other and the affects this will arouse. Likewise, recognition is presented as a movement of affirming oneself by an element of the external environment the individual relates to. In this context, we are faced with modalities of personality interaction via non-verbal means, giving the body great relevance in our study, which presents itself as a stage that makes it possible to express and recognize certain psychic contents that could not otherwise be brought into play in relationships.

Keywords:
recognition; body; encounter; non-verbal communication; interaction

Resumen

El reconocimiento se presenta como una vía por la cual la psique puede desarrollarse y complejizarse a partir de su encuentro con el otro y los afectos que este generará. Asimismo, el reconocimiento manifiesta como un movimiento de afirmación por parte de un elemento del entorno externo con el que se relaciona el individuo. En este contexto, nos encontramos ante modalidades de interacción de la personalidad a través de vías no verbales, lo que otorga gran importancia al cuerpo en nuestro estudio, presentándose como una etapa que posibilita la expresión y reconocimiento de ciertos contenidos psíquicos que de otra manera no podrían ser puestos en juego en las relaciones.

Palabras clave:
reconocimiento; cuerpo; reunión; comunicación no verbal; interacción

Résumé

La reconnaissance est présentée comme un moyen par lequel le psychisme peut se développer et se complexifier en fonction de sa rencontre avec l’autre et des affectations que cela va susciter. De même, la reconnaissance est présentée comme un mouvement d’affirmation de soi par un élément de l’environnement extérieur avec lequel l’individu est en relation. Dans ce contexte, nous sommes confrontés à des modalités d’interaction de la personnalité par des voies non verbales, ce qui donne une grande importance au corps dans notre étude, se présentant comme une étape qui rend possible l’expression et la reconnaissance de certains contenus psychiques qui, autrement, ne pourrait pas être joué dans les relations.

Mots-clés:
reconnaissance; corps; réunion; communication non verbale; interaction

Introdução

Ao dedicarmos nossos estudos ao percurso que se dá ao longo do processo de subjetivação e que culminará no alvorecer psíquico, deparamo-nos com uma série de paradigmas que desembocarão no desenvolvimento de um sentimento de si e no estabelecimento de um self1 1 Nos utilizamos do termo self seguindo sua delimitação proposta por Winnicott ao longo de sua obra. Para uma leitura mais aprofundada sobre este termo nas linhas da relação que propomos no presente texto recomendamos: “O desenvolvimento emocional primitivo” (Winnicott, 1945/2000) e “A mente e sua relação com o psicossoma” (Winnicott, 1949/2000). . Esse terreno direciona nossa atenção às relações que se estabelecem antes mesmo que o bebê seja capaz de reconhecer-se enquanto um ser uma corporeidade própria, inserido em uma realidade compartilhada e dotado de um sentimento de integração (Winnicott, 1945/2000Winnicott, D. W. (2000). Desenvolvimento emocional primitivo. In D. W. Winnicott, Da pediatria à psicanálise (pp. 218-232) Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1945)). Seguindo essa linha, deparamo-nos com a célebre afirmação winnicottiana de que não existe essa coisa chamada o bebê sem a presença dos cuidados maternos. Por meio dessa assertiva somos apresentados à impossibilidade de identificarmos, no início da vida, um infante separadamente do conjunto de cuidados que lhe são direcionados. Contudo, esse aspecto nos lança em um ponto crucial, em que se inscreve a importância do reconhecimento da experiência do ser individual do bebê no seio dessa relação primordial para que ele possa se apropriar de sua existência.

Aqui nos vemos diante de um direcionamento do nosso foco de estudo ao terreno relacional, em que o reconhecimento se torna possível. Essa consideração nos coloca diante da importância da inclusão da esfera corporal ao nos propormos traçar ponderações sobre o reconhecimento. Essa premissa baseia-se antes de tudo na afirmação de que a própria constituição psíquica se pauta inicialmente em uma matriz corporal (Coelho Junior, 2010Coelho Junior. N. (2010). Da intercorporeidade à co-corporeidade: elementos para uma clínica psicanalítica. Revista Brasileira de Psicanálise, 44(1), 51-60. Recuperado de http://tinyurl.com/53hb73tj
http://tinyurl.com/53hb73tj...
), perspectiva que lança o corpo em um lugar de ferramenta e mediação a partir do qual é possível estabelecer relações com o mundo. Nesse sentido, a presença de um outro, dotado também de um corpo sensível que possa estar atento e adaptado às expressões próprias do bebê, mostra-se fundamental. Isso se deve ao fato de ser justamente em decorrência do encontro com o outro que uma via comunicativa capaz de reconhecer e afirmar a espontaneidade do indivíduo se torna viável. Nesse sentido, temos que, em um primeiro momento, o indivíduo existe enquanto potencialidade de ser, dotado de uma abertura natural para o mundo e para o outro, inclinação que atuará como sustentáculo à sua constituição subjetiva.

Um ponto fundamental ao nos atermos à temática do desenvolvimento inicial do indivíduo no campo psicanalítico se refere à importância da presença sensível de uma subjetividade capaz de adaptar-se às necessidades do vir a ser2 2 Ao nos referimos aqui a esse vir a ser, fazemos alusão ao sentido winnicottiano do termo, que se refere a uma potencialidade inata ao bebê que, em decorrência dos processos do desenvolvimento emocional primitivo, culminará na constituição de seu self. Nesse sentido, o vir a ser carrega toda a potência de tornar-se um indivíduo saudável ao longo de um desenvolvimento suficientemente bom. do infante, tanto em termos biológicos quanto egóicos (Lejarraga, 2015Lejarraga, A. L. (2015). Sexualidade infantil e intimidade: diálogos winnicottianos. Rio de Janeiro: Gramond.). Tal ponto nos leva a afirmar a necessidade da presença de um sujeito implicado e disponível para que uma relação dual de complementaridade possa ser estabelecida. De todo modo, devemos ter em mente que, na saúde, essa relação se dá entre um par assimétrico. A ideia de assimetria aqui se refere especificamente à integração e à capacidade de autoafirmação já alcançada pelo sujeito com quem o vir a ser se relaciona a partir do regime de dualidade. É justamente por já ter atravessado de maneira satisfatória as bases de seu próprio desenvolvimento subjetivo que o indivíduo que estabelecerá uma relação dual com o infante será capaz de construí-la no âmbito da disponibilidade, semelhança e adaptação mútua, o que nos remete ao que Winnicott entende como um campo de mutualidade. Nesse sentido, afirmamos que a modalidade dual de vinculação se pauta na formação de uma díade, tão visceralmente amalgamada que, em um primeiro momento, não é possível reconhecer nela duas partes separadas, apenas um todo indivisível. Devemos observar que essa amálgama inicial se apresenta como um paradoxo - que será discutido mais adiante - ao pensamento que desenvolveremos ao longo do texto. Afinal, inseridos em um terreno psicanalítico no qual a dinâmica subjetiva não é entendida apenas em termos intrapsíquicos, mas também intersubjetivos, deparamo-nos com uma díade formada por dois elementos que, apesar de amalgamados, apresentam seus potenciais e especificidades particulares.

De um lado temos um vir a ser, referido ao bebê, e do outro um sujeito integral, referido à figura do cuidador. Tal ponto nos leva a pensar a problemática da diferenciação não apenas em decorrência de um movimento de separação entre um complexo amalgamado mãe-bebê. Em vez disso somos levados a traçar considerações sobre esse ponto a partir da dinâmica do reconhecimento, o que implica pensarmos o próprio movimento de separação enquanto a percepção e capacidade de reconhecer os elementos que compõem o par, cada qual em sua particularidade e, embora semelhantes, também dotados de distinções que lhes são próprias (Benjamin, 1988/1996Benjamin, J. (1996). Los lazos de amor: Psicoanalisis, feminismo y el problema de la dominación. Buenos Aires: Paidos. (Trabalho original publicado em 1988)).

Tendo isso em vista, direcionamo-nos a um pensamento psicanalítico cujas bases são estabelecidas por meio de relações diádicas para que, posteriormente, possa-se ingressar em um regime de relações triangulares. Propomos a seguir as linhas de uma mudança de foco de uma psicanálise freudiana. Com isso, traçaremos considerações a partir de momentos mais primitivos do desenvolvimento psíquico, que lançam as dinâmicas subjetivas em jogo em um modelo diádico de relação. É tirada de cena a centralidade edípica, proposta pela psicanálise clássica, e posto em voga um panorama que destaca a dualidade própria ao desenvolvimento emocional primitivo. Tal angulação, a partir da qual nos dedicaremos ao processo de formação da subjetividade, nos direciona à importância da dinâmica do reconhecimento na clínica psicanalítica. O encontro do vir a ser com uma figura já integrada lhe confere a ancoragem necessária para o estabelecimento de seu sentimento de existência e das bases a partir das quais seu próprio self poderá se erguer e se afirmar por si só.

É justamente nesse ponto que a função de reconhecimento ganha centralidade no processo de constituição subjetiva. Ao nos depararmos com a importância basal da constância, continência, sustentação (holding) e manejo (handling) ambientais no processo de constituição subjetiva em conjunto com a abertura natural do ser humano ao contato e estabelecimento de relações com o outro, vemo-nos diante da instauração de uma comunicação não-verbal a partir dos cuidados conferidos ao corpo do bebê e o ritmo que eles comportam.

O encontro do infante com o adulto já integrado estabelece uma via de mão dupla à dinâmica do reconhecimento. De um lado, temos o cuidador, que em sua adaptação ao bebê reconhece a singularidade dele e, ao afirmá-la, tanto a constitui quanto permite que o bebê gradativamente seja capaz de se autoafirmar. De outro, temos o bebê, que em sua abertura ao mundo concede gradativamente um olhar de reconhecimento ao cuidador capaz de transformá-lo (Benjamin, 1988/1996Benjamin, J. (1996). Los lazos de amor: Psicoanalisis, feminismo y el problema de la dominación. Buenos Aires: Paidos. (Trabalho original publicado em 1988)). Essa relação, que se dá na esfera não-verbal, traz à tona a potência intensiva do corpo em sua vertente comunicativa e vinculativa na vida primitiva do indivíduo.

Importância do reconhecimento na gênese dos processos de subjetivação

A linguagem expressa pela fala se destaca como foco de trabalho desde a fundação da clínica psicanalítica. A talking cure (Freud e Breuer, 1893-1895/2016Freud, S.; Breuer, J. (2016). Estudos Sobre a histeria. São Paulo: Companha das letras. (Trabalho originalmente publicado em 1893-1895)). abre um campo importantíssimo no que tange não apenas à apreensão dos conteúdos inconscientes, mas também à própria relação terapêutica. A inauguração dessa modalidade de tratamento e olhar sobre o paciente nos coloca diante, inicialmente, da possibilidade de construção de um lugar no qual é possível falar sobre si na presença de uma figura disponível, capaz de promover escuta e olhar adaptados às expressões que lhe são apresentadas.

Com os desdobramentos da clínica psicanalítica abre-se um campo no qual o trabalho do analista no que tange ao manejo clínico não se encontra restrito apenas à exploração e interpretação do inconsciente do paciente, mas volta-se também para um manejo que passa pela própria relação analítica, levando em conta os conteúdos que são comunicados por formas de expressão próprias ao registro não-verbal. Com o desdobramento da teoria e da técnica psicanalítica promovida pelos autores do grupo independente das relações objetais, o trabalho clínico passa a ser visto como uma via pela qual a vivência de um conteúdo regressivo pode ser (re)experienciada e (re)significada no seio da relação terapêutica.

Em resumo, descobrimos que a expansão de conhecimento implícito sobre a relação que se torna intersubjetivamente compartilhada entre paciente e terapeuta é um potente mecanismo de mudança terapêutica. Além disso, essa forma de conhecimento implícito sobre como é e pode ser estar junto, e sobre a natureza da relação paciente-terapeuta, nunca precisa ser falada explicitamente para ter um efeito terapêutico (Stern, 1977/2002Stern, D. (2002). The first relationship. Cambridge: Harvard University Press. (Trabalho original publicado em 1977), p. 12).

Com isso, cria-se a possibilidade de trazer a expressão corporal à cena, permitindo que o trabalho analítico remonte a momentos iniciais do desenvolvimento psíquico, nos quais a expressão própria se encontra referida a uma forma de comunicação não-verbal. Seguindo as palavras de Daniel Stern (1977/2002Stern, D. (2002). The first relationship. Cambridge: Harvard University Press. (Trabalho original publicado em 1977)), “Antes que os eventos pudessem ser verbalmente e simbolicamente representados, o conhecimento interativo inicial dos bebês foi de alguma forma codificado em um registro não verbal” (p. 11). O autor ainda destaca que o conhecimento do bebê nesse momento inicial não se restringe apenas ao campo processual ou a expressões sensório-motoras. Desde muito cedo, o infante é capaz de acessar uma via afetiva que pode ser reconhecida no encontro com a figura materna após um período de separação. Por afetivo aqui podemos entender a capacidade de afetar e ser afetado, que nas fases iniciais do desenvolvimento se dá principalmente pela via dos sentidos que atravessam a esfera corporal.

Desse modo, o conhecimento do ambiente ocorre em consonância com o reconhecimento da presença do outro. Peixoto Junior e Arán (2011Peixoto Junior, C. A., & Arán, M. (2011). O lugar da experiência afetiva na gênese dos processos de subjetivação. Psicologia USP, 22(4), 725-745. https://doi.org/10.1590/S0103-65642011005000032
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
) apontam que para Stern o desenvolvimento não se daria em decorrência de fases, tal qual proposto por Freud. Em vez disso, diz respeito a níveis de subjetivação que se encontram presentes e acessíveis ao longo de toda a vida. Nesse contexto ganha ênfase o caráter transsubjetivo da gênese da personalidade decorrente de uma não dissociação entre o sentimento de si e o sentimento do outro. Esse enlace afetivo faz com que os autores considerem que Stern adota uma posição intersubjetiva forte, na medida em que este seria capaz não apenas de formar-se por meio das relações estabelecidas pelo indivíduo, mas de atribuir ao outro afetos, sensações e intenções a partir de suas próprias vivências, e que são sentidas como compartilhadas entre ambos. Nesse ponto devemos ter em mente que, paradoxalmente, a carga afetiva e sensível de cada encontro tanto constitui quanto torna perceptível ao indivíduo a presença do outro por meio da construção de uma temporalidade e ritmicidade que se desdobram no presente criando experiências próprias a cada interação. Logo, a ideia de temporalidade para Stern assume um caráter de reconhecimento das particularidades afetivas e rítmicas do outro com o qual o indivíduo se relaciona.

Seguindo esta linha, Stern (1985/1998Stern, D. (1998). The interpersonal word of the infant: A View from Psychoanalysis and Developmental Psychology. Londres: Karnac Books. (Trabalho original publicado em 1985)) apresenta um estudo que busca justamente analisar se bebês de três dias já são capazes de diferenciar o leite materno do leite de outra lactante. Nesse estudo, ao serem apresentados dois recipientes com leite materno postos um de cada lado do infante, os bebês tendiam a virar o rosto para o lado no qual foi posto o leite de sua mãe. Esse experimento exemplifica um movimento que nos leva a considerar que existem formas de reconhecimento muito primitivas, capazes de distinguir o ambiente mais familiar.

Outro ponto em que podemos pensar a partir desse experimento é a presença de uma abertura ativa ao mundo e seus objetos, em uma busca por eles que se expressa enquanto algo não apenas necessário, como também fruto de um movimento natural no processo de construção de vínculos. Nesse sentido, Stern afirma que “Os bebês não precisam de experiências repetidas para começarem a formar algumas das peças de um self emergente e do outro. Eles são pré-concebidos para forjar certas integrações”3 3 No original: “Infants do not need repeated experience to begin to form some of the pieces of an emergent self and other. They are predesigned to forge certain integrations”. (Stern, 1985/1998Stern, D. (1998). The interpersonal word of the infant: A View from Psychoanalysis and Developmental Psychology. Londres: Karnac Books. (Trabalho original publicado em 1985), p. 52, tradução nossa).

Nos primórdios do amadurecimento emocional, a comunicação que se estabelece entre o infante e seu cuidador ocorre em função de todo um conjunto de cuidados a partir dos quais se dão o manejo, a sustentação e a presença, que na adaptação do infante afirmam e reconhecem sua expressão singular. Nesse momento inicial ainda não se conquistou a noção de habitar um corpo dotado de contorno próprio. Stern (1985/1998Stern, D. (1998). The interpersonal word of the infant: A View from Psychoanalysis and Developmental Psychology. Londres: Karnac Books. (Trabalho original publicado em 1985)) aponta que o começo da organização do indivíduo se dá pela via corporal, por meio da aquisição de uma coerência própria, percepção de suas sensações e da construção e manutenção de uma memória sobre estas. Antes de ser capaz de acessar essas aquisições, o autor ainda aponta que surge um senso de self emergente, que se pauta nas vivências sensoriais, concedendo a base central para que o self organizado possa se fundar. Stern (1985/1998Stern, D. (1998). The interpersonal word of the infant: A View from Psychoanalysis and Developmental Psychology. Londres: Karnac Books. (Trabalho original publicado em 1985)) sinaliza que o bebê pode experienciar tanto os processos de organização que culminarão no surgimento de um self organizado quanto os produtos desses movimentos de constituição. Por outro lado, tendo em vista da abertura natural do indivíduo ao mundo, podemos pensar no sentido de self emergente enquanto também direcionado aos processos e produtos que culminarão no reconhecimento das particularidades do mundo e de seus objetos.

Essas considerações se pautam justamente na mutualidade na qual se inscreve o processo de constituição subjetiva. Se, por um lado, é a presença e o direcionamento de um olhar que em sua adaptação é capaz de reconhecer o indivíduo, por outro, é diante da incidência desse movimento que se propõe a reconhecer que, ao mesmo tempo em que o sujeito se constitui, também se torna capaz de dar contorno ao mundo no qual passa a se ver inserido. Dessa forma, é sobre o corpo do indivíduo que os cuidados e interações são direcionados inicialmente, assim como o regime sensório é amplamente requisitado nesse sentido, uma vez que nos referimos a um momento mais primitivo do desenvolvimento. É a partir do registro do corpo que o existir pode ser expresso e encontrar reconhecimento do meio.

Nesse sentido, temos que o surgimento do indivíduo se dá pelas linhas da corporeidade, sendo esta entendida como “. . . uma alternativa à clássica oposição corpo-mente (ou psiquismo), ou seja, entendo que a corporeidade é também psíquica, como gênese de possibilidades, como potência geradora de elementos propriamente psíquicos” (Coelho Junior, 2010Coelho Junior. N. (2010). Da intercorporeidade à co-corporeidade: elementos para uma clínica psicanalítica. Revista Brasileira de Psicanálise, 44(1), 51-60. Recuperado de http://tinyurl.com/53hb73tj
http://tinyurl.com/53hb73tj...
, p. 54). Tal ponto direciona nossos estudos a um corpo vivo, que em sua expressão de vitalidade é capaz de comunicar ao outro sua espontaneidade criando-se e transformando-se diante desse encontro. Aqui, temos que tanto o próprio corpo do indivíduo ganha contorno quanto seu psiquismo também recebe a delimitação necessária ao movimento de autorreconhecimento dos elementos e características que lhe são próprias. Nesse sentido, corpo e psiquismo caminham juntos tanto em sua função expressiva da espontaneidade própria do indivíduo quanto em sua capacidade constitutiva do sujeito.

Expressão corporal e potencial espontâneo

Ao nos dedicarmos ao estudo dos momentos primitivos do amadurecimento emocional, temos que, inicialmente, as expressões próprias do indivíduo e mesmo o encontro com o mundo se dão por meio de vivências corporais. Assim, nos primórdios do processo de subjetivação temos um corpo vivo que, mesmo ainda não integrado, afeta e é afetado pelo ambiente. É a partir dessas vivências que se expressam na corporeidade e nesses encontros que se dão por meio de um cuidado corporal que o psiquismo poderá florescer. São as vivências corporais que, ao mesmo tempo em que apresentam indícios de um mundo ainda desconhecido ao infante, lhe possibilitam experienciar seu próprio contorno corporal.

Fontes (2006Fontes, I. (2006). A ternura tátil: o corpo na origem do psiquismo. Psychê, 10(17), 109-120. Recuperado de http://tinyurl.com/7yj965ny
http://tinyurl.com/7yj965ny...
) afirma a potência do lugar tátil da pele na apreensão e capacidade de construção das vivências psíquicas. A partir da ideia freudiana de que o ego seria a projeção mental da superfície corporal, a autora define a experiência tátil como o modelo da experiência psíquica. Nesse sentido, tanto o surgimento de um mundo interno a partir do qual a subjetividade poderá complexificar-se quanto a reunião entre a psique e o somático se dão inicialmente por meio de vivências pautadas no cuidado com o corpo do bebê.

No início, o bom ambiente (psicológico) é na verdade físico, com a criança ainda no útero ou então sendo segura e cuidada de um modo geral. Somente no decorrer do tempo, o ambiente virá a desenvolver novas características que precisarão de outros termos para descrevê-las, tais como emocionais ou psicológicas ou sociais (Winnicott, 1949/2000Winnicott, D. W. (2000). A mente e sua relação com o psicossoma. In D. W. Winnicott, Da pediatria à psicanálise (pp. 332-346). Rio de Janeiro: Imago . (Trabalho original publicado em 1949), p. 334).

Winnicott propõe que no início do desenvolvimento emocional se daria o entrelaçamento da psique com o soma em uma unidade psicossomática. Embora não seja possível traçar uma separação plena entre ambas, mesmo antes da constituição do psicossoma, temos que a psique seria a elaboração sensível, afetiva e imaginativa das funções somáticas, apresentando-se como uma forma de apreensão e, consequentemente, como expressão já elaborada da vitalidade corporal. A identificação e elaboração do corpo vivo possibilita que o indivíduo comece a circunscrever gradativamente seu si mesmo e referi-lo a essa corporeidade. Esses processos, que, embora complexos, ocorrem em uma fase precoce do desenvolvimento, permitem ao indivíduo a constituição de uma continuidade de ser, o que paradoxalmente possibilita o desenvolvimento e a complexificação da unidade psicossomática. Esta, por sua vez, passa a abarcar a vitalidade corporal como algo próprio e que ganha o estatuto de expressão, afetação e intenção, possibilitando que o indivíduo não apenas alcance uma delimitação de si, mas também a construção de uma personalidade que poderá ser experienciada enquanto verdadeira, uma vez que suas vivências sensíveis e imaginárias podem se interligar à experiência corporal.

A presença de um cuidador suficientemente bem adaptado às necessidades do infante e disponível para se encarregar do manejo e da sustentação dão início ao processo de diferenciação entre este vir a ser e o ambiente no qual ele se encontra inserido (Winnicott, 1945/2000Winnicott, D. W. (2000). Desenvolvimento emocional primitivo. In D. W. Winnicott, Da pediatria à psicanálise (pp. 218-232) Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1945); Winnicott, 1956/2000Winnicott, D. W. (2000). A preocupação materna primária. In D. W. Winnicott, Da pediatria à psicanálise (pp. 399-405). Rio de Janeiro: Imago . (Trabalho original publicado em 1956)). A ideia de adaptação aqui possibilita que o cuidador seja capaz de fantasiar, imaginar e reconhecer as necessidades tanto físicas quanto psíquicas do bebê a fim de supri-las. Nesse processo, um cuidador suficientemente bom deve ser capaz tanto de sustentar e nutrir quanto de falhar para que um estado de dependência absoluta inicial dê lugar à dependência relativa. De toda forma, é importante destacarmos que o contorno, a integração corporal e a possibilidade de significação e elaboração imaginativa das experiências vividas são promovidos justamente por um cuidado conferido ao bebê que lhe permite a manutenção da continuidade de seu sentimento de si em construção.

Tendo isso em vista, devemos atentar para o fato de que o conjunto de cuidados dedicados ao infante não se pautam apenas em termos físicos ou biológicos. Com isso queremos dizer que concordamos com a consideração winnicottiana segundo a qual o bebê humano não viria ao mundo como uma tábula rasa, recebendo do ambiente de forma passiva os conteúdos capazes de preenchê-la. Para Donald Winnicott existe algo que é próprio de cada um de nós e que nos acompanha desde a vida intrauterina, garantindo certa singularidade já nos primórdios da existência (Winnicott, 1950-1955/2000Winnicott, D. W. (2000) A agressividade em relação ao desenvolvimento emocional. In D. W. Winnicott, Da pediatria à psicanálise (pp. 288-304). Rio de Janeiro: Imago . (Trabalho original publicado em 1950)). A isso que é inato ao bebê nos referimos como um potencial espontâneo (Brum, 2019Brum, S. (2019). Considerações sobre um modelo de satisfação relacional na teoria winnicottiana. Natureza Humana, 21(1), 129-148. Recuperado de http://tinyurl.com/3x8rttys
http://tinyurl.com/3x8rttys...
). Esse potencial próprio ao vir a ser carrega as sementes da constituição subjetiva nas linhas de um verdadeiro self, a partir do qual o indivíduo poderá experienciar sua vivência com o mundo como um encontro em que é possível expressar um conteúdo próprio e ser acolhido em sua singularidade. Afinal, é a partir da afirmação da espontaneidade do infante por um outro nos primórdios da vida que seu potencial próprio encontra um terreno fértil a partir do qual poderá se desenvolver de maneira verdadeira. Desse desenvolvimento, que carrega com si as marcas da espontaneidade, o self que se constitui segue as linhas de um verdadeiro self capaz de, a partir de encontros, relacionar-se com o mundo em um movimento de troca e interação. Dessa forma, temos que essa potencialidade própria ao indivíduo nos apresenta sua particularidade sob a presença e expressão de sua espontaneidade, que se expressa em uma abertura para o mundo e as relações a ele inerentes, apresentando-nos uma disposição natural do bebê ao contato e, posteriormente, ao encontro com o mundo. Tal ponto nos leva a considerar um movimento ínsito de direcionamento à própria constituição psíquica decorrente de expressões próprias a este vir a ser que se dão por meio de movimentos corporais referidos a motilidade, a qual Winnicott (1950-55/2000Winnicott, D. W. (2000) A agressividade em relação ao desenvolvimento emocional. In D. W. Winnicott, Da pediatria à psicanálise (pp. 288-304). Rio de Janeiro: Imago . (Trabalho original publicado em 1950)) nomeia de agressividade primária.

Ao se dedicar ao estudo da relação que se estabelece entre bebês e suas mães no início da vida, Winnicott chama a atenção para as expressões do infante que se dão por meio de vivências corporais que possibilitam a emissão da espontaneidade do bebê no mundo. É por meio de um esbarrar desproposital promovido pela motilidade do infante que este se depara com a paradoxal expectativa e desvendamento da possibilidade de encontro com um outro que ainda não é capaz de reconhecer. Por expectativa de contato nos referimos a um movimento que busca uma oposição limitadora por meio de vivências corporais que, ao esbarrar com algum obstáculo, possibilita o reconhecimento e a criação do mundo. Essa faceta primitiva da experiência Winnicott (1950-1955/2000Winnicott, D. W. (2000) A agressividade em relação ao desenvolvimento emocional. In D. W. Winnicott, Da pediatria à psicanálise (pp. 288-304). Rio de Janeiro: Imago . (Trabalho original publicado em 1950)) também relaciona à agressividade primária.

Dessa forma, temos que, diante do contorno e limite que o contato com o outro inscrito na esfera corporal carrega, o potencial próprio do indivíduo é afirmado na medida em que o cuidador passa a responder de forma atenta e singular àquela expressão particular. Essa resposta se inscreve nas linhas do reconhecimento da espontaneidade criativa da subjetividade por vir, reconhecimento que se inscreve nas linhas da mutualidade. Tal ponto retira a agressividade primária do lugar de expressão de destrutividade - que seria referida à agressão4 4 Para a diferença entre agressividade primária e agressão em Winnicott ver Brum (2019). - e a inscreve nas linhas do amor primitivo. Essa proximidade entre a agressividade primária e a expressão do amor primitivo se deve justamente à inclinação natural ao encontro - manifestada inicialmente por meio de expressões corporais referidas à motilidade - capaz de promover movimentos vinculativos mesmo quando nos estágios mais iniciais do desenvolvimento emocional. Da mesma forma, é no interjogo dos movimentos específicos expressos pelo bebê com a capacidade para reconhecê-los e responder a eles de maneira própria que se esboçam as primeiras formas de comunicação e troca específicas daquele par (Brum, 2019Brum, S. (2019). Considerações sobre um modelo de satisfação relacional na teoria winnicottiana. Natureza Humana, 21(1), 129-148. Recuperado de http://tinyurl.com/3x8rttys
http://tinyurl.com/3x8rttys...
).

Tendo em vista essas considerações, nota-se que a agressividade primária nos apresenta as possibilidades de expressão não apenas de um corpo a partir do qual o psiquismo poderá ser fundado e se complexificar. Além disso, nos vemos diante de uma comunicação que começa a se estabelecer no seio de uma relação diádica inscrita nas linhas da mutualidade. Afinal, ao mesmo tempo que o bebê é reconhecido naquilo que lhe é mais singular, ele também começa gradativamente a reconhecer as especificidades do ambiente que dele cuida.

Esse reconhecimento passa tanto pela via corporal em seu entrelaçamento com o campo sensorial quanto pela instauração de uma ritmicidade própria, estabelecida entre as figuras que compõem o par nas relações mais primitivas (Ciccone, 2018Ciccone, A. (2018). A ritmicidade nas experiências do bebê, sua segurança interna e sua abertura para o mundo. In: R. Aragão & S. Zornig (Orgs.), Continuidade e descontinuidade no processo de subjetivação do bebê. São Paulo: Escuta.). Aqui nos referimos às nuances do cuidado que norteiam a relação mãe-bebê (Stern, 1985/1998Stern, D. (1998). The interpersonal word of the infant: A View from Psychoanalysis and Developmental Psychology. Londres: Karnac Books. (Trabalho original publicado em 1985)). Nuances estas que, ao mesmo tempo que afirmam e conferem continência ao self do bebê em construção, também coadjuvam transformações na subjetividade materna e na assunção de seu lugar de cuidado (Benjamin, 1988/1996Benjamin, J. (1996). Los lazos de amor: Psicoanalisis, feminismo y el problema de la dominación. Buenos Aires: Paidos. (Trabalho original publicado em 1988)). Nesse sentido, consideramos que a expressão corporal inerente à agressividade primária com a capacidade de reconhecimento mútuo - própria de uma relação dual saudável - abrem caminho para o estabelecimento de uma ritmicidade inerente ao par mãe-bebê, tendo a mãe um papel decisivo no amadurecimento emocional do infante.

Esse ponto se apresenta como fundamental em nossas ponderações, uma vez que a abertura de uma nova via comunicativa entre a mãe e seu bebê permite vislumbrar o processo de construção do mundo pelo infante não apenas como um movimento de diferenciação e separação, mas como uma abertura para o seu reconhecimento e criação. Tal ponto nos leva a pensar o movimento criativo a partir do encontro de um mundo já existente com uma potencialidade particular do infante sob as linhas de uma dinâmica de cocriação na medida em que, ao mesmo tempo que o outro me reconhece de maneira verdadeira, constituo-me e assim me diferencio do mundo. Da mesma forma, ao ser reconhecido torno-me capaz de reconhecer o mundo e os objetos com os quais me relaciono em um entrelaçamento que, seguindo o pensamento de Christopher Bollas (1987/2015Bollas, C. (2015). O objeto transformacional. In: A sombra do objeto: Psicanálise do conhecido não pensado (pp. 44-64). São Paulo: Ed. Escuta. (Trabalho original publicado em 1987)), podemos chamar de transformacional. A referência ao conceito de objeto transformacional de Bollas aqui se refere aos impactos constitutivos que o objeto primário ou o objeto que regressivamente venha a desempenhar essa função (analista) adquire em um caráter criativo sobre o self do indivíduo. O paralelo que traçamos entre o conceito de Bollas e a ideia de reconhecimento busca apresentar esse movimento de transformação do self, que possui um caráter constitutivo como uma função que afeta ambas as figuras do par.

É claro que este interjogo se dá ao longo de toda a vida, mas o fato de no início do amadurecimento emocional esse movimento decorrer de uma ancoragem corporal nos leva a pensar em formas de comunicação, expressão e afetação que prescindem da representação verbal. Nesse sentido, consideramos que a adaptação aos movimentos desse corpo vivo apresenta-se como uma via de expressão primitiva capaz de possibilitar o estabelecimento de uma via comunicativa que torna possível o acesso à espontaneidade do infante. Tal ponto afirma a corporeidade do paciente no setting analítico como uma forma de comunicação não-verbal ao analista, apresentando-se como objeto de trabalho, ou mesmo, em alguns casos, o principal objeto do trabalho clínico, o que convoca o corpo do analista em um sentido de holding e handling, assim como na relação dual entre o bebê o seu cuidador adaptado.

É claro que a oferta do corpo do analista não se expressa necessariamente por meio de um manejo corporal concreto do paciente, mas a partir da abertura ao reconhecimento e afetação tanto do que o paciente apresenta em termos de movimentação, aspecto e contorno, como daquilo que ele é capaz de provocar em termos projetivos no corpo do analista. É um trabalho muito mais da ordem de dar lugar e reconhecer as expressões pré verbais do analisando no setting e a construção de uma linguagem acessível a esses conteúdos ainda não referidos à vida da palavra. Nesse sentido, diferentemente de algumas vertentes de terapias holísticas ou mesmo linhas de psicoterapia, o trabalho analítico que também acessa a corporeidade do paciente se inscreve nas linhas de reconhecer esse corpo e as formas utilizadas por ele para se expressar e se comunicar. Trata-se de abrir caminho para o reconhecimento da expressão de uma narrativa não falada de si por um outro atento e disponível a acessá-la.

Aqui nos referimos a uma forma de manejo clínico cuja base se constitui a partir de um movimento regressivo. Isso se deve ao entendimento do observado na clínica não apenas como fruto da expressão de conteúdos inconscientes, mas também como a possibilidade de vivenciar junto ao analista toda uma gama de experiências inscritas no terreno pré-verbal e referidas ao campo corporal. Essas vivências corporais primitivas trazidas à tona na clínica apontam para uma forma de comunicação que se inicia com os processos que culminarão na longa e constante jornada de constituição subjetiva, levando o analisando a reviver em análise as angústias inerentes há tempos nos quais seu sentimento de si fora posto à prova. Nesse sentido, a possibilidade de o analista manter contato com a sua corporeidade, assim como perceber a expressão corporal do analisando, o permite reconhecer a experiência subjetiva não apenas pela via da palavra, mas também por meio da utilização do corpo em sua abertura expressiva ao mundo e ao outro. Pensar em uma dinâmica psíquica que transpassa a corporeidade implica tratarmos do estabelecimento de relações e inter-relações que se tornam possíveis graças à vivência corporal.

Nesse sentido, nos primórdios do amadurecimento emocional nos deparamos com um bebê que constrói gradativamente o seu sentimento de si a partir de experiências que se dão comunicativamente por meio de vivências corporais, mesmo que não completamente integradas e delimitadas. Gradativamente, com o alcance de certa integração capaz de permitir o reconhecimento da não continuidade entre o Eu e o mundo, torna-se possível a experiência mais ampla na qual dois corpos podem encontrar-se. Esse encontro entre corpos é apresentado por Coelho Junior (2010Coelho Junior. N. (2010). Da intercorporeidade à co-corporeidade: elementos para uma clínica psicanalítica. Revista Brasileira de Psicanálise, 44(1), 51-60. Recuperado de http://tinyurl.com/53hb73tj
http://tinyurl.com/53hb73tj...
) a partir da ideia de co-corporeidade, que se enuncia como a interpelação estabelecida por dois corpos distintos, mas capazes de se comunicar e se relacionar de modo não apenas sensorial, mas sensível e afetivo.

. . . o conceito de corporeidade como alternativa para designar um campo específico de experiências sensoriais, afetivas e significantes, mesmo que protossimbólicas. Corporeidade de paciente e analista, co-corporeidade, plano originário de relação em que processos transferenciais e contratransferenciais são vividos e sentidos. Corporeidade do analista em suas respostas à corporeidade do paciente, que podem incluir experiências de sonolência, tédio, desejo sexual, tristeza, raiva, impulsos agressivos ou sádicos etc. (Coelho Junior, 2010Coelho Junior. N. (2010). Da intercorporeidade à co-corporeidade: elementos para uma clínica psicanalítica. Revista Brasileira de Psicanálise, 44(1), 51-60. Recuperado de http://tinyurl.com/53hb73tj
http://tinyurl.com/53hb73tj...
, p. 53)

Seguindo essa discussão referente aos primórdios do amadurecimento emocional primitivo, vemo-nos diante do estabelecimento de uma unidade dual5 5 Aqui, o termo unidade dual se refere à ideia de paradoxo própria ao estado de preocupação materna primária. Para uma discussão mais aprofundada do uso desse termo recomendamos o capítulo 4 do livro Os sujeitos da psicanálise, de Thomas Ogden (1994/1996). que, em sua função de continência, capaz de sustentar e dar contorno ao processo de constituição subjetiva do sentimento de si, apresenta-se como marco inicial para que uma relação em termos de co-corporeidade possa ser alcançada. Tal ponto nos lança no terreno da dualidade, tornando necessária sua exploração sob os termos da função de reconhecimento.

O paradoxo de uma relação de unidade dual

Ao nos dedicarmos ao estudo da esfera corporal em psicanálise tecendo nossas considerações a partir dos estudos dos primórdios do amadurecimento emocional, deparamo-nos com a proposição de que nesse tempo o infante se encontra inserido em uma dinâmica paradoxal de unidade dual. Esta, por sua vez, carrega em si a presença do vir a ser inserido em uma rede de cuidados conferidos por um adulto adaptado. Nesse ponto somos lançados diante da problemática da indiferenciação inicial entre bebê e mundo, ponto central em nossas discussões sobre a questão da corporeidade em interseção com o reconhecimento. Afinal, discutir a questão da dualidade nos questionando se esta se daria a partir de uma dinâmica na qual a existência se inscreve em um modelo de diferenciação desde o princípio, ou se está inserida em um regime de indiferenciação, coloca-nos diante da forma como a relação inicial entre o infante e seu cuidador se estabelece e, consequentemente, como nela se inscreve a dinâmica do reconhecimento.

Seguindo essa linha, Stern (1985/1998Stern, D. (1998). The interpersonal word of the infant: A View from Psychoanalysis and Developmental Psychology. Londres: Karnac Books. (Trabalho original publicado em 1985)) propõe que o início do senso de experiência de um vir a ser em termos de self já pode ser vivenciado desde o nascimento: “Eles [os infantes] são predefinidos para estarem cientes dos processos de auto-organização. Eles nunca experimentam um período de total indiferenciação autossuficiente. Não há confusão entre o eu e o outro no início ou em qualquer momento durante a infância”6 6 No original: “They [infants] never experience a period of total selflother undifferentiation. There is no confusion between self and other in the beginning or at any point during infancy”. (Stern, 1985/1998Stern, D. (1998). The interpersonal word of the infant: A View from Psychoanalysis and Developmental Psychology. Londres: Karnac Books. (Trabalho original publicado em 1985), p. 10). Um ponto de vista que, a princípio, entra em atrito direto com a teoria winnicottina. Nesta, temos a afirmação da presença de um potencial próprio ao indivíduo que se expressa desde o início da vida em comunhão com a figura de um adulto já suficientemente constituído inscrito em um lugar de cuidado. Ou seja, a relação diádica se inscreve sob os termos de uma indiferenciação inicial entre o vir a ser e o mundo. Nesse sentido, a capacidade de ser se apresenta para Winnicott enquanto algo a ser alcançado naturalmente na saúde, mas que deve ser adquirido em decorrência de uma série de processos.

Por um lado, concordamos com Winnicott nesse ponto, na medida que identificamos justamente no reconhecimento o motor capaz de promover essa separação inicial entre o indivíduo e o mundo à sua volta, a partir do duplo processo de ser reconhecido e desse movimento tornar-se capaz de afirmar uma existência também capacitada para reconhecer o mundo enquanto algo distinto de si. Por outro lado, gostaríamos de propor um posicionamento que coloca em paralelo a assertiva de Stern, segundo a qual teríamos algo anterior ao self desde sempre, e que torna o indivíduo precocemente consciente de uma existência individual, e a consideração winnicottiana referente à presença de uma potencialidade de ser desde os primórdios da vida.

Nossa proposta considera essas ideias não por meio de um contraponto, mas de uma aproximação que nos leva a propor a existência de algo que permanece como próprio ao bebê e algo que se mantém como conteúdo da mãe desde os primórdios da unidade dual. Isso implica pensarmos em uma relação diádica extremamente próxima que carrega em si conteúdos específicos de cada um dos elementos do par, afetando-se e constituindo-se mutuamente.

Pensando de maneira um pouco mais imagética e expressiva no paradoxo inerente à ideia proposta, seria quase como nos vermos diante da possibilidade de estabelecimento de uma relação amalgamada entre um elemento integral e um com potencial de tornar-se. Tal amálgama reúne e aproxima essas duas esferas, as vincula de uma forma visceral, mas não desconsidera a especificidade de cada um dos elementos propostos, quase como a reunião de água e azeite dentro de um recipiente delimitador. Essa imagem nos põe diante de uma interação segura que, sendo capaz de permanecer presente, adaptando-se às expressões e necessidades do infante, permite a criação de um campo de experimentação de seu próprio potencial espontâneo, a partir do qual o bebê poderá se constituir e complexificar. Um potencial que só pode ser expresso, desenvolvido e vivenciado enquanto tal no seio dessa relação de unidade dual.

A adesão a essa concepção ressalta o paradoxo no qual a relação se inscreve. Por um lado, temos um vir a ser que só existe na medida que se insere em uma relação de complementaridade com um outro que se encontra adaptado e disponível a tal interação. Por outro, nos vemos diante de algo próprio ao indivíduo e que preexiste mesmo à conquista e consolidação de seu sentimento de si e que, por mais que sofra influências do ambiente no qual se desenvolve, carregará sempre a marca de algo que lhe é próprio e singular. Esse pensamento nos coloca diante do reconhecimento como uma interação basal, capaz não só de constituir o indivíduo, mas também de modificá-lo, e vice-versa.

. . . o processo de reconhecimento, aqui descrito através da experiência da mãe recente, sempre inclui aquela mistura paradoxal de alteridade e unidade: você me pertence, mas você não é (você não é mais) parte de mim. A alegria que sua existência me dá deve incluir tanto minha conexão com você quanto sua existência independente: eu reconheço que você é real7 7 No original: “. . . el proceso de reconocimiento, descrito aquí a través de la experiencia de la madre reciente, siempre incluye esa mezcla paradójica de alteridad y unidad: tú me perteneces, pero no eres (ya no eres) parte de mí. El gozo que me da tu existencia debe incluir tanto mi conexión contigo como tu existencia independiente: reconozco que eres real”. . (Benjamin, 1988/1996Benjamin, J. (1996). Los lazos de amor: Psicoanalisis, feminismo y el problema de la dominación. Buenos Aires: Paidos. (Trabalho original publicado em 1988), p. 27, tradução nossa)

O reconhecimento desse potencial particular, que em momentos iniciais se dá principalmente por vias não-verbais, por meio de um cuidado que se expressa na corporeidade, é o que começa a dar limite e contorno às vivências primitivas do vir a ser e, consequentemente, a todos os processos próprios ao amadurecimento emocional primitivo. Vale destacar que, diante da expressão desse potencial espontâneo no mundo e do consequente reconhecimento de suas especificidades pelo ambiente ao promover uma resposta também singular, estimula-se tanto a manutenção dessa expressão própria quanto os desdobramentos que ela pode sofrer. Nesse sentido, o reconhecimento ganha um caráter fundamental no próprio alvorecer psíquico, contribuindo ativamente para a capacidade de expressão e possibilidade de complexificação da espontaneidade. Afinal, trata-se não apenas dos eventos vividos e das relações que começam a se estabelecer, mas da forma como o indivíduo as experiencia e cria internamente (Stern, 1985/1998Stern, D. (1998). The interpersonal word of the infant: A View from Psychoanalysis and Developmental Psychology. Londres: Karnac Books. (Trabalho original publicado em 1985); Winnicott, 1945/2000Winnicott, D. W. (2000). Desenvolvimento emocional primitivo. In D. W. Winnicott, Da pediatria à psicanálise (pp. 218-232) Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1945)).

Inserindo-se nessa discussão, Jessica Benjamin (1988/1996Benjamin, J. (1996). Los lazos de amor: Psicoanalisis, feminismo y el problema de la dominación. Buenos Aires: Paidos. (Trabalho original publicado em 1988)) traz à tona um novo ponto. Se aceitarmos a ideia de que a criança não começa a sua vida inserida em uma relação indiferenciada com o mundo, o que surge como questionamento deixa de ser como ela se separa da unidade, e passa a ser como ela reconhece os outros e passa a estabelecer relações com eles. Esse apontamento nos leva a olhar a questão de um ângulo distinto. Afinal, o que passa a estar em pauta é a importância do reconhecimento do outro em sua individualidade. Outro ponto importante dessa consideração é que, ao nos direcionarmos a um questionamento que ao invés de investigar como se dá o distanciamento e a separação do outro se propõe a avaliar a importância de sua presença dotada de especificidade, somos lançados em um lugar de atividade tanto em nossos processos de constituição e amadurecimento subjetivos quanto na construção de nossas relações. Isso se deve ao caráter cocriativo que as interações acabam adquirindo na fundação e modificação do próprio psiquismo.

Essas considerações nos permitem lançar um olhar sobre o processo de amadurecimento psíquico não mais enquanto decorrente apenas de um movimento de separação e diferenciação. Nesse ponto, somos levados a afirmar o amadurecimento emocional como proveniente também do reconhecimento gradual que começa a ser desenvolvido com relação ao mundo a partir do qual não apenas me constituo, mas com o qual posso estabelecer relações e vínculos.

Nesse sentido, a ritmicidade na qual a relação primordial de reconhecimento se encontra inscrita torna possível o acesso à figura do outro inicialmente por meio de uma dinâmica de semelhança (Benjamin, 1995Benjamin, J. (1995). Like subjects, Love objects: ensays on recognition and sexual difference. New Haven: Yale University Press.), como se ressoasse no infante algo como: “Esse que não sou eu é igual a mim, pensa como eu, sente como eu, o que acontece a mim acontece a ele”. Esse regime permite que o indivíduo introjete não apenas características do outro enquanto semelhante a fim de formar-se, mas também adjetivações que lhe são apresentadas na própria relação.

Ou seja, trata-se de conceber aqui um movimento de introjeção constitutiva de si e de projeção constitutiva do mundo. É a partir da presença de um outro capaz de reconhecer as particularidades próprias ao sujeito que elas podem ser introjetadas, tornando-se parte do self em formação. Dessa forma, concordamos com a afirmação de Alvarez (1992/2020Alvarez, A. (2020). Companhia viva: Psicoterapia psicanalítica com crianças autistas, borderline, desamparadas e que sofreram abuso. São Paulo, SP: Blucher. (Trabalho original publicado em 1992)), segundo a qual “. . . aqueles bebês suficientemente tocados, olhados e com quem os adultos conversam não estão apenas sendo chamados para prestar atenção a um mundo humano exterior a eles; estão sendo chamados a prestar atenção no fato de que eles próprios existem” (p. 126). Assim, é a partir do reconhecimento externo da existência que ela pode ser percebida também internamente e, dessa forma, o ser torna-se capaz, gradualmente, de autoafirmar-se em sua singularidade. Singularidade esta que, conforme vimos, depende fundamentalmente da alteridade.

Seguindo essa linha, Benjamin (1988/1996Benjamin, J. (1996). Los lazos de amor: Psicoanalisis, feminismo y el problema de la dominación. Buenos Aires: Paidos. (Trabalho original publicado em 1988)) considera que a autoafirmação e o reconhecimento se constituem como pontos fundamentais para o processo de diferenciação. Para a autora, a diferenciação se apresenta como algo crucial no processo de constituição subjetiva na medida em que traça uma separação entre um si mesmo, consciente dos seus contornos próprios, e da presença dos outros com os quais pode se relacionar. Nesse sentido, o processo de reconhecimento com a autoafirmação permite que o indivíduo ingresse no registro das diferenças que se dá a partir da mínima constituição de seu self, que possibilitará que o direcionamento gradual do outro dual ao mundo e seus objetos seja suportado. É a partir desse movimento que se constrói a saída da relação dual e abertura da possibilidade de construções de relações triangulares (Benjamin, 1995Benjamin, J. (1995). Like subjects, Love objects: ensays on recognition and sexual difference. New Haven: Yale University Press.).

Considerações finais

O estudo do reconhecimento a partir da teoria psicanalítica se apresenta como ponto fundamental, uma vez que nos possibilita contemplar os processos em voga no alvorecer psíquico em decorrência da presença do outro desde os primórdios. Tal ponto nos permite lançar luz sobre essa jornada rumo ao encontro e criação de si mesmo a partir das diversas modalidades de investimento bilateral que decorrem da esfera da mutualidade. Esse ponto nos leva a atentar para os impactos que o reconhecimento da presença de outra subjetividade adquire em ambos os lados da relação.

Partindo de uma sensação de indistinção - no sentido de um reconhecimento que se pauta no regime da semelhança, compartilhamento e atribuição de intencionalidade e causalidade ao outro - torna-se possível a criação de uma temporalidade rítmica. Essa construção desemboca na atribuição de uma identidade própria tanto à relação quanto ao objeto com a qual esta é estabelecida. Em virtude desse primeiro momento, no qual a semelhança abre caminho à particularização, torna-se possível o ingresso do indivíduo em um regime no qual a diferença e consequentemente o outro passa a ser percebido em sua especificidade.

Nesse contexto, nos vemos diante de uma dinâmica que se inicia nos primórdios da vida, momento no qual o verbal ainda não se encontra acessível enquanto via de troca comunicativa. Inserido inicialmente em um registro não-verbal, o indivíduo tem acesso a outras formas de estabelecimento de uma vida comunicativa-constitutiva a partir da qual o corpo ganha grande relevo. Ao seguirmos a ideia de Stern (1985/1998Stern, D. (1998). The interpersonal word of the infant: A View from Psychoanalysis and Developmental Psychology. Londres: Karnac Books. (Trabalho original publicado em 1985)) de um amadurecimento que se daria enquanto fruto de um conjunto de diferentes níveis de subjetivação que se mantêm acessíveis e paralelos ao longo da vida, vemo-nos diante do corpo enquanto mecanismo de acesso a uma via de interação, modificação e constituição constante tanto do indivíduo quanto dos objetos com os quais ele se relaciona. Esse ponto vai ao encontro do proposto por Winnicott (1945/2000Winnicott, D. W. (2000). Desenvolvimento emocional primitivo. In D. W. Winnicott, Da pediatria à psicanálise (pp. 218-232) Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1945)) em seu amadurecimento emocional primitivo, uma vez que também para este autor as diversas fases do amadurecimento emocional são experienciadas, mas nunca completamente ultrapassadas. Com isso queremos dizer que, embora estas sejam vivenciadas pelo indivíduo com os processos a elas inerentes, é possível retornar aos seus estágios em diversos momentos do amadurecimento, como um constante movimento de vai e vem no qual o que foi conquistado não é perdido - ao menos não na saúde.

Somos lançados em um campo de estudo extremamente frutífero na área psicanalítica. Seja pela possibilidade de interação do contexto suscitado pela dinâmica do reconhecimento com os mecanismos transferenciais e contra-transferenciais, seja pela abertura a uma forma de apresentação de conteúdos internos e percepção destes por uma via não restrita à verbalidade. Tal ponto nos coloca diante da possibilidade de construção de uma clínica psicanalítica pautada no estabelecimento de uma via comunicativa a partir da presença e do encontro não apenas entre o inconsciente do paciente e o do terapeuta. Ao invés disso, nos permitimos ver a cena analítica enquanto fruto da convergência de duas subjetividades presentes e distintas, cada qual originária de uma raiz corporal viva e expressiva, cuja abertura e o manejo muitas vezes possibilitam o acesso e trabalho com conteúdos somente acessíveis por meio de uma expressão não-verbal, na qual o corpo se torna palco que, ao ser olhado, percebido e reconhecido, possibilita o estabelecimento de uma via de significação e comunicação.

Referências

  • Alvarez, A. (2020). Companhia viva: Psicoterapia psicanalítica com crianças autistas, borderline, desamparadas e que sofreram abuso. São Paulo, SP: Blucher. (Trabalho original publicado em 1992)
  • Benjamin, J. (1995). Like subjects, Love objects: ensays on recognition and sexual difference. New Haven: Yale University Press.
  • Benjamin, J. (1996). Los lazos de amor: Psicoanalisis, feminismo y el problema de la dominación. Buenos Aires: Paidos. (Trabalho original publicado em 1988)
  • Bollas, C. (2015). O objeto transformacional. In: A sombra do objeto: Psicanálise do conhecido não pensado (pp. 44-64). São Paulo: Ed. Escuta. (Trabalho original publicado em 1987)
  • Brum, S. (2019). Considerações sobre um modelo de satisfação relacional na teoria winnicottiana. Natureza Humana, 21(1), 129-148. Recuperado de http://tinyurl.com/3x8rttys
    » http://tinyurl.com/3x8rttys
  • Ciccone, A. (2018). A ritmicidade nas experiências do bebê, sua segurança interna e sua abertura para o mundo. In: R. Aragão & S. Zornig (Orgs.), Continuidade e descontinuidade no processo de subjetivação do bebê. São Paulo: Escuta.
  • Coelho Junior. N. (2010). Da intercorporeidade à co-corporeidade: elementos para uma clínica psicanalítica. Revista Brasileira de Psicanálise, 44(1), 51-60. Recuperado de http://tinyurl.com/53hb73tj
    » http://tinyurl.com/53hb73tj
  • Fontes, I. (2006). A ternura tátil: o corpo na origem do psiquismo. Psychê, 10(17), 109-120. Recuperado de http://tinyurl.com/7yj965ny
    » http://tinyurl.com/7yj965ny
  • Freud, S.; Breuer, J. (2016). Estudos Sobre a histeria. São Paulo: Companha das letras. (Trabalho originalmente publicado em 1893-1895)
  • Lejarraga, A. L. (2015). Sexualidade infantil e intimidade: diálogos winnicottianos. Rio de Janeiro: Gramond.
  • Ogden, T. H. (1996). Sujeitos da psicanálise. São Paulo: Casa do Psicólogo. (Trabalho original publicado em 1994)
  • Peixoto Junior, C. A., & Arán, M. (2011). O lugar da experiência afetiva na gênese dos processos de subjetivação. Psicologia USP, 22(4), 725-745. https://doi.org/10.1590/S0103-65642011005000032
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1590/S0103-65642011005000032
  • Stern, D. (1998). The interpersonal word of the infant: A View from Psychoanalysis and Developmental Psychology. Londres: Karnac Books. (Trabalho original publicado em 1985)
  • Stern, D. (2002). The first relationship. Cambridge: Harvard University Press. (Trabalho original publicado em 1977)
  • Winnicott, D. W. (2000). Desenvolvimento emocional primitivo. In D. W. Winnicott, Da pediatria à psicanálise (pp. 218-232) Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1945)
  • Winnicott, D. W. (2000). A mente e sua relação com o psicossoma. In D. W. Winnicott, Da pediatria à psicanálise (pp. 332-346). Rio de Janeiro: Imago . (Trabalho original publicado em 1949)
  • Winnicott, D. W. (2000) A agressividade em relação ao desenvolvimento emocional. In D. W. Winnicott, Da pediatria à psicanálise (pp. 288-304). Rio de Janeiro: Imago . (Trabalho original publicado em 1950)
  • Winnicott, D. W. (2000). A preocupação materna primária. In D. W. Winnicott, Da pediatria à psicanálise (pp. 399-405). Rio de Janeiro: Imago . (Trabalho original publicado em 1956)
  • 1
    Nos utilizamos do termo self seguindo sua delimitação proposta por Winnicott ao longo de sua obra. Para uma leitura mais aprofundada sobre este termo nas linhas da relação que propomos no presente texto recomendamos: “O desenvolvimento emocional primitivo” (Winnicott, 1945/2000Winnicott, D. W. (2000). Desenvolvimento emocional primitivo. In D. W. Winnicott, Da pediatria à psicanálise (pp. 218-232) Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1945)) e “A mente e sua relação com o psicossoma” (Winnicott, 1949/2000Winnicott, D. W. (2000). A mente e sua relação com o psicossoma. In D. W. Winnicott, Da pediatria à psicanálise (pp. 332-346). Rio de Janeiro: Imago . (Trabalho original publicado em 1949)).
  • 2
    Ao nos referimos aqui a esse vir a ser, fazemos alusão ao sentido winnicottiano do termo, que se refere a uma potencialidade inata ao bebê que, em decorrência dos processos do desenvolvimento emocional primitivo, culminará na constituição de seu self. Nesse sentido, o vir a ser carrega toda a potência de tornar-se um indivíduo saudável ao longo de um desenvolvimento suficientemente bom.
  • 3
    No original: “Infants do not need repeated experience to begin to form some of the pieces of an emergent self and other. They are predesigned to forge certain integrations”.
  • 4
    Para a diferença entre agressividade primária e agressão em Winnicott ver Brum (2019Brum, S. (2019). Considerações sobre um modelo de satisfação relacional na teoria winnicottiana. Natureza Humana, 21(1), 129-148. Recuperado de http://tinyurl.com/3x8rttys
    http://tinyurl.com/3x8rttys...
    ).
  • 5
    Aqui, o termo unidade dual se refere à ideia de paradoxo própria ao estado de preocupação materna primária. Para uma discussão mais aprofundada do uso desse termo recomendamos o capítulo 4 do livro Os sujeitos da psicanálise, de Thomas Ogden (1994/1996Ogden, T. H. (1996). Sujeitos da psicanálise. São Paulo: Casa do Psicólogo. (Trabalho original publicado em 1994)).
  • 6
    No original: “They [infants] never experience a period of total selflother undifferentiation. There is no confusion between self and other in the beginning or at any point during infancy”.
  • 7
    No original: “. . . el proceso de reconocimiento, descrito aquí a través de la experiencia de la madre reciente, siempre incluye esa mezcla paradójica de alteridad y unidad: tú me perteneces, pero no eres (ya no eres) parte de mí. El gozo que me da tu existencia debe incluir tanto mi conexión contigo como tu existencia independiente: reconozco que eres real”.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Abr 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    08 Abr 2023
  • Aceito
    27 Maio 2023
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Av. Prof. Mello Moraes, 1721 - Bloco A, sala 202, Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, 05508-900 São Paulo SP - Brazil - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revpsico@usp.br