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“. . . Mas agora é outro sentido”: uma leitura do trauma nas tecituras do trabalho psíquico adolescente

“ . . . But now it has different meaning:” a reading of trauma in the textures of adolescent psychic work

“ . . . Pero ahora es otro sentido”: una lectura del trauma en las tramas del trabajo psíquico adolescente

« . . . Mais maintenant est un autre sens » : une lecture du trauma dans les tessitures du travail psychique adolescent

Resumo

Este estudo objetiva discutir possíveis incidências e vicissitudes do traumático, considerando a pandemia covid-19, a partir das narrativas de adolescentes participantes do Projeto Jovem Aprendiz, em uma pesquisa-intervenção de caráter psicanalítico, com 26 adolescentes separados em dois grupos, entrevistados em quatro encontros. As narrativas evidenciaram um encurtamento de experiências, achatamento do tempo psíquico e dificuldade de elaboração, culminando em sentimentos de paralisia e inibição, dificuldade de projetar futuro e perfazer a experiência adolescente. Os encontros foram tomados, pelos adolescentes, enquanto medida potencializadora de fala, pois engendraram uma oferta de escuta, com possibilidades de produção de saídas simbólicas da experiência imobilizante do trauma. Tomamos a escrita do Diário de Anne Frank como inspiração para pensarmos sobre a fala que se forma pela função de escuta e desejo relacionado ao ato analítico. Consideramos fundamental, no trabalho com adolescentes, produzir janelas de abertura e espaços de fala engendrados pelo desejo e oferta de escuta.

Palavras-chave:
adolescência; trauma emocional; pandemia covid-19; psicanálise

Abstract

This study aims to discuss possible incidences and vicissitudes of trauma, considering the COVID-19 pandemic, from the narratives of adolescents participating in the Young Apprentice Project, in a psychoanalytical research-intervention, with 26 adolescents separated into two groups, interviewed in four meetings. The narratives highlighted a shortening of experiences, a flattening of psychic time, and difficulties in elaboration, culminating in feelings of paralysis and inhibition, difficulty in projecting the future and making up the adolescent experience. The meetings were taken, by the adolescents, as a speech potentiating measure, since it engendered an offer of listening, with possibilities of producing symbolic outlets from the immobilizing experience of trauma. We took the writing of Anne Frank’s Diary as inspiration to think about the speech engendered by the listening function and the desire regarding the analytical act. We consider it essential, while working with adolescents, to produce opening windows and spaces of discussion engendered by the desire and the offer of listening.

Keywords:
adolescence; emotional trauma; COVID-19 pandemic; psychoanalysis

Resumen

Este estudio tiene como objetivo discutir las posibles incidencias y vicisitudes de lo traumático durante la pandemia de la covid-19 a partir de las narrativas de adolescentes participantes del Proyecto Joven Aprendiz; para ello, se realizó una investigación-intervención psicoanalítica, con la aplicación de entrevistas a 26 adolescentes separados en dos grupos durante cuatro encuentros. Los relatos evidenciaron un acortamiento de las vivencias, aplanamiento del tiempo psíquico y dificultad en la elaboración, culminando en sentimientos de parálisis e inhibición, dificultad para proyectar el futuro y completar la experiencia adolescente. Los encuentros fueron considerados por los adolescentes como una medida potenciadora del habla, puesto que permiten la escucha, con posibilidades de producir salidas simbólicas de la experiencia inmovilizadora del trauma. Se tomó como inspiración el Diario de Anne Frank para pensar el discurso que se crea desde la función de escucha y el deseo relacionado con el acto analítico. Es fundamental, en el trabajo con adolescentes, generar espacios de apertura y de discurso basados en el deseo y la oferta de escucha.

Palabras clave:
adolescencia; trauma emocional, pandemia de la covid-19, psicoanálisis

Résumé

Cette étude a pour objectif de discuter de possibles incidences et vicissitudes du traumatique, en considérant la pandémie de covid-19, à partir des narrations d’adolescents participants au Projet Jeune Apprenti, dans une recherche-intervention de caractère psychanalytique, avec 26 adolescents répartis en deux groupes, interviewées dans quatre rencontres. Les narrations ont mis en évidence un raccourcissement d’expériences, un aplatissement du temps psychique et une difficulté d’élaboration, culminant en sentiments de paralysie et d’inhibition, en une difficulté de projeter l’avenir et de parfaire l’expérience adolescente. Les rencontres ont été prises, par les adolescents, en tant que mesure potentialisatrice de parole, car elles ont engendré une offre d’écoute, avec des possibilités de production d’issues symboliques de l’expérience immobilisante du trauma. Nous avons pris l’écriture du Journal d’Anne Frank comme inspiration pour penser sur la parole engendrée par la fonction d’écoute et de désir relationné à l’acte analytique. Nous considérons comme fondamental, dans le travail avec des adolescents, de produire des fenêtres d’ouvertures et des espaces de parole engendrés par le désir et l’offre d’écoute.

Mots-clés:
adolescence; trauma émotionnel; pandémie covid-19; psychanalyse

Adolescência e confinamento: uma introdução

Este artigo é oriundo de uma pesquisa de mestrado realizada durante a pandemia covid-19 com adolescentes integrantes do Projeto Jovem Aprendiz, e buscou compreender as especificidades e nuances do trabalho psíquico adolescente nesse período pandêmico. Para a construção desta pesquisa, tomamos como inspiração a narrativa de uma adolescente judia que, por meio de seu diário, ofereceu referências acerca dos dramas e angústias de uma jovem em confinamento. Suas questões nos revelaram, de certa forma, algumas semelhanças em relação à adolescência e às incidências e vicissitudes do traumático no atravessamento da pandemia, conforme discutiremos.

Anne Frank (1947/2020Frank, A. (2020). O diário de Anne Frank: edição integral. Rio de Janeiro, RJ: Record. (Trabalho original publicado em 1947)) permaneceu cerca de dois anos confinada, diariamente temendo a morte e, como se não bastasse sentir-se assombrada por essas questões, sentia medo de prejudicar seu desempenho escolar e seu futuro, caso não conseguisse se dedicar aos estudos e tarefas necessários. Em diversos momentos, Anne reclamou o lugar simbólico ocupado por ela em um tempo anterior ao confinamento, desejando, acima de tudo, voltar a ser uma menina normal, sentir-se livre e ter seus sentimentos compreendidos e acolhidos:

Acredite, se você ficasse trancada um ano e meio, acabaria achando demais. Mas os sentimentos não podem ser ignorados, não importa que pareçam injustos ou ingratos. Gostaria de andar de bicicleta, dançar, assoviar, olhar o mundo, me sentir jovem e saber que sou livre, mas não posso deixar isso transparecer . . . . Às vezes me pergunto se alguém algum dia entenderá o que estou dizendo, se alguém deixaria de lado a minha ingratidão e não se importaria se sou judia, e apenas me visse como uma adolescente que precisa demais de uma simples diversão (Frank, 1947/2020Frank, A. (2020). O diário de Anne Frank: edição integral. Rio de Janeiro, RJ: Record. (Trabalho original publicado em 1947), p. 16).

O anseio de Anne pela saída do confinamento e o desejo de se sentir jovem serão tomados, aqui, em seu sentido metafórico, simbolizando o desejo pela saída da infância, que também pode ser vista como uma espécie de confinamento, para lançar-se na adolescência, realizando a travessia para a vida adulta. O termo “adolescência”, em nosso estudo, situa-se no campo da psicanálise, tratando-se de uma operação psíquica e de “um tempo subjetivo crítico, lento e difícil” (Backes, 2016Backes, C. (2016). O que consome o adolescente? Porto Alegre, RS: UFRGS., p. 9), que lega ao sujeito uma “experiência de borda, de travessia e passagem” (Mügge, Dos Santos & Oliveira-Menegotto, 2021Mügge, E., Santos, C. B., & Oliveira-Menegotto, L. M. (2021). Introdução. In E. Mügge, C. B. Santos, L. M. Oliveira-Menegotto, Adolescências: tecituras contemporâneas entre literatura e psicanálise (pp. 13-19). São Leopoldo, RS: Oikos., p. 15). Nesse sentido, conforme Rassial (1999Rassial, J. J. (1999). O adolescente e o psicanalista. Rio de Janeiro, RS: Companhia de Freud.), a adolescência, enquanto operação psíquica, convoca importantes transformações na ordem do Real, do Simbólico e do Imaginário.

O Real, posto na adolescência, não se refere somente ao da puberdade, mas ao da encarnação imaginária do Outro - os pais -, o que exigirá, do adolescente, um trabalho de recomposição de sua imagem e de deslocamento de posições, acionando, respectivamente, os campos do Imaginário e do Simbólico. A partir das mudanças corporais advindas da puberdade, que causam uma perturbação no sujeito ao não se reconhecer mais em seu próprio corpo, o Real provoca o início do trabalho adolescente. Desde um luto de sua posição, o sujeito se sentirá demandado a reconstruir sua imagem, um trabalho que o levará a assumir uma imagem sexuada, diferente da imagem infantil construída no Estádio do Espelho. O acesso à genitalidade, a partir dessa imagem sexuada, confronta-se à promessa implícita feita ao adolescente na decomposição do Complexo de Édipo, a saber, de no futuro recuperar o gozo com o Outro. Compreende, assim, que o gozo sexual é somente parcial e adquire um outro olhar sobre os pais, que caem de sua posição ideal ao serem percebidos como semelhantes, ou seja, castrados e mortais. Especificamente acerca do Imaginário, o adolescente precisará realizar um trabalho psíquico de construção de novas referências imaginárias, recompondo uma imagem para identificar-se. Disto, suscita-se uma reedição do Estádio do Espelho, com a convocação, por parte do adolescente, de um outro que confirme sua identificação a uma imagem. Esse outro porta, na reedição, um estatuto diferente, ao se tratar de um semelhante, provocador de desejo desde sua posição de objeto, assumindo o lugar dos pais enquanto referentes últimos da palavra. Nessa perspectiva, com os ideais onipotentes da infância desmoronando, bem como a necessidade de reconstituir suportes imaginários na reconstrução da imagem adolescente, o Simbólico vem se interpor, sendo solicitado a amparar a travessia entre a criança e o adulto, o privado e o público, entre a saída de casa e a entrada no campo das relações sexuais amorosas e das identificações coletivas, os ideais encarnados nos pais e os ideais presentes na cultura (Rassial, 1999Rassial, J. J. (1999). O adolescente e o psicanalista. Rio de Janeiro, RS: Companhia de Freud.).

Na mediação entre tais travessias, o relacionamento com os pares pode mostrar-se fundamental, ao fornecer lugar para a elaboração das questões adolescentes e para o compartilhamento de novas experiências, ambas relacionadas ao exercício do laço social. Esse lugar se refere não somente a uma instância desde a qual operam-se efeitos sobre quem se é, a partir da possibilidade de identificações e estranhamentos, como também ao espaço físico, território e palco de novas experiências, primeiros contatos corporais e suas consequentes descobertas (Coutinho, 2009Coutinho, L. G. (2009). Adolescência e errância: destinos do laço social no contemporâneo. Rio de Janeiro, RJ: NAU; FAPERJ.; Mügge et al., 2021Mügge, E., Santos, C. B., & Oliveira-Menegotto, L. M. (2021). Introdução. In E. Mügge, C. B. Santos, L. M. Oliveira-Menegotto, Adolescências: tecituras contemporâneas entre literatura e psicanálise (pp. 13-19). São Leopoldo, RS: Oikos.).

Ao considerarmos essas questões à luz dos atuais acontecimentos relacionados à pandemia covid-19, questionamo-nos sobre os impasses sentidos por adolescentes, em especial alunos de Ensino Médio. Esses sujeitos, em particular, foram privados de sua rotina, liberdade, convívio social e rituais de passagem em um momento da vida em que o território e a presença do outro são essenciais para franquear o trabalho psíquico exigido do adolescente. Isso ocorreu uma vez que se adotaram, como estratégia de enfrentamento, desde distanciamentos, isolamentos até confinamentos sociais, a fim de restringir a circulação e movimentação de pessoas. Após a suspensão do regime presencial de ensino, as tarefas foram planejadas à distância e as aulas foram realizadas na modalidade on-line, situação que atingiu cerca de 300 mil estudantes de ensino médio a nível estadual, no Rio Grande do Sul, e cerca de sete milhões em âmbito nacional (QEdu, 2021QEdu. (2021). Rio Grande do Sul. Censo Escolar. Recuperado de https://www.qedu.org.br/estado/121-rio-grande-do-sul/censo-escolar
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).

Como efeito do mal-estar decorrente da suspensão dos encontros presenciais com os pares e da livre circulação em espaços públicos, bem como do hiper convívio familiar e a resultante falta de espaço em casa, há um outro mal-estar que surge como efeito, como sentimentos de estresse, medo, luto, frustração, tédio, sobrecarga de atividades e repercussões financeiras, entre outros. Ainda, as inúmeras imposições, privações e perdas decorrentes dessa catástrofe com proporções globais causaram forte impacto psicológico nos adolescentes, carregando em si um potencial traumático ao gerar alterações permanentes nas forma de vida, acarretando sofrimento físico e psíquico não somente nesses sujeitos, mas em bilhões de vítimas, de forma a legar ao mundo um contexto análogo ao de uma barbárie e uma vivência de choque.

Quanto ao trauma, Zavaroni e Viana (2015Zavaroni, D. M. L., & Viana, T. C. (2015). Trauma e infância: considerações sobre a vivência de situações potencialmente traumáticas. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 31(3), 331-338. doi: 10.1590/0102-37722015032273331338
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) o compreendem enquanto uma ou mais vivências compostas de circunstâncias impactantes, geradoras de pesar, que colocam o sujeito de encontro a perdas importantes, exigindo ou desencadeando rearranjos vivenciais significativos e impondo um trabalho psíquico intenso. Nesse sentido, o que marca o caráter traumático de uma situação é o excesso pulsional a que o sujeito fica submetido, atordoando-o e alojando-se em sua vida “enquistado como um corpo estranho, sem sentido e sem elaboração” (Mees, 2001Mees, L. A. (2001). Abuso sexual: trauma infantil e fantasias femininas. Porto Alegre, RS: Artes e Ofícios., p. 11). Interdita-se, por conta do trauma, não apenas as palavras, mas a possibilidade de ambiguidade, de múltiplos sentidos. O que resta, após vivências traumáticas, são palavras enclausuradas, desprovidas de polissemia, representações proibidas de fantasmatização (Coutinho, 2009Coutinho, L. G. (2009). Adolescência e errância: destinos do laço social no contemporâneo. Rio de Janeiro, RJ: NAU; FAPERJ.; Favero, 2009Favero, A. (2009). A noção de trauma em psicanálise (Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro). Recuperado de https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/13362/13362_1.PDF
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).

Nesse sentido, podemos compreender que o encontro com o Real desperta efeitos de desorganização das coordenadas simbólicas do sujeito, mas, também, de reorganização. Dessa forma, sob determinadas circunstâncias fantasmáticas, o trauma possibilita função terapêutica, já que exige um processo de reorganização psíquica ao introduzir uma descontinuidade na narrativa da história do sujeito (Dunker, 2006Dunker, C. I. L. (2006). A função terapêutica do real: trauma, ato e fantasia. Pulsional Revista de Psicanálise, 19(186), 15-24. Recuperado de https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/psi-34229
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). Pode ser compreendido, dessa forma, como uma questão que permanece em aberto, aguardando a resposta que cada um dará conforme os meios que dispõe (Favero, 2009Favero, A. (2009). A noção de trauma em psicanálise (Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro). Recuperado de https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/13362/13362_1.PDF
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; Lejarraga, 1996Lejarraga, A. L. (1996). O trauma e seus destinos. Rio de Janeiro, RJ: Revinter.).

Em nossa pesquisa, nos propomos a pensar nas possibilidades de produção a partir do encontro com o Real, ou seja, com o traumático e seus efeitos, de início, devastadores. A narrativa propicia a transposição do trauma à criação de um espaço de simbolização, de modo que, por meio da palavra, os sentidos podem deslizar na criação de outros destinos para o Real da situação traumática, produzindo elementos que lancem o sujeito para uma outra sequência. Ao narrar os acontecimentos e vivências de sua história, o sujeito amplia as condições de construção de uma outra versão de si, suscitando, a essas vivências, novos significados. É justamente nesse deslizamento de sentidos, produzido via testemunho narrativo, que as vivências traumáticas ganham a possibilidade de se decantarem por experiências. Os elementos narrativos de linearidade, repetição e metáfora trabalham fornecendo nova dimensão aos fatos. Em contraponto a uma cena achatada, unidimensional, decorrente do choque traumático, a simbolização possibilita uma cena tridimensional, o que corresponde à saída da posição de sobrevivência para a reconstrução de um espaço de vida (Piralian, 2000Piralian, H. (2000). Genocidio y transmisión. México: Fondo de Cultura.). Ao narrar e testemunhar, o sujeito se lança em uma travessia repleta de percalços e, como efeito, apostamos na transformação do trauma em motor de criação.

A partir dessas compreensões, este artigo propõe-se discutir as possíveis incidências e vicissitudes do traumático, a partir das narrativas de adolescentes participantes do Projeto Jovem Aprendiz. Esse objetivo reflete uma análise surgida a posteriori, coerente aos pressupostos da pesquisa em psicanálise, oriunda da análise dos dados e dos “efeitos de leitura” da primeira autora, depurados e calcados em uma experiência que se desenvolveu a partir da transferência estabelecida entre ela e participantes.

A escuta flânerie e a poética da extração: caminhos metodológicos

Este estudo compõe uma dissertação de mestrado que se debruçou sobre o trabalho adolescente em meio à pandemia, sendo uma pesquisa-intervenção de caráter psicanalítico. A pesquisa que originou este estudo foi aprovada no Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), da Universidade Feevale, sob o número CAAE 44770221.1.0000.5348, com a participação de 26 adolescentes integrantes do Projeto de Extensão Jovem Aprendiz, vinculado à Universidade Feevale. Deles, 19 são do sexo feminino e sete do sexo masculino, entre 16 e 17 anos, residentes no Vale dos Sinos, tendo cursado o Ensino Médio durante a pandemia, nos anos de 2020 e 2021, e cumprido as normas de suspensão do regime presencial.

Para a realização desta pesquisa utilizamos o instrumento “espaço de fala livre e implicada”, nomeado a partir de sua inspiração na escuta flânerie (Gurski, 2019Gurski, R. (2019). A escuta-flânerie como efeito ético-metodológico do encontro entre Psicanálise e socioeducação. Tempo Psicanalítico, 51(2), 166-194. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-48382019000200009
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), uma metodologia de pesquisa, escuta e intervenção calcada na ética da escuta psicanalítica articulada às temáticas da experiência e do flâneur em Walter Benjamin (1933/2019Benjamin, W. (2019). Experiência e pobreza. In W. Benjamin, O anjo da história (pp. 83-90). Belo Horizonte, MG: Autêntica. (Trabalho original publicado em 1933), 1934-1939/2019Benjamin, W. (2019). A Paris do Segundo Império na obra de Baudelaire. In W. Benjamin, Baudelaire e a modernidade (pp. 37-69). Belo Horizonte, MG: Autêntica. (Trabalho original publicado em 1934-1939)). A escolha dessa metodologia como inspiração para o nosso instrumento ocorreu a partir da posição que demanda do pesquisador, a saber, de atuar na polissemia das palavras e sentidos, de modo a operar na circulação e no compartilhamento de experiências (Gurski, 2019Gurski, R. (2019). A escuta-flânerie como efeito ético-metodológico do encontro entre Psicanálise e socioeducação. Tempo Psicanalítico, 51(2), 166-194. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-48382019000200009
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).

Utilizaram-se um formulário on-line, disponibilizado via Google Forms a fim de reunir informações iniciais a respeito dos jovens, e rodas de conversa on-line, ocorridas em uma sala virtual do BlackBoard Learn, plataforma oficial da Universidade, já utilizada pelo Projeto, conferindo maior fluidez ao processo. As rodas de conversa contaram com eixos temáticos norteadores para possibilitar que os adolescentes falassem de si, da sua experiência de atravessamento da pandemia covid-19 e os impasses e efeitos sentidos nesse período. Por ser uma pesquisa-intervenção, o nosso objetivo, a partir deste instrumento, foi criar um lugar propício para a simbolização, de forma que os adolescentes, ao narrarem os acontecimentos e vivências de sua história, produzissem um deslizamento de sentidos e construíssem novos e outros significantes. Dessa forma, apostamos na ampliação das condições de construção de uma nova versão de si e na promoção de ancoragens e representações simbólicas e metafóricas para as incidências e vicissitudes do traumático.

Com o intuito de tecer registros acerca das falas ditas pela via oral, anotadas durante os encontros, e das falas escritas via chat da plataforma, além de anotações livres sobre nossas impressões, sensações, percepções e reverberações, adotamos o diário de experiência (Gurski & Strzykalski, 2018Gurski, R., & Strzykalski, S. (2018). A escuta psicanalítica de adolescentes em conflito com a lei: que ética pode sustentar esta intervenção? Tempo Psicanalítico, 50(1), 72-98. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0101-48382018000100005&lng=pt&nrm=iso
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), uma metodologia de registro dos processos de pesquisa. Esta também recebe, em sua formulação, influência do pensamento benjaminiano, mais especificamente acerca da figura do flâneur, de modo que, sustentadas no ato de flanar por entre os fragmentos recolhidos e os restos resgatados da vivência desta pesquisa, realizamos um trabalho artesanal de tecitura das questões acerca dos arranjos singulares e dos conteúdos transferenciais. Criamos, dessa forma, a possibilidade de que tais vivências se decantassem em experiência. A fim de preservar a identidade dos jovens, utilizamos somente a inicial de seus nomes para situar a autoria das narrativas que serão apresentadas nas seções de Discussão e Resultados.

A partir do contato com o Projeto de Extensão e demais organizações, a primeira autora participou de uma das oficinas do projeto, realizada na plataforma já mencionada, para apresentar a pesquisa e convidar os adolescentes a participar dela. Encaminhou-se, nesse encontro, o link do formulário on-line, com a Apresentação da Pesquisa, os Termos de Consentimento e de Assentimento Livre e Esclarecido, assinados, respectivamente, pelos responsáveis e pelos jovens, e as questões iniciais referidas no instrumento “espaço de fala livre e implicada”. Dos 29 adolescentes que integravam o Projeto, 26 aceitaram o convite para participar da pesquisa, de modo a organizarmos dois grupos de 13 participantes cada, distribuindo-os por ordem alfabética, com o intuito de formarmos rodas mais intimistas e com maior possibilidade de circulação da palavra. Somaram-se quatro rodas de conversa, de uma hora cada, para cada grupo, ocorridas semanalmente durante um mês, todas as sextas-feiras à tarde em horário letivo. Nesses encontros virtuais, a primeira autora beneficiou-se do auxílio de duas voluntárias de iniciação científica vinculadas ao curso de psicologia da Universidade, responsáveis pelos registros no diário de experiência.

O registro de todos os processos da pesquisa, realizado no diário, foi analisado por meio da poética da extração (Dos Santos, 2018Santos, C. B. (2018). Poética da extração, literatura e psicanálise: o (des) fazer a forma, o estilo e a transmissão do impossível (Tese de doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre). Recuperado de https://lume.ufrgs.br/handle/10183/193740
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), uma metodologia de análise que relaciona o processo de cortar para ler e a arte da escuta em psicanálise, de modo a resistir às produções em massa e conferir visibilidade poética ao fazer artesanal e singular da escuta psicanalítica. Trata-se de um processo de desmontagem da narrativa em que, de um detalhe, recortado, de uma poética da extração, algo único, novo e singular pode surgir. Alude, nesse sentido, ao processo de extração significante do e no campo do outro/Outro que o bebê necessita fazer para constituir-se sujeito, produzindo, assim, sua própria cadeia significante. O pesquisador, calcado na transferência e com uma escuta atenta e flutuante, produz cortes e extrações a partir daquilo que o toca, isto é, seus efeitos de leitura. Esse corte/extração na narrativa do sujeito possibilita que surja, sobre a base das mesmas palavras, um novo jogo significante que carrega, em si, potencial para tecer novas e outras histórias.

Do trauma à trama: discussão dos resultados

O título desta discussão aponta a possibilidade de se produzir trama com os fios isolados do trauma, a partir das tecituras produzidas pelas narrativas compartilhadas de adolescentes, questão fundamental que se apresenta em relação à pandemia covid-19 pela necessidade de rearranjos e costuras vivenciais significativas - e coletivas, em contraponto às privações sociais - que os mantiveram separados/isolados. Essa trama, referida no título, carrega potencial de construção de uma (re)existência, à medida que os adolescentes a teceram em conjunto, a partir das narrativas compartilhadas, produtoras de identificação. Nesse sentido, o objetivo central deste estudo foi desdobrado, no intuito de pensar a potencialidade do lugar de fala/escrita, engendrado pela oferta de escuta, de produzir uma saída simbólica da experiência imobilizante do trauma, transpondo-a em tramas narrativas.

A adolescência, enquanto operação psíquica, é motor de angústia ao implicar o não caber em um corpo, a sustentação de um não lugar (já que não se é mais criança e ainda não se fez adulto) e o esforço de deslocar-se de uma morada conhecida para posicionar-se em outro/noutro lugar, ainda estranho ao sujeito adolescente. A imediatez e a intensa vida social desses sujeitos conferem movimento e intensidade às suas vidas, encobrindo uma paralisia de outra ordem, um amortecimento, a saber, àquele causado pela angústia característica desse tempo (psíquico) (Backes, 2021Backes, C. (2021). Quem lê o adolescente? In E. Mügge, C. Dos Santos, L. Oliveira-Menegotto (Orgs.), Adolescências: tecituras contemporâneas entre literatura e psicanálise (pp. 21-42). São Leopoldo, RS: Oikos.; Mügge et al., 2021Mügge, E., Santos, C. B., & Oliveira-Menegotto, L. M. (2021). Introdução. In E. Mügge, C. B. Santos, L. M. Oliveira-Menegotto, Adolescências: tecituras contemporâneas entre literatura e psicanálise (pp. 13-19). São Leopoldo, RS: Oikos.). Esse deslocamento/travessia ocorrerá amparado nas relações com os pares, em que o adolescente construirá e criará suas bordas, a partir do e no contato com o (corpo do) outro. O relacionamento com os pares, nessa perspectiva, ilustrados na intensa vida social, com festas ininterruptas, e na escola enquanto substituta da família, representa um recurso importante para lidar com essa angústia, oferecendo-se enquanto lugar e esteio externo em um momento de vacilação das identificações (Coutinho, 2009Coutinho, L. G. (2009). Adolescência e errância: destinos do laço social no contemporâneo. Rio de Janeiro, RJ: NAU; FAPERJ.).

Contudo, em função da pandemia, os adolescentes foram barrados justamente desses contatos presenciais (de corpo). Quais foram os efeitos, prejuízos ou outras formas de engate em enlace gerados a partir da condição de isolamento social, fora das festas e da escola? Se antes os adolescentes faziam uso do intenso contato com os outros para encobrir essa paralisia/amortecimento, o que se produz com o rompimento/corte do contato presencial? Há uma intensa vida social, no virtual? O corpo está sendo usado para quê, já que circula mais nesses espaços? Esses questionamentos norteiam nossa discussão e análise, apontando-nos um caminho para pensar de que forma esse cenário pandêmico afeta o sujeito adolescente.

Em situações favoráveis, a paralisia comum à adolescência, efeito da angústia, estaria encoberta pelo convívio social (de corpo), de modo a encontrar amparo nos pares para a construção de sua travessia adolescente. Contudo, em função dos impedimentos decorrentes da pandemia, essa paralisia parece assumir outra faceta e intensidade, por não estar mais encoberta e, assim, propomos pensá-la desde uma posição traumática, dados o encurtamento da experiência, o achatamento do tempo psíquico e a dificuldade de elaboração e de construção de algo novo, que percebemos nos adolescentes. Essa posição é introduzida por R., uma adolescente de 17 anos que, saindo do Ensino Médio direto para a reclusão de estudar para o vestibular, fala sobre um tempo de experiências fundamentais que foi encurtado pela pandemia:

Não aproveitamos nossa adolescência porque quando pudemos começar a sair veio a pandemia. Tivemos que ficar em casa. Meus amigos sumiram, geral se afastou. Literalmente se fechou de uma forma inexplicável. Ao invés de sair vou ter que usar meu tempo livre para estudar para entrar na faculdade.

Tais experiências são nomeadas enquanto fundamentais por serem “um ato de corte que produz um intervalo, uma diferença” (Mello, 2004Mello, E. (2004). O espaço público na passagem adolescente. In Associação Psicanalítica de Porto Alegre (Org.), Adolescência: um problema de fronteiras (pp. 57-69). Porto Alegre: Appoa., p. 61), operando uma transformação que não se refere à simples mudança de posição, quando feita, mas, sobretudo, à construção, delicada, de uma travessia. Em sua fala, as palavras “sair” e “entrar” saltam em nossa escuta e são lidas com valor de significante, pois remetem ao trabalho psíquico adolescente e à travessia e passagem necessárias para que se operem as saídas (da cena familiar e da posição infantil) e as entradas (na cena social e na vida adulta) fundamentais dessa operação. Em função da pandemia, percebemos uma experiência condensada, um achatamento do tempo psíquico necessário para que se opere essa travessia, visto que não parece haver um intervalo entre saída e entrada, crucial para que emerja um tempo de compreender. Dessa forma, com o tempo de compreender suprimido, há “uma passagem, praticamente direta, do instante de ver até o momento de concluir, o que, na perspectiva lacaniana do tempo lógico, inviabiliza qualquer elaboração através da experiência” (Mügge et al., 2021Mügge, E., Santos, C. B., & Oliveira-Menegotto, L. M. (2021). Introdução. In E. Mügge, C. B. Santos, L. M. Oliveira-Menegotto, Adolescências: tecituras contemporâneas entre literatura e psicanálise (pp. 13-19). São Leopoldo, RS: Oikos., p. 15). Essa questão foi também levantada por V., um adolescente de 16 anos:

Há dois anos estávamos correndo na rua brincando, e hoje estamos tendo que nos preocupar com tudo. Eu acho que todos os jovens estão sendo adultos, estamos tendo que nos preocupar muito com tudo. A gente está tendo que virar adulto nessa pandemia, no meu ver. Eu só queria me divertir o quanto pudesse, mas não deu para fazer nada, tudo fechou e agora já cresci.

O encurtamento de experiências fundamentais, como efeito, produz uma espécie de “fechamento” do campo simbólico, remetendo à palavra utilizada por ambos os adolescentes, não havendo lugar para a construção de algo novo e, nessa situação, o adolescente se vê imobilizado e paralisado por um discurso sem brechas para suspensões. Ainda, sabemos que, na adolescência, é primordial a construção de um ideal de Eu, para que seja possível construir um futuro. O adolescente, nesse sentido, necessitará contar com um mecanismo fundamental, a saber, a capacidade de sublimar e direcionar energia para outros territórios, pois precisará orientar sua libido tanto para o campo das escolhas afetivas quanto para decisões intelectuais e profissionais, de forma a facilitar o desligamento dos objetos infantis (Backes, 2021Backes, C. (2021). Quem lê o adolescente? In E. Mügge, C. Dos Santos, L. Oliveira-Menegotto (Orgs.), Adolescências: tecituras contemporâneas entre literatura e psicanálise (pp. 21-42). São Leopoldo, RS: Oikos.). Contudo, devido à pandemia, a circulação no mundo externo foi barrada e os destinos externos para sublimação se limitaram, o que nos remete a outra fala de R., que comenta ter engordado 20 kg durante esse período, por conta da angústia sentida. Relacionamos esse ganho de peso a uma voracidade oral pelo fato de, por conta do isolamento, os adolescentes estarem impedidos de dar outro direcionamento para o pulsional do corpo. Percebemos, nesse recorte, que há algo que se perde, que fica à deriva quando o testemunho é frágil, dada a presença de um discurso sem brechas para suspensões e, nesse sentido, a paralisia esteve fortemente presente em diversos discursos sobre a dificuldade de se comunicarem sem os espaços presenciais. Os adolescentes não se contatam, não se acionam. Estão paralisados - e sozinhos em sua paralisia, que é coletiva.

Essa imobilização/paralisação pode impedir que o adolescente lance sua vida para o futuro, pela construção dessa travessia e de uma vida que lhe seja própria (Backes, 2021Backes, C. (2021). Quem lê o adolescente? In E. Mügge, C. Dos Santos, L. Oliveira-Menegotto (Orgs.), Adolescências: tecituras contemporâneas entre literatura e psicanálise (pp. 21-42). São Leopoldo, RS: Oikos.). A fala de JN., uma adolescente de 16 anos, ilustra bem essa posição de paralisação atravessada pela pandemia: “me dá uma ansiedade ver os dias se passando, a minha adolescência passando e não podendo viver e aproveitar como todos dizem que devia ser . . . eu vejo os dias passando e nada mudando”. A partir dessa paralisação, opera-se uma economia da angústia, evitando o sofrimento decorrente do trabalho de elaboração, por meio da experiência, que a perda da posição infantil implica (Backes, 2021Backes, C. (2021). Quem lê o adolescente? In E. Mügge, C. Dos Santos, L. Oliveira-Menegotto (Orgs.), Adolescências: tecituras contemporâneas entre literatura e psicanálise (pp. 21-42). São Leopoldo, RS: Oikos.). Nesse sentido, percebemos na fala de J., uma adolescente de 17 anos, certa tendência à manutenção dessa posição infantil. Tal questão nos remete ao desejo de retornar para o útero materno, simbolizando o conhecido e o protegido:

Acho que a necessidade de ficar me isolando por muito tempo agora fez virar costume só conviver com determinadas pessoas. E eu, hoje em dia, prefiro muito mais ficar em casa do que sair, fico desconfortável em ir para outros lugares e com muita gente.

A evitação de contato e daquilo que produz estranhamentos, motivada pelo desconforto sentido, é tomada, durante a pandemia, enquanto estratégia de sobrevivência, pois há algo do real que se coloca, a saber, o vírus. Contudo, essa evitação também resiste, enquanto estratégia “pseudotranquilizadora” (Backes, 2021Backes, C. (2021). Quem lê o adolescente? In E. Mügge, C. Dos Santos, L. Oliveira-Menegotto (Orgs.), Adolescências: tecituras contemporâneas entre literatura e psicanálise (pp. 21-42). São Leopoldo, RS: Oikos.), ao operar na economia da angústia, uma vez que gerimos a vida “pela inibição do pensar e a procrastinação do agir” (Sousa, 2004, p. 52). Percebemos, nesses adolescentes, intensa inibição e uma capacidade desejante um tanto fragilizada, ilustrada pela fala de K., uma adolescente de 17 anos:

Não lembro o que eu fazia antes da pandemia, porque já faz muito tempo. A pandemia mudou muito em mim. Eu mudei muito em mim. Fiquei mais caseira. Não gosto mais de lugar cheio de gente, de espaço lotado, eu fico nervosa com a higiene, com a desorganização, o barulho. Traumatizou um pouquinho. Parece que eu não gosto mais de um ambiente cheio de gente. A desordem, muita gente. Sem paciência com o tumulto. Antes eu ia em festas, mas não sei se hoje eu gostaria de ir em festas. Saudade de sair e estar com os amigos dá, mas só de pensar que ia ter bastante gente e bebida derramando. . . sei lá. Acho ruim também não poder ter uma relação nova com os professores, porque a gente só se encontra assim.

Os adolescentes, ainda, relataram dificuldades quanto à perspectiva de futuro que, em partes, é comum à adolescência, dado o desafio de construir essa travessia/passagem e uma vida que lhe seja própria. Contudo, há algo, na cena pandêmica, que se intensifica como efeito de suas milhões de vítimas, o que nomeamos, neste estudo, de uma “sombra da morte” que recai sobre os adolescentes e torna particularmente difícil essa construção. No encontro que seguiu por essa temática, essa sombra ecoava, inicialmente, enquanto uma sensação acompanhada do silêncio por parte dos adolescentes, até que F., de 17 anos, abriu a câmera usando uma máscara e não verbalizou nada. A partir desse ato, C., de 16 anos, se pôs a falar:

No início era um medo horroroso, mas metade do ano passado quando eu vi que meu pai quase morreu por causa disso, perdeu 10kg porque nem conseguia levantar da cama, parece que o medo dobrou principalmente em relação à minha família. Eu tive dor nos olhos, de cabeça, não sentia cheiro nem gosto e bastante dor no corpo. O pior era a dor de cabeça, que só de levantar eu ficava tonta. O que rolou que vocês estão quietos hoje?

Após a narrativa que finaliza com uma provocação e, em nossa leitura, um pedido para que os pares falassem e compartilhassem, os demais começaram a expor suas vivências de perdas e lutos. Foram diversas e sofridas de escutar. Quase insuportáveis, se não fosse o movimento, por parte dos adolescentes, de acolhimento e mensagens de apoio e afeto. J, um adolescente de 16 anos, comenta:

Ficamos mal de ouvir. O vizinho aqui faleceu e deixou um filho de quatro anos e a mulher. Minha mãe me buscou no trabalho naquele dia e me contou rezando e chorando. Quase não acreditei. Os amigos do trabalho dela também pegaram e um morreu. Vamos perdendo a conta, eu perdi a conta de quantas pessoas eu perdi. Um tio da minha mãe, uma tia minha, tem mais, mas não estou lembrando. A minha tia era a que eu mais convivia, adorava ela, ela era mais velha. Me ajudava demais. Ela era musicista, os instrumentos que eu tenho, a maioria eu toco porque ela me ensinava. Pensa numa velha corajosa. Uma vez tentaram assaltar ela e ela reagiu:não vou te dar minha bolsae o bandido foi embora. Essas mortes eu lidei, mas saber da minha mãe me abalou demais. Ela é mais sedentária, tem obesidade e diabetes, problema cardiovascular. Foi bem preocupante, fiquei bem assustado quando ela veio chorando com um pano na cara, ficou trancada no quarto, dávamos comida pela janela. Tive que seguir trabalhando. Meu pai dormia na sala. Eu tinha trabalho e aula e não tinha como dar atenção. Quando alguém pega covid temos que aguardar, não tem o que fazer, só atender todos os pedidos porque nunca se sabe quando pode ser o último. Foi bem pesado para nós, meus irmãos não entendiam por que não podiam ver ela.

Percebemos, na fala de J., que além do luto da posição infantil, ilustrada na relação com a tia, característica do trabalho adolescente, há um outro trabalho de luto que precisará ocorrer, relacionado à “sombra da morte” de todas essas pessoas. Tal trabalho, de simbolização e elaboração, demanda certo tempo e abarca algum pesar, sendo um percurso em que os objetos de amor são desinvestidos e o sujeito encontra novos substitutos, elaborando fantasias relacionadas à perda de objeto (Campos, 2013Campos, E. B. V. (2013). Considerações sobre a morte e o luto na psicanálise. Revista de Psicologia da UNESP, 12(1), 13-24. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-90442013000100003&lng=pt&tlng=pt
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). Ainda em relação às perdas, T., uma adolescente de 17 anos, fala das suas e produz uma associação com a escola, em que observamos a sombra da morte recaindo sobre a instituição.

Perdi meu professor de química, o marido da minha avó e meu tio. O meu avô não teve funeral nem nada. No do meu tio, ver a família toda de novo, assistindo ele no caixão, foi bem difícil, e em relação à escola eu tenho bastante crise de ansiedade.

A instituição escolar foi citada constantemente pelos adolescentes, com referência a uma sobrecarga de responsabilidades e um não olhar, tendo como efeito uma falta de compreensão e de amparo para as questões enfrentadas por eles. M., de 16 anos, comenta:

É todo aquele desespero adolescente entreeu preciso viver minha vida, preciso ter minhas experiências, essa fase nunca mais vai voltaremeu deus, eu preciso pôr tudo em dia, preciso ter todo o controle. É meio sufocante, parece que a gente com 16 anos tem que saber fazer tudo da vida. Tipo????? A gente está passando pela fase mais confusa da nossa vida, onde os nossos hormônios estão à flor da pele, e ninguém se importa se a gente está bem ou se está surtando.

Os adolescentes relataram, ainda, um certo cansaço da internet e do virtual, pelo fato de os utilizarem para os estudos, além de dificuldades com o hiper convívio familiar. Percebemos, em suas falas, a invasão, por parte dos adultos, de um espaço (físico) e de um universo (virtual) que, em um tempo anterior à pandemia, eram considerados subversivos e particulares/privados do adolescente. Tal invasão ocorre, pois, permanecer no virtual, encerrado no quarto, é o que o Outro demanda. Anterior à pandemia, os espaços eram mais delimitados, havendo a escola, como espaço de estudo, enquanto os celulares/computadores, o quarto de casa e os pontos de encontro resguardavam a vida privada, do qual os adultos estavam excluídos. Essa delimitação se faz necessária, na adolescência, pois simboliza a construção de uma “parede imaginária” que produz separação e, assim, é tomada como um ensaio para essa partida difícil e trabalhosa, que implica tantos desprendimentos (Cabistani, 2004Cabistani, R. M. O. (2004). Deslocamentos do pai na adolescência. In Associação Psicanalítica de Porto Alegre (Org.), Adolescência: um problema de fronteiras (pp. 202-210). Porto Alegre, MG: Appoa., p. 206). Nesse sentido, nos interrogamos sobre que lugar resta a esses adolescentes, considerando as implicações da pandemia, questão que nos remonta à paralisação sentida por eles, dada a dificuldade de produção desses espaços de elaboração, simbolização e ensaio durante a pandemia.

Entre a escrita para ser lida e a fala engendrada pela escuta: a construção de um espaço de simbolização

A partir da leitura e análise das narrativas dos jovens aprendizes, a escrita do Diário, feita por Anne Frank, flutuou em nossas associações. Em meio à angústia - e, provavelmente, por conta dela -, Anne escreveu, narrou e testemunhou, inaugurando seu diário com expectativas: “espero poder contar tudo a você, como nunca pude contar a ninguém, e espero que você seja uma grande fonte de conforto e ajuda” (Frank, 1947/2020Frank, A. (2020). O diário de Anne Frank: edição integral. Rio de Janeiro, RJ: Record. (Trabalho original publicado em 1947), p. 11). Logo de início, o nomeia de Kitty, transformando seu diário em uma amiga, questão que nos remete à construção de uma espécie de um outro que se colocava disponível a lê-la. De fato, suas expectativas foram atingidas: escrever para Kitty ajudou Anne a atravessar o que havia de mais sombrio na perseguição dos judeus, questão que nos remete a uma escrita que se faz sobretudo para ser lida. Em nosso estudo, percebemos que os encontros operaram enquanto medida potencializadora de fala, engendrada pela oferta de escuta, de modo que, na presença de uma função que se colocasse a escutá-los/lê-los, os adolescentes puderam dizer de si.

Dessa forma, a posição ocupada pela primeira autora na transferência com esses jovens foi a de produzir um tempo de respiro, uma escansão da rigidez e rapidez externa, um tempo capaz de lançar “o sujeito a uma relação singular com a sua experiência” (Mügge et al., 2021Mügge, E., Santos, C. B., & Oliveira-Menegotto, L. M. (2021). Introdução. In E. Mügge, C. B. Santos, L. M. Oliveira-Menegotto, Adolescências: tecituras contemporâneas entre literatura e psicanálise (pp. 13-19). São Leopoldo, RS: Oikos., p. 15), provocando a elaboração por uma fala engendrada pela oferta de escuta. O ato narrativo, nesse sentido, propicia a transposição do trauma à criação de um espaço de simbolização, de modo que, por meio da palavra dita e compartilhada, os sentidos podem deslizar na criação de outros destinos para o real da situação traumática, produzindo elementos que lancem o sujeito para uma outra sequência e ampliem a “trama do universo simbólico necessário no trato consigo e com o outro” (Mügge et al., 2021Mügge, E., Santos, C. B., & Oliveira-Menegotto, L. M. (2021). Introdução. In E. Mügge, C. B. Santos, L. M. Oliveira-Menegotto, Adolescências: tecituras contemporâneas entre literatura e psicanálise (pp. 13-19). São Leopoldo, RS: Oikos., p. 14). Lacan (1976-1977Lacan, J. (1976-1977) O Seminário livro 24: L’insu que sait de l’une-bévue s’aile à mourre. Recuperado de http://staferla.free.fr/S24/S24.htm
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), no Seminário 24, dirá que é por meio das palavras do próprio sujeito que seu afeto se areja e, como efeito, tal afeto não engendra mais um sintoma, questão que pode ser ilustradas nas palavras de V.:

Quão aliviante é poder falar, mesmo estando em turma conseguimos nos abrir. Estávamos precisando disso. E não vou mentir, no primeiro dia eu penseiputz, MAIS UMA COISA. Mas quando finalizamos o primeiro encontro eu fiquei muito feliz, muito aliviado, porque não era só mais uma coisa, era outra coisa, diferente do que a gente tem e vai fazer falta.

Amparada na ética da psicanálise, nossa intenção foi interromper o ciclo repetitivo de “mais uma coisa” na vida desses adolescentes, a fim de criar uma “outra coisa”, ou seja, proporcionar espaços vazios (para que se preenchessem com palavras e escuta) ao invés de um vazio de espaço (desprovido de vinculação e referência). Pela voz de E., em nome de todo o grupo, recebemos um relato potente acerca dos efeitos de nossa intenção:

Em tempos de mudanças, onde o mundo passa por uma situação triste e traiçoeira, saber que existem pessoas ouvindo aqueles que poucos são escutados é reconfortante. Saber que vocês querem nos escutar e saber nossas opiniões e nossas visões sobre um mundo em uma situação em que poucos lembram que também passamos por momentos difíceis, não é só bom, como também é um alívio. Em nome de toda a turma, agradeço pela paciência e pelo tempo que vocês nos deram, agradeço por entender, aquilo que poucos fazem e, principalmente, agradeço por não terem invalido nossas opiniões baseadas apenas em nossas idades. Obrigada pela compreensão e saibam que esses encontros foram muito importantes, principalmente nesses momentos conturbados.

Ainda, percebemos que o Projeto Jovem Aprendiz é produtor de efeitos semelhantes, a partir de um atravessamento de caráter interdisciplinar e inclusivo, com o amparo da psicanálise em sua gestão. Os adolescentes o tomam enquanto um espaço propiciador para a produção de caminhos de respiro, de circulação e ensaio entre o dentro (interno) e o fora (externo), conforme observamos na fala de R.: “o Jovem Aprendiz é um milagre na vida, eu estava super para baixo, depois que entrei só coisa boa aconteceu, parece que estou trancada numa caixa e o Jovem Aprendiz é uma janela”. A palavra janela salta em nossa escuta e a tomamos enquanto significante de abertura, efeito de produção de uma passagem/furo operada pelo Projeto, relacionado ao ato analítico enquanto posição avessa à paralisia e asfixia sentidas pelos adolescentes. O desafio que enfrentam é o de sair dessa posição paralisante e, nesse sentido, a janela proporcionada pelo Projeto representa um caminho de respiro, com potencial para perfazer a experiência de passagem/travessia.

As narrativas compartilhadas, por meio da palavra falada/escrita e da escuta/leitura, permitiram a troca de impressões e reflexões sobre aquilo que foi vivido, produzindo alterações no campo simbólico (Kehl, 2000Kehl, M. (2000). Função fraterna. Rio de Janeiro, RJ: Relume Dumará., p. 42), a partir de um deslizamento de sentidos e, como efeito, houve a transformação do trauma em motor de criação (Seligmann-Silva, 2008Seligmann-Silva, M. (2008). Narrar o trauma: a questão dos testemunhos de catástrofes históricas. Psicologia Clínica, Rio de Janeiro, 20(1), 65-82. doi: 10.1590/S0103-56652008000100005
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), na tecitura de novas tramas narrativas e simbólicas. No último encontro, os adolescentes compartilharam parte de suas próprias criações (músicas, poemas, histórias, dublagens, vídeos, fotografias, textos), algumas produzidas como efeito dos nossos encontros. Uma dessas produções é um poema escrito por F., do qual recortamos um trecho muito especial e significativo: “a vida se mantém dura / mas agora, é outro sentido / as responsabilidades da vida adulta / já estão vindo”. Nessa perspectiva, percebemos que a invencionice poética/narrativa se coloca à serviço do adolescente, ao auxiliá-lo a preencher algumas lacunas de sua identidade e de seu saber. A partir da fala/escrita, engendrada pela oferta de escuta, há a possibilidade de operar-se tal saída da posição de sobrevivência rumo à reconstrução de um espaço de vida (Corso, 2021Corso, D. (2021). Prefácio: com quantas leituras se faz uma subjetividade? In E. Mügge, C. B. dos Santos, L. M. Oliveira-Menegotto (Orgs.), Adolescências: tecituras contemporâneas entre literatura e psicanálise (pp. 7-12). São Leopoldo, RS: Oikos.; Piralian, 2000Piralian, H. (2000). Genocidio y transmisión. México: Fondo de Cultura.; Rassial, 1999Rassial, J. J. (1999). O adolescente e o psicanalista. Rio de Janeiro, RS: Companhia de Freud.), como faz F. em seu poema, apontando algumas de suas questões para o futuro, enlaçando-se em seu porvir.

Considerações finais. . . e novas questões

Tendo como inspiração o Diário de Anne Frank, propusemo-nos a discutir possíveis incidências e vicissitudes do traumático, a partir das narrativas de adolescentes integrantes do Jovem Aprendiz. Em razão das imposições e privações da pandemia, as narrativas evidenciaram um encurtamento de experiências com consequente achatamento do tempo psíquico, dificuldade de elaboração e de construção de algo novo, culminando em sentimentos de paralisia/inibição. A sombra da morte que paira sobre os jovens reforça a dificuldade de projetar um futuro e lançar-se no desafio da travessia/passagem constitutiva da adolescência.

Propusemos, ainda, discutir os efeitos de uma fala potencializadora de deslizamentos simbólicos, engendrada pela função de escuta, no que se refere às incidências e vicissitudes do traumático. A escrita para ser lida, em Anne Frank, nos auxiliou a pensar em um fala engendrada pela oferta de escuta, advinda do desejo relacionado ao ato analítico. Essa questão nos parece primordial para os adolescentes, uma vez que, a partir dessa oferta/desejo endereçado em transferência, puderam tomar os encontros enquanto medida potencializadora/geradora de desejo, desejo de narrar para que alguém - e eles mesmos - saibam, de falar para que alguém - e eles mesmos - escutem, como escreve Anne Frank (1947/2020Frank, A. (2020). O diário de Anne Frank: edição integral. Rio de Janeiro, RJ: Record. (Trabalho original publicado em 1947), p. 35): “ . . . consegui contar tudo a você e me dar conta do que havia acontecido comigo”. A fala, nesse sentido, assume caráter elaborativo, operando nas possibilidades de produção de uma saída simbólica da experiência imobilizante do trauma.

Por fim, observamos muitas queixas, por parte dos adolescentes, do excesso de virtualidade nas relações, contudo, os encontros que realizamos também se deram no universo virtual. Questionamo-nos, dessa forma, sobre a diferença que se apresenta. Por que nossos encontros e o próprio Jovem Aprendiz se mostraram tão potentes para os jovens? O problema está no virtual ou na forma como ele é conduzido? Quais os momentos que esses jovens têm para serem escutados em suas palavras e seus silêncios? Essas questões apontam para a importância de produzirmos, com o amparo da ética da psicanálise, janelas de abertura/passagem/furo e espaços de fala engendrados pela função de escuta e desejo. Amparadas nessa reflexão, esperamos, a partir de novos estudos, esboçar uma proposta metodológica para se pensar o trabalho com adolescentes em instituições.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Abr 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    11 Abr 2023
  • Aceito
    02 Jul 2023
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