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Uso de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde no tratamento da depressão

Use of integrative and complementary practices in the treatment of depression

Resumo

A depressão está entre as doenças mais debilitantes do mundo. A dificuldade no tratamento dos sintomas e o abandono do uso de medicamentos têm-se tornado um desafio na saúde pública. Nessa perspectiva, o estudo buscou avaliar o uso das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) como ferramenta auxiliar no tratamento da depressão. Realizou-se uma revisão bibliográfica com informações coletadas nas plataformas de banco de dados científicos, utilizando as palavras-chave em português e inglês: depressão, antidepressivos, Práticas Integrativas e Complementares em Saúde e tratamentos convencionais. Dos 210 artigos encontrados, 35 foram selecionados e analisados. Os resultados revelaram maior uso da acupuntura, yoga e meditação no tratamento da depressão e na melhora dos sintomas de estresse, ansiedade, fadiga e efeitos adversos decorrentes do uso de medicamentos antidepressivos. Limitações como falta de profissionais habilitados e escassez de material científico de qualidade dificultam o uso disseminado das práticas. Por necessitarem de baixo custo de investimento em estruturas e materiais, as PICS apresentam grande potencial de crescimento no sistema de saúde.

Palavras-Chave:
Saúde mental; Antidepressivos; Terapias complementares

Abstract

Depression stands out as one of the most debilitating illnesses worldwide. The difficulty in treating symptoms and discontinue use of medication has become a public health challenge. From this perspective, the study sought to evaluate the use of Integrative and Complementary Therapies as an auxiliary tool in the treatment of depression. A review was carried out using information collected on scientific database platforms, using keywords in Portuguese and English: depression, antidepressants, Integrative and Complementary Therapies and conventional treatments. From 210 articles found, 35 were selected and analyzed. The results revealed greater use of acupuncture, yoga and meditation in the treatment of depression and improvement of stress, anxiety, fatigue and adverse effects resulting from use of antidepressant medications. Limitations such as lack of qualified professionals and quality scientific material hinder the widespread use of those practices. As they require low investment costs in structures and materials, they have great potential for growth in the health system.

Keywords:
Mental Health; Antidepressive Agents; Complementary Therapies

Introdução

A desordem depressiva se destaca como uma das dez doenças mais debilitantes em todo mundo e como causa iminente da redução na qualidade de vida, levando em conta as esferas físicas, psicológicas e sociais (MEDEIROS et al., 2019MEDEIROS, S. P. et al. Práticas integrativas e complementares: estratégia de cuidado por meio do Reiki em pessoas com depressão. Research, Society and Development, v. 9, n. 2, p. e127922149, 1 jan. 2019.; SILVA et al., 2020SILVA, E. L. P. et al. Avaliação do perfil de produção de fitoterápicos para o tratamento de ansiedade e depressão pelas indústrias farmacêuticas brasileiras. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 1, p. 3119-3135, 2020.). É capaz de intervir em processos biológicos que medeiam a coagulação, regulação neuroendócrina, inflamação, sono e apetite, mecanismos capazes de desencadear a morte prematura dos pacientes, além de ser um dos fatores responsáveis por estimular o suicídio (GOLD; MACHADO-VIEIRA; PAVLATOU, 2015GOLD, P. W.; MACHADO-VIEIRA, R.; PAVLATOU, M. G. Clinical and biochemical manifestations of depression: Relation to the neurobiology of stress. Neural Plasticity, v. 2015, p. 7-9, 2015.; SILVA et al., 2020SILVA, E. L. P. et al. Avaliação do perfil de produção de fitoterápicos para o tratamento de ansiedade e depressão pelas indústrias farmacêuticas brasileiras. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 1, p. 3119-3135, 2020.).

A hipótese de que a depressão é causada por desordens neuroquímicas vem ao longo dos séculos sendo difundida entre pesquisadores e profissionais da área (MONCRIEFF et al., 2022MONCRIEFF, J. et al. The serotonin theory of depression: a systematic umbrella review of the evidence. Springer Nature, 2022.). Porém, estudiosos da psiquiatria crítica questionam esse conceito, visto que, poucas ou quase nenhuma alteração neuroquímica, em especial da serotonina, são de fato observadas em pacientes depressivos (MONCRIEFF et al., 2022MONCRIEFF, J. et al. The serotonin theory of depression: a systematic umbrella review of the evidence. Springer Nature, 2022.) e, nesse sentido, a depressão pode ser considerada uma doença biopsicossocial, decorrente dos comportamentos e condutas do paciente, e não um modelo de doença biológico moldado, como vem sendo abordado pela psiquiatria moderna (DOUBLE, 2019DOUBLE, D. B. Twenty years of the Critical Psychiatry Network. The British Journal of Psychiatry, v. 214, p. 61-62, 2019.; MIDDLETON; MONCRIEFF, 2019MIDDLETON, H.; MONCRIEFF, J. Critical psychiatry: A brief overview. BJPsych Advances, v. 25, n. 1, p. 47-54, 2019.).

Estimativas apontam que a doença acomete mais de 3,8% da população mundial, correspondendo a 280 milhões de pessoas com diagnóstico de depressão ao redor de todo o mundo (ONU BRASIL, 2017ONU BRASIL. OMS registra aumento de casos de depressão em todo o mundo; no Brasil são 11,5 milhões de pessoas. Disponível em: <https://brasil.un.org/pt-br/75837-oms-registra-aumento-de-casos-de-depressao-em-todo-o-mundo-no-brasil-sao-115-milhoes-de>. Acesso em: 17 maio 2022.
https://brasil.un.org/pt-br/75837-oms-re...
). No Brasil, em 2019, 16,3 milhões de adultos obtiveram diagnóstico de transtorno depressivo, refletindo 10,2% da população brasileira, com prevalência de 14,7% no sexo feminino e 5,1% no sexo masculino (IBGE, 2020; PARK; ZARATE JR, 2019PARK, L. T.; ZARATE JR, C. A. Depression in the Primary Care Setting. The New England Journal of Medicine, v. 380, n. 6, p. 559-568, 2019.).

O tratamento de pacientes diagnosticados com depressão se faz com psicoterapia no caso leve e moderado da doença, acompanhamento psiquiátrico nos casos graves e, em casos moderados ou graves, pode se fazer necessário o uso de medicamentos antidepressivos (PARK; ZARATE JR, 2019PARK, L. T.; ZARATE JR, C. A. Depression in the Primary Care Setting. The New England Journal of Medicine, v. 380, n. 6, p. 559-568, 2019.).

Os medicamentos antidepressivos fazem parte dos psicofármacos, classe de medicamentos que atuam no sistema nervoso central e estão juntamente com os antibióticos entre os medicamentos com maior número de uso desordenado e indevido no Brasil (BARBI; CARVALHO; LUZ, 2019BARBI, L.; CARVALHO, L. M. S.; LUZ, T. C. B. Antidepressive, anti-anxiety and hypnotics and sedatives agents: An analysis of public expenditure in Minas Gerais state, Brazil. Physis, v. 29, n. 4, 2019.; TAKAHAMA; TURINI; GIROTTO, 2014TAKAHAMA, C. H.; TURINI, C. A.; GIROTTO, E. Perfil das exposições a medicamentos por mulheres em idade reprodutiva atendidas por um Centro de InformaçÕes Toxicológicas. Ciencia e Saude Coletiva, v. 19, n. 4, p. 1191–1199, 2014.).

Os antidepressivos são responsáveis por mudanças na função normal do organismo, incluindo funções cerebrais, e desencadeiam vários efeitos adversos como dependência, sedação, discinesia tardia, diminuição da libido, náusea, tontura, o que acarreta abandono e interrupção do tratamento (MONCRIEFF, 2019MONCRIEFF, J. Persistent adverse effects of antidepressants. Epidemiology and Psychiatric Sciences, v. 29, n. e56, p. 1-2, 2019.). Além de estudos apontarem para eficácia reduzida da terapia antidepressiva, indicando que mesmo após 14 semanas do uso dos medicamentos, 67% dos pacientes ainda persistem com os sintomas depressivos (ABBOTT et al., 2020ABBOTT, R. D. et al. Efficacy of a Multimodal Online Lifestyle Intervention for Depressive Symptoms and Quality of Life in Individuals With a History of Major Depressive Disorder. Cureus, v. 12, n. 7, 2020.).

Neste sentido, vem crescendo o número de estudos recentes que questionam o uso de antidepressivos em casos de depressão maior e sua eficácia, visto que os casos de vulnerabilidade de recaídas da depressão são maiores em pacientes com uso do medicamento, em especial o uso a longo prazo quando comparados a grupos placebos (VITTENGL, 2017VITTENGL, J. R. Poorer Long-Term Outcomes among Persons with Major Depressive Disorder Treated with Medication. Psychother Psychosom, v. 86, p. 302-304, 2017.; HENGARTENR; ANGST; RÖSLER, 2018HENGARTENR M. P.; ANGST J.; RÖSLER W. Antidepressant Use Prospectively Relates to a Poorer Long-Term Outcome of Depression: Results from a Prospective Community Cohort Study over 30 Years. Psychother Psychosom, 2018.). Possíveis efeitos adversos e a falta de estudos de qualidade comparando pacientes em tratamento e placebos a respeito do uso de antidepressivos como a primeira escolha e sobre sua segurança e necessidade também fomentam questionamentos de críticos sobre o assunto (VITTENGL,2017VITTENGL, J. R. Poorer Long-Term Outcomes among Persons with Major Depressive Disorder Treated with Medication. Psychother Psychosom, v. 86, p. 302-304, 2017.; PULHIEZ; NORMAN, 2021PULHIEZ C. G.; NORMAN H. A. Prevenção quaternária em saúde mental: modelo centrado na droga como ferramenta para a desmedicalização. Rev Bras Med Fam Comunidade, v. 16, n. 46, 2021.; MONCRIEFF, 2018MONCRIEFF, J. Against the stream: Antidepressants are not antidepressants – an alternative approach to drug action and implications for the use of antidepressants. BJPsych Bulletin, v.42, p. 42-44, 2018.).

Por se tratar de uma doença causada por múltiplos fatores, a depressão necessita de cuidados e acompanhamentos personalizados para alcançar sucesso na intervenção (SARRIS, 2011SARRIS, J. Clinical depression: an evidence-based integrative complementary medicine treatment model. Alternative therapies in health and medicine, v. 17, n. 4, p. 26-37, 2011.). Nesse contexto, surgem as práticas integrativas e complementares em saúde (PICS), podendo ser também designadas, segundo a OMS, como medicina tradicional complementar/alternativa (BRASIL, 2006BRASIL. Portaria n. 971, de 03 de maio de 2006. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. Brasília, 2006.). Essas práticas são ferramentas que podem ser utilizadas como complementares no tratamento depressivo, assim como ser o tratamento de escolha para mulheres grávidas ou em período puerpério em que opções não farmacológicas são as mais indicadas (BRASIL, 2020BRASIL. Informe de evidência clínica em práticas integrativas complementares em saúde, no 03/2020. Brasília, 2020.; MEDEIROS et al., 2019MEDEIROS, S. P. et al. Práticas integrativas e complementares: estratégia de cuidado por meio do Reiki em pessoas com depressão. Research, Society and Development, v. 9, n. 2, p. e127922149, 1 jan. 2019.).

As PICS possuem bases no modelo de atenção humanizada e são recursos terapêuticos que buscam entender e relacionar as características ambientais e comportamentais que se envolvem nos processos saúde e doença (BRASIL, 2015BRASIL. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS: atitude de ampliação de acesso. Brasília, 2015.). Visam enxergar e tratar o indivíduo como um ser multidimensional, criando maior confiança e vínculo entre o profissional de saúde e o paciente (BRASIL, 2015BRASIL. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS: atitude de ampliação de acesso. Brasília, 2015.; HABIMORAD et al., 2020HABIMORAD, P. H. L. et al. Potencialidades e fragilidades de implantação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, n. 2, p. 395-405, 3 fev. 2020.).

Doenças crônicas, mentais e pacientes em situação de cuidados paliativos são as principais causas de procura das práticas integrativas (COLLINGE; WENTWORTH; SABO, 2005), podendo ser empregadas em associação com os tratamentos convencionais, por suprimirem lacunas deixadas por esses procedimentos (HARASIM et al., 2021HARASIM, A. S. et al. Use of Complementary and Alternative Medicine in Patients with Primary Immunodeficiency: a Multicentric Analysis of 101 Patients. Journal of clinical immunology, v. 41, n. 3, p. 585-594, abr. 2021.), visando potencializar a busca pelo bem-estar e estimular o desejo de vida no paciente, além de auxiliar na redução de efeitos adversos e adesão do tratamento habitual (HABIMORAD et al., 2020HABIMORAD, P. H. L. et al. Potencialidades e fragilidades de implantação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, n. 2, p. 395-405, 3 fev. 2020.; MEDEIROS et al., 2019MEDEIROS, S. P. et al. Práticas integrativas e complementares: estratégia de cuidado por meio do Reiki em pessoas com depressão. Research, Society and Development, v. 9, n. 2, p. e127922149, 1 jan. 2019.).

No Brasil, o Ministério da Saúde, após recomendações da OMS e de conferências nacionais em saúde, instituiu, em 2003, um grupo de trabalho formado por representantes de associações nacionais em Fitoterapia, Acupuntura, Homeopatia e Medicina Antroposófica, juntamente com secretarias do governo, que deram início à formulação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). Esta foi aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde em maio de 2006, através da Portaria GM/MS nº 971, de maio de 2006 (BRASIL, 2006BRASIL. Portaria n. 971, de 03 de maio de 2006. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. Brasília, 2006.; 2015; CARVALHO; NÓBREGA, 2017CARVALHO, J. L. da S.; NÓBREGA, M. do P. S. de S. Práticas integrativas e complementares como recurso de saúde mental na Atenção Básica. Revista Gaúcha de Enfermagem Prática, v. 38, n. 4, p. 1-9, 2017.).

A PNPIC surge com intuito de nortear, ampliar e impulsionar a implantação das PICS no Sistema Único de Saúde (SUS), oferecer alternativas seguras e eficazes para resolução das demandas de saúde no país e incentivar e oferecer tratamentos que permitem uma atuação mais ativa do paciente (BRASIL, 2006BRASIL. Portaria n. 971, de 03 de maio de 2006. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. Brasília, 2006.; 2015).

Hoje a PNPIC é composta por 29 PICS, com atuação mais centralizada na Atenção Básica (AB), tendo 90% das ofertas ocorrendo nestes estabelecimentos e de forma gratuita em mais de três mil municípios espalhados pelo país, estando presente nas 26 capitais brasileiras e Distrito Federal (GENIOLE; KODJAOGLANIAN; VIEIRA, 2011), sendo o Brasil referência mundial no tocante da utilização de PICS na AB. Os tratamentos recebem destaque por serem reconhecidos e incentivados pela OMS, apresentando custo financeiro reduzido, bons resultados na prática, que permitem ampliar o número de pacientes acolhidos (MARQUES et al., 2020MARQUES, P. de P. et al. Uso de Práticas Integrativas e Complementares por idosos: Pesquisa Nacional de Saúde 2013. Saúde em Debate, v. 44, n. 126, p. 845-856, 2020.).

Dentre as práticas que compõem o PNPIC a acupuntura, fitoterapia, homeopatia, yoga e meditação se destacam por serem amplamente utilizadas e vastamente reconhecidas pela população de modo geral (GENIOLE; KODJAOGLANIAN; VIEIRA, 2011; MARQUES et al., 2020; ROSSI et al., 2015ROSSI, E. et al. Complementary and alternative medicine for cancer patients: results of the EPAAC survey on integrative oncology centres in Europe. Supportive care in cancer, v. 23, n. 6, p. 1795-1806, jun. 2015.).

Evidências científicas vêm ao longo dos anos indicando maior busca de modificações no estilo de vida e tratamento de condições clínicas, de modo que a utilização das PICS, entre os anos de 2017 e 2018, aumentou em 36% o número de participantes e 126% nas quantidades de procedimentos registrados no SUS (CORRÊA et al., 2020CORRÊA, H. P. et al. Efeitos da auriculoterapia sobre o estresse, ansiedade e depressão em adultos e idosos: revisão sistemática. Revista Escola Enfermagem USP, v. 54, 2020.; MEDEIROS et al., 2019MEDEIROS, S. P. et al. Práticas integrativas e complementares: estratégia de cuidado por meio do Reiki em pessoas com depressão. Research, Society and Development, v. 9, n. 2, p. e127922149, 1 jan. 2019.; VALADARES, 2019).

Em 2019, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou o uso de PICS por mais de dez milhões de brasileiros como uma forma de tratamento de saúde (IBGE, 2020). Mais de dois milhões de atendimentos foram prestados nas Unidades Básicas de Saúde, onde mais de um milhão de consultas foram de medicina tradicional chinesa, que engloba as práticas de acupuntura e auriculoterapia; 85 mil atendimentos de fitoterapia; e 13 mil consultas homeopáticas; os demais 926 mil serviços prestados foram de alguma outra PIC não especificada (IBGE, 2020).

Observa-se que a depressão é uma doença em destaque, com alto número de pacientes doentes, porém com avanços positivos no tratamento através do aumento do conhecimento, uso e procura das PICS. Em função de todo contexto apresentado, esta pesquisa buscou avaliar o uso das PICS no tratamento de transtornos depressivos.

Metodologia

Para elaboração deste trabalho, foi realizada uma revisão de literatura, que teve como questão norteadora: o uso de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde pode influenciar de maneira benéfica o tratamento de pacientes depressivos?

O estudo exploratório com abordagem qualitativa foi fundamentado em uma revisão bibliográfica com informações coletadas por pesquisas nas plataformas de banco de dados científicos PUBMED (National Center for Biotechnology Information - NCBI, U.S. National Library of Medicine), LILACs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e SciELO (Scientific Electronic Library online), utilizando as palavras-chave, em português e inglês: depressão, antidepressivos, Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) e tratamentos convencionais.

A coleta de dados se deu através do segmento das premissas: a) Leitura exploratória de todo o material selecionado para verificar se a obra consultada é de interesse e se adequa ao tema; b) Leitura seletiva das partes de interesse e relevância; c) Registro das informações extraídas das fontes em instrumento específico (autores, ano, método, resultados e conclusões); d) Leitura analítica para ordenar e sumarizar o conteúdo deixando-o apto a discussão.

Os critérios de inclusão adotados foram os artigos completos que continham PICS e que abordavam as palavras-chave propostas, que foram lidos e avaliados por um único revisor, e as informações preliminares organizadas e anexadas em uma planilha no Microsoft Excel. Foram excluídos artigos incompletos, não encontrados nas bases de dados, que não atendiam ao tema principal da pesquisa e as práticas que não estavam descritas na PNPIC.

Resultados e Discussão

Para elaboração do trabalho, foram encontrados 210 artigos em todas as bases de dados analisadas como fonte de pesquisa, dos quais 178 no PUBMED, 2 no SCIELO e 30 no LILACS. Foram excluídos 175 estudos por não estarem de acordo com o objetivo da pesquisa, restando 35 artigos que satisfaziam as condições para inclusão nos resultados (Figura 1 e Quadro 1).

Figura 1
Fluxograma do processo de seleção de artigos
Quadro 1
Relação dos artigos selecionados e incluídos no estudo

As PICS são técnicas seguras executadas através de movimentos corporais ou com amparo de tecnologias, que buscam interferir no corpo e mente na forma de estimular a prevenção ou recuperação da saúde do ser humano como um todo por meio de mecanismos naturais (SOUSA et al., 2012SOUSA, I. M. C. de et al. Integrative and complementary health practices: the supply and production of care in the Unified National Health System and in selected municipalities in Brazil. Cadernos de saude publica, v. 28, n. 11, p. 2143-54, 2012.). Os benefícios podem ser vistos no organismo como um todo, na redução de dores físicas, melhoras relativas a hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares, câncer e avanços positivos em doenças mentais como ansiedade, depressão e diminuição do estresse (AMADO et al., 2020AMADO, D. M. et al. Práticas integrativas e complementares em saúde. Aps Em Revista, v. 2, n. 3, p. 272-284, 2020.).

Diversos estudos indicam que a busca e utilização das PICS se dá de forma majoritária entre as mulheres, e a depressão é uma das cinco principais causas de procura das práticas nos serviços de saúde (BREDD; BEREZNAY, 2017; CAPON et al., 2021CAPON, H. et al. Yoga complements cognitive behaviour therapy as an adjunct treatment for anxiety and depression: Qualitative findings from a mixed-methods study. Psychology and psychotherapy, v. 94, n. 4, p. 1015–1035, dez. 2021.; KINSER; GOEHLER; TAYLOR, 2012KINSER, P. A.; GOEHLER, L. E.; TAYLOR, A. G. How might yoga help depression? A neurobiological perspective. The Journal of Science and Healing, v. 8, n. 2, p. 118-126, 2012.). A alta busca por pacientes depressivos foi analisada em um estudo nos Estados Unidos, realizado com 2055 pessoas, segundo o qual 53,6% dos pacientes com depressão afirmaram ter feito uso das PICS nos últimos 12 meses (BREDD; BEREZNAY, 2017). Collinge, Wentworth e Sabo (2005) também observaram a maior demanda por pacientes com depressão (COLLINGE; WENTWORTH; SABO, 2005).

Isto reflete o perfil da busca por novas opções de tratamento e adjuvantes para doenças crônicas, onde os pacientes desejam fazer parte de forma ativa de seus tratamentos e consultas aos quais são submetidos (HAEFNER, 2017HAEFNER, J. Complementary and Integrative Health Practices for Depression. Journal of psychosocial nursing and mental health services, v. 55, n. 12, p. 22-33, dez. 2017.). Sugere-se, ainda, um descontentamento com as práticas médicas convencionais que, por vezes, não são capazes de cobrir a totalidade dos sintomas apresentados e em alguns casos divergem da ideologia e práticas pessoais adotadas pelo paciente (BREED; BEREZNAY, 2017BREED, C.; BEREZNAY, C. Treatment of Depression and Anxiety by Naturopathic Physicians: An Observational Study of Naturopathic Medicine Within an Integrated Multidisciplinary Community Health Center. The Journal of Alternative and Complementary Medicine, v. 23, n. 5, p. 348-354, 6 fev. 2017.).

No Brasil, em pesquisa executada pelo IBGE com 23.815 idosos, 5,4% dos avaliados afirmaram ter feito uso de PICS nos últimos 12 meses. Em relação à finalidade, foram mais utilizadas em casos de doenças crônicas, com uso 62% maior em idosos depressivos (MARQUES et al., 2020). No estudo, as práticas são consideradas opções seguras e eficazes, por reduzir o número de medicamentos utilizados, significativo para as populações envelhecidas (MARQUES et al., 2020). Resultados semelhantes também foram observados por Kessler et al. (2001KESSLER, R. C. et al. Long-term trends in the use of complementary and alternative medical therapies in the United States. Annals of internal medicine, v. 135, n. 4, p. 262-268, ago. 2001.), em que 67% dos pacientes internados em uma clínica para tratamento de depressão severa fizeram uso de PICS como opção adjuvante da terapia (KESSLER et al., 2001KESSLER, R. C. et al. Long-term trends in the use of complementary and alternative medical therapies in the United States. Annals of internal medicine, v. 135, n. 4, p. 262-268, ago. 2001.).

Breed et al. (2017), ao avaliarem durante 24 meses 60 pacientes, predominantemente mulheres, depressivas e/ou ansiosas e de baixa renda, que receberam o tratamento de PICS, em um centro comunitário americano, observaram uma redução de 48% nos sintomas de depressão em comparação ao início do estudo (BREED; BEREZNAY, 2017BREED, C.; BEREZNAY, C. Treatment of Depression and Anxiety by Naturopathic Physicians: An Observational Study of Naturopathic Medicine Within an Integrated Multidisciplinary Community Health Center. The Journal of Alternative and Complementary Medicine, v. 23, n. 5, p. 348-354, 6 fev. 2017.). Os resultados motivam a possibilidade de oferta de tratamentos de qualidade a pacientes de baixa renda, que são mais susceptíveis a abandonos de tratamentos medicamentosos quando estes não são fornecidos de forma gratuita, devido ao alto valor monetário (HELFER et al., 2012HELFER, A. P. et al. Capacidade aquisitiva e disponibilidade de medicamentos para doenças crônicas no setor público. Revista Panamericana de Salud Pública, v. 31, n. 3, p. 225-232, 2012.).

Em casos de pacientes com câncer, a depressão decorre das mudanças e incertezas causadas pela nova doença e, nestas situações, observa-se maior interesse pelas PICS, uma vez que os pacientes se sentem seguros e fortalecidos com a capacidade de interferir e participar de forma ativa de seus tratamentos (FRENKEL; SIERPINA; SAPIRE, 2015FRENKEL, M.; SIERPINA, V.; SAPIRE, K. Effects of Complementary and Integrative Medicine on Cancer Survivorship. Current Oncology Reports, v. 17, n. 5, p. 21, 2015.).

Pesquisa realizada nos Estados Unidos, com pacientes diagnosticados com e sem câncer, constatou que o diagnóstico de câncer apenas não foi preditivo para uso das PICS, mas os acometimentos em decorrência da doença, como depressão, ansiedade e insônia, induziram a uma maior busca de tratamentos com práticas integrativas (ANDERSON; TAYLOR, 2012ANDERSON, J. G.; TAYLOR, A. G. Use of complementary therapies for cancer symptom management: Results of the 2007 National Health Interview Survey. Journal of Alternative and Complementary Medicine, v. 18, n. 3, p. 235-241, 2012.).

Outro estudo com mulheres com câncer de mama indicou que pacientes com escores de qualidade de vida maior têm risco de morte reduzido em 38% e chance de recorrência do câncer reduzida em 48%, em relação às mulheres com baixa qualidade de vida que apresentam mais pensamentos ansiosos e depressivos (FRENKEL; SIERPINA; SAPIRE, 2015). A participação de PICS, portanto, pode ser encarada como uma boa opção de atividade e tratamento, como foi relatado pelos pacientes no estudo de Onishi (2016ONISHI, K. Complementary Therapy for Cancer Survivors: Integrative Nursing Care. Asia-Pacific Journal of Oncology Nursing, v. 3, n. 1, p. 41–44, 2016.), que disseram se sentir mais relaxados, com facilidade para se distrair dos problemas e com maior contato com a realidade (ONISHI, 2016ONISHI, K. Complementary Therapy for Cancer Survivors: Integrative Nursing Care. Asia-Pacific Journal of Oncology Nursing, v. 3, n. 1, p. 41–44, 2016.).

De acordo com as pesquisas realizadas nas bases utilizadas para o desenvolvimento deste estudo, a acupuntura, o yoga e a meditação são as três PICS que apresentam maior número de dados e informações, sendo integrantes da PNPIC e descritas no informe de evidência clínica em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde Nº 03/2020, documento que agrupa as práticas com maior número de evidências baseadas em estudos sobre as PICS para depressão e ansiedade (BRASIL, 2020BRASIL. Informe de evidência clínica em práticas integrativas complementares em saúde, no 03/2020. Brasília, 2020.).

Acupuntura

A acupuntura faz uso de agulhas que são inseridas em pontos anatômicos específicos, com intuito de prevenir ou restabelecer a saúde do paciente em questão (GREENLEE et al., 2017GREENLEE, H. et al. Clinical practice guidelines on the evidence-based use of integrative therapies during and following breast cancer treatment. CA: Cancer Journal for Clinicians, v. 67, n. 3, p. 194-232, 2017.). A utilização da acupuntura em comparação com diferentes tipos de placebo, como massagem, pacientes na lista de espera para acompanhamento médico, ou pacientes que receberam o tratamento de acupuntura fora dos pontos anatômicos específicos é capaz de reduzir a gravidade dos sintomas depressivos nas escalas de avaliação médica e autorreferidas e apresentar melhoras significativas através de uma prática com baixos riscos e poucos recursos necessários (COLLINGE; WENTWORTH; SABO, 2005COLLINGE, W.; WENTWORTH, R.; SABO, S. Integrating complementary therapies into community mental health practice: an exploration. Journal of alternative and complementary medicine, v. 11, n. 3, p. 569-574, jun. 2005.; SARRIS, 2011SARRIS, J. Clinical depression: an evidence-based integrative complementary medicine treatment model. Alternative therapies in health and medicine, v. 17, n. 4, p. 26-37, 2011.; SMITH et al., 2018SMITH, C. A. et al. Acupuncture for depression. Cochrane Database of Systematic Reviews, v. 2018, n. 3, 2018.).

Caires et al. (2014CAIRES, J. S. et al. a Utilização Das Terapias Complementares Nos Cuidados Paliativos: Benefícios E Finalidades. Cogitare Enfermagem, v. 19, n. 3, p. 514-520, 2014.) avaliaram as seis instituições brasileiras que prestam serviços paliativos e incluem o uso de PICS nestes cuidados. Apesar de reduzidos os números de instituições participantes da pesquisa, o que limita a credibilidade dos seus resultados, foi possível observar que 67% dos estabelecimentos citaram o uso de acupuntura como opção para complementar o tratamento e forma de aliviar os sintomas da depressão, proporcionando uma redução nos pensamentos negativos, maior qualidade de vida e aumento na confiança entre o paciente e a equipe de saúde (CAIRES et al., 2014CAIRES, J. S. et al. a Utilização Das Terapias Complementares Nos Cuidados Paliativos: Benefícios E Finalidades. Cogitare Enfermagem, v. 19, n. 3, p. 514-520, 2014.). Isto foi observado em outro estudo, em que pacientes com câncer optam pela acupuntura como forma de tratamento da ansiedade e depressão (GOLDSTEIN; STEFANI; ZABKA, 2018GOLDSTEIN, C. F.; STEFANI, N. de A.; ZABKA, C. F. Oncologia Integrativa: das Práticas Complementares aos seus Resultados. Acta Medica, v. 39, n. 2, p. 292–305, 2018.), por ser isento de medicamentos, serem tratamentos brandos que abrangem o paciente como um todo e prazerosos, quando comparados aos tratamentos convencionais oferecidos para o câncer e depressão (SILVA CUNHA; FRIZZO; PEREIRA, 2017SILVA CUNHA, J. H. da; FRIZZO, H. C. F.; PEREIRA, D. C. Acupuntura no tratamento do câncer em indivíduos adultos: revisão integrativa da literatura. Cadernos de Naturologia e Terapias Complementares, v. 4, n. 7, p. 37, 2017.).

A prática da acupuntura também se mostrou eficaz no tratamento de pacientes femininas e depressivas que apresentavam disfunção sexual, em decorrência do uso de antidepressivos, classe de medicamentos prescrita em casos moderados e graves de depressão, desestimulando a continuidade do tratamento (ATHANÁSSIOS CORDÁS; LARANJEIRAS, 2006ATHANÁSSIOS CORDÁS, T.; LARANJEIRAS, M. Revisão de Literatura Efeitos colaterais dos psicofármacos na esfera sexual. Sexual side effects of psychotropic drugs. Revista Psiquiatria Clínica, v. 33, n. 3, p. 168-173, 2006.; LORENZ; RULLO; FAUBION, 2016LORENZ, T.; RULLO, J.; FAUBION, S. Antidepressant-Induced Female Sexual Dysfunction. Mayo Clinic Proceedings, v. 91, n. 9, p. 1280-1286, 2016.). Em um estudo de revisão, que inclui o estudo de caso não controlado de pacientes submetidas ao tratamento de acupuntura durante 12 semanas, pode-se observar melhora no desejo e desempenho sexual após a intervenção com a prática, aumentando as chances de continuidade e eficácia com o tratamento medicamentoso antidepressivo, apesar da necessidade de expansão do público avaliado (LORENZ; RULLO; FAUBION, 2016).

Fitoterapia

A fitoterapia pode ser descrita como a prática de utilização de medicamentos à base de plantas medicinais, sem o isolamento de uma substância em específico (SAMPAIO et al., 2013SAMPAIO, L. A. et al. Perception of the Nurses from Health Family Strategy About the Use of Phytotherapye. Reme: Revista Mineira de Enfermagem, v. 17, n. 1, p. 76-84, 2013.).

Em pesquisa nacional realizada pelo IBGE com 23.815 idosos, a fitoterapia, juntamente com plantas medicinais em geral, aparece como a prática integrativa mais utilizada, indicando que o uso de plantas medicinais e medicamentos derivados é algo comum ao cotidiano da população brasileira se comparado a outras técnicas que vêm sendo incorporadas no país ao longo dos anos (GENIOLE; KODJAOGLANIAN; VIEIRA, 2011GENIOLE, L. A. I.; KODJAOGLANIAN, V. L.; VIEIRA, C. C. A. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS. Campo Grande: UFMS: Fiocruz Unidade Cerrado Pantanal, 2011.; MARQUES et al., 2020).

O Crocus sativus L., conhecido popularmente como açafrão verdadeiro, apresenta em sua composição o safranal, a picrocrocina e a crocetina (CORTEZ et al., 2020CORTEZ, M. V. et al. Effect of heat and microwave treatments on phenolic compounds and fatty acids of turmeric (curcuma longa l.) and saffron (crocus sativus l.). Brazilian Journal of Food Technology, v. 23, p. 1-7, 2020.; SHAMABADI; AKHONDZADEH, 2021SHAMABADI, A.; AKHONDZADEH, S. Advances in Alternative and Integrative Medicine in the Treatment of Depression: A Review of the Evidence. Archives of Iranian medicine, v. 24, n. 5, p. 409-418, maio 2021.). Diversos estudos vêm apontando o efeito que o açafrão tem sobre doenças como a depressão leve e moderada, sendo responsável por aumentar os níveis de dopamina no cérebro, além de modular a atividade serotoninérgica, sem apresentar efeitos colaterais significativos (SHAMABADI; AKHONDZADEH, 2021SHAMABADI, A.; AKHONDZADEH, S. Advances in Alternative and Integrative Medicine in the Treatment of Depression: A Review of the Evidence. Archives of Iranian medicine, v. 24, n. 5, p. 409-418, maio 2021.). Alguns autores citam sua atuação com resultados semelhantes aos da fluoxetina e citalopram em situações de depressão pós-parto, porém são estudos que necessitam de maiores investigações, por não apresentarem um grupo controle adequado (SHAMABADI; AKHONDZADEH, 2021SHAMABADI, A.; AKHONDZADEH, S. Advances in Alternative and Integrative Medicine in the Treatment of Depression: A Review of the Evidence. Archives of Iranian medicine, v. 24, n. 5, p. 409-418, maio 2021.).

Resultados semelhantes são vistos para Hypericum perforatum, conhecida popularmente como erva de São João e pelos seus efeitos antidepressivos (SHAMABADI; AKHONDZADEH, 2021SHAMABADI, A.; AKHONDZADEH, S. Advances in Alternative and Integrative Medicine in the Treatment of Depression: A Review of the Evidence. Archives of Iranian medicine, v. 24, n. 5, p. 409-418, maio 2021.). É um fitoterápico bastante estudado por ter resultados satisfatórios em relação a depressão leve e moderada, por apresentar interação com receptores serotoninérgicos e neurotransmissores ácido gama - aminobutírico (GABA) e N - metil D - Aspartato (NMDA), apresentando evidências para ser a primeira escolha de tratamento em casos leves e moderados de depressão (SARRIS, 2011SARRIS, J. Clinical depression: an evidence-based integrative complementary medicine treatment model. Alternative therapies in health and medicine, v. 17, n. 4, p. 26-37, 2011.; SHAMABADI; AKHONDZADEH, 2021SHAMABADI, A.; AKHONDZADEH, S. Advances in Alternative and Integrative Medicine in the Treatment of Depression: A Review of the Evidence. Archives of Iranian medicine, v. 24, n. 5, p. 409-418, maio 2021.; STUTE et al., 2020STUTE, P. et al. Management of depressive symptoms in peri- and postmenopausal women: EMAS position statement. Maturitas, v. 131, p. 91-101, jan. 2020.). Estudos realizados foram agrupados a fim de comparar o uso do fitoterápico à base de Hypericum perforatum com pacientes sem tratamento na lista de espera, pacientes que receberam antidepressivos como fluoxetina, sertralina, amitriptilina e a ocorrência de efeitos colaterais em relação aos antidepressivos e o fitoterápico, os resultados encontrados foram de diminuição dos sintomas depressivos em relação ao placebo, com eficiência comparada aos antidepressivos prescritos e com o número de efeitos colaterais reduzidos, indicando a sua efetividade (HAEFNER, 2017HAEFNER, J. Complementary and Integrative Health Practices for Depression. Journal of psychosocial nursing and mental health services, v. 55, n. 12, p. 22-33, dez. 2017.).

Meditação

A meditação pode ser descrita como um conjunto de práticas distintas, com objetivo de ensinar ao paciente o autocontrole sobre sua mente e pensamentos, sendo capaz de promover bem-estar ao praticante. Possui base em quatro recursos principais: execução da prática em um local tranquilo, postura conveniente e adequada, ponto de atenção específico e capacidade de permitir que os pensamentos fluam de forma livre durante a sua realização, que são responsáveis pelo sucesso da intervenção (GREENLEE et al., 2017GREENLEE, H. et al. Clinical practice guidelines on the evidence-based use of integrative therapies during and following breast cancer treatment. CA: Cancer Journal for Clinicians, v. 67, n. 3, p. 194-232, 2017.).

A prática é responsável por progressos na esfera física e mental, incluindo melhora no humor, aumento da disposição, diminuição do estresse, ansiedade e alívio dos sintomas depressivos (SIBINGA; KEMPER, 2010SIBINGA, E. M. S.; KEMPER, K. J. Complementary, holistic, and integrative medicine: meditation practices for pediatric health. Pediatrics in review, v. 31, n. 12, p. e91-103, dez. 2010.). É classificada como grau A de excelência no tratamento de mulheres com câncer de mama e depressão, apresentando regressão dos sintomas depressivos e melhora na qualidade de vida quando comparada a pacientes em tratamentos medicamentosos, psicoterapias convencionais, lista de espera médica (CASSILETH, 2014CASSILETH, B. R. Psychiatric benefits of integrative therapies in patients with cancer. International Review of Psychiatry, v. 26, n. 1, p. 114-127, 1 fev. 2014.; GREENLEE et al., 2017GREENLEE, H. et al. Clinical practice guidelines on the evidence-based use of integrative therapies during and following breast cancer treatment. CA: Cancer Journal for Clinicians, v. 67, n. 3, p. 194-232, 2017.; HAEFNER, 2017HAEFNER, J. Complementary and Integrative Health Practices for Depression. Journal of psychosocial nursing and mental health services, v. 55, n. 12, p. 22-33, dez. 2017.).

A meditação pode ser praticada em grupo ou de forma individual em casa através do auxílio de tecnologias que permitem acesso a aulas e orientações gravadas (SIBINGA; KEMPER, 2010SIBINGA, E. M. S.; KEMPER, K. J. Complementary, holistic, and integrative medicine: meditation practices for pediatric health. Pediatrics in review, v. 31, n. 12, p. e91-103, dez. 2010.). Sendo indicada como prática segura e viável para crianças, adolescentes e adultos que apresentam dificuldade e resistência para execução de práticas em grupo, com resultados satisfatórios na melhora da atenção, do comportamento e depressão (SIBINGA; KEMPER, 2010SIBINGA, E. M. S.; KEMPER, K. J. Complementary, holistic, and integrative medicine: meditation practices for pediatric health. Pediatrics in review, v. 31, n. 12, p. e91-103, dez. 2010.).

Abbott et al (2020) também observaram a vantagem de práticas online para 71 pacientes com depressão, randomizados entre grupo de espera e de intervenção. Os pesquisadores avaliaram a melhora da qualidade de vida e da depressão através de modificações no estilo de vida de modo geral, por meio de práticas orientadas por programas online, o que permitiu uma maior autonomia e controle do paciente sobre seu próprio tratamento (ABBOTT et al., 2020ABBOTT, R. D. et al. Efficacy of a Multimodal Online Lifestyle Intervention for Depressive Symptoms and Quality of Life in Individuals With a History of Major Depressive Disorder. Cureus, v. 12, n. 7, 2020.). Os pacientes foram orientados nas práticas de exercício físico, mudança nos hábitos alimentares e a prática de atenção plena, incluindo a meditação, apresentando redução de 46% nos sintomas médicos gerais e diminuição de 52% no escore de depressão, sendo avaliados através de questionários online aplicados 3 vezes durante o estudo, refletindo a necessidade de comprometimento do próprio paciente em seu tratamento, por ter autocontrole sobre a sua execução (ABBOTT et al., 2020ABBOTT, R. D. et al. Efficacy of a Multimodal Online Lifestyle Intervention for Depressive Symptoms and Quality of Life in Individuals With a History of Major Depressive Disorder. Cureus, v. 12, n. 7, 2020.). Embora os resultados encontrados despertem interesse, a amostra reduzida e a necessidade de maiores estudos nesse modelo de intervenção são destacados como dificuldades encontradas.

Sung et al (2020) buscaram analisar, em seu estudo, a diminuição dos sintomas da menopausa, incluindo sintomas psíquicos de depressão e irritabilidade. Avaliou-se um número de mulheres reduzido (n = 65), divididas em grupo controle com 33 e 32 participantes no grupo de meditação, idade entre 25 e 67 anos, estando no período pré e pós menopausa (SUNG et al., 2020SUNG, M. K. et al. A potential association of meditation with menopausal symptoms and blood chemistry in healthy women: A pilot cross-sectional study. Medicine, v. 99, n. 36, p. e22048, 2020.). Como resultados positivos, os pesquisadores constataram melhorias gerais nos sintomas da menopausa, e tendência de diminuição dos sintomas da depressão e irritabilidade, que são comuns com as variações hormonais, mas que precisam ser estendidos e avaliados em um grupo maior de pacientes, visto que a amostra não pode ser considerada representativa de um todo (SUNG et al., 2020SUNG, M. K. et al. A potential association of meditation with menopausal symptoms and blood chemistry in healthy women: A pilot cross-sectional study. Medicine, v. 99, n. 36, p. e22048, 2020.).

Yoga

A yoga é caracterizada como uma prática mente corpo, com intuito de promover e restaurar a saúde física e mental de seus praticantes através do autoconhecimento, baseando-se na respiração e movimentos adequados (BONURA, 2011BONURA, K. B. The psychological benefits of yoga practice for older adults: evidence and guidelines. International journal of yoga therapy, n. 21, p. 129-142, 2011.; KINSER; GOEHLER; TAYLOR, 2012).

Diversos estudos apontam a eficácia da prática de yoga para populações diagnosticadas com câncer, em especial mulheres com câncer de mama, em que a depressão aparece de forma concomitante, incluindo as fases de descoberta da doença, durante o tratamento, ou situações de recidiva (FRENKEL; SIERPINA; SAPIRE, 2015; GREENLEE et al., 2017GREENLEE, H. et al. Clinical practice guidelines on the evidence-based use of integrative therapies during and following breast cancer treatment. CA: Cancer Journal for Clinicians, v. 67, n. 3, p. 194-232, 2017.). A yoga é responsável por trazer benefícios sobre a fadiga, dores, estresse, problemas relacionados ao sono e doenças mentais, propiciando aos participantes sentimentos de melhora no humor, maior qualidade de vida e benefícios ao sono (DISTASIO, 2008DISTASIO, S. A. Integrating yoga into cancer care. Clinical journal of oncology nursing, v. 12, n. 1, p. 125-130, fev. 2008.).

O estresse está intimamente relacionado com a diminuição da qualidade de vida e o aparecimento de diversas enfermidades, incluindo ansiedade e depressão (PETERSON et al., 2017PETERSON, C. T. et al. Effects of Shambhavi Mahamudra Kriya, a Multicomponent Breath-Based Yogic Practice (Pranayama), on Perceived Stress and General Well-Being. Journal of Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, v. 22, n. 4, p. 788-797, 2017.). Peterson et al (2017), avaliaram a utilização de uma técnica de yoga por 142 participantes, durante um retiro de três dias e nas seis semanas consecutivas após o retiro. Os participantes foram avaliados através de respostas auto referidas por e-mail, indicando melhoras nos níveis de estresse em relação ao início do acompanhamento (PETERSON et al., 2017PETERSON, C. T. et al. Effects of Shambhavi Mahamudra Kriya, a Multicomponent Breath-Based Yogic Practice (Pranayama), on Perceived Stress and General Well-Being. Journal of Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, v. 22, n. 4, p. 788-797, 2017.). Os pesquisadores também observaram melhoras relacionadas com os sintomas da depressão e ansiedade, o que propiciou uma melhora no bem-estar geral dos participantes do estudo através de técnicas naturais e eficientes (PETERSON et al., 2017PETERSON, C. T. et al. Effects of Shambhavi Mahamudra Kriya, a Multicomponent Breath-Based Yogic Practice (Pranayama), on Perceived Stress and General Well-Being. Journal of Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, v. 22, n. 4, p. 788-797, 2017.).

A prática de yoga é capaz de induzir alterações nos mecanismos neurobiológicos, estimulando o aumento de serotonina e dopamina através dos movimentos respiratórios executados durante a prática (KINSER; GOEHLER; TAYLOR, 2012). O aumento destes neurotransmissores é capaz de diminuir o estresse que se relaciona com a melhora da distimia e depressão maior (KINSER; GOEHLER; TAYLOR, 2012). Mostrando-se como uma opção de tratamento eficaz para diversas faixas etárias que sofrem com problemas relacionados ao estresse e depressão, em especial a população idosa que em algumas situações se mostram resistentes e com dificuldades em relação aos tratamentos médicos convencionais (BONURA, 2011BONURA, K. B. The psychological benefits of yoga practice for older adults: evidence and guidelines. International journal of yoga therapy, n. 21, p. 129-142, 2011.).

Nier et al (2019) examinaram a prática de yoga em 28 participantes que praticaram de uma a 22 aulas durante oito semanas e avaliados através de autorrelatos e avaliações médicas nas semanas 1, 3, 5 e 8 e 3 meses após a primeira aula. Foram observadas melhora dos sintomas depressivos, de ansiedade e qualidade de vida, em pacientes que participaram de um maior número de aulas, indicando que a adesão ao tratamento é um requisito fundamental para se observar avanços positivos sobre a doença (NYER et al., 2019NYER, M. et al. Community-Delivered Heated Hatha Yoga as a Treatment for Depressive Symptoms: An Uncontrolled Pilot Study. Journal of Alternative and Complementary Medicine, v. 25, n. 8, p. 814-823, 2019.). Estudo semelhante avaliou 16 mulheres no grupo de intervenção de yoga e oito mulheres na lista de espera como controle por três meses e também observou melhora nos níveis de estresse e da depressão em 50% no grupo de intervenção (MICHALSEN et al., 2005MICHALSEN, A. et al. Rapid stress reduction and anxiolysis among distressed women as a consequence of a three-month intensive yoga program. Medical science monitor, v. 11, n. 12, p. CR555-561, dez. 2005.).

Capon et al. (2021CAPON, H. et al. Yoga complements cognitive behaviour therapy as an adjunct treatment for anxiety and depression: Qualitative findings from a mixed-methods study. Psychology and psychotherapy, v. 94, n. 4, p. 1015–1035, dez. 2021.) realizaram um estudo com objetivo de analisar os benefícios decorrentes da prática de yoga em 27 pacientes auto selecionados com depressão e ansiedade que completaram as aulas de yoga por oito meses, como adjuvante de um programa com abordagem em técnicas mente corpo. Os participantes foram avaliados através de perguntas e respostas durante a participação da técnica, onde relataram grandes melhoras nos sintomas depressivos após início da prática de yoga, obtendo uma espécie de efeito máximo com potencial aumento do humor positivo e maior estado de relaxamento após a yoga. O yoga foi descrito pelos participantes como uma técnica de encorajamento e motivacional para participação das atividades propostas pela intervenção mente corpo (CAPON et al., 2021CAPON, H. et al. Yoga complements cognitive behaviour therapy as an adjunct treatment for anxiety and depression: Qualitative findings from a mixed-methods study. Psychology and psychotherapy, v. 94, n. 4, p. 1015–1035, dez. 2021.).

Ainda que os estudos analisados nesta revisão de literatura apresentarem um pequeno tamanho amostral, se fazendo necessário pesquisas mais amplas e com o desenho de estudos mais bem elaborados, os resultados ainda se mostram atraentes e promissores por se tratar de intervenções pouco invasivas, que de modo geral, podem ser associadas ao uso de outros tratamentos para a depressão e suas complicações.

Outras PICS

A musicoterapia é a prática que consiste na utilização da música e seus elementos, como letras, ritmos, instrumentos e melodia com intuito de promover aprendizado, conexão, relaxamento, expressão entre outras finalidades, podendo ser realizada de forma individual ou conjunta, para pacientes depressivos, ansiosos, com déficit de atenção e outras condições (CASSILETH, 2014CASSILETH, B. R. Psychiatric benefits of integrative therapies in patients with cancer. International Review of Psychiatry, v. 26, n. 1, p. 114-127, 1 fev. 2014.). Podendo servir como uma porta de entrada para a aceitação e interação entre o paciente e o profissional de saúde (ANDRADE; PEDRÃO, 2005ANDRADE, R. L. P.; PEDRÃO, L. J. Algumas considerações sobre a utilização de modalidades terapêuticas não tradicionais pelo enfermeiro na assistência de enfermagem psiquiátrica. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 13, n. 5, p. 737-742, 2005.).

Em casos de pacientes com câncer e depressão, a musicoterapia pode ser vista como uma opção de terapia não invasiva capaz de tratar os sintomas depressivos (GREENLEE et al., 2017GREENLEE, H. et al. Clinical practice guidelines on the evidence-based use of integrative therapies during and following breast cancer treatment. CA: Cancer Journal for Clinicians, v. 67, n. 3, p. 194-232, 2017.). Como foi observado em alguns estudos que compararam o uso da musicoterapia em relação a pacientes da lista de espera e observaram melhora nos sintomas depressivos, no humor de modo geral e um sentimento de felicidade maior (GREENLEE et al., 2017GREENLEE, H. et al. Clinical practice guidelines on the evidence-based use of integrative therapies during and following breast cancer treatment. CA: Cancer Journal for Clinicians, v. 67, n. 3, p. 194-232, 2017.). Pacientes praticantes da musicoterapia descrevem a sensação de fuga da realidade de sofrimento, oportunidade de momentos alegres com familiares e profissionais da saúde (CASSILETH, 2014CASSILETH, B. R. Psychiatric benefits of integrative therapies in patients with cancer. International Review of Psychiatry, v. 26, n. 1, p. 114-127, 1 fev. 2014.).

Em muitas situações, a abordagem multidisciplinar se faz necessária para o tratamento e acompanhamento de condições clínicas mais complexas. Como é descrito em um relato de caso alemão, que aborda o caso de uma menina de sete anos com síndrome de recusa generalizada, após o início na pré-escola (VON SCHOEN-ANGERER et al., 2016VON SCHOEN-ANGERER, T. et al. A General Pediatrics and Integrative Medicine Approach to Pervasive Refusal Syndrome: A Case Report. The Permanente journal, v. 20, n. 4, p. 112-115, 2016.).

A paciente foi internada em ala psiquiátrica infantil durante seis semanas, com diagnóstico de depressão moderada, ansiedade e transtorno dissociativo misto recebendo tratamento apenas medicamentoso com haloperidol. Sem apresentar respostas positivas, a paciente foi encaminhada a uma enfermaria pediátrica de medicina integrativa, e passou a receber tratamento convencional, associado a práticas integrativas, neste sentido foram administrados medicamentos homeopáticos em conjunto com medicamentos alopáticos, aromaterapia e interação com demais pacientes. Em quatro semanas a paciente apresentou melhoras progressivas e recebeu alta. Os resultados isolados em um estudo de uma única paciente, indicam a relevância de uma assistência multidisciplinar em harmonia para a recuperação de pacientes em situações delicadas, além de destacar a importância de uma abordagem mente, corpo e sociocultural tratando o paciente e a situação em que ele se insere como um todo (VON SCHOEN-ANGERER et al., 2016VON SCHOEN-ANGERER, T. et al. A General Pediatrics and Integrative Medicine Approach to Pervasive Refusal Syndrome: A Case Report. The Permanente journal, v. 20, n. 4, p. 112-115, 2016.).

Fatores que limitam uso mais ampliado das PICS

Apesar do incentivo pelo Ministério da Saúde através da implementação da PNPIC e oferta pelo SUS, e do aumento ao longo dos anos do número de pessoas que fazem uso das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, alguns estudos, apontam sobre limitações e dificuldades em relação a abrangência, maior divulgação e aceitação das práticas (RODRIGUES NETO; FARIA; FIGUEIREDO, 2009RODRIGUES NETO, J. F.; FARIA, A. A. de; FIGUEIREDO, M. F. S. Medicina complementar e alternativa: utilização pela comunidade de Montes Claros, Minas Gerais. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 55, n. 3, p. 296-301, 2009.).

A disseminação de informação correta, incentivo e orientação do uso das PICS aos pacientes, exige equipes de saúde capacitadas com uma visão ampla a respeito do cuidado, permitindo um diálogo construtivo entre terapeutas, pacientes e demais profissionais (NASCIMENTO et al., 2018NASCIMENTO, M. C. do et al. Formação Em Práticas Integrativas E Complementares Em Saúde: Desafios Para As Universidades Públicas. Trabalho, Educação e Saúde, v. 16, n. 2, p. 751-772, 2018.). Porém, diversos estudos relatam sobre a deficiência na quantidade de profissionais capacitados e preparados para fornecer o atendimento ou instruírem sobre o uso das PICS (ISCHKANIAN; CECÍLIA; PELICIONI, 2012ISCHKANIAN, P. C.; CECÍLIA, M.; PELICIONI, F. Challenges of complementary and medicine in the sus aiming to health promotion. Journal of Human Growth and Development, v. 22, n. 2, p. 233-238, 2012.).

Neste contexto, Harasim et al. (2021HARASIM, A. S. et al. Use of Complementary and Alternative Medicine in Patients with Primary Immunodeficiency: a Multicentric Analysis of 101 Patients. Journal of clinical immunology, v. 41, n. 3, p. 585-594, abr. 2021.), ao questionarem a abordagem das PICS entre os pacientes e profissionais de saúde, em seu estudo com 101 pacientes, a maioria descreveu não discutir sobre o assunto com seus médicos e demais profissionais. Os entrevistados deduziram que, pelo fato de os profissionais não acharem a informação relevante, eles (pacientes) não teriam o domínio necessário sobre o assunto ou que seriam repreendidos em relação ao uso das PICS (HARASIM et al., 2021HARASIM, A. S. et al. Use of Complementary and Alternative Medicine in Patients with Primary Immunodeficiency: a Multicentric Analysis of 101 Patients. Journal of clinical immunology, v. 41, n. 3, p. 585-594, abr. 2021.). A falta de comunicação entre equipes de saúde convencionais, paciente e profissionais terapeutas sugere ser um dos maiores problemas enfrentados no uso de PICS, limitando o alcance de sucesso no tratamento, visto que a abordagem multidisciplinar e com atenção ao ser humano como um todo promovem maiores sucesso no tratamento, diminuição das chances de reações adversas e de atuações contrárias entre a equipe de saúde (BONURA, 2011BONURA, K. B. The psychological benefits of yoga practice for older adults: evidence and guidelines. International journal of yoga therapy, n. 21, p. 129-142, 2011.).

Ainda nesse contexto, como citado acima, uma maior quantidade de estudo tamanho amostral considerável, com metodologias mais consistentes e relevantes, fazendo um acompanhamento desses pacientes por um período maior de tempo, também se fazem necessários e se mostram como uma limitação do assunto e consequentemente da sua aceitação e credibilidade entre profissionais ofertantes e pacientes.

Considerações finais

A busca por alternativas de tratamento e prevenção de doenças pelo uso das PICS vem-se tornando cada vez mais comum entre a população. Os estudos avaliados ratificam a eficácia do uso dessas práticas como adjuvante no tratamento da depressão, sendo recomendadas para redução dos sintomas depressivos e como auxiliares na diminuição de efeitos colaterais dos medicamentos antidepressivos. A falta de profissionais capacitados é uma barreira encontrada para o uso mais ampliado das PICS, assim como a qualidade e a baixa quantidade de estudos científicos. Contudo, por necessitarem de baixo custo de investimento para sua execução, as PICS apresentam grande potencial de crescimento futuro no sistema de saúde público brasileiro.

Referências

  • ABBOTT, R. D. et al. Efficacy of a Multimodal Online Lifestyle Intervention for Depressive Symptoms and Quality of Life in Individuals With a History of Major Depressive Disorder. Cureus, v. 12, n. 7, 2020.
  • AMADO, D. M. et al. Práticas integrativas e complementares em saúde. Aps Em Revista, v. 2, n. 3, p. 272-284, 2020.
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Editor responsável: Martinho Silva

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    26 Maio 2022
  • Aceito
    06 Mar 2023
  • Revisado
    16 Dez 2022
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