Acessibilidade / Reportar erro

Apoio social a familiares de vítimas de homicídio em contexto de violência comunitária

Social support to homicides victims’ families in the context of community violence

Resumo

Investiga-se o apoio social a familiares de vítimas de homicídio a partir da metodologia de análise de narrativas. Foram entrevistados parentes das vítimas residentes em áreas marcadas pela violência armada no município de São Gonçalo-RJ. A análise indicou que os familiares reconhecem diferentes tipos de apoio provenientes, principalmente, de suas redes de relações informais. No entanto, relatam situações de desamparo e frustração das suas expectativas e necessidades relativas ao suporte comunitário e institucional. A violência comunitária expressa-se nos múltiplos eventos traumáticos que contribuem para a construção de uma atmosfera de desconfiança e medo entre os membros da comunidade, impactam os mecanismos de solidariedade nesses territórios e dificultam a constituição de uma rede de apoio aos familiares de vítimas de homicídio. Conclui-se que a construção de estratégias de atenção às pessoas afetadas pela perda violenta de um familiar por homicídio e mesmo o rompimento com os processos reprodutores dessa violência letal na sociedade são possíveis através de ações articuladas e integradas entre sistemas formais e informais que funcionem como uma efetiva rede de apoio social.

Palavras-Chave:
Homicídio; Violência; Família; Apoio social; Rede de apoio social

Abstract

This study investigates the social support for homicide victims’ families. A qualitative approach based on narrative analysis was undertaken. Interviews were conducted with family members of homicide victims living in areas of intense armed violence in São Gonçalo city, Rio de Janeiro. The analysis indicated that family members recognize different types of support, mainly from their informal network (family members, friendship and neighborhood). However, they feel helpless, as the support received does not meet their expectations and needs. The recurring traumatic events related to criminal and police violence have an impact on the solidarity mechanisms in the neighborhood, contributing to the construction of an atmosphere of distrust among community members with implications for the constitution of a support network for homicide victims’ families. It is concluded that the construction of care strategies for people impacted by homicide and even the break with the reproductive processes of this lethal violence in society are possible only through the integrated action between formal and informal systems that work in an articulated way constituting an effective social support network.

Keywords:
Homicide; Violence; Family; Social support; Social support network

Introdução

Este trabalho busca discutir o apoio social no contexto da perda por homicídio a partir das narrativas de familiares de vítimas. Ainda que a perda violenta e traumática de um familiar por homicídio seja uma experiência singular e individual é também social. A morte de um indivíduo não é um evento isolado. Os seres humanos estão sempre em relações (de amizade, inimizade, paternidade, filiação, aliança etc.) que compõem o tecido social, mas que correm o risco de se romperem diante de um evento como a morte violenta. Por outro lado, o desaparecimento de um indivíduo por falecimento, pode desencadear uma hiperintensificação das relações sociais capaz de reforçar a solidariedade através da qual é possível lidar com o luto (RODRIGUES, 2006RODRIGUES, J. C. Tabu da morte. 2. ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006.).

Como se morre e quem morre são aspectos que exercem influência no modo como o evento é significado nas relações sociais, pois o local ocupado pela morte na sociedade depende de uma validação social. É dessa validação que decorre a extensão e a qualidade do apoio social (RANGEL, 2005RANGEL, A. P. F. N. Do que foi vivido ao que foi perdido: o doloroso luto parental. Tese (Doutorado em Psicologia Escolar). Universidade de São Paulo, São Paulo: 2005.).

O homicídio é um problema social e de saúde de importante magnitude no Brasil. Em 2019 foram registrados 45.503 mil homicídios, dos quais 77% atingiram a população negra (CERQUEIRA et al., 2021CEQUEIRA, D. et al. (coord.). Atlas da violência 2021. São Paulo: Ipea; FBSP, 2021.). Para além das vítimas diretas, estima-se que cerca de quatro a cinco pessoas são afetadas pela perda de um familiar negro residente no mesmo domicílio (GOES; LOPES, 2019GOES, F. L; LOPES, D. A. F. Metodologia inicial para a quantificação de sobreviventes aos homicídios perpetrados contra a população negra no Brasil. Brasília: Ipea, 2019.).

A experiência de perda por homicídio tem um potencial traumático capaz de desencadear sofrimento intenso e importantes impactos na saúde física e mental, abuso de álcool e outras drogas, problemas financeiros e enfraquecimento dos laços sociais (CONNOLLY; GORDON, 2015CONNOLLY, J.; GORDON, R. Co-victims of homicide: a systematic review of the literature. Trauma Violence Abuse, v. 16, n. 4, p.494-505, 2015.; COSTA; NJAINE; SCHENKER, 2017; ZAKARIAN et al., 2019ZAKARIAN, R. et al. Relations among Meaning Making, PTSD, and Complicated Grief Following Homicide Loss. Journal of Loss and Trauma, v. 24, n. 3, p.1-13, 2019.). Entretanto, muitos não conseguem contar com uma rede de apoio social (ARMOUR, 2002ARMOUR, M. P. Journey of family members of homicide victims: A qualitative study of their posthomicide experience. American Journal of Orthopsychiatry, v. 72, n. 3, p. 372-382, 2002.; COSTA et al., 2017COSTA, D. H.; NJAINE, K.; SCHENKER, M. Repercussões do homicídio em famílias das vítimas: uma revisão da literatura. Ciência e Saúde Coletiva, v. 22, n. 9, p. 3087-3097, 2017.; DOMINGUES; DESSEN, 2013DOMINGUES, D. F.; DESSEN, M. A. Reorganização familiar e rede social de apoio pós-homicídio juvenil. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 29, n. 2, p.141-148, 2013.; HANNAYS-KING; BAILEY; AKHTAR, 2015HANNAYS-KING, C.; BAILEY, A.; AKHTAR, M. Social support and Black mothers’ bereavement experience of losing a child to gun homicide. Bereave Care, v. 34, n. 1, p. 10-16, 2015.).

Entende-se apoio social como a qualidade e a capacidade da rede social de promover diferentes tipos de auxílio. As relações de apoio favorecem a superação de eventos difíceis da vida, a autoestima, o senso de pertencimento e o desenvolvimento de competências por meio do compartilhamento de recursos materiais e psicológicos. Em momentos de maior fragilidade, o apoio social contribui para a preservação da saúde das pessoas e para que se sintam mais fortalecidas diante de eventos da vida com grande potencial disruptivo (VALLA, 1999VALLA, V. V. Educação popular, saúde comunitária e apoio social numa conjuntura de globalização. Cadernos de Saúde Pública, v. 15, supl. 2, p. 7-14, 1999.).

Alguns estudos sinalizam a importância do apoio social no contexto da perda por homicídio e destacam sua relação com as condições de saúde e resiliência dos enlutados (BAILEY; SHARMA; JUBIN, 2013BAILEY, A.; SHARMA, M.; JUBIN, M. The mediating role of social support, cognitive appraisal, and quality health care in black mothers’ stress-resilience process following loss to gun violence. Violence and Victims, v. 28, n. 2, p. 233-246, 2013.; BURKE; NEIMEYER; MCDEVITT-MURPHY, 2010BURKE, L. A.; NEIMEYER, R. A.; McDEVITT-MURPHY, M. E. African American homicide bereavement: aspect of social support that predict complicated grief, PST, and depression. Omega, v. 61, n. 1, p. 1-24, 2010.; RHEINGOLD; WILLIAMS, 2015RHEINGOLD, A. A.; WILLIAMS, J. L. Survivors of homicide: mental health outcomes, social support, and service use among a community-based sample. Violence and Victims, v. 30, n. 5, p.870-883, 2015.). Preconceitos raciais e de classe, o estigma da morte por homicídio e o envolvimento conhecido da vítima com atos infracionais influenciam negativamente o apoio social. Ademais, a baixa efetividade dos serviços em oferecer suporte formal, a falta de confiança nas instituições, dificuldades financeiras, falta de informações sobre os equipamentos disponíveis e problemas de saúde dificultam o acesso e a busca por apoio (COSTA; NJAINE; SOUZA, 2020COSTA, D. H.; NJAINE, K.; SOUZA, E. R. Apoio institucional a famílias de vítimas de homicídio: análise das concepções de profissionais da saúde e da assistência social. Trabalho, Educação e Saúde, v. 18, n.3, p. 1-17, 2020.; HANNAYS-KING; BAILEY; AKHTAR, 2015; SHARPE, 2008SHARPE, T. L. Source of support for African-American Family members of homicide victims. Journal of Ethnic and Cultural Diversity in Social Work, v. 17, n. 2, p. 197-216, 2008.; WILLIAMS; RHEINGOLD, 2014WILLIAMS, J. L.; RHEINGOLD, A. A.; Barriers to Care and Service Satisfaction Following Homicide Loss: Associations with Mental Health Outcomes. Death Studies, v. 39, n. 1, p. 12-18, 2014.).

Metodologia

Este artigo é parte de uma tese de doutorado. Trata-se de pesquisa qualitativa inspirada em elementos do estudo de narrativas. A construção narrativa é entendida como um meio de acesso à condição humana, pois permite descrever os contextos sociais, trajetórias individuais, sentimentos, experiências e vivências das pessoas. Nesse sentido, não interessa a busca pela veracidade dos fatos, mas a perspectiva dos sujeitos enquanto fonte privilegiada de conhecimento (SQUIRE; ANDREWS; TAMBOUKOU, 2008SQUIRE, C.; ANDREWS, M.; TAMBOUKOU, M. Introduction: what is narrative research. In: ANDREWS, M.; SQUIRE, C.; TAMBOUKOU, M. (ed.). Doing narrative research. SAGE Publication, 2008. p. 1-21.).

Ao revisitar o passado através da construção narrativa de eventos, as pessoas constroem retrospectivamente suas experiências em uma perspectiva atual, possibilitando assim reconectar fatos e ressignificar as relações estabelecidas. A narrativa é mais a reconstrução da experiência do que propriamente uma representação de eventos passados (BRUNER, 1997BRUNER, J. Realidade mental, mundos possíveis. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.).

A pesquisa foi realizada em um município de grande porte da região metropolitana do estado do Rio de Janeiro, com população estimada em mais de um milhão de habitantes. Cerca de 82,2% da população em domicílios permanentes não tem renda ou ganha até dois salários mínimos (IBGE, 2010). Em 2019, o município apresentou a elevada taxa de 45,98 homicídios por 100 mil habitantes, segundo dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro. O bairro pesquisado, onde há elevado índice de homicídios, está situado em uma região com alta concentração de habitantes e que acumula uma série de desvantagens relacionadas à infraestrutura urbana, ao acesso à água encanada, ao saneamento básico e ao poder aquisitivo da população (GONÇALVES, 2012GONÇALVES, T. G. B. Periferias segregadas, segregação nas periferias: por uma análise das desigualdades intraurbanas no município de São Gonçalo, RJ. 2012. Dissertação (Mestrado em Urbanismo) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.).

O campo de pesquisa foi em Unidades de Saúde da Família (USF) e em um Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas). Esses dispositivos foram escolhidos pelo cuidado e proteção social centrados na família, conhecimento sobre as especificidades do território e proximidade com as histórias e vivências da população, tornando-os serviços estratégicos para a problemática da violência e garantia de direitos.

O acesso a esses serviços foi possibilitado, primeiramente, pela solicitação de autorização às coordenações gerais e locais da atenção básica em saúde e da assistência social do município. Após as permissões oficiais para entrada no campo, a pesquisa foi apresentada aos profissionais desses equipamentos e foram solicitadas às equipes indicações de usuários por eles acompanhados que haviam perdido familiares por homicídio para participar do estudo. Por se tratar de uma temática delicada e pela intensidade da violência comunitária na região, as equipes demonstraram certo receio nessa indicação. Entretanto, alguns profissionais, que perderam familiares vítimas de homicídio, se voluntariam para participar da pesquisa. Assim, participaram do estudo quatro familiares de vítimas de homicídio, sendo três também profissionais desses serviços. Todas as entrevistadas eram mulheres e residiam no bairro estudado (Quadro 1).

Quadro 1
Perfil das participantes segundo vínculo de trabalho, raça/cor e grau de parentesco com a(s) vítima(s) de homicídio

As entrevistas ocorreram nos dispositivos de saúde e da assistência social entre os meses de julho e outubro de 2018, com duração média de uma hora e meia, e foram gravadas e transcritas na íntegra pela pesquisadora principal. Uma participante não autorizou o uso do gravador e anotações foram feitas após a entrevista. Os nomes que aparecem neste trabalho são fictícios.

Utilizou-se um roteiro para as entrevistas com os temas: 1) informações sociodemográficas das famílias; 2) relação com o território; 3) situação após perda do familiar; 4) apoio social formal e informal; 5) sugestões de apoio a famílias de vítimas de homicídio.

A análise do material adotou uma abordagem dialógica (RIESSMAN, 2008RIESSMAN, C. K. Narrative methods for the human sciences. Los Angeles: SAGE Publications, 2008.), que propõe uma leitura atenta e próxima dos contextos que permeiam a construção e interpretação das narrativas. Para além do interesse no que é dito e experienciado pelos entrevistados, são levados em consideração para quem os relatos são dirigidos, quando, por que e quais os propósitos. Entende-se que as histórias são sempre compostas e recebidas em contexto interacional, histórico, institucional, discursivo, entre outros.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP/ENSP/FIOCRUZ), em 13.07.2018 com número de parecer 2.769.524.

Resultados e Discussão

A maior presença de mães e mulheres, inclusive como protagonistas na luta por justiça, pode ser explicada pelo lugar social da maternidade e como a morte em circunstâncias violentas as mobilizam na busca por reparação. Essas mulheres-mães transitam pelo árduo caminho da perda privada e da ação coletiva (VIANA; FARIAS, 2011VIANA, A.; FARIAS, J. A guerra das mães: dor e política em situações de violência institucional. Cadernos Pagu, n. 37, p. 79-116, 2011.).

Ao ouvir as mulheres entrevistadas, percebeu-se que falar sobre o homicídio é um movimento profundo cercado de emoções. Relatar sobre esse evento envolve também romper um certo silêncio motivado por ameaças diretas e indiretas relacionados ao contexto dessa morte violenta. Luiza que teve seu cunhado brutalmente assassinado relembra:

A gente não conversa sobre isso, não fala... nem fala o nome [...] porque, pra você ver, era tão traumatizante que a gente não queria nem falar. A gente estava vivendo aquela questão de ameaça. É uma sensação muito ruim de você não querer falar naquilo, naquela coisa horrível que você está passando. E nem comentar [...]. Nós ficamos treinados a não comentar. Até hoje... não tem. Parece que ele ficou assim, às vezes eu lembro dele, sonho até com ele e tal. Mas a gente não tem aquele, a família, a gente não fala (Luiza, 53 anos, branca, ACS).

Acrescenta-se ainda o desconforto relacionado à projeção do estigma do homicídio sobre todos os membros da família. Solange narra sua dificuldade em falar sobre o assunto por não confiar nas pessoas:

Eu nunca falei isso pra ninguém. Nem pro pessoal que eu trabalho há 17 anos com eles. Eu não confio nas pessoas [...] infelizmente as pessoas desprezam os outros. Isso aí é um pensamento meu. Já passei por uma situação após o meu esposo ter sido assassinado. Eu fui trabalhar na casa de um conhecido meu e eu tive que levar meu filho, que era muito levado [...]. Então as pessoas costumavam dizer: “Será que ele não é igual ao pai?” E eu não gostava disso não. Falavam isso perto. Eu falava assim: “Poxa, não é possível. Deus não vai fazer isso comigo não’’ porque ninguém pode pré-julgar o que vai ser do futuro de uma criatura, principalmente de uma criança que tinha 5 anos (Solange, 59 anos, negra, ACS).

Para a maioria das participantes, a entrevista foi a primeira oportunidade para falarem sobre o homicídio após muitos anos do ocorrido. As mulheres entrevistadas demonstraram a necessidade de compartilhar suas histórias ainda que fosse difícil lembrá-las. Entretanto, o estabelecimento de um vínculo de confiança entre pesquisador e entrevistadas foi fundamental para a condução das conversas. Talvez, o fato da pesquisadora principal do estudo ser psicóloga e pela sua trajetória de trabalho na rede de saúde mental do município estudado tenha facilitado essa vinculação:

Eu vou te falar assim, quando eu falei com você, falei assim: “Ah, eu vou falar com ela, posso ajudar, porque eu tenho essa experiência”. Aí eu cheguei em casa e começou a me dar um negócio. Eu falei assim: “Isso não vai ser bom”. Mexer com isso, né. Porque eu tive um longo processo. Acho que estou vivendo até hoje [...] Há muito tempo eu não falava disso. Não falei nem pra família que iria falar. Então, eu achei que ia ser difícil, mas, graças a Deus, você começou com um outro assunto né, que aí quebrou aquela coisa de chegar, porque é uma coisa muito difícil, mas foi bem (Luiza, 53 anos, branca, ACS).

Acho que tinha que existir um lugar, uma casa. Sabe? Tipo, em sigilo como eu estou aqui. Porque às vezes a gente falar dá um alívio aqui dentro. Por mais que sofra, mas dá um alívio. Mesmo se a pessoa não prestava, mas está botando pra fora. Porque às vezes sufoca. De não botar. Grita, esperneia (Paula, 48 anos, branca, assistente administrativa)

Entre os muitos potenciais da narrativa, está o terapêutico a partir do rompimento do silêncio que oprime muitas pessoas em situação de violência. A construção de uma história sobre eventos dolorosos possibilita uma transformação cognitiva da experiência, um reposicionamento diante do vivido e a construção de novos significados. A oportunidade de criar uma narrativa sobre o luto por uma morte inesperada e violenta está associada ao aumento da capacidade de dar algum significado ao evento e diminuição da ansiedade (ODACHOWSKA; TRZEBINSKI; PRUSIK, 2019ODACHOWSKA, E; TRZEBINSKI, J; PRUSIK, M. The impact of self-narrative framing of a close person’s sudden death on coping with the meaning of life. Journal of Loss and Trauma, v. 24, n. 4, p. 293-321, 2019.).

Trazer à tona as narrativas de perda, dor e de testemunho da falta de apoio e reconhecimento dessas mortes contribui para que esses eventos não sejam vistos somente como questões individuais, mas como uma das múltiplas expressões da violência, do racismo estrutural e das desigualdades sociais que constituem a sociedade brasileira (ALMEIDA, 2018ALMEIDA, S. L. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2018.). É importante que os serviços que atendem pessoas em situação de violência potencializem sua capacidade de atuação e de sensibilização em relação a esses eventos, tanto no atendimento à população quanto as suas equipes que vivenciam situações semelhantes.

Ainda que sem o apoio e o acolhimento por parte da equipe de seu serviço, a narrativa de uma profissional de saúde que se sentiu motivada para participar do estudo, revelou o medo de que a tragédia da perda de um familiar se repita com o seu filho usuário de drogas: “[...] parece uma maldição, sei lá. Meu filho também usa [drogas]” (Luiza, 53 anos, branca, ACS). Luiza, muito angustiada, vivia no presente a atualização da experiência de perda do cunhado através da complexa situação que seu filho enfrenta atualmente. Mesmo em locais onde a presença de vítimas indiretas do homicídio é frequente, a invisibilidade desse evento violento demonstra a dificuldade de oferta de apoio dos serviços de atenção à saúde e assistência social.

Quando as redes são frágeis ou rompidas

Muitas vezes, os familiares de vítimas de homicídio não se sentiram apoiados após a perda violenta, mesmo na sua rede de relações familiares. Solange, que perdeu três familiares vítimas de homicídio, destaca a postura assumida pelo seu pai diante do homicídio de seu marido e de seu sobrinho, ambos com envolvimento com o tráfico de drogas. Ante a morte do sobrinho, ouviu de seu pai, avô da vítima, uma frase que a deixou desolada: “Ele colheu o que plantou”. Ainda na época da morte de seu marido disse ter se sentido muito desamparada e que as pessoas de sua rede de relações não a procuraram para oferecer suporte:

Sozinha, abandonada, sem ninguém. Porque a minha família não perguntava se eu estava precisando de um arroz [...] nunca ninguém chegou pra mim e falou assim: ‘Pode contar comigo’, você está me entendendo? Nunca ouvi isso (Solange, 59 anos, negra, ACS).

A família do marido assassinado mostrou-se afetivamente indiferente e Solange não pode contar com o suporte deles mesmo em um momento delicado como o de reconhecimento, preparação e liberação do corpo. Situações com forte peso emocional e associados ao desencadeamento de sofrimento psíquico entre os enlutados (MILLER, 2008MILLER, L. Death notification for families of homicide victims: healing dimensions of a complex process. Omega, v. 57, n. 4, p. 367-380, 2008.; SOARES; MIRANDA; BORGES, 2006SOARES, G. A. D.; MIRANDA, D.; BORGES, D. As vítimas ocultas da violência na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.).

Mesmo após pedir ajuda, Solange sentiu que o apoio que necessitava lhe foi negado. Esse distanciamento de pessoas próximas e cientes do ocorrido produz nos familiares a sensação de que o homicídio não foi um evento relevante. Além disso, a falta de amparo desencoraja a busca de suporte em outras redes sociais.

É importante que as redes sociais de apoio sejam capazes de promover um suporte mais proativo no contexto da perda por homicídio (MALLONE, 2007MALLONE, L. Supporting people bereaved through homicide: developing victim supports response. Bereavement Care, v.26, n.3, p.51-53, 2007.; SHARPE, 2008SHARPE, T. L. Source of support for African-American Family members of homicide victims. Journal of Ethnic and Cultural Diversity in Social Work, v. 17, n. 2, p. 197-216, 2008.). As relações estabelecidas entre os familiares de vítimas e suas redes sociais podem ser positivas ou negativas e afetam a maneira como os familiares encaram a situação de violência e perda que estão vivenciando. A indiferença em relação ao evento violento mostrou-se como fator que intensificou o sofrimento gerado pelo homicídio através de um processo de não reconhecimento da morte como perda e de negação do luto dos familiares (CASELLATO, 2015CASELLATO, G. Luto não reconhecido: o fracasso da empatia nos tempos modernos. In: CASELLATO, G. (org.). O resgate da empatia: suporte psicológico ao luto não reconhecido. São Paulo: Summus; 2015. p. 15-28.). A participante Luiza que perdeu o cunhado morto pelo tráfico de drogas, destacou a falta de suporte dos vizinhos: “ninguém [...], eu não lembro de ninguém que tenha chegado até pra dar uma palavra” (Luiza, 53 anos, branca, ACS).

As circunstâncias do homicídio exercem uma importante influência no modo como o evento é recebido e significado pelas redes sociais dos familiares de vítimas, intervindo, inclusive, na disponibilidade dessa rede em prover apoio.

O isolamento de alguns familiares leva a um retraimento da rede social e, consequentemente, reduz o fluxo do apoio. Diante da morte do irmão, a entrevistada Paula relatou: “Eu me isolei, nem procurei médico. O único médico que eu procurei foi o ginecologista, pois estava grávida, mas psicólogo não procurei. Vim procurar psicólogo tem uns cinco anos” (Paula, 48 anos, branca, assistente administrativa).

As redes sociais podem promover diferentes tipos de apoio a seus membros em momentos difíceis de adoecimento e perdas através de contatos sistemáticos e recíprocos, fazendo com que esses se sintam cuidados e valorizados, configurando o que Sluzki (1997SLUZKI, C. E. A rede social na prática sistêmica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.) chamou de círculos virtuosos. Por outro lado, podem ser formados círculos viciosos quando a presença de um agravo de saúde ou outras dificuldades impactam negativamente os indivíduos e suas relações mais próximas. Situações graves podem levar a uma retração da rede e deterioração recíproca das relações, privando os indivíduos de apoio justamente no momento em que mais precisam.

A experiência de alguém que perdeu uma pessoa próxima por homicídio pode desencadear mudanças drásticas no seu modo de ver o mundo, na sensação de pertencimento e segurança e de conexão com outros indivíduos e com a comunidade. A vergonha pelas circunstâncias da morte e o medo que o estigma do homicídio recaia sobre todos da família levam à evitação dos contatos sociais. O isolamento é reforçado pela dificuldade da rede de relações de lidar com o evento e com o sofrimento que ele desencadeia. A morte violenta, enquanto um evento estigmatizado e estigmatizante, incide sobre as relações sociais dos familiares de vítimas produzindo o enfraquecimento dos vínculos familiares, de amizade e de vizinhança (HANNAYS-KING; BAILEY; AKHTAR, 2015).

A percepção sobre o apoio é influenciada por alguns fatores: pelo significado que o apoio apresenta para o indivíduo em uma dada situação, pela satisfação ou não com a ajuda recebida, pelo tipo de auxílio e pela qualidade do relacionamento estabelecido com o provedor (GONÇALVES et al., 2011GONÇALVES, T. R. et al. Avaliação de apoio social em estudos brasileiros: aspectos conceituais e instrumentais. Ciência e Saúde Coletiva, v. 16, n. 3, p. 1755-1769, 2011.). Mesmo quando as participantes conseguiram mencionar pessoas e instituições que promoveram algum tipo de apoio, não necessariamente o apoio foi percebido ou assumido como bom ou satisfatório pelas diferentes expectativas dos familiares em relação aos tipos e intensidade do apoio que esperavam ou necessitavam receber. Uma participante, por exemplo, mencionou ter recebido apoio financeiro do pai para custear o sepultamento do marido morto, mas sentiu-se desamparada por esse mesmo familiar que não se mostrou disponível para apoiá-la emocionalmente. Ademais, uma percepção empobrecida do apoio social pode estar relacionada a fatores subjetivos que podem afetar a capacidade de buscar e aceitar ajuda (LEONIDAS; CREPALDI; SANTOS, 2013LEONIDAS, C.; CREPALDI, M. A.; SANTOS, M. A. Bulimia nervosa: uma articulação entre aspectos emocionais e rede de apoio social. Revista Psicologia: Teoria e Prática, v. 15, n. 2, p. 62-75, 2013.).

O apoio formal proveniente das instituições pouco aparece nas narrativas desta pesquisa. Ao contrário, elas evidenciam a falta de confiança nas instituições públicas, especialmente na polícia:

A gente continuou levando a vida ali porque não tinha, não tem essa coisa de socorrer. Nem a polícia vem ajudar, nem nada. Então você vê como tem os órgãos, mas o troço não anda. Parece que é só aquela coisa de enfeite lá. ‘Ah, [o atendimento é] horrível’ (Luiza, 53 anos, branca, ACS).

Diante da descrença na efetividade das instituições públicas, o familiar pode nem buscar ajuda. Estudos sugerem que o modo como os familiares e amigos de vítimas de homicídio dão significados à experiência de apoio está fortemente relacionado com as interações anteriores com os serviços e o que ficou como marca (COSTA et al., 2017COSTA, D. H.; SCHENKER, M.; NJAINE, K.; SOUZA, E. R. Homicídio de jovens: os impactos da perda em famílias de vítimas. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 27, n.3, p. 685-705, 2017.; METZGER et al., 2015METZGER, J. et al. Improving Systematic Response in the Face of Homicide: Family and Friends of Homicide Victims Service Needs. Violence and Victims, v. 30, n. 3, p. 522-532, 2015.). Indicam ainda que populações que lidam historicamente com questões raciais, preconceitos e discriminação apresentam menor disponibilidade para confiar nas instituições (SHARPE, 2008SHARPE, T. L. Source of support for African-American Family members of homicide victims. Journal of Ethnic and Cultural Diversity in Social Work, v. 17, n. 2, p. 197-216, 2008.).

O desprezo e a negligência com os quais o familiar é tratado nas instituições por onde transita após o homicídio sinaliza, dentre outras coisas, o despreparo profissional para lidar com a temática. Desde a notificação da morte até a conclusão do caso, ele pode vivenciar diversas situações de revitimização. Muitos anos após a morte do irmão e sem nunca ter sido informada sobre o processo de investigação, Paula foi chamada a comparecer na delegacia. A participante relatou com pesar a forma descuidada como foi abordada, sendo exposta às fotos de seu irmão assassinado sem que pudesse evitar:

Eu não sei como é que eles não me prenderam... [Disse:] ‘Vocês estão mexendo nisso, vocês fizeram alguma coisa? Se não fizeram, vocês vão fazer o quê agora? Pra que eu estou vendo foto de tiro, foto dele, das marcas?’. Falei: ‘Não quero, não quero saber. Vocês fazem o que vocês quiserem, queima, joga fora, arquiva...’ (Paula, 48 anos, branca, assistente administrativa).

Já Márcia demonstrou muita indignação com o papel da Polícia Militar, por ter sido essa a responsável pela morte de seu filho em circunstâncias obscuras e de uso abusivo da força. A sensação de injustiça aparece como uma questão central em sua fala e levanta um importante questionamento sobre o desamparo dessas famílias do ponto de vista das políticas públicas, seja de segurança pública através do uso ilegítimo de sua força, seja no âmbito das demais políticas, como de saúde e assistência social, na prevenção de mortes violentas e no cuidado aos afetados pela violência dos homicídios.

Quando se importar faz a diferença: rede de apoio social efetiva e afetiva

Todas as entrevistadas identificaram momentos nos quais conseguiram contar com algum tipo de apoio, formal ou informal, proveniente das relações familiares, de amizade, vizinhança ou institucionais. Essas relações de apoio desempenharam um papel importante no cuidado, na promoção da saúde e no auxílio nas tarefas diárias minimizando o peso da perda violenta e de suas consequências. A natureza do apoio social acessado pelos familiares é aqui descrita considerando-se os seguintes tipos de apoio: emocional, instrumental ou material, normativo, socializante e informacional (ALARIE, 1998ALARIE, C. L. impact du support social sur la santé des femmes: une revue littéraire. Recherche Politiques Communauté, 1998.).

Três das quatro familiares entrevistadas citaram ao menos uma pessoa de seu entorno que se mostrou disponível para acolhê-las emocionalmente nos difíceis momentos após a perda por homicídio. A presença de apoio emocional indica que a situação é assumida pela rede de relações como importante e demonstra preocupação com a pessoa que a vivencia. Ao receber apoio emocional, os indivíduos sentem-se cuidados, apoiados e valorizados por alguém afetivamente disponível. O apoio emocional propicia a construção de um ambiente favorável, capaz de estimular a pessoa em luto a compartilhar sua experiência e a sentir-se amparada e não julgada pela situação que enfrenta. A ausência de empatia nos casos de luto por homicídio é uma questão tão grave quanto frequente, que conduz à produção de um luto não legitimado socialmente com consequências para a saúde física e mental dos enlutados (CASELLATO, 2015CASELLATO, G. Luto não reconhecido: o fracasso da empatia nos tempos modernos. In: CASELLATO, G. (org.). O resgate da empatia: suporte psicológico ao luto não reconhecido. São Paulo: Summus; 2015. p. 15-28.).

Esse tipo de apoio apresentou-se nas redes informais a partir das relações familiares e de amizade:

Eu tenho uma amiga que toda vez que eu estava meio triste, eu ia pra casa dela. Aí ela me recebia bem, meus filhos. Meus filhos ficavam com os filhos dela. E a gente conversava diversas coisas. E algumas coisas eu falava conversando com ela, entendeu? Então ela se tornou, assim, uma irmãzona pra mim (Solange, 59 anos, negra, ACS).

Estudos mostram que a participação de familiares de vítimas de homicídio em grupos e associações oferece uma importante sustentação emocional (ARAÚJO, 2019ARAÚJO, V. S. Mães da resistência: um olhar sobre o papel do racismo no processo de adoecimento de mães militantes que perderam seus filhos para a violência de Estado. 2019. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) – Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2019.; FRANÇOSO, 2018FRANÇOSO, O. M. (org.). Clínica política: a experiência do centro de estudos em reparação psíquica lá em acari. Rio de Janeiro: ISER, 2018.). Compartilhar as experiências traumáticas com pessoas que lidam com situações semelhantes promove a identificação mútua, sentimentos de pertencimento e de solidariedade. Acrescenta-se ainda que a construção desses grupos no âmbito comunitário pode constituir um mecanismo vital de cuidado entre os membros de uma mesma comunidade (SERAPIONE, 2005SERAPIONE, M. O papel da família e das redes primárias na reestruturação das políticas sociais. Ciência e Saúde Coletiva, v. 10, p. 243-253, 2005.). Os familiares do estudo não participaram ou participam de nenhum espaço coletivo de cuidado voltado para a perda violenta.

Diante de uma perda traumática, todas as formas de apoio são importantes, contudo, o sentimento de falta de apoio emocional mostrou-se particularmente profundo e doloroso.

Outro tipo de apoio que se mostrou fundamental no contexto da perda por homicídio foi o instrumental. O apoio instrumental refere-se à assistência prática e direta na realização de atividades concretas ou resolução de problemas, tais como: auxílio na limpeza da casa, preparação de refeições, provimento de transporte e ajuda financeira. Na pesquisa, o apoio instrumental foi fornecido por amigos e familiares a partir da ajuda no cuidado com os filhos, para que pudessem trabalhar e apoio financeiro, principalmente, relacionado ao funeral da vítima de homicídio.

A perda de um familiar por homicídio desencadeia um processo de grandes mudanças que pode gerar alterações na organização familiar e nos papéis de cada membro da família (COSTA et al, 2017; DOMINGUES; DESSEN, 2013DOMINGUES, D. F.; DESSEN, M. A. Reorganização familiar e rede social de apoio pós-homicídio juvenil. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 29, n. 2, p.141-148, 2013.). Os inúmeros gastos com o funeral, advogados, os custos com os deslocamentos para a resolução da burocracia ligada ao crime do homicídio, a necessidade de mudar de residência, abandonar suas casas, iniciar a vida em outro local, somados, muitas vezes, à perda de um importante provedor (a vítima de homicídio), pode desencadear, além do peso emocional, um peso financeiro para o qual os familiares não estavam preparados. Duas participantes saíram de suas casas provisoriamente durante um tempo após o homicídio, quando foram acolhidas por familiares que moravam em outra cidade.

A participante Solange destacou a ajuda que recebeu de uma pessoa da igreja, que providenciou uma coroa de flores para o funeral de seu marido. Importante apoio material e simbólico, pois os preparativos para o sepultamento se desenrolavam em meio a uma atmosfera de tensões familiares: “Eu trouxe uma coroa de flores que a esposa de um pastor me ajudou. Ela me deu assistência, se não fosse ela, eu não sei como é que aconteceria” (Solange, 59 anos, negra, ACS).

O apoio normativo refere-se ao reconhecimento do valor do outro, da estima, comunica expectativas e normas comportamentais, similaridade de valores a partir de uma postura ativa de incentivo, escuta e reforço, favorecendo o sentimento de pertencimento à comunidade ou a um grupo. A participante Luiza, que se sentiu muito ameaçada após a morte de seu cunhado, contou com o apoio de uma tia com quem conversava muito e que lhe dava conselhos sobre como se manter protegida diante da dura realidade que enfrentava. Paula encontrou na tia de seu marido uma importante incentivadora para a manutenção dos seus cuidados com a saúde, pois gerava um bebê ao mesmo tempo em que lidava com a perda do irmão caçula.

Já a participante Marcia destacou o apoio positivo de uma vizinha que estava muito próxima dela acompanhando os impactos da perda de seu filho e que a lembrava constantemente que ela precisava ter forças para seguir cuidando de seus outros filhos, que também necessitavam de seu suporte.

Embora não tenha se mostrado tão evidente neste estudo, nem sempre os conselhos são vistos como positivos. É comum os familiares de vítimas de homicídio se queixarem dos conselhos que recebem sobre como devem se sentir ou agir diante do homicídio (ALENCAR, 2010ALENCAR, S. L. S. A experiência do luto em situação de violência: entre duas mortes. 2011. Tese (Doutorado em Psicologia Social) - Pontíficia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2011.; COSTA et al, 2017COSTA, D. H.; SCHENKER, M.; NJAINE, K.; SOUZA, E. R. Homicídio de jovens: os impactos da perda em famílias de vítimas. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 27, n.3, p. 685-705, 2017.). A pressa e a pressão dos membros da rede social para que o familiar “supere” a perda não é compatível com o tempo do enlutado, especialmente, do luto por uma morte violenta (ALDRICH; KALLIVAYALIL, 2016ALDRICH, H.; KALLIVAYALIL, D. Traumatic grief after homicide: intersections of individual and community loss. Illness, Crises and Loss, v. 24, n. 1, p.15-33, 2016.), que costuma ser mais intenso e duradouro, o que não implica, necessariamente, uma expressão patológica do luto.

Já o apoio socializante é aquele que permite o acesso a novos contatos sociais, atividades recreativas, acompanhamentos, distrações. Algumas participantes do estudo citaram os familiares como os principais provedores desse tipo de apoio que se deu a partir do acompanhamento em consultas médicas, nas emergências de saúde e mesmo nas idas à igreja como uma forma de incentivo à conexão espiritual, distração e encontrar outras pessoas. Trata-se de um tipo de apoio capaz de encorajar as pessoas na busca por ajuda e no acesso aos serviços necessários para as problemáticas que enfrentam.

Por fim, destaca-se que o apoio social inclui também o papel de prover conhecimento e informações a partir do compartilhamento de conselhos, referências e localização de recursos no ambiente que podem ser de grande utilidade na lida com situações complicadas e na resolução de problemas. Somente uma participante citou o recebimento de apoio informacional através do suporte formal de uma associação de moradores do bairro, bastante influente na região na época em que vivenciou a morte por homicídio em sua família. Luiza e seus familiares enfrentaram muitos problemas de saúde após a perda de seu cunhado assassinado e foi através da associação que conseguiu informações sobre assistência. Luiza trabalha como ACS e acredita que o papel, antes exercido pela associação, atualmente é feito pela unidade de saúde da família.

O acesso a informações no contexto da perda por homicídio é muito importante pois ajuda os familiares a lidarem melhor com a burocracia e a transitarem com mais agilidade pelas diversas instituições que a situação do homicídio exige. Facilita, inclusive, a localização de serviços de apoio no território. Informações essenciais deveriam ser disponibilizadas aos familiares de vítimas logo após a notificação da morte por homicídio (STERN, 2010STERN, S. B. Immediate aftercare program for survivors and families of homicide victims: The Case of Cobb County Government. Dissertations, Theses and Capstone Projects, v. 227, p. 1-34, 2010.).

Apesar do suporte proveniente de instituições e profissionais ter aparecido muito pouco nas narrativas, as entrevistadas valorizaram em suas falas o papel de profissionais capacitados. Identificaram grande descaso e falta de humanização no atendimento, especialmente nas delegacias. Embora não tenham vivenciado esse tipo de apoio e, talvez por isso, defendem a importância de contar com um profissional preparado para abordar o tema e cuidar de suas ressonâncias:

Mas se você...você estudou pra cuidar daquela pessoa de quem mataram o filho, o pai, o marido. Você tem o estudo pra chegar naquela pessoa. Você vai saber como dialogar com aquela pessoa. Ver o que está precisando. Tem mãe que nem... você vê que fica voando (Paula, 48 anos, branca, assistente administrativa).

É valido sublinhar que essas falas dizem do duplo lugar ocupado por três das quatro participantes da pesquisa, como familiar de vítimas de homicídio e profissionais da saúde e da assistência social, que lidam diariamente com essas questões e que encontram os seus próprios desafios na atenção a essa população.

Relações de solidariedade e violência comunitária

O questionamento sobre a dinâmica de apoio social exige uma análise para além do enfoque no significado do apoio para os atores neles envolvidos e suas experiências cotidianas. Exige atentar-se para como os mecanismos de apoio influenciam e são influenciados pelas dinâmicas econômicas, sociais, políticas e culturais. Aqui destaca-se o impacto da violência comunitária nas relações de solidariedade em um bairro violento. As participantes falaram de um contexto de fragilização dos vínculos sociais marcado pela lógica do “salve-se quem puder”:

Mataram um cara do lado da minha casa. Eu só com as crianças. Criança, assim, já eram adolescentes. E graças a Deus que estava todo mundo dormindo. Ouvi os caras darem pauladas num cara. E eu ficar orando ali, falando: “Deus, leva essa alma logo”. Porque o cara gemeu a noite toda. Você acha que alguém vai... ninguém chama. É ruim! Não faz isso... Parecia que estava sendo na minha cozinha. Então, eu já passei todas essas coisas assim e aqui dentro. Eu gosto do bairro que evoluiu, mas desgostosa mesmo do lugar que eu moro, da casa, tudo. Tem muita lembrança ruim (Luiza, 53 anos, branca, ACS).

Inúmeros relatos de mortes violentas e experiências traumáticas relacionados à violência criminal e policial ganharam destaque nas narrativas analisadas como eventos corriqueiros, insidiosos e de grande impacto emocional. Solange falou da angustiante experiência de ter sua casa invadida por um jovem baleado durante conflito policial e a pressão que sofreu para dar-lhe abrigo. Ela concluiu indagando: “Você imagina uma pessoa que já teve vários traumas passar por mais esse porque mora numa comunidade difícil?” (Solange, 59 anos, negra, ACS).

A concentração de conflitos armados nesses territórios leva à construção de uma representação social desses espaços como espaços “difíceis”, “de risco” [de morte], reforçando o preconceito e o estigma em relação à população que os habitam.

Situações de adoecimento e sofrimento podem interferir na sensação de controle da própria vida e levar ao enfraquecimento das relações sociais (SLUZKI, 1997SLUZKI, C. E. A rede social na prática sistêmica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.; LACERDA et al., 2007LACERDA, A.; GUIMARÃES, M. B.; LIMA, C. M.; VALLA, V. V. Cuidado integral e emoções: bens simbólicos que circulam nas redes de apoio social. In: PINHEIRO, R.; MATOS, R. A. (orgs.). Razões públicas para a integralidade em saúde: o cuidado como valor. Rio de Janeiro: Abrasco, 2007. p. 249-2162.). Nesse sentido, a articulação dos indivíduos em rede pode apaziguar os impactos de momentos difíceis da vida. É por meio das redes de apoio social que bens tangíveis e intangíveis circulam, revelando formas de solidariedade (LACERDA et al., 2007LACERDA, A.; GUIMARÃES, M. B.; LIMA, C. M.; VALLA, V. V. Cuidado integral e emoções: bens simbólicos que circulam nas redes de apoio social. In: PINHEIRO, R.; MATOS, R. A. (orgs.). Razões públicas para a integralidade em saúde: o cuidado como valor. Rio de Janeiro: Abrasco, 2007. p. 249-2162.). No entanto, mesmo sendo moradores antigos do bairro, as familiares de vítimas entrevistadas sentem que os vínculos comunitários estão fragilizados, em grande medida, pela violência e pela necessidade constante de resguardar a própria vida.

Em um cenário de constante reinvenção dos modos de sobreviver, graves situações de violência que afetam a população acabam sendo duramente ignoradas. É também com muita cautela que atuam os profissionais em exercício nesses territórios, o que tem implicações para a assistência aos afetados pela violência dos homicídios (COSTA; NJAINE; SOUZA, 2020).

Em se tratando de uma situação como a do homicídio, que envolve um crime contra a vida e que está profundamente inscrito na dinâmica violenta de certos locais, a capacidade de se aproximar dessas famílias e de estabelecer relações de apoio podem significar comprometer-se e colocar-se em risco.

Conclusão

A situação dos familiares de vítimas de homicídio é uma importante questão social e de saúde pública pelos danos físicos, emocionais, sociais e financeiros que uma perda violenta pode causar. Uma rede de apoio social efetiva é um recurso fundamental que pode ajudar as pessoas a transitarem por essa difícil e, tantas vezes, solitária experiência. A partir dos contatos, das trocas, do cuidado e da atenção disponibilizados pelas redes sociais, os familiares ficam mais fortalecidos e, consequentemente, mais investidos na busca por outras fontes de suporte, na luta e na reivindicação de seus direitos.

Esta pesquisa apontou que, em muitos contextos, os membros das redes sociais não conseguiram oferecer um apoio condizente com as expectativas dos familiares de vítimas. Isso pareceu particularmente complicado quando os familiares encontraram dificuldades em contar com o apoio dos próprios membros da família. A indiferença em relação à magnitude do evento, sobretudo, nos casos de vítimas de homicídio envolvidos com o tráfico de drogas colocou os familiares em uma situação de desamparo. É importante que os familiares vejam suas redes de relações como fontes seguras de apoio, caso contrário, não serão capazes de acionar essas redes. Isso implica a quebra do estigma em torno da morte por homicídio, responsável pelo isolamento de muitos familiares de vítimas diante do evento violento.

Por outro lado, é importante sinalizar que o estudo foi conduzido em uma cidade onde 82% da população tem renda domiciliar de até dois salários mínimos, boa parte trabalha fora do município e há uma presença maciça do tráfico de drogas e da milícia. Nesse cenário, interroga-se como construir uma rede de serviços articulada e integrada para atender as demandas da população e sobretudo, dos familiares de vítimas de homicídio. A dificuldade está dada pela própria forma como a assistência é fornecida. Tantas vezes fragmentada, compartimentalizada e desintegrada. Falar sobre rede de apoio em uma realidade tão dura, implica dizer que as instituições precisam se reestruturar, se reorganizar e capacitar seus agentes (da polícia, da justiça, da saúde, da assistência social) para um atendimento mais humanizado e mais eficiente frente às mazelas do próprio município e da sua população.

Seria ingenuidade falar de uma rede solidária de apoio enquanto a população luta pela sobrevivência. Ainda assim, diferentes tipos de apoio foram relatados pelas entrevistadas provenientes das suas redes primárias, ou seja, de familiares, amigos e vizinhança. Pouco se falou sobre a atuação das redes de serviços, que no estudo evidenciou-se através dos relatos sobre as relações negativas travadas com o setor policial. Em uma visão ampla de rede de apoio social, a delegacia e seus profissionais podem ser encarados como um elo importante, capaz de promover diferentes tipos de apoio e de ser ponto de partida para que os familiares acessem outros recursos institucionais.

A violência dos homicídios e suas repercussões na vida da população representa um problema sistêmico que demanda ações coletivas que passam, necessariamente, pelo fortalecimento e articulação das redes de apoio formais e informais. As famílias e as redes informais não podem ser tomadas apenas como destinatárias das políticas sociais e de saúde, mas também como atores agenciadores capazes de contribuir para a transformação das realidades locais.

Referências

  • ALARIE, C. L. impact du support social sur la santé des femmes: une revue littéraire. Recherche Politiques Communauté, 1998.
  • ALDRICH, H.; KALLIVAYALIL, D. Traumatic grief after homicide: intersections of individual and community loss. Illness, Crises and Loss, v. 24, n. 1, p.15-33, 2016.
  • ALENCAR, S. L. S. A experiência do luto em situação de violência: entre duas mortes. 2011. Tese (Doutorado em Psicologia Social) - Pontíficia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2011.
  • ALMEIDA, S. L. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2018.
  • ARAÚJO, V. S. Mães da resistência: um olhar sobre o papel do racismo no processo de adoecimento de mães militantes que perderam seus filhos para a violência de Estado. 2019. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) – Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2019.
  • ARMOUR, M. P. Journey of family members of homicide victims: A qualitative study of their posthomicide experience. American Journal of Orthopsychiatry, v. 72, n. 3, p. 372-382, 2002.
  • BAILEY, A.; SHARMA, M.; JUBIN, M. The mediating role of social support, cognitive appraisal, and quality health care in black mothers’ stress-resilience process following loss to gun violence. Violence and Victims, v. 28, n. 2, p. 233-246, 2013.
  • BENJAMIN, W. Narrativa e cura. Jornal de Psicanálise, v.35, n. 64-65, p.115-116, 2012.
  • BRUNER, J. Realidade mental, mundos possíveis. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
  • BURKE, L. A.; NEIMEYER, R. A.; McDEVITT-MURPHY, M. E. African American homicide bereavement: aspect of social support that predict complicated grief, PST, and depression. Omega, v. 61, n. 1, p. 1-24, 2010.
  • CASELLATO, G. Luto não reconhecido: o fracasso da empatia nos tempos modernos. In: CASELLATO, G. (org.). O resgate da empatia: suporte psicológico ao luto não reconhecido. São Paulo: Summus; 2015. p. 15-28.
  • CEQUEIRA, D. et al. (coord.). Atlas da violência 2021. São Paulo: Ipea; FBSP, 2021.
  • CERQUEIRA, D. et al. (coord.). Atlas da violência: retrato dos municípios brasileiros. Rio de Janeiro: Ipea; FBSP, 2019.
  • CONNOLLY, J.; GORDON, R. Co-victims of homicide: a systematic review of the literature. Trauma Violence Abuse, v. 16, n. 4, p.494-505, 2015.
  • COSTA, D. H.; NJAINE, K.; SCHENKER, M. Repercussões do homicídio em famílias das vítimas: uma revisão da literatura. Ciência e Saúde Coletiva, v. 22, n. 9, p. 3087-3097, 2017.
  • COSTA, D. H.; SCHENKER, M.; NJAINE, K.; SOUZA, E. R. Homicídio de jovens: os impactos da perda em famílias de vítimas. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 27, n.3, p. 685-705, 2017.
  • COSTA, D. H.; NJAINE, K.; SOUZA, E. R. Apoio institucional a famílias de vítimas de homicídio: análise das concepções de profissionais da saúde e da assistência social. Trabalho, Educação e Saúde, v. 18, n.3, p. 1-17, 2020.
  • DYREGROV, K. Micro-sociological analysis of social support following traumatic bereavement: unhelpful and avoidant responses from the community. Omega, v. 48, n. 1, p. 23-44, 2003-2004.
  • DOMINGUES, D. F.; DESSEN, M. A. Reorganização familiar e rede social de apoio pós-homicídio juvenil. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 29, n. 2, p.141-148, 2013.
  • FRANÇOSO, O. M. (org.). Clínica política: a experiência do centro de estudos em reparação psíquica lá em acari. Rio de Janeiro: ISER, 2018.
  • GOES, F. L; LOPES, D. A. F. Metodologia inicial para a quantificação de sobreviventes aos homicídios perpetrados contra a população negra no Brasil. Brasília: Ipea, 2019.
  • GONÇALVES, T. R. et al. Avaliação de apoio social em estudos brasileiros: aspectos conceituais e instrumentais. Ciência e Saúde Coletiva, v. 16, n. 3, p. 1755-1769, 2011.
  • GONÇALVES, T. G. B. Periferias segregadas, segregação nas periferias: por uma análise das desigualdades intraurbanas no município de São Gonçalo, RJ. 2012. Dissertação (Mestrado em Urbanismo) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.
  • HANNAYS-KING, C.; BAILEY, A.; AKHTAR, M. Social support and Black mothers’ bereavement experience of losing a child to gun homicide. Bereave Care, v. 34, n. 1, p. 10-16, 2015.
  • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro, 2010.
  • LACERDA, A.; GUIMARÃES, M. B.; LIMA, C. M.; VALLA, V. V. Cuidado integral e emoções: bens simbólicos que circulam nas redes de apoio social. In: PINHEIRO, R.; MATOS, R. A. (orgs.). Razões públicas para a integralidade em saúde: o cuidado como valor. Rio de Janeiro: Abrasco, 2007. p. 249-2162.
  • LEONIDAS, C.; CREPALDI, M. A.; SANTOS, M. A. Bulimia nervosa: uma articulação entre aspectos emocionais e rede de apoio social. Revista Psicologia: Teoria e Prática, v. 15, n. 2, p. 62-75, 2013.
  • MALLONE, L. Supporting people bereaved through homicide: developing victim supports response. Bereavement Care, v.26, n.3, p.51-53, 2007.
  • METZGER, J. et al. Improving Systematic Response in the Face of Homicide: Family and Friends of Homicide Victims Service Needs. Violence and Victims, v. 30, n. 3, p. 522-532, 2015.
  • MILLER, L. Death notification for families of homicide victims: healing dimensions of a complex process. Omega, v. 57, n. 4, p. 367-380, 2008.
  • MUGGAH, R.; TOBÓN, K. A. Citizen security in Latin America: facts and figures. Rio de Janeiro: Igarapé Institute, 2018.
  • ODACHOWSKA, E; TRZEBINSKI, J; PRUSIK, M. The impact of self-narrative framing of a close person’s sudden death on coping with the meaning of life. Journal of Loss and Trauma, v. 24, n. 4, p. 293-321, 2019.
  • RANGEL, A. P. F. N. Do que foi vivido ao que foi perdido: o doloroso luto parental. Tese (Doutorado em Psicologia Escolar). Universidade de São Paulo, São Paulo: 2005.
  • RHEINGOLD, A. A.; WILLIAMS, J. L. Survivors of homicide: mental health outcomes, social support, and service use among a community-based sample. Violence and Victims, v. 30, n. 5, p.870-883, 2015.
  • RIESSMAN, C. K. Narrative methods for the human sciences. Los Angeles: SAGE Publications, 2008.
  • RODRIGUES, J. C. Tabu da morte. 2. ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006.
  • ROSA, D. P. Consensos e dissensos sobre a cidade-dormitório: São Gonçalo (RJ), permanências e avanços na condição periférica. Revista Política e Planejamento Regional, v. 4, n. 2, p. 273-288, 2017.
  • SERAPIONE, M. O papel da família e das redes primárias na reestruturação das políticas sociais. Ciência e Saúde Coletiva, v. 10, p. 243-253, 2005.
  • SHARPE, T. L. Source of support for African-American Family members of homicide victims. Journal of Ethnic and Cultural Diversity in Social Work, v. 17, n. 2, p. 197-216, 2008.
  • SLUZKI, C. E. A rede social na prática sistêmica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.
  • SOARES, G. A. D.; MIRANDA, D.; BORGES, D. As vítimas ocultas da violência na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
  • SQUIRE, C.; ANDREWS, M.; TAMBOUKOU, M. Introduction: what is narrative research. In: ANDREWS, M.; SQUIRE, C.; TAMBOUKOU, M. (ed.). Doing narrative research. SAGE Publication, 2008. p. 1-21.
  • STERN, S. B. Immediate aftercare program for survivors and families of homicide victims: The Case of Cobb County Government. Dissertations, Theses and Capstone Projects, v. 227, p. 1-34, 2010.
  • VALLA, V. V. Educação popular, saúde comunitária e apoio social numa conjuntura de globalização. Cadernos de Saúde Pública, v. 15, supl. 2, p. 7-14, 1999.
  • VIANA, A.; FARIAS, J. A guerra das mães: dor e política em situações de violência institucional. Cadernos Pagu, n. 37, p. 79-116, 2011.
  • WILLIAMS, J. L.; RHEINGOLD, A. A.; Barriers to Care and Service Satisfaction Following Homicide Loss: Associations with Mental Health Outcomes. Death Studies, v. 39, n. 1, p. 12-18, 2014.
  • ZAKARIAN, R. et al. Relations among Meaning Making, PTSD, and Complicated Grief Following Homicide Loss. Journal of Loss and Trauma, v. 24, n. 3, p.1-13, 2019.
Editor responsável: Martinho Silva

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    24 Mar 2022
  • Aceito
    06 Mar 2023
  • Revisado
    16 Set 2022
PHYSIS - Revista de Saúde Coletiva Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro - UERJ, Rua São Francisco Xavier, 524 - sala 6013-E- Maracanã. 20550-013 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil, Tel.: (21) 2334-0504 - ramal 268, Web: https://www.ims.uerj.br/publicacoes/physis/ - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: publicacoes@ims.uerj.br