Acessibilidade / Reportar erro

Herança da Resistência de Lolium multiflorum ao Iodosulfuron-Methyl Sodium

Inheritance of Resistance of Lolium multiflorum to Iodosulfuron- Methyl Sodium

Resumos

Populações de azevém resistente aos inibidores da enzima ALS têm aumentado rapidamente nos campos cultivados. Para o manejo da resistência, são necessários estudos de herança da resistência, os quais permitem entender a evolução da resistência, a estrutura genética da população e a dinâmica de adaptação dos biótipos resistentes. Este trabalho teve como objetivo identificar o tipo de herança, o número de genes envolvidos e o grau de resistência dos biótipos de azevém, homozigotos e heterozigotos, resistentes ao iodosulfuron. A partir da seleção dos biótipos homozigoto resistente (R) e homozigoto suscetível (S), foram realizados cruzamentos (R x S) para obtenção de plantas F1, e estas, cruzadas para obtenção da F2, e realizaram-se retrocruzamentos entre plantas F1 e os respectivos genitores masculinos e femininos resistentes (RCr) e sensíveis (RCs). As sementes F1, F2, RCr, RCs e dos genitores foram semeadas em bandejas e avaliadas, com aplicação do iodosulfuron, quanto à sua suscetibilidade ou resistência. Plantas F1 e dos genitores foram tratadas com doses crescentes do herbicida. A avaliação de controle dessas plantas pelo iodosulfuron foi feito por meio de notas (0 a 100), referentes aos sintomas de intoxicação e pela massa da matéria seca da parte aérea acumulada. Os genitores masculino ou feminino transmitiram a característica para a prole, sendo esta 100% resistente, indicando gene de resistência dominante. A geração F2 apresentou segregação 3:1 resistente/suscetível, confirmando a característica de dominância. O teste de dominância das plantas F1 evidenciou que as plantas homozigotas resistentes e as heterozigotas apresentam grau de resistência semelhante. Conclui-se que a resistência do azevém ao iodosulfuron é codificada por gene dominante nuclear com dominância completa.

Lolium spp.; genética; herbicida


Ryegrass populations resistant to ALS enzyme inhibitors have increased rapidly in cultivated fields. For resistance management, are necessary resistance inheritance studies, which allow us to understand the evolution of resistance, the genetic structure of the population and the dynamic adaptation of resistant biotypes. This study aimed to identify the type of inheritance, the number of genes involved and the degree of resistance of ryegrass biotypes, homozygous and heterozygous resistant iodosulfuron. From the selection of resistant biotypes homozygous (R) and susceptible homozygous (S), crosses were performed (R x S) to obtain the F1 and these crossed to obtain F2, and backcross were held between F1 plants and their parents male and female resistant (RCr) and sensitive (Rcs). The F1 seed, F2, RCr, RCs and parents were sown in trays and evaluated, with application of iodosulfuron, as to their susceptibility or resistance. F1 plants and parents were treated with increasing doses of the herbicide. The control of these plants by iodosulfuron was made by way of notes (0 to 100), referring to the symptoms of intoxication and dry matter accumulated shoot. The male or female parents passed on the trait to offspring, which is 100% resistant, indicating dominant gene resistance. The F2 generation presented segregation 3:1 resistant/susceptible, confirming the dominance of feature. The F1 plants dominance test showed that the resistant homozygous plants and heterozygous present similar resistance level. We conclude that the ryegrass resistance to iodosulfuron is encoded by nuclear dominant gene with complete dominance.

Lolium spp.; genetics; herbicide


INTRODUÇÃO

Os herbicidas inibidores da enzima ALS atuam bloqueando o acesso do substrato ao sítio ativo desta enzima, impedindo a síntese dos aminoácidos de cadeia ramificada (Duggleby et al., 2008DUGGLEBY, R. G.; MCCOURT, J. A.; GUDDAT, L. W Structure and mechanism of inhibition of plant acetohydroxyacid synthase. Plant Physiol. Biochem., v. 46, n. 3, p. 309-324, 2008.). Por haver no mercado grande número de herbicidas inibidores da ALS e por serem efetivos no controle de diversas espécies de plantas daninhas, a utilização repetida de herbicidas desse grupo tem resul tado na seleção de biótipos resistentes de diversas espécies (Tranel & Whright, 2002TRANEL, P. J.; WRIGHT, T. R Resistance of weeds to ALS inhibiting herbicides: what have we learned? . Weed Sci., v. 50, n. 6, p. 700-712, 2002.), como é o caso do azevém resistente aos ini bidores da enzima ALS, selecionado, prin cipalmente, pelo uso contínuo do herbicida iodosulfuron em culturas anuais, como o trigo.

Os fatores que influenciam a rápida evolução da resistência são os ligados à genética, como a frequência inicial de genes resistentes, o número de genes envolvidos com a resistência, a dominância do gene e o custo de adaptação dos genes de resistência (Powles & Yu, 2010POWLES, S. B.; YU, Q. Evolution in action: plants resistant to herbicides. Ann. Rev. Plant Biol., v. 61, n. s/n, p. 317-347, 2010.). Outros fatores, como alta eficiência dos herbicidas para os biótipos sensíveis e atividade residual no solo, contri buem para o aumento de casos de resistência (Tranel & Wright, 2002TRANEL, P. J.; WRIGHT, T. R Resistance of weeds to ALS inhibiting herbicides: what have we learned? . Weed Sci., v. 50, n. 6, p. 700-712, 2002.). Em populações de L. rigidum, a alta frequência inicial de indi víduos resistentes aos herbicidas inibidores da enzima ALS que nunca antes foram expostos a esses herbicidas também ajuda a explicar a rápida evolução da resistência (Preston & Powles, 2002PRESTON, C.; POWLES, S. B Evolution of herbicide resistance in weeds: initial frequency of target site-based resistance to acetolactate synthase-inhibiting herbicides in Lolium rigidum. Heredity, v. 88, n. 1, p. 8-13, 2002.).

Estudos de herança em espécies resis tentes aos inibidores da enzima ALS têm mostrado que a resistência é controlada por um único gene nuclear com incompleta (Boutsalis & Powles, 1995BOUTSALIS, P.; POWLES, S B. Inheritance and mechanism of resistance to herbicides inhibiting acetolactate synthase in Sonchus oleraceus L. Theor. Appl. Gen., v. 91, n. 2, p. 242-7, 1995.) ou completa dominância (Wang et al., 2003WANG, G. X. et al. Inheritance of sulfonylurea resistance in a paddy weed, Monochoria korsakowii. J. Pestic. Sci., v. 28, n. 2, p. 212-214, 2003.); também foi encontrada a resistência controlada por um único gene semidominante. Em estudo com Monochoria vaginalis, os resultados sugerem que a resistência é controlada por um único gene nuclear, com resistência dominante em baixas doses e suscetibilidade dominante em altas doses (Imaizumi et al., 2008IMAIZUMI, T.; WANG, G. X.; TOMINAGA, T. Inheritance of sulfonylurea resistance in Monochoria vaginalis. Weed Res., v. 48, n. 5, p. 448-454, 2008.). O grau de dominância pode estar relacionado com o genótipo, como observado em espécies diploi des, onde os alelos de resistência aos inibi dores da ALS são dominantes sobre espécies suscetíveis em doses de campo recomendadas e os heterozigotos sobrevivem à dose normal de campo, facilitando a rápida disseminação dos alelos de resistência (Yu & Powles, 2014YU, Q.; POWLES, S. B Resistance to AHAS inhibitor herbicides: current understanding. Pest Manag. Sci., v. 70, n. 9, p. 1340-1350, 2014.).

Quando herdada por genes nucleares, a resistência evolui rapidamente, e o processo é acelerado quando o alelo de resistência possui característica dominante (Mithila & Godar, 2013MITHILA, J.; GODAR, A S. Understanding genetics of herbicide resistance in weeds: implications for weed management. Adv. Crop Sci. Technol., v. 1, n. 4, p. 1-3, 2013.). Com o aumento dos casos de azevém resistente aos inibidores da enzima ALS, a caracterização da resistência, quanto ao número de genes e tipo de herança, é fundamental para que técnicas de manejo sejam recomendadas e utilizadas no sentido de evitar e/ou retardar o aparecimento e a multiplicação das plantas resistentes (Vargas et al., 2001VARGAS, L.; BORÉM, A.; SILVA, A. A Herança da resistência aos herbicidas inibidores da ALS em biótipos da planta daninha Euphorbia heterophylla. Planta Daninha, v. 19, n. 3, p. 331-336, 2001.). Portanto, o objetivo deste estudo foi identificar o tipo de herança, o número de genes envolvidos e o grau de resistência dos biótipos de azevém, homozigotos e hetero zigotos, resistentes ao herbicida iodosulfuron-methyl sodium.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido nos anos de 2011, 2012 e 2013. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado.

Os biótipos utilizados foram oriundos das cidades de Joia (resistente) - 28o 38' 51''S e 54o 07' 21''O e Pelotas (suscetível) - 31o 48' 04''S e 52o 24' 50''O. As sementes produzidas foram semeadas, a fim de com provar que os biótipos são homozigotos resistentes e suscetíveis ao herbicida. Para isso, foram semeadas 10 sementes de cada genitor em bandeja; quando as plantas atingiram estádio de 3 a 4 folhas, foi realizada a aplicação de iodosulfuron-methyl sodium na dose de 7 g ha-1. Os genitores que tiveram as plantas sobreviventes foram considerados em homozigose para a resistência, e aqueles em que todas as plantas morreram foram considerados homozigotos suscetíveis. Para realizar os cruzamentos, selecionaram-se seis genitores homozigotos resistentes e seis genitores homozigotos suscetíveis e foram constituídos seis pares (R x S).

Sementes de cada genitor foram semeadas em vasos contendo 5,0 L do substrato comercial Germina Plant(r), sendo realizado desbaste após a emergência, deixando-se uma planta por vaso. Um vaso contendo o genitor resistente e outro com o genitor suscetível foram colocados em estufas individualizadas e vedadas, para evitar contaminações com pólen externo. Dessa forma, foi aceito que os genitores foram polinizados somente com polén oriundo de seu par, obtendo-se a F1. Sementes F1 foram semeadas em vasos, e as plantas originadas destas sementes foram cruzadas para obtenção da F2. Por fim, foram selecionados três pares de geni tores e realizados retro cruzamentos entre plantas F1 e os respectivos genitores mas culinos e femininos resistentes (RCr) e sensíveis (RCs).

As sementes F1, F2, RCr e RCs e dos genitores foram semeadas em bandejas com 5,0 kg de solo. Foi avaliada a suscetibilidade ou resistência das plantas oriundas dessas sementes ao iodosulfuron após aplicação desse herbicida na dose de 5 g ha-1. Além disso, foram semeadas em bandejas, com três repetições, sementes F1 e dos genitores resistente e suscetível. As plantas originadas dessas sementes foram tratadas com doses crescentes de iodosulfuron (0, 0,88, 1,75, 3,5 e 7 g ha-1), sendo a dose de 3,5 g ha-1 registrada para o controle do azevém.

As variáveis avaliadas foram eficiência de controle das plantas (C) e massa da matéria seca da parte aérea (MMSPA). O C foi avaliado aos 14, 21 e 28 dias após a aplicação dos tratamentos (DAT), adotando-se a escala percentual, em que 0 e 100 corresponderam à ausência de dano e à morte de plantas, respectivamente. A MMSPA foi determinada após avaliação do controle pela secagem do material vegetal em estufa à temperatura de 60 oC, até atingir massa constante. Os dados obtidos foram analisados quanto à homo cedasticidade e, posteriormente, submetidos à análise de variância (p ≤ 0,05) pelo programa SAS 9.3. Quando significativas, as doses foram comparadas pelo teste de Tukey (p ≤0,05). As frequências de suscetibilidade ou resistência observadas e esperadas foram avaliadas pelo teste de hipóteses de qui-quadrado (χ2) (p ≤ 0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para todas as frequências, foram aceitas as hipóteses de igualdade entre os números observados e esperados, ou seja, os desvios obtidos não foram significativos (Tabela 1). Os genitores resistentes (R) e suscetíveis (S) confirmaram, respectivamente, sua resistên cia e sensibilidade ao herbicida.

Tabela 1 -
Avaliação da segregação de cruzamentos simples, retrocruzamentos e cruzamentos recíprocos entre plantas de azevém suscetíveis (S) e resistentes (R) ao herbicida iodosulfuron-methyl sodium. Embrapa Trigo, Passo Fundo-RS, 2013

No primeiro cruzamento simples (S x R), o F1 apresentou-se totalmente resistente, evi denciando que o genitor masculino transmitiu a característica de resistência para a prole (Tabela 1). A geração F2 apresentou segre gação resistente/suscetível de 2,2:1, com teste x² fornecendo probabilidade de 21% de ser de 3:1. O RCr mostrou probabilidade de 82% de ser de 1:1, e a segregação apresentou uma planta suscetível das 20 testadas. O RCs apresentou segregação resistente/suscetível de 1,2:1, quando o esperado era 1:1, com probabilidade de 67% de ser de 1:1. Consi derando que a característica é transmitida via pólen e o azevém possui fecundação cruzada, a disseminação da resistência é rápida na população (Mithila & Godar, 2013MITHILA, J.; GODAR, A S. Understanding genetics of herbicide resistance in weeds: implications for weed management. Adv. Crop Sci. Technol., v. 1, n. 4, p. 1-3, 2013.).

No segundo cruzamento simples (R x S), a geração F1, como no primeiro cruzamento, mostrou-se totalmente resistente, indicando que a resistência também é transmitida hereditariamente pelo genitor feminino e, novamente, que ela é característica domi nante. A F2 apresentou segregação resis tente/suscetível de 2,7:1, com probabilidade de 65% de ser de 3:1. Na segregação do RCr foram testadas 56 plantas, das quais 50 foram resistentes; a segregação esperada era de 1:0 resistente/suscetível, com probabilidade de 42% de ser a esperada. No RCs a segregação observada foi de 1,7:1, e a esperada era de 1:1, com probabilidade de 25% de ser a esperada. Quando a resistência é transmitida pelos genes do citoplasma, apenas o genitor femi nino transmite a característica da resistência para a prole, como no caso das triazinas (Vargas et al., 2007VARGAS, L.; MORAES, R. M. A.; BERTO, C M. Herança da resistência de azevém (Lolium multiflorum) ao glyphosate. Planta Daninha, v. 25, n. 3, p. 567-571, 2007.). Comparada a transmissão via pólen, a característica herdada maternalmen te possui disseminação lenta na população (Mithila & Godar, 2013MITHILA, J.; GODAR, A S. Understanding genetics of herbicide resistance in weeds: implications for weed management. Adv. Crop Sci. Technol., v. 1, n. 4, p. 1-3, 2013.).

A geração F1, em ambos os cruzamentos, mostrou-se totalmente resistente ao herbi cida, evidenciando que a resistência é característica dominante transmitida here ditariamente tanto pelo genitor masculino quanto pelo feminino, ou seja, a resistência é transmitida por genes nucleares, sendo esses resultados confirmados pelos retrocruza mentos.

A F2 apresentou tendência para o padrão de segregação de 3:1 em ambos os cruzamen tos, indicando que a resistência é codificada por gene dominante. Esses resultados são semelhantes aos obtidos para diferentes espécies de plantas aos herbicidas inibidores da ALS (Boutsalis & Powles, 1995BOUTSALIS, P.; POWLES, S B. Inheritance and mechanism of resistance to herbicides inhibiting acetolactate synthase in Sonchus oleraceus L. Theor. Appl. Gen., v. 91, n. 2, p. 242-7, 1995.; Vargas et al., 2001VARGAS, L.; BORÉM, A.; SILVA, A. A Herança da resistência aos herbicidas inibidores da ALS em biótipos da planta daninha Euphorbia heterophylla. Planta Daninha, v. 19, n. 3, p. 331-336, 2001.; van Eerd et al., 2004VAN EERD, L. L. et al. Resistance to quinclorac and ALS-inhibitor herbicides in Galium spurium is conferred by two distinct genes. Weed Res., v. 44, n. 5, p. 355-365, 2004.). Para explicar a rápida evolução dos inibidores da ALS em populações de Solanum ptychanthum, gover nados por gene de resistência nuclear com dominância incompleta, estudos de simila ridade demonstraram que a pressão de seleção e o fluxo de genes contribuem para o rápido aumento da resistência (Ashigh et al., 2008). Outra característica que influencia na evo lução da resistência é o número de genes envolvidos: quando apenas um gene está envol vido, chamada de monogênica, a disseminação é rápida na população (Vargas et al., 2007VARGAS, L.; MORAES, R. M. A.; BERTO, C M. Herança da resistência de azevém (Lolium multiflorum) ao glyphosate. Planta Daninha, v. 25, n. 3, p. 567-571, 2007.).

Houve efeito significativo da interação entre biótipos (suscetível, heterozigoto e resistente) e doses do herbicida para todas as variáveis avaliadas (p ≤ 0,05) (Tabela 2). Os resultados evidenciam que as plantas homozigotas resistentes e as heterozigotas apresentam grau de resistência semelhante, pois até a máxima dose (7 g ha-1) não são controladas pelo herbicida. Já as plantas suscetíveis mostraram redução de acúmulo de MMSPA a partir da menor dose do herbicida (0,88 g ha-1). Estas plantas, quando pul verizadas com doses a partir da dose de registro (3,5 g ha-1), apresentam controle acima de 60%. Quando resistente ao glyphosate, a característica da resistência ao herbicida em azevém é codificada por gene nuclear semidominante, sendo o biótipo heterozigoto sensível ao herbicida (Vargas et al., 2007VARGAS, L.; MORAES, R. M. A.; BERTO, C M. Herança da resistência de azevém (Lolium multiflorum) ao glyphosate. Planta Daninha, v. 25, n. 3, p. 567-571, 2007.).

Tabela 2 -
Avaliação do controle e MMSPA (%), em função da aplicação de doses crescentes do herbicida iodosulfuron-methyl sodium em biótipos de azevém suscetível, heterozigoto (F1) e resistente, em casa de vegetação. Embrapa Trigo, Passo Fundo-RS, 2013

Aos 14 DAT, os biótipos diferiram apenas na dose de 0,88 g ha-1 do herbicida, com maior controle para o biótipo suscetível e menor para o heterozigoto (Tabela 2). Aos 21 DAT, obser vou-se diferença entre biótipos para todas as doses, sendo o maior controle para o biótipo suscetível, o menor, para o resistente, e o intermediário, para o heterozigoto. Contudo, aos 28 DAT, o controle e a redução da MMSPA foram maiores para o biótipo suscetível e não diferiram entre o resistente e o heterozigoto, comprovando a dominância para resistência das plantas F1.

Esperava-se controle maior para o biótipo suscetível, sendo necessário para isso maior tempo de avaliação. Os sintomas caracterís ticos dos inibidores de ALS são clorose do tecido meristemático, seguida de necrose; a morte da planta pode levar várias semanas. Dessa forma, evidencia-se que a resistência apre sentada pelos biótipos de azevém é codificada por gene nuclear com dominância completa. As características com herança do tipo nuclear têm disseminação rápida na população, via pólen, em espécies com alta taxa de fecun dação cruzada, como é o caso do azevém. Como exemplo, é possível citar o caso de L. rigidum, em que mais de 95% de 362 populações amostradas, na Austrália, possuem plantas resistentes aos inibidores da ALS ( Owen et al., 2014OWEN, M. J.; MARTINEZ, N. J.; POWLES, S. B Multiple herbicide-resistant Lolium rigidum (annual ryegrass) now dominates across the Western Australian grain belt. Weed Res., v. 54, n. 3, p. 314-324, 2014.). Quando o mecanismo de resistência envolvido ocorre pela mutação na enzima-alvo, a resistência é, pelo menos, parcialmente dominante, com gene de herança nuclear transmitido por ambos: sementes e pólen (Tranel & Whright, 2002TRANEL, P. J.; WRIGHT, T. R Resistance of weeds to ALS inhibiting herbicides: what have we learned? . Weed Sci., v. 50, n. 6, p. 700-712, 2002.). Além disso, na maioria dos casos, não são observados custos para o gene de resistência na ausência do herbicida, o que auxilia na compreensão do motivo da rápida evolução das populações resistentes a esses herbicidas (Yu et al., 2010YU, Q.; HAN, H.; VILA-AIUB, M. M AHAS herbicide resistance endowing mutations: effect on AHAS functionality and plant growth. J. Exper. Bot., v. 61, n. 14, p. 3925-3934, 2010.; Li et al., 2013LI, M. et al. ALS herbicide resistance mutations in Raphanus raphanistrum: evaluation of pleiotropic effects on vegetative growth and ALS activity. Pest Manag. Sci., v. 69, n. 6, p. 689-695, 2013.).

A resistência dos genótipos heterozigotos tem implicações práticas importantes em lavouras infestadas com essas plantas, pois o aumento da dose de iodosulfuron não resultará em controle e somente os biótipos suscetíveis serão controlados, selecionando a população dos genótipos resistentes e heterozigotos na área. Estratégias de manejo pró-ativas, como rotação de culturas e uso de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, devem com por as estratégias de manejo para retardar a evolução da resistência (Mithila & Godar, 2013MITHILA, J.; GODAR, A S. Understanding genetics of herbicide resistance in weeds: implications for weed management. Adv. Crop Sci. Technol., v. 1, n. 4, p. 1-3, 2013.). Quando a resistência já ocorreu no campo, medidas reativas devem ser tomadas para evitar a propagação da resistência, entre elas a redução do banco de sementes (Mithila & Godar, 2013MITHILA, J.; GODAR, A S. Understanding genetics of herbicide resistance in weeds: implications for weed management. Adv. Crop Sci. Technol., v. 1, n. 4, p. 1-3, 2013.). Na Austrália, onde o azevém tem ameaçado as lavouras para produção de trigo, programas de manejo visando à elimi nação de sementes resistentes durante a colheita da cultura têm apresentado benefícios significativos e servem como exemplo para o uso sustentável e continuado do controle químico (Wash & Powles, 2014WALSH, M. J.; POWLES, S B. Management of herbicide resistance in wheat cropping systems: learning from the Australian experience. Pestic. Manag. Sci., v. 70, n. 9, p. 1324-1328, 2014.).

Estratégias semelhantes devem ser ado tadas por produtores brasileiros, considerando que a resistência do azevém ao herbicida iodosulfuron é codificada por gene dominante nuclear com dominância completa e a evo lução da resistência ocorre rapidamente na população.

AGRADECIMENTOS

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela bolsa de estudos de doutorado.

LITERATURA CITADA

  • ASHIGH, J.; RAJCAN, I.; TARDIF, F. J Genetics of resistance to acetohydroxyacid synthase inhibitors in populations of eastern black nightshade (Solanum ptychanthum) from Ontario. Weed Sci., v. 56, n. 2, p. 210-215, 2008.
  • BOUTSALIS, P.; POWLES, S B. Inheritance and mechanism of resistance to herbicides inhibiting acetolactate synthase in Sonchus oleraceus L. Theor. Appl. Gen., v. 91, n. 2, p. 242-7, 1995.
  • DUGGLEBY, R. G.; MCCOURT, J. A.; GUDDAT, L. W Structure and mechanism of inhibition of plant acetohydroxyacid synthase. Plant Physiol. Biochem., v. 46, n. 3, p. 309-324, 2008.
  • HEAP, I. The international survey of herbicide resistant weeds. Disponível em: <http://www.weedscience.org>. Acesso em: 5 fev. 2014.
    » http://www.weedscience.org
  • IMAIZUMI, T.; WANG, G. X.; TOMINAGA, T. Inheritance of sulfonylurea resistance in Monochoria vaginalis. Weed Res., v. 48, n. 5, p. 448-454, 2008.
  • LI, M. et al. ALS herbicide resistance mutations in Raphanus raphanistrum: evaluation of pleiotropic effects on vegetative growth and ALS activity. Pest Manag. Sci., v. 69, n. 6, p. 689-695, 2013.
  • MITHILA, J.; GODAR, A S. Understanding genetics of herbicide resistance in weeds: implications for weed management. Adv. Crop Sci. Technol., v. 1, n. 4, p. 1-3, 2013.
  • NEVE, P.; VILA-AIUB, M. M.; ROUX, F. Evolutionary-thinking in agricultural weed management. New Physiol., v. 184, n. 4, p. 783-793, 2009.
  • OWEN, M. J.; MARTINEZ, N. J.; POWLES, S. B Multiple herbicide-resistant Lolium rigidum (annual ryegrass) now dominates across the Western Australian grain belt. Weed Res., v. 54, n. 3, p. 314-324, 2014.
  • POWLES, S. B.; YU, Q. Evolution in action: plants resistant to herbicides. Ann. Rev. Plant Biol., v. 61, n. s/n, p. 317-347, 2010.
  • PRESTON, C.; POWLES, S. B Evolution of herbicide resistance in weeds: initial frequency of target site-based resistance to acetolactate synthase-inhibiting herbicides in Lolium rigidum. Heredity, v. 88, n. 1, p. 8-13, 2002.
  • TRANEL, P. J.; WRIGHT, T. R Resistance of weeds to ALS inhibiting herbicides: what have we learned? . Weed Sci., v. 50, n. 6, p. 700-712, 2002.
  • VAN EERD, L. L. et al. Resistance to quinclorac and ALS-inhibitor herbicides in Galium spurium is conferred by two distinct genes. Weed Res., v. 44, n. 5, p. 355-365, 2004.
  • VARGAS, L.; BORÉM, A.; SILVA, A. A Herança da resistência aos herbicidas inibidores da ALS em biótipos da planta daninha Euphorbia heterophylla. Planta Daninha, v. 19, n. 3, p. 331-336, 2001.
  • VARGAS, L.; MORAES, R. M. A.; BERTO, C M. Herança da resistência de azevém (Lolium multiflorum) ao glyphosate. Planta Daninha, v. 25, n. 3, p. 567-571, 2007.
  • WALSH, M. J.; POWLES, S B. Management of herbicide resistance in wheat cropping systems: learning from the Australian experience. Pestic. Manag. Sci., v. 70, n. 9, p. 1324-1328, 2014.
  • WANG, G. X. et al. Inheritance of sulfonylurea resistance in a paddy weed, Monochoria korsakowii. J. Pestic. Sci., v. 28, n. 2, p. 212-214, 2003.
  • YU, Q.; HAN, H.; VILA-AIUB, M. M AHAS herbicide resistance endowing mutations: effect on AHAS functionality and plant growth. J. Exper. Bot., v. 61, n. 14, p. 3925-3934, 2010.
  • YU, Q.; POWLES, S. B Resistance to AHAS inhibitor herbicides: current understanding. Pest Manag. Sci., v. 70, n. 9, p. 1340-1350, 2014.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2015

Histórico

  • Recebido
    28 Set 2014
  • Aceito
    29 Jan 2015
Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas Departamento de Fitotecnia - DFT, Universidade Federal de Viçosa - UFV, 36570-000 - Viçosa-MG - Brasil, Tel./Fax::(+55 31) 3899-2611 - Viçosa - MG - Brazil
E-mail: rpdaninha@gmail.com