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Promoção de crescimento e indução de resistência à antracnose por Trichoderma spp. em pepineiro

Growth promotion and resistance induction against anthracnose in cucumber using Trichoderma spp

Resumos

O objetivo deste trabalho foi determinar o efeito de 60 isolados de Trichoderma e do produto Trichodermil na promoção do crescimento e na indução de resistência sistêmica à antracnose, causada por Colletotrichum lagenarium em pepineiro, além de identificar as espécies dos isolados de Trichoderma spp. efetivas como indutores de resistência. Nos experimentos de promoção de crescimento, os isolados de Trichoderma spp. foram submetidos à inoculação no substrato e, após 21 dias, a massa de matéria seca da parte aérea das plantas foi mensurada. Nos experimentos de indução de resistência, os isolados que promoveram crescimento foram introduzidos no substrato, na base das plantas, sete dias antes da inoculação de C. lagenarium nas folhas. O isolado que apresentou melhor desempenho foi avaliado quanto à redução dos sintomas de antracnose, em aplicações aos 3, 7 ou 14 dias antes da inoculação do patógeno, e quanto à capacidade de aumentar a atividade de peroxidase. Dezenove isolados e o Trichodermil promoveram o crescimento de pepineiro em até 100% e conferiram proteção à antracnose em até 88,39%. O isolado IB 31/06 reduziu a severidade da doença nos intervalos de tempo avaliados. Não foi observado aumento significativo de peroxidase, sete dias após o tratamento com IB 31/06, nas plantas tratadas e infectadas com o patógeno, em comparação às plantas infectadas. O sequenciamento gênico dos dezenove isolados permitiu a identificação de sete espécies distintas de Trichoderma.

Colletotrichum lagenarium; Cucumis sativus; antagonismo; biocontrole; indução de proteção sistêmica; peroxidase


The objective of this work was to determine the effect of 60 isolates of Trichoderma and the product Trichodermil on the growth promotion and on the induction of systemic resistance to anthracnose caused by Colletotrichum lagenarium in cucumber, and to identify isolates of Trichoderma spp. effective as resistance inductors. In the assays of growth promotion, the Trichoderma spp. isolates were inoculated in the substrate and, after 21 days, the shoot dry weight of the plants was measured. In the experiments of resistance induction, the isolates which promoted growth were inoculated in the substrate, at the base of the plants, seven days before C. lagenarium inoculation in the leaves. The isolate which showed the best performance was evaluated for anthracnose symptom reduction in applications at 3, 7 or 14 days before the pathogen inoculation, and for its ability of increasing the peroxidase activity. Nineteen isolates and Trichodermil promoted cucumber growth up to 100% and conferred plant protection against anthracnose up to 88.39%. The isolate IB 31/06 reduced the disease severity at the evaluated time intervals. No significant peroxidase increase was observed seven days after treatment with IB 31/06, in the plants treated and infected with the pathogen, in comparison to infected plants. Gene sequencing of the 19 isolates allowed for the identification of seven Trichoderma different species.

Colletotrichum lagenarium; Cucumis sativus; antagonism; biocontrol; induced systemic protection; peroxidase


FITOPATOLOGIA

Promoção de crescimento e indução de resistência à antracnose por Trichoderma spp. em pepineiro

Growth promotion and resistance induction against anthracnose in cucumber using Trichoderma spp.

Veronica Nogueira da Silva; Sylvia Dias Guzzo; Cleusa Maria Mantovanello Lucon; Ricardo Harakava

Instituto Biológico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, Laboratório de Bioquímica Fitopatológica,

Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, nº 1.252, Caixa Postal 12.898, CEP 04010-970 São Paulo, SP. E-mail: veronicans@gmail.com, guzzo@biologico.sp.gov.br, mantova@biologico.sp.gov.br, harakava@biologico.sp.gov.br

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi determinar o efeito de 60 isolados de Trichoderma e do produto Trichodermil na promoção do crescimento e na indução de resistência sistêmica à antracnose, causada por Colletotrichum lagenarium em pepineiro, além de identificar as espécies dos isolados de Trichoderma spp. efetivas como indutores de resistência. Nos experimentos de promoção de crescimento, os isolados de Trichoderma spp. foram submetidos à inoculação no substrato e, após 21 dias, a massa de matéria seca da parte aérea das plantas foi mensurada. Nos experimentos de indução de resistência, os isolados que promoveram crescimento foram introduzidos no substrato, na base das plantas, sete dias antes da inoculação de C. lagenarium nas folhas. O isolado que apresentou melhor desempenho foi avaliado quanto à redução dos sintomas de antracnose, em aplicações aos 3, 7 ou 14 dias antes da inoculação do patógeno, e quanto à capacidade de aumentar a atividade de peroxidase. Dezenove isolados e o Trichodermil promoveram o crescimento de pepineiro em até 100% e conferiram proteção à antracnose em até 88,39%. O isolado IB 31/06 reduziu a severidade da doença nos intervalos de tempo avaliados. Não foi observado aumento significativo de peroxidase, sete dias após o tratamento com IB 31/06, nas plantas tratadas e infectadas com o patógeno, em comparação às plantas infectadas. O sequenciamento gênico dos dezenove isolados permitiu a identificação de sete espécies distintas de Trichoderma.

Palavras-chave: Colletotrichum lagenarium, Cucumis sativus, antagonismo, biocontrole, indução de proteção sistêmica, peroxidase.

ABSTRACT

The objective of this work was to determine the effect of 60 isolates of Trichoderma and the product Trichodermil on the growth promotion and on the induction of systemic resistance to anthracnose caused by Colletotrichum lagenarium in cucumber, and to identify isolates of Trichoderma spp. effective as resistance inductors. In the assays of growth promotion, the Trichoderma spp. isolates were inoculated in the substrate and, after 21 days, the shoot dry weight of the plants was measured. In the experiments of resistance induction, the isolates which promoted growth were inoculated in the substrate, at the base of the plants, seven days before C. lagenarium inoculation in the leaves. The isolate which showed the best performance was evaluated for anthracnose symptom reduction in applications at 3, 7 or 14 days before the pathogen inoculation, and for its ability of increasing the peroxidase activity. Nineteen isolates and Trichodermil promoted cucumber growth up to 100% and conferred plant protection against anthracnose up to 88.39%. The isolate IB 31/06 reduced the disease severity at the evaluated time intervals. No significant peroxidase increase was observed seven days after treatment with IB 31/06, in the plants treated and infected with the pathogen, in comparison to infected plants. Gene sequencing of the 19 isolates allowed for the identification of seven Trichoderma different species.

Key words: Colletotrichum lagenarium, Cucumis sativus, antagonism, biocontrol, induced systemic protection, peroxidase.

Introdução

O fungo Colletotrichum lagenarium (Pass.) Ellis & Halsted, agente causal da antracnose em cucurbitáceas, apresenta como sinonímias Colletotrichum orbiculare (Berk. & Mont.) Arx. e Colletotrichum gloeosporioides f. sp. cucurbitae (Berk. & Mont.). A doença é importante pela frequência com que ocorre e pelos danos que causa à cultura do pepino e em outras cucurbitáceas (Agrios, 2004; Rios et al., 2004).

Os prejuízos causados pelo uso frequente de produtos químicos, para controlar doenças de plantas, motivam a busca de métodos alternativos de controle. Agentes de controle biológico como Trichoderma spp. e indutores de resistência bióticos e abióticos são alternativas ao uso de pesticidas (Perazzolli et al., 2008).

O potencial de Trichoderma spp., como agentes de biocontrole, é conhecido há mais de 60 anos, e muitos isolados são simbiontes de plantas e podem atuar no controle de fitopatógenos (Brotman et al., 2010). As espécies do gênero Trichoderma estão entre os antagonistas mais estudados, pois são encontradas naturalmente em quase todos os tipos de solo e agem contra fitopatógenos por diferentes mecanismos de ação como antibiose, micoparasitismo, produção de enzimas degradadoras de parede celular, competição por nutrientes e substrato, promoção do crescimento das plantas e indutores de resistência contra diversos patógenos, com efeitos benéficos para as plantas (Harman et al., 2004; Shoresh et al., 2005; Viterbo et al., 2005; Perazzolli et al., 2008; Vinale et al., 2008).

Em pepineiro (Cucumis sativus L.), Yedidia et al. (2003) verificaram que o isolado T-203 de Trichoderma asperellum, inoculado no sistema radicular, conferiu proteção sistêmica à mancha-angular causada por Pseudomonas syringae pv. lachrymans e reduziu em 80% os sintomas da doença. A proteção propiciada pelo agente de biocontrole foi associada ao acúmulo de mRNAs codificadores das enzimas de defesa fenilalanina amônia-liase e hidroperóxido liase. Raízes de pepineiro, tratadas com um isolado de T. harzianum, exibiram aumentos das atividades das enzimas quitinase, b-1,3-glucanase, celulase e peroxidase, observados até 72 horas após o tratamento (Yedidia et al., 2000).

Entretanto, a indução de resistência em plantas por espécies de Trichoderma tem sido pouco estudada, em comparação às pesquisas similares realizadas com rizobactérias promotoras de crescimento (Harman et al., 2004). No Brasil, os estudos relacionados à utilização de Trichoderma spp., no controle de doenças de plantas, têm focalizado efeitos diretos sobre fitopatógenos e não têm sido direcionados para o mecanismo indireto de ação que envolve a indução de resistência.

O objetivo deste trabalho foi determinar o efeito de 60 isolados de Trichoderma e do produto comercial Trichodermil na promoção do crescimento e na indução de resistência sistêmica à antracnose, causada por C. lagenarium em pepineiro, além de identificar as espécies dos isolados de Trichoderma spp. efetivas como indutores de resistência.

Material e Métodos

Os experimentos foram realizados no Laboratório de Bioquímica Fitopatológica do Instituto Biológico, São Paulo, SP, de janeiro de 2009 a fevereiro de 2011. Foram utilizadas sementes de pepino híbrido 'Safira' (Sakata Seed Sudamerica Ltda., Bragança Paulista, SP.), cultivadas em substratos comerciais Plantmax Hortaliças HT, (Eucatex Agro, Botucatu, SP) e Tropstrato Hortaliça 1, (VidaVerde, Mogi Mirim, SP) e mantidas em casa de vegetação, onde foram irrigadas por microaspersão automática duas vezes ao dia.

Para avaliar a capacidade de 60 isolados monospóricos de Trichoderma spp., da Coleção de Culturas do Laboratório de Bioquímica Fitopatológica, do Instituto Biológico, São Paulo, SP, na promoção de crescimento de plantas de pepino, foram preparados inicialmente os inóculos de Trichoderma spp. Para isto, dois discos de 9 mm de diâmetro de meio de cultura batata-dextrose-ágar (BDA), com as estruturas propagativas dos isolados, foram transferidos assepticamente para sacos de plástico que continham 30 g de arroz e 30 mL de água destilada previamente esterilizados. A seguir, foram incubados em câmara BOD a 25ºC, com fotoperíodo de 12 horas, por uma semana. Após esse período, os isolados de Trichoderma spp. foram introduzidos, separadamente, no substrato comercial Plantmax Hortaliças HT, pela adição de arroz colonizado a 2% (peso:volume). O substrato Plantmax HT foi infestado, separadamente, por meio da adição de 30 g de arroz colonizado pelos isolados de Trichoderma spp. (em média 2,4 x 109 UFC g-1) a 1.500 mL de substrato e 30 mL de água destilada. No tratamento controle, apenas arroz comercial esterilizado foi adicionado ao substrato. A mistura foi incubada por uma semana à temperatura ambiente e, em seguida, as sementes foram semeadas no substrato infestado.

O produto Trichodermil SC (Itaforte BioProdutos, Itapetininga, SP), formulado com Trichoderma harzianum (IT 13/06), concentração mínima de 2x10¹² L-1 de conídios viáveis, foi aplicado ao substrato conforme indicações do fabricante. Alíquotas de um mililitro de suspensão aquosa do produto à concentração de 0,1% (v/v) foram adicionadas a cada 250 mL de substrato.

As mudas foram mantidas em casa de vegetação até 21 dias de idade, quando a parte aérea das plantas foi seca em estufa a 65–70ºC até obtenção de massa constante. Os experimentos foram conduzidos em delineamento inteiramente casualizado, com 25 repetições, e cada repetição foi constituída de uma planta; avaliou-se a massa de matéria seca da parte aérea das plantas de pepino (MMS). A massa do sistema radicular não foi avaliada, em razão do grande número de isolados de Trichoderma spp., testados nos experimentos de promoção de crescimento de pepino. Optou-se pela medida da parte aérea, que reflete o bom desenvolvimento do sistema radicular (Björkman et al., 1998).

Os 60 isolados foram divididos aleatoriamente em dois grupos de 30 e avaliados em dois experimentos por período, repetidos três vezes, no total de seis experimentos, com cinco repetições de cinco plantas cada. Os primeiros dois experimentos foram realizados em janeiro e fevereiro de 2009, para cada grupo de 30 isolados. O segundo grupo de dois experimentos foi conduzido em julho e agosto de 2009, e o terceiro em novembro e dezembro de 2009. Nos experimentos, as plantas foram irrigadas por microaspersão automática, duas vezes ao dia, por 5 a 7 min, durante o inverno e verão, respectivamente, e mantidas em casa de vegetação à temperatura mínima média de 14,4ºC e máxima de 30,8ºC, de acordo com a época do ano em que os experimentos foram realizados. O efeito do Trichodermil na promoção de crescimento foi avaliado no experimento realizado em dezembro de 2009.

Para o experimento de indução de resistência sistêmica à antracnose em pepineiro, foram utilizados 19 isolados de Trichoderma spp., que aumentaram significativamente a MMS em pelo menos um dos experimentos de promoção de crescimento realizados. Os grãos de arroz colonizados por Trichoderma spp., preparados conforme metodologia já descrita, foram introduzidos no substrato de crescimento Tropstrato Hortaliça 1 a 2% (peso:volume), com plantas de pepino com 14 dias de idade. A concentração de Trichoderma spp. utilizada no experimento foi determinada pela quantificação do número de conídios, por meio de diluição seriada de amostras de 1 g de arroz colonizado, com cada um dos isolados, em 9 mL de solução salina a 0,9%, e contagem subsequente dos conídios em microscópio ótico. Foram utilizadas nos experimentos concentrações de 9 a 71x108 de conídios por grama de arroz colonizado. Como controle, foi inserido no substrato o arroz comercial sem Trichoderma spp.

Após sete dias, as primeiras e segundas folhas verdadeiras das plantas foram infectadas por aspersão, até o ponto de escorrimento, com 5 mL de suspensão de esporos de C. lagenarium, por planta, à concentração de 1x105 mL-1 de conídios. A suspensão foi preparada a partir da cultura do patógeno em meio aveia, mantida por cinco dias a 25ºC e em fotoperíodo de 12 horas. As plantas infectadas foram mantidas por 72 horas em câmara de crescimento a ±24°C, com umidade relativa (UR) superior a 90%, em fotoperíodo de 12 horas e, em seguida, permaneceram na mesma câmara, sem umidificação adicional até o aparecimento dos sintomas. Empregou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado, tendo-se utilizado dez plantas por tratamento. A severidade da antracnose foi avaliada nove dias após a inoculação do patógeno, pela contagem do número de lesões por folha em cada planta, de acordo com Kuć & Richmond (1977). A proteção foi quantificada como redução da severidade da doença e expressa como percentagem do controle.

A concentração e a viabilidade de conídios de Trichoderma spp. e do Trichodermil, utilizados no experimento de indução de resistência, foram determinadas ao microscópio óptico (250x), com auxílio da câmara de Neubauer. Foram avaliados 100 conídios por repetição (quatro repetições por tratamento), entre germinados e não germinados, presentes na suspensão 12 horas após o plaqueamento em meio BDA.

Para avaliar o efeito do intervalo de tempo entre a infestação com Trichoderma sp. e a inoculação de C. lagenarium nas plantas, na redução da severidade de doença, utilizou-se o isolado IB 31/06. Plantas de pepino com 14 dias de idade foram tratadas com esse isolado de Trichoderma, introduzido diretamente no substrato de crescimento, conforme metodologia anterior, aos 3, 7 ou 14 dias antes da inoculação. A inoculação de C. lagenarium (1x105 mL-1 de conídios) foi feita por meio da aspersão de 5 mL de suspensão sobre as folhas verdadeiras de pepineiro, por planta. Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado, com dez plantas por tratamento. A severidade da antracnose foi avaliada nove dias após a inoculação do patógeno, conforme Kuć & Richmond (1977).

Para a quantificação da atividade da peroxidase por miligrama de proteína total foram obtidos os extratos foliares de plantas de pepino, após a realização dos tratamentos por: pulverização de água, aos 7 e 14 dias antes da extração (controle 7 dias e controle 14 dias); tratamento apenas com Trichoderma sp. IB 31/06, aos sete dias (IB 31/06 7 dias) e aos 14 dias (IB 31/06 14 dias), antes da extração; tratamento com Trichoderma sp., aos 7 dias antes da inoculação de C. lagenarium (IB 31/06 + C. lagenarium); e inoculação apenas do patógeno (C. lagenarium), aos 7 dias antes da extração. As extrações – três por tratamento – foram realizadas em amostras de 1 g de folhas, conforme Irving & Kuć (1990). A quantificação de proteínas nos extratos vegetais foi realizada pelo método de Bradford (1976). A atividade da enzima peroxidase de cada extrato vegetal foi determinada a 30°C, em espectrofotômetro a 470 nm, pela medida da conversão do guaiacol em tetraguaiacol na presença de peróxido de hidrogênio (Lusso & Pascholati, 1999). Após três determinações para cada extrato foliar, foi realizado o cálculo da diferença entre a absorbância final e a inicial, e a atividade de peroxidase foi expressa como atividade específica em unidades de absorbância por minuto por miligrama de proteína.

Os 19 isolados de Trichoderma spp., previamente selecionados nos experimentos de promoção de crescimento e avaliados nos experimentos de indução de resistência, foram submetidos ao sequenciamento gênico para a identificação das espécies. A extração de DNA foi realizada de acordo com Murray & Thompson (1980) e, para a reação em cadeia da polimerase (PCR), foram utilizados os pares de iniciadores ITS 1 (5' TCCGTWGGTGAACCWGC 3') e ITS 4 (5' TCCTCCGCTTATTGATATGC 3'), que amplificam a região espaçadora entre os genes ribossomais 18S e 26S (White et al., 1990). Os fragmentos de DNA amplificados foram purificados e submetidos à reação de sequenciamento com o reagente Big Dye Terminator 3.1 (Applied Biosystems, Foster City, CA, EUA), pelo método de terminação de cadeia (Sanger et al., 1977), e analisados em sequenciador automático ABI 377 (Applied Biosystems, Foster City, CA, EUA). As sequências de nucleotídeos foram submetidas aos programas TrichoBLAST e TrichOKEY, disponíveis em International Subcommission on Trichoderma and Hypocrea Taxonomy (2011), que permitem realizar a identificação molecular de fungos do gênero Trichoderma, por meio da comparação com sequências de espécies "vouchers" (Druzhinina et al., 2005; Kopchinskiy et al., 2005; Nagy et al., 2007).

Todos os experimentos foram repetidos três vezes. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e comparados pelo teste de Tukey, a 1% de probabilidade, com o Assistat, versão 7.5 Beta (Silva & Azevedo, 2006).

Resultados e Discussão

No primeiro grupo de experimentos, realizados em janeiro e fevereiro de 2009, as linhagens que proporcio-naram maior aumento na massa de matéria seca (MMS) e diferiram significativamente dos respectivos controles foram: IB 15/06, IB 22/08, IB 31/06, IB 32/06, IB 34/08, IB 38/11 e IB 47/05, com valores entre 47,83 e 86,90% (Tabelas 1 e 2). Na segunda repetição dos experimentos, realizada em julho e agosto de 2009, o maior aumento na MMS foi obtido com os isolados: IB 01/03, IB 01/13, IB 04/08, IB 07/09, IB 17/07, IB 28/07, IB 31/06, IB 34/08 e IB 42/03, com valores entre 52,88 e 100%. Na terceira repetição dos experimentos, realizada em novembro e dezembro de 2009, os isolados que mais aumentaram a MMS das plantas, tendo diferido dos respectivos controles, foram: IB 01/03, IB 15/06, IB 18/13, IB 34/01, IB 37/01, IB 46/11 e IB 48/23, com incrementos entre 43,37 e 89,83%. Além disso, o produto Trichodermil, formulado com a linhagem IT 13/06, promoveu aumento de 74,58% na MMS da parte aérea das plantas de pepino. Com a realização dos experimentos, foram observados diferentes incrementos na MMS das plantas de pepino, em cada grupo de experimentos, e as plantas tratadas com os isolados IB 01/03, IB 15/06, IB 31/06 e IB 34/08 apresentaram aumentos significativos da MMS em dois dos três grupos de experimentos realizados. A variabilidade do efeito dos isolados no crescimento das plantas pode estar relacionada à realização dos experimentos em diferentes períodos do ano. Segundo Akrami et al. (2011), vários fatores podem interferir na eficiência dos agentes benéficos, entre eles os abióticos, principalmente a temperatura e a umidade, que são consideradas cruciais para garantir o bom desempenho dos isolados de Trichoderma spp.

Segundo Brotman et al. (2010), espécies de Trichoderma spp. podem promover aumentos de até 300% no crescimento de plantas. Os resultados do presente trabalho corroboram os de Yedidia et al. (2001), que avaliaram o efeito de T. harzianum sobre o crescimento de pepineiro e observaram aumento significativo de 80% na MMS da parte aérea das plantas. No experimento de indução de resistência em pepineiro, todos os isolados de Trichoderma, introduzidos no substrato de crescimento sete dias antes da inoculação de C. lagenarium nas folhas das plantas, reduziram significativamente os sintomas da doença e conferiram proteção sistêmica contra a antracnose de 56,36 a 88,39% (Tabela 3). Os isolados que mais se destacaram foram: IB 01/03, IB 01/13, IB 07/09, IB 31/06, IB 34/08 e IB 37/01, que conferiram proteção acima de 83%. Além disso, plantas tratadas com o produto Trichodermil (IT 13/06) também apresentaram redução significativa dos sintomas de antracnose, em comparação ao controle não tratado.

Os isolados de Trichoderma spp. colonizam a epiderme e as células do córtex das raízes e, consequentemente, ativam vias de sinalização, desencadeando respostas de defesa nas plantas (Brotman et al., 2010). Em experimento realizado em pepineiro, tratado com T. asperellum, os sintomas da doença causada por P. syringae pv. lachrymans foram reduzidos em 80%, em comparação às folhas não tratadas. De acordo com os autores, a separação espacial entre o tratamento com Trichoderma no solo e a inoculação do patógeno nas folhas, que resultou na redução da mancha-angular nas folhas, evidenciou a ocorrência de indução de resistência sistêmica nesse patossistema (Yedidia et al., 2003). Segundo Segarra et al. (2009), em estudos realizados em Arabdopsis thaliana, com o isolado T-34 de T. asperellum para induzir resistência contra P. syringae pv. tomato, foi observado que as plantas tratadas apresentaram menos sintomas de doença do que as plantas controle.

Os conídios de Trichoderma spp., presentes nos grãos de arroz, foram quantificados no início dos experimentos de indução de resistência. Observou-se que, entre os 19 isolados avaliados, a quantidade de conídios por grama de arroz colonizado variou de 1,4x109 (IB 07/09 e IB 15/06) a 5,3x109 (IB 34/08), enquanto o número médio de conídios por mililitro do produto comercial foi de 3,5x109 (IT 13/06). A percentagem de conídios germinados variou entre 46,9% (IB 37/01) e 89,9% (IB 31/06), o que confirma a viabilidade dos conídios presentes no arroz colonizado. Não foi observada correlação direta entre a viabilidade dos isolados e a capacidade de controlar a antracnose.

Constatou-se que o isolado IB 31/06 conferiu proteção significativa contra a antracnose, em todos os intervalos de tempo avaliados (Tabela 4). É importante ressaltar que a aplicação do isolado, apenas três dias antes da inoculação do patógeno nas plantas, reduziu significativamente os sintomas da antracnose. Isso indica que o tratamento prévio com Trichoderma pode controlar em poucos dias a doença, embora se tenha observado um aumento considerável na proteção da planta do terceiro para o sétimo dia.

Koike et al. (2001) também observaram um rápido efeito de Trichoderma em pepineiro, que induziu lignificação, produção de superóxido e proteção contra Colletotrichum orbiculare e P. syringae pv. lachrymans de 59 e 52%, respectivamente, quando aplicado nas raízes um dia antes da inoculação dos patógenos nas folhas. Yedidia et al. (2003) também constataram diminuição de 50% do diâmetro das lesões causadas por P. syringae pv. lachrymans em pepineiro, em decorrência do tratamento das raízes com T. asperellum dois dias antes da inoculação do patógeno. De acordo com Perazzoli et al. (2008), o tratamento de videira com T. harzianum, realizado um dia antes da inoculação de Plasmopara viticola para o controle do míldio, reduziu as lesões da doença em 38%. Entretanto, quando T. harzianum foi aplicado aos 7 ou 14 dias antes da inoculação do patógeno, as reduções foram de apenas 12 e 4%, respectivamente, e diferiram dos resultados observados no presente trabalho.

Não houve diferença significativa, quanto à ativação da enzima peroxidase, entre os tratamentos realizados com o isolado IB 31/06 após 7 ou 14 dias, em comparação ao tratamento controle (Figura 1). Apenas as plantas infectadas com C. lagenarium, previamente tratadas ou não com IB 31/06, apresentaram aumento significativo da atividade enzimática. No entanto, Yedidia et al. (1999) verificaram que o agente de biocontrole T. harzianum induz o aumento da atividade dessa enzima em plantas de pepino. De acordo com esses autores, a atividade de peroxidase aumentou após intervalos de tempo inferiores a sete dias, o que pode explicar o resultado obtido no presente trabalho, em que não foi observado aumento da atividade enzimática aos 7 e 14 dias após o tratamento das plantas com IB 31/06.


Dos 19 isolados de Trichoderma spp. que se destacaram como agentes promotores de crescimento e protegeram o pepineiro contra a antracnose, 11 foram identificados como T. harzianum (Tabela 5). Além dessa, foram identificadas, ainda, as espécies: T. asperellum (três isolados), T. atroviride (dois isolados), T. strigosum (um isolado), T. longibrachiatum (um isolado), T. koningiopsis ou T. ovalisporum (um isolado). Os isolados apresentaram similaridade superior a 98%, em comparação aos isolados "voucher" das bases de dados, para a região ITS, identificados pelo programa TrichOKEY. O isolado IB 48/23 foi identificado como T. ovalisporum ou T. koningiopsis. De acordo com Druzhinina et al. (2005), essas espécies não são distinguíveis pelo sequenciamento da região ITS, pois possuem sequências idênticas. Entre os isolados caracterizados como T. harzianum (IB 15/06, IB 17/07, IB 22/08, IB 31/06, IB 32/06, IB 34/01, IB 34/08, IB 38/11, IB 42/03, IB 46/11 e IB 47/05), o IB 31/06 se destacou na promoção de crescimento de plantas e na redução das lesões de antracnose em pepineiro. Além deste, os demais dez isolados, caracterizados como T. harzianum, também foram eficientes na proteção contra a antracnose, tendo reduzido a severidade da doença de 56,46 a 85,99% (IB 47/05 e IB 34/08). No presente trabalho, as espécies T. asperellum (IB 01/03, IB 01/13 e IB 04/08) e T. atroviride (IB 07/09 e IB 18/13) foram também identificadas (Tabela 5). Estes isolados também se destacaram como indutores de resistência contra C. lagenarium e conferiram proteção a pepineiro de 56,36 a 87,30% (Tabelas 3).

Conclusões

1. Dezenove isolados de Trichoderma spp. e o produto Trichodermil promovem o crescimento em plantas de pepino e induzem resistência à antracnose em pepineiro.

2. As espécies Trichoderma harzianum, T. asperellum, T. atroviride, T. strigosum, T. longibrachiatum, e T. koningiopsis ou T. ovalisporum são eficientes como promotores do crescimento de plantas e como indutores de resistência à antracnose em pepineiro.

Agradecimentos

À Empresa Itaforte Bioprodutos, pelo auxílio financeiro concedido e pelo fornecimento do produto comercial utilizado neste trabalho.

Recebido em 27 de abril de 2011 e aprovado em 24 de novembro de 2011

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Fev 2012
  • Data do Fascículo
    Dez 2011

Histórico

  • Recebido
    27 Abr 2011
  • Aceito
    24 Nov 2011
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