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A inserção da racionalidade ético-comunicativa na práxis empresarial: possibilidades e limites

Resumos

Este artigo discute a inserção da racionalidade ético-comunicativa na práxis empresarial como meio de mostrar, por um lado, sua existência no mundo vivido, por outro, seus limites e possibilidades no mundo empresarial sistêmico. A práxis ético-comunicativa pressupõe a existência ou a criação de um espaço público, isento de qualquer tipo de coação interna ou externa, no qual os indivíduos em interação podem livremente externar opiniões, sentimentos e descontentamentos, assim como questionar, inquirir, concordar, discordar, enfim argumentar, estabelecendo um verdadeiro diálogo. Esse fato assume relevância pois pode contribuir para a democratização das relações sociais dentro e fora das organizações, sendo, portanto, uma necessidade de caráter funcional, social e humana


This work discuss the insertion of communicative ethics rationality in the business praxis as a mean to show its existence in the lifeworld, and also its limits and possibilities in the business world system. This communicative ethics praxis assume as necessary the previous existence and/or the creation of a public space free of any type of internal or external coercion, where individuals in interaction may freely express their opinions, sentiments and dissatisfactions, as well as their right to question, to inquire, to agree or disagree, at last to argument so as to establish a true dialogue. This fact assumes relevance once it may contribute to democratization of internal and external social relations.


ARTIGOS ARTICLES

A inserção da racionalidade ético-comunicativa na práxis empresarial: possibilidades e limites

Reynaldo Josué de PaulaI

IProf. EAUFBA

RESUMO

Este artigo discute a inserção da racionalidade ético-comunicativa na práxis empresarial como meio de mostrar, por um lado, sua existência no mundo vivido, por outro, seus limites e possibilidades no mundo empresarial sistêmico. A práxis ético-comunicativa pressupõe a existência ou a criação de um espaço público, isento de qualquer tipo de coação interna ou externa, no qual os indivíduos em interação podem livremente externar opiniões, sentimentos e descontentamentos, assim como questionar, inquirir, concordar, discordar, enfim argumentar, estabelecendo um verdadeiro diálogo. Esse fato assume relevância pois pode contribuir para a democratização das relações sociais dentro e fora das organizações, sendo, portanto, uma necessidade de caráter funcional, social e humana

ABSTRACT

This work discuss the insertion of communicative ethics rationality in the business praxis as a mean to show its existence in the lifeworld, and also its limits and possibilities in the business world system. This communicative ethics praxis assume as necessary the previous existence and/or the creation of a public space free of any type of internal or external coercion, where individuals in interaction may freely express their opinions, sentiments and dissatisfactions, as well as their right to question, to inquire, to agree or disagree, at last to argument so as to establish a true dialogue. This fact assumes relevance once it may contribute to democratization of internal and external social relations.

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REFERÊNCIAS

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ZAJDSZNAJDER, Luciano. Ser ético. Rio de Janeiro: Gryphus, 1994.

1No sentido de reflexão sobre os padrões morais que norteiam o cotidiano organizacional. A ética será discutida posteriormente neste trabalho.

2Práxis, aqui, é entendida como as ações praticadas pelo agente econômico em todos os níveis hierárquicos da organização.

3No sentido da sensibilidade como capacidade norteadora dos indivíduos na reflexão a respeito das possíveis escolhas de rumo que podem dar à sua existência.

4Fato que mostrou-se plausível na empiria desenvolvida pelo autor na sua obra A Ética do Discurso: uma Experiência na Apaeb - Possibilidades e Limites, aprovada em 04 de novembro do corrente ano.

5Convém lembrar que, de acordo com Burrel & Morgan (1979), Habermas está classificado no paradigma humanista radical, o qual enfatiza a mudança radical nos padrões de dominação, a partir da potencialidade dos indivíduos de realizarem seu projeto de emancipação por meio da libertação dos constrangimentos que lhes são impostos pela ordem social, econômica, política e cultural.

6Para Ramos, a racionalidade substantiva e funcional é distinta, porém não excludente, coexistindo nas organizações em um continuum

7A racionalidade comunicativa pressupõe uma razão discursiva que é permeada pela crítica e constituída no processo de aceitação ou negação de pretensões de validez. Esse processo tem sua fundamentação no critério da prevalência da melhor argumentação.

8A filosofia da linguagem desponta, com bastante expressividade, a partir da primeira metade do século XX, tendo como expoentes: Frege, Russel e Wittgesntein. Esse último, com sua obra Tractus lógico-philosophicus (1921), aborda a análise lógica das proposições lingüísticas. Entretanto, ao voltar-se para a linguagem comum, ou seja, àquela falada no cotidiano pelos indivíduos, o filósofo elabora um dos aspectos mais importantes da sua obra, os Jogos de Linguagem. Nesta, a linguagem é vista como uma prática social, na qual o significado de termos e expressões lingüísticas tem sua gênese nessas interações. A obra de Wittgesntein subsidia Austin e seu aluno Searle, cujo trabalho de maior significado é a Teoria dos Atos de Fala, que se tornou o suporte da Pragmática Universal de Habermas.

9O consenso é possível utilizando-se a argumentação. Essa pode ser medida pelas razões que oferecer para ser aceita. Assim, não existe argumento que, pela sua simples apresentação, prescinda de uma prática discursiva para obtenção de um consenso. É bom lembrar, contudo que todo consenso é contingente, pois ele é sempre passível de ser questionado e, nesse caso, passa novamente pelo processo de validação.

10Democratização entendida como um processo no qual as ações, mediadas pelos atos de fala, são desenvolvidas mediante o entendimento com vistas ao alcance dos interesses individuais e coletivos, e que não tenha apenas uma configuração retórica, mas seja uma prática social na organização. É o processo em que, numa relação intersubjetiva, é mantida a autonomia de todos os indivíduos.

11Habermas (1980:118), no seu projeto teórico, apresenta uma moldura diferenciada do poder, ao enunciar que "Na base do poder está o contrato concluído entre sujeitos livres e iguais, graças ao qual as partes se obrigam mutuamente". De acordo com este pensamento, o poder emerge de relações simétricas entre os autores sociais, pelo consenso, visto que existe uma determinação em resolver os problemas pelo diálogo. Em outras palavras, é o poder comunal, que, no dizer de Carvalho (1998:10), significa, "uma categoria simétrica de poder, que ressalta o caráter benigno e comunal deste, e em que se acredita na capacidade do homem de realização coletiva e harmoniosa perseguindo objetivos consensualmente determinados [....]".

  • BURREL, G. & MORGAN, G. Sociological paradigms and organizational analysis London, Heinemann Educational Books, 1979.
  • CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2000 (A era da informação: economia, sociedade e cultura, vol.1).
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  • HABERMAS, Jurgen Teoría de la acción comunicativa Tomo I. Madrid: Taurus, 1988 a.
  • ______. Teoría de la acción comunicativa Tomo II. Madrid: Taurus, 1988 b.
  • _____. Escritos sobre moralidad y eticidad. Barcelona: Paidós, 1991 _____.
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  • ZAJDSZNAJDER, Luciano. Ser ético Rio de Janeiro: Gryphus, 1994.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Out 2014
  • Data do Fascículo
    Dez 2005
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