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A ira do homem branco: preditores do voto em Enéas e Bolsonaro

The anger of white men: predictors of votes for Enéas and Bolsonaro

La ira del hombre blanco: predictores del voto a Enéas y Bolsonaro

La colère de l'homme blanc : les pronostiqueurs du vote pour Enéas et Bolsonaro

Ao constatar diversas similaridades entre os candidatos presidenciais Enéas Carneiro e Jair Bolsonaro, neste artigo testo a hipótese de haver um perfil comum entre o eleitorado de ambos. Usando dados eleitorais e pesquisas de intenção de voto, descrevo como a distribuição territorial do voto em Enéas converge com a de Bolsonaro e como os preditores mais eficientes do voto em Enéas também preveem o voto em Bolsonaro. Os resultados apontam para um nicho pequeno, porém estável, no apoio às candidaturas de direita radical ao longo do tempo: homens jovens, brancos, com maior educação formal e renda. O artigo informa a discussão sobre a existência de um “núcleo duro” da direita radical no Brasil, apontando possíveis mecanismos relativos à frustração e à raiva de homens brancos jovens após a redemocratização.

Bolsonaro; eleições; Enéas Carneiro; núcleo duro bolsonarista; populismo de direita radical


Abstract

After observing similarities between the presidential candidates Enéas Carneiro and Jair Bolsonaro, in this article I test whether there is a common profile among their constituencies. I use electoral and survey data to show how the territorial distribution of Enéas’ vote converges with that of Bolsonaro and how the most efficient predictors of the vote for Enéas also predict the vote for Bolsonaro. The results point to a small but stable niche in support of radical right-wing candidates over time: young white men, with above average years of formal education and higher income. The study informs the debate about the existence of a core constituency of the radical right in Brazil, pointing to possible mechanisms related to the frustration and anger of young white men following redemocratization.

Bolsonaro; elections; Enéas Carneiro; Bolsonarism core constituency; radical right-wing populism

Resumen

Al observar varias similitudes entre los candidatos a presidente Enéas Carneiro y Jair Bolsonaro, la investigación pone a prueba la hipótesis de que exista un perfil común entre sus votantes. Utilizando datos electorales y de encuestas, yo muestro cómo la distribución territorial del voto por Enéas converge con la de Bolsonaro y cómo los predictores más eficientes del voto por Enéas también predicen el voto por Bolsonaro. Los resultados apuntan a un nicho pequeño pero estable en el apoyo a las candidaturas de la derecha radical a lo largo del tiempo: hombres jóvenes, blancos, con más años de educación formal y renta. El estudio informa el debate sobre la existencia de un “núcleo duro” de la derecha radical en Brasil, señalando posibles mecanismos relacionados con la frustración y la ira de los jóvenes blancos después de la redemocratización.

Bolsonaro; elecciones; Enéas Carneiro; núcleo duro de Bolsonaro; populismo de derecha radical

Résumé

En observant plusieurs similitudes entre les candidats à la présidentielle Enéas Carneiro et Jair Bolsonaro, la recherche teste l'hypothèse selon laquelle il existe un profil commun parmi leurs électeurs. À l’aide de données électorales et d’enquêtes, je montre comment la répartition territoriale du vote pour Enéas converge avec celle pour Bolsonaro et comment les pronostiqueurs les plus efficaces du vote pour Enéas prédisent également le vote pour Bolsonaro. Les résultats indiquent une niche petite mais stable, soutenant les candidatures de droite radicale au fil du temps: des hommes jeunes, blancs, avec plus d’années d’éducation formelle et de revenus. L’étude éclaire le débat sur l’existence d’un « noyau dur » de la droite radicale au Brésil, en pointant des mécanismes possibles liés à la frustration et à la colère des jeunes blancs après la démocratisation.

Bolsonaro; élections; Enéas Carneiro; noyau dur de Bolsonaro; populisme radical de droite

Introdução

A eleição de Jair Bolsonaro em 2018 representou uma ruptura não apenas com um ciclo de governos de esquerda, mas também dentro da direita brasileira. Até então, a direita no Brasil vinha se estruturando ao redor de blocos coesos liderados por partidos moderados e seculares (Hagopian; Gervasoni; Hunter, 2007Hunter, W. “The normalization of an anomaly: the workers' party in Brazil”. World Politics, vol. 59, nº 3, p. 440-475, 2007.; Power; Zucco, 2009Power, T. J.; Zucco, C. “Estimating ideology of Brazilian legislative parties, 1990-2005: a research communication”. Latin American Research Review, vol. 44, nº 1, p. 218-246, 2009.; Codato; Berlatto; Bolognesi, 2018; Medeiros, 2018Medeiros, J. “Regressão Democrática na América Latina: do ciclo político progressista e ao ciclo político neoliberal e autoritário”. Revista de Ciências Sociais: RCS, vol. 49, nº 1, p. 98-133, 2018.; Duque; Smith, 2019Duque, D.; Smith, A. E. “The Establishment Upside Down: A Year of Change in Brazil”. Revista de Ciencia Política, vol. 39, nº 2, 2019.; Borges, 2021). Em outras palavras, além de posicionar-se mais à direita em 2018, o eleitorado brasileiro também adotou uma nova direita, amparada nos elementos do populismo e da direita radical (Nicolau, 2020Nicolau, J. O Brasil dobrou à direita: Uma radiografia da eleição de Bolsonaro em 2018. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.; Santos; Tanscheit, 2020; Layton et al., 2021Layton, M. L., et al. “Demographic polarization and the rise of the far right: Brazil’s 2018 presidential election”. Research & Politics, vol. 8, nº 1, p. 2053168021990204, 2021.).

Embora existam debates acadêmicos em torno dos conceitos de populismo (Kaltwasser et al., 2017Kaltwasser, C., et al. (Orgs.). The Oxford Handbook of Populism. Oxford University Press, 2017.) e direita radical (Codato; Berlatto; Bolognesi, 2018), as definições mais usuais permitem reconhecer Bolsonaro como pertencente a ambas categorias. Uma classificação frequente de populismo se baseia na oposição discursiva entre a elite, ou establishment, e o povo (Mudde, 2004Mudde, C. “The populist zeitgeist”. Government and Opposition, vol. 39, nº 4, p. 541-63, 2004.; Brubaker, 2017Brubaker, R. “Why populism?”. Theory and Society, vol. 46, nº 5, p. 357-385, 2017.; Hawkins; Kaltwasser, 2017Hawkins, K. A.; Kaltwasser, C. R. “The ideational approach to populism”. Latin American Research Review, vol. 52, nº 4, 2017.; Casullo, 2019Casullo, M. E. How to become a leader: Identifying global repertoires for populist leadership. In: Stengel, F.A.; MacDonald, D. B.; Naber, D. (Eds.). Populism and World Politics: exploring inter - and transnational dimensions. Palgrave Macmillan, Cham, p. 55-72, 2019.; Padoan, 2020Padoan, E. Anti-Neoliberal Populisms in Comparative Perspective: A Latinamericanisation of Southern Europe?. Londres: Routledge, 2020.). Já a direita radical se define pelas atitudes antissistema, antipartido, por discursos de ódio e valores autoritários (Sartori, 1976Sartori, G. Parties and Party Systems: a framework for analysis. Berlin: ECPR Press, 1976.; Mudde, 2007Mudde, C. Populist Radical Right Parties in Europe. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.; Caiani; Carlotti; Padoan, 2021). Apesar de o populismo ter uma larga trajetória no Brasil e na América Latina, o tipo de populismo de Bolsonaro é inusual, no país e na região, por reproduzir com maior frequência as características dos partidos de direita radical europeus, como o racismo e o nacionalismo (Zanotti; Roberts, 2021Zanotti, L.; Roberts, K. M. “(Aún) la excepción y no la regla: La derecha populista radical en América Latina”. Revista Uruguaya de Ciencia Política, vol. 30, nº 1, p. 23-48, 2021.). O inesperado êxito desse apelo no Brasil traz à tona a questão do grau de enraizamento do eleitorado da direita radical, o que popularmente se entende por “núcleo duro” desse setor.

Afinal, quais são as principais características do eleitor mais fiel da direita radical, e quão significativo é esse segmento do eleitorado no Brasil? Pesquisas recentes apontam o eleitor de Bolsonaro em 2018 como motivado pelo antipetismo, por valores punitivistas, conservadores, religiosos e por preferências neoliberais (Rennó, 2020Rennó, L. "The Bolsonaro Voter: Issue Positions and Vote Choice in the 2018 Brazilian Presidential Elections". Latin American Politics and Society, vol. 62, nº 3, p. 1, 2020.). Essas características descrevem o apelo exercido sobre um grande público que não necessariamente se vê atraído especificamente pelo discurso autoritário que caracteriza a direita radical. Para estimar as características do eleitorado mais fiel à direita radical e discutir suas possíveis motivações, proponho uma análise para além de Bolsonaro, resgatando a figura de Enéas Carneiro.

Enéas foi o líder do Partido da Reedificação da Ordem Nacional, PRONA, desde a sua criação em 1989 até a dissolução em 2006. Foi também deputado federal por São Paulo, de 2003 a 2007, além de candidato à presidência da República em três pleitos, chegando a obter 7,4% dos votos em 1994. Conhecido por propor um programa para equipar o Brasil com armas atômicas e por ter uma personalidade política extravagante, Enéas passou despercebido por parte dos estudos sobre competição eleitoral no Brasil. Tampouco Bolsonaro foi entendido como uma liderança política relevante, antes de sua vitória na eleição de 2018.

Parte do desinteresse em relação aos resultados obtidos por Enéas se explica pela interpretação dos votos no candidato do PRONA como votos de protesto, ou seja, como votos que não representam adesão à plataforma radical do candidato. Contra essa ideia, neste artigo eu testo a hipótese de existir uma forte congruência entre o perfil do eleitor de Enéas e o de Bolsonaro. Os resultados indicam que algumas das raízes sociais da direita radical já estavam presentes desde a redemocratização, com muitas das características que reconhecemos hoje. Mais especificamente, a demanda por um discurso radical de direita é forte e consistente entre homens brancos jovens, com maior escolaridade e renda. Eu discuto esse apelo fazendo uso do conceito de cultural backlash (Inglehart; Norris, 2016Inglehart, R. F.; Norris, P. Trump, Brexit, and the rise of populism: Economic have-nots and cultural backlash. Cambridge: Cambridge University Press, 2016.).

O artigo se organiza do seguinte modo: primeiramente, eu reviso a literatura sobre o apelo da direita radical no Brasil, do ponto de vista da oferta e da demanda políticas. Em seguida, apresento os principais paralelismos ideológicos e performáticos entre Enéas e Bolsonaro. Na terceira parte, descrevo a metodologia que utilizei para testar a congruência entre ambos eleitorados. E, na quarta, apresento os resultados para, depois, fechar o artigo com uma breve discussão e algumas conclusões preliminares em função de uma agenda de pesquisa sobre o apelo da direita radical no Brasil.

Direita radical: oferta e demanda

Após a redemocratização, o sistema de partidos brasileiro ofereceu ao eleitor dois blocos coesos representando as opções de esquerda e direita, liderados pelo PT e pelo PSDB respectivamente (Borges, 2021). Pelo lado da direita, a hegemonia de partidos seculares liderados pelo PSDB deixou alternativas radicais à margem do processo (Codato; Berlatto; Bolognesi, 2018). Entretanto, essa configuração da oferta em torno de partidos programáticos não implica a ausência de apelos personalistas. Rennó e Cabello (2010)Rennó, L.; Cabello, A. “As bases do lulismo: a volta do personalismo, realinhamento ideológico ou não alinhamento?”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 25, nº 74, p. 39-60, 2010. sugerem que o apelo personalista sempre esteve presente no eleitorado, beneficiando, por exemplo, o PT, em razão da identificação forte de eleitores com Lula, o que Singer (2009)Singer, A. “Raízes sociais e ideológicas do lulismo”. Novos Estudos CEBRAP, 85, p. 83-102, 2009. conceituou como “lulismo” em contraposição ao petismo. Contudo, o sistema de partidos restringia o uso eficaz desse apelo apenas aos blocos partidários hegemônicos, dificultando a competição dos outsiders.

A crise desse sistema de partidos ao longo dos anos 2010 abriu espaço para uma candidatura externa ao eixo PT-PSDB (Borges, 2021), o que ajudou Bolsonaro no campo da oferta política. Tal como apontado por Codato, Berlatto e Bolognesi (2018) e Borges (2021), a crise do sistema de partidos representou uma oportunidade para partidos com outras características e fora da clivagem programática entre PT e PSDB. Borges chega a aventar a ideia de haver ocorrido uma “implosão” do sistema. Fica claro que se abriu espaço para partidos antissistema, com vínculos ideológicos com o libertarianismo, caracterizado pela negação do papel do Estado na geração de bem-estar social e por uma adesão radical à economia de mercado (Codato; Berlatto; Bolognesi, 2018).

No contexto dessa crise, a oferta de candidaturas de direita radical ganhou também sustentação ideológica a partir da maior expressão midiática dos chamados novos “intelectuais” de direita (Chaloub; Perlatto, 2016Chaloub, J.; Perlatto, F. “A nova direita Brasileira: ideias, retórica e prática política”. Insight Inteligência, vol. 19, nº 71, p. 25-41, 2016.; Cepêda, 2018Cepêda, V. A. “A Nova Direita no Brasil: contexto e matrizes conceituais”. Mediações-Revista de Ciências Sociais, Londrina, vol. 23, nº 2, p. 40-74, 2018.). Ademais, outros fatores conjunturais também beneficiaram a candidatura de Bolsonaro em 2018. Por exemplo, a maior exposição do candidato nos meios de comunicação após o atentado à faca que ele sofreu, e a interferência da Operação Lava Jato no sistema político (Nicolau, 2020Nicolau, J. O Brasil dobrou à direita: Uma radiografia da eleição de Bolsonaro em 2018. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.; Santos; Tanscheit, 2020). Esses fatores remontam ao argumento de Levitsky e Ziblatt (2018)Levitsky, S.; Ziblatt, D. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Editora Schwarcz-Companhia das Letras, 2018., que relacionam a emergência de líderes autoritários com os descuidos das elites em bloquear sua entrada no jogo político. Essa é também uma visão cara ao chamado elitismo democrático, teoria, segundo a qual, a estabilidade dos regimes competitivos depende, em última instância, da convergência das elites em salvaguardar as instituições democráticas (Best; Higley, 2010Best, H.; Higley, J. Democratic elitism: New theoretical and comparative perspectives. Londres: Brill, 2010.; López, 2013López, M. “Elite theory”. Sociopedia. Isa, p. 1-12, 2013. Disponível em: <https://www.isaportal.org/resources/resource/elite-theory/. Acesso em: 13 nov. 2023.
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).

Para além de facilidades no campo da oferta política, Bolsonaro contou com o descontentamento de setores relevantes da sociedade. Pelo lado da demanda política, a literatura descreve como os protestos de 2013 mostraram a receptividade de discursos de direita nas classes médias durante os governos petistas (Moraes et al., 2014Moraes, A., et al. Junho: potência das ruas e das redes. São Paulo: Friedrich-Ebert-Stiftung, 2014.; Hagopian, 2016Hagopian, F. “Delegative Democracy Revisited: Brazil's Accountability Paradox”. Journal of Democracy, vol. 27, nº 3, p. 119-128, 2016.; Avritzer, 2017Avritzer, L. “Participation in democratic Brazil: from popular hegemony and innovation to middle-class protest”. Opinião Pública, Campinas, vol. 23, nº 1, p. 43-59, 2017.; Fuks; Marques, 2018; Almeida, 2019Almeida, R. “Bolsonaro presidente: conservadorismo, evangelismo e a crise brasileira”. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, vol. 38, nº 1, p. 185-213, 2019.; Goldstein, 2019Goldstein, A. A. “The New Far-Right in Brazil and the Construction of a Right-Wing Order”. Latin American Perspectives, vol. 46, nº 4, p. 245-262, 2019.; Hunter; Power, 2019Hunter, W.; Power, T. “Bolsonaro and Brazil's illiberal backlash”. Journal of Democracy, vol. 30, nº 1, p. 68-82, 2019.; De Rezende Côrtes; De Almeida Oliveira, 2021).

Também no sentido da demanda política, Rennó (2020)Rennó, L. "The Bolsonaro Voter: Issue Positions and Vote Choice in the 2018 Brazilian Presidential Elections". Latin American Politics and Society, vol. 62, nº 3, p. 1, 2020. aponta como o voto em Bolsonaro em 2018 está associado ao antipetismo, aos valores punitivistas e à religiosidade. O autor interpreta esses achados no marco da reação cultural (cultural backlash), o que novamente coloca o bolsonarismo mais próximo das experiências de populismo radical de direita fora da América Latina. Na Europa e nos Estados Unidos, Inglehart e Norris (2016)Inglehart, R. F.; Norris, P. Trump, Brexit, and the rise of populism: Economic have-nots and cultural backlash. Cambridge: Cambridge University Press, 2016. identificaram como a direita radical se tornou a alternativa de cidadãos frustrados com as mudanças culturais que levaram a uma nova hegemonia de valores pós-materialistas de igualdade social e autonomia pessoal. Essa frustração “cultural” está ligada também a efeitos econômicos da globalização e das políticas neoliberais de desmantelamento do Estado de bem-estar, que vulnerabilizam a classe trabalhadora, tradicionalmente composta por homens brancos naqueles países, abrindo caminho para o racismo e a xenofobia dos discursos antissistema da direita radical.

No Brasil, o campo da pesquisa política tem sido menos preciso em apontar o nicho mais robusto de apoio à direita radical, o chamado “núcleo duro”. Kalil (2018)Kalil, I. O. “Quem são e no que acreditam os eleitores de Jair Bolsonaro?”. Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, São Paulo, 2018., por exemplo, descreve 16 tipos diferentes de apoiadores em 2018, provindos de diversos setores da sociedade. Já Pinheiro-Machado e Scaldo (2018) focam sua análise nos jovens de periferia, apoiadores improváveis da direita, porém frustrados com a reversão da ascensão social que experimentaram durante os governos petistas. Esses jovens foram da esperança ao ódio, relatam as autoras, e sua migração do petismo ao bolsonarismo se explica em parte por conta do apelo dos discursos políticos embasados nesses dois sentimentos. Essa perspectiva também remete ao conceito de cultural backlash.

As diferentes causas apontadas pela literatura para a vitória de Bolsonaro não constituem necessariamente explicações rivais. Muitos dos fatores discutidos parecem estar de algum modo encadeados, caracterizando um processo que explica a eleição de Bolsonaro. Enquanto o marco de crise do sistema de partidos se mostra como uma condição importante para explicar a popularidade de uma candidatura de direita radical, o papel da Lava Jato, dos movimentos de direita por fora dos partidos e, finalmente, de fatores contingenciais, como a facada, adicionam vantagens cumulativas que, juntas, explicam como Bolsonaro conseguiu se impor frente ao PT e ao PSDB.

Embora esse processo ocorra durante os anos 2010, o foco nos elementos que levaram à eleição de Bolsonaro esconde a base social do radicalismo de direita, para além das excepcionalidades vividas nesse período. Para estimar as características da base social mais responsiva à direita radical, é pertinente observar o comportamento eleitoral anterior à emergência do bolsonarismo.

Enéas: a direita radical antes de Bolsonaro

Embora a eleição de um projeto populista de direita radical tenha sido um fato inédito até 2018 no Brasil, é incorreto caracterizar Bolsonaro como o primeiro candidato presidencial com essas características. A literatura sobre política brasileira negligencia as campanhas presidenciais de Enéas Carneiro (exceções são Lopes, 2016Lopes, G. E. G. “Enéas Carneiro e o PRONA: nacionalismo e conservadorismo no Brasil pós-ditaduta militar”. Dia-Logos: Revista dos Alunos de Pós-Graduação em História, vol. 10, nº 2, p. 11-20, 2016. Disponível em: < https://www.e-publicacoes.uerj.br/dia-logos/article/view/28682. Acesso em: 13 nov. 2023.
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; Neto, 2016a, 2016b, 2018, 2020). Este foi um candidato de direita radical, nacionalista e populista que advogou abertamente por um governo autoritário, fiel aos valores tradicionais e promotor da disciplina.

O paralelismo entre os candidatos Enéas e Bolsonaro é bastante significativo. Recuperando a classificação de Coppedge (1998)Coppedge, M. “The dynamic diversity of Latin American Party Systems”. Party Politics, vol. 4, nº 4, p. 547-568, 1998. para distinguir a oferta de plataformas políticas de direita entre partidos confessionais, personalistas e seculares, Codato, Berlatto e Bolognesi (2018) mostram como o PRONA, de Enéas, e o PSL, de Bolsonaro em 2018, apresentaram projetos personalistas à margem dos demais partidos de direita. O PRONA e o PSL estiveram isolados como únicos representantes da direita radical, como ilustrado pelos dados do projeto V-Party, ligado ao projeto V-Dem2 2 O Projeto V-Dem confere escores anuais aos países a respeito às diferentes dimensões da vida política, baseado em uma enquete com especialistas. Dados e metodologia disponíveis em: <https://www.v-dem.net/en/data/data/v-party-dataset/. Acesso em: 10 nov. 2023. (Figura 1).

Figura 1
: Distribuição ideológica dos partidos no Brasil

Nota: O Índice Democrático-Autoritário se refere ao índice de liberalismo.


Os dados de V-Party ilustram como o PRONA e o PSL ocupam o mesmo lugar no espaço ideológico dos partidos brasileiros. Ambos são partidos de direita com vieses autoritário e populista. Os outros partidos de direita no Brasil, dentre eles os partidos com origem na ARENA, como PFL e PPB, não apresentavam uma alternativa radical, autoritária ou antissistema ao eleitor. Pelo contrário, esses partidos se tornaram sócios dos governos de centro-direita de Itamar Franco e de Fernando Henrique Cardoso, chegando a apoiar políticas tradicionais da esquerda como a reforma agrária nos anos 1990 (Carvalho Filho, 1997) e, com exceção do PFL (rebatizado DEM), se aliaram também aos governos do PT. O PRONA nos anos 1990 e o PSL em 2018, por outro lado, se colocaram em clara oposição aos demais partidos, amparados em discursos antipolítica e antipartidos. Em um debate presidencial na Associação Brasileira de Imprensa (ABI)3 3 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Cspq952bv0Y. Acesso em: 10 nov. 2023 , por exemplo, um jornalista perguntou a Enéas se ele era fascista, ao que a resposta foi a seguinte:

O senhor diz que eu sou autoritário. Eu detesto esta situação em que a nação brasileira se encontra, de absoluta desordem, em que não se respeita coisa nenhuma, em que os senhores da imprensa têm o poder total – como o senhor acabou de demonstrar agora me interrompendo, em que os valores cívicos estão sendo todos lançados no ralo, em que não há mais na nação nenhum sentimento de respeito à família. Porque no horário nobre passam cenas de lascívia, de sexo quase explícito, com a conivência dos diretores. E ninguém se preocupa em perguntar para um pai de família se ele gosta disso. Isso é liberdade absoluta. Então é contra tudo isso que eu ponho o meu discurso, a minha alocução… As suas expressões traduzem apenas a sua incompreensão de um sentimento que eu represento, de uma insatisfação coletiva, na nação, para com toda esta farsa que existe (Enéas Carneiro em debate na ABI em 25 de julho de 1994).

Na resposta de Enéas se destaca a raiva pelo que ele descreve como ataques à família, assim como a crítica ao modo como a sexualidade é retratada nos meios de comunicação. Em campanha, Enéas denunciava uma “promoção do homossexualismo” que, em conjunto com o debate sobre a legalização do aborto, formavam, a seu ver, os elementos de uma conspiração para reduzir a natalidade no Brasil, impedindo assim que o país obtivesse o efetivo necessário para defender as riquezas nacionais da cobiça “alienígena”, termo que o político mobilizava para se referir ao estrangeiro (ver Neto 2016a, 2016b). Também o candidato Bolsonaro, em 2018, fez ênfase no ataque ao setor cultural e aos meios de comunicação acusando-os de propagar a “ideologia de gênero” e o homossexualismo, propondo-os como ameaças à família (De Aguiar; Pereira, 2019).

Bolsonaro e Enéas se lançaram como outsiders políticos que desprezavam o establishment, com uma abordagem militarista e que prometiam restaurar a ordem. O paralelismo com Enéas foi muitas vezes assumido por Bolsonaro, que já expressou publicamente sua admiração pelo líder do PRONA, chegando a adotar componentes da agenda dele. Por exemplo, Bolsonaro adotou a narrativa de Enéas sobre o interesse estrangeiro nas riquezas minerais da Amazônia.

Em outro ponto de convergência, Enéas, tal qual Bolsonaro depois dele, denunciava o estado da educação pública, atribuindo-o a interesses escusos e propondo a reverência ao hino e a outros símbolos nacionais como chave para salvar as crianças dos planos de malévolas elites internacionais e de elites nacionais a elas associadas (ver Neto, 2016a, 2016b). Ambos os discursos seguiram à risca uma narrativa política estruturada na oposição entre um povo moralmente superior e uma elite amoral que lhe impõe privações, como é típico da liderança populista.

Esses aspectos-chave dos discursos de Bolsonaro e Enéas evidenciam o paralelismo entre ambos, o que se reflete também na incorporação da imagem do segundo no meio bolsonarista. Não é incomum encontrar material gráfico bolsonarista com os dizeres “Enéas tinha razão”, e há alguns canais em redes sociais cujo mote exclusivo é a promoção da figura de Enéas e sua associação ao campo da nova direita, como o canal de YouTube “TV Enéas”. Esses materiais mostram que, ao menos, parte dos seguidores de Bolsonaro da atualidade reconhece a continuidade que existe entre os dois líderes.

Entretanto, para grande parte da opinião pública, e certamente também para a comunidade acadêmica nos anos 1990, Enéas não passava de um político caricato e inofensivo. Enquanto Bolsonaro conseguiu reunir apoios entre a elite econômica, nas filas militares, nas polícias estaduais e em máfias, Enéas se lançou à presidência sem apoios organizados em 1989, 1994 e 1998. Concorrendo em um período anterior à popularização da internet e das redes sociais, Enéas contava apenas com poucos segundos no horário eleitoral gratuito de rádio e TV. Ao som da quinta sinfonia de Beethoven, o candidato usava esse tempo para bradar ao eleitor de modo exasperado a frase “meu nome é Enéas!”. Esse bordão e a estética kitsch do PRONA lhe renderam notoriedade como um candidato folclórico. Assim como no caso de Bolsonaro4 4 Sobre Bolsonaro e espetáculo, ver Cioccari; Simonetta (2018). , sua raiva e ideias desconcertantes faziam de Enéas um fenômeno midiático, sendo muitas vezes convidado para talk shows humorísticos e programas sensacionalistas de TV. Enéas tirou proveito dessa exposição para disseminar uma mensagem radical de direita.

Entretanto, Enéas não procurou ou não conseguiu estabelecer meios alternativos de comunicação com seus potenciais eleitores, como fez Bolsonaro posteriormente. Enquanto o candidato do PSL apostou em uma campanha com forte atuação nas redes sociais, inexistentes na década de 1990, o candidato do PRONA jogou no mesmo terreno dos candidatos de partidos mais institucionalizados, a saber o horário eleitoral gratuito, as entrevistas na TV aberta e os debates presidenciais. Outra diferença importante entre Enéas e Bolsonaro foi a relação deste último com a religião. Bolsonaro conseguiu associar a sua campanha à plataforma política de líderes religiosos, em especial os neopentecostais, enquanto a agenda de costumes de Enéas passou ao largo de clivagens religiosas. A adesão de importantes Igrejas evangélicas à campanha de Bolsonaro não só lhe concedeu um bom substituto para a falta de estrutura partidária, como colaborou para a sua apresentação como um candidato popular.

Sem essas vantagens, era esperado que Enéas não tivesse tido o nível de competitividade da campanha de Bolsonaro. De fato, a performance e o apelo eleitorais de Enéas foram ofuscados, nos anos 1990, pela centralidade do PT e do PSDB. Sua primeira campanha presidencial ocorreu em 1989, ano de fundação do PRONA. Na ocasião, o eleitor de direita estava bem sortido de candidatos, podendo optar por diferentes nomes ligados ao regime militar, tais como Paulo Maluf, Aureliano Chaves, e o ganhador daquela contenda, Fernando Collor de Mello, cujo estilo populista “clássico” foi comparado ao de Alberto Fujimori, no Peru, e ao de Carlos Menem, na Argentina (Weyland, 1993Weyland, K. “The rise and fall of president Collor and its impact on Brazilian democracy”. Journal of Interamerican Studies and World Affairs, vol. 35, nº 1, p. 1-37, 1993.). Ainda assim, Enéas obteve 0,5% dos votos. Já mais conhecido entre os eleitores, Enéas ostentou um flamante terceiro lugar nas eleições de 1994, obtendo 7,4% do total de votos e chegando à frente de figuras fortes da política brasileira, como Leonel Brizola (PDT) e Orestes Quércia (PMDB). A última corrida presidencial de Enéas ocorreu em 1998, quando sua candidatura recebeu pouco mais de 2% dos votos, em um pleito em que Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, se reelegeu com facilidade à frente de uma coalizão de centro-direita.

Mesmo sendo um político do Rio de Janeiro, como também o é Bolsonaro, Enéas abriu uma nova frente eleitoral candidatando-se à prefeitura de São Paulo em 2000, ocasião em que obteve 3% dos votos. A relativa má performance eleitoral de Enéas e o tom involuntariamente humorístico de sua campanha ajudaram a cobertura jornalística a desconsiderar o candidato como representante de um nicho eleitoral bem constituído. Em vez de reconhecer o apelo que exerceu sobre parte do eleitorado, foi mais comum assumir o voto em Enéas como uma forma de protesto, equivalente à anulação do voto5 5 O voto de protesto havia se manifestado em pleitos nos anos 1980, ficando conhecida a votação expressiva do macaco Tião para prefeito do Rio de Janeiro, quando ainda era possível escrever o nome do escolhido na cédula. (sobre voto de protesto, ver Silva, 2015Silva, A. M. P. “O humor de Tiririca na campanha eleitoral 2014: como e por quê?”. Aurora. Revista de Arte, Mídia e Política, São Paulo, vol. 8, nº 23, p. 120-138, 2015.). Nessa interpretação, o voto em Enéas seria de fato um voto anti-establishment, como também foi o voto em Bolsonaro, porém estaria completamente desligado do apoio às suas ideias. Perguntado sobre esse tema pela jornalista Marília Gabriela em 20006 6 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=HClz-7nDMKE. Acesso em: 10 nov. 2023. , no contexto de sua campanha à prefeitura de São Paulo, Enéas respondeu:

Haveria tantos para que esse voto pudesse ser assim [de protesto] como a senhora está dizendo. Havia oito candidatos, pessoas das mais variadas correntes e opiniões. O único nacionalista convicto, defendendo a soberania nacional, defendendo aquilo que é nosso, era eu. Eu quero crer que, ao contrário do que a senhora expôs agora, foi uma convicção definida [do eleitor].

É expectável que Enéas quisesse atribuir sua votação a uma adesão ideológica para consigo, assim como é factível que o eleitor de Enéas desejasse em verdade marcar uma posição simbólica. Assumindo essas duas motivações como as principais causas do voto em Enéas, quiçá o candidato estivesse correto em apontar a motivação ideológica como mais relevante. Se for esse o caso, o voto em Enéas exprimia a identificação de uma parte da sociedade brasileira com a direita radical ainda nos anos 1990, seguindo um discurso com apelos muito semelhantes aos usados por Bolsonaro posteriormente.

Em 2002, Enéas chegou a anunciar uma nova candidatura presidencial, mas acabou desistindo do pleito e se lançou pela primeira vez à Câmara de Deputados, obtendo a votação mais alta da história para um deputado federal até aquele momento: 1,57 milhão de votos. Apesar de acometido por uma leucemia, Enéas concorreu à reeleição para a Câmara de Deputados em 2006. Reeleito, testemunhou a fusão, naquele mesmo ano, do PRONA com o PL (Partido Liberal), partido de direita, porém à época membro da base do governo do PT. A fusão extinguiu o PRONA. Enéas faleceu poucos meses depois, em maio de 2007. Mais tarde, em 2021, Bolsonaro filiou-se ao PL.

As plataformas de Enéas e Bolsonaro, portanto, convergem em diversos pontos. Ambos podem ser caracterizados como candidatos antissistema – rejeitam o sistema político como um todo; ambos mobilizam o sentimento nacionalista para denunciar inimigos internos e externos que conspiram contra o povo, colocando-se como representantes do “cidadão de bem”, como diz Bolsonaro, ou “do pai de família”, como preferia Enéas; ambos performaram sentimentos de ódio. É plausível, por conseguinte, que exista uma continuidade no apelo da direita radical desde Enéas e um nicho de eleitores consistentemente responsivos a esse tipo de proposta, para além de Bolsonaro.

Metodologia

Para estimar a convergência entre os eleitorados de Enéas e de Bolsonaro, analisei duas bases de dados eleitorais. Primeiro, analisei dados de 1998, a última eleição em que Enéas concorreu à presidência, e de 2018, na qual Bolsonaro saiu vitorioso. Limitei-me aos dados referentes ao primeiro turno para comparar situações de escolha relativamente análogas. Os dados foram baixados usando o pacote para R “elections BR7 7 Disponível em: <http://electionsbr.com/. Acesso em: 13 nov. 2023. ”, que organiza os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Para predizer o voto em Bolsonaro em função do voto em Enéas, eu utilizei modelos lineares de mínimos quadrados. Essa opção limita a análise à distribuição territorial do voto. Naturalmente, houve mudanças importantes na composição do eleitorado e em sua distribuição espacial entre 1998 e 2018. Para dar conta dessas diferenças, ainda que parcialmente, controlei as estimativas pelo tamanho da população e pelo PIB de cada município, além de incluir efeitos fixos para o ano da pesquisa.

Embora haja elementos para assumir o voto em Enéas como um voto de adesão à direita radical, não é possível ignorar que este provavelmente teve também um significado de protesto para, ao menos, parte do eleitorado. Como apontei anteriormente, o voto de protesto também é um tipo de voto anti-establishment, porém não implica, por isso, uma adesão à plataforma da direita radical. Para estimar a relevância do chamado “voto de protesto”, que pode ter caracterizado parte da votação de Enéas, analisei também uma subamostra de votos em São Paulo, estimando a associação geográfica entre o voto em Enéas à presidência em 1998 no estado com o do candidato Tiririca ao Congresso Nacional em 2010. Palhaço e humorista por profissão, Francisco Everardo “Tiririca” Oliveira Silva foi um candidato não ideológico, cuja surpreendente votação é amplamente atribuída ao voto de protesto (Silva, 2015). A associação territorial entre ambos nos fornece um critério plausível para descontar a proporção da votação de Enéas que se deve ao voto de protesto.

Para entender os paralelismos entre o eleitorado de Enéas e Bolsonaro em termos de características sociais, e não só geográficas, utilizei dados de pesquisas de intenção de voto entre 1994 e 2018 armazenados pelo CESOP8 8 Disponível em: <https://www.cesop.unicamp.br/por/banco_de_dados. Acesso em: 15 nov. 2023. , selecionando somente as pesquisas em que o nome desses candidatos foi oferecido como alternativa de resposta a perguntas estimuladas. A base de dados dá conta de 197.349 respostas à intenção de voto estimulada pela apresentação de uma lista de candidatos9 9 A base de dados e o documento com os códigos para replicação dos resultados (Arquivos R) estão disponíveis no site do Cesop, na seção Revista Opinião Pública, na página deste artigo: <https://www.cesop.unicamp.br/por/opiniao_publica. . Fiz, então, uma projeção da probabilidade de intenção de voto em Enéas e em Bolsonaro a partir de modelos logísticos, usando como preditores: a) o nível de educação da pessoa medido em faixas de escolaridade, b) a renda familiar da pessoa medida em faixas de renda, c) a autoidentificação destes como “brancos” e sua identidade de gênero, d) a idade da pessoa, e) a religião, e, para o caso do Enéas, também controlei pelo ano eleitoral, uma vez que sua candidatura foi postulada múltiplas vezes. Por fim, estimei um intervalo de confiança para o valor da proporção de apoiadores de Enéas e Bolsonaro em cada ano por meio de permutações, também referidas como bootstrapping, usadas para gerar 1.000 modelos nulos em subamostras de 600 entrevistados para cada pesquisa eleitoral, sendo a variável dependente o voto em Enéas ou Bolsonaro, separando as amostras em grupos. Em seguida, usei a variância média do conjunto de modelos para cada pesquisa para calcular o intervalo de confiança naquele ponto no tempo, com nível de confiabilidade de 95%, reuni todas as estimações e fiz uma projeção temporal por grupo.

Resultados

Como apontado, a caracterização do voto em Enéas como voto de protesto constitui uma premissa que desmotivou a comparação direta entre o seu eleitorado e o de Bolsonaro. Para testar essa premissa, comparei a votação obtida por Tiririca e sua relação geográfica com o voto em Enéas para estimar a sobreposição entre o voto em Enéas e o voto de protesto (Tabela 1):

Tabela 1
: Modelos de distribuição do voto (SP)

Os coeficientes de regressão sugerem uma proporção de 0.2 para 1 entre a votação de Tiririca e a de Enéas. Assumindo que todos os votos em Tiririca sejam votos de protesto e que a distribuição geográfica desses votos se mantenha entre esses pleitos, podemos dizer que em torno de 80% da votação de Enéas para presidente está dissociada territorialmente do voto de protesto. Essa estimativa confere uma base eleitoral para a direita radical de cerca de 2% dos votos em São Paulo em 1998. Já em relação ao voto em Bolsonaro em 2018, os resultados indicam uma associação forte com a distribuição dos votos em Enéas no estado de São Paulo no primeiro turno. Em outras palavras, o voto em Enéas esteve fortemente ligado, ao menos em sua distribuição espacial, ao voto de direita radical contemporânea e muito pouco ao voto de protesto. É, portanto, plausível fazer a conexão entre esses dois eleitorados, o de Enéas nos anos 1990 e o de Bolsonaro em 2018.

No Brasil como um todo, também se observa a correlação geográfica entre a votação de Enéas e a de Bolsonaro. A Figura 2 mostra a correlação entre a proporção de votos obtidos por cada um dos dois candidatos nos municípios dentro dos estados:

Figura 2
: Distribuição da proporção de votos (log) de Enéas (eixo x) e Bolsonaro (eixo y) dentro dos estados

Como visto na Figura 2, dentro dos estados, a proporção de votos em Enéas (eixo x) acompanha a do voto em Bolsonaro (eixo y). A Tabela 2 mostra o resultado de modelos lineares nos quais a quantidade de votos obtida por Enéas em um determinado município em 1998 prediz a quantidade de votos que Bolsonaro obteve posteriormente, na mesma localidade, em 2018. Se o voto em Enéas não estivesse relacionado à presença de um eleitorado de direita, similar ao que optou anos mais tarde por Bolsonaro, sua distribuição geográfica seguiria um padrão diferente. Em vez disso, o que se observa é uma forte correlação entre os votos de Enéas e de Bolsonaro.

Tabela 2
: Modelos de distribuição do voto em Bolsonaro (Brasil)

Os modelos mostram que os votos em Enéas e Bolsonaro se concentraram nos mesmos municípios em uma proporção de 1 para 20. Ou seja, para cada voto em Enéas em uma localidade, houve vinte votos para Bolsonaro no primeiro turno em 2018. Essa razão entre a votação dos dois candidatos aponta para a expansão do eleitorado da direita radical a partir das mesmas localidades onde Enéas já demonstrava um apelo mais forte entre o eleitorado e não em razão de uma disseminação independente da votação no candidato do PRONA. Em outras palavras, e em que pese a diferença no tamanho da votação de ambos os candidatos, há uma forte ligação demográfica entre o eleitorado de Enéas nos anos 1990 e o de Bolsonaro em 2018.

Assim como Bolsonaro, Enéas foi particularmente bem votado nos estados do Sudeste e do Sul. Nas eleições de 1994, ele chegou a obter 12% da votação no estado do Rio de Janeiro e 9% em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Esses estados brasileiros se destacam pela alta renda per capita. Em relação à composição étnica, esses estados se destacam pelo número de brancos: a região Sudeste tem 55% de população branca e a região Sul 78%, segundo o censo nacional de 2010.

Mudando a unidade de análise da distribuição do voto para a intenção de voto individual, capturada por pesquisas de opinião, é possível observar que a probabilidade de voto aumenta entre homens brancos jovens com maiores escolaridade e renda, como mostra a Tabela 3:

Tabela 3
: Modelos de intenção de voto (coeficientes em razão de probabilidade)

Dentre esse conjunto de características, o melhor preditor do voto em Enéas ou Bolsonaro é o fato de o entrevistado se identificar como um homem branco. Ser homem branco aumenta em 40% a probabilidade de declaração de voto em Enéas e em mais de 200% a probabilidade de voto em Bolsonaro. Outro bom preditor, porém no sentido inverso, é a idade dos respondentes. Para cada ano a mais de idade, a probabilidade de voto em Enéas diminui 1%, marcando sua base entre os mais jovens. Já para Bolsonaro, essa redução é de 1% a cada 5 anos somados à idade. Os modelos sugerem também que, para cada novo ciclo ou patamar escolar completado (ex.: de básico incompleto à completo, de básico à universitário), a probabilidade de declaração de voto em Enéas aumenta ao redor de 9% no modelo (2), e cerca de 20% considerando o efeito apenas entre homens brancos no modelo (3). Algo similar é observado com relação à renda. Para cada aumento na faixa de renda, a probabilidade de voto em Enéas aumenta 6% no modelo (2) e 15% considerando o efeito em homens brancos no modelo (3). Para Bolsonaro, o efeito da educação, da renda, da identidade de gênero e da raça sobre a probabilidade de declaração de intenção de voto é maior, porém na mesma direção.

A Figura 3 mostra como a probabilidade predita para o voto em cada um dos dois candidatos oscila na mesma direção quando consideradas essas características do eleitorado:

Figura 3
: Probabilidade de voto na extrema direita

A Figura 3 mostra como a renda familiar prediz eficazmente a probabilidade de intenção de voto em Enéas e Bolsonaro dentro do grupo de homens jovens com níveis de educação formal mais altos. O efeito positivo da renda na probabilidade de declaração de voto em Enéas é causado pelos eleitores que estão pouco acima ou na mediana de renda. Estes não são, portanto, eleitores ricos, mas sim eleitores de classe média.

Como apontei anteriormente, uma diferença relevante entre os dois candidatos está em sua relação com as Igrejas evangélicas. Em 1994, ser evangélico não aumentava significativamente a probabilidade de voto em Enéas. Já em 2018, o modelo associa ser evangélico com um aumento de 40% na probabilidade de voto em Bolsonaro. A Figura 4 mostra a projeção da intenção de voto em Enéas e Bolsonaro nos diferentes pleitos ao longo do tempo, com intervalos de confiança (95%) estimados por meio de permutações. Os resultados predizem eficazmente a melhor performance eleitoral de Enéas em 1994. A projeção também indica que boa parte do maior êxito de Enéas naquele pleito se deve à adesão de homens jovens brancos com ensino superior, mesmo que incompleto, e renda acima da mediana, referidos na Figura 4 com a sigla HJBER. A intenção de voto em Enéas nesse grupo pode ter superado 15% dos votos em 1994 e se manteve próxima aos 10% em 1998 e no início de 2002, ano em que Enéas acabou não concorrendo à presidência.

Figura 4
: Intenção de voto através do tempo (1994 a 2002 e 2018)

Do início da campanha de 2018 até junho do mesmo ano, a intenção de voto em Bolsonaro se manteve ao redor de 25% no grupo de homens jovens brancos com educação superior e renda acima da mediana e ao redor de 10% no restante da população. Somente ao final da campanha se observou a ascensão do candidato para além desse nicho, alcançando um público mais amplo e atraindo em especial o voto de eleitores evangélicos. A adesão tardia de evangélicos ao voto em Bolsonaro reflete o papel das Igrejas que atuaram de modo organizado na campanha, promovendo a candidatura do PSL nos cultos. O mesmo pode ser dito em relação à campanha de desinformação por mídias sociais na reta final da campanha, cujo foco foram pautas associadas a eleitores evangélicos, como a aversão à diversidade de gênero.

Até agosto de 2018, não é possível diferenciar com precisão a adesão dos eleitores evangélicos ao bolsonarismo em relação ao restante da população, como tampouco se destacavam os evangélicos em 1994 por seu apoio a Enéas. Se comparado ao grupo de homens brancos jovens com educação e renda mais altas, o conjunto de eleitores evangélicos se demonstrou menos atraído pela direita radical ao longo do tempo.

Devido à escassez de dados, é difícil comparar os eleitores de Enéas e Bolsonaro em termos ideológicos e atitudinais para além do voto. Contudo, em 2002 e 2006, os amostrados foram perguntados por diferentes pesquisas de opinião sobre seu apoio à pena de morte. O eleitor de Enéas se mostrou 26% mais provável de apoiar a pena de morte em comparação ao restante da população em 2006 (p=0.08). Entre os eleitores de Enéas com maior educação formal e renda, 80% apoiavam a pena de morte. Esses dados reforçam a hipótese de haver ocorrido um apelo semelhante dos dois candidatos, Enéas e Bolsonaro. Em resumo, o perfil dos eleitores de Enéas é semelhante ao de Bolsonaro tanto em suas características geográficas como demográficas, havendo forte apelo da direita radical aos homens brancos jovens com mais escolaridade e renda acima da mediana.

Discussão e conclusões

Bolsonaro pode ser entendido como um populista de direita radical, em muitos aspectos mais parecido aos casos europeus do que aos casos típicos de populismo na América Latina (Zanotti; Roberts, 2021Zanotti, L.; Roberts, K. M. “(Aún) la excepción y no la regla: La derecha populista radical en América Latina”. Revista Uruguaya de Ciencia Política, vol. 30, nº 1, p. 23-48, 2021.). O apelo de seu discurso para uma base social de antipetistas, conservadores e autoritários pode ser explicado pela confluência de frustrações típicas dos processos de cultural backlash (Rennó, 2021), tendo o ódio como sentimento central em sua justificação (Pinheiro-Machado; Scaldo, 2018). A esse apelo, somaram-se as oportunidades oferecidas pela sequência de crises políticas experimentadas no Brasil na última década e pela interferência da Lava Jato na competição política, além de fatores pontuais como o atentado sofrido por Bolsonaro durante a campanha (Codato; Berlatto; Bolognesi, 2018; Nicolau, 2020Nicolau, J. O Brasil dobrou à direita: Uma radiografia da eleição de Bolsonaro em 2018. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.; Santos; Tanscheit, 2020; Borges, 2021). Conjuntamente, esses fatores muito provavelmente compõem um processo causal que explica a eleição de um político outsider de direita radical. Contudo, a tempestade perfeita que permitiu a vitória de Bolsonaro, outrora improvável, ofusca o apelo constante da direita radical a uma parcela pequena, porém significativa, do eleitorado.

Ao analisar a congruência entre os votos em Enéas e Bolsonaro, este artigo sugere que o apelo da direita radical está enraizado no Brasil desde a redemocratização. Em termos da distribuição espacial do voto, os resultados mostram que Bolsonaro expandiu a votação da direita radical a partir das mesmas localidades onde Enéas obteve uma maior quantidade de votos em pleitos na década de 1990. Muito embora o voto em Enéas não explique a vitória de Bolsonaro, ele evidencia um piso da direita radical que antes era ignorado. Os dados mostram que, nos anos 1990, o radicalismo de direita já atraía o voto principalmente de homens jovens brancos de classe média, com níveis mais altos de educação. Essas duas últimas características divergem do padrão do eleitorado da direita radical nos países europeus e mesmo nos Estados Unidos, onde este apelo se dá entre brancos da classe trabalhadora. Os resultados também apontam a adesão tardia do eleitor evangélico a Bolsonaro, o que forma parte do processo de expansão do apelo do candidato do PSL a partir de uma base social mais sólida de homens brancos jovens com renda mais alta que já se sentiam atraídos pela direita radical anteriormente.

O contraste entre a distribuição do voto de Enéas com o voto em Tiririca indica que apenas uma minoria dos eleitores do candidato do PRONA em São Paulo exerceu um voto de protesto desligado de uma adesão às suas ideias de direita radical. Ainda assim, tanto o voto de protesto como o voto ideológico da direita radical expressam a postura anti-establishment das candidaturas tanto de Enéas como de Bolsonaro.

É plausível hipotetizar que a conjuntura política brasileira, desde a redemocratização, tenha gerado ressentimento, ou cultural backlash, em nichos dos setores médios que se veem como perdedores do processo de liberalização política, econômica e cultural experimentado nas últimas décadas. Os resultados mostraram, por exemplo, que o apelo maior de Enéas esteve em homens jovens brancos com ensino superior ou superior incompleto, porém com renda familiar apenas um pouco mais alta do que a mediana da população. Possivelmente, essa combinação de educação alta e renda mediana, em especial em um grupo caracterizado histórica e estruturalmente como privilegiado, tenha gerado frustração e ressentimento e explique, ao menos em parte, o apelo do discurso de ódio do populismo de direita radical, incluídos seus elementos racistas e misóginos.

Devo destacar, no entanto, que as variáveis que melhor predizem o voto de direita radical de Enéas a Bolsonaro descrevem uma combinação de minorias. O conjunto de homens jovens brancos, que também tem algum ensino superior e que, além disso, possui rendimento familiar acima da mediana, contém menos de 1% da população do país, ainda que cada uma dessas variáveis abarque uma população significativa. A construção de uma maioria no campo da direita radical foi possivelmente o resultado de uma combinação de variáveis conjunturais com os efeitos das múltiplas crises políticas experimentadas desde 2013, como apontado na literatura.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Fev 2024
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2023

Histórico

  • Recebido
    16 Maio 2022
  • Aceito
    16 Maio 2023
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