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EDITORIAL

Este número de Machado de Assis em linha faz um tributo especial à crítica machadiana.

Nos 140 anos de publicação do ensaio "Notícia da atual literatura brasileira – instinto de nacionalidade", que saiu na revista O Novo Mundo, de Nova Iorque, em 1873, a revista traz dois artigos inéditos sobre um dos textos críticos mais influentes publicados no Brasil. Nele, Machado posiciona-se com firmeza em relação às limitações do nacionalismo romântico, estabelecendo as bases para o seu projeto literário e o seu modo peculiar de lidar com as questões do país e do mundo.

Atílio Bergamini, pós-doutorando na Unicamp, traz elementos novos sobre o contexto jornalístico de publicação do célebre ensaio, mostrando como algumas das opiniões de Machado não representavam posições isoladas nem idiossincrasias, mas estavam em sintonia com ideias vinculadas pelos jornais liberais da época, para os quais o escritor colaborava. No seu artigo, João Hernesto Weber, professor aposentado da Universidade Federal de Santa Catarina, analisa os modos de construção do discurso crítico de Machado e define a importância do "Instinto de nacionalidade" na historiografia literária brasileira.

Fazendo pendant com o dossiê "Instinto de nacionalidade", a seção "Da tradição crítica" presta homenagem a um dos estudiosos que primeiro chamaram a atenção para a importância da produção crítica de Machado: José Aderaldo Castello, um dos fundadores dos estudos de literatura brasileira na Universidade de São Paulo. No primeiro artigo que dedicou ao escritor, "Ideário crítico de Machado de Assis (breve contribuição para o estudo de sua obra)", publicado em 1952 na Revista de História, Castello identifica as linhas principais da reflexão do escritor sobre sua própria produção e a literatura de maneira geral, abordando tópicos como o realismo, o universalismo, o nacionalismo, o teatro etc.

Jaison Luís Crestani, pós-doutorando na Universidade de São Paulo, contribui para este número com um artigo sobre os modos como Iaiá Garcia se inscreve no contexto material do jornal O Cruzeiro, no qual o romance foi publicado em capítulos em 1878. O estudo de Crestani, assim como o de Bergamini, inserem-se numa linha recente e prolífica dos estudos machadianos, que buscam compreender como sua produção, majoritariamente publicada em jornais e revistas, dialoga com os outros discursos e concepções ideológicas veiculadas nesses periódicos.

Manoel Freire e Maria Clediane de Oliveira, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, analisam o romance Quincas Borba, propondo aproximações entre a crise vivida pelo seu protagonista, Rubião, e a crise ética e moral verificada na sociedade brasileira. Relações semelhantes são propostas por Luciana Brandão Leal, que concluiu este ano o mestrado na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, a propósito das Memórias póstumas de Brás Cubas; no seu artigo, examina as complexas relações entre ficção e história na obra machadiana.

Em "Outros textos encontrados de Machado de Assis", temos um texto inédito em português do professor Jean-Michel Massa, que só havia sido publicado em francês em 1966. Com tradução e anotações de Lúcia Granja, pesquisadora e professora da Universidade Estadual Paulista, o artigo de Massa, que morreu em 2012, revelou algumas peças teatrais escritas por Machado cujas referências não haviam sido incluídas por Massa no livro Dispersos de Machado de Assis, de 1965.

Marcelo Pen Parreira trata da relação muito comentada, mas pouco especificada, entre a obra de Machado de Assis e a de Henry James. O professor da Universidade de São Paulo investiga no seu ensaio os modos como as personagens de ambos os autores figuram o sujeito esvaziado, iludido e mutilado da era liberal.

Já Daniela Soares Portela, professora da Universidade do Estado de Minas Gerais, situa Machado de Assis na linhagem de Flaubert, Joyce e Beckett, definidos por Hugh Kenner como "comediantes estoicos", escritores para os quais a literatura é um sistema fechado de signos. Portela desenvolve sua hipótese a partir a leitura de textos-chave da produção machadiana, tais como Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro e Memorial de Aires.

Em "Viver e morrer de amor em 'O anjo das donzelas'", Adriana da Costa Teles, pós-doutoranda na Universidade de São Paulo, retoma um dos primeiros contos publicados por Machado no Jornal das Famílias, em 1864, para mostrar como Machado maneja os repertórios de leitura e os valores do veículo no qual publicou seu conto.

Este número traz ainda uma resenha de Antonio Marcos Vieira Sanseverino, professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sobre o livro Machado de Assis – por uma poética da emulação, de João Cezar de Castro Rocha, lançado neste ano.

Passando em revista a produção literária de Machado de Assis desde seus inícios até a produção mais tardia e reunindo a produção crítica recente de norte a sul do país, Machado de Assis em linha fecha este ciclo de 12 números anunciando novidades: a partir do número 13, a sair em junho de 2014, a revista receberá também artigos em inglês inéditos no Brasil, e terá a cada número um editor-associado internacional. O do número 13 será o professor e escritor José Luiz Passos, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, a quem damos desde já as boas vindas.

Marta de Senna e Hélio de Seixas Guimarães

Rio de Janeiro / São Paulo, dezembro de 2013

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Jan 2014
  • Data do Fascículo
    Dez 2013
Universidade de São Paulo - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Av. Prof. Luciano Gualberto, 403 sl 38, 05508-900 São Paulo, SP Brasil - São Paulo - SP - Brazil
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