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Espessamento difuso da parede traqueal, com calcificações

Paciente masculino, 58 anos, com queixas de dispneia aos esforços acompanhada de tosse irritativa. Teve um diagnóstico de asma brônquica há 14 anos, negava qualquer sintoma na infância, e estava em uso de broncodilatador e corticoide inalatório, com pouca melhora. A tomografia computadorizada (TC) do tórax evidenciou espessamento difuso da parede da traqueia com pequenos focos de calcificação parietal (Figura 1).

Figura 1
TCs em corte axial (em A) e reconstrução sagital (em B) mostrando espessamento concêntrico da parede da traqueia (setas), com pequenos focos de calcificação (cabeças de setas). Note que a parede posterior (membranosa) também está espessada.

O espessamento difuso da parede traqueal pode ser determinado por várias doenças (amiloidose; policondrite recidivante; traqueopatia osteocondroplástica (TOC); infecções, tais como tuberculose, paracoccidioidomicose e rinoscleroma; granulomatose com poliangeíte; sarcoidose e linfomas, dentre outras). Algumas características de imagem podem servir para estreitar o diagnóstico diferencial, como a presença de calcificações na parede da traqueia, e definir se o acometimento é de toda a circunferência da traqueia, ou se a lesão preserva a parede membranosa posterior, acometendo apenas a porção cartilaginosa. No caso apresentado aqui, o exame tomográfico mostra que o espessamento parietal afeta toda a circunferência traqueal, com pequenos focos de calcificação.

Calcificações nas paredes traqueais podem ser observadas em condições normais, relacionadas à senilidade. Contudo, calcificações associadas ao espessamento parietal podem ser vistas na amiloidose, TOC e policondrite recidivante. A TOC é uma doença de etiologia desconhecida que se caracteriza pela formação de pequenas nodulações submucosas, em geral calcificadas, fazendo protrusão para a luz traqueal. É uma doença restrita à árvore traqueobrônquica e pode ser assintomática ou cursar com tosse, dispneia, sibilos ou, eventualmente, hemoptise. A policondrite recidivante é caracterizada por episódios recorrentes de inflamação nos tecidos cartilaginosos, incluindo a cartilagem das orelhas, do nariz, das articulações periféricas e a cartilagem da árvore traqueobrônquica. Na amiloidose, o comprometimento da parede traqueal é circunferencial, envolvendo também a parede membranosa posterior, conforme observado no paciente analisado.11 Torres PPTES, Rabahi M, Pinto SA, Curado KCMA, Rabahi MF. Primary tracheobronchial amyloidosis. Radiol Bras. 2017;50(4):267-8. https://doi.org/10.1590/0100-3984.2015.0177.
https://doi.org/10.1590/0100-3984.2015.0...
,22 de Almeida RR, Zanetti G, Pereira E Silva JL, Neto CA, Gomes AC, Meirelles GS, et al. Respiratory Tract Amyloidosis. State-of-the-Art Review with a Focus on Pulmonary Involvement. Lung. 2015;193(6):875-883. https://doi.org/10.1007/s00408-015-9791-x.
https://doi.org/10.1007/s00408-015-9791-...

A amiloidose é caracterizada pela deposição, local ou sistêmica, de material amiloide anormal em tecidos extracelulares, podendo envolver múltiplos órgãos, como o coração, os rins e o trato gastrointestinal, entre outros. A amiloidose respiratória primária apresenta três formas características: a nodular, a parenquimatosa difusa e a traqueobrônquica, esta última sendo a forma mais comum. O comprometimento traqueobrônquico pela amiloidose pode determinar espessamento parietal, estreitamento luminal e consequente obstrução de vias aéreas, além de consolidações, atelectasias, aprisionamento aéreo e bronquiectasias. Os pacientes geralmente são assintomáticos, mas podem apresentar hemoptise, estridor, tosse, rouquidão, dispneia ou sibilos e pneumonia recorrente.11 Torres PPTES, Rabahi M, Pinto SA, Curado KCMA, Rabahi MF. Primary tracheobronchial amyloidosis. Radiol Bras. 2017;50(4):267-8. https://doi.org/10.1590/0100-3984.2015.0177.
https://doi.org/10.1590/0100-3984.2015.0...
,22 de Almeida RR, Zanetti G, Pereira E Silva JL, Neto CA, Gomes AC, Meirelles GS, et al. Respiratory Tract Amyloidosis. State-of-the-Art Review with a Focus on Pulmonary Involvement. Lung. 2015;193(6):875-883. https://doi.org/10.1007/s00408-015-9791-x.
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Com esses achados tomográficos, o diagnóstico de amiloidose foi suspeitado, sendo confirmado por estudo anatomopatológico.

REFERENCES

  • 1
    Torres PPTES, Rabahi M, Pinto SA, Curado KCMA, Rabahi MF. Primary tracheobronchial amyloidosis. Radiol Bras. 2017;50(4):267-8. https://doi.org/10.1590/0100-3984.2015.0177
    » https://doi.org/10.1590/0100-3984.2015.0177
  • 2
    de Almeida RR, Zanetti G, Pereira E Silva JL, Neto CA, Gomes AC, Meirelles GS, et al. Respiratory Tract Amyloidosis. State-of-the-Art Review with a Focus on Pulmonary Involvement. Lung. 2015;193(6):875-883. https://doi.org/10.1007/s00408-015-9791-x
    » https://doi.org/10.1007/s00408-015-9791-x

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Jul 2022
  • Data do Fascículo
    2022
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