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Relações ecomorfológicas de juvenis simpátricos de Clupeiformes de uma praia arenosa brasileira

RESUMO

Zonas de arrebentação são importantes para os estágios iniciais de várias espécies de peixes por apresentarem características como alta produção fitoplanctônica, disponibilidade alimentar diversificada e abrigo contra predadores. A ação das ondas nestes ambientes proporciona a ciclagem de nutrientes e eleva a turbidez, tornando as zonas de arrebentação ambientes de berçário ideais para diversas espécies de peixes, incluindo os clupeiformes. Espécies de Clupeiformes possuem alto valor ecológico e econômico, por serem peixes abundantes em zonas de arrebentação em praias arenosas tropicais com significativa importância pesqueira. Estudos sobre sua ecologia alimentar e utilização do ambiente são relevantes, e um dos métodos para aprimorar este conhecimento é a aplicação de análises ecomorfológicas, que auxiliam no entendimento das interações ecológicas das espécies e suas adaptações. Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo identificar as relações ecomorfológicas e inferir sobre a ecologia alimentar de oito espécies de clupeiformes simpátricas em uma praia arenosa tropical Brasileira. Foram analisadas dez variáveis ecomorfológicas de indivíduos pertencentes as espécies Anchoa tricolor (Spix & Agassiz, 1829), Anchoa januaria (Steindachner, 1879), Anchovia clupeoides (Swainson, 1839), Anchoviella lepidentostole (Fowler, 1911), Lycengraulis grossidens (Spix & Agassiz, 1829), Chirocentrodon bleekerianus (Poey, 1867), Harengula clupeola (Cuvier, 1829) e Opisthonema oglinum (Lesueur, 1818), cujos valores foram empregados em uma análise de componentes principais (PCA) com os dois primeiros eixos explicando 58,92% da variância total. Uma elevada sobreposição morfológica entre as espécies de Engraulidae foi observada, com exceção de A. clupeoides, que se diferenciou das demais por apresentar maiores valores do índice de compressão e índice de compressão do pedúnculo caudal. As espécies de Clupeidae diferiram das demais famílias devido aos elevados valores de altura relativa e comprimento relativo da cabeça, o que também mostrou diferenças entre as próprias espécies, tendo H. clupeola apresentado maiores valores destas variáveis. O representante de Pristigasteridae apresentou sobreposição intermediária entre as espécies das demais famílias, devido ao seu corpo altamente comprimido, mas com baixos escores de altura relativa, comprimento relativo do pedúnculo e aspecto da boca. A diferenciação morfológica entre as famílias, e até mesmo entre espécies de uma mesma família, indica divergências de nicho, mostrando que apesar de sua proximidade filogenética, existem diferenças em suas interações ecológicas, possivelmente contribuindo para a sua coexistência.

PALAVRAS-CHAVE
Sobreposição morfológica; estratégias de coexistência; competição interespecífica

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