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O estado da arte da ciência da felicidade e o desenvolvimento local

The science of happiness state of the art and the local development

El estado del arte de la ciencia de la felicidad y el desarrollo local

Resumo:

Este artigo tem o objetivo de apresentar o percurso histórico e de transformações da ciência da felicidade, desde a antiguidade, até os dias atuais. Busca-se, ainda que de forma sucinta, tecer algumas considerações a respeito do estudo da felicidade, fazendo-se correlações com o desenvolvimento local, pois o desenvolvimento local é um conceito complexo, que parte da reinterpretação de uma série de discussões e problemáticas acerca do que se entende por desenvolvimento. Foram utilizados trabalhos publicados nas fontes de indexação de maior impacto, nos âmbitos nacional e internacional, de modo a possibilitar maior direcionamento dos estudos relativos a esse conceito. Foi utilizada como método a revisão sistemática da literatura, por meio do indexador SciELO, mediante consulta pelas palavras-chave: “ciência da felicidade”, “antiguidade”, “contemporaneidade”, “desenvolvimento local”, “século XXI”. Na sequência, foram pesquisados artigos em período específico, datados a partir de 1960, quando a felicidade passou a ser tratada como ciência. No mundo atual, a felicidade pode ser entendida como uma emoção básica caracterizada por um estado emocional positivo, com sentimento de bem-estar e de prazer, associado à percepção de sucesso e da compreensão coerente do mundo. Entretanto, a maioria das pessoas entende que a felicidade é mais do que um emaranhado de sentimentos intensos e positivos. Ela pode ser entendida como uma sensação plena de “paz” e contentamento, pois tudo depende do quanto a nossa interpretação da realidade altera a nossa experiência dessa realidade.

Palavras-chave:
ciencia da felicidade; antiguidade; contemporaneidade; desenvolvimento local; século XXI

Abstract:

This article aims to present the science of happiness history and transformations, from antiquity to the present day. The aim is, albeit succinctly, to make some considerations about the study of happiness, weaving correlations with local development, as local development is a complex concept, which starts from the reinterpretation of a series of discussions and issues about what is meant by development. Works published in indexing sources with the greatest impact, at national and international levels, were used, in order to allow greater targeting of studies related to this concept. The systematic literature review using the SciELO index was used as a method, by consulting the keywords: “science of happiness”, “antiquity”, “contemporaneity”, “local development”, “21st century”. Next, articles from the specific period dated from 1960 onwards, when happiness began to be treated as a science, were researched. In today’s world, happiness can be understood as a basic emotion characterized by a positive emotional state with a feeling of well-being and pleasure, associated with the perception of success and a coherent understanding of the world. However, most people understand that happiness is more than a tangle of intense, positive feelings. It can be understood as a full feeling of “peace” and contentment, as it all depends on how much our interpretation of reality changes our experience of that reality.

Keywords:
science of happiness; antiquity; contemporaneity; local development; 21st century

Resumen:

Este artículo tiene como objetivo presentar el camino histórico y transformador de la ciencia de la felicidad, desde la antigüedad hasta la actualidad. El objetivo es, aunque sucintamente, hacer algunas consideraciones sobre el estudio de la felicidad, tejiendo correlaciones con el desarrollo local, ya que el desarrollo local es un concepto complejo, que parte de la reinterpretación de una serie de discusiones y cuestiones sobre lo que se entiende por desarrollo. Se utilizaron trabajos publicados en fuentes de indexación de mayor impacto, a nivel nacional e internacional, con el fin de permitir una mayor focalización de estudios relacionados con este concepto. Se utilizó como método la revisión sistemática de la literatura mediante el índice SciELO, consultando las palabras clave: “ciencia de la felicidad”, “antigüedad”, “contemporaneidad”, “desarrollo local”, “siglo XXI”. Posteriormente, se investigaron artículos del período específico que data de 1960, cuando la felicidad comenzó a ser tratada como una ciencia. En el mundo actual, la felicidad puede entenderse como una emoción básica caracterizada por un estado emocional positivo, con sentimiento de bienestar y placer, asociado a la percepción del éxito y una comprensión coherente del mundo. Sin embargo, la mayoría de la gente entiende que la felicidad es más que una maraña de sentimientos intensos y positivos. Puede entenderse como un sentimiento pleno de “paz” y satisfacción, ya que todo depende de cuánto nuestra interpretación de la realidad cambie nuestra experiencia de esa realidad.

Palabras clave:
ciencia de la felicidad; antigüedad; contemporaneidad; desarrollo local; siglo XXI

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O conceito de felicidade pode assumir diferentes significados, motivados e muitas vezes determinados por fatores conexos, como: as relações familiares, a situação financeira, o trabalho, a comunidade, os amigos, a saúde, a liberdade pessoal, os valores pessoais e os relacionamentos. A felicidade pode ser entendida como a predominância da frequência de experiências positivas. Dentro deste contexto, o ambiente universitário pode influenciar em fatores que determinam a felicidade. Ademais, muitas pessoas já devem ter ouvido de um amigo, colega ou familiar que seja feliz, independentemente da carreira que escolhera seguir.

Nesse contexto, a felicidade está diretamente ligada aos desejos, expectativas, sonhos e necessidades. Desta forma, ela varia de pessoa para pessoa; o estado da felicidade pode estar relacionado a diversos aspectos ao redor do indivíduo, e sua formação profissional não está fora disso.

A felicidade é conceituada desde o modo como se percebe a vida, em suas múltiplas dimensões que envolvem o ser humano, numa perspectiva de melhoria da qualidade de vida, que é muito mais do que um conceito, tudo isso em um contexto social e comunitário do que se pode partir para abordar a questão do desenvolvimento local.

Garantir que o processo de aprendizagem seja em si mesmo prazeroso, tendo em vista que muitos estudantes sofrem com aborrecimentos ou ansiedade, é responsabilidade, em parte, de cada estudante, sobretudo nas faculdades e nos cursos de graduação, nos quais há uma maior independência (BEN-SHAHAR, 2018BEN-SHAHAR, Tal. Seja mais feliz: aprenda a ver a alegria nas pequenas coisas para uma satisfação permanente. São Paulo: Planeta do Brasil, 2018.).

Segundo as análises de Jennifer Moss (2019)MOSS, Jennifer. Felicidade. Coleção Inteligência Emocional. Tradução de Patrícia Xavier. Lisboa: Atual, 2019., muitos cientistas dizem estudar a felicidade; no entanto, quando se analisa o que estão mediando, percebe-se que, na verdade, estão pesquisando a depressão e a satisfação com a vida.

É perfeitamente aceitável a ideia de que a vida boa consiste em obter felicidade usando diariamente, nos principais setores da vida, suas forças pessoais, promovendo o conhecimento, pertencimento, a satisfação, o poder ou a bondade, de forma que o desenvolvimento deve ser mensurado também a partir das dimensões sociais, políticas, culturais e emocionais relativas aos indivíduos, grupos e territórios.

Compreende-se que o desenvolvimento local deve ser entendido como um processo contínuo de melhoria de qualidade de vida dos indivíduos a partir do uso dos recursos de maneira sustentável, garantindo prosperidade por meio do conhecimento e do empoderamento das pessoas em relação às tecnologias e dos saberes, envolvendo o ser humano como principal beneficiário dessa mudança.

O fator preponderante de tudo isso no contexto do desenvolvimento local representa tudo aquilo que uma sociedade pode considerar como ideal para proporcionar o bem-estar de todos.

Neste artigo, busca-se, ainda que de forma sucinta, tecer algumas considerações a respeito do estudo da felicidade, fazendo-se correlações com o desenvolvimento local, pois o desenvolvimento local é um conceito complexo, que parte da reinterpretação de uma série de discussões e problemáticas acerca do que se entende por desenvolvimento.

2 DESENVOLVIMENTO LOCAL VERSUS CIÊNCIA DA FELICIDADE

A felicidade pode ser considerada a base para aferição do desenvolvimento de um país. A defesa da felicidade como indicador de desenvolvimento tem encontrado espaço em diferentes áreas do conhecimento. O desejo humano por felicidade é importante para se entender porque a pesquisa sobre felicidade pode nos colocar no caminho para a boa sociedade, vista tanto pelo âmbito individual como pelo da sociedade.

Nesta perspectiva, os estudos da felicidade buscam determinar o nível de satisfação dos indivíduos com suas próprias vidas, sendo levada em consideração a análise de fatores socioeconômicos, demográficos, ambientais, culturais e emocionais que podem apresentar relação com a felicidade do indivíduo.

2.1 Território e territorialidade

Em essência, o Desenvolvimento Local (DL) incorpora a perspectiva de valorização da pessoa humana, ao se tornar ela mesma sujeito efetivo do seu próprio destino. Trata-se, pois, de um pressuposto lógico, isto é, que as pessoas devem participar ativamente, e não apenas serem beneficiárias do desenvolvimento, em todas as suas modalidades e dimensões.

Para discorrer sobre o DL na perspectiva de valorização da pessoa humana, é preciso entender a noção de território sob um prisma mais ontológico e, nesse sentido, Raffestin (1993)RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993. julga o espaço geográfico enquanto “prisão original” e o território como produto da ação humana sobre essa prisão fundante. Alega que, pela falta de critério, espaço e território foram confundidos durante algum tempo, entretanto são termos diferentes, com distinções úteis e necessárias.

Para Raffestin (1993)RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993., o território deve ser formado de acordo com as necessidades dos sujeitos e, sobretudo a partir de suas relações com o poder de expressar-se enquanto potência de atuar. Por sua vez, Lefebvre (1991)LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Moraes, 1991. explica, no tocante ao território, que a apropriação tem uma conotação mais simbólica, enquanto a dominação apresenta característica formal ou funcional. Para este autor, território e territorialidade são constructos socioespaciais que refletem o poder humano na dominação ou na apropriação da natureza. Ele estabelece uma diferenciação entre sociedade e natureza como uma conjuntura adequada ao que se pode designar de “segunda natureza”, a espacialidade modificada e socialmente consolidada que surge do aproveitamento de um trabalho humano determinado. Por esse viés, Lefebvre (2002)LEFEBVRE, Henri. A revolução urbana. Tradução de Sérgio Martins. Belo Horizonte: UFMG, 2002. afirma a existência de um trajeto no qual a dimensão espacial encontra-se inteiramente voltada ao histórico.

Nesse contexto, Machado (1997)MACHADO, Monica Sampaio. Geografia e epistemologia: um passeio pelos conceitos de espaço, território e territorialidade. Geo UERJ, Rio de Janeiro, n. 1, p. 17–32, 1997. se apropria de alguns conceitos em que a territorialidade corresponde às ações desenvolvidas por vários agentes sociais em uma determinada área geográfica e em um dado momento histórico. Em termos geográficos, a territorialidade dá-se pela ação humana e representa uma forma espacial de comportamento social. É uma estratégia de um indivíduo ou um grupo de afetar ou influenciar pessoas, fenômenos e relações por meio da delimitação e do controle sobre uma determinada área geográfica, área essa entendida como território. A territorialização resulta na instituição de comunidades, em que predominam as relações primárias em relação às secundárias (RAFFESTIN, 1993RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993.).

O desenvolvimento, em sentido lato, revela-se como algo muito particular, compreendendo as iniciativas dos indivíduos isolados ou organizados em sua busca constante por melhores condições de vida. De acordo com Brandenburg (1999)BRANDENBURG, Alfio. Agricultura familiar, ONGs e desenvolvimento sustentável. Curitiba: UFPR, 1999., o desenvolvimento associa racionalidade econômica e integração social, e esta só é possível com o processo interno de construção social, que se realiza por intermédio de vários atores tornados sujeitos desta construção.

No livro Desenvolvimento local no Contexto de Territorialidades, organizado por Marques e Castilho (2016)MARQUES, Heitor Romero; CASTILHO, Maria Augusta (Org.). Desenvolvimento local no contexto de territorialidades. Campo Grande, MS: Gráfica Mundial, 2016., percebemos abordagens e concepções de território, assim como uma reflexão problematizadora da relação território-paisagem e identidade, a partir da visão crítica de seus territórios, apresentando procedimentos metodológicos para a construção de projetos alternativos de desenvolvimento local, a partir de pesquisas territoriais e mediante processos interativos. Acreditamos que tais implicações contribuem para a promoção de uma melhor qualidade de vida do indivíduo, bem como para o sentimento de felicidade, por meio das relações humanas estabelecidas em uma comunidade, preservando seus valores tradicionais e culturais.

A territorialidade é a expressão de poder que eclode das conjecturas políticas, econômicas, culturais e ambientais de cada indivíduo ou coletividade, materializando-se (ou não) no espaço geográfico. Aliás, desde muito que as populações tradicionais ou mesmo outras têm se deparado com questões políticas ligadas à expropriação territorial, à opressão e mesmo à violência política. Vejam-se os exemplos dos seringueiros de décadas passadas (ALLEGRETTI, 2002ALLEGRETTI, Mary. A construção social de políticas ambientais: Chico Mendes e o movimento dos seringueiros. 2002. 827 fls. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Sustentável) – Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2002.), dos indígenas de todo o mundo (NASH, 1995NASH, June. The reassertion of Indigenous identity peoples: mayan responses to state intervention in Chiapas. Latin American Research Review, [s.l.], v. 30, n. 3, p. 7–41, 1995.), as lutas contra o colonialismo interno, a exemplo do México. Nestes termos, as lutas políticas entre as populações tradicionais são quase inglórias, mas a sua maioria encontra-se envolvida com processos de resistência.

Sob um prisma mais ontológico, Raffestin (1993)RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993. julga o espaço geográfico enquanto “prisão original” e o território como produto da ação humana sobre essa prisão fundante. Nesta direção, é imperativo entender como o espaço está em posição que antecede o território, porque este é gerado a partir do espaço, constituindo o resultado de uma ação conduzida por um ator ou ser humano que imprime seus direcionamentos sociais em qualquer nível. Direcionamentos esses que partem da apropriação concreta ou abstrata (dimensão simbólica) de um espaço, inaugurando, então, o processo chamado territorialização.

Em sentido mais enfático, Haesbaert (2009HAESBAERT, Rogério. Dilema de conceitos: espaço-território e contenção territorial. In: SAQUET, Marcos Aurélio; SPOSITO, Eliseu Savério (Org.). Territórios e territorialidades: teorias, processos e conflitos. São Paulo: Expressão Popular/UNESP, 2009. p. 95–120.; 2004HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.; 2002HAESBAERT, Rogério. Territórios alternativos. São Paulo: Contexto, 2002.) observa o território nas dimensões: jurídica e política; econômica; e culturalista ou simbólica. A primeira é composta por delimitações e controle de poder, especialmente de caráter estatal e econômico. A segunda é dada principalmente pelas relações de mercado ou capital-trabalho, enquanto a terceira é vista, sobretudo, como produto da apropriação/valorização simbólica de um grupo em relação ao seu espaço vivido.

O enfoque científico sobre a questão da territorialidade revela as expressões diversas de poderes intrínsecos, correspondendo a um espaço permeado por múltiplas territorialidades (COELHO; CUNHA; MONTEIRO, 2009COELHO, Maria Célia Nunes; CUNHA, Luis Henrique; MONTEIRO, Maurílio de Abreu. Unidades de conservação: populações, recursos e territórios. Abordagens da geografia e da ecologia política. In: GUERRA, Antonio José Teixeira; COELHO, Maria Célia Nunes (Org.). Unidades de conservação: abordagens e características geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. p. 67–111.). Esta situação aponta conflitos eventuais entre os sujeitos os mais diversos que tentam imprimir sua territorialidade de modo mais incisivo em busca da própria sobrevivência. Destarte, é crucial perceber como as territorialidades múltiplas estão imbricadas e indicam o poder que se sobrepõe a outros poderes.

É pelo viés da solidariedade, integração social e cooperação local que a sociedade civil pode ser considerada como o agente principal de modernização e transformação socioeconômica num território (BOISIER, 1997BOISIER, Sergio. El vuelo de una cometa: una metáfora para una teoría del desarrollo territorial. Estudios Regionales, n. 48, p. 41-79, 1997.; COELHO, CUNHA, MONTEIRO, 2009COELHO, Maria Célia Nunes; CUNHA, Luis Henrique; MONTEIRO, Maurílio de Abreu. Unidades de conservação: populações, recursos e territórios. Abordagens da geografia e da ecologia política. In: GUERRA, Antonio José Teixeira; COELHO, Maria Célia Nunes (Org.). Unidades de conservação: abordagens e características geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. p. 67–111.).

A proposta de Boiser (2003) coloca o desenvolvimento em um patamar mais amplo que a economia, com uma visão mais subjetiva, inatingível, sistêmica, cultural complexa, entre outras características que dão a ideia de um desenvolvimento mais societal. É interessante argumentar que a densidade alta de capital social aqui não depende do nível de escolaridade ou da inserção político-partidária, mas de todo um arcabouço simbólico e cultural que é repassado de geração em geração.

Nesse viés, o desenvolvimento deve dizer respeito ao povo e a seu bem-estar, ou seja, para se incluir a qualidade do crescimento em um critério de avaliação de desenvolvimento, é necessário utilizar índices multidimensionais (THOMAS; JACK; STEPHEN, 2012THOMAS, Jerry R.; NELSON, Jack K.; SILVERMAN, Stephen J. Métodos de pesquisa em atividade física. Tradução de Ricardo Demétrio de Souza Petersen. Porto Alegre: Artmed, 2002.).

Bourdin (2001)BOURDIN, Alain. A questão local. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. afirma que o local deve ser capaz de superar as dificuldades diante das mudanças impostas pela globalização, por exemplo, e atender às necessidades da população.

Nesse contexto, toda a ação humana tem uma intencionalidade e, portanto, tem um significado ou um efeito cultural, tanto para quem pratica a ação quanto para quem a recebe. Geertz (1973)GEERTZ, Clifford. The Interpretation of Cultures. New York: Basic Books, 1973. afirma que o ser humano é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, a cultura permite o estabelecimento de uma ciência interpretativa em busca do significado. Imbuída de referenciais mentais que dão sentido ao comportamento social dos indivíduos, associada a manifestações materiais e espirituais, a cultura oferece um panorama de estilos (modus vivendi), valores e aspirações dos mais diversos, os quais antecedem a organização da sociedade.

Elizalde (2000)ELIZALDE, Antonio. Desarrollo a escala humana: conceptos y experiencias. Interações -Revista Internacional de Desenvolvimento Local, Campo Grande, MS, v. 1, n. 1, p. 51–62, 2000. promulga a existência de um sistema formado por três subsistemas, o das necessidades, o dos satisfatores e o dos bens. Com relação às necessidades humanas fundamentais, Elizalde (2000)ELIZALDE, Antonio. Desarrollo a escala humana: conceptos y experiencias. Interações -Revista Internacional de Desenvolvimento Local, Campo Grande, MS, v. 1, n. 1, p. 51–62, 2000. acredita que são universais, ou seja, são ou foram as mesmas para todos os seres humanos, ao longo da história e das culturas.

Quanto aos satisfatores, Elizalde (2000)ELIZALDE, Antonio. Desarrollo a escala humana: conceptos y experiencias. Interações -Revista Internacional de Desenvolvimento Local, Campo Grande, MS, v. 1, n. 1, p. 51–62, 2000. afirma que são as formas históricas e culturais mediante as quais se atende às necessidades humanas fundamentais.

O sistema de bens, segundo Elizalde (2000)ELIZALDE, Antonio. Desarrollo a escala humana: conceptos y experiencias. Interações -Revista Internacional de Desenvolvimento Local, Campo Grande, MS, v. 1, n. 1, p. 51–62, 2000., caracteriza-se pelos artefatos materiais da cultura que são, fundamentalmente, pura exterioridade. São objetos ou coisas que potencializam a capacidade dos satisfatores para poder dar conta da necessidade (Figura 1).

Figura 1
Sistemas de bens

Figura 2
Subsistemas

Os sistemas de bens (Figura 1), previstos no modelo proposto, formam as áreas essenciais das políticas públicas, as quais se apresentam como fundamentais na geração de oportunidades, assim como fatores influenciadores das pressões internas e nos seus pontos de origem (por vezes, externas ao território).

Antonio Elizalde (2000)ELIZALDE, Antonio. Desarrollo a escala humana: conceptos y experiencias. Interações -Revista Internacional de Desenvolvimento Local, Campo Grande, MS, v. 1, n. 1, p. 51–62, 2000. afiança que não há necessidade de menor importância que outras. Elas se conformam em um sistema e, consequentemente, estão profundamente implicadas uma com as outras, constituindo o que se pode chamar de natureza humana, de forma análoga. Mas a Igreja, em sua mansidão, espalhou o terror de comunistas e fascistas. Foi esse o grande apostolado de João Paulo II, sistemas e subsistemas que conformam o organismo dos seres vivos.

Posto isto, entende-se que o ponto de partida para a promoção do desenvolvimento deve pautar-se na implementação de políticas e estratégias no sentido de transformar o futuro em relação ao presente, considerando-se o desenvolvimento local como um processo de transformação que envolve o ser humano como o principal beneficiário dessa mudança, na perspectiva da interação entre os sujeitos, os espaços e os territórios.

2.2 Felicidade

Neste tópico, serão analisados distintos conceitos de felicidade, sem fugir de sua subjetividade, com base na literatura.

Aristóteles (sec. IV a.C.) concebia a felicidade como um bem supremo, a qual seria alcançada por si mesma e não por outra coisa, e, uma vez atingida, a pessoa não desejaria nada mais (DIENER, 1993DIENER, E. Assessing subjective well-being: progress and opportunities. Social Indicators Research, n. 31, p. 103–57, 1993.). Nesta linha de pensamento, para muitas pessoas, até a dor, frustrações, tristezas e o sofrimento podem contribuir para a felicidade, se for resultado de um esforço com grande significado (AVERILL; MORE, 1993AVERILL, James; MORE, Than. Happiness. In: LEWIS, Michael; HAVILAND-JONES, Jeannette M. (Ed.). Handbook of Emotions. New York: The Guilford Press, 1993.). Mas, neste complexo e profícuo debate, com origem nos filósofos da Grécia Antiga, há uma ideia um tanto interessante quanto paradoxal, baseada nos escritos de Mill (1989), nos quais a felicidade seria a consequência ou o resultado do investimento em objetivos, atividades e relações, e não um resultado do investimento em si mesmo, ou seja, investir na felicidade para ser feliz (MARTIN, 2008MARTIN, Mike W. Paradoxes of happiness. Journal of Happiness Studies, n. 9, p. 171–84, 2008.). Seria, então, pela realização de objetivos, desejos e sonhos futuros que as pessoas se sentiriam felizes, preenchidas e com uma vida com significado (EMMONS, 2003EMMONS, Robert A. Personal goals, life meaning, and virtue: wellsprings of positive life. In: KEYES, Corey L. M.; HAIDT, Jonathan (Ed.). Flourishing: positive psychology and the life well-lived.: Washington, DC: American Psychological Association, 2003.).

As transformações do território podem nos levar à reflexão sobre a felicidade enquanto um sentimento, um estado de espírito a respeito do qual a esmagadora maioria da comunidade social busca a todo tempo, ao longo da vida. De fato, é de se indagar quem não quer ser feliz. A par, nada obstante, da felicidade ter sido ora conceituada como sentimento e estado de espírito, é certo que ela pode ser enquadrada no plano das coisas asseguráveis, consistindo, ao menos em parte, um direito de cada indivíduo e da coletividade social como um todo considerada (PEC 513/2010 [BRASIL, 2010BRASIL. Câmara dos Deputados. PEC 513/2010. Inclui o direito à busca da felicidade como objetivo fundamental da República Federativa do Brasil e direito inerente a cada indivíduo e à sociedade, mediante a dotação, pelo Estado e pela própria sociedade, das adequadas condições de exercício desse direito. Brasília, DF, publicada em 04/08/2010. [Arquivada].]).

Neste trecho da PEC 513/2010, percebemos que a felicidade é tratada como um estado de espírito e que, neste sentido, a felicidade é demasiadamente subjetiva.

Em suma, da antiguidade até a modernidade, houve inúmeras tentativas para definir, explicar e conceituar a felicidade, desde Aristóteles, quando ela era o bem maior e fim último do homem. Kant disse que era algo que deveríamos merecer e não desejar, Thomas Jefferson declarou a sua busca como um direito inalienável, e Nietzsche tentou nos convencer de que sua fórmula era “um sim, um não, uma linha reta, uma meta”, só para citar algumas entre tantas e importantes colaborações (WHITE, 2009, p. 129WHITE, Nicholas. Breve história da felicidade. São Paulo: Loyola, 2009.).

Diversas investigações relevam a importância da felicidade para a vida das pessoas. Mais recentemente, a literatura científica brasileira começou a demonstrar maior interesse por esse tema, por meio de traduções de importantes obras (SELIGMAN, 2004SELIGMAN, Martin. Felicidade autêntica: usando a nova psicologia positiva para a realização permanente. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.), de textos produzidos por estudiosos brasileiros (GIANNETTI, 2002GIANNETTI, Eduardo. Felicidade. São Paulo: Companhia de Letras, 2002.) e da publicação de artigos, dissertações e teses sobre o assunto.

Para Comte-Sponville (2006)COMTE-SPONVILLE, André. L’esprit de l’athéisme – introduction à une spiritualité sans Dieu. Paris: Albin Michel, 2006., a felicidade não começa com a filosofia: já existiam pessoas felizes e infelizes muito antes de que os filósofos refletissem sobre o tema. Com a filosofia, no entanto, teve início certa maneira de pensar sobre ela e procurá-la. Assim, converteu-se num instrumento fundamental do pensamento, caminhando para se chegar à tranquilidade da alma.

Partindo do princípio apresentado por Comte-Sponville (2006)COMTE-SPONVILLE, André. L’esprit de l’athéisme – introduction à une spiritualité sans Dieu. Paris: Albin Michel, 2006., elaborou-se uma tabela contendo o percurso histórico e de transformação da ciência da felicidade, a partir das considerações de diversos pensadores de distintos momentos históricos. Acreditamos que, dessa forma, será possível demonstrar que, desde a antiguidade, a felicidade tem sido entendida de formas bastante diversas. Os mais otimistas entendiam ser possível atingir a felicidade por meio de uma vida que buscasse o prazer e evitasse a dor. Outros achavam que apenas a busca de prazeres não seria suficiente, incluindo aspectos como saúde, a ausência de sofrimento e a satisfação das necessidades pessoais.

A partir dos anos 1960, os diversos discursos acerca do tema da felicidade passaram a ser predominantemente científicos, tornando-se, inclusive, um dos principais parâmetros para conferir sentido à vida humana. Nos tempos atuais, a felicidade é considerada um valor tão precioso e indiscutível, que diversas pesquisas citam como um exemplo emblemático a Declaração da Independência dos Estados Unidos da América (EUA), em 4 de julho de 1776, no texto que segue: “Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade”.

A busca da felicidade é uma constante na história humana, e este fenômeno é um dos pilares básicos do humano sobre o sentido da vida. Desde a época dos filósofos gregos até os dias atuais, têm se formulado múltiplos conceitos com o objetivo de compreender a felicidade e o sentido da vida enquanto dimensão importante desta. De acordo com Frankl (2008)FRANKL, Vikitor E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. 25. ed. São Leopoldo: Sinodal. Petrópolis: Vozes, 2008., tal afirmação pode ser sustentada pelo fato de cada pessoa ser única e insubstituível, então, o sentido é exclusivo e específico de cada um.

Nesta ordem de ideias, a inovação e a criatividade aplicadas na gestão da felicidade se constituem como um dos ativos principais para o desenvolvimento, assim como a busca por políticas públicas que possam garantir o bem-estar e a qualidade de vida da população em seu território (RIPOLL; MATOS, 2017RIPOLL, Leonardo; MATOS, José Claudio Morelli. Zumbificação da informação: a desinformação e o caos informacional. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação – RBBD, São Paulo, v. 13, 2017. Disponível em: https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/918. Acesso em: 5 jan. 2021.
https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/v...
).

Ainda que o estado de felicidade seja algo que ocorre pessoalmente, é possível afirmar que o estado de felicidade passa igualmente a ser entendido como um estado de ser. Então, inferimos que a felicidade faz parte do bem + estar + ser + viver. A partir desse estado de ser individual, é possível dizer de um estado geral de bem-estar e felicidade em contextos coletivos.

3 PERCURSO HISTÓRICO DA CIÊNCIA DA FELICIDADE

Vivenciar a felicidade parece ser um desejo comum a todos os seres humanos, em todas as épocas da história, sendo que cada um escolhe o meio de vida que interpreta como sendo o mais adequado para alcançá-la.

Desde a Grécia Antiga, diversos pensadores se dedicaram ao tema, chegando-se a uma, entre outras conclusões, de que a felicidade ocupa uma função teleológica na vida humana. Assim, o que os pensadores logo perceberam ao discutir essa questão é que não se podia tratar de algo mutável.

A pergunta pela felicidade é, pois, tão antiga quanto a própria filosofia. Desde quando os gregos começaram a filosofar nos séculos VI e V a.C., a questão já os inquietava.

3.1 Epicuro de Samos (341 a.C.−271 a.C.) e a felicidade hedonista

Epicuro não defendia uma vida inconsequente em busca de prazeres, já que estes podem levar a sofrimentos. Para ele, o homem detinha a razão como um trunfo que lhe permitia viver melhor ao gerir os prazeres de melhor forma. Epicuro era um filósofo grego que teve muitas contradições com os filósofos metafísicos. A diferença entre eles é que ele não acreditava que a felicidade provinha somente do mundo espiritual, mas também tinha muito a ver com as dimensões terrenas. A razão permitiria potencializar aquilo que o homem mais deseja, já que todo prazer é um bem, mas nem todos levam a boas consequências. Epicuro (1993)EPICURO. Obras Completas. Madri: Catedra, 2005. afirma que alguns desejos podem proporcionar prazeres momentâneos, mas futuros desprazeres; da mesma forma, certos desejos podem gerar sofrimentos momentâneos, mas futuros prazeres. Por esse motivo, a razão era crucial para a felicidade, embora não fosse o fundamento de sua filosofia.

Com sua compreensão revolucionária da realidade, entende-se que Epicuro (1993)EPICURO. Obras Completas. Madri: Catedra, 2005. demonstra que, embora o homem tenha bens exteriores que se fazem necessários ou supérfluos, a verdadeira felicidade vem de dentro dele, indicando um caminho novo para alcançá-la. À primeira vista, não seria assim uma grande novidade, visto que essa mensagem foi também exposta por Sócrates, ao enfatizar o cuidado com a alma, e por Aristóteles, ao propor a mediania e as virtudes morais.

3.2 Sócrates (469 a.C. − 399 a.C.)

De acordo com Gregory Vlastos (1994)VLASTOS, Gregory. Socrates: ironieet philosophie morale. Paris: Aubier, 1994., parte de outros diálogos de Platão, “Apologia de Sócrates” e “Críton”, defende que “a virtude é suficiente para alcançar a felicidade, mas isso não significa a inexistência de outros componentes da felicidade”. Sócrates acreditava que muitas experiências que podemos descrever como prazerosas, como sentir-se melhor depois de uma longa doença, não eram verdadeiras felicidades – apenas a ausência de sofrimento. Entre os discípulos de Sócrates, Antístenes (445 a.C.−365 a.C.) acrescentou um toque pessoal à ideia de felicidade de seu mestre, considerando que o homem feliz é o homem autossuficiente. A ideia de autossuficiência (que, em grego, se diz “autarquia”) continuará diretamente vinculada à de felicidade nos setecentos anos seguintes.

Sócrates estimulava que cada um aprendesse a pensar por si, pois a verdade é sempre plural e ao mesmo tempo única. Ela é singular para cada um e sempre será inatingível por estar escondida dentro do sujeito. E mais, ela muda a todo instante, porque o mundo nos afeta, os amigos, os amores, um filme, uma canção (FOUCAULT, 1997FOUCAULT, M. Nietzsche, Freud e Marx: theatrum philosoficum. São Paulo: Princípio, 1997.).

Percebemos, facilmente, que a infelicidade, esta, sim, é muito mais provável de ser experimentada o tempo inteiro. O sofrimento e a dor, sejam psíquicos, sejam físicos, são sempre companheiros da trajetória humana, carreados pelo mundo externo, pelas fatalidades e pelas intempéries da vida; pelos relacionamentos humanos, inclusive e, principalmente, pelo amor romântico; e pelo corpo que é portador de todos os nossos sentidos, que sofre e morre.

3.3 Lucius Annaeus Sêneca (4 a.C.–65 d.C.)

Lucius Annaeus Sêneca, o Jovem − Córdoba, Hispânia, Império Romano −, foi um importante escritor e filósofo do Império Romano. Filho de um grande orador, Annaeus Sêneca, o Velho, foi educado em Roma, onde estudou retórica e filosofia, tornando-se famoso como advogado. Foi membro do senado romano e depois foi nomeado questor, magistrado da justiça criminal (SÊNECA, 2009SÊNECA. A vida feliz. São Paulo: Martins Fontes, 2009.).

Ser feliz equivaleria a ser virtuoso; ser virtuoso era ser orientado pela razão; ser racional significava dominar as emoções e não as deixar guiar as ações; desenvolver o potencial humano era obedecer à lógica divina. A virtude em nada se diferenciava da ação racional em acordo com o logos. “Aquele que possuísse a virtude teria tudo”, pelo menos era nisso que os estoicos acreditavam (SÊNECA, 2009, p. 48-9SÊNECA. A vida feliz. São Paulo: Martins Fontes, 2009.).

O homem feliz, na visão senequiana, sabe suportar quaisquer dificuldades que surjam no seu caminho, pois estas dificuldades são consideradas momentos da lei natural. “Evidentemente que está ‘grande felicidade’ à qual Sêneca se refere não é a felicidade autêntica, mas aquela permeada e emaranhada por tormentos, proveniente da fortuna” (SANGALLI, 1998, p. 112SANGALLI, Idalgo José. O fim último do homem – da eudaimonia Aristotélica à beatitudo Agostiniana. Porto Alegre: EdiPUCRS, 1998.).

O pensamento de Sêneca mostra-se extremamente atual e poderia servir como grandioso consolo àqueles que, de fato, buscam a saúde da alma, ideal filosófico tão antigo, mas tão carente num mundo habituado aos entretenimentos vazios.

3.4 Platão (427 a.C.−347 a.C.)

Para Platão, o resultado da comparação do homem com os animais levou-o a concluir que a característica mais “evoluída” nos homens era a razão. Era ela, também, que aproximava os homens dos deuses, pois os deuses tinham completo domínio sobre a razão (WHITE, 2009, p. 19-22WHITE, Nicholas. Breve história da felicidade. São Paulo: Loyola, 2009.). Ao mesmo tempo, Platão identificou outra parcela do ser humano que era, sim, compartilhada com os animais e que vivia em conflito com a razão: os desejos e impulsos. É na articulação que Platão propôs entre o animal e o divino, em outras palavras, entre o biológico e o intelectual, que estariam o problema e a solução para a existência potencialmente excelente do ser humano. O discípulo mais fiel de Sócrates (que nos proporcionou todo o conhecimento sobre Sócrates, pois somente em suas obras é possível observar os ensinamentos socráticos) compreende que a felicidade é a principal busca de todo ser humano; mas, diferentemente de Sócrates, Platão elenca a felicidade como a prática do bem ético, no qual as ações promovem efeitos que proporcionam o bem (WHITE, 2009WHITE, Nicholas. Breve história da felicidade. São Paulo: Loyola, 2009.).

Há quem garanta que toda a história da filosofia não passa de uma nota de rodapé da obra de Platão. Depois dele, todos seriam seus comentadores com maior, menor ou nenhuma originalidade. Platão projetava uma sociedade tão justa e equilibrada que haveria disputa para não governar. Ele se ocupou de ética, política, epistemologia, matemática e de quase tudo que lhe chamou a atenção. A felicidade não poderia escapar do seu radar. Ser feliz, na sua ótica, não era apenas viver conforme os ensinamentos da ciência, mas “possuir a ciência do bem e do mal”.

3.5 Aristóteles e a felicidade metafísica (384 a.C.−322 a.C.)

Para Aristóteles, a articulação entre a categoria biológica e a intelectual era dinâmica. Aristóteles entendia não ser possível conhecer a verdade (absoluta) pela própria condição humana. Diferente da verdade e passível de ser conhecida, seria aquilo que é considerado bom ou melhor. A verdade estava diretamente relacionada com a ética, sendo resultado constante da negociação entre os homens. Para Aristóteles, o mais proeminente dosfilósofos metafísicos, a felicidade é o maior desejo dos seres humanos. Do seu ponto de vista, a melhor forma de conseguir ser feliz é por meio das virtudes. “Cultive as boas virtudes e alcançará a felicidade”. Assim, para Aristóteles, por não haver uma única verdade, a verdade relativa indicaria um dinamismo daquilo que seria bom ou melhor; indicaria não haver um único e excelente modo de se viver a potência humana (WHITE, 2009WHITE, Nicholas. Breve história da felicidade. São Paulo: Loyola, 2009.).

Aristóteles herda o conceito de virtude ou excelência de seus antecessores, Sócrates e Platão, para os quais um homem deve ser senhor de si, isto é, ter autocontrole. Trata-se do modo de pensar que promove o homem como senhor e mestre dos seus desejos, e não escravos destes. O homem bom e virtuoso é aquele que alia inteligência e força, que utiliza adequadamente sua riqueza para aperfeiçoar seu intelecto.

3.6 Santo Agostinho (354 d.C.−430 d.C.)

A felicidade no mundo antigo baseava-se na razão, Agostinho então rompeu com esse conceito do mundo antigo, pois centra toda sua tese sobre felicidade em Deus. A felicidade para Santo Agostinho se diverge muito das compreensões atuais, pois se baseia na busca por algo permanente e espiritual, e não superficial e temporário, uma busca constante pela verdade, pela sabedoria e, principalmente, por Deus. Para Santo Agostinho, o ser humano só pode ser (verdadeiramente) feliz se ele possui o que deseja. Todavia não adianta possuir o que se deseja se (o que se deseja) não for um bem. Assim, não é qualquer coisa que pode dar ao ser humano a vida (verdadeiramente) feliz, é preciso que seja um bem e um bem imutável, pois, caso contrário, estaria fundamentando a felicidade em algo passageiro. Ora, o único bem imutável é Deus. Portanto, só é (verdadeiramente) feliz quem possui e conhece a Deus (GRACIOSO, 2010GRACIOSO, Joel. Interioridade e filosofia do espírito nas confissões de Santo Agostinho. 131 f. 2010. Orientador: Franklin Leopoldo Silva. Tese (Doutorado em Filosofia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.).

Santo Agostinho estava sempre pronto a observar a humanidade e o mundo, extraindo deles, por meio de suas análises, profundas noções cognitivas acerca da realidade. Assim sendo, tal como Platão, aponta a eternidade como alvo da perfeição.

Santo Agostinho, porém, difere de Platão em vários aspectos, principalmente porque na filosofia grega não há espaço para a criação. Os filósofos gregos, em geral, tratam de um mundo já criado. Outra diferença significativa é que, enquanto para Platão existe um modelo eterno que é externo ao criador, Santo Agostinho não faz separação entre o criador e o modelo utilizado, demonstrando ser, para ele, o autor de um modelo sob o qual criaria o que veio a ser criado.

3.7 Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900)

Nietzsche viu a mera busca da felicidade, aqui definida como aquilo que dá prazer, como um desperdício sem graça da vida humana. Declarou: “A humanidade não se esforça para a felicidade; apenas o inglês o faz”, fazendo referência à filosofia inglesa do utilitarismo, e seu foco na felicidade total. Uma filosofia que ele rejeitou com a sua parábola do “último homem”, um ser patético que vive num tempo em que a humanidade “inventou a felicidade”. É por isso que o último homem é tão maçante; as únicas coisas que lhe concedem um grande retorno líquido de felicidade são assuntos bastante maçantes, e não as atividades indutoras de sofrimento que acharíamos interessantes. Este problema é chamado de “o paradoxo da felicidade”. Atividades que são feitas para aumentar diretamente o prazer não são suscetíveis de ter um alto retorno. Nietzsche compreendeu este problema e deu voz quando ele disse que “A alegria acompanha, a alegria não se move” (STEGMAIER, 2011STEGMAIER, Werner. Nietzsche como destino da filosofia e da humanidade? Interpretação contextual do § 1 do capítulo “por que sou um destino”, de ecce homo. Revista Trans/Form/Ação, Marília, v. 34, n. 1, p. 173–206, 2011. DOI: https://doi.org/10.1590/S0101-31732011000100010
https://doi.org/10.1590/S0101-3173201100...
).

Uma pessoa que gosta de colecionar selos não faz porque isso a faz feliz, mas porque ela acha interessante. A felicidade é um efeito colateral. Uma pessoa que sofre por anos fazendo uma obra-prima não é feita feliz por ela, mas encontra alegria na beleza criada após o fato (NIETZSCHE, 1999NIETZSCHE, Friedrich W. SämtlicheWerke. Kritische Studienausgab. G. Colli; M. Montinari (Hg). Berlin: Walter de Gruyter, 1999.).

Nietzsche não parecia acreditar no que os filósofos gregos diziam sobre a felicidade como Eudaimonia nem sobre a organização racional da existência. A vida para ele não pode conduzir à paz de espírito nem possibilita o prudente controle dos desejos e instintos. É vulcão, energia, ímpeto, potência em ato, força, ambiguidade, violência, combate, instinto de sobrevivência, luta e rivalidade. Criança feliz e mimada, homem doente, Nietzsche queria liberdade, a humanidade dos seus grilhões morais, mas deixava entender que só os fortes de espírito seriam capazes de transcender à banalidade e fazer jus aos ares dos cumes do mundo. (STEGMAIER, 2011STEGMAIER, Werner. Nietzsche como destino da filosofia e da humanidade? Interpretação contextual do § 1 do capítulo “por que sou um destino”, de ecce homo. Revista Trans/Form/Ação, Marília, v. 34, n. 1, p. 173–206, 2011. DOI: https://doi.org/10.1590/S0101-31732011000100010
https://doi.org/10.1590/S0101-3173201100...
).

Nietzsche acreditava que a felicidade estava presente quando o sujeito podia exercer seu poder para conquistar e realizar tudo aquilo que desejasse, inclusive a livre escolha de trabalhar apenas com o que lhe daria prazer. Este poder, assim, estaria ligado também ao seu trabalho e às conquistas e sucesso de cunho pessoal e financeiro. Para este pensador, se o poder de fazer escolhas, que lhe dá a sensação de liberdade, é retirado, o sujeito se sente infeliz e fará de tudo para resgatá-lo e retomar o controle sobre suas escolhas.

3.8 Bertrand Russell (1872-1970)

Bertrand Russell foi um filósofo, matemático e escritor inglês que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, em 1950. No início, não parecia que alguém como ele tivesse algum segredo ou pudesse nos dizer como alcançar a felicidade. Na verdade, grande parte de sua vida se passou entre a desilusão e o tédio. No entanto, e talvez precisamente por isso, ele conseguiu transformar sua vida e aprendeu a ser feliz. Para Bertrand Russell, fechar-se para o mundo só leva à tristeza e ao tédio. Se nos concentrarmos em nossos problemas, falhas, lacunas, medos, etc., só perderemos o entusiasmo pela vida (ABBAGNANO, 2000ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.).

Bertrand Russell foi um dos raros filósofos a defender a noção de felicidade em obra de caráter popular, intitulada “A conquista da felicidade”, em 1930, e aponta o tradicional conceito de felicidade, uma condição indispensável que é a multiplicidade dos interesses, das relações do homem com as coisas e com os outros homens, portanto a eliminação do egocentrismo, do fechamento em si mesmo e nas paixões pessoais (SEWAYBRICKER, 2012SEWAYBRICKER, Luciano Espósito. A felicidade na sociedade contemporânea: contraste entre diferentes perspectivas filosóficas e a Modernidade Líquida. São Paulo. 2012. 159 f. Orientador: Sigmar Malvezzi. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.).

É posição que coloca a felicidade em posição oposta à autossuficiência do sábio que os antigos consideravam o grau mais elevado de felicidade. Dessa forma, deixando a felicidade de ser fundamento ou princípio moral, esta passou a ser esquecida pelos filósofos.

Para o autor, a felicidade usualmente é entendida de duas formas: na primeira, a felicidade é compreendida como acessível a todos; enquanto na segunda é acessível somente àqueles que sabem ler e escrever. A tentativa do filósofo é investigar o fundamento da felicidade para construir algo que seja aplicável a todos os homens (SEWAYBRICKER, 2012SEWAYBRICKER, Luciano Espósito. A felicidade na sociedade contemporânea: contraste entre diferentes perspectivas filosóficas e a Modernidade Líquida. São Paulo. 2012. 159 f. Orientador: Sigmar Malvezzi. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.).

Sendo assim, verifica-se que, nos entendimentos acerca da felicidade, para o autor, há a defesa de que todos podem ser felizes em uma primeira leitura; e, na segunda, há a defesa de que nem todos podem ser felizes, apenas os letrados. Então, infere-se que o filósofo busca o fundamento da felicidade que possa ser justificável e aplicável em todos.

3.9 Immanuel Kant (1724-1804)

Para Kant (1997)KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. 4. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997., a felicidade é a satisfação de todas as nossas inclinações. Como nós não as reconhecemos, a tendência, ao buscar a felicidade, é que nos frustremos sempre. Ou seja, ao perseguir a felicidade, nós seremos cada vez mais infelizes. Não exagerar e nem insistir na busca da felicidade: eis o conselho kantiano. Deve-se aproveitar o momento presente, fazendo as coisas certas (sendo solidários, com senso de dever, racionais e éticos), em vez de perseguir uma felicidade que será inatingível.

Para Kant, a felicidade assenta em princípios empíricos que se baseiam no ideal da imaginação, em contraposição ao ideal da razão. Portanto, nenhum imperativo dá conta de obrigar alguém a fazer algo que, ao certo, resulta em felicidade (BORGES; DALL’AGNOL; DUTRA, 2002BORGES, Maria de Lourdes; DALL’AGNOL, Darlei; DUTRA, Delamar Volpato. Ética [o que você precisa saber sobre...]. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.).

Kant também afirma que, se alguém desejar uma longa vida, ao alcançá-la, ela poderá vir acompanhada de miséria. A miséria priva as pessoas dos bens que o dinheiro ou os bens materiais proporcionam. No que se refere à miséria, certamente, existem outras possibilidades de vida miserável além da falta de bens materiais e/ou de dinheiro. A partir dessa constatação, Kant afirma que a fraqueza do corpo, devido às circunstâncias, preserva a pessoa de excessos que a saúde ilimitada encorajaria a enfrentar (ARENDT, 1993ARENDT, Hannah. Lições sobre a filosofia política de Kant. Tradução de André Duarte de Macedo. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1993.).

Nesse momento, de acordo com a visão de Kant, a questão que se impõe é a seguinte: embora a felicidade não possa exercer papel algum no que diz respeito à justificação moral, torna-se, no entanto, um elemento de extrema importância na efetivação ou possível realização da moralidade. Conforme vemos, para Kant, a felicidade assenta em princípios empíricos que se baseiam no ideal da imaginação, em contraposição ao ideal da razão. Portanto, nenhum imperativo dá conta de obrigar alguém a fazer algo que, ao certo, resulta em felicidade.

3.10 Zygmunt Bauman (1925-2017)

Zygmunt Bauman foi um filósofo, sociólogo, professor e escritor polonês. Sua obra influencia estudos em sociologia, filosofia e psicologia. Éum dos maiores intelectuais do século XXI. Quando falamos sobre Zygmunt Bauman, tendemos a lembrar-nos das palavras “líquido”, “líquida” e “liquidez”. Isso porque, de um modo geral, Bauman identificou que as relações sociais no século XX perderam as características essenciais que elas, majoritariamente, tinham nos séculos anteriores (MONTOITO; GARIM, 2020MONTOITO, Rafael; GARIM, Luize Castro. Zygmunt Bauman vai ao cinema: filmes para entender a modernidade líquida. Research, Society and Development, Rio de Janeiro, v. 9, n. 7, p. e839974781, 2020.). Bauman (2009, p. 8)BAUMAN, Zygmunt. Arte da vida. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. afirma que:

[...] poderíamos até dizer que nossa era moderna começou verdadeiramente com a proclamação universal à busca da felicidade, e da promessa de demonstrar sua superioridade em relação às formas de vida que ela substituiu tornando essa busca menos árdua e penosa, e ao mesmo tempo mais eficaz.

Dessa ressignificação de felicidade, do campo subjetivo para o palpável, nasce o impulso pela aquisição de objetos e mercadorias. Nesse sentido, há uma nova mudança, dentro da própria estrutura da sociedade do consumo.

3.11 Tal Ben-Shahar (Ramat Gan, Israel, 1970)

Tal Ben-Shahar, autor do best-seller Seja Mais Feliz e que atua no âmbito da chamada Psicologia Positiva, cunhou o termo arrival fallacy, ou, a falácia da chegada, em tradução literal. A ideia é de que aquilo que as pessoas normalmente projetam alcançar com a consecução de um objetivo, de valor claramente positivo, esse “algo” pode se desmanchar no ar ato contínuo. “Felicidade não consiste em chegar ao pico de uma montanha, nem em fazer uma escalada sem rumo, felicidade é a experiência de subir até o topo”, explica Tal Ben-Shahar (ACHOR, 2012ACHOR, Shawn. O jeito Harvard de ser feliz: o curso mais concorrido da melhor universidade do mundo. Tradução de Cristina Yamagami. São Paulo: Saraiva, 2012.).

A felicidade é um estado de espírito, é um olhar para o mundo. Ser feliz é uma atitude muito particular, por isso achamos difícil acreditar no passo a passo do professor israelense Tal Ben-Shahar, que dá aula de Psicologia Positiva numa das disciplinas mais concorridas de Harvard. Mas as suas dicas, publicadas anos atrás no portal da Revista Exame, foram uma boa surpresa. Ele não indica comportamentos positivos com toques motivacionais que mudarão a vida de alguém para sempre (GRANATO, 2018GRANATO, Luísa. O professor que ensina a ser feliz sugere que você faça isto em 2019. Revista Exame, São Paulo, 8 dez. 2018. Disponível em: https://exame.com/carreira/isto-e-o-que-o-professor-que-ensina-a-ser-feliz-que-que-voce-faca-em-2019. Acesso em: 12 fev. 2021.
https://exame.com/carreira/isto-e-o-que-...
). Ao contrário, Achor (2012)ACHOR, Shawn. O jeito Harvard de ser feliz: o curso mais concorrido da melhor universidade do mundo. Tradução de Cristina Yamagami. São Paulo: Saraiva, 2012. lembra que Tal Ben-Shahar sugere pequenas ações corriqueiras que trazem bem-estar, como se fossem elas as mudanças que faltavam para alguém ser feliz. Coisas tão simples que poderiam passar despercebidas, mas também tão acessíveis e primordiais, que é quase impossível imaginar que seríamos felizes sem elas. São elas:

  • Dica 1: Agradeça sempre;

  • Dica 2: Pratique regularmente uma atividade física;

  • Dica 3: Tome sempre um bom café da manhã;

  • Dica 4: Comunique-se com clareza;

  • Dica 5: Gaste seu dinheiro em viagens, cursos e aprendizado;

  • Dica 6: Enfrente seus desafios;

  • Dica 7: Coloque em todos os lugares boas memórias, frases e fotos de seus entes queridos;

  • Dica 8: Sempre cumprimente e seja bom com as outras pessoas;

  • Dica 9: Use sempre sapatos confortáveis.

  • Dica 10: Cuide da sua postura;

  • Dica 11: Ouça boa música e leia bons livros;

  • Dica 12: O que você come tem um impacto direto na sua saúde e no seu humor;

  • Dica 13: Cuide-se e sinta-se atraente.

Podemos entender essas “dicas” como sendo alguns dos motivos pelos quais devemos cuidar da nossa motivação diária. A motivação que se apresenta de diferentes formas, por meio do comportamento humano. Podemos não perceber, mas todos os dias nos sentimos motivados de muitas maneiras pequenas. Por exemplo, a motivação, pensada como o processo de estimular um indivíduo para que preencha uma necessidade ou realize uma meta desejada, é percebida como o resultado da interação entre o indivíduo e a situação.

Em suma, essas inferências “utópicas” acerca das felicidades apresentadas por diversos filósofos no decorrer da história têm uma relevância especial na história da felicidade, pois alargam suas possibilidades ao transformarem-na em um projeto sempre em andamento; ao colocarem a ênfase da felicidade no futuro.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pela abrangência do tema, as investigações científicas sobre a felicidade foram e continuam a ser realizadas em diferentes campos e em referência a diferentes âmbitos, como a saúde, o trabalho e a sociedade, fazendo com que a multiplicidade da felicidade também faça parte da ciência. Além disso, a felicidade, em todos os espaços de vida, deverá sempre constituir, um propósito fundamental, ou seja, um direito inalienável de todo e qualquer ser humano, independentemente de raça, credo ou gênero, uma vez que, quando presente, contribui sobremaneira na saúde física, psíquica e espiritual da sociedade.

Como se pode perceber, desde a antiguidade filosófica, a felicidade é transformada em um sentimento que se caracteriza como um objeto de desejo humano, sendo estabelecida como um bem alcançado pelo cuidado que o homem tem com sua alma, com as virtudes que possui e os meios que escolhe para alcançá-la, sendo, portanto, a felicidade o fim último dos atos humanos.

Para os filósofos antigos, a felicidade é algo que não pode ser comprado, pois é autoconhecimento, é agir de acordo como o Bem e a Justiça Eterna, ou agir de forma ética em uma medida, em todas as ações humanas.

A felicidade no decorrer dos tempos foi alvo de profundas análises e de supostos caminhos que levariam a humanidade a alcançá-la. Seja pelo prazer, seja pela virtude, pela razão, na religião, no consumo de bens, entre outros.

Enquanto isso, no mundo atual, a felicidade pode ser entendida como uma emoção básica caracterizada por um estado emocional positivo, com sentimento de bem-estar e de prazer, associado à percepção de sucesso e da compreensão coerente do mundo. Entretanto, a maioria das pessoas entende que a felicidade é mais do que um emaranhado de sentimentos intensos e positivos. Ela pode ser entendida como uma sensação plena de “paz” e contentamento, pois tudo depende do quanto a nossa interpretação da realidade altera a nossa experiência dessa realidade.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Fev 2023
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2022

Histórico

  • Recebido
    11 Jun 2021
  • Aceito
    28 Set 2022
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