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Repensando o papel das universidades: caminhos iniciais

Como caracterizar as universidades em nosso país, a partir da multiplicação vertiginosa de instituições universitárias que são criadas a cada ano? Pode-se refletir que grande parte dos impasses que vivemos relacionados às universidades brasileiras tem relação com a história vivida pelas instituições desde a sua origem. Já desempenhou vários papéis: de comunidade de docentes e estudantes, desprovida de prédios e orçamentos, tornou-se enfim uma instituição. Criada foi para atender a uma minoria privilegiada, que não tinha clara a ideia de que a sua função seria de constituir um espaço de investigação científica e de produção de conhecimento, respondendo às necessidades sociais mais amplas.

Partindo dessa premissa, as universidades necessitam ser vistas como espaço de produção e socialização do saber, local aglutinador e multiplicador de conhecimento, e isto só pode ocorrer a partir de práticas educativas eficientes, inovadoras buscando não só o desenvolvimento de novas tecnologias como o encaminhamento de soluções para problemas sociais.

O que isso implica por parte das universidades? Estabelecer uma relação estreita entre ensino e pesquisa nos mais variados campos, pois “a pesquisa científica, a procura dos princípios e mecanismos que devem conduzir a todos os domínios da ciência e da cultura são os objetivos primeiros, os postulados da universidade no mundo contemporâneo” (LOPES, 1985LOPES, José Leite. Reflexões sobre a universidade. Revista Educação Brasileira, Brasília, v. 7, n. 15, p. 103-12, jul./dez. 1985., p. 103).

Reforça esse pensamento Mendes (1967MENDES, Durmeval Trigueiro. O governo da universidade. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Rio de Janeiro, v. 47, n. 105, p. 68-90, maio 1967., 1987MENDES, Durmeval Trigueiro (Coord.). Filosofia da educação brasileira. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1987., 1988)MENDES, Durmeval Trigueiro. Concepção do educador e da universidade. João Pessoa: UFPB, 1988., a quem a universidade deve servir de “consciência crítica e projetiva, contrapondo-se à alienação” e, para a consecução desses objetivos, cabe-lhe “aliar o passado e o presente, o particular e o geral, o especulativo e o prático, a rotina e a criação, o aristocrático e o popular, o individual e o social” (MENDES, 1988MENDES, Durmeval Trigueiro. Concepção do educador e da universidade. João Pessoa: UFPB, 1988., p. 27), para que consiga a produção de um estilo diferencial, universal e aberto de cultura em contraponto à cultura tecnocrática dos nossos dias.

Nesse sentido, ao assumir a responsabilidade de servir de palco de discussões sociais, não simplesmente téoricas e abstratas, e sim abertas às novas ideias, posicionamentos, opiniões, a universidade precisa se preocupar em buscar soluções aos problemas; essa postura constitui-se em um aprendizado difícil e muitas vezes exaustivo, porém necessário, de acordo com Fávero (2004)FÁVERO, Maria de Lourdes de Albuquerque. Autonomia e poder na universidade: impasses e desafios. Perspectiva, Florianópolis, v. 22, n. 01, p. 197-226, jan./jun. 2004..

Nesse sentido, a universidade é chamada a ser o palco de discussões sobre a sociedade, não em termos puramente teóricos e abstratos. Deve ser o espaço onde se desenvolve um pensamento teórico-crítico de ideias, opiniões, posicionamentos e encaminhamento de solução dos problemas. Não resta dúvida que essas tarefas constituem um aprendizado difícil e, por vezes, exaustivo, mas importante e necessário.

É com este olhar que o v. 20, n. 2 de 2019 da Revista Interações traz, em seu bojo, 04 artigos que discutem a educação no Brasil assim como o papel da universidade e outras temá ticas diversas. Tendo como título “Evolução dos retornos do investimento em educação no Brasil ao longo dos anos 2000”, o artigo de autoria de Izete Pengo Bagolin e Nelson Juarez Lewis Ferraz Neto analisa a evolução dos retornos de investimentos no Brasil ao longo dos anos 2000, enfatizando o retrocesso desses retornos e a presença de diferenças sociais. Ao apresentar os resultados referentes à Meta 11 do PNE2014-2024, os autores Arão Davi Oliveira, Celeida Maria Costa de Souza e Silva afirmam que o Pranatec deixou de ser essencial para o cumprimento da referida Meta, para o governo de Mato Grosso do Sul. O artigo “A educação superior no contexto da cooperação acadêmica internacional”, de Angela Mara Sugamosto Westphal e Maria Lourdes Gisi, traz como temática a discussão sobre a internacionalização da educação superior no Brasil e apresenta os resultados obtidos no contexto do processo da Cooperação Acadêmica Internacional em relação à área acadêmica e à pesquisa. Ainda de acordo com a temática educacional, o artigo “Elite e legitimação na Faculdade de Direito do Vale do Paraíba”, de Helena Alves da Silva, Maria Aparecida Chaves Ribeiro Papali e Antonio Carlos Machado Guimarães, apresenta o histórico da criação da referida faculdade enfatizando que o objetivo dessa implantação voltou-se à melhoria da imagem da cidade e dos atores locais frente a uma nova elite que na cidade surgia.

Os demais artigos publicados neste volume voltam-se às temáticas com um olhar interdisciplinar e tratam de assuntos tais como: i)o papel das instituições na sociedade; ii) aplicação do método AHP em combinação com o ambiente de Sistemas de Informações Geográficas (SIG); iii) amplitude discursiva da palavra empreendedor; iv) A digitalização 3D e sua acessibilidade no uso em museus; v) A interface entre estudos de comunicação midiatizada e SCO (sociedade civil organizada); vi) análise sobre o desenvolvimento do trabalho das incubadoras sociais universitárias referentes aos empreendimentos de geração de trabalho e renda; vii) a sustentabilidade na construção de edifícios residenciais; viii) desenvolvimento de diretrizes que permitem o aprimoramento do planejamento das atividades de demolição e promoção de práticas sustentáveis no canteiro de obras; ix) reflexão sobre o lazer na área rural e sua respectiva influência na qualidade de vida e na reprodução social da agricultura familiar; x) a proposição de correspondência entre as incertezas do ambiente e a construção social da governança relacional; xi) avaliação do funcionamento do mercado gerado pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) na rede escolar municipal de Ijuí,RS; xii) análise da informação publicada a respeito das formas de interação, percepções e atitudes dos brasileiros com relação à onça-pintada; xiii) diagnóstico e quantificação da geração de resíduos sólidos domésticos (RSD) na terra indígena Rio das Cobras, Nova Laranjeiras, PR; xiv) a reconfiguração do trabalho agrícola, realizado sob a coordenação das global tradings, e suas repercussões nos fluxos migratórios; xv) compreensão sobre as percepções dos produtores rurais relativa ao procedimento de logística reversa nas embalagens vazias de agrotóxicos proposto pela legislação brasileira; xvi) o Instituto Moinho Cultural existente em Corumbá, MS, voltado ao desenvolvimento humano e econômico e crescimento integrado e sustentável das comunidades carentes; xvii) análise dos atributos relevantes na formação dos preços de imóveis residenciais para venda em Conselheiro Lafaiete, MG, em 2016; e o último artigo apresenta uma pesquisa relacionada à nova lei internacional de padrões éticos - NOCLAR.

O Comitê de Redação neste volume 2/2019 mais uma vez agradece a todos os autores, aos Membros do Conselho Editorial e a todos os avaliadores ad hoc, pelo trabalho ao longo de 2018 e 2019.

Vale ainda sublinhar que a revista Interações, órgão de divulgação científica do Programa de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Local da Universidade Católica Dom Bosco - programa recomendado pela CAPES e credenciado pelo MEC - solicita que todos os pesquisadores interessados pelo tema do Desenvolvimento enviem trabalhos inéditos para publicação neste veículo distribuído nacional e internacionalmente, entre instituições universitárias e organismos de pesquisa.

Arlinda Cantero Dorsa 1

Editora chefe da Interações

REFERÊNCIAS

  • FÁVERO, Maria de Lourdes de Albuquerque. Autonomia e poder na universidade: impasses e desafios. Perspectiva, Florianópolis, v. 22, n. 01, p. 197-226, jan./jun. 2004.
  • LOPES, José Leite. Reflexões sobre a universidade. Revista Educação Brasileira, Brasília, v. 7, n. 15, p. 103-12, jul./dez. 1985.
  • MENDES, Durmeval Trigueiro. Concepção do educador e da universidade João Pessoa: UFPB, 1988.
  • MENDES, Durmeval Trigueiro (Coord.). Filosofia da educação brasileira. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1987.
  • MENDES, Durmeval Trigueiro. O governo da universidade. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Rio de Janeiro, v. 47, n. 105, p. 68-90, maio 1967.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Ago 2019
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2019
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