Partindo do questionamento das fronteiras de gênero textual (McKenzie 2006) como metodologia descolonial, este artigo considera a relevância de The Farming of Bones de Edwidge Danticat (1998) para descolonizar a cronopolítica linear do atraso na qual estão necessariamente imbricadas as narrativas de migração. Ao narrar a supressão historiográfica do genocídio de trabalhadores haitianos na República Dominicana, Danticat expõe a cronopolítica normativa que relega seu significado a um tempo obsoleto e exclusivo à realidade das margens geoculturais. Na esteira da controvérsia dos anos 2000 sobre o gênero testimonio, o texto migrante de Danticat tende a reconduzir a discussão iniciada por Rigoberta Menchú contra as estruturas geoculturais coniventes com a continuidade do militarismo e do genocídio, capturando a historiografia como um terreno de contestação descolonial.
Texto migrante; Edwidge Danticat; fronteiras de gênero textual; literatura haitiana; cronopolítica descolonial